• Nenhum resultado encontrado

Número Especial CONSERVAÇÃO PREVENTIVA EM BIBLIOTECAS

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2023

Share "Número Especial CONSERVAÇÃO PREVENTIVA EM BIBLIOTECAS"

Copied!
23
0
0

Texto

(1)

Este estudo tem o propósito de investigar as ações implementadas, como a criação da oficina de encadernação e os métodos de combate aos insetos bibliófagos, para a preservação do acervo da Bibliotheca Imperial e Pública e, em que medida, essas ações preservaram suas obras. Ações situadas na primeira metade do século XIX, em uma época onde havia poucas publicações voltadas para a proteção de acervos culturais e incipientes pesquisas na área da entomologia. Esta questão nos faz refletir sobre a responsabilidade e a assertividade das escolhas diante do problema da conservação de uma biblioteca. Contando com reduzidas informações sobre a validade de métodos e produtos e com uma pequena oficina de encadernação, esses empregados trabalharam para garantir a sobrevida da biblioteca e de seu acervo.

Biblioteca Nacional. Oficina de encadernação. Insetos bibliófagos. Preservação.

1 Doutora em Memória Social.

Fundação Biblioteca Nacional thais.helena.almeida@gmail.com Rua das Laranjeiras, 417 / 504

(2)

A conturbada conjuntura política internacional entre o final do século XVIII e o início do século XIX ameaçava a dinastia dos Bragança em Portugal. Com as tropas francesas batendo à porta da cidade de Lisboa, em 1807, a transferência da família real e sua corte para o Rio de Janeiro mostrou-se uma estratégia política para conservar a soberania portuguesa em terras tropicais (SLAIBI, 2019). Soberania também representada pela Real Biblioteca, cuja própria história de reconstrução, após a tragédia de 1755, reflete a importância da biblioteca como um desses instrumentos de prestígio e dominação (CANFORA, 1989).

Temendo pela segurança do acervo da Real Biblioteca que havia permanecido em Lisboa, decidiu-se embarcar a primeira remessa de livros no início de 1810. A segunda remessa sairia em março de 1811, a bordo da fragata Princesa Carlota, sob a responsabilidade do ajudante de bibliotecário, Luís Joaquim dos Santos Marrocos, da Biblioteca da Ajuda. A biblioteca se completaria com a chegada ao Rio de Janeiro dos últimos caixotes de livros em 19 de novembro de 1811 (SCHWARCZ, 2002).

Instalado no Hospital da Ordem Terceira do Carmo, o acervo ficou sob a responsabilidade dos religiosos frei Gregório Viegas e padre Joaquim Damazo. Entre 1821 e 1825, Marrocos foi o encarregado do arranjamento e conservação do valioso acervo. Em suas cartas, passou a relatar as melhorias do edifício através de consertos e reparos para benefício do acervo, que ficaria “muito linda e muito bem arranjados os livros” e o estado de conservação do acervo (MARROCOS, 2007, p. 107). Mesmo com as boas notícias iniciais, manter o acervo da Real Biblioteca em uma cidade tropical, com

(3)

altas temperaturas, umidade e com elevada proliferação de insetos bibliófagos, não seria tarefa fácil para seus diretores e empregados.

Este estudo procura investigar quais foram as ações implementadas para a preservação do acervo desta biblioteca, entre as décadas de 1820 e 1850, e em que medida estas ações protegeram suas obras. Situado em um período de poucas publicações voltadas para a proteção de acervos culturais e incipientes pesquisas na área da entomologia, a questão nos faz refletir sobre a responsabilidade e a assertividade das escolhas diante do problema da conservação de uma biblioteca.

As cartas de Marrocos, em 1811, expõem o tamanho do problema quando sugere mandar estabelecer uma biblioteca na Bahia com os livros dobrados da Real Biblioteca, porque não cabendo na biblioteca, continuavam nos caixotes e nos armazéns do Real Tesouro, todos minados de cupim, cujos tapetes já tinham virado pó (MARROCOS, 2007).

A preocupação com a conservação do acervo se tornou uma constante nos ofícios e relatórios dos bibliotecários, tanto em relação à presença de insetos no edifício, nos livros quanto à destruição de suas encadernações, como foi observado nos documentos do Setor de Manuscritos da Biblioteca Nacional e no Arquivo Nacional.

Na listagem dos empregados da Real Biblioteca, de 29 de maio de 1820, consta de dez serventes, distribuídos entre: “resposteiros”, varredor, empregado com ordenado fixo e os por jornada (ARQUIVO NACIONAL (Brasil), RELATÓRIOS..., [1818-1832], 1820, p. 242). Os trabalhos de servente para a limpeza dos livros e de encadernador aparecem

(4)

em um documento de 4 de maio de 1822. Nele, são listados treze empregados, sendo Joaquim de Oliveira e José Maria Nazareth os responsáveis pela limpeza dos livros. Na nota de rodapé, consta que “há também um livreiro2 que se chama quando é preciso que trabalhe dentro da Casa” (ARQUIVO NACIONAL (Brasil), RELATÓRIOS..., [1818-1832], 1822, p. 221). Outro documento, datado de 22 de maio, apresenta um relatório atualizando o número de empregados, suas atribuições e seus vencimentos. Nesse documento assinado pelo padre Joaquim Damazo, diretor da Biblioteca Real de 1810 a 1821, consta um pedido para a admissão de mais dois serventes para limpar livros, que segundo suas observações, seria o serviço “o mais importante nesta Casa em semelhante terra, no qual se houver algum descuido, deixará a Casa de ser útil e existir”. O relatório descreve cada servente e apresenta no seu 7º artigo, o encadernador, que “se acha ali trabalhando”, recebendo por dia, e identificando-o como Silvino José, vindo da Imprensa Nacional (ARQUIVO NACIONAL (Brasil), RELATÓRIOS..., [1818-1832], 1822, p. 222-225).

Neste período, as mudanças políticas do Brasil tiveram repercussão também na Real Biblioteca, que passou a ser Biblioteca Imperial e Pública em 13 de setembro de 1822. Frei Antônio de Arrábida assume como Bibliotecário e, já de posse de seu cargo, organiza o Livro Registral dos empregados em 23 de outubro de 1822. Silvino José de Almeida é registrado como livreiro, prestando serviços desde 6 de maio de 1822 (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), OFFICIOS [1822-1849], 1822, p. 3).

Na prestação de contas ao governo, em 1823, Frei Arrábida informou sobre o estado de conservação do acervo, observando que “alguns livros estão tomados de bichos e alguns incapazes de servirem”. Entretanto, o que lhe causou mais indignação foi

2 Livreiro é o termo usado para o profissional encadernador, que algumas vezes aparece nos documentos como Livreiro Encadernador.

(5)

a maneira como eram tratados pelos serventes, que segundo ele, “andam com navalha e quando encontram bichos em qualquer parte, metem o ferro e tiram a lombada ou mesmo toda a capa”. A solução que encontrou foi atar os livros com fitas de algodão ou embrulhá-los para que pudessem se sustentar até serem consertados ou reencadernados. Convencido da necessidade de resolver o problema, escreveu em defesa do encadernador, afirmando ser “indispensável até pelo lamentável estado do que fizeram aos livros, os limpadores e os bichos, e haver imenso número de coisas a encadernar que de outra maneira não servem e estão expostos a perderem-se”. Zeloso com o acervo, acrescentou que os serviços de encadernação “pelas circunstâncias deverão ser feitos dentro da Casa e debaixo da direção e vista do Bibliotecário”, caso contrário resultaria em ação frustrante e prejudicial (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), OFFICIOS [1822-1833], 1823, p. 4-7).

Ao redigir o novo Regulamento da Biblioteca Imperial e Pública, de 13 de setembro de 1824, Arrábida cria o cargo de livreiro encadernador. Na parte dedicada ao

“Projeto de melhoramento completo da mesma Imperial e Pública Biblioteca”, no que chamou de “3º Quadro”, lista as despesas constantes com os empregados. No cargo do livreiro encadernador, registra o nome do primeiro a ocupá-lo: Silvino José de Almeida, e, ao lado, a indicação da letra C, remetendo à observação: “O número total dos Empregados é o menor possível. Mas conservado o estabelecido sistema de serviço, será o suficiente. Este pensar tem por base o quase geral princípio: Não são os muitos indivíduos que fazem útil o serviço, são os bons, bem pagos, e o bom regimento”

(ARQUIVO NACIONAL (Brasil), RELATÓRIOS..., [1818-1832], 1824, p. 167).

Com a criação do cargo de encadernador, foi preciso organizar um espaço para a oficina e incluir no orçamento os gastos com os materiais para as encadernações. São

(6)

poucas as referências sobre a localização da oficina. Somente uma despesa, em 4 de outubro de 1824, com duas grades destinadas à “casa do Livreiro”, nos dá uma pista de que ela funcionava dentro do edifício (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), DESPESAS [1822-1824], 1824, p. 20).

Reunindo informações sobre a utilização dos outros espaços da biblioteca, alugados pela Ordem Terceira do Carmo, em documentos dos Livros de Contas e Ofícios, entre 1822 e 1850, verificamos que o edifício com três andares, teve o sótão ocupado como moradia e serviu de depósito de coleções. O segundo andar, identificado como

“andar nobre” ou “salão de leitura”, guardava as coleções doadas3 e o acervo da biblioteca, que era organizado com base nas 5 classes biblioteconômicas propostas por Guillaume-François Debure: 1ª Classe – Teologia; 2ª Classe – Jurisprudência civil e canônica; 3ª Classe – Ciência e Artes; 4ª Classe – Belas Letras (Gramática, Literatura e Filologia); e 5ª Classe – História (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), OFFICIOS [1833- 1839], 1837, p. 181-182). O primeiro andar era identificado como o “quarto ou andar de baixo”, sem especificar seu uso. Pelas características do edifício do século XVIII, tábua corrida no chão dos andares e portas altas com guarda-corpo no segundo andar, nos leva a pensar que as grades eram para as janelas do primeiro andar e que as pesadas máquinas de ferro, utilizadas pela oficina, ficariam assentadas no chão deste andar.

O levantamento que se segue, da planta baixa do primeiro e do segundo pavimentos, nos auxilia compreender os espaços ocupados pela biblioteca, cuja delimitação, em vermelho, está baseada nas informações dos relatórios e documentos até o momento pesquisados.

3 O pequeno corredor lateral ficava reservado às coleções do Conde da Barca, Barbosa Machado, José Bonifácio e Infantado (SLAIBI, 2019, p. 63).

(7)

Figura 1 - Plantas baixas de parte do edifício da Ordem Terceira do Carmo ocupado pela Real Biblioteca, e depois Biblioteca Imperial e Pública,

entre 1810 e 1853

Fonte: ARQUIVO DA ORDEM TERCEIRA DO CARMO (2004).

Plantas baixas levantadas pela arquiteta Mariana Vaz de Souza, da empresa Arquitetando Ltda.

Para o funcionamento da oficina de encadernação, a biblioteca passou a comprar os materiais e equipamentos necessários para suas atividades. Estas compras foram registradas nos livros de Despesas, de Ofícios e de Avisos da Biblioteca Nacional, e nos documentos do Arquivo Nacional, entre 1822 a 1834.

O quadro abaixo sintetiza os materiais de consumo e equipamentos frequentes nas listagens de despesas da instituição.

(8)

Quadro 1 - Materiais e equipamentos da Oficina de Encadernação da Biblioteca Nacional entre os anos de 1822 e 1834.

Materiais de uso Equipamentos

Grude da Bahia Cartão Ferros de dourar

Cola de farinha de trigo Papelão Facas

Cola forte Caderno de papel pintado de

vários padrões (marmorizado) Prensa e ferro Ingredientes para a massa Livro de ouro para dourar Pedra mármore

Goma de peixe Ovo para dourar Maço

Fio de atar Pele Marroquim Brunidores

Linha Pele de carneiras inglesas Raspadeiras

Torçal Couro de bezerro Escapulares dourados

Nastro (fita de algodão) Pele fina para rótulos Dobradeiras Caixa ou carteira para guardar

mapas e documentos Caixa que se une e aperta as letras para gravar e dourar Fonte: Elaborado pela autora deste artigo.

Dessas compras, algumas chamam a atenção, como, por exemplo, o encaminhamento dos “modelos dos instrumentos” da oficina para serem produzidos nas fábricas e fundições dos Arsenais do Exército (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), OFFICIOS [1822-1833], 1829, p. 62). A cor preferida para a lombada e cantos dos livros, nos primeiros anos da oficina, era o marroquim verde. As outras cores apareceram depois de 1829. Algumas vezes, aparece a solicitação para amolar ou consertar a faca da prensa, levando a pensar que seria uma guilhotina.

Quanto aos livros encadernados, não se encontrou listas de controle nos ofícios e relatórios, nem indicações sobre quais obras teriam sido encadernadas na oficina.

Quanto ao estilo de encadernação, na sua maioria foi adotado a “meia em couro4 e papel

4 Termo usado para descrever a encadernação de um livro cujas pastas são revestidas em papel fantasia, tecido ou percalina, mas que têm os cantos em couro; assim como a lombada (FARIA; PERICÃO, 2008, p. 490).

(9)

marmorizado”, sendo que alguns livros sobre Teologia foram encadernados com “pele de bezerro” (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), DESPESAS [1822-1824], p. 23).

Em meio aos estilos e às técnicas utilizados no período, um documento chama a atenção. Nele, Pedro Araújo de Lima, estadista brasileiro, diz encaminhar a Arrábida dois modelos de “encadernação móvel” e uma carta, vinda de Paris, do seu inventor. A carta, cujo autor não foi identificado, informa que foi enviado também uma explicação impressa do seu uso e aplicação e justifica suas intenções para sua divulgação, acreditando que sua invenção poderia ter consequências importantes para as ciências, legislação e ao comércio:

[...] Minha intenção não é conseguir uma patente: eu quero colocar minha descoberta em domínio público, a fim de que em seu país ela não seja um objeto de nenhum monopólio, nem de minha parte e nem de quem quer que seja. Eu não encontro uma melhor maneira de chegar ao objetivo que me proponho, que de te endereçar dois modelos lacrados, para que a abertura do pacote que os tem, você possa ordenar o depósito no lugar onde vocês tem o hábito de expor objetos de arte. A invenção será conhecida em seu país no dia deste depósito de agora em diante, nem por mim, nem por outros, nem poderão pretender fazer o objeto de uma patente, e minhas intenções serão redobradas [...]. Eu fazendo este envio para você, eu não pretendo que de outra vantagem que a de ter o direito a sua consideração [...] Paris, 30 de setembro de 1827 (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), OFFICIOS [1822-1849], 1827, p.

25, tradução nossa).

A explicação impressa não foi arquivada juntamente com a carta. Entretanto, uma referência desta encadernação móvel surge em 1874, depois da viagem do diretor Ramiz Galvão à Europa. Em seu relatório de viagem, o diretor descreve a encadernação com dois cartões presos por uma lâmina de couro central, que constituiria o “lombo do volume, acham-se fixas duas hastes metálicas susceptíveis de apertar-se uma de encontro à outra por meio de parafusos que se torcem ou destorcem com uma chave

(10)

especial”. As figuras 2 e 3 apresentam uma encadernação semelhante à descrita por Ramiz Galvão se encontra na Seção de Iconografia, da Biblioteca Nacional. O mecanismo se assemelha a um fichário moderno, com estrutura de madeira e três pinos de metal, presos por parafusos, que se ajustam de acordo com o número de folhas do volume (SLAIBI, 2019, p. 74).

Figura 2 - Estrutura

da encadernação móvel, com pinos de metal e encaixe de madeira.

Século XIX

Figura 3 - Detalhe da estrutura da encadernação móvel, com pinos

de metal e encaixe de madeira.

Século XIX

Fonte: Fundação Biblioteca Nacional.

Divisão de Iconografia. Fonte: Fundação Biblioteca Nacional.

Divisão de Iconografia.

Por suas características, período e identificação como reliure mobile, parece correto afirmar que seria muito semelhante aos modelos franceses de 1827.

Contando com apenas um encadernador, o trabalho parecia não ter fim, dado ao grande número de livros que precisavam de cuidados. As declarações de Arrábida sobre a importância de se manter a atividade na biblioteca eram uma constante em seus ofícios:

[...] 6º Resta entre os empregados o Livreiro Encadernador e sobre ele devo observar V.Exa. que tendo esta antiga livraria escapado a um furioso incêndio, tendo sofrido um transporte de mar e diversas colocações em um e outro hemisfério, por fim os seus livros foram por 12 anos tratados de uma maneira singular: cada um dos que os limpavam andavam armados de uma faca e percebendo na capa buracos

(11)

de bicho, cortava como lhe parecia essa porção ou toda ela [...]. Há dois anos que não faço mais do que mandar reencadernar só aqueles que estão embrulhados em papel ou amarrados com cordéis e ainda não foi possível acaba-los. Este impertinente e em algumas obras muito delicado trabalho, torna indispensável este Emprego dentro da mesma Biblioteca (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), OFFICIOS [1822-1833], 1826, p. 30).

Entretanto, o acúmulo de trabalho e as faltas recorrentes do encadernador começaram a causar problemas com a direção. Em ofício, Arrábida lembrou que o encadernador, que passou a ter ordenado fixo, e cujo trabalho era necessário e que seria por muito tempo devido ao lamentável estado dos livros, “vai faltando muito ao serviço não tanto por doenças como por puras faltas”. Afirmava que o encadernador “tem, se pode dizer, aprendido aqui o ofício, está hoje menos mau encadernador, mas se continuar nestas faltas tornará indivíduo inútil e sua conservação danosa” (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), OFFICIOS [1822-1833], 1829, p. 60).

Esta situação acabou ficando insustentável e Silvino José de Almeida é despedido em março de 1829. Retorna em janeiro de 1830, mas não foi mais contratado (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), OFFICIOS [1822-1833], 1829, p. 183). No seu lugar, assumiu João Soares, entre agosto de 1829 e março de 1830 (ARQUIVO NACIONAL (Brasil). RELATÓRIOS..., [1829-1830], 1829). Sobre Soares, nada mais foi encontrado nos documentos pesquisados. Depois de um período sem informações registradas sobre o cargo, surge o encadernador José Gomes da Silva Guimarães, morador do Beco dos Tambores5 (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), OFFÍCIOS [1822-1833] p. 1833, p. 108), que iniciou seu trabalho no momento em que a biblioteca começava reduzir os gastos com a

5 Desaparecido com a nova urbanização do Castelo. Índice atualizado dos logradouros (1929). Disponível em: https://reficio.cc/indices/indice-atualizado-dos-logradouros-1929/. Acesso em: 23 abr. 2020.

(12)

encadernação. Estes cortes estavam ligados às preocupações com a grande quantidade de livros que precisavam ser reencadernados, principalmente, devido aos constantes ataques do “devastador cupim” que minava o edifício. Pensando em contornar a situação, Arrábida expõe suas ideias de melhorias para a biblioteca, e propõe uma “reencadernação de maneira mais econômica, visto as grandes somas que importam as reencadernações mais apuradas ou mais fortes” (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), OFFICIOS [1822-1833], 1831, p. 72). Não se conseguiu informações sobre o que isso representou. A única observação no levantamento feito dos materiais comprados naquele período foi uma mudança de

“cadernos de papel pintados” para “mãos ou folhas de papel pintado”, sem, contudo, informar se isto teria diminuído a qualidade e o custo do produto.

Convicto da necessidade de reduzir os custos com a oficina, o cônego Felisberto Delgado, que assumiu a biblioteca entre os anos de 1831 e 1833 ordenou:

[...] que de agora em diante não serão mais satisfeitas as despesas de ferros, ingredientes e mais objetos para o serviço do livreiro, pois que tudo isso deve sair do salário mensal, que se lhe paga como Encadernador da Biblioteca, e que ele deve apresentar, por serem instrumentos e artigos do próprio ofício (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), AVISOS [1822-1833], 1833, p. 131).

Para Delgado, reduzir custos e manter a produtividade eram metas a serem alcançadas, tanto que não autorizou José Guimarães pedir dispensa do serviço nos dias em que teria que comparecer nos “exercícios do seu Batalhão da Guarda Nacional”. De acordo com Delgado, existiam na biblioteca poucos empregados e sendo o “suplicante, o único livreiro encadernador tendo tanto e muito a fazer todos os dias e todo o dia em reencadernar livros que existem em mau estado que pela sua antiguidade, e já pelo mau trato a que estavam sujeitos na antiga Administração”, anterior a 1822, era necessário o

(13)

serviço diário deste empregado que com a dispensa requerida causaria falta e problemas para a biblioteca (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), OFFICIOS [1822-1833], 1832, p. 89).

Com a entrada do cônego Francisco Vieira Goulart, como ajudante substituto, em agosto de 1833, a situação entre a direção e o encadernador se agravou.

Respondendo a um Relatório Circunstanciado do estado da biblioteca, em fevereiro de 1834, Francisco Goulart passa a elencar cada funcionário e explicar a situação do trabalho de cada um. Ao falar de José Guimaraes, foi categórico em afirmar que não evocava a favor do livreiro, porque tendo ele “mandado por de pronto as obras que encadernava nos 6 meses passados, achou que o trabalho não correspondia ao ordenado que recebeu neste tempo”. Diante disso, Vieira Goulart chamou-o para uma conversa:

[...] fiz-lhe avaliar, a ele mesmo, o trabalho e confessar que era pouco;

ficando submetido a novo período de observação; para depois dela e desta inesperada advertência, poder informar a V. Exa., convinha mais ter livreiro na casa, ou mandar encadernar as obras fora (ARQUIVO NACIONAL (Brasil),OFÍCIOS..., [1833-1837], 1834, p. 374-377).

Não estamos advogando a favor do encadernador, mas o próprio Francisco Goulart, em ofício de março de 1834, queixou-se dos baixos salários dos empregados, que mal davam para viver decentemente e honrar com as despesas da casa, vestiário e comida (ARQUIVO NACIONAL (Brasil), OFÍCIOS..., [1833-1837], 1834, p. 438).

Entretanto, isso não impediu que José Guimaraes fosse despedido em 9 de dezembro de 1834, fechassem a oficina e mandassem fazer “as obras que estava encarregado o dito livreiro, em qualquer das oficinas particulares, que melhor o fizesse, e por mais cômodo preço” (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), OFFICIOS [1833-1839], 1835, p. 91-92). Em 1839, quando foi solicitada uma prestação de contas dos trabalhos na biblioteca, Francisco Goulart, ao falar das encadernações, justificou que o próprio

(14)

secretário e ministro do Estado dos Negócios do Império tinha determinado que a soma gasta em “comprar aviamentos e em preparar os utensílios se empregasse em efetivas encadernações, ajustando-se o trabalho respectivo com o livreiro que melhor e mais comodamente o fizesse, e por este modo ficou cessado este emprego” (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), OFFICIOS [1822-1849], 1839, p. 65).

A partir de 1835, as oficinas particulares passaram a trabalhar para a biblioteca na encadernação, reencadernação e consertos de obras. O Quadro 2 apresenta as oficinas particulares que constam dos livros de Ofícios e Avisos no período entre 1835 e 1849.

Quadro 2 - Relação das oficinas particulares entre 1835 e 1849 Períodos Oficinas de Encadernação

1835-1838, 1842 Agra – João Baptista dos Santos 1837-1844 Manoel José Cardozo e Comp.

1840-1849 João J. Bender

1844-1845, 1849 Antonio Mendes Costa Martins 1847-1849 Francisco Antonio Martins

Fonte: Elaborado pela autora deste artigo.

Essa mudança na administração da biblioteca e no controle dos livros que saíam para serem encadernados foi criticada pelo cônego Januário da Cunha Barbosa, quando assumiu a biblioteca em 1839. Em ofício de março de 1840, reclamou da falta da oficina e de todos os instrumentos e equipamentos. Criticou também a inexistência de um documento de autorização de sua venda que, segundo ele, só tinha encontrado “uma ordem da secretaria do Estado para que cessasse o trabalho e o pagamento do oficial Encadernador, que nela trabalhava”. Para Januário Barbosa:

(15)

A falta de uma oficina torna-se bastantemente sensível, porque não é prudência confiar de Encadernadores, fora da Biblioteca, de obras de grande valor pela sua raridade, e ambicionadas por especuladores estrangeiros, que as podem desencaminhar da casa do Livreiro, sem esperança de se restaurarem, e quando tais obras, pelo desmanche em que se acham muitas delas, só devem ser consertadas sob a imediata inspeção de pessoas intendidas na matéria, lembro-me o representar a V.Exa. a necessidade de se restabelecer na Biblioteca a Oficina de Livreiro Encadernador, que é parte integrante de estabelecimentos desta natureza (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), OFFÍCIOS [1822-1849], 1840, p. 94).

Como proposta para retomar os trabalhos de encadernação, Januário Barbosa sugeriu aproveitar os alunos da “escola do Trem, que já tenham feito as suas primeiras letras, ou o tirocínio desta arte, que lhes pode ser vantajosa, confiando-se o seu ensino de livreiros acreditados que hoje existem nesta cidade”. Os aprendizes, assim preparados, poderiam “vir servir a Nação na oficina da Biblioteca Pública por estupendo estabelecido” (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), OFFICIOS [1822-1849], 1840, p. 94).

Essa preocupação com a segurança, o extravio de obras e a qualidade dos serviços fornecidos pelas oficinas particulares apareceram em outro relatório, em 1841, no qual Januário Barbosa faz questão de relembrar a falta do livreiro, da oficina, os riscos, a raridade do acervo e a necessidade do restabelecimento da oficina (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), OFFICIOS [1822-1849], 1840, p. 106).

A circulação das obras pelas oficinas da cidade e o risco que envolvia esta operação foi preocupação também de outros diretores que precisaram esperar, até 1902, para que uma nova Oficina de Encadernação fosse instalada, já no edifício do Largo da Lapa.6 Antes da instalação desta Oficina de Encadernação, aproximadamente

6 A Biblioteca Nacional ocupou o edifício do Largo da Lapa, de 1853 a 1910, quando foi transferida para sua atual sede, na Av. Rio Branco, nº 291.

(16)

30 oficinas particulares trabalharam para a Biblioteca Nacional (SLAIBI, 2019). Porém, a falta da oficina de encadernação e a segurança das obras não eram as únicas questões a serem resolvidas pelos diretores. Outra preocupação rondava silenciosamente o edifício e as estantes e precisava ser também enfrentada: os insetos bibliófagos.

Ao longo da história das bibliotecas e da preservação de seus acervos, os insetos irão aparecer como o pior inimigo. Muitos relatos de bibliófilos e bibliotecários denunciando a ação destruidora dos insetos bibliófagos expressavam as dificuldades e limitações para resolver esta problemática. No final do século XIX e início do século XX, houve um aumento do interesse pelo tema entre estudiosos, cientistas e bibliotecários. As publicações se intensificaram, sobretudo, na segunda metade do século XIX. Em 1851, Poey y Aloy, cientista cubano, escreveu El anobio de las bibliotecas, apresentando uma espécie encontrada na ilha de Cuba. Charles Nodier indicou a higiene e a vigilância como o meio mais eficaz para preservar os livros.

Segundo ele: “la bibliothèque des savants laborieux n'est jamais attaquee des vers”. Em 1879, o entomologista Etienne Mulsant escreveu a obra Les ennemis des livres par un bibliophile. A expressão “inimigos dos livros” foi apropriada por diversos autores ao tratarem dos insetos bibliófagos e seu poder de destruição. Alphonse Alkan, impressor e bibliógrafo francês, publicou em 1883, Les livres et leurs ennemis.

William Blades, gravador, impressor e biógrafo inglês se dedicou para escrever, em 1888, a obra The enemies of books. Constant Houlbert, professor doutor em Ciências

(17)

Naturais, escreveu um trabalho dedicado aos insetos destruidores de livros, sendo premiado no concurso realizado em Paris, em 1900 (SLAIBI, 2019).

Foi com o espírito e o dever de combater as pragas que atacavam o acervo e o edifício da Biblioteca Imperial e Pública que seus diretores trabalharam intensamente, utilizando as informações disponíveis no começo do século XIX. Das ações observadas, algumas eram puramente empíricas e caseiras. Assim, foi encontrado na lista de despesas o fornecimento de carne, durante o ano de 1823, para um gato que morava na biblioteca (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), DESPESAS [1822-1824], 1823), talvez como reforço no combate aos ratos que por ventura tentassem se instalar no edifício.

Porém, o esforço maior estava concentrado no combate aos insetos bibliófagos.

Desde os primeiros relatos de Marrocos sobre as infestações nos livros guardados em caixas e dos ofícios de frei Arrábida denunciando os ataques de cupins, que o trabalho com a limpeza, asseio, conservação e desinfestação do acervo passou a ser rotina dos serventes da biblioteca (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), OFFICIOS 1833-1839, 1835, p. 106).

Nas referências mais antigas sobre métodos de combate aos cupins, o arsênico figura entre os produtos utilizados nas décadas de 1820 e 1830 (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), DESPESAS [1822-1824] e BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), CONTAS [1825-1850]). O cloreto de mercúrio diluído em álcool, também aparece como solução utilizada para “matar os bichos dos livros” (ARQUIVO NACIONAL (Brasil), OFÍCIOS..., [1833-1837], 1834, p. 127).

Com apenas quatro serventes para cuidar da conservação de setenta mil obras, Francisco Goulart explicava em ofício que era indispensável trabalhadores em efetivo serviço para as tarefas de proteção ao acervo, pois de outra maneira seria inevitável sua perda, pelo rápido desenvolvimento dos insetos. Segundo Goulart, estes serventes

(18)

precisavam estar acostumados ao trabalho porque era um serviço “bastante pesado por serem obrigados a transportar grandes volumes para o lugar onde faz a sua limpeza, a fim de serem depois tratados com um licor de minha composição, constando de espírito ardente, canfora e solimão” e que tinha “quase certeza” que extinguia os insetos (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), OFFICIOS [1833-1839], 1835, p. 125). Essa receita vai sofrer variações na substituição do que ele chamava de espírito ardente por aguardente, álcool e, às vezes, acrescentando arsênico ao licor (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), DESPESAS [1822-1824] e BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), CONTAS [1825-1850]).

O trabalho, na maioria das vezes, consistia na limpeza folha a folha, com uma escova para tirar o pó e os ovos dos insetos e, logo depois, a aplicação “[d]as drogas para os afugentarem”. No entanto, o trabalho de seis meses não excedia a uma parte da “Sala interior” e, pelas contas de Francisco Goulart, levariam um ano para limpar a Sala de Leitura e o corredor, com as coleções do Conde da Barca e Infantado, e que para voltar aos que estão sendo limpos demoraria quatros anos de espera para vê-los novamente (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), OFFICIOS [1833-1839], 1836, p. 135).

Para matar os cupins, os serventes rompiam seu carreiro, aplicando arsênico em pó ou aplicavam o “sublimado corrosivo” em lugares de difícil acesso. Esse mesmo líquido era usado para embeber as capas, as lombadas e os cartões das pastas dos documentos. A preferência era pela aguardente de 25 graus, pois a molhadeira não fazia mal ao livro, nem chegava a amolecer a cola da encadernação, pois em instantes ficava enxuto. Francisco Goulart tinha consciência de que o problema com a infestação de cupins ultrapassava o edifício da biblioteca e atingia a cidade do Rio de Janeiro. Como o veneno tinha alcance limitado para combater as infestações em forros, armações e madeiramentos, seria preciso ter cautela na construção de tais estabelecimentos.

(19)

Sugeria que as estantes dos livros estivessem afastadas das paredes, não chegando ao teto, para facilitar a observação de carreiros de cupins e, de preferência, dispostas no meio das salas, em diferentes arruamentos, com prateleiras que pudessem acomodar duas faces de fileiras de livros, observando a distribuição do peso para não curvá-las, assim como considerar a estrutura adequada do pavimento para sustentar o peso destas. Para os documentos, sugeria armários fechados, observando o mesmo distanciamento do teto, paredes e afastados do chão (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), OFFICIOS [1833-1839], 1838, p. 254-257).

As questões relativas ao combate aos cupins acabaram gerando o interesse de outras pessoas. Em resposta a um ofício da secretaria do Estado dos Negócios pedindo parecer sobre uma proposta de desinfestação, em 1838, Francisco Goulart escreveu que o produto oferecido por João Florêncio Perea, que dizia ter aprovação do naturalista belga Jean Baptiste Van Mons, era destinado à conservação de objetos de História Natural e Zoologia e não se aplicava aos livros e estampas, pois muitos dos produtos indicados eram insolúveis ou corrosivos. Para embasar seus argumentos, cita as orientações da Academia das Ciências de Lisboa e o Museu de História Natural de Paris, na utilização dos produtos e métodos de aplicação para outros acervos que não fossem bibliográficos (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), OFFICIOS [1833-1839], 1838, p. 267-269).

Convencido da utilidade de sua proposta, João Florêncio Perea, oferece três fórmulas para que Francisco Goulart pudesse experimentar: para as bibliotecas, para os objetos de História Natural e para o estudo da Angiologia. A fórmula para bibliotecas era composta de: “Acetato de aluminia, clorato de aluminia, acetato de chumbo, óleo essencial de trementina e álcool a 28 gr” (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), AVISOS [1834-1838], 1838, p. 206). Não se encontrou documentos sobre o uso desta fórmula e as despesas com

(20)

produtos para combater os insetos se resumiam em aguardente, cânfora e solimão, indicando que Francisco Goulart se manteve fiel na aplicação de sua fórmula.

Na década de 1840, não se encontrou registros de despesas com produtos químicos no combate aos insetos. Cônego Januário Barbosa acreditava que: a “limpeza dos livros era o único e mais profícuo remédio” que ele tinha “descoberto para preservar deste estrago dos insetos” (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), OFFICIOS [1822-1849], 1844, p. 146). Sacudir o livro também seria outro método na rotina de limpeza (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), OFFICIOS [1822-1849], 1842, p. 125). Esta técnica de sacudir e bater nos livros vai aparecer em publicações no final do século XIX para o XX, como um método eficaz na remoção de insetos e ovos do corpo do livro (SLAIBI, 2019).

Além da preocupação constante no combate às pragas, outros riscos rondavam a biblioteca e seus diretores se esforçavam para gerenciá-los. Muitos são os pedidos de conserto do telhado “nos lugares em que a chuva tem penetrado com grande risco da destruição dos livros” (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), OFFICIOS [1822-1849], 1822, p.

5), e para a “segurança do edifício e a conservação do depósito” (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), OFFICIOS [1833-1839], 1835, p. 109), registrados nos ofícios ao longo de décadas.

O incêndio, que uma vez destruiu a Real Biblioteca, também era um risco que assombrava a direção da Biblioteca Imperial e Pública. Sobre salvaguardar a biblioteca desta tragédia, Francisco Goulart, informou que o edifício possuía uma bomba para incêndios, mas que por falta de uso há alguns anos, seus tubos condutores, que eram feitos de sola, estavam enrijecidos. Sugeria que a trocassem ou a encaminhassem para a manutenção, para o bem da biblioteca (BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil), OFFICIO [1833- 1839], 1837, p. 198).

(21)

Não se encontrou qual providência foi tomada pela secretaria do Estado dos Negócios do Império em resposta a esta solicitação, mas os ofícios e relatórios sugerem que algumas frentes de trabalho no combate aos riscos para a biblioteca foram criadas e, na medida do possível, os problemas foram mitigados pelos seus diretores.

Com uma imensa responsabilidade de salvaguardar o precioso acervo da Biblioteca Imperial e Pública que foi assombrado por invasões napoleônicas, pelo risco da travessia de um oceano e pelas intempéries e insetos bibliófagos em um país tropical, os bibliotecários investiram esforços para a sua preservação. As ações implementadas na proteção dos livros, manuscritos e estampas, irão permear todos os relatórios dos diretores, ao longo da primeira metade do século XIX. Alguns mais empenhados em resolver os problemas com a conservação do edifício, outros no combate às pragas, ou na defesa da manutenção de empregados e serviços, sinalizando a importância deste legado cultural.

Com poucos recursos e com um quadro reduzido de empregados uma das ações de preservação foi estabelecer uma pequena oficina de encadernação, como uma medida de controlar a movimentação dos livros entre as estantes e o encadernador, diminuindo o risco do extravio das obras. O controle dos insetos, que proliferavam em uma velocidade que as vezes parecia não ter fim, era enfrentado com uma logística na disposição do mobiliário, com uma rotina de higienização individual das obras e com o uso de licores de venenos, para a eliminação dos insetos, proteção e conservação dos livros. Contando com poucas ou exíguas informações sobre a validade de métodos e

(22)

produtos, estes bibliotecários e empregados trabalharam buscando a melhor alternativa para garantir a sobrevida da biblioteca e de todo conhecimento que ela guarda.

ARQUIVO NACIONAL (Brasil). Relatórios e ofícios do Ajudante Bibliotecário: 1818-1832.

Rio de Janeiro. (Série Educação, Bibliotecas, Museus- IE7, nº 25, Ministério do Império- Biblioteca Nacional e Pública da Corte).

ARQUIVO NACIONAL (Brasil). Ofícios do Ajudante Bibliotecário: 1833-1837. Rio de Janeiro. (Série Educação, Bibliotecas, Museus- IE7, nº 26, Ministério do Império- Biblioteca Nacional e Pública da Corte).

BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil). Avisos 1822-1833, Rio de Janeiro. (Coleção Biblioteca Nacional. Divisão de Manuscritos).

BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil). Contas 1825-1850, Rio de Janeiro. (Coleção Biblioteca Nacional. Divisão de Manuscritos).

BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil). Despesas 1822-1824. Rio de Janeiro. (Coleção Biblioteca Nacional. Divisão de Manuscritos).

BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil). Officios 1822-1833, Rio de Janeiro. (Coleção Biblioteca Nacional. Divisão de Manuscritos).

BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil). Officios 1822-1849. Rio de Janeiro. (Coleção Biblioteca Nacional. Divisão de Manuscritos).

BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil). Officios 1833-1839. Rio de Janeiro. (Coleção Biblioteca Nacional. Divisão de Manuscritos).

BRASIL. [Leis etc.]. Decreto 26 de junho de 1810. Manda collocar a Bibliotheca Real e o Gabinete de Instrumentos de Physica e Mathematicas na Igreja dos Terceiros do Carmo.

In: BRASIL. [Leis etc.]. Collecção das leis da República dos Estados Unidos do Brasil de 1810: actos do poder executivo (janeiro a julho). Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1810a. v. 1. Também disponível em:

http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret_sn/anterioresa1824/decreto-39955-27- junho-1810-571193-publicacaooriginal-94289-pe.html. Acesso em: 15 jun 2018.

(23)

BRASIL. [Leis etc.]. Decreto 29 de outubro de 1810. Manda accomodar a Bibliotheca Real no logar onde estavam as catacumbas dos religiosos do Carmo junto á Real Capella. In:

BRASIL. [Leis etc.]. Collecção das leis da República dos Estados Unidos do Brasil de 1810:

actos do poder executivo (julho a dezembro). Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1810a.

v. 3. Também disponível em:

http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret_sn/anterioresa1824/decreto-39997-29- outubro-1810-571396-publicacaooriginal-94523-pe.html. Acesso em: 15 jun 2018.

CANFORA, Luciano. A Biblioteca desaparecida. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

FARIA Maria Isabel; PERICÃO, Maria da Graça. Dicionário do Livro: da escrita ao livro eletrônico. São Paulo: Edusp, 2008.

MARROCOS, Luís Joaquim dos Santos. O Bibliotecário do Rei: Trechos selecionados das cartas de Luís Joaquim dos Santos Marrocos. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2007.

SCHWARCZ, L. M. A Longa viagem da biblioteca dos reis: do terremoto de Lisboa à independência do Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 2002.

SLAIBI, Thais Helena de Almeida. Memórias dos Conservadores, Restauradores e

Cientistas na preservação do acervo da Biblioteca Nacional: de 1880 a 1980. 2019. 367 f.

Orientadora: Regina Maria do Rego Monteiro de Abreu. Tese (Doutorado em Memória Social) – Programa de Pós-Graduação em Memória Social, Centro de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal do Estado de Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

Referências

Documentos relacionados

Este artigo tem o propósito de discutir as ações e o desenvolvimento de um pensamento para a conservação preventiva, as pesquisas sobre métodos e produtos no combate aos

Considerando uma avaliação de qualidade de forma quantitativa e classificatória, na variável de dados relevantes da realidade, utilizados para medidas serem

De acordo com Barbieri (2004), grande parte da preocupação ambiental empresarial é referente a experiências passadas com desastres ecológicos e populacionais e a Carbocloro mostra

Este artigo destaca a importância da preservação digital de conteúdos publicados em sites, aplicativos de música e redes sociais como Facebook, Instagram, Twitter, YouTube,

Tal cenário, diante da falta de percepção do tema como absolutamente pertinente ao nosso campo, reforçou ainda mais a necessidade de se pensar em um número especial,

(1998), o patologista Friedrich Henle publicou um ensaio em que estabeleceu a hipótese de que era possível que organismos minúsculos fossem a causa de doenças.

A partir deste número, enquadraremos cada risco em uma escala de priorização, alcançando assim o objetivo principal do plano de gerenciamento de riscos de

No que se refere aos produtos inibidores do crescimento e eliminação de micro- organismos, Costa e colaboradores (2011; 2014) realizaram estudos sobre a eficácia do