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O EMPREGO NA EUROPA 2005 TENDÊNCIAS RECENTES E PERSPECTIVAS. Síntese

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Comissão Europeia, Employment in Europe 2005 – Recent Trends and Prospects, Office

for Official Publications of the European Communities, Luxemburgo, 2005, 301 pp..

O EMPREGO NA EUROPA 2005 – TENDÊNCIAS RECENTES E PERSPECTIVAS

– Síntese –

O Emprego na Europa, cuja décima sétima edição foi recentemente divulgada, é uma obra de referência na área do emprego pela qualidade e interesse das análises que apresenta, bem como pela diversidade de temas incluídos em cada uma das suas edições, que procuram acompanhar e reflectir sobre questões actuais no âmbito da agenda europeia.

O relatório de 2005 subdivide-se em cinco capítulos, sendo um primeiro de âmbito mais global, onde é efectuada uma análise da evolução do mercado de trabalho ao nível da União Europeia (UE) e dos respectivos Estados Membros (EM), e os restantes dedicados a temas específicos, que vão variando em cada ano, tendo sido seleccionados, na presente publicação, a avaliação da Estratégia Europeia para o Emprego (EEE), as relações entre o emprego e a procura agregada, as disparidades salariais e os factores que determinam a distribuição salarial na UE e a população economicamente inactiva na UE.

1. Panorama dos mercados de trabalho europeus

Com base na informação disponível até meados de Junho de 2005, o primeiro capítulo apresenta uma análise global das tendências recentes, da situação em 2004 bem como das perspectivas de evolução no curto prazo dos mercados de trabalho europeus, comparando-os com outros parceiros económicos, designadamente os Estados Unidos da América (EUA) e o Japão.

Em 2004, o crescimento económico na UE situou-se em média nos 2,4%, mais 1,3 pontos percentuais (pp) face a 2003, tendo sido sustentado por um forte crescimento do Produto Interno Bruto mundial (5%) e do comércio internacional. Nesse mesmo período, o crescimento do emprego na UE foi ainda limitado, cerca de 0,6%, contrastando com os 1,1% registados nos EUA, sendo este o terceiro ano consecutivo em que a UE regista um crescimento fraco, em torno ou abaixo dos 0,5%.

Consequentemente, a taxa média de emprego para a UE aumentou de 0,4 pp face ao ano anterior, atingindo 63,3% em 2004, o que reflecte, principalmente, a subida das taxas de emprego das mulheres (de 55% em 2003 para 55,7%) e dos trabalhadores com idades entre 55 a 64 anos (de 0,8 pp, fixando-se em 41%). Apesar desta evolução positiva, as

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da UE, mantêm-se inferiores em 7 pp, 4 pp e 9 pp, respectivamente, face às metas previstas para 2010, definidas nos Conselhos Europeus de Lisboa e Estocolmo1. Por seu lado, a taxa média de desemprego da UE não se alterou face a 2003, permanecendo nos 9%, não obstante se ter registado um ligeiro aumento da taxa de desemprego de longa duração, que passou de 4% para 4,1%.

No ano em análise, a evolução do emprego ao nível dos EM foi, no geral, favorável, com o emprego a contrair em apenas quatro países, nomeadamente na Holanda (-1,3%), na Hungria (-0,5%), na Suécia (-0,5%) e na Eslováquia (-0,3%). No oposto, sete EM alcançaram um crescimento do emprego positivo acima de 1%, destacando-se a Irlanda, a Grécia, a Espanha e o Luxemburgo com um forte crescimento, acima de 2,5%. Após dois anos consecutivos de contracção do emprego, a Alemanha parece ter conseguido inverter esta tendência, tendo registado uma taxa de crescimento do emprego de 0,3%, o que segundo os autores poderá, muito possivelmente, resultar das mudanças institucionais implementadas no mercado de trabalho alemão no contexto das reformas Hartz. Para Portugal, o crescimento do emprego em 2004 situou-se nos 0,1%, o que representou uma evolução favorável face a 2003, onde o emprego contraiu de 0,4%.

No que respeita à taxa de desemprego, a Grécia, a Holanda e a Suécia registaram os maiores aumentos (acima de 0,7 pp) enquanto a Estónia e a Lituânia observaram as maiores diminuições, de 1 pp e 2 pp respectivamente. Considerando os EM de maior dimensão, na Alemanha a taxa de desemprego subiu cerca de 0,5 pp, tendo-se, inversamente, registado reduções de valor semelhante na Itália, Polónia e Espanha. A Polónia e a Eslováquia são os EM com as mais altas taxas de desemprego (18,8 e 18%, respectivamente), estando no extremo oposto o Luxemburgo, a Irlanda, a Áustria, a Holanda e Chipre, com taxas anuais situadas entre os 4 a 5%. Por seu lado, Portugal viu a sua taxa de desemprego subir de 6,3 em 2003 para 6,7% em 2004.

Em termos sectoriais, o sector dos serviços continuou a liderar a expansão do emprego entre 2003 e 2004, com um crescimento ligeiramente acima de 1%, contrastando com a agricultura e a indústria onde o emprego voltou a contrair em 2004, embora, no caso da indústria, as tendências mais recentes sugerirem que a contracção do emprego poderá estar a chegar ao fim. Nos últimos anos, a proporção de formas mais flexíveis de emprego, tais como emprego a tempo parcial e a termo certo, continuou a aumentar, representando a primeira 17,7% do emprego total e a segunda 13,7%. Contudo, a proporção de trabalhadores independentes manteve-se estável, em termos gerais, desde 2001.

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De salientar que, em 2004, Portugal regista uma diferença inferior a 2,5 pp relativamente à meta da taxa de emprego total para 2010, tendo já ultrapassado as metas definidas no caso da taxa de emprego feminina (61,7% face a 60%) e dos trabalhadores mais velhos (50,3% face a 50%), embora neste último caso tenha verificado um declínio de 1, 3 pp face a 2003.

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Ao nível da UE, o emprego de pessoas com idades entre 55 a 64 anos registou um crescimento moderado entre 1997 e 2000, tendo a partir daí conhecido um forte aumento, provavelmente em resultado do efeito das políticas para promover a participação dos trabalhadores mais velhos e das reformas do sistema de pensões e de aposentação antecipada do mercado de trabalho. A melhoria na taxa de emprego dos trabalhadores mais velhos foi uma característica generalizada em quase todos os EM, tendo a Finlândia, a França, a Hungria, a Letónia e a Holanda registado fortes crescimentos na ordem dos 7 pp. Apenas a Áustria, Chipre e a Grécia apresentaram aumentos pouco significativos enquanto a Polónia e Portugal foram os únicos EM cujas taxas diminuíram. Não obstante a melhoria generalizada, ao nível da UE, da taxa de emprego dos trabalhadores com idades entre 55 e 64 anos, os esforços terão de ser aumentados em ordem a se alcançar a meta definida para 2010 de uma taxa igual a 50%.

A situação de emprego dos jovens com idade entre 15 e 24 anos, que apresentam uma taxa de desemprego duas vezes superior à taxa de desemprego global e têm registado reduções da respectiva taxa de emprego desde 2002, é bastante preocupante, em particular para os jovens do sexo masculino, dada a evolução mais desfavorável face às mulheres. Contudo, a menor participação dos jovens no mercado de trabalho pode em parte ser explicada por uma maior participação em educação ou formação, sendo, nessa vertente, considerado um aspecto positivo na medida em que contribui para uma melhoria da sua empregabilidade. Por conseguinte, foi recentemente adoptado pelo Conselho Europeu o European Youth Pact, cujo objectivo principal é promover a educação, formação, mobilidade, integração profissional e inclusão social dos jovens europeus, de modo a facilitar a conciliação entre a vida profissional e familiar.

De acordo com o relatório, à medida que os efeitos do abrandamento económico se forem desvanecendo, o desempenho do mercado de trabalho, apoiado na moderação salarial, deverá começar a responder favoravelmente à retoma da actividade económica. Assim, o emprego na UE deverá crescer 0,7% em 2005 e 0,8% em 2006 e a taxa de desemprego deverá manter-se estável em 2005, diminuindo para 8,7% em 20062. Contudo, estas perspectivas positivas estão dependentes de um aumento generalizado da confiança empresarial e de um forte crescimento económico mundial. Os autores chamam ainda a atenção para o facto de a expectativa de uma melhoria no emprego não reduzir a necessidade de implementar mais reformas estruturais nos mercados de trabalho dos EM.

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Para Portugal, as previsões apontam para um crescimento do PIB ligeiramente acima de 1% em 2005, devendo aumentar para 1,7% em 2006. Por conseguinte, prevê-se que o emprego continuará com baixos níveis de crescimento na ordem dos 0,3% quer em 2005 quer em 2006.

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2. Avaliação da Estratégia Europeia para o Emprego

Como parte da revisão da estratégia de Lisboa em 2005, foram efectuadas diversas avaliações ao nível da UE, nomeadamente da EEE, sobre a qual incide este capítulo, desenvolvendo uma análise centrada em torno dos seus três objectivos principais: pleno emprego; qualidade e produtividade do trabalho; e reforço da coesão e da inclusão social.

Os anos 90 testemunharam uma série de mudanças profundas na Europa, com um grande impacto nos mercados de trabalho, nomeadamente: o mercado único; a introdução da moeda única; a entrada de três novos EM; a reunificação alemã; e profundas transformações num número de países da Europa Central e de Leste. Como é referido no relatório, todos estes acontecimentos tornam difícil isolar o impacto da EEE nos mercados de trabalho, para além do facto de a EEE ser parte integrante de um alargado leque de políticas de fortalecimento da economia na UE e, em particular, na área Euro.

O desempenho do mercado de trabalho depende, essencialmente, do crescimento económico e o facto do crescimento do PIB para o período 2001-2004 ter ficado bastante aquém do estimado aquando da definição das metas de Lisboa (1,5% face a 3%), justifica, em parte, os lentos progressos verificados em relação ao alcance dessas metas. No quadro seguinte poderá ter-se uma ideia da posição relativa de cada EM e dos respectivos progressos efectuados em relação às metas para 2010.

Ritmo do Progresso desde 1997 Taxas em 2004 (%)

Baixo Próximo da média Alto

TAXA DE EMPREGO TOTAL

> 70 DK, NL, SE, UK

65-70 AT CY, DE, FI, PT, SI IE

< 65 CZ, EE, LT, MT, PL,SK BE, EL, FR, HU, LU, LV ES, IT

TAXA DE EMPREGO FEMININA

> 60 AT, DK, EE, SI, UK FI, PT, SE NL

55-60 CZ, LT CY, DE, FR, LV IE

< 55 MT, PL, SK BE, EL, HU, LU ES, IT

TAXA DE EMPREGO DOS TRABALHADORES MAIS VELHOS

> 50 CY, EE, PT SE DK, FI, UK

40-50 CZ, ES IE, LV, NL, LT

< 40 AT, DE, EL, PL IT, LU, MT, SI, SK BE, FR, HU Fonte: Comissão Europeia, Employment in Europe 2005.

Notas: O ritmo de progresso é definido como o diferencial em pp das taxas de emprego entre 1997 e 2004, sendo o ritmo baixo, próximo da média ou alto calculado, em traços gerais, em relação à média da UE.

No que respeita ao primeiro dos três objectivos da EEE (promover o pleno emprego), a análise efectuada neste capítulo sustenta que, desde 1997, ocorreram melhorias

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estruturais nos mercados de trabalho europeus, graças às reformas implementadas em algumas áreas, nomeadamente políticas de competitividade e mercados de trabalho, embora subsistam problemas noutras áreas, como por exemplo o nível de tributação dos custos do trabalho ou as armadilhas do desemprego e de baixos salários. Com efeito, os progressos alcançados na diminuição das taxas de tributação sobre salários baixos ou no apoio à transição do desemprego ou inactividade para o emprego, especialmente para as pessoas com baixas qualificações, foram reduzidos. Quanto às melhorias estruturais, o relatório destaca o decréscimo, em termos médios, das taxas estruturais de desemprego, não obstante se ter registado um progresso insuficiente ou mesmo nulo em alguns dos maiores EM da UE (França e Alemanha) e ter ocorrido uma deterioração acentuada em alguns dos novos EM (Polónia e Eslováquia); a redução das taxas de desemprego de longa duração, assim como dos períodos médios de permanência no desemprego, em particular nos antigos EM da UE; a maior eficiência no ajustamento entre desempregados e ofertas de emprego, assim como uma evolução positiva da procura agregada de trabalho em vários EM; o processo de fixação de salários que tem em consideração, de forma crescente, as condições prevalecentes da economia e as restrições de competitividade; o desenvolvimento de certos tipos de contratos de trabalho, nomeadamente trabalho a tempo parcial e temporário, positivamente correlacionados com a criação de emprego e aumentos das taxas de emprego, embora, no que respeita ao segundo, se denote uma segmentação do mercado entre trabalhadores temporários e permanentes; e, por fim, o aumento da despesa em políticas activas do mercado de trabalho melhor direccionadas para as necessidades do mercado, com resultados positivos na criação de emprego.

Relativamente ao objectivo de melhoria da qualidade e produtividade no trabalho, o relatório refere que os resultados foram mistos, salientando que se observaram aumentos significativos da participação na aprendizagem ao longo da vida, bem como dos níveis de educação dos jovens, com o surgimento, neste segundo caso, de um diferencial favorável às mulheres. Contudo, são necessários maiores progressos no que respeita às transições de empregos temporários para permanentes ou de saída de emprego mal remunerados. Quanto à evolução da produtividade, registou-se um declínio nas respectivas taxas de crescimento na UE, desde meados da década de 90, colocando a Europa numa pior posição face aos EUA, e que pode ser explicado, em parte, pela maior criação relativa de empregos de baixa produtividade e, sobretudo, por um abrandamento no crescimento da produtividade total dos factores. Um baixo investimento em Investigação e Desenvolvimento (I&D), a dificuldade da UE em reorientar o investimento para sectores com maiores perspectivas de crescimento da produtividade e a dificuldade em produzir e absorver novas tecnologias, mais baseadas em conhecimento, são aspectos que

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influenciam a produtividade total dos factores, sendo necessário ultrapassar estas dificuldades.

Quanto ao terceiro objectivo, reforçar a coesão e inclusão social, é referido que os diferenciais de género e de idade no mercado de trabalho foram, em certa medida, reduzidos e que as transferências sociais (outras que não as pensões) desempenharam um papel importante na redução das desigualdades dos rendimentos, reduzindo significativamente as taxas de risco de pobreza em muitos EM. Também a passagem do desemprego para o emprego reduz a probabilidade de ficar exposto ao risco da pobreza, sendo o emprego um factor chave para a inclusão social, não apenas porque aumenta o rendimento como promove por si próprio a inclusão social e a progressão pessoal e profissional. Contudo, há que considerar a possibilidade do recente abrandamento da actividade económica, conjugado com o aumento do desemprego e das menores oportunidades de emprego, vir a expor mais pessoas ao risco da pobreza e exclusão social, assim como agravar a situação daqueles que já enfrentam esse risco.

3. Emprego e procura agregada

O terceiro capítulo incide sobre a importância da procura interna para a criação de emprego, dado que apesar da evolução positiva no mercado de trabalho resultante das reformas implementadas, as medidas de política para o emprego não são suficientes para a resolução dos problemas.

A recuperação económica iniciada na segunda metade de 2003 tem sido caracterizada por uma lenta progressão do emprego, reflectindo a resposta limitada do mercado de trabalho ao longo do prolongado ciclo de abrandamento da actividade económica, pelo que não se deverá excluir o risco de uma retoma com baixo crescimento do emprego. Por outro lado, esta retoma poderá ser afectada pela persistente fraqueza da procura interna na Alemanha, através dos possíveis efeitos de repercussão no conjunto da UE, assim como pela escalada dos preços energéticos que poderá influenciar negativamente a confiança económica, aumentando a incerteza quanto à sustentabilidade e duração da recuperação.

O crescimento do PIB na UE-15 situou-se sensivelmente ao mesmo nível nos ciclos descendentes de 2001-2003 e de 1992-1994, contudo, nos EM o comportamento foi diversificado: a Alemanha, a Holanda e a Polónia registaram um pior desempenho em 2001-2003 face a 1992-1994, devido sobretudo à fraqueza ou estagnação da procura interna, tendo-se verificado a situação inversa na França, Espanha, Itália e Reino Unido, em resultado de uma mais forte procura interna. Deste modo, o potencial impacto de choques desfavoráveis da procura nos mercados de trabalho é um aspecto que parece assumir bastante relevância para algumas economias da UE, nomeadamente a Alemanha.

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Neste âmbito, uma das conclusões do relatório é que factores desequilibrantes tais como choques/ perturbações da procura não têm, aparentemente, um efeito pronunciado no longo prazo quer no produto quer no desemprego, contudo no curto e médio prazo contribuem para as flutuações do produto. Esta conclusão, em conjunto com a constatação da elevada persistência dos resultados do mercado de trabalho e, em particular, da taxa de desemprego, aponta para a importância da qualidade da política macroeconómica de estabilização.

Neste âmbito, o relatório ressalva que uma política fiscal discricionária poderá ter um efeito desestabilizador na actividade económica e logo um impacto negativo no mercado de trabalho, dado estar sujeita a vários desfasamentos (nomeadamente entre o tempo que medeia desde o reconhecimento de uma situação que exige uma intervenção até à implementação de uma acção apropriada), às condições prevalecentes na área euro, assim como à variabilidade da resposta política das autoridades monetárias. Contudo, os estabilizadores automáticos não são afectados pelos diversos problemas potenciais da política fiscal discricionária, embora, pela sua natureza, possam apenas atenuar e não contrabalançar totalmente os efeitos dos choques.

Na revisão do Pacto de Estabilidade e Crescimento, foi atribuído um âmbito mais alargado à estrutura de supervisão comunitária para a política fiscal, dado que as políticas económicas e orçamentais têm de estabelecer as prioridades mais adequadas às reformas económicas, à inovação, à competitividade e ao fortalecimento do investimento privado e do consumo em fases de fraco crescimento económico, de modo a contribuir para os objectivos económicos enunciados na renovada estratégia de Lisboa. Assim, espera-se que o maior enfoque na sustentabilidade do défice, juntamente com a maior ponderação dada às especificidades económicas de cada país e às circunstâncias orçamentais na definição dos objectivos de médio prazo do PEC, estimule as despesas de investimento em capital físico e de conhecimento (quer capital humano quer I&D), aumentando, por essa via, a capacidade produtiva da economia do médio para o longo prazo. Por outro lado, foi também previsto o estabelecimento de um mecanismo político económico mais favorável ao processo de implementação de reformas estruturais suplementares nos EM, que permita desvios temporários dos objectivos de médio prazo do PEC quando necessário.

4. Disparidades salariais e determinantes da distribuição salarial na UE

A estrutura e a evolução salarial reflectem aspectos essenciais da economia e da sociedade, como por exemplo as características individuais (idade, sexo, qualificações), as especificidades das empresas (dimensão, localização, capital físico, tecnologia, organização do trabalho), o nível de integração económica assim como o enquadramento

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institucional e de negociação colectiva, sendo, desta forma, uma questão central para a modernização da Europa, na procura do equilíbrio entre eficiência e equidade, para a prossecução do crescimento económico conciliado com maior coesão social.

Ao nível da UE-25 não é possível identificar uma tendência generalizada de agravamento das desigualdades salariais, ao contrário do que acontece com os EUA, dado dependerem fortemente de elementos específicos de cada EM. Assim, enquanto no Reino Unido, na Polónia e na Dinamarca se verificaram desigualdades crescentes de ganhos nos anos 90, na França diminuíram ligeiramente e mantiveram-se relativamente estáveis na Suécia. Também não se denota uma relação precisa entre o nível de desigualdade salarial, por um lado, e desempenho do mercado de trabalho e económico, por outro, não obstante os países escandinavos terem os menores níveis de desigualdades salariais e, simultaneamente, um bom desempenho económico e do mercado de trabalho.

Com base no Inquérito à Estrutura de Ganhos (IEG), do Eurostat, em 2002, havia grandes disparidades salariais entre a UE-15 e os novos EM da Europa Central e de Leste, onde os ganhos médios anuais eram duas a quatro vezes menores. As desigualdades salariais eram também significativas dentro dos próprios EM, nomeadamente na Estónia, Letónia, Lituânia, Polónia e Eslovénia. Comparando resultados sobre o nível geral de desigualdades salariais entre meados dos anos 90 e 2002, a Polónia e a Espanha são dois EM que sobressaem: o primeiro, por ter claramente aumentado o seu nível geral de desigualdade e o segundo pela razão inversa.

Ressalvando o facto de o IEG conter informação limitada sobre a dimensão regional, o relatório refere que a localização geográfica de uma região, designadamente a proximidade de uma capital ou uma região de fronteira dinâmica, parece desempenhar um papel na diferenciação salarial. Assim, as capitais ou cidades de maior dimensão apresentavam, tendencialmente, maiores desigualdades salariais relativamente às regiões periféricas, devido, em parte, ao facto de atraírem mais trabalhadores com níveis de escolaridades superiores e/ou altamente qualificados.

Na UE-25, em 2002, o sector dos serviços registava um ganho médio anual ligeiramente superior ao da indústria, embora se verificasse a situação contrária em alguns EM, designadamente na Alemanha, Áustria, Noruega, Irlanda, Grécia e Holanda. Dentro dos serviços as disparidades salariais eram tendencialmente superiores face à indústria, destacando-se a intermediação financeira como a actividade com ganhos médios mais elevados por oposição aos hotéis e restaurantes com os mais baixos.

Algumas características das empresas, nomeadamente a sua dimensão e a existência de esquemas específicos de recompensa (tais como bónus ou prémios), têm, em geral, um impacto positivo nos ganhos. Por outro lado, a adopção de novos métodos de organização

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do trabalho ou um maior envolvimento em actividades de I&D tendem a originar uma mais alta dispersão de salários, dado que ambos favorecem o recrutamento de trabalhadores com maiores qualificações e capacidade de adaptação. Quanto mais qualificado for o trabalhador ou o nível profissional ocupado maior será o prémio salarial, o que traduz a importância do capital humano na questão do emprego e perspectivas de carreira. No oposto, trabalhadores com qualificações médias ou baixas ou com contratos a termo ou a tempo parcial ganham menos em média.

Ao nível da UE, a análise da dimensão género nas disparidades de ganhos demonstra que, em 2002, as mulheres com um trabalho a tempo inteiro ganhavam em média cerca de 77% dos ganhos horários dos homens, em termos brutos. Uma análise mais detalhada, utilizando algumas técnicas econométricas simples, indicou que o diferencial de ganhos por género variava entre 14% (Noruega) e 32% (Estónia). Mantendo as restantes características constantes, nomeadamente o nível profissional ocupado (que desempenha um papel importante no persistente hiato entre os ganhos dos homens e das mulheres), verifica-se, no sector privado, um diferencial médio de género na ordem dos 17,6%.

Por último, o relatório refere que as instituições e as políticas do mercado de trabalho aparentam ter um efeito atenuante nas desigualdades de ganhos e, mais especificamente, a negociação colectiva parece contribuir para a redução da dispersão salarial.

5. A população economicamente inactiva na UE

A população inactiva na União Europeia é abordada neste capítulo de forma pormenorizada, nomeadamente a sua dimensão, estrutura e características, bem como as razões da inactividade, podendo, deste modo, contribuir para uma melhor orientação das políticas que visam atrair um maior número de pessoas para o emprego, assegurando a sua integração sustentável no mercado de trabalho, tal como preconizado na renovada estratégia de Lisboa.

Segundo o relatório, a relativamente baixa taxa de emprego da União Europeia (63,3%) indicia que existe na Europa uma reserva substancial de trabalho disponível, havendo ainda uma margem de manobra considerável para aumentar a participação no mercado de trabalho, em especial da população jovem e dos mais velhos. Em 2004, a população inactiva com idade compreendida entre os 15 e os 64 anos, na UE-25, ascendia a cerca de 92 milhões de pessoas, o que correspondia a uma taxa média de inactividade de 30,3%. Ao nível dos EM, a Dinamarca era o país com menor proporção de população inactiva (19,9%) por oposição à Hungria e Malta com cerca de 40%. Em todos os EM, a proporção de mulheres inactivas era superior face aos homens, registando-se um diferencial médio de

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16 pp para a UE-25. A população inactiva repartia-se de forma mais ou menos equitativa pelos três grandes grupos etários (15-24, 25-55 e 55-64 anos).

A incidência da inactividade era superior nos indivíduos com menores níveis de qualificação relativamente aos que detinham qualificações médias e altas (47% contra 24,5% e 13,1%, respectivamente). Quanto à composição da população inactiva, não obstante ser constituída maioritariamente por pessoas com baixas qualificações (53%), integrava igualmente uma proporção considerável de indivíduos com qualificações médias (39%). Assim, para reduzir a inactividade, as políticas activas do mercado de trabalho deverão ter como grupo alvo quer os indivíduos com baixas qualificações quer os que detêm qualificações médias ou altas, dado que não só é necessário ter um nível adequado de qualificações, como é importante que estas sejam às mais ajustadas às exigências do mercado de trabalho.

Nos últimos anos, ao nível da UE, tem-se verificado um decréscimo da proporção de inactivos na população com 15 a 64 anos, em resultado da entrada no mercado de trabalho de um número crescente de mulheres com mais de 25 anos e da entrada ou saída mais tardia de homens e mulheres com 55 a 64 anos. Em contrapartida, as taxas de inactividade dos homens com 25 a 54 anos pouco se alteraram, enquanto os jovens de ambos os sexos verificaram mudanças significativas, com taxas de inactividade a aumentar cerca de 1,5 pp, no período de 2000 a 2004.

As principais razões para a inactividade, por ordem decrescente de importância eram: educação ou formação (32,5%), reforma (20%), responsabilidades familiares ou pessoais (16%), doença ou incapacidade (13%) e desencorajamento por acreditar não haver empregos disponíveis (4,5%). Educação ou formação era o principal motivo da inactividade entre os jovens de 15 a 24 anos (cerca de 86%), pelo que excluindo este grupo etário, a percentagem de inactivos por esse motivo cai abruptamente para 4,7%. Por outro lado, desagregando por género, as responsabilidades familiares ou pessoais assumiam maior importância para as mulheres do que a reforma (25% face a 17%), verificando-se o inverso para os homens. O relatório refere ainda que, nos últimos 10 anos, a proporção de mulheres inactivas por responsabilidades familiares ou pessoais diminuiu cerca de 13 pp, o que se poderá dever a melhores equipamentos públicos de apoio social, maiores rendimentos que permitem suportar os encargos com instituições privados, licenças parentais mais prolongadas, menor taxa de fertilidade ou mudanças de normas culturais e sociais.

Políticas para aumentar a participação no mercado de trabalho, mobilizando a força de trabalho de reserva, deverão actuar quer ao nível dos fluxos de entrada na inactividade, retardando a saída dos trabalhadores mais velhos, quer ao nível dos fluxos de saída,

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facilitando a inserção dos jovens na vida activa. Entre 2003 e 2004, cerca de 9,5% dos inactivos passaram para o emprego e 4,2% tornaram-se desempregados, enquanto 3% da população empregada e 21,6% dos desempregados deixaram a força de trabalho. O principal motivo pelo qual os desempregados saíam do mercado de trabalho era por deixarem de procurar emprego dado acreditarem que não havia nenhum disponível, o que demonstra que a sua saída não está tão relacionada com factores institucionais, nomeadamente o sistema de protecção ou de reforma antecipada, como com o próprio funcionamento do mercado de trabalho.

Outros factores a ter em conta são o tempo de permanência fora do mercado de trabalho e a experiência anterior de trabalho. Assim, mais de 40% da população inactiva com 15 a 64 anos nunca teve um emprego, 23% está sem emprego há oito e mais anos e aproximadamente 15% teve um emprego há menos de dois anos. Consequentemente, o relatório defende que políticas para prevenir a saída do mercado de trabalho poderão ser mais eficazes do que aquelas que pretendem “reactivar” as pessoas, dado que a maior parte da população inactiva não tem uma experiência recente de trabalho.

Num contexto de crescente complexidade do mercado de trabalho, torna-se cada vez mais difícil delimitar as fronteiras entre algumas situações de desemprego e inactividade. A população inactiva compreende, grosso modo, a população fora da força de trabalho, ou seja, aquela que não tem nem um emprego nem está desempregada, abrangendo desta forma um grupo muito diverso de pessoas no que respeita à sua proximidade ao mercado de trabalho. Por seu lado, a definição convencional de desemprego requer que aqueles que não têm emprego, tenham procurado activamente um trabalho nas quatro semanas anteriores ao momento da inquirição e queiram trabalhar, estando disponíveis para o fazer nas duas semanas seguintes. Assim, basta não cumprir um destes critérios – por exemplo não procurar activamente um trabalho, por considerar não ter idade adequada, habilitações suficientes ou não haver empregos disponíveis na zona, ou não estar disponível para começar um trabalho nas duas semanas seguintes – para se ser classificado como inactivo. Em 2004, mais de 8% da população inactiva da UE-25 estava inscrita num serviço público de emprego e 14% dos inactivos (23% considerando os que tinham entre 25 e 54 anos) queriam trabalhar.

Diversas categorias de inactivos têm tendência para o trabalho similar aos desempregados, o que sugere que a oferta potencial de trabalho se estende bem para além do convencionalmente definido como desemprego e a população inactiva constitui uma parte importante da mesma. Uma vez que esta oferta potencial de trabalho não enfrenta apenas constrangimentos do lado da oferta (tais como salários de reserva elevados, baixas qualificações ou características individuais desvantajosas) e dada a forte

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correlação da inactividade com o desemprego, uma resposta eficaz à necessidade de mobilizar a força de trabalho terá, então, de consistir num conjunto coerente de políticas activas do mercado de trabalho conjugadas com outras medidas que tenham por objectivo a criação de emprego e de oportunidades de trabalho, de modo a assegurar uma integração sustentável na vida activa.

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