• Nenhum resultado encontrado

Número Especial CONSERVAÇÃO PREVENTIVA EM BIBLIOTECAS

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2023

Share "Número Especial CONSERVAÇÃO PREVENTIVA EM BIBLIOTECAS"

Copied!
17
0
0

Texto

(1)

Este artigo destaca a importância da preservação digital de conteúdos publicados em sites, aplicativos de música e redes sociais como Facebook, Instagram, Twitter, YouTube, Deezer e Google Arts and Culture, dentre outros. Aponta a pandemia por COVID-19 e o isolamento social imposto como responsáveis pelas mudanças estratégicas na comunicação entre instituições de cultura e seu público nos setores culturais. Reflete sobre o papel dos arquivos, bibliotecas e museus à salvaguarda desse patrimônio digital, seus limites e desafios. Identifica o Museu da Imagem e do Som – MIS/RJ como ator político responsável pela salvaguarda dessa parte importante da memória audiovisual brasileira, que ora vem sendo constituída nas redes. Apresenta a metodologia de gerenciamento de riscos como meio de enfrentamento da amnésia digital decorrente da perda de valor do patrimônio digital da sociedade.

Preservação Digital. Gerenciamento de Riscos. Amnésia digital.

1 Museóloga, conservadora e restauradora com mestrado em Memória Social pela UNIRIO e doutorado em Ciência da Informação pelo IBICT. Membro do Grupo de Estudos sobre Cultura, Representação e Informação Digitais – CRIDI da Universidade Federal da Bahia, é Professora Permanente do Programa de Pós-graduação em Acervos de Ciência e Tecnologia do Museu de Astronomia, e conservadora e restauradora do Arquivo Nacional.

2 É museóloga, mestranda do PPACT/MAST, atua como diretora técnica do Museu da Imagem e do Som, no Rio de Janeiro. É membro do Grupo de Estudos sobre Cultura, Representação e Informação Digitais – CRIDI da Universidade Federal da Bahia.

(2)

A obsessão pela memória associada à ansiedade da perda são sintomas de uma sociedade que exonera o passado e busca no uso das tecnologias digitais o meio de todas as formas de memória. “Fala-se tanto de memória porque ela não existe mais”

(NORA, 1993, p. 7).

Pierre Nora (1993, p. 7) anuncia o fim da história-memória, das sociedades- memória, das ideologias-memória, pela ruptura do elo entre memória e história, como consequência da globalização, da democratização, da massificação e da mediatização. O que existe são lugares de memória surgidos a partir do fim da história-memória e que se apoiam nos restos, provocando uma obsessão pela preservação integral do presente e do passado, estoque material de tudo que é impossível lembrar.

Ultimamente, memória, patrimônio cultural, identidade e pertencimento têm sido temas cada vez mais evocados em diversas matérias e publicações na web. Huyssen (2000, p. 19) afirma uma tendência à musealização, “como se não houvesse mais o amanhã”. Esse autor lembra que a obsessão contemporânea pela memória dispara o medo do esquecimento e se pergunta se este medo não seria a causa dessa obsessão.

Seja como for, o que se quer chamar a atenção é quanto ao risco da amnésia digital, pela impossibilidade de se preservar todas as formas de memória materializadas nos registros audiovisuais e sonoros feitos nestes tempos de pandemia. Huyssen oferece uma pista ao dizer que o aumento explosivo de memória pode vir acompanhado de um aumento explosivo de esquecimento, decorrente da mediatização que coloca em risco a coesão social e cultural das sociedades.

Nesse contexto de hipertrofia da memória, chama a atenção o lamento sobre as perdas do patrimônio que ocorreram recentemente, como o incêndio do Museu

(3)

Nacional, Museu de História Natural e o Jardim Botânico da Universidade Federal de Minas Gerais, o Museu da Língua Portuguesa, no Brasil e a Catedral de Notre Dame, na França, além do Centro Cultural Fórum Humboldt, em Berlim, dentre outras.

Para além desses acontecimentos, tem ocorrido também disputas de memória como a de monumentos polêmicos do passado3, que estão sendo questionados e destruídos por minorias étnicas e raciais em resposta às suas memórias apagadas por séculos de dominação. É o uso político do passado que está em debate. Não é tarefa simples. Mas, é preciso recorrer a ele para se refletir sobre quais impactos serão sentidos quando a amnésia digital passar a ser uma realidade percebida por todos. Aqui importa também, fazer um parêntese e citar o artigo de Michael Pollak – Memória, esquecimento, silêncio4 –, que examina as contribuições da história oral às "memórias subterrâneas" que emergem em momentos de crise, gerando conflitos e disputas, subvertendo a lógica imposta por uma memória oficial coletiva.

Mais recentemente, surgiu uma nova qualificação chamada de patrimônio imaterial ou intangível, em oposição ao patrimônio de pedra e cal. De acordo com o Decreto-lei n° 3.551/20005, essa nova categoria está associada aos aspectos da vida social e cultural como a música, as danças, as manifestações folclóricas, a culinária e ritos religiosos, por exemplo. E, por ser impossível "tombar" para preservar, inova-se, acompanhando e registrando tais práticas e representações para, então, promover sua preservação e acesso continuado.

3 Cf. Live sobre Monumentos Polêmicos: Cultura, Memória e Disputas no Espaço Público. Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=YmvEG2D-Bis. Acesso em: 30 Ago. 2020.

4 Cf. POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 2, n.

3, p. 3-15, jun. 1989. ISSN 2178-1494. Disponível em:

http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/2278. Acesso em: 30 ago. 2020.

5 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3551.htm. Acesso em: 30 ago. 2020.

(4)

Dodebei atualiza a noça o de patrimônio a luz do “caráter efêmero e circunstancial dos recursos que transitam no ciberespaço” e define patrimônio digital como aquele

constituído por bens culturais criados somente em ambiente virtual ou por bens duplicados na representaça o da web [...] que incluem textos, bases de dados, imagens estáticas e com movimento, áudios, gráficos, software, e páginas web, entre uma ampla e crescente variedade de coleço es que representam desde objetos pessoais a acervos tradicionais de instituiço es de memória (DODEBEI, 2006, s/p)6.

Ao mesmo tempo, o uso das tecnologias de informação e comunicação se amplia e passa a ser acessível de forma quase onipresente, por meio de câmeras de vídeo disponíveis em smartphones, tablets, etc. Entretanto, apesar dessa “onipresença”, é possível verificar que a exclusão digital ainda domina os cenários mundial e nacional.

Pesquisa realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (CETIC)7, em 2019, apontou que 74% da população tinha acesso à internet, o que correspondia a 134 milhões de pessoas e 71% dos lares do país.

No mundo todo, a desigualdade é maior, sendo que menos da metade da população de países em desenvolvimento possuem acesso à internet.

De acordo com matéria veiculada no jornal O Globo, em 30 de maio p.p., Arte produzida na quarentena: tudo que é on-line se desmancha no ar?8, “o espaço de armazenamento digital disponível este ano é 20 vezes menor que toda a produção global

6 O conteúdo não possui numeração de páginas. Disponível em:

http://www.seer.unirio.br/index.php/morpheus/article/view/4759. Acesso em: 28 ago. 2020.

7 Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2020/08/10/quem-sao-as-pessoas-que-nao-tem-acesso-a- internet-no-brasil. Acesso em: 20 Ago. 2020.

8 Disponível em: https://oglobo.globo.com/cultura/conteudo-produzido-durante-quarentena-levanta- debate-sobre-longevidade-da-cultura-digital-24453947. Acesso em: 20 ago. 2020.

(5)

na internet ao longo de 2020”. E, afirma que, segundo estimativas da Interactive Data Corporation (IDC), 95% de toda a produção digital no mundo, em 2020, será jogada fora.

E o que ficou armazenado não deverá ter vida longa”.

Para reforçar esse problema, a matéria cita o projeto americano Internet Archives / Wayback Machine9 dedicado a preservar o que vem sendo produzido nas plataformas digitais. Esse projeto é uma experiência bem sucedida de uma organização sem fins lucrativos que se responsabiliza em fazer varreduras periódicas em sites mundo afora, capturando-os em uma plataforma em que é possível “navegar” por versões antigas de sites, de acordo com suas alterações ao longo do tempo. Entretanto, nem sempre é possível resgatar em seus arquivos a funcionalidade dos sites coletados por eles.

Associada a essas questões, a preservação de eventos de música, teatro e outras manifestações culturais que vêm sendo igualmente publicadas nas redes e ficam disponíveis em plataformas proprietárias como Facebook, Instagram, YouTube se tornam ainda mais complexas. Tais plataformas são efêmeras, assim como foi o Orkut, o Fotolog e o GPlus, por exemplo.

A forma como a informação era processada nessas plataformas se perderam quando seus proprietários anunciaram o fim delas, a despeito da possibilidade de cada membro “salvar” seus arquivos. O que ficou são fragmentos de memória que pouco podem comunicar à geração que as utilizou.

Além disso, as dificuldades de se preservar um site – ele é um item em um arquivo da web, mas também é, funcionalmente, uma publicação em série que é

9 The Wayback Machine é uma iniciativa do Internet Archive, uma organização sem fins lucrativos que constrói uma biblioteca digital de sites da internet e outros artefatos digitais. Outros projetos incluem o Open Library e o archive-it.org. Disponível em: http://web.archive.org. Acesso em: 27 ago. 2020.

(6)

atualizada e sofre mudanças ao longo do tempo (OWENS, 2018, p. 6) – se constituem em um desafio ainda maior, pois não basta preservar “o” item ou “a” coleção publicada. É imprescindível que se preserve também sua funcionalidade e os contextos em que foram produzidos para que, no futuro, a experiência no site preservado possa estar disponível.

É comum encontrar a ideia de que os arquivos que estão custodiados em um repositório estão “preservados”. Mesmo que ele atenda a todos os requisitos técnicos que vêm sendo estabelecidos em nível nacional e internacional, ainda assim, não haverá a certeza que, de fato, ele estará acessível e interpretável ao final de algumas décadas.

Para se considerar que algo está sendo “preservado” deve-se adotar uma cadeia de ações para tornar os acervos digitais ou digitalizados localizáveis, acessíveis e interpretáveis. Para isso, eles devem ser objeto de uma abordagem clara e coerente para o desenvolvimento das coleções, com arranjo, descrição e metadados para garantir acesso pelo maior tempo possível, em direção ao futuro. Medidas pontuais como backup de dados não devem ser consideradas preservação digital (OWENS, 2018).

Para definir, então, o que é preservação, seja ela digital ou analógica, é preciso reconhecer, em primeiro lugar, que se trata de uma atividade continuada. No caso da preservação digital, importa enfatizar que ela não admite indicadores que a coloquem no passado. Dizer que um acervo foi preservado é uma incongruência, pois “preservação é um processo” que “nunca termina” (OWENS, 2018, p. 5), e é resultado de um conjunto de ações continuadas e de longo prazo, que visa aumentar a expectativa de acesso aos objetos digitais pelo máximo de tempo possível.

É preciso, ainda, fazer a distinção que preservação não é sinônimo de salvaguarda, uma vez que salvaguarda se relaciona ao dever do Estado em garantir a preservação e o acesso continuado aos conteúdos, sejam eles nascidos digitais ou não.

(7)

Em síntese, deve-se entender a preservação como o resultado do trabalho contínuo de especialistas e do comprometimento, em longo prazo, de recursos humanos, financeiros e materiais. O trabalho nunca termina. Isso é verdade para todas as formas de preservação.

Entretanto, em uma escala de tempo, a preservação digital é significativamente mais propensa ao apagamento do que costuma ser a preservação de objetos analógicos, como livros e documentos em papel, por exemplo, que tem uma durabilidade maior e prescindem de equipamentos para a sua fruição. Ao contrário, os conteúdos registrados em suportes analógicos audiovisuais e sonoros, como películas e fitas magnéticas possuem uma durabilidade estimada em 100 anos, que é ainda maior que a prevista para os documentos digitais, que não dependem da durabilidade de uma mídia física, mas sim de um conjunto de estratégias de preservação para evitar a sua obsolescência e consequente falta de acesso.

Essa obsolescência ocorre devido a substituição dos equipamentos e softwares utilizados por versões mais recentes acontecerem rapidamente, exigindo uma preservação vigiada e permanente, com garantias de recursos humanos, financeiros e materiais para que ela aconteça. Tais garantias dizem respeito à noção de sustentabilidade dos projetos de preservação digital.

Por todas essas razões, é muito importante fazer tais distinções para se compreender as demandas de investimentos continuados para a preservação digital, que somente podem ser garantidos por meio de estratégias sustentáveis e políticas públicas em prol da preservação da memória social.

Outrossim, compreender, valorizar e respeitar o patrimônio cultural de um grupo ainda é, sem dúvida, um importante antídoto a este estado de apatia que a falta de

(8)

referências culturais poderá agravar. É provável que a cura da amnésia digital seja em si, uma impossibilidade. Mas, a “redução de danos” virá, talvez, da curadoria de conteúdos capaz de selecionar, reusar e difundir ideias, experiências e informações, promovendo assim o compartilhamento e as chances de sua preservação em direção ao futuro. E ela virá, com certeza, a partir da atuação dos arquivos, bibliotecas e museus como agentes políticos autorizados pelo Estado.

No entanto, toda a vez que a preservação digital falhar, haverá perda de valores, fazendo crescer em nós a necessidade de pertencimento a algum lugar. Haverá também a sensação de falta de referências culturais, não esquecendo que ela é, hoje, parte de um projeto de mundo em que o apagamento será a política. Como resultado, ao final, possivelmente, será percebida a falta de potência de indivíduos para exercerem sua cidadania, o que os levará à apatia, já mencionada, e ao desinteresse pelo coletivo e pela luta por políticas públicas de direitos humanos fundamentais.

É nesse contexto que se insere esse artigo. Quer-se demonstrar os limites e desafios que as instituições estão sendo obrigadas a enfrentar para se adaptarem aos novos tempos de isolamento e distanciamento sociais impostos pelo COVID-19 e continuarem cumprindo suas missões. É também nesse contexto que se observa uma produção de informações e conteúdos digitais muito intensa e que deve se perder, caso não se tenha uma política pública capaz de garantir a sua salvaguarda.

O ambiente virtual, nestes tempos de pandemia e isolamento social, vem se tornando uma extensão do próprio ambiente físico como os arquivos, bibliotecas e

(9)

museus. As velhas formas de se expor e explorar as informações dentro das plataformas digitais já não são vistas da mesma forma. Exposições virtuais que se utilizam de imagens e legendas, tais quais eram utilizadas em exposições presenciais, não são mais tão bem recebidas pelo público. Além disso, museus virtuais surgem, por exemplo, através de plataformas como o Instagram para, de certa forma, resguardar a memória, seja ela representando o passado, seja o momento presente.

Neste contexto, compreender, valorizar e respeitar o patrimônio cultural de um grupo ainda é, sem dúvida, um importante antídoto a este estado de apatia que a falta de referências culturais poderá agravar. É provável que a cura da amnésia digital seja em si, uma impossibilidade. Mas, a “redução de danos” virá, talvez, da curadoria de conteúdos capaz de selecionar, reusar e difundir ideias, experiências e informações, promovendo assim o compartilhamento e as chances de sua preservação em direção ao futuro. E ela virá, com certeza, a partir da atuação dos arquivos, bibliotecas e museus como agentes políticos autorizados pelo Estado.

Para exemplificar, temos também os perfis Museu do Isolamento10 e o The Covid Art Museum11. Já o Museu Diários do Isolamento12 constitui-se em uma exceção, pois procura divulgar informações sobre a COVID-19 criando uma memória crítica da pandemia no Brasil com uma tendência mais politizada.

Em relação às exposições virtuais, diversos museus, galerias, arquivos de várias partes do mundo, inclusive no Brasil, vêm utilizando a plataforma Google Arts and Culture como importante aliada na difusão de seus acervos. As exposições virtuais são de

10 Disponível em: https://instagram.com/museudoisolamento. Acesso em: 29 ago. 2020.

11 Disponível em: https://instagram.com/covidartmuseum. Acesso em: 29 ago. 2020.

12 Disponível em: https://instagram.com/mudiufpel. Acesso em: 29 ago. 2020.

(10)

curadoria das instituições e, dependendo da parceria formada, é possível montar um tour virtual com o recurso Street View da Google, que também oferece a digitalização de obras bidimensionais. Além dessa iniciativa da Google, que contou com diferentes museus, e dos museus virtuais criados no Instagram, instituições de memória vem trabalhando para preservar e documentar este momento da pandemia e de isolamento social.

O Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, recentemente, lançou um projeto chamado “Testemunhos do Isolamento”, cujo objetivo é o de “recolher e salvaguardar informações sobre esse período a partir da ótica dos indivíduos e seu cotidiano”13. Também a Casa de Oswaldo Cruz iniciou uma campanha nas redes para coletar fotos, vídeos e registros pessoais obtidos durante o isolamento social que vem ocorrendo, no Brasil. O Museu Diários do Isolamento da UFPEL lançou, há pouco tempo, uma campanha para a Exposição “Cartas que levam abraços”, cujo objetivo, segundo o site, é receber cartas enviadas pelo público para algum familiar ou amigo contando sobre as suas vivências, sentimentos, ânsias, esperanças deste período de distanciamento físico.

Ao final, essas cartas comporão uma exposição virtual.

Buscando se inserir nestas tendências tecnológicas e virtuais, o Museu da Imagem e do Som – MIS/RJ, vem produzindo conteúdos para as diversas plataformas citadas. Antes mesmo da pandemia, em parceria com a Deezer, o MIS/RJ lançou uma série de playlists que relacionam o acervo existente com o conteúdo musical do próprio aplicativo. Outro projeto, iniciado, em 2019, em parceria com a Escola Superior de Propaganda e Marketing – ESPM, é uma série de podcasts disponibilizada na Deezer.

13 Disponível em: http://rio.rj.gov.br/web/arquivogeral/testemunhos-do-isolamento. Acesso em: 20 ago. 2020.

(11)

Essas iniciativas vêm sendo incrementadas pela impossibilidade de realização de eventos presenciais no MIS/RJ devido à pandemia e ao isolamento social, considerando, claro, a importância de acesso e difusão de seu acervo.

Essas são as razões pelas quais o MIS/RJ intensificou sua comunicação com o público através das redes sociais como o Instagram14, Facebook15 e o aplicativo Deezer16, com postagens comemorando efemérides, vídeos com curiosidades do acervo, playlists e lives com pesquisadores, artistas e técnicos do próprio museu e de outras instituições parceiras. Recentemente, pelos mesmos motivos, as contas do YouTube17 e do Twitter18 do MIS/RJ foram reativadas.

Com o aumento de produção de conteúdo nas redes sociais e o reconhecimento do MIS/RJ sobre a importância de sua preservação, a instituição está buscando meios para promover a sua guarda e acesso continuado, em longo prazo, por meio de sua incorporação à Coleção Institucional. Isto significa dizer que tais conteúdos digitais passarão a fazer parte do acervo institucional e receberão a atenção necessária à sua preservação e acesso continuado.

Em um futuro próximo, com uma política de preservação de acervos digitais e uma curadoria bem definidas, espera-se que o MIS/RJ seja o ator político responsável pela custódia digital de outros conteúdos sonoros, visuais e audiovisuais produzidos antes, durante e após a pandemia, por pesquisadores, colecionadores e personalidades dos diversos campos da cultura e da arte.

14 V. https://www.instagram.com/mis.rio. Acesso em: 10 ago. 2020.

15 V. https://www.facebook.com/mis.rj. Acesso em: 10 ago. 2020.

16 V. https://www.deezer.com/br/profile/2867304904. Acesso em: 10 ago. 2020.

17 V. https://www.youtube.com/channel/UCqcXQILD3D4NHuQSDW0M84A. Acesso em: 10 ago. 2020.

18 V. https://twitter.com/misrj. Acesso em: 10 ago. 2020.

(12)

A despeito da possibilidade de os registros da pandemia de COVID-19 sobreviverem ao acaso, pelo compartilhamento nas redes, questiona-se quais seriam os meios disponíveis para lidar com este desafio, tendo em vista os recursos orçamentários cada vez mais escassos em nossas instituições. Para buscar responder a essa questão, aponta-se a gestão de riscos como meio de amenizar os riscos de perda desses registros digitais audiovisuais e sonoros produzidos durante esse período, que teve início em 2020, e ainda não tem previsão de acabar.

Aliado ao crescente uso de tecnologias de informação e comunicação nas últimas décadas, que têm-se mostrado cada vez mais evidente dentro e fora dos arquivos, bibliotecas e museus, surge a necessidade de uma gestão de preservação dos acervos digitais para minimizar os riscos de perda, e que se configura como um dos grandes desafios deste século.

Owens (2018) explica que a preservação digital se caracteriza pela crença (e preocupação) de que se algo está na internet, estará disponível para sempre. Andrade (2018) explica que as perdas de acesso à informação em meio digital, tal qual ocorre com a informação analógica, são resultado de um processo causado por um ou mais agentes que se potencializam em um momento de colapso.

A fim de compreendermos a gestão de riscos, precisamos primeiro entender o seu significado. Risco é a chance de algo acontecer e que pode impactar algo ou alguém de forma negativa ou positiva. Ao efeito negativo da incerteza, entende-se a ameaça ou indício de acontecimento desfavorável. Já o seu efeito positivo é visto como

(13)

oportunidade e estabelece uma base para uma eficiente gestão da qualidade e prevenção dos efeitos negativos (ANDRADE, 2018, p. 95).

Para Pedersoli (2016), os riscos (grandes ou pequenos) estão sempre presentes e as decisões tomadas devem ser pautadas na aceitação, rejeição ou alteração das causas. É importante considerar que o conceito de risco é o mesmo para todos os tipos de acervo presentes em arquivos, museus e bibliotecas. Da mesma forma, é preciso entender que a gestão de riscos é realizada no repositório digital, e não nos objetos digitais incorporados a ele.

A norma internacional ISO 31000 utilizada relaciona os riscos com os efeitos da tecnologia, do clima e o desconhecimento sobre a preservação digital, e argumenta que a gestão de riscos permite “prevenir perdas, melhorar o funcionamento das atividades de uma organização, a qualidade de seus produtos e serviços, assim como a sua segurança”

(DIAZ, 2019, p. 26).

Quanto à metodologia para gerenciamento de risco, Galindo explica que:

A metodologia examina as formas pelas quais se processa a perda de registros digitais, inventariando, qualificando e quantificando os agentes de risco identificados; suas causas, os métodos de diagnose disponíveis e os efeitos sobre a memória das instituições e a produção científica. A avaliação qualitativa dos riscos potenciais se faz identificando aqueles que requerem prioridade. Além disso, são sugeridas medidas preventivas e/ou mitigadoras dos riscos a fim de eliminar as causas ou reduzir as consequências dos cenários identificados (GALINDO, 2014, p. 48).

Atualmente, confunde-se frequentemente a gestão de riscos com as estratégias da preservação digital, uma vez que ambas possuem a mesma finalidade, qual seja, a de reduzir a incerteza quanto aos riscos de perda no repositório digital.

(14)

Diaz (2019) explicita os requisitos que devem pautar o processo de análise e gerenciamento de riscos de repositórios digitais. Dentre eles, destacam-se: a definição dos objetivos, metas, visão e missão do repositório; a identificação da comunidade de produtores e de usuários e suas necessidades de informação; previsão orçamentária para fazer frente às mudanças tecnológicas constantes e às crescentes necessidades de informação dos usuários; conhecimento do marco regulatório e os requerimentos legais do repositório, além da elaboração de manuais sobre o uso e funcionamento do sistema e qualificação de pessoal de forma continuada, inclusive quanto à ética profissional.

Outro requisito fundamental, diz respeito à aquisição, incorporação, armazenamento, preservação, gestão de metadados, acesso e difusão para garantir a capacidade do repositório de localizar e manter a autenticidade da informação.

Por fim, mas não menos importante, é necessário estabelecer estratégias de identificação e gestão de riscos de forma permanente por meio de um sistema de monitoramento constante. Isso, sem abrir mão da perspectiva trazida por Eld Zierau que afirma:

À medida que boas práticas de preservação amadurecem, as organizações estão naturalmente abordando aspectos estratégicos e operacionais mais avançados da tecnologia necessária para um programa de preservação digital sustentável, que leve à preservação digital distribuída. (ZIERAU et al, 2014, p. 2).

Por preservação digital distribuída entende-se o meio pelo qual instituições independentes, como arquivos e bibliotecas, podem cooperar mutuamente para gerenciar um repositório de bits, com preservação de bits, com o objetivo de usar os seus recursos para preservação de forma mais eficiente. Zierau define a preservação digital distribuída como sendo

(15)

a prática de aplicar distribuição de maneira intencional, tanto organizacionalmente quanto tecnicamente, para conseguir preservação digital, por exemplo, através de distribuição geográfica, heterogeneidade de infraestrutura, e diversidade organizacional. Uma definição mais concisa, para DDP é: o uso de replicação, independência e coordenação para abordar as ameaças conhecidas ao conteúdo digital, ao longo do tempo, para assegurar sua acessibilidade (ZIERAU et al, 2014 p. 2).

Nesse contexto de recursos orçamentários insuficientes, a preservação digital distribuída mostra-se como uma alternativa viável às instituições que não possuem infraestrutura tecnológica própria, como é o caso do MIS/RJ, que pode vir a se beneficiar de iniciativas desse tipo.

A implementação de um sistema comum colaborativo que possibilite “meios seguros e em grande escala para admitir/inserir [...], armazenar, auditar e acessar bits”

(ZIERAU et al, 2014, p. 2), talvez seja a possibilidade de inovação que permitirá que instituições participantes se organizem em um consórcio capaz de promover a salvaguarda de bits e bytes como um legado para as gerações futuras.

A reflexão ora proposta neste artigo permite concluir que a ferramenta de análise e gerenciamento de riscos se confunde com a própria metodologia de preservação digital, uma vez que ambas possuem o mesmo objetivo, qual seja, o de garantir que os repositórios digitais sejam capazes de preservar a autenticidade, confiabilidade e integridade dos arquivos digitais sob custódia, garantindo seu acesso continuado pelo máximo de tempo possível.

(16)

Aliada a essa questão, vimos também que o risco da amnésia digital ameaça o futuro da memória audiovisual brasileira, principalmente, devido à impossibilidade de se preservar todas as manifestações culturais publicadas nas redes sociais, sob a forma de lives e podcasts, dentre outros formatos.

Percebeu-se ainda que o risco dessa amnésia digital aumenta diante do atual quadro de pandemia e isolamento social causados pelo COVID-19, e com o crescente uso da internet e das redes proprietárias como Facebook, Instagram, Youtube, Twitter, Google Arts and Culture, etc.

Por fim, apresentou-se a possibilidade de adoção de uma estratégia de preservação digital distribuída como forma de viabilizar a inclusão de arquivos, bibliotecas e museus com baixo orçamento a cumprirem sua missão de coletar, preservar e dar acesso aos acervos sob sua custódia.

ANDRADE, J.P.M. Contingência de risco: uma questão de segurança em prevenção digital.

Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Pernambuco, 2018. Disponível em:

http://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/30625. Acesso em: 30 ago. 2020.

BRASIL. Decreto n° 3551 de 4 de agosto de 2000. Institui o Registro de Natureza Imaterial que constituem patrimônio cultural brasileiro, cria o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial e dá outras providências. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3551.htm. Acesso em: 30 ago. 2020 DIAZ, Grettel et al. Requisitos para a valoração de riscos de preservação em repositórios digitais. Cuba: Universidad de la Habana, 2019. Disponível em:

http://biblios.pitt.edu/ojs/index.php/biblios/article/view/484. Acesso em: 30 ago.

2020.

(17)

DODEBEI, Vera. Patrimônio e memória digital. Revista Morpheus - Estudos

Interdisciplinares em Memória Social, Rio de Janeiro, v. 5, n. 8, 2015. Disponível em:

http://www.seer.unirio.br/index.php/morpheus/article/view/4759. Acesso em: 30 ago. 2020.

GALINDO, Marcos. O dilema do Pharmacon. Ciência da Informação, Brasília, DF, v. 41, n.

1, 2012. Disponível em: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/13880. Acesso em: 16 mai 2020.

NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História:

Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados de História, São Paulo, v. 10, 2012.

Disponível em: http://revistas.pucsp.br/revph/article/view/12101. Acesso em: 30 ago.

2020.

OWENS, Trevor. The theory and craft of digital preservation. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2018.

PEDERSOLI, José L. Guia de gestão de riscos para patrimônio museológico. ICCROM/ ICC.

Canadá, 2016. Disponível em: http://www.iccrom.org/publication/guia-de-gestao-de- riscos-para-o-patrimonio-museologico. Acesso em: 8 jul. 2020.

POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, 1989. Disponível em:

http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/vi ew/2278/1417. Acesso em: 30 ago. 2020.

ZIERAU, Eld et al. Cooperação interinstitucional num repositório de bits compartilhado.

Tradução Miguel Rio Branco Nabuco de Gouvêa. Disponível em:

https://cridi.ici.ufba.br/institucional/arquivos/artigos/artigo-sobre-o-

compartilhamento-de-repositorios-de-bits-em-cooperacao-internacional.pdf. Acesso em: 5 set. 2018.

Referências

Documentos relacionados

As transmissões são feitas no portal e em todos os canais das redes sociais, incluindo Facebook, Youtube, Instagram, Twitter, WhatsApp e Telegram. R$

Partindo da ideia de espetacularização da intimidade nas redes sociais por meio de aplicativos como Instagram, Twitter e Facebook, o artigo traz o contexto histórico do

Atualmente, o Radar monitora conteúdos publicados em sites, no Twitter, no YouTube, no Facebook e no WhatsApp.. Em breve, o Instagram será integrado

Tal cenário, diante da falta de percepção do tema como absolutamente pertinente ao nosso campo, reforçou ainda mais a necessidade de se pensar em um número especial,

(1998), o patologista Friedrich Henle publicou um ensaio em que estabeleceu a hipótese de que era possível que organismos minúsculos fossem a causa de doenças.

Este estudo tem o propósito de investigar as ações implementadas, como a criação da oficina de encadernação e os métodos de combate aos insetos bibliófagos, para a

A partir deste número, enquadraremos cada risco em uma escala de priorização, alcançando assim o objetivo principal do plano de gerenciamento de riscos de

No que se refere aos produtos inibidores do crescimento e eliminação de micro- organismos, Costa e colaboradores (2011; 2014) realizaram estudos sobre a eficácia do