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ALAN FABER DO NASCIMENTO

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Academic year: 2018

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ALAN FABER DO NASCIMENTO

A sustentabilidade das políticas e projetos para o fomento

do turismo no município de Ribeirão Pires

Mestrado em Ciências Sociais

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ALAN FABER DO NASCIMENTO

A sustentabilidade das políticas e projetos para o fomento

do turismo no município de Ribeirão Pires

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências Sociais, sob a orientação da Professora Doutora MATILDE MARIA ALMEIDA MELO.

Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

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Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação por processos de fotocopiadoras ou

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AGRADECIMENTOS

É indispensável um agradecimento muito especial para a professora Matilde - Profa. Doutora Matilde Maria Almeida Melo - pelo incentivo e ajuda antes mesmo do início do mestrado, pela paciência na orientação deste tema, pela agudeza e pelo espírito crítico que constrói, pelo elogio justo do professor que anima o aluno a progredir e, principalmente, pela dedicação despendida durante todas as etapas deste trabalho.

Agradeço a valorosa contribuição da banca do exame de qualificação composta pelos Professores Doutores Luiz Octávio de Lima Camargo e Maria Margarida Cavalcanti Limena.

Grato a todos os meus amigos, parceiros e professores, em especial, à Talieh pelo carinho e companheirismo, ao Artur, pela ajuda e compreensão, ao amigo professor Paulo Sérgio, ao meu tio Ilson, e à Naira, querida parceira acadêmica de longa data.

O meu muito obrigado à Capes pela bolsa de estudos.

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RESUMO

O tema geral deste trabalho é o turismo sustentável, tomando como referencial as políticas e projetos para o fomento do turismo no município de Ribeirão Pires. Num primeiro momento, após enfocar a história deste município que, por causa de seu passado “periférico”, busca uma imagem que expresse uma identidade forte para inseri-lo no circuito turístico de cidades, fez-se uma análise sobre o conceito de imagem, com base em três temas ligados à produção de imagens turísticas: o discurso da vocação turística, a refuncionalização dos recursos locais e as tradições inventadas, além de problematizar as estratégias das políticas e projetos da administração municipal em sua natureza. Num segundo momento, introduziu-se a dimensão do conflito nas três estratégias mencionadas, a fim de apreender o universo contraditório entre os princípios da sustentabilidade e as propostas de

marketing turístico para a cidade de Ribeirão Pires. Deste modo,

questionam-se as temáticas referentes à prequestionam-servação, conquestionam-servação e melhoria da qualidade de vida da população das áreas de mananciais por meio da atividade turística, e as promessas de geração de emprego e renda por meio do turismo sustentável. A realidade da população ribeirãopirense se confunde com a vocação turística anunciada pelo discurso oficial? A turistificação das áreas de mananciais não produziria novas formas de expropriação do espaço pelo capital? Quais foram as conseqüências geradas pelo fomento ao turismo, ampliação de oportunidades ou informalização e precarização das relações de trabalho? São estas as questões que permeiam a reflexão, e daí a proposta deste estudo: explicitar os limites e desnudar as contradições que balizam o fomento do turismo sustentável no município de Ribeirão Pires.

Palavras-chave: turismo, sustentabilidade, marketing turístico, mananciais,

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ABSTRACT

The general concern of this study is sustainable tourism, with regards to the policies and projects dedicated to stimulating tourism in the city of Ribeirão Pires. At first, after focusing on the history of this city which, due to its “peripheral” past, seeks an image that expresses an identity strong enough to insert itself in the tourist circuit, an analysis on the concept of image is performed. Through the three topics linked to producing touristic images: the speech of touristic vocation, the refunctioning of local resources and the traditions invented, the strategies for the city administration’s policies and projects are problematized in their nature.Secondly, the spectre of the conflict is introduced in the three strategies mentioned above, in order to apprehend the conflicting universe between the principles of sustainability and the propositions for tourist marketing for the city of Ribeirão Pires. In that matter, the topics related to preserving, conserving and improving the quality of life of the population of spring areas through touristic activity are commented, as well as the hope of creating jobs and income through sustainable tourism. Does the reality of the population of Ribeirão Pires confuse itself with the touristic vocation spread out by the official speech? Would the touristification of the spring areas not produce new ways of dispossessing space through capital? What were the consequences brought by stimulating tourism, broadening opportunities or informalizing labor relations?These are the questions that sponsor reflection, and therefore what this study is intended for: exposing limits and unveiling the contradictions that guide the stimulation of sustainable tourism in the city of Ribeirão Pires.

Keywords: tourism, sustainability, tourist marketing, spring areas, informalizing

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RELAÇÃO DE FIGURAS.

(PÁGINAS)

Figura.1 Divisão Sub - Regional da Região Metropolitana de São Paulo. 15 Figura.2 Cartograma de Densidade Populacional do Município de

Ribeirão Pires segundo o Censo de IBGE de 1991. 27 Figura.3 Cartograma de Densidade Populacional do Município de

Ribeirão Pires segundo o Censo de IBGE de 2000. 30 Figura.4 Índice Paulista de Vulnerabilidade Social do Município de

Ribeirão Pires 2000. 34

RELAÇÃO DE FOTOS.

Foto.01 Loteamentos periféricos na divisa com o município de Mauá. 32 Foto.02 Praça e espaços públicos revitalizados no Centro de Ribeirão Pires. 51 Foto.03 Centro Rural de Lazer Nardelli. 59 Foto.04 Vista área da represa. 60 Foto.05 Ilustração do centro de vivência ecológica. 60 Foto.06 Ilustração de equipamento extra-hoteleiro. 61 Foto.07 Construção do píer abandonada. 79 Foto.08 Estátuas das sereias. 79 Foto.09 Parque Milton Marinho de Moraes. 81 Foto.10 Alusão à idéia do “paraíso é aqui” na sede social da Estância Palmira. 84 Foto.11 Terraplanagem num lote do Balneário Palmira. 85 Foto.12 Casa em construção no Balneário Palmira. 86 Foto.13 Casa em construção no Balneário Palmira. 86 Foto.14 Casa de alto padrão à venda no Balneário Palmira. 87 Foto.15 Casa de alto padrão na entrada do Balneário Palmira. 87 Foto.16 Antigo Casarão localizado no Balneário Palmira. 88 Foto.17 Fotos de outros “condomínios” retiradas do Relatório do

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(PÁGINAS)

Foto.19 Margens da Represa Billings no Balneário Palmira. 93 Foto.20 Fotos retiradas do material do Instituto Pólis. 93 Foto.21 Os loteamentos acabam “privatizando” o acesso. 94 Foto.22 Loteamento residencial Chácara Santo Antônio localizado nos limites do Parque Milton Marinho de Moraes. 99 Foto.23 Cercas ao redor do loteamento Chácara Santo Antônio. 100 Foto.24 Capela de Nossa Senhora do Pilar. 110 Foto.25 Interior da Capela de Nossa Senhora do Pilar. 111

Foto.26 Festa do Pilar. 115

Foto.27 Ambulante no comércio local da Festa de Nossa Senhora do Pilar. 116

Foto.28 Ambulantes. 116

Foto.29 Festeiro. 117

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SUMÁRIO

(PÁGINAS)

INTRODUÇÃO 02

CAPÍTULO 1. RIBEIRÃO PIRES QUEM É VOCÊ? 14

1.1 A Desintegração: As sete estrelas prometiam brilhar no céu

da vetusta Borda do Campo. 21

1.2 A Integração: Proposta para uma nova gestão dos mananciais

no novo ciclo econômico da região. 28

CAPÍTULO 2. LEITURAS E NÃO-LEITURAS DA IMAGEM

QUE RIBEIRÃO PIRES BUSCA. 37

2.1 Vocação Turística ou Indução Turística? 46

2.2 Refuncionalizando a pobreza. 54

2.3 Inventando uma tradição: do passado colonial ao empreendedor do futuro. 63

CAPÍTULO 3. EXPROPRIAÇÃO TURÍSTICA: A PRODUÇÃO DO

ESPAÇO HOMOGÊNEO, QUEBRADO E HIERÁRQUICO. 71

3.1 O Espaço Homogêneo. 82

3.2 O Espaço Quebrado. 89

3.3 O Espaço Hierárquico. 95

CAPÍTULO 4. DE ESPETÁCULO DE FESTA A FESTA

DO ESPETÁCULO. 102

4.1 As faces da informalidade no universo da festa de Nossa Senhora do Pilar. 109 4.2 Adocicando a relação capital-trabalho. 121

CONCLUSÃO. 136

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. 140

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2

INTRODUÇÃO

Na sala dos lares brasileiros, como de hábito, a família se reúne ao redor da televisão, ansiosa por entretenimento, porém, em época de eleição, a programação do horário denominado nobre é, em parte, ocupada pela propaganda eleitoral. É admirável a quantidade de candidatos a prefeitos e vereadores que apresentam em seus projetos a dinamização do turismo como fonte de crescimento econômico, geração de renda e emprego. De modo geral, entre explanações, acusações e programas de governo, sempre há espaço para a questão do turismo, tanto para a “esquerda” quanto para a “direita”; às vezes, de forma sutil, outras, de forma prioritária.

Para o telespectador, as referências às viagens ao litoral nordestino ou às ilhas gregas, no decorrer de quarenta e cinco minutos de propaganda eleitoral, vão obtendo cada vez mais contornos políticos e econômicos. O indivíduo que assistir aos programas com mais atenção, logo perceberá que, na retórica, a palavra turismo vem sempre modificada pelo adjetivo sustentável, geralmente utilizado no sentido de legitimar a atividade como fonte de desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida.

Este retrato desenvolvimentista da atividade turística, tão explorado no conteúdo do horário político, repete-se todos os anos, não só na televisão, como também, nas rádios, nos jornais, nos comícios, nos meios acadêmicos, na sociedade civil, enfim,paulatinamente vai se enraizando em nossas mentes. Importa-nos, então, saber o porquê desta expectativa e indagar: O que torna o turismo, nos dias atuais, uma alternativa de desenvolvimento e bem-estar social, principalmente, para os países, regiões e cidades do terceiro mundo?

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atual estágio da acumulação capitalista em relação ao mundo urbano, embora se saiba que as cidades modernas sempre estiveram associadas à divisão social do trabalho e à acumulação capitalista, como mostrou LEFEBVRE (2004). A novidade é que as cidades passaram a ser geridas e consumidas como mercadoria, e, como toda mercadoria, passaram a habitar o reino das imagens (ARANTES, 2000). Assim, de lócus da produção direta de bens e

mercadorias, que caracterizara os aglomerados urbano-industriais do século XIX e XX, a cidade passou a se constituir, antes de tudo, lócus da gestão de

todo o setor produtivo1 (VAINER, 2000).

A globalização dos mercados e a reestruturação produtiva do capital, somadas a uma tendência ascendente do neoconservadorismo e a um apelo muito mais forte à racionalidade do mercado como nova centralidade da cultura, e a cultura como uma das centralidades do capital (ARANTES, 2000), representam o pano de fundo das ações iniciadoras e empreendedoras de

marketing urbano dos diferentes governos (HARVEY, 2004). Dessa forma, a

animação em torno de um teorema-padrão tornou-se regra: “as cidades só se tornarão protagonistas privilegiadas, como a Idade da Informação lhes

promete, se, e somente se, forem devidamente dotadas de um Plano

Estratégico” (ARANTES, 2000: 13). Tal reflexão sobre cidade tem por base a

idéia de competição e concorrência entre as cidades que disputam uma posição privilegiada em relação a investimentos, tecnologia, infra-estrutura e mão-de-obra qualificada na entrelaçada rede mundial (VILLAÇA, 2005). Ressalta-se, ainda, que é preciso vendê-las, e para isso, evidentemente, se necessita da propaganda, do marketing e da iniciativa privada, tornando-as mercadorias competitivas com uma forte identidade, única, que as distinga e as torne cobiçadas.

Dito isso, cabe qualificar e delinear as raízes desse pensamento, que apesar do suposto pioneirismo de Campos VENUTI2 em relação às iniciativas

1 Para VAINER (2000), se, por um lado, o conteúdo da Carta de Atenas, ao lançar as bases de maneira impressa ao

Urbanismo Modernista, assemelhava a cidade a uma planta organizacional de uma fábrica, esta analogia pode ser mantida, trocando, porém, a fábrica por uma empresa de negócios.

2 A designação terceira geração urbanística, em contraposição ao urbanismo de matriz modernista, foi contemplada

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4

que se contrapuseram ao urbanismo dos anos de 1970, na Itália, o modelo em questão está mais próximo da gestão urbana empresarial que acabou se generalizandoa partir de Baltimore, nos Estados Unidos (ARANTES, 2000).

HARVEY (2004) conta que, em meio aos distúrbios que irromperam nas cidades americanas em 19603, um pequeno grupo composto de políticos, profissionais e influentes homens de negócio da cidade de Baltimore se reuniu para ver se havia alguma maneira de pacificar a efervescente vida urbana, pois os distúrbios ameaçavam a vitalidade do centro e a viabilidade dos investimentos. Como solução, os líderes locais procuraram um símbolo em torno do qual pudessem construir a idéia de comunidade, uma comuna cívica que pudesse confiar em si o bastante para superar todos os conflitos: “A City Fair surgiu como forma de promover o redesenvolvimento urbano (...) a feira

pretendia celebrar a vizinhança e a diversidade étnica da cidade” (HARVEY,

2004: 90).

Considerada um sucesso pelo mercado imobiliário, esta cidade americana acabou sendo o exemplo mais divulgado da nova receita urbanística (ARANTES, 2000). Não demorou muito para que a cidade-mercadoria se generalizasse na Europa, sob pretexto de responder às diferentes pressões em torno de um capital fluido, nômade e escasso:

“Com a retomada da hegemonia americana,

vulgarmente conhecida como globalização o modelo

máquina de crescimento generalizou-se (...) a ponto de

converter num dado natural à convicção de que as

cidades devem ser geridas não like business, mas antes

for business, portanto, não há justiça em reprisar: o

famoso pacote catalão4 tem muito de déjà vu”

(ARANTES, 2000: 28).

3 Reação da população contra a Guerra do Vietnã, contra a morte de Martin Luther King e contra o próprio urbanismo

modernista.

4 A autora se refere à cidade de Barcelona e aos arautos do Planejamento Estratégico, Jordi BORJA e Manuel

CASTELLS - “Um plano estratégico deve construir /e ou modificar a imagem que a cidade tem de si mesma e projeta

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Conforme reza a nova matriz do planejamento urbano, observe-se que as localizações mais bem posicionadas com respeito à divisão espacial do consumo, ou seja, aquelas que investem na valorização de regiões urbanas degradadas em forma de atrações para o turismo, lazer e entretenimento (HARVEY, 2005), largarão na frente em busca de se inserirem em um dos nós da rede internacional de cidades. Entre as quais, o exemplo mais conhecido é a simbiose imagem-produto da mundialmente famosa docklands de Londres,

da Barcelona dos jogos Olímpicos e da Paris do apelo cultural das 11 obras de Mitterrand5 (ARANTES, 2000).

Consolidado, o modelo, mais uma vez, atravessou o Atlântico e transferiu-se para os paítransferiu-ses do Terceiro Mundo, os quais, solapados pelos efeitos devastadores da torrente neoliberal (OLIVEIRA, 1995), se tornaram um solo fértil para a cidade-mercadoria florescer, adotando a atividade turística, pelo menos no discurso, como uma alternativa de desenvolvimento socioeconômico mais autônomo e lócus seguro de aporte de capitais, diante das turbulências e da liquidez dos fluxos econômicos que varrem o globo (BAUMAN, 2005).

Retratado como uma “indústria” limpa e sem chaminés, pois se pressupõe que, além de ser uma fonte de renda e emprego em áreas de desemprego terminal, o turismo seja também um contribuinte para a preservação da natureza e para a melhoria da qualidade de vida, tanto o campo político quanto o teórico lhe associaram a palavra sustentável.

Segundo a OMT (Organização Mundial do Turismo, 1994), o turismo sustentável é aquele ecologicamente sustentável, de longo prazo, economicamente viável, assim como ética e socialmente eqüitativo para as comunidades locais. Para CEBALLOS-LASCURAIN (apud IRVING e BURSZTYN, 2005: 03), trata-se de um tipo de turismo que é “desenvolvido e gerenciado de tal maneira que toda a atividade (de alguma forma focalizada no

recurso de patrimônio natural ou cultural) possa continuar indefinidamente”. De

acordo com a UNEP (Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas, 2005), turismo sustentável não representa uma forma especial de turismo, porque

5 De acordo com MARICATO (2000), em 1981, por meio de um plano de grandes obras estrategicamente localizadas

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todas as formas de turismo deveriam ser sustentáveis, e esse deveria ser, em tese, o compromisso central do planejamento. Já CORIOLANO (2005) o entende como um dos mecanismos de viabilização de uma atividade diferente daquela concentrada nas vantagens dos ganhos financeiros que culminavam com a destruição do meio ambiente, a segregação dos nativos, a exclusão dos autóctones de todo o processo de planejamento e, em longo prazo, num amplo confisco sobre a população local.

Obviamente, todas essas definições foram fruto da tentativa de operacionalizar o conceito de sustentabilidade para a atividade turística. Um dos autores que trabalhou sistematicamente o conceito de desenvolvimento sustentável6 foi IGNACY SACHS (2000). A crítica às promessas do modelo de inspiração baconiano7 conduziu o autor a refletir sobre uma nova concepção de desenvolvimento ligado a um projeto de sustentabilidade social, econômica, ecológica, espacial, cultural e política. Assim, segundo SACHS (apud MELO, 2001a:196), o desenvolvimento sustentável é “endógeno” (opondo-se à

transposição mimética de paradigmas alienígenas), “auto-suficiente” (em vez

de dependente), “orientado para as necessidades” (em lugar de direcionado

para o mercado) e “em harmonia com a natureza e aberto às mudanças institucionais”.

No entanto, asseverou CORIOLANO (2005), desenvolvimento é uma forma de percepção que modela uma determinada sociedade, e, em nossos tempos, a lógica que conduz as teorias de desenvolvimento sustentável continuam a pensá-lo no âmbito do crescimento econômico, dadas às

Europa.

6 Em 1987, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas (ONU)

recomendou a criação de uma nova carta ou declaração universal sobre a proteção ambiental e o desenvolvimento

sustentável - o Relatório Brundtland. Publicado com o título “Nosso Futuro Comum”, o documento propôs integrar o

desenvolvimento econômico à questão ambiental, surgindo não apenas um novo termo, mas uma nova forma de

desenvolver: “O Desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades presentes sem comprometer a

possibilidade de as gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades”.

7 Segundo SOUSA SANTOS (2001), a bandeira moderna e sua fé inquebrantável no desenvolvimento linear

tremularam majestosamente até quando a igualdade prometida culminou na abissal diferença entre países ricos e os

países do Terceiro Mundo, esbarrando a liberdade e a fraternidade com a violação dos direitos humanos, com a

violência sexual contra as mulheres, com a prostituição infantil, além dos milhões de vítimas de minas antipessoais, de

vidas perdidas durante séculos de guerra, e de crise ecológica. “A promessa de dominação da natureza foi cumprida

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prerrogativas da ordem social capitalista8. Por isso, pergunta a autora: até que ponto o desenvolvimento sustentável pode ser considerado como ruptura?

Para STAHEL (apud MELO, 2001a), se, no embate de forças em torno do conceito de sustentabilidade, forem enfatizadas, predominantemente, a produtividade, a concorrência e o consumo, todas as dimensões da sustentabilidade servirão apenas para assegurar a (in) sustentabilidade do capital. OLIVEIRA (2001) vai além, e afirma que o exercício de construir uma nova racionalidade, em oposição à racionalidade industrial (crescimento econômico - progresso linear), não necessariamente entraria em contradição, em tensão, podendo ser um dos seus círculos concêntricos.

O mesmo vale para o turismo sustentável: “o discurso em torno dos lugares e do turismo é um repertório polêmico, no qual o referente é disputado

pelos interessados, numa relação tensa de alterações de sentidos,

configurando-se como uma prática de resistência e afrontamento”.

(CORIOLANO, 2005: 42). De modo que, definindo o turismo como prática política e cultural da modernidade, segundo o fez FORTUNA (1995), suas promessas compartilham das mesmas contradições da realidade da qual faz parte, uma vez que ser moderno “é encontrar- se num ambiente que promete aventura, poder, alegria, crescimento, autotransformação e transformação das

coisas ao redor, mas, ao mesmo tempo, ameaça destruir tudo o que temos,

tudo que sabemos, tudo o que somos” (BERMAN apudFORTUNA, 1995: 37).

Aprofundando na atração do jogo que este tipo de leitura envolve, este trabalho procurou explorar o universo contraditório que existe entre as propostas de marketing turístico para o município de Ribeirão Pires e os

princípios da sustentabilidade, no sentido de avaliar o real significado do fomento ao turismo, anunciado com realce como sustentável, no âmbito de suas políticas e projetos.

8 Segundo RODRIGUES (2004), há uma contradição entre os termos desenvolvimento e sustentável, próprio do modo

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8

Para tanto, no primeiro capítulo, evidencia-se o caminho deste município que, por causa de uma urbanização precariamente consolidada por ter todo seu território protegido por leis de proteção dos mananciais, anteviu e aposta no turismo como “tábua de salvação” econômica, ambiental e social. Baseando-se numa tríade formada por Identidade Forte, Competitividade e Desenvolvimento Sustentável (MELO, 2001a), a administração municipal busca criar uma nova imagem para a cidade, capaz de contrapor à sua condição “periférica”9, e que funcione como um garrote de integração não só regional, como também para o circuito turístico de cidades.

Em seguida, no segundo capítulo, será abordado o conceito de imagem. Nessa abordagem, se analisarão três temas relacionados à produção de imagens turísticas, a saber: a vocação turística, a refuncionalização dos recursos locais e as tradições inventadas, que serão base teórica para questionar as ações e as proposições da administração municipal em sua natureza. Além disso, se verificará que o discurso da vocação turística que procura tanto naturalizar uma identidade para Ribeirão Pires quanto forjá-la para o global, deve ser entendido num contexto no qual predominam os interesses-mercantis e a racionalidade instrumental do capitalismo no planejamento urbano. Por refuncionalização dos recursos locais, é possível compreender por que os mananciais, antes vistos como atraso, representam a salvação para a economia da cidade na forma de atrativo turístico. Finalmente, azeitando as rolagens da cidade-mercadoria, aparece a pretérita figura do colono e sua “tradição” de condutor da nave e do destino como exemplo para o futuro empreendedor do turismo local.

O terceiro capítulo recupera algumas categorias do universo analítico lefebvriano sobre o espaço, entre elas, os confrontos que se operam no cotidiano, entre o concebido e vivido, apropriação e propriedade, a fim de

investigar se o fomento ao turismo em Ribeirão Pires não corrobora com a homogeneização, quebra e hierarquização das áreas de mananciais e espaços

9 Neste estudo, o termo periferia é caracterizado do ponto de vista da apropriação do capital. Assim, os espaços

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públicos de lazer, reproduzindo em nova escala as apropriações e expropriações da (in) sustentabilidade de outrora.

O último capítulo trata das relações de trabalho que se expressam sob o viés do empreendedorismo. Com base nas festas da cidade, pontos nodais das políticas e projetos, é feita uma análise sobre suas dimensões materiais-econômicas com intuito de saber até que ponto as promessas de geração de emprego e renda por meio do turismo sustentável se aproximam de práticas que possam, ao menos, contribuir para uma maior justiça social.

Enfim, tratando da experiência das políticas e projetos para o fomento do turismo em Ribeirão Pires, este trabalho problematiza a aproximação da atividade turística à sustentabilidade, sem levar em conta as contradições da ordem social da qual faz parte e foi criada. Não se pretende, com isso, esgotar o assunto, porquanto muitas questões sobre o turismo sustentável ainda continuam problemas sem solução, o que não invalida as tentativas de acenar para algumas pistas e reflexões que possam ser mais esclarecedoras. Afinal, parafraseando GEORGE ORWELL, em tempos de embustes universais, formular perguntas certas se torna sempre “um ato revolucionário”.

O processo de pesquisa

Para atender ao objetivo deste estudo, os procedimentos de pesquisa enfocaram os seguintes eixos:

A) PESQUISA DOCUMENTAL. B) PESQUISA BIBLIOGRÁFICA.

C) ENTREVISTA COM INFORMANTES QUALIFICADOS.

D) ENTREVISTA COM SETORES SIGNIFICATIVOS DA POPULAÇÃO.

Segue o detalhamento dos quatro eixos de pesquisa, assim como os respectivos objetivos e as atividades realizadas em cada um dos eixos.

A) A pesquisa documental consistiu na análise de arquivos históricos e

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Cidade (2001), o Plano Diretor de Turismo Local (2000) e o Fórum de Desenvolvimento Sustentável (1997).

Os arquivos, publicações e documentos investigados estão nos seguintes órgãos administrativos:

- Hemeroteca n° 981.410 da Biblioteca Municipal da Prefeitura de Santo André.

- Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo da Estância Turística de Ribeirão Pires.

- Secretaria de Planejamento Urbano da Prefeitura Municipal da Estância Turística de Ribeirão Pires.

Objetivo: obter um melhor conhecimento das políticas e projetos para o fomento do turismo no município de Ribeirão Pires, bem como a natureza do modelo, seus princípios e estratégias assumidas.

B) Levantamento Bibliográfico.

O levantamento bibliográfico consistiu na realização de buscas em bases de dados, com a finalidade de identificar bibliografias pertinentes às áreas de interesse deste estudo a exemplo de textos que debatem sobre a questão do turismo, trabalho, meio ambiente e planejamento urbano.

Objetivo: enriquecer a leitura crítica sobre o turismo e a sustentabilidade. Diversos autores contribuíram paraas reflexões apresentadas ao longo dessas páginas, dentre os quais se destacam MARTINS, LEFEBVRE, MORIN, OLIVEIRA, SEABRA, OSEKI, KRIPPENDORF, MELO, BENEVIDES e GARCIA e DAMIANI. Apesar de nem todos serem ligados ao campo de estudo do turismo, colocaram em evidência, direta ou indiretamente, os limites e as possibilidades do turismo sustentável.

C) Entrevistas com informantes qualificados, direcionadas aos sujeitos

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• Entrevista com Celso de Almeida Cini, memorialista do Instituto Pró-memória do município de São Caetano do Sul, no dia 17 de abril de 2006.

• Entrevista com Oswaldo Fantinati e Iranir Obeda, genro e sobrinha do fundador da Festa do Pilar, no dia 1º de maio de 2006.

• Entrevista com Ruth Viola, no dia 1º de maio de 2006.

• Entrevista com a ex-prefeita do município de Ribeirão Pires, Maria Inês Soares, no dia 5 de maio de 2006.

- Questões aplicadas (anexo 1).

• Entrevista com funcionários da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo da prefeitura da Estância Turística de Ribeirão Pires nos dias 25 de maio de 2006 e 2 de fevereiro de 2007.

• Entrevista com Manuel Mendes Júnior, gerente da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Ribeirão Pires (ACIARP), no dia 2 de fevereiro de 2007.

Objetivos: apreender a dinâmica, os desafios e as proposições das duas gestões municipais abrangidas por este estudo, assim como os respectivos modelos adotados de se pensar o turismo. Buscou-se também compreender o contexto geral em que se formularam as políticas e projetos para o fomento do turismo sustentável. Para tanto, foram imprescindíveis as contribuições do Instituto Pró-Memória e da família Obeda. A análise de dois desses projetos, a Festa do Pilar e o Festival do Chocolate, tiveram como subsídio as entrevistas realizadas com funcionários de secretarias e associações ligadas à administração municipal. Foram consideradas questões tanto de aspecto histórico quanto organizacional, o que possibilitou uma nova leitura do significado do empreendedorismo no conteúdo do discurso oficial.

D) Entrevista com indivíduos pertencentes aos setores significativos da

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• Entrevistas realizadas na Festa do Pilar nos dias 29, 30, 31 e 1º de maio. (Horário de chegada: 8h30; saída: 20horas).

• Questionário aplicado aos artesãos, chocolateiros e comerciantes do Festival do Chocolatenos dias 22, 29 de junho e 5 de agosto de 2006 (Horário de chegada: 14horas; saída: 18horas).

- Questionário aplicado aos chocolateiros (Anexo 2). - Questionário aplicado aos artesãos (Anexo 3).

Foram aplicados 20 questionários entre os chocolateiros e comerciantes, e 10 questionários entre os artesãos.

• Entrevistas com moradores e administradores dos loteamentos residenciais no entorno da represa Billings, e com turistas e visitantes dos principais espaços públicos de lazer do município, realizadas entre setembro e outubro de 2006.

Objetivos: a) problematizar a relação entre o empreendedorismo e a geração de renda e emprego por meio do turismo sustentável. Na festa do Pilar, não se aplicaram questionários aos vendedores e aos ambulantes que fazem o comércio local, a fim de não inibir as respostas dos entrevistados. Os aspectos explorados foram a origem das pessoas que trabalham na festa, as relações de trabalho, as relações construídas com os outros comerciantes, a renda auferida, os trâmites para se conseguir um ponto, as facilidades de pagamento e as impressões dos vendedores sobre a festa. Com base nas informações coletadas durante essa festa, aplicaram-se questionários aos chocolateiros e aos pequenos empreendedores selecionados para o Festival do Chocolate.

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auxílio de uma câmera fotográfica, trocaram-se conversas a respeito do mercado imobiliário com funcionários e equipes de segurança do loteamento Balneário Palmira. Já nos parques e clubes, mediante entrevistas com moradores e turistas, procurou-se assimilar as diferentes transformações que esses espaços sofreram com a turistificação de Ribeirão Pires.

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Capítulo 1

RIBEIRÃO PIRES, QUEM É VOCÊ?

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O município de Ribeirão Pires está situado a sudeste da Região Metropolitana de São Paulo e faz divisa com os municípios de Mauá, Santo André, Suzano e Rio Grande da Serra.

FONTE: EMPLASA - Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (2002).

Figura 1: Divisão Sub - Regional da Região Metropolitana de São Paulo

No contexto do Grande ABC, Ribeirão Pires, territorialmente, é o terceiro município, com uma área de 107 km² que representam 13% da área regional1. Está situado no Planalto Atlântico, nos contrafortes da Serra do Mar, próximo aos limites de Paranapiacaba. A topografia é acidentada e se caracteriza pela presença de ‘mares de morros’. O clima é o tropical de altitude com temperatura média anual de 16 graus. A vegetação predominante é a Mata Atlântica secundária em estágio médio e avançado de regeneração, cobrindo aproximadamente 30% do território.

1 A região do Grande ABC tem uma área de 842 km², congregando os municípios: Santo André, São Bernardo do

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16

Banhado pelo braço Rio Grande, Ribeirão Pires tem todo o seu território protegido desde a década de 1970 por leis de proteção dos mananciais2, já que suas inúmeras nascentes alimentam um dos maiores reservatórios de abastecimento de água da Grande São Paulo: o reservatório Billings, e outras duas bacias hidrográficas: Guaió e Taiaçupeba.

Com uma população de 115 mil habitantes, o município cresceu, desordenadamente, em conseqüência de uma série de fatores históricos que remontam desde a sua emancipação político-administrativa, em 1953, até a edição das leis estaduais de proteção dos mananciais, em 1975 e 1976. Estas leis que, em vez de harmonizar a relação homem-natureza, contribuíram não só para a degradação da natureza, mas principalmente para a precarização da vida da população ribeirãopirense (GUATELLI, 2001).

Ademais, por conta das restrições ambientais, a cidade teve sua industrialização interrompida, o que provocou estagnação econômica, revelando ainda hoje seus efeitos, visto que Ribeirão Pires tem o segundo menor PIB3 do Grande ABC e, historicamente, sofre com a falta de recursos para implementar qualquer atividade que impulsione sua economia4.

A esse quadro de fragilidade econômica, acrescenta-se que, segundo pesquisa do IEME5 (Instituto de Estudos Metropolitanos), o município de Ribeirão Pires, nos últimos anos, foi o que mais sofreu com perdas de valor adicionado entre os municípios da região, algo em torno de 57%, como

2 Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra são os únicos municípios da região completamente inseridos em áreas de

proteção dos mananciais e representam, portanto, quase 30% dos 471 km² da área de manancial do Grande ABC.

(Fonte: INSTITUTO PÓLIS - Leitura Técnica do Município de Ribeirão Pires, 2003).

3 Segundo dados da Fundação Seade - Sistema Estadual de Análise de Dados -, Ribeirão Pires, em 2004, tinha um

PIB (em milhões de reais correntes) de 784,05 mil (0,143439% do PIB do Estado). O setor de serviços e o industrial são os que, atualmente, desempenham papel de relevo na geração de riquezas da cidade. A participação da indústria no total do valor adicionado é de 48,19%; já os serviços representam 51,65%. Estes números contrastam com os de duas décadas anteriores, pois, até então, a indústria, mesmo incipiente em relação aos demais municípios do Grande ABC, não dividia com nenhum outro setor econômico sua proeminência econômica, representando 40,1% do setor

econômico da população ocupada, com uma contribuição média superior a 80%. (Fonte: PMRP - Ribeirão Pires a sua

cidade Sumário de dados, 1999).

4 A economia do município é dependente de repasses estaduais, como do ICMS e do DADE - Departamento de Apoio

ao Desenvolvimento das Estâncias. Segundo a Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2006, o orçamento da cidade é de R$ 80 milhões. (Fonte: Prefeitura Municipal de Ribeirão Pires, 2006). O município de Ribeirão Pires registra também historicamente um dos maiores déficits de relação receita arrecadada - despesa por habitante. Por exemplo, no ano de 1994, a despesa pública per capita alcançava US$ 515,00, US$ 287,00 destinados à área social, enquanto a receita

per capita era de US$ 205, 00. (Fonte: PMRP - Ribeirão Pires a sua cidade Sumário de dados, 1999).

(27)

também o que mais perdeu empregos no setor industrial6, com uma redução de 45,7%.

De acordo com MELO (2001a), do ponto de vista do valor da terra, Ribeirão Pires se constitui como “periferia da periferia” do ABC paulista. À medida que o preço da terra caía, por causa dos impedimentos à indústria e aos equipamentos urbanos, o preço da terra subia nas áreas industrializadas e urbanizadas da Grande São Paulo, direcionando a expansão de massas empobrecidas para a região dos mananciais (BONDUKI e ROLNIK, 1979). De fato, este movimento explica a existência de uma ampla população de baixa renda7 que cada vez mais “compra o terceiro andar da Represa Billings (...)

com o inchaço de imóveis populares na periferia da cidade” (LIMA, 2002:

26-27).

Todavia, segundo MÉDICI (1996), Ribeirão Pires nem sempre foi assim, pois, para além das fragilidades socioeconômicas de hoje, houve um tempo em que a cidade era conhecida como a Pérola da Serra dos veranistas:

Um oásis sem dúvida (...) Na prática, desde o fim

do século XIX, com a passagem do trem - que ligava o

litoral santista ao planalto paulista - paulistanos e

santistas descobriram a cidade e a transformavam

primeiro, em a Petrópolis de Santos e, em segundo, na

Pérola da Serra” (MÉDICI, 1996: 35).

Por volta de 1890, o distrito de Ribeirão Pires já despontava como local de piqueniques e veraneio para os moradores da capital e, principalmente, da baixada santista, conforme acrescenta o autor:

Há um relatório da Secretaria de Agricultura que

trata do assunto, e onde se informa que a estação e a

6 Enquanto em 1994 Ribeirão Pires contava com 62,7 % dos empregos no setor industrial, em 2002, esta porcentagem

reduziu para 43,7%. O município perdeu importantes unidades fabris com a desativação de empresas tradicionais, como a Brosol e a Phillips. (Fonte: Revista Livre Mercado, nov. de 2004).

7Segundo dados da pesquisa TEM/ RAIS (2000), entre os munícipes com carteira assinada, 44, 7 % têm renda média

entre 2 e 4 s.m (salário-mínimo), enquanto 39% têm renda média acima de 4 s.m. O censo do IBGE - 2000 (que

considera não somente os que têm carteira assinada) mostraque 76% da população economicamente ganham até

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18

salubridade do clima tornam Ribeirão Pires

entusiasticamente procurado por abastados negociantes

da praça de Santos, que de dia para dia transformam a

modesta colônia em agradável refúgio (...)” (MÉDICI,

1996:42).

Em 1924, com a construção da barragem da represa Billings cujo objetivo era ampliar a capacidade de produção de energia elétrica para os núcleos industrializados da Grande São Paulo, reforçou-se, ainda mais, o número de chácaras de veraneio no município, interferindo diretamente na valorização dos terrenos situados ao longo do reservatório (PASSARELLI, 1994).

Em sua edição de maio de 1941, a revista Ferrovia publicava ampla

reportagem sobre a cidade:

Localizada nas fraldas verdes e férteis da Serra de

Paranapiacaba, para ali aflui todos os anos uma grande

quantidade de veranistas de Santos e da Capital, que

vão em busca de saúde, de descanso e de sossego de

espírito” (MÉDICI, 1996:106).

No sétimo aniversário da emancipação política de Ribeirão Pires, a escritora e tradutora Nair Lacerda declarava seu amor à cidade, em artigo de primeira página, publicado em O Repórter de 18 de março de 1962 (MÉDICI, 1996). No periódico, ela mostrava a preocupação com aquilo que parecia ser a vocação do município:

“Tratada como deve ser, administrada com amor e

cauteloso planejamento urbanístico, Ribeirão Pires

poderá oferecer aos forasteiros, principalmente aos

santistas, um oásis de tranqüilidade para veraneio e

férias, um manancial de saúde, de passeios dentro de

matas autênticas, de corridas sobre águas tranqüilas,

tudo isso sem sair das condições confortáveis de vida de

(29)

WANDERLEY SANTOS (1973) acrescenta que um importante fator de atração dos santistas não era simplesmente a beleza cênica da região, mas a facilidade de aquisição de lotes junto à estação e às áreas adjacentes da represa Billings. Ou seja, grande parte dos visitantes não vinha apenas para o

desfrute do lazer, mas também para negócios8 (MÉDICI, 1996).

Contudo, “a população duplicou, triplicou, ultrapassou a barreira dos 100 mil habitantes, margeando os 120 mil e as chácaras foram subdivididas em

loteamentos clandestinos e irregulares espalhados pelos morros” (MÉDICI,

1996: 35). Logo, a cidade se aproximou cada vez mais do retrato da região metropolitana de São Paulo conurbada dos anos 1990.

Na última década do século XX, é que o conjunto dos municípios do Grande ABC inaugurou um novo modelo de planejamento regional, em resposta à crise do modelo de desenvolvimento industrial vislumbrado na região9, que tinha como um dos focos de sua estratégia construir uma nova identidade (MELO, 2001a).

O Planejamento Regional Estratégico do Grande ABC10 deveria ser concebido fundamentando-se em três princípios: Identidade Forte, Competitividade e Desenvolvimento Sustentável. Tratava-se de construir uma nova marca para a região que a tornasse comprável no mercado global, atraindo investimentos, empresas, áreas nobres de gestão empresarial, profissionais de alta especialização e estratos sociais mais altos (MELO, 2001a). Ao lado da nova dinâmica embasada na intensificação tecnológica industrial - “Cidade High Tech” (MELO, 2001a: 167) - e no desenvolvimento de

8 Em 1966, o santista Jorge Bierrembach Senra ansiava abrir um dos primeiros empreendimentos visando à atividade

turística no município. Era uma proposta que visava dotar Ribeirão Pires de um bairro turístico com a construção de um hotel para repouso de alto padrão. O projeto não vingou por uma série de irregularidades (MÉDICI, 1996).

9 Muitos afirmaram que o Grande ABC vinha sofrendo um processo de desindustrialização por causade um suposto

deslocamento de suas grandes indústrias para outras regiões com melhores atrativos fiscais e menores pressões sindicalistas, mas, de acordo com MELO (2001a), tais interpretações eram equivocadas, uma vez que, em decorrência da reestruturação produtiva, as indústrias continuavam sendo prioritárias na região, porém, com menores custos de produção, alta produtividade apoiada em tecnologia de ponta, e menos postos de trabalho e geração de renda.

10 Em 1990, foi constituído o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, cujo principal objetivo era a coordenação de

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20

um setor terciário de alto valor agregado, propôs-se fazer da região um novo centro de atração turística metropolitana por meio da apropriação dos potenciais paisagísticos das áreas de mananciais ali existentes.

A dinamização do turismo constituiu programa prioritário, não só regionalmente, pois, em âmbito local, Ribeirão Pires anteviu no desenvolvimento da atividade turística a “tábua de salvação” para inseri-la na nova reestruturação regional, elevando-a à condição de igualdade com outros seis municípios do Grande ABC. O rearranjo municipal tinha como base a

sustentabilidade, enfatizando, assim, uma inter-relação entre preservação

ambiental, atividade econômica e melhoria da qualidade de vida. Na tríade dos princípios do Plano Estratégico Regional, o turismo sustentável foi, sem dúvida, o ponto de equilíbrio entre a forte identidade almejada e a competitividade no mercado seletivo de investimentos (MELO, 2001a).

Enfim, de região de veraneio à periferia da Grande São Paulo, buscou-se por intermédio da atividade turística uma nova identidade, ou talvez, a reafirmação de um passado perdido, fazendo jus ao que dizem ser a sua vocação: “o certo é que a cidade de Ribeirão Pires, neste final do milênio, vai sonhando, ano a ano, década a década, com a opção pelo turismo organizado”

(MÉDICI, 1996: 35).

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1.1 A DESINTEGRAÇÃO: AS SETE ESTRELAS PROMETIAM BRILHAR NO CÉU DA VETUSTA BORDA DO CAMPO.

O processo de ocupação do território onde se localiza hoje o município de Ribeirão Pires iniciou-se durante o período colonial, no século XVI. Com a abertura da estrada que ligava o núcleo de Piratininga (São Paulo) a Mogi das Cruzes, foi construída a Igreja do Pilar (1719), e um pequeno núcleo se instalou nos seus arredores, dando origem ao povoado da cidade11. Durante os primeiros séculos de colonização, o território era caracteristicamente rural, utilizado, sobretudo, como área de passagem.

Para GAIARSA (1991), não só o povoado de Ribeirão Pires permaneceu com uma economia estagnada e ocupação reduzida, mas toda a região do Grande ABC “dormiu” três séculos até a chegada da ferrovia Santos - Jundiaí.

Com o início da construção da estrada de ferro, na segunda metade do século XIX, houve um processo de urbanização, motivado pela presença das estações ferroviárias e a conseqüente construção de indústrias ao redor delas. Inicialmente, foram edificadas as estações de Santo André, São Caetano e Rio da Grande da Serra. A estação de Ribeirão Pires só foi instalada em 1885, ou seja, dezoito anos depois da inauguração da ferrovia.

No começo do século XX, a economia do distrito12 era uma das mais importantes da região (MÉDICI, 1996). As principais indústrias que aí se estabeleceram foram as olarias, as unidades de beneficiamento de madeira, as pedreiras13 e uma fábrica de cerveja, além de um moinho de sal e de uma envasadora de água, implantados posteriormente.

11 Inicialmente conhecido como Caaguassu e depois como bairro do Pilar, o pequeno agrupamento de famílias que

daria origem ao município de Ribeirão Pires deve ter ocorrido ainda no século XVI, embora a falta de documentos históricos e registros de nota tornem um tanto difícil a precisão histórica. Ainda assim, é razoável aceitar que a região possa de algum modo ter participado dos acontecimentos históricos ocorridos no século XVI e XVII, uma vez que, em razão da invasão e apossamento das terras pelos índios Maripaqueres, há forte evidência da presença de gentios (CINI, 2005).

12 Nesta época, Ribeirão Pires ainda era distrito do município de Santo André.

13 As pedreiras representavam um importante papel na economia da região, pois a pedra era uma matéria-prima muito

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22

No núcleo urbanizado, desenvolvia-se uma ocupação pouco adensada, nos fundos de vale e ao redor dos eixos viários, ligada à atividade industrial e ao comércio junto à estação do trem (PASSARELLI, 1994). O auge da pequena indústria ocorreu por volta dos anos 1940, justamente quando começaram os movimentos autonomistas na região do Grande ABC. São Caetano do Sul foi o primeiro distrito a conquistar autonomia, em 1948; a emancipação de Ribeirão Pires só ocorreu em 1953, juntamente com a de Mauá.

Para os autonomistas, a chave da riqueza e prosperidade da região era a emancipação dos seus distritos, que deviam caminhar por conta própria e longe da avareza e espoliação da célula - mater de Santo André (GAIARSA,

1991). Enquanto em São Caetano do Sul o processo de emancipação refletiu a força da nascente burguesia industrial, em Ribeirão Pires e Mauá, o processo foi liderado pela elite de proprietários de terras locais que tinha forte representatividade política (PASSARELLI, 1994).

As divisões estabelecidas dos novos municípios através das águas da represa Billings isolaram, praticamente, a vila de Paranapiacaba de Santo André, além de desarticularem toda a região dos mananciais “como se fossem fronteiras territoriais de senhores feudais na Idade Média” (GAIARSA, 1991:

32). Paralelamente aos processos de desmembramento, estava em discussão na Câmara Estadual a abertura de uma estrada de rodagem, ligando Santo André a Ribeirão Pires, que valorizaria, sobremaneira, as terras da região. Como o estoque de terras locais não fosse explorado para criação ou cultivo, a especulação imobiliária promoveu a abertura de diversos loteamentos urbanos14, ainda que não houvesse maior demanda para sua ocupação.

14 Assim, os loteamentos do Balneário Palmira, Sítio Francês, Icatuaçu (Represa), Estância Noblesse (Suissa), Jd.

Ribeirão Pires (Roncon), V. Gerda e V. Caiçara (Santana), V. Moderna, estância Paulista (Colônia), Jardim Petrópolis, Boa Vista, Vale do Sol (Sta. Luzia), Jd. Sta. Rosa (Pilar Velho), Luzitânia, Jd. União, Eucaliptos, V. Casa Branca, Jd. Aymoré, Estância Santana e Jd. Califórnia (Pouso Alegre), abertos durante a década de 1950, não foram imediatamente ocupados. Uma análise do levantamento aerofotogramétrico USAF, escala 1: 20. 000, de 1996, indicava que os bairros de ocupação mais consolidada até aquele momento eram o Centro, o Centro Alto e a Colônia, junto à

estação ferroviária, e o Jd. Santa Luzia e Pq. Das Fontes, em Sta. Luzia, próximo ao núcleo colonial do Pilar. Algumas

glebas nos bairros de Roncon, Suissa, Bocaina, Colônia e Ouro Fino estavam parcialmente ocupadas, existindo ainda

muitos terrenos vagos nesses loteamentos. (Fonte: INSTITUTO PÓLIS - Leitura Técnica do Município de Ribeirão

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Destaca-se que, em 1953, logo após emancipar-se, Ribeirão Pires sofreu uma outra onda especulativa que resultou num rápido crescimento da mancha urbana por meio de loteamentos destituídos de infra-estrutura, porém, de novo, sem alcançar ocupação. Entre as causas, estava a disputa de poder entre as autoridades locais e a prefeitura de Santo André pela jurisdição de terras valorizadas próximas às zonas industriais (GAIARSA, 1991). No fim do conflito, por sentença judicial, Santo André ganhou a causa, contudo, sem reverter o destino pré-selado de uma região que sofreria cada vez mais com a ocupação predatória, motivada pela especulação imobiliária e pelo encarecimento da terra nas áreas centrais.

Durante o regime militar, as taxações de impostos e as novas técnicas construtivas estagnaram as olarias15, mudando o perfil produtivo do município para atividades de extração de areia16. Além disso, em 1963, a construção da Rodovia Índio Tibiriçá (SP-31) que ligava a baixada Santista a Mogi das Cruzes, promoveu a abertura de novos loteamentos17 e a vinda de indústrias de grande porte, como as de metalurgia, bens de capital e consumo durável18.

No entanto, a formação do parque industrial de Ribeirão Pires iria sofrer entraves, já que o rápido crescimento econômico da capital paulista e do trinômio industrial do Grande ABC (São Bernardo, São Caetano do Sul e Santo André) vinha acentuando a expansão de loteamentos clandestinos e irregulares para as áreas de mananciais19, ocasionando maior poluição das águas

15As olarias era uma das pedras fundamentais da economia do município, com uma produção que chegava a cinco

milhões de unidades por dia. De tantas olarias que teve, Ribeirão Pires chegou a criar uma cooperativa de produtores, extinta no final dos anos 1960. Mas, em pleno regime militar, houve uma alteração tributária importante: os oleiros, que

recolhiam o IVC - Imposto sobre Vendas e Consignações, passaram a ter as suas olarias tratadas como asdemais

empresas com relação ao ICM - Imposto sobre Circulação de Mercadorias. O número de olarias caiu de 405 para 80 (MÉDICI, 1996).

16 Essa alteração de produção estava relacionada ao processo aceleradoda urbanização dos municípios de Santo

André, São Bernardo e São Caetano do Sul - resultado da concentração da indústria pesada no Grande ABC. Paralelamente à intensa urbanização desses municípios, a construção civil também passava por transformações: o barro era substituído por blocos cerâmicos, de cimento ou por materiais pré - fabricados. Dessa forma, a areia interessava mais que o tijolo de barro para a produção de habitação popular, além de ter maior mercado de consumo.

17 Os preços baixos dos terrenos e os incentivos municipais também foram importantes ingredientes para a vinda dos

empresários.

18 Diferentemente da maioria dos municípios do Grande ABC, a industrialização em Ribeirão Pires ocorreu de forma

periférica, não fazendo parte significativa da cadeia produtiva automobilística, o que tornou as atividades deste município mais independentes dos demais. No entanto, o perfil industrial vem mudando com a expansão de indústrias

de pequeno e médio portes ligadas à terceirização industrial. (Fonte: INSTITUTO PÓLIS - Leitura Técnica do Município

de Ribeirão Pires, 2003).

19 Durante a década de 1970, o município apresentou um crescimento demográfico a uma taxa de 6, 89% ao ano,

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24

represadas da Billings20 e comprometendo a disponibilidade de água para o abastecimento da região metropolitana de São Paulo (ALVIM, 2005).

Com o intuito de conter a ocupação desorganizada e a poluição das águas, o Estado21 editou, em 1975 e em 1976, a primeira legislação estadual direcionada à proteção dos recursos hídricos metropolitanos, a Lei de Proteção dos Mananciais (LPM). O objetivo dessas leis era disciplinar o uso e a ocupação do solo de uma parcela da Região Metropolitana de São Paulo. O município de Ribeirão Pires, por ter 100% de seu território inserido na área de drenagem da represa Billings, ficou inteiramente subordinado aos ditames da LPM.

DENIZO (2001) observou que as leis estaduais de proteção dos mananciais 898/75 e 1172/7622 propuseram, por meioda aplicação de normas, traduzir as necessidades individuais e coletivas na ordenação do território urbano, entretanto, “como foram elaboradas estritamente com base nos pressupostos da racionalidade técnica-científica, sem nenhuma interface com

as demandas da sociedade civil, acabaram tratando de forma marginal a

dimensão política, social e econômica deste problema”23 (DENIZO, 2001: 49).

tinha uma população relativamente baixa, de 29. 048 habitantes, enquanto Santo André, São Bernardo e São Caetano

apresentavam população superior a 150 mil habitantes. (Fonte: IBGE, 2006 - censos demográficos de 1970, 1980,

1991 e 2000).

20 A industrialização crescente na região, bem como o processo de bombeamento das águas do rio Pinheiros para a

represa Billings, também contribuíram para o processo de poluição dos mananciais e a desvalorização das terras.

21 É importante lembrar que no início da década de 1970, vivia-se uma época de criação das Regiões Metropolitanas;

da formação de uma estrutura de planejamento metropolitano, instituindo a EMPLASA (Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano SA), e estabelecendo uma política de ordenamento da ocupação territorial da RMSP (MELO, 2001a). E, dessa forma, ainda em 1971, o PMDI - Plano Metropolitano de Desenvolvimento Integrado - propôs que toda a porção sul do território metropolitano, correspondente às bacias hidrográficas contribuintes do rio Tietê, fosse transformada em área com restrição à ocupação e ao uso do solo.

22 As leis de proteção dos mananciais propõem restrições quanto à taxa de ocupação, lote mínimo e adensamento

populacional. Segundo a lei, existem duas categorias de área de proteção ambiental. As áreas de primeira categoria são as áreas de maior restrição de uso, situadas às margens das represas, dos rios e dos córregos, áreas cobertas por matas e áreas inundáveis. Já as áreas de segunda categoria são subdivididas em classes A, B e C. As áreas de classe

A são as menos restritivas, por permitirem uma densidade populacional acima de 30 hab/ha. com um lote mínimo de

500m², as de classe B, um adensamento de 25 hab/ha. a 34 hab/ha. com um lote mínimo de 1. 350 m², e as de classe C, a mais restritiva das áreas de segunda categoria, um adensamento de 6hab/ ha. a 24 hab / ha. com um lote mínimo de 3.500 a 7000m².

23 A tendência era tratar a realidade urbana a partir de cenários estáticos e ideais, desconsiderando o dinamismo e a

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Ou seja, se, quando concebida, essa legislação tinha como objetivo garantir a possibilidade futura de água para o abastecimento urbano da RMSP, é impossível afirmar que os seus propósitos tivessem alcançado os efeitos desejados24. As restrições da LPM aos tipos de usos do solo “congelaram” os preços dos terrenos, que associados à elevação do custo das habitações em áreas centrais dotadas de infra-estrutura, levaram os municípios do Grande ABC a reproduzir no âmbito regional os mesmos desequilíbrios internos das cidades brasileiras: segregação socioespacial e crescente processo de periferização (MELO, 2001a).

Assim, as leis de proteção dos mananciais contribuíram com a própria formação da periferia da Grande São Paulo, em virtude de sua funcionalidade tanto para um crescimento urbano calcado na especulação imobiliária como para um desenvolvimento econômico arrimado na superexploração da força de trabalho (BONDUKI e ROLNIK, 1979).

Em Ribeirão Pires, por exemplo, se, por um lado, a LPM apresentou certo controle à expansão da mancha urbana do município, por outro, provocou o rebaixamento da renda fundiária de parcelas do território da cidade com os impeditivos aos serviços urbanos, o que resultou em intensos desdobros de loteamentos já aprovados pela prefeitura antes de 1976 e na formação de novas frentes de ocupação pela própria continuidade da periferização da região que se desloca no gradiente declinante da renda diferencial: de uma periferia para outra mais carente.

Segundo o cartograma de densidade populacional do município de Ribeirão Pires feito pelo INSTITUTO PÓLIS (2003), com base no censo do IBGE de 1991, foram os bairros limítrofes ao município de Mauá, ao lado dos bairros centrais da cidade, que sofreram maior adensamento25. Nos bairros

24 A bacia Hidrográfica Billings perdeu entre 1989/1999 mais de 6% da sua cobertura florestal, tendo as áreas urbanas

consolidadas ou não-consolidadas apresentado em 1989 um aumento de 27,3% e 47,9%,respectivamente. Pior, 37%

da ocupação urbana registrada neste mesmo período ocorreram em áreas com sérias ou severas restrições ambientais. A população que habita os mananciais é calculada em 700.000 pessoas, em condições habitacionais precárias. No município de Ribeirão Pires são 6.079 habitantes, constituindo 12 bairros que, apesar dos debates de sustentabilidade, esperam há aproximadamente vinte anos por condições mínimas de sobrevivência. (Fonte: INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL - Billings 2000: Ameaças e perspectivas para o maior reservatório de água da Região Metropolitana de São Paulo, 2002).

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26

centrais, havia possibilidade de ganho populacional, pois, contava-se com infra-estrutura, o que não acontecia com as áreas periféricas contíguas ao município vizinho, onde os padrões ambientais eram mais restritivos26. Tudo isso se traduziu numa configuração espacial que combinava núcleos ocupacionais nas divisas de Ribeirão Pires junto a uma mancha urbana central alongada

(Figura 2).

Como o Estado se visse incapacitado de garantir a não-ocupação das áreas dos mananciais mediante uma simples fiscalização, além de se desvencilhar da própria responsabilidade pelo financiamento e gestão dos bens de consumo coletivo, e ainda de uma política de habitação que atendesse à população de baixa renda, os proprietários de terras, ávidos por realizar seus valores imobiliários, lançaram-se num processo de fracionamento de suas glebas e venderam terras de baixa renda diferencial no mercado informal, em que o único a perder era o novo morador que passava a ocupar áreas desprovidas de qualquer infra-estrutura. Ademais, a legislação municipal, em desacordo com as regulamentações e parâmetros das leis estaduais, facilitava a comercialização desses lotes, consolidando-os no cartório de registros.

Enfim, esses conflitos entre o município e o Estado27 apenas reproduziram o modelo urbano-industrial de tratar espaços tão complexos que privilegiaram o capital imobiliário em detrimento da natureza e do homem (GUATELLI, 2001).

26 Importante ressaltar que 45 % da área residencial ocupam uma área de 1.315,2 ha., apresentando densidade líquida

de até 10 hab/ha., o que significa que a metade da área residencial está ocupada por casas de veraneio ou loteamentos com baixa densidade. Porém, são áreas com pouca infra-estrutura, o que colabora com a poluição dos rios e nascentes. As maiores densidades populacionais com intervalo de 251-350 hab/ha. e acima de 600 hab/ha. estão concentradas, respectivamente, em 4,4 ha. e 1,7 ha. (0,1% do total da área residencial ocupada), correspondendo às áreas mais próximas ao Centro. Apesar de serem áreas de segunda categoria classe A, com densidade máxima permitida de 50 hab/ha. e lote mínimo de 500m², o problema pode ser minimizado por se tratar de áreas mais consolidadas. Nos bairros limítrofes ao município de Mauá (mais precisamente nos loteamentos junto ao eixo ferroviário, no Bairro Aliança), o adensamento populacional chega a ultrapassar facilmente os 125 hab/ ha., apesar

de a lei implicar um adensamento de 6 hab/ha. a 24hab/ha. (áreas de classe C). (Fonte: INSTITUTO PÓLIS - Leitura

Técnica do Município de Ribeirão Pires, 2003).

27 Confrontada por suas necessidades, a administração municipal de Ribeirão Pires lançou uma “contra-ofensiva” com

a Lei 2.386/82 - Plano Básico de Organização Territorial -, posteriormente substituída pelas leis que compuseram o Plano Diretor da cidade em 1995, - correspondendo às leis 3.882/95, 3.883/95, 3. 887, respectivamente, Plano Diretor de Desenvolvimento integrado de Ribeirão Pires, Código de Parcelamento do Solo Urbano e Código de Uso e

Ocupação do Solo27. Porém, esta iniciativa, que no mínimo permitiu um controle na expansão urbana, reconhecendo a

cidade real e fixando parâmetros urbanísticos mais compatíveis, acabou se contrapondo com a legislação estadual, gerando conflitos e revelando-se incapaz de solucionar a problemática da ilegalidade e do crescimento urbano. Diante das investidas da municipalidade, o Estado adotou uma postura mais rígida, em 1995, não licenciando as atividades

industriais em áreas fora do parâmetro, não permitindoa ligação de energia elétrica em desmembramentos irregulares

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27 FONTE: Instituto Pólis – Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais (2003).

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1.2 A INTEGRAÇÃO: PROPOSTA PARA UMA NOVA GESTÃO DOS MANANCIAIS NO NOVO CICLO ECONÔMICO NA REGIÃO.

Na década de 1990, em resposta à crise do modelo de desenvolvimento industrial que se acirrou regionalmente e visando integrar-se à nova ordem mundial, o conjunto dos municípios do Grande ABC deu largos passos em direção a uma nova institucionalidade, por meio da regionalização.

A construção de uma cidade-região “bela, justa e ecologicamente equilibrada constituía o fim a ser atingido pelos princípios estratégicos do novo

projeto desenvolvimento da região do Grande ABC” (MELO, 2001a: 214). Mais

precisamente, o objetivo era construir uma nova identidade regional, “superando sua centralidade operária, do ponto de vista dos movimentos políticos e sociais, e condição periférica, do ponto de vista da apropriação do

capital, construindo-se uma centralidade de nova natureza capaz de se inserir

e competir na economia mundial de fluxos” (MELO, 2001a: 157). E entre as

ações assumidas para alcançar uma nova trajetória de desenvolvimento econômico, era necessário tratar os mananciais sob uma perspectiva econômica, principalmente por um setor terciário avançado não-poluente (KLINK, 2001).

Ao contrário da visão tecnocrática e centralizadora de outrora, a orientação dos novos planos e legislações de ordenamento do uso e ocupação do solo deveriam ter uma postura mais flexível28, a fim de recuperar o exercício democrático na gestão dos territórios urbanos, bem como restabelecer a relação entre o Estado e a sociedade29 (DENIZO, 2001). Em 28 de novembro de 1997, foi promulgada uma nova Lei estadual (n° 9 .866) que reabriu o debate sobre os destinos dos mananciais metropolitanos. Esta lei30 foi um marco

28 Para KLINK (2001), a ineficácia das políticas de preservação desde 1970, estava na irresolúvel conciliação entre

economia e meio ambiente. Nesta visão, a problemática ambiental representava um corpo estranho à economia, o que acabava sustentando estratégias extramercado, como a implementação de uma legislação ambiental restrita e voltada à proibição de determinadas atividades econômicas. Por seu turno, a economia em sua vertente neoclássica que dava apoio teórico a tais políticas ambientais de gestão dos mananciais, considerava o meio-ambiente como uma externalidade negativa.

29 Em vez de ignorar ou tratar de forma marginal os conflitos econômicos, sociais e políticos, procurar-se-ia

explicitá-los, estabelecendo espaços democráticos de negociação e de tomada de decisões. Buscava-se, assim, excluir as tradicionais estratégias do clientelismo (DENIZO, 2001).

30 A nova legislação apresentava os seguintes pontos considerados inovadores com relação à política anterior: 1º

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Figura 1: Divisão Sub - Regional da Região Metropolitana de São Paulo
FIGURA 2: Cartograma de Densidade Populacional do Município de Ribeirão Pires
FIGURA 3: Cartograma de Densidade Populacional do
Figura 4: Índice Paulista de Vulnerabilidade Social do Município de Ribeirão Pires segundo censo do IBGE de 2000
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Referências

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