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O Futebol é um jogo de preponderância táctica que necessita de uma continuada e eficaz resolução das situações de jogo, constrangendo os jogadores a adaptar-se e readaptar-se a novas situações de jogo. Por se tratar duma actividade não-linear, não é possível estabelecer-se um ciclo de comportamento antecipadamente, pois cada situação de jogo tem diversas formas de poder ser resolvida. No entanto, o estudo fluxo de comportamentos dos jogadores/equipas de Futebol, permite um mais ajustado conhecimento do jogo e, sobretudo, dos padrões táctico-técnicos que o configuram que se descobrem e isso permite-nos melhor intervir sobre ele.

O Futebol revela-se como um desporto de situação que exige que os jogadores interajam e tenham a capacidade de responder de forma adequada e eficaz face à grande variabilidade de situações que ocorrem no contexto do jogo. A cultura táctica que o jogador possui depende das experiências anteriores e dos seus conhecimentos sobre o jogo e é isso que vai influenciar a adopção de uma determinada atitude táctico-estratégica.

Se repararmos, em todas as equipas escolhidas para se desenvolver este estudo, está presente uma Filosofia, um estilo de jogo próprio que as define e no qual todos os jogadores se sentem confortáveis. Ora, sendo o Futebol um jogo de equipa que requer máxima capacidade de comunicação e cooperação entre os seus elementos, o indivíduo só se expressa da melhor forma no contexto da equipa.

No treino e no jogo, o jogador deve ser encorajado a ter um sentido colectivo, a ser solidário, cooperante, a ter consciência que é importante subordinar os interesses pessoais à colectividade para poder vencer-se a oposição dos rivais.

Note-se que tanto FC Barcelona como AFC Ajax são clubes que sempre foram associados a uma grande aposta em jogadores provindos do seu departamento de formação, onde se mantêm os princípios e o estilo que caracteriza as primeiras equipas, reduzindo assim o tempo de adaptação quando chegam ao plantel profissional. O facto de serem acompanhados por Treinadores que estiveram com alguns jogadores nas etapas de formação,

permite que se saltam várias etapas de adaptação. Convenhamos que quando chegam novos jogadores a um clube é preciso tempo para que estes se adaptem, independentemente de serem grandes jogadores. Precisam de tempo para que se criem hábitos de relacionamento em torno de algo de significado comum, para saber como é que o jogador mais próximo prefere receber a bola.

Desenvolver cultura táctica nos jogadores é portanto um indicador imprescindível para o sucesso. A Táctica constitui-se como um conjunto de referências que o jogador tem para decidir e responder face a um determinado contexto, determinado pela posição da bola, dos companheiros, dos adversários, do espaço de jogo, da proximidade da baliza, pelas experiências vividas anteriormente e pelo talento que cada jogador tem.

O Futebol está numa sub-zona limite entre a ordem e o caos, portanto pertencente ao âmbito da complexidade. Tacticamente, é importante que se compreenda que não há ataque e defesa em separado. Há sim um equilíbrio que tem que se produzir na equipa e a forma como se defende influencia e condiciona os movimentos no ataque e vice-versa. Os momentos de transição entre os dois momentos têm cada vez mais preponderância no Futebol.

Hoje em dia emerge uma grande obsessão por colocar muitos jogadores a defender atrás da linha da bola e uma maior capacidade de Organização Defensiva das equipas. Cada vez se nota mais as dificuldades em provocar surpresa nos adversários para criar situações de finalização e em finalizar. Em termos globais, a defesa tem ganho uma evidente preponderância em relação ao ataque e como consequência disso é cada vez mais relevante estudar o Processo Ofensivo para perceber como é que este pode tornar-se mais objectivo, através da criação de oportunidades de finalização e concretização das mesmas.

No fluxo comportamental das equipas analisadas podem encontrar-se traços ou características que se identificam com uma determinada Filosofia e estilo de jogo. A partir da análise atenta e dos resultados obtidos relativamente aos padrões comportamentais podemos identificar os princípios e sub- princípios de jogo mais marcantes dos quatro momentos de jogo nestas equipas.

Apresentamos de seguida essas regularidades e juntamos algumas recomendações em relação ao processo de ensino-aprendizagem e a aspectos ligados à metodologia de treino.

Na Organização Ofensiva:

 As equipas organizam-se através da bola; a posse/circulação da bola é a primeira consigna. Este aspecto permite-lhes assumir o jogo (riscos), isto é, ter a iniciativa.

 Todos os jogadores estão conscientes das suas missões em campo, procurando apoiar-se num bom jogo posicional (disciplina de posição!), no jogo de apoios constantes, no movimento da bola a 2 toques.

 Começam normalmente a construir pela sua linha defensiva (saídas curtas), acontecendo uma progressão lógica da bola que faz com que passe pelos médios antes de chegar aos avançados. Sobem rapidamente para bloco alto a atacar. Utilizam diferentes comportamentos e formas de actuar em função da zona do campo em que se encontram.

 A ocupação da zona intermediária através dum meio-campo organizado em triângulo/losango permite que haja um ritmo veloz da bola durante a circulação, possibilitando aos médios a criação de espaços.

 Utilizam toda a largura do campo para atacar, colocando nos corredores laterais jogadores muito fortes em recursos para a resolução de situações de “um contra um”.

Na Transição ataque-defesa:

 Embora se reconheçam algumas nuances tácticas no desenvolvimento das transições após perda da posse de bola, no global, os princípios e sub-princípios que orientam o comportamento individual/colectivo nestes momentos são coincidentes, essencialmente no que diz respeito a mudanças de atitude.

 Há uma pressão (ataque-aceleração) imediata ao portador da bola por parte dum jogador.

 Acontece uma aceleração por parte dos jogadores mais próximos, dando coberturas defensivas, para fechar os espaços que rodeiam a zona da bola.

 Verifica-se uma aproximação/fecho de linhas por parte de toda a equipa, tanto em termos de largura como profundidade, para não haver possibilidade da bola ser jogada entre espaços. A linha defensiva realiza um movimento de aproximação na direcção da zona da bola, utilizando o ‘fora-de-jogo’ para contrariar o espaço em profundidade nas suas costas.

Na Organização Defensiva:

 Defendem com as linhas juntas, normalmente em bloco alto, ou seja, a linha defensiva adianta-se constantemente para fazer ‘campo pequeno’ e poder ter superioridade numérica no centro do campo e situar-se no meio-campo adversário. Podem também defender em bloco médio ou baixo, de forma mais esporádica.

 A última linha defensiva joga portanto quase sempre adiantada, com muita profundidade nas suas costas, ajudando este aspecto no ganho de segundas bolas pelos médios.

 Defendem avançando as suas linhas para o meio-campo adversário, tentando provocar o erro, reduzindo os espaços de forma que este não tenha situações de vantagem.

 É notória a boa definição dos princípios e sub-princípios no sentido dos jogadores identificarem as alturas de avançar no terreno, de temporizar ou mesmo de recuar.

Na Transição defesa-ataque:

 Quando ganham a posse de bola preferem jogar em segurança, preferindo evitar os jogos de transição que, como se sabe, são difíceis de controlar, podendo pender para qualquer um dos lados. Preferem utilizar linhas de passe mais próximas para que a equipa tivesse possibilidade de continuar a jogar apoiado.

 Tentam retirar a bola da zona de pressão (pela frente, pelo lado ou por detrás) para um jogador em 2º estação livre que esteja sempre de frente para o jogo. Normalmente este jogador recebe em contextos de interacção favorável dispondo de mais tempo para fazer a ‘leitura de jogo’ e decidir em função disso.

 Podem utilizar passes de ‘1.ª estação’ e, mesmo assim, conseguem continuar o Processo Ofensivo na maior parte das vezes. A capacidade de utilizar o primeiro toque para passar e depois desmarcar, atrasava a pressão do adversário e permitia que houvesse continuidade no Processo Ofensivo por Ataque Posicional.

 Por vezes correm risco, utilizando passes de médio/longo alcance em profundidade para colocar a bola em posições mais vantajosas para o atacante.

Para que estes comportamentos sejam regulares é preciso recorrer ao treino. A missão dum Treinador é desenvolver um modelo de treino que acompanhe as necessidades do jogo e que permita que os jogadores/equipa se apresentem com níveis óptimos de prestação durante a competição.

Segundo Seirul-lo (2001), o melhor treino é aquele que consegue reproduzir fielmente uma situação para que o jogador que participe nela optimize certos sistemas que são reconhecidos inequivocamente como de participação necessária para resolver essa situação proposta.

A concretização deste processo está dependente do uso duma Metodologia apropriada, específica, que sustente os Princípios do Modelo de Jogo do Treinador e deve começar a ser apresentada desde a base da pirâmide (nas primeiras etapas de formação dos jogadores).

Neste tópico é preciso chamar à atenção para os plágios que acontecem dos Modelos de Jogo de equipas de excelência. Esses Treinadores esquecem- se que o processo de ‘descoberta guiada’ depende do contexto cultural, do trauma de relações que existem no grupo de jogadores em questão e das suas características.

O processo ensino-aprendizagem começa por ensinar os jogadores a interpretar (percepção), a decidir e a executar as situações de jogo adequadas

porque o jogador quer conhecer melhor o jogo (conhecimento declarativo + cultura táctica), quer perceber o porquê das coisas para poder ‘integrar’ os conteúdos.

O exercício é o meio táctico por excelência para criar hábitos em função do jogo que se quer implementar, mas é precisa alguma sensibilidade e cuidado para que se desenvolva numa perspectiva sistémica e holística, ou seja, sem perder em nenhum momento a noção do ‘todo’ e preservando as relações que existem entre as partes.

Os exercícios deverão seguir uma linha metodológica, relacionando o presente com a exercitação anterior e com o que será realizado a posteriori, iniciando-se em tarefas menos complexas e de menor dificuldade e passando para tarefas mais difíceis e complexas.

Por exemplo, nestas equipas, há uma dinâmica muito grande na posse/circulação da bola. Para que isso aconteça no jogo é preciso que: a) os jogadores estejam bastante comprometidos e acreditem/sintam o que estão a fazer; b) se desenvolvam actividades no treino que cultivem a tomada de decisões de forma rápida (contexto de superioridade numérica significativa); c) a equipa tenha a iniciativa de jogo porque isso está relacionado com a posse de bola.

O facto da equipa jogar em terreno próprio e se encontrar bem posicionada na tabela classificativa ou ter bons desempenhos na competição pode igualmente ajudar.

No treino estas situações de posse/circulação (Organização Ofensiva) deverão ser exercitadas, tendo sempre em linha de conta a lógica do jogo, isto é, as tarefas deverão colocar os jogadores em situação de Transição Defensiva quando perdem a bola e de Organização Defensiva se não a conseguirem recuperar nos instantes imediatos. A utilização de balizas nestas actividades ajudará os jogadores a criar o hábito de defender e atacar algo.

O Processo Ofensivo é diverso no que diz respeito ao aspecto comportamental, dependendo da zona onde a bola se encontre e portanto é importante também que a intervenção do Treinador seja no sentido da orientação dos jogadores, partindo de situações mais programadas perto da baliza que defendem, passando para situações ainda de alguma ordem no sector intermédio e terminando em situações que provoquem comportamentos

mais criativos e inesperados em zonas de sector ofensivo (perto da baliza do adversário).

As acções individuais nos corredores laterais (zonas 10 e 12) foram a conduta critério que excitou a obtenção do golo e no treino deverá ser atribuída séria atenção a estas condutas. Para os jogadores que actuam nestas zonas do campo é decisivo o domínio de situações básicas como o 1x1, 1x2, 2x1, 2x2 e 2x3.

Durante as tarefas, o Treinador deve observar, ter critério e capacidade de diagnóstico para saber o que o jogador e a equipa necessitam. Portanto, todos os exercícios propostos devem promover a criação de sinergias entre os jogadores, concentrando-se no essencial que é a componente táctica (cognitivo-decisional), que arrasta consigo as outras.

Ainda há quem pense que treinar muito é treinar bem, com receio que a opinião pública classifique a equipa como estando mal ‘fisicamente’, apostando em sessões duplas e triplas, quando o mais importante é que se aproveite os períodos de maior predisposição dos jogadores para o trabalho.

Todas as actividades apresentadas deverão fomentar mais as capacidades de antecipação em relação às reactivas. Os exercícios em espaços reduzidos são de imperial importância pois obrigam os jogadores a estar juntos para defender e proporciona o jogo apoiado quando se ataca. Permite colocar os jogadores ante perdas e recuperações de bola constantes, incidindo nas mudanças de atitude e obrigando a uma maior concentração/motivação no exercício.

O Treinador é um observador de condutas, que analisa os desempenhos dos jogadores e avalia o rendimento da equipa, percebendo se pode avançar para a introdução de novos conceitos tácticos.

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