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INCLUSÃO DE NOVOS INDICADORES AMBIENTAIS

PARA O CALCULO DO INDICE DE POBREZA HÍDRICA (IPH)

PARA O SERTÃO DOS INHAMUNS, CEARÁ, BRASIL

Rosa Maria Ramos Maranhão1 Vládia Pinto Vidal de Oliveira2

INTRODUÇÃO

A importância dos recursos hídricos para a manutenção dos ecossistemas tem sido tema de estudos que buscam integrar as complexas relações envolvidas na sua gestão, desde as questões de ordem natural como as de ordem econômica e social (SULLIVAN, 2003). A água tem se destacado como precioso e estratégico bem e várias ações e programas de gestão participativa são propostos visando um gerenciamento racional e sustentável.

O Índice de Pobreza Hídrica (IPH) foi desenvolvido no Reino Unido, pelo grupo de pesquisadores inter-disciplinar e inter-departamental do Oxford Centre for Water Research (OCWR). Trata-se de um modelo geoestatístico que envolve o tratamento de variáveis quantitativas e qualitativas para composição de um indicador que deve representar as relações entre a pobreza e a água nas comunidades das terras áridas e semiáridas, observando as questões referentes à disponibilidade, a manutenção e o acesso ao recurso, priorizando a dessedentação humana e animal, como determinam as orientações da Organização Mundial de Saúde sobre as quantidades mínimas per capta de água para consumo e higiene pessoal. O IPH é calculado a partir de cinco componentes: Recurso, Acesso, Capacidade, Uso e Ambiente (SULLIVAN, 2000). OBJETIVOS

1 Aluna do Mestrado em Geografia da Universidade Federal do Ceará - UFC.

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_________________________________________________________________________________________________ O objetivo principal é propor uma inovação metodológica realizando alguns ajustes e adaptações nas variáveis (sub-componentes) que serão tratadas para gerar a componente Ambiente. As adaptações e ajustes metodológicos são imprescindíveis para que os resultados encontrados representem a realidade de cada localidade estudada, uma vez que as peculiaridades socioeconômicas e ambientais devem ser consideradas. Deste modo, a escolhas das variáveis considerou as que melhor representam as interrelações entre a pobreza e os recursos hídricos, permitindo avaliar a influência e seus efeitos sobre as comunidades. O tratamento dos dados se deu pelo uso de sistemas de informações geográficas e ferramentas estatísticas a fim de adequar o IPH à área (ABRAHAM, 2006; LUNA, 2007).

ÁREA DE ESTUDOS

Para a construção do IPH escolhemos como área de estudo o Sertão dos Inhamuns, uma micro região administrativa que está inserida na macro região administrativa dos Sertões Cearenses, no Estado do Ceará, que é composta por seis municípios: Tauá, Parambú, Arneiróz, Catarina, Saboeiro e Aiuaba. Está situada na depressão sertaneja ocidental, com sua base geológica no embasamento cristalino, que lhe confere características hidrológicas e pedológicas especificas, apresentando solos rasos e afloramentos rochosos das paisagens típicas das regiões semiáridas, que dificultam a captação e armazenamento de água superficial e sub-superficial. Uma vez que a disponibilidade hídrica está submetida às irregularidades pluviométricas essa se reflete nas condições fitoecológicas locais (SOUZA, 2000; SOUZA Y OLIVEIRA, 2002, SOUZA and OLIVEIRA, 2003). As temperaturas elevadas e as precipitações irregulares, no espaço e no tempo, provocam um balanço hídrico negativo, na maior parte do ano, fazendo com que os riachos tenham um escoamento sazonal e intermitente, tornando a gestão dos recursos hídricos um importante instrumento de desenvolvimento social e econômico.

Como em outras regiões pobres do mundo, a exploração dos recursos naturais como atividade econômica, faz parte dos fatores condicionantes de degradação ambiental. No Sertão dos Inhamuns as adversidades edafoclimáticas impedem o desenvolvimento de uma agricultura estável; o extrativismo, a agricultura rudimentar e a pecuária extensiva são os meios de vida daquela população. A pecuária, historicamente responsável pela ocupação dos sertões, incorpora cada vez mais áreas para a expansão do seu processo produtivo, levando ao desmatamento áreas de caatinga de enormes

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_________________________________________________________________________________________________ proporções, aumentando as áreas de pisoteio e de solos compactados (SOUZA, 2000; SOUZA and OLIVEIRA, 2003).

Nas regiões semiáridas, a fragilidade dos ecossistemas e a constante pressão antrópica sobre os recursos naturais aceleram os processos de degradação levando à níveis críticos de empobrecimento dos solos, atingindo o grau de desertificação. Por estas características foram necessários ajustes metodológicos para a adequação das variáveis para a componente Ambiente. A proposta é tratar os subcomponentes com um detalhamento maior, tratando os indicadores biofísicos naturais de forma integrada, considerando a geologia, a geomorfologia, a vegetação, os solos e sua classificação, A declividade do terreno, o escoamento superficial e o potencial de erodibilidade.

Visando a complexidade das relações socioeconômicas ambientais do semiárido brasileiro, a adaptação proposta procura enfatizar as características biofísicas naturais instrumentalizando a analise integrada da paisagem, a partir da observação das condições ambientais da área e a análise das informações coletadas. A proposta pretende que os resultados sejam capazes de apresentar cenários individualizados referentes à oferta e demanda dos recursos hídricos e as condições socioeconômicas no sertão dos Inhamuns para subsidiar ações de desenvolvimento social e de combate a desertificação.

Pesquisas indicam que 14% da área do Estado do Ceará estão afetadas por intensos processos de degradação que tendem a evoluir para o grau de desertificação. A população residente nestas áreas passa por crescente demanda de alimento e energia e o meio natural sofre as conseqüências do aumento da atividade extrativa, o desmatamento, das queimadas e da produção de carvão. A erosão nos solos descobertos carrega material superficial assoreando rios, comprometendo toda a dinâmica ambiental da região (SOUZA, 2006). Estas são atividades de grande impacto ambiental e necessitam urgente de ações de apoio e infra-estrutura que proporcionem o desenvolvimento social com a manutenção do equilíbrio no ecossistema. (SULLIVAN 2003, ABRAHAM 2006).

A irregularidade pluviométrica e uma área significativa de solos degradados, são fatores relevantes que impactam no desenvolvimento social no semi-árido. Numa analise integrada percebemos que além destes elementos, os recursos hídricos superficiais ou subterrâneos se mostram insuficientes e apresentam elevados índices de poluição. No sertão dos Inhamuns os solos se encontram fortemente impactados pela

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_________________________________________________________________________________________________ pressão exercida pela população sobre os recursos naturais. A relação entre o uso e ocupação do semiárido é determinante no aumento progressivo das áreas degradadas, visível pela perda da produtividade das lavouras. O bioma caatinga já sofre pela sua dinâmica climáticas, com longos períodos secos e enxurradas nos períodos chuvosos, tornando qualquer intervenção na cobertura vegetal um vetor de aceleração dos processos erosivos. No sertão dos Inhamuns em muitas áreas já se encontram marcas nítidas de desertificação (Figura 1), que também estão presentes em outras áreas do Estado como no Médio Jaguaribe e no Médio Curú (SOUZA, 2006).

Os impactos no ambiente relacionados às demandas das comunidades mais pobres, já foi demonstrada em vários estudos que focam a pobreza e a água, estudos estes realizados tanto para as zonas rurais como para as zonas urbanas (LUNA, 2007).

Os indicadores socioeconômicos como o PIB, o ICMS e o Índice de Desenvolvimento Municipal (IDM) representam as condições de desenvolvimento social e econômico da região. Para o Estado do Ceará em 2006, IDM médio foi calculado 28,24, e os municípios selecionados mostraram índices bastante inferiores, dois deles, os menores índices do estado. Dentre esses municípios, quatro deles estão

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_________________________________________________________________________________________________ entre os que possuem índices extremos de aridez e as áreas onde estão os mais críticos processos de desertificação, com poucas oportunidades de trabalho fica evidente o êxodo populacional em alguns municípios conforme o Censo de 2000 (IBGE, 2008) (Quadro 1).

Quadro 1 - Evolução da População e do Índice de Desenvolvimento Municipal (IDM), Incidência da Pobreza, Índice de Pobreza Rural, classificados pelo Índice de Semiaridez

Munic. Pop.

1990 Pop. 2000 Pop. 2008 IDM 2002 IDM 2004 IDM 2006

Incidência * da pobreza 2003 Índice de pobreza Rural 1991 ** Índice Semi Aridez 1991 ** Arneiroz 7.384 7.538 7.497 16.64 8.57 17,45 64,27 % 82 0,37 Parambú 33.009 32.302 31.983 16.02 14.15 18,29 61,90 % 122 0,39 Aiuaba 17.174 14.452 16.253 10.88 12.58 6,87 66,83 % 32 0,40 Tauá 54.507 51.948 56.202 28.04 24.32 30,65 59,84 % 108 0,40 Saboeiro 18.183 16.226 16.806 1.358 9,79 9,79 79,47 % 57 0,43 Catarina 8.280 15.547 17.794 15.10 9.13 10,15 64,27 % 84 0,50

Fonte: IBGE (2008), IPEA (1995) – (adaptado)

* Retirado do Mapa de Pobreza e Desigualdade 2003 (IBGE)

** conforme LEMOS, valores menores indicam condições piores. (in: GOMES, 1995)

Os indicadores e índices, quando representados graficamente, são mais facilmente analisados e as relações entre as informações se evidenciam. Os gráficos a seguir apresentam as informações do Quadro 1, demonstrando a evolução populacional (Gráfico 1), a relação entre a Incidência de Pobreza, que variam entre 60% e 80% e o Índice de Desenvolvimento Municipal (IDM) (Gráfico 2) e a relação entre o índice de Aridez o Índice de Pobreza Rural (LEMOS in GOMES, 1995) (Gráficos 3 e 4).

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_________________________________________________________________________________________________ Gráfico 1 – Evolução da população residente em 1990, 2000 e 2008 (estimada)

Fonte: IBGE 2008

Gráfico 2 – Relação entre Incidência de Pobreza e o Índice de Desenvolvimento Municipal (IDM)

Fonte: IBGE 2008, IPECE 2008

Gráficos 3 e 4 – Relação entre Índice de Aridez e Índice de Pobreza Rural

Fonte: IPEA 1995

População Residente por Municipio 1990, 2000 e 2008

0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 arneiroz parambu aiuaba tauá saboeiro catarina número de habitantes 2008 2000 1990

Incidencia de Pobreza 2003 (IBGE) e Índice de Desenvolvimento Municipal 2002 (IDM)

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 arne iroz para mbu aiua ba tauá sabo eiro cata rina Municipios pobreza IDM Índice de Aridez 1991 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 arne iroz para mbu aiua ba tauá sabo eiro cata rina ín d ic e indice aridez

Indice de Pobreza Rural

0 20 40 60 80 100 120 140

arneiroz parambu aiuaba tauá saboeiro catarina

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_________________________________________________________________________________________________ A área das nascentes do Rio Jaguaribe, no município de Tauá, na confluência dos Riachos Trici e Carrapateiras já apresenta níveis intensos de degradação. A preservação das nascentes é muito importante para a manutenção do sistema hidrológico da bacia hidrográfica (OLIVEIRA, 2003).

A Bacia Hidrográfica do Jaguaribe ocupa uma área de 80.547 km2 e sua manutenção é estratégica para o Ceará, pois tem 90% de seu território localizado numa região semiárida. A bacia do rio Jaguaribe, ocupa 55% do total do território do estado. É subdividida em cinco sub-bacias: Alto, Médio e Baixo Jaguaribe, Salgado e Banabuiú. Nas sub-bacias do Alto, Médio e Baixo Jaguaribe e sub-bacia do Banabuiú encontramos os vales do Jaguaribe e Banabuiú perenizados respectivamente pelos açudes Orós e Banabuiú.

A região da sub-bacia do Alto Jaguaribe, localiza-se a montante do açude Orós e drena uma área de 24.636 km² correspondente a 16,56% do território Cearense. A extensão do Rio Jaguaribe, neste trecho é de 325 km, e tem declividades que variam de 0,03% a 2,5%. Seus principais afluentes são os Rios: Bastiões; Trussú e Cariús e os Riachos: Carrapateiras; Trici; Puiú e Conceição. A acumulação de águas superficiais é monitorada em 18 açudes públicos, da ordem de 2.792.563.000 bilhões de m³. Destes reservatórios, os principais são: Orós com 1.940,00 hm³, Trussú com 260,57 hm³ e Canoas com 69.25 hm³, registrando-se um grande número de pequenos açudes de usos particulares ou comunitários. Apesar do volume de acumulação de águas superficiais, a região é considerada deficitária pela pouca quantidade de trechos de rios perenizados, uma vez que os grandes reservatórios estão no terço inferior da bacia. (COGERH). Para nossa análise aplicaremos o IPH nos municípios da micro região do Sertão dos Inhamuns, que compreende as áreas das nascentes, no alto curso do rio Jaguaribe, tomando apenas uma parte da Sub-bacia do Alto Jaguaribe, que está inserida na Bacia Hidrográfica do Jaguaribe (Figura 2). As áreas de nascentes possuem uma fragilidade maior pois o abastecimento de toda a bacia depende do equilíbrio ambiental das nascentes. Os desequilíbrios causados pelo uso e ocupação descontrolado e o manejo inadequado dos recursos naturais se refletem de modo crítico nas áreas das nascentes.

Dentre os municípios pertencentes a Sub-bacia do Alto Jaguaribe, encontramos os que apresentam boas condições de vida de acordo com os índices de desenvolvimento econômico e social (IBGE, 2008). Os menos favorecidos, por outro lado, têm os mais baixos PIBs e os piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) e Índice de Desenvolvimento Municipal (IDM) do estado, com baixas taxas de

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_________________________________________________________________________________________________ crescimento e graves problemas ambientais que se refletem na qualidade de vida das comunidades (OLIVEIRA, 1995). Esses indicadores que demonstram a ineficiência das ações para o desenvolvimento da região e a falta de propostas eficazes para apoiar gestão dos recursos naturais e da segurança hídrica.

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_________________________________________________________________________________________________ Figura 2 – Localização dos municípios do Sertão dos Inhamuns onde se encontram as nascentes do Rio Jaguaribe (Sub-bacia do Alto Jaguaribe) – Fonte: Huáscar de Oliveira, 2009.

O INDICE DE POBREZA HÍDRICA E AS ADAPTAÇÕES METODOLOGICAS

O Índice de Pobreza Hídrica pretende ser uma ferramenta holística para gestão dos recursos hídricos relacionando os impactos entre a disponibilidade da água e seus efeitos sobre as comunidades.

A metodologia empregada na construção do índice se aproxima da utilizada para o cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), combinando e ponderando os elementos que compõem o resultado final, realizando os ajustes necessários, pois estes elementos podem estar em unidades diferentes que devem ser padronizadas para que possam ser agrupadas e resultem no indicador.

Como uma metodologia inovadora, o IPH tem a intenção de atualizar os modelos de gestão atualmente baseados nas metodologias convencionais puramente deterministas que se apresentam inadequados para realizar o gerenciamento dos recursos por não contemplarem a complexidade das relações econômicas, políticas e sociais e o os diversos usos da água em cada localidade (LUNA, 2007).

O IPH trabalha com dados de natureza interdisciplinar, compostos de informações qualitativas e quantitativas, com o objetivo de apresentar através de uma análise integrada instrumentos para uma compreensão mais ampla sobre as relações envolvidas entre a disponibilidade de água e o bem estar social das populações residentes em áreas secas e gerar informações que promovam o desenvolvimento das comunidades no contexto da sustentabilidade, permitindo identificar e estimar como a escassez hídrica afeta a qualidade de vida e a economia local (SULLIVAN, 2003).

O IPH permite identificar e estimar como a escassez hídrica afeta a qualidade de vida e a economia local, podendo ser aplicado na supervisão e monitoramento dos recursos hídricos, sendo um importante instrumento de apoio ao planejamento e gestão da água (SULLIVAN, 2003), de imprescindível utilidade no semiárido brasileiro. A aplicação do IPH contempla as diversas escalas: mundial, nacional, regional e local, em comunidades, sendo esta última a que exige análise mais detalhada devido a variabilidade espacial e paisagística das bacias e sub-bacias hidrográficas. Em todos os

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_________________________________________________________________________________________________ níveis é possível apresentar de forma rápida, clara e integral o estado dos recursos hídricos em determinada localidade (ABRAHAM, 2006).

Em escala nacional o IPH tem sido empregado em vários países da África, da Ásia e da América do Sul, e pode ser estendido e aplicado para todos os países do mundo proporcionando uma classificação planetária que pode ser detalhada ao nível de comunidade. No caso dos países da África, a África do Sul apresentou um IPH 52.2 refletindo a maior dificuldade no componente Acesso. Na Tanzânia o IPH foi menor – 48,3 - mas seus níveis de degradação ambiental refletem o desequilíbrio dos ecossistemas causados pelo déficit hídrico. Na Ásia, o Sri Lanka apresentou um cenário critico, sendo seu IPH de 61.2, com as maiores deficiências nos componentes Capacidade e Ambiente, os quais se referem às questões socioeconômicas e ambientais.

O grupo do Programa de Combate a Desertificação e Mitigação da Seca na América do Sul, realizou ajustes na composição dos componentes. Para esta adaptação foi escolhida como área piloto o Departamento de Lavalle, Mendoza, Argentina. A aplicação do IPH a nível local, faz parte da metodologia do Projeto BID/IICA, como um complemento às outras abordagens metodológicas relacionadas com o desenvolvimento de indicadores de desertificação que trabalhe de maneira participativa, com as populações e os governos locais.

A necessidade de um ajuste da metodologia de Sullivan (2000) para o calculo em nível local se dá pela dificuldade da espacialização dos dados para a produção cartográfica das variáveis estabelecidas, pois para ao nível nacional a complexidade das variações ambientais são tratadas em uma escala macro. Como proposta para o ajuste ao nível local na Argentina, foram determinadas as Unidades Ambientais de Referencia (UAR), para a produção de um diagnostico mais detalhado dos ecossistemas e dos usos da terra, considerando as condições de suporte biofísico e da utilização antrópica. (ABRAHAM, 2006)

Para o desenvolvimento do IPH para o semiárido brasileiro, uma adaptação metodológica foi proposta por Luna (2007), que teve como área de pesquisa a Bacia do Rio Salgado, uma sub-bacia da Bacia do Rio Jaguaribe, que está localizada ao sudoeste do Estado do Ceará e é composta de 23 municípios com grandes diferenças no que diz respeito ao desenvolvimento socioeconômico. Após o tratamento e a padronização das informações pelo recurso estatístico de média ponderada para o cálculo final do índice, optaram em considerar todas as variáveis com mesma importância (peso 1).

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_________________________________________________________________________________________________ Para que o IPH revele a realidade de da relação entre disponibilidade e demanda, acesso e capacidade econômica, cada componente deve ser analisada com cautela e com uma abordagem integral para evitar que o resultado não represente a realidade. A componente Recurso, dependendo do volume de água disponível em um grande reservatório de um município da bacia, pode interferir no resultado, mascarando a realidade:

“Na bacia do Salgado existe um grande volume de água aduzido para o projeto de irrigação Icó-Lima Campos, o que eleva a disponibilidade dos recursos superficiais para o município de Icó, fator esse que pode mascarar a existência ou não de déficit para abastecimento desse município e dos demais e interferir no cálculo dos indicadores. Desta forma seguiu-se parcialmente a linha de desenvolvimento do IPH, Sullivan (2002). Sendo utilizados quatro indicadores ao invés dos cinco propostos no conceito inicial do IPH. Os indicadores recurso e uso, devido a algumas particularidades da região, foram trabalhados em conjunto, sendo denominado Indicador de Disponibilidade.

- Indicador Disponibilidade: Corresponde aos recursos superficiais e subterrâneos disponíveis na região, bem como a sua variabilidade e confiabilidade subtraídos das demandas industrial e de irrigação. ” LUNA (2007).

INCLUSÃO DE NOVOS INDICADORES PARA A COMPONENTE AMBIENTE PARA O CALCULO DO IPH

Segundo Sullivan (2000) a construção do IPH considera 5 (cinco) componentes: Recursos, Acesso, Capacidade, Uso e Ambiente (Quadro 2). Essas variáveis são compostas levando em conta os fatores mais relevantes e que devem ser considerados para que as ações propostas na gestão dos recursos sejam eficazes e que as considerem as prioridades e o monitoramento de metas planejadas (SULLIVAN, 2000).

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_________________________________________________________________________________________________ Quadro 2. Definição dos componentes do Índice de Pobreza Hídrica.

componente Definição

Recursos Disponibilidade física da água superficial e subterrânea, considerando as variações de quantidade e qualidade total de água.

Acesso

Nível de acesso para uso humano, considerando a distancia percorrida para atingir a fonte de água “potável”, incluindo o tempo gasto no caminho e na extração da água. No caso do semi-árido cearense considerar-se-á o abastecimento por carros pipa, a relação domestica com a água e outros fatores significativos (poços, cacimbas, cisternas).

Capacidade Tratar da capacidade de manejo efetivo dos recursos que permita através das relações com a água, acesso à saúde, educação e aos bens duráveis. Está diretamente relacionado às condições econômicas e sociais das comunidades residentes.

Uso Serão considerados a eficiência da utilização dos recursos nos diferentes setores, como o uso doméstico, na agropecuária, água para irrigação e na indústria. Ambiente Integridade ambiental relacionada à água, produtividade agrícola em relação ao uso dos recursos naturais e a degradação do solo. Fonte: SULLIVAN (2000), ABRAHAM (2006) e LUNA (2007), adaptado.

Para este trabalho optamos pelo modelo de SULLIVAN (2000) e os ajustes serão aplicados à componente Ambiente, trazendo maior detalhando às informações sobre os indicadores de degradação. Este detalhamento não traz nenhuma nova variável, mas aprofunda os quesitos que devem ser analisados no campo. Este ajuste se faz necessário pelas condições socioeconômicos e ambientais apresentada pela pressão de uso e ocupação na área de estudo.

A composição do IPH se dá através da média calculada para cada componente, a partir de seus subcomponentes. Cada valor encontrado deve estar em um intervalo unidimensional, que será igual ao valor final do IPH. Estes dados podem ser expressos em um gráfico radial que apresenta, de maneira bastante clara, informações de grande complexidade, mas visualmente compreensíveis pelos gestores, pois evidenciam as diferenças entra as localidades e os seus valores de cada componente, apontando as que necessitam de intervenções mais urgentes (SULLIVAN, 2003; ABRAHAM, 2006).

O cálculo matemático do IPH combina estes 5 elementos através da seguinte expressão geral:

Onde o WPI é o IPH para uma localidade específica “X” e o seu componente “i”, da estrutura do IPH para esta localidade; “w” são os pesos aplicados ao

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_________________________________________________________________________________________________ componente. O cálculo deve ser repetido para todos os componentes, calculando cada um dos sub-componente (variáveis); os componentes irão ser combinados para compor o IPH. Todos os componentes enumerados devem ser calculados pela expressão:

O critério utilizado para a construção do IPH é que o valor máximo geral esteja entre o intervalo de 0 a 100, calculada pela da média ponderada dos cinco componentes após os ajustes das unidades, quanto maior o resultado mais crítica a pobreza hídrica da localidade. A ponderação dos subcomponentes pode ser necessária dependendo da importância de cada variável em particular.

A proposta de ajuste metodológico na componente Ambiente para a área do Sertão dos Inhamuns se justifica pelas características edafoclimáticas das áreas que apresentam processos de degradação ambiental irreversíveis, tendendo à desertificação.

Os fatores biofísicos evidenciam o esgotamento das terras produtivas, condicionando as populações locais a níveis críticos de pobreza (SOUZA, 2006). Apenas o ajuste na ponderação das variáveis não se mostra suficiente para refletir a realidade ambiental da área de estudos. A pressão antrópica sobre os recursos naturais, devido ao seu processo produtivo baseado na pecuária extensiva e a na agricultura de subsistência baseada em técnicas rudimentares que impactam negativamente na qualidade e produtividade dos solos e reflete em todo o desenvolvimento social das comunidades.

Os dados que serão fornecidos ao modelo, em sua grande maioria, são dados secundários coletados de fontes oficiais, pela impossibilidade de compilar todas estas informações e outras resultam de observação do campo acompanhada de uma planilha que serve de gabarito para valorar os itens que comporão a componente Ambiente pela adaptação proposta.

Para o modelo de Sullivan as componentes e sub-componentes do IPH (Quadro 3) foram definidas de acordo com as condições dos países pesquisados e o interesse de sua aplicação.

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_________________________________________________________________________________________________ Quadro 3. Componentes e subcomponentes para calculo do Índice de Pobreza Hídrica.

componente sub-componentes (variáveis)

Recursos disponibilidade da água superficial e subterrânea, variações e segurança do abastecimento de água, qualidade da água

Acesso acesso a água potável, tempo gasto na coleta, % de homens envolvidos na coleta, , % residencias com serviço e água e esgoto, % de safras perdidas por secas nos últimos 5 anos, % residencias abastecidas com água de fonte particular, conflitos relacionados ao uso da água, % residencias com sistema de eliminação de dejetos humanos,

Capacidade % de moradores que concluíram o ensino fundamental, % mosadores portadores dedoenças, gastos com bens duráveis, taxa de mortalidade infantil, existência e participação em associações de usuários de água

Uso uso da água em domicílios, média consumo litros/per capta, outros usos alem do humano e animal, irrigação em terras cultivadas, uso da água na agricultura, uso da água para pecuária, uso da água na indústria.

Ambiente % erosão, % vida silvestre perdida, % cobertura vegetal perdida e regime pluviométrico. Fonte: SULLIVAN 2000

O calculo requer dados sobre os recursos hídricos, o acesso, a capacidade de gerenciamento destes recursos e sua relação direta com os indicadores econômicos, considera ainda os conflitos pelos diversos usos da água. A relação de gênero sobre a gestão do uso doméstico da água, haja vista o grande número de mulheres que estão envolvidas na coleta e na gerencia do uso. Muitas vezes a quantidade de água coletada está abaixo da média mínima proposta para a segurança hídrica das comunidades, os níveis de potabilidade e o acesso são importantes elementos considerados. As condições de saneamento básico, como número de residências com água encanada e serviço de esgoto com tratamento, além dos conflitos sobre os diversos usos da água. Todas estas componentes são significativas para o entendimento das relações socioeconômicas e a pressão sobre o ambiente inerente ao binômio pobreza-água.

Como a manutenção da mata é um fator preponderante na preservação do solo, os atributos relativos a caatinga se referem ao número espécies que compõem a mata, como porte e densidade das matas, se é uma mata nativa ou recomposta são facilmente observáveis em campo, se na área ainda prevalece a mata arbórea e arbustiva ou se houve desmatamento e queimada para a instalação da agricultura ou pasto, as classes de solo associados à vegetação, a declividade do terreno que afeta o escoamento laminar e tende a acelerar os processos erosivos. Esses processos erosivos, são analisados de acordo com a as classes de erosão, podendo ser uma erosão natural ou provocada pelo manejo ineficiente, desequilibrando ambientes anteriormente estáveis, para esta variáveis, considera-se o grau de erodibilidade. Cada nova variável introduzida no

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_________________________________________________________________________________________________ modelo é caracterizada de acordo com cada unidade geoecologica e tem a finalidade de localizar as potencialidades e limitações para o uso da terra.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As novas variáveis tratarão principalmente do equilíbrio ambiental da área, com a análise de fatores locais que impactam na manutenção da qualidade dos solos e da preservação das matas. Em virtude do alto grau de desmatamento para a agricultura e a pecuária, os processos erosivos e de compactação dos solos se instalam impactando negativamente a produtividade e o desenvolvimento das comunidades residentes nas terras secas. A importância dos solos e da declividade do terreno se referem à instabilidade que podem provocar, acelerando os processos erosivos que abem sulcos e voçorocas carreando material para os vales, assoreando os riachos e alterando a dinâmica hidrológica da bacia.

As especificidades do semiárido cearense necessita desses ajustes para uma percepção real dos fenômenos naturais e antrópicos que causam a instabilidade dos ecossistemas, tendendo à desertificação.

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