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Iniciemos pelo escopo da Lei 6.766/79.

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AS NORMAS FEDERAIS SOBRE PARCELAMENTO DO SOLO URBANO (CONCEITUAÇÃO, ESPÉCIES, EXIGÊNCIAS OBRIGATÓRIAS, PROCEDIMENTO DA LEI 6.766/79*)

Suely Mara Vaz Guimarães de Araújo1

Arquiteta e advogada. Consultora Legislativa da Câmara dos Deputados desde 1991.

Antes de tudo, gostaria de agradecer o honroso convite que me foi feito pela Promotoria de Justiça de Defesa da Ordem Urbanística para participar deste importante evento e cumprimentar a todos os presentes na pessoa do coordenador dos trabalhos desta sessão, Dr. Gilson Paranhos, meu colega arquiteto e Presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento do Distrito Federal.

Conforme solicitado pela Dra. Ana Luiza Leão Osório, centrarei a minha apresentação nas principais normas federais que regulam o parcelamento do solo urbano, especialmente no conteúdo da Lei 6.766/79, alterada parcialmente pela Lei 9.785/99. Como esta é a primeira exposição do Debate sobre a Realidade Urbana do Distrito Federal, pretendo fazer um painel sobre a legislação federal em vigor, que possa subsidiar os participantes na compreensão e na análise das demais apresentações que ocorrerão no âmbito deste seminário.

Iniciemos pelo escopo da Lei 6.766/79.

O art. 1o da lei em questão afirma que ela regula o parcelamento do solo para fins urbanos e que os estados, o Distrito Federal e os municípios podem estabelecer normas complementares relativas ao tema. O que deve ser entendido, então, por “parcelamento do solo para fins urbanos”?

* Palestra proferida em 21.11.01 por Suely Mara Vaz Guimarães de Araújo1 no Debate sobre a “Realidade Urbana do Distrito Federal: Futuro da Capital”, organizado pela Fundação Escola Superior do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, pela Escola da Magistratura do Distrito Federal e pela Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Distrito Federal.

1 Coordenou o 6o Núcleo, área XI, da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados (meio ambiente e direito ambiental, desenvolvimento urbano e direito urbanístico, desenvolvimento regional) de 1998 a 2001.

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Têm fins urbanos os parcelamentos destinados a residência, comércio, serviço ou indústria, ou melhor, todos aqueles não relacionados diretamente à produção agropecuária ou à recreação em áreas rurais. Devem ser considerados, também, como parcelamentos para fins urbanos, os parcelamentos destinados exclusivamente a residência, comércio, serviço ou indústria implantados em área rural, contrariando o caput do art. 3o da Lei 6.766/79, o qual somente admite o parcelamento do solo para fins urbanos em zonas urbanas, de expansão urbana ou de urbanização específica, assim definidas pelo plano diretor ou aprovadas por lei municipal.

Acho questionável a inserção da referência a zonas de urbanização específica feita no caput do art. 3o da Lei 6.766/79 pela Lei 9.785/99, sem a correspondente definição. Entendo ainda que, na maior parte das vezes, traz poucos benefícios a delimitação pelo município de zonas de expansão urbana, uma vez que nelas são também admitidos os parcelamentos para fins urbanos.

Pessoalmente, optaria por trabalhar apenas com áreas urbanas e áreas rurais. A área urbana, por sua vez, seria subdividida em área urbanizada e área urbanizável. A área urbanizada corresponderia à porção da área urbana com infra-estrutura básica e equipamentos comunitários instalados e em funcionamento. A área urbanizável corresponderia à porção da área urbana, ainda não urbanizada, que reúna condições legais de utilização para fins urbanos e onde seja técnica e economicamente viável a instalação e a manutenção de infra-estrutura básica e equipamentos comunitários.

A Lei 6.766/79 prevê que o parcelamento do solo urbano pode ser feito mediante loteamento ou desmembramento, observadas as disposições por ela estabelecidas e as normas estaduais e municipais. Não obstante a lei federal referir-se apenas a loteamento e desmembramento, há outras modalidades de parcelamento do solo urbano: o reparcelamento ou desdobro, o parcelamento em condomínio ou condomínio urbanístico e o remembramento. Parte das disposições da Lei 6.766/79, inclusive, como as exigências ambientais constantes do parágrafo único de seu art. 3o, aplicam-se, em meu entender, a todas as modalidades de parcelamento, não apenas aos loteamentos e desmembramentos.

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Passemos, então, à definição de cada uma das modalidades de parcelamento do solo urbano.

Considera-se loteamento a subdivisão de gleba em lotes destinados à edificação, com abertura de novas vias de circulação, de logradouros públicos ou prolongamento, à modificação ou à ampliação das vias existentes. Considera-se desmembramento a subdivisão de gleba em lotes destinados à edificação, com aproveitamento do sistema viário existente, desde que não implique na abertura de novas vias e logradouros públicos, nem no prolongamento, modificação ou ampliação dos já existentes.

Diante dessas duas definições, constantes da Lei 6.766/79, tem-se: (1) tanto o loteamento, quanto o desmembramento, referem-se a parcelamento de gleba; e (2) as duas modalidades diferenciam-se pela realização, ou não, de alterações nas vias de circulação ou logradouros públicos.

O que é gleba?

Gleba é a área de terreno que ainda não foi objeto de loteamento ou desmembramento regular, isto é, aprovado e registrado. Após o registro do parcelamento, o imóvel deixa de existir juridicamente como gleba e passa a existir juridicamente como coisa loteada ou desmembrada, composta de lotes e áreas públicas (vias de circulação, praças e outros espaços livres, áreas destinadas a equipamentos urbanos e comunitários etc., constantes do projeto e do memorial descritivo).

Podem ser apresentadas duas definições de lote, a técnica e a legal. Tecnicamente, lote é a parcela de terra resultante do loteamento ou desmembramento, destinada à edificação ou à recreação. No art. 2o da Lei 6.766/79, alterado pela Lei 9.785/99, consta outra definição: considera-se lote o terreno servido de infra-estrutura básica cujas dimensões atendam aos índices urbanísticos definidos pelo plano diretor ou lei municipal para a zona em que se situe. No mesmo dispositivo da lei, ficam estabelecidos como integrantes da infra-estrutura básica os equipamentos urbanos de escoamento de águas pluviais, a iluminação pública, as redes de esgoto sanitário e abastecimento de água potável, as redes de energia elétrica e domiciliar e as vias de circulação, pavimentadas ou não.

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Ao que parece, o legislador federal pretendeu, com a mencionada definição, garantir a implantação de infra-estrutura completa nos parcelamentos urbanos. Um terreno sem a infra-estrutura exigida legalmente não é lote. Cabe notar, no entanto, que os equipamentos componentes da definição de infra-estrutura básica não constituem, sempre, obras a cargo do loteador. O inciso V do caput do art. 18 da Lei 6.766/79 dispõe que as obras mínimas a cargo do loteador são a execução das vias de circulação, a demarcação dos lotes, quadras e logradouros e as obras de escoamento de águas pluviais, listagem que pode ser ampliada por legislação estadual ou municipal.

Sobre o tema infra-estrutura, merece ser ainda mencionado o § 6o do art. 2o da Lei 6.766/79, o qual estabelece que a infra-estrutura básica dos parcelamentos situados em Zonas Habitacionais declaradas por lei como de Interesse Social (ZHIS) consiste, no mínimo, de vias de circulação, escoamento de águas pluviais, rede para o abastecimento de água potável e soluções para o esgotamento sanitário e para a energia elétrica domiciliar. Mesmo sabendo que a intenção do legislador nesse tópico foi a de diminuir o custo dos lotes direcionados à população de baixa renda, é evidente que a redução de exigências para as ZHIS contém elementos de segregação social. Para os lotes situados nessas áreas, a lei deixa de requerer a iluminação pública e contenta-se apenas com “soluções” para o esgotamento sanitário e para a energia elétrica domiciliar. No que se refere à iluminação pública e à energia elétrica, não consigo aceitar a redução de exigências, diretamente associada a uma queda na qualidade de vida. No que se refere ao esgotamento sanitário, entendo que a rede não deve ser sempre obrigatória, nem mesmo fora das ZHIS, uma vez que, em determinados casos, o sistema fossa séptica/sumidouro é plenamente aceitável.

Como já mencionei anteriormente, além do loteamento e do desmembramento, há outras modalidades de parcelamento do solo urbano. Passemos a elas.

O reparcelamento ou desdobro consiste no fracionamento do lote e não da gleba. A Lei 6.766/79 equipara o reparcelamento ao desmembramento no parágrafo único de seu art. 11, que dispõe que o município, ou o Distrito Federal quando for o caso, fixará os requisitos exigíveis para a aprovação de “desmembramento de lotes” decorrentes de loteamentos cuja destinação de área pública tenha sido inferior à mínima prevista no § 1o do art. 4o da lei.

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Deve-se dizer que, em princípio, o reparcelamento não dispensa aprovação e registro nos termos da Lei 6.766/79. Na jurisprudência, encontram-se posições em favor da dispensa de registro especial (art. 18 da Lei 6.766/79), bastando averbação, quando não houver razão jurídica para a exigência por desnecessidade de tutela urbanística e de proteção dos adquirentes dos lotes quanto à liquidez do domínio e à segurança do negócio.

O parcelamento em condomínio ou condomínio urbanístico consiste na constituição de condomínio em gleba ou em lote, com a definição de unidades autônomas para fins urbanos e áreas de uso comum dos condôminos, que incluem as vias de circulação interna.

A única referência ao parcelamento em condomínio em lei federal é encontrada no art. 8o da Lei 4.591/64, que dispõe:

“Art. 8o Quando, em terreno onde não houver edificação, o proprietário, o promitente comprador, o cessionário deste ou o promitente cessionário sobre ele desejar erigir mais de uma edificação, observar-se-á também o seguinte:

a) em relação às unidades autônomas que se constituírem em casas térreas ou assobradadas, será discriminada a parte do terreno ocupada pela edificação e também aquela eventualmente reservada como de utilização exclusiva dessas casas, como jardim ou quintal, bem assim a fração ideal do todo do terreno e de partes comuns, que corresponderá às unidades;

b) em relação às unidades autônomas que constituírem edifícios de dois ou mais pavimentos, será discriminada a parte do terreno ocupada pela edificação, aquela que eventualmente for reservada como de utilização exclusiva, correspondente às unidades do edifício, e ainda a fração ideal do todo do terreno e de partes comuns, que corresponderá a cada uma das unidades;

c) serão discriminadas as partes do total do terreno que poderão ser utilizadas em comum pelos titulares de direito sobre os vários tipos de unidades autônomas;

d) serão discriminadas as áreas que se constituírem em passagem comum para as vias públicas ou para as unidades entre si.” Algumas leis municipais têm previsto a figura do loteamento fechado, parcelamento implantado segundo a Lei 6.766/79, mas cujas vias públicas internas são posteriormente objeto de concessão, permissão ou autorização

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de uso outorgada pelo Poder Público municipal a uma associação constituída pelos moradores.

Entendo que esses loteamentos fechados não têm sustentação jurídica, são nulos.

O fechamento do perímetro do loteamento por muros ou cercas e o conseqüente uso exclusivo das vias públicas contraria todo o espírito das normas sobre loteamento constantes da Lei 6.766/79. A lei inclui como requisito urbanístico para os loteamentos a articulação das vias a serem implantadas com as vias adjacentes. A lei exige a reserva de áreas para implantação de equipamentos públicos de educação, cultura, saúde e recreação, que, como as vias de circulação, também passam para o domínio do município no ato de registro do parcelamento e serão utilizadas por toda a coletividade.

Além disso, o uso privativo de vias públicas, bens de uso comum do povo, deve ser admitido apenas excepcionalmente, não como regra, e os contratos de concessão ou permissão exigem licitação.

Sei que os loteamentos fechados têm fortes defensores, inclusive entre juristas importantes. TOSHIO MUKAI, por exemplo, sustenta a possibilidade de firmarem-se contratos de concessão ou permissão de uso de vias públicas no caso de loteamentos implantados na forma da Lei 6.766/79, com base na dispensa de licitação por inviabilidade de competição.

Não obstante, para a implantação de empreendimentos com perímetro fechado e o controle de acesso de não-moradores impõe-se, em minha opinião, o regime condominial. Não aceito o loteamento fechado, apenas o condomínio urbanístico, nas áreas da cidade onde a legislação municipal prevê a possibilidade de sua implantação. No regime condominial, a obrigação de instalação e manutenção de infra-estrutura e equipamentos internos é dos condôminos. Não há apropriação de investimentos públicos por um grupo específico de pessoas.

Finalmente, como última modalidade de parcelamento do solo urbano, tem-se o remembramento, que consiste no reagrupamento de lotes contíguos para constituição de lotes maiores.

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Na seqüência, analisaremos as exigências ambientais a que estão sujeitos os parcelamentos do solo para fins urbanos. Em nível federal, há exigências constantes da Lei 6.766/79 e exigências constantes da legislação ambiental propriamente dita que se aplicam aos parcelamentos.

As exigências ambientais constantes da Lei 6.766/79 estão reunidas em um único dispositivo. Notem que a preocupação fundamental, nesse dispositivo, diz respeito à proteção da segurança e das condições de vida dos futuros habitantes do parcelamento. O parágrafo único do art. 3o da lei veda o parcelamento do solo:

– em terrenos alagadiços e sujeitos a inundações, antes de tomadas as providências para assegurar o escoamento das águas; – em terrenos que tenham sido aterrados com material nocivo à saúde pública, sem que tenham sido previamente saneados; – em terrenos com declividade igual ou superior a 30%, salvo se atendidas exigências específicas das autoridades competentes; – em terrenos onde as condições geológicas não aconselham a edificação; e

– em áreas de preservação ecológica ou naquelas onde a poluição impeça condições sanitárias suportáveis, até sua correção. Entre as exigências ambientais estabelecidas em outras leis federais, deve ser destacado o licenciamento ambiental perante o órgão competente integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA). Todos os empreendimentos e as atividades potencialmente poluidores ou causadores de degradação ambiental, nos quais estão incluídas as diferentes modalidades de parcelamento do solo, devem obter as devidas licenças ambientais, na forma da Lei 6.938/81 (Lei da Política Nacional do Meio Ambiente) e seu regulamento, e da Resolução 237/97 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). No caso de empreendimentos potencialmente causadores de “significativo” impacto ambiental, exige-se, para a concessão da licença, Estudo prévio de Impacto Ambiental (EIA), consoante determinação da própria Constituição Federal. A Resolução 01/86 do CONAMA demanda expressamente EIA para projetos urbanísticos acima de 100ha ou menores, em áreas de importância do ponto de vista ambiental, bem como para distritos industriais e Zonas Estritamente

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Industriais (ZEI). A legislação do Distrito Federal vai além e, pelo que fui informada, exige EIA para quaisquer parcelamentos urbanos.

Há de ficar clara a diferença entre o EIA e o Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV), agora regulado pela Lei 10.257/01 (Estatuto da Cidade). No EIV, requisito prévio para a concessão de licenças e autorizações municipais e não da licença ambiental, que em regra é estadual, são ponderados os efeitos positivos e negativos do empreendimento proposto essencialmente quanto à qualidade de vida da população residente na área e suas proximidades. São analisadas no EIV, no mínimo, as seguintes questões: adensamento populacional; equipamentos urbanos e comunitários; uso e ocupação do solo; valorização imobiliária; geração de tráfego e demanda por transporte público; ventilação e iluminação; paisagem urbana e patrimônio cultural. No EIA, o campo de análise é muito mais amplo.

Aplicam-se aos parcelamentos urbanos as restrições de edificação relativas às Áreas de Preservação Permanente (APP), definidas e delimitadas pela Lei 4.771/65 (Código Florestal) e pela Resolução 04/85 do CONAMA, atualmente em processo de reformulação. As normas federais protegem na forma de APP a vegetação situada:

– ao longo da margem dos corpos d´água, em faixa que varia de 30 a 500 metros;

– nas encostas ou partes destas com declividade superior a 45o, equivalente a 100% na linha de maior aclive;

– nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues; – nas bordas dos tabuleiros ou chapadas a partir da linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 metros em projeções horizontais; e

– em altitude superior a 1.800 metros.

Existe um grande debate em torno da validade, ou não, dos limites de APP previstos pelo Código Florestal para áreas urbanas. A polêmica é gerada pela redação pouco precisa do parágrafo único do art. 2o da Lei 4.771/65, o qual, ao mesmo tempo em que remete os limites de APP em áreas urbanas para os planos diretores e a legislação urbanística municipal, manda observar os

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princípios e os limites estabelecidos de forma geral pelo Código Florestal. Na minha opinião, os limites da Lei 4.771/65, inclusive as faixas marginais ao longo dos corpos d´água, aplicam-se também às áreas urbanas. Se os limites devem ser menos rígidos para as cidades, a lei federal tem de ser alterada.

As APP têm natureza jurídica de limitação administrativa. Assim, cabe parcelamento do solo em áreas que apresentam APP, desde que sejam respeitadas as normas de proteção.

A supressão de vegetação em APP pode ocorrer apenas excepcionalmente, em casos de utilidade pública ou interesse social, mediante autorização prévia do órgão competente integrante do SISNAMA. No caso de áreas urbanas, a MP 2.166 admite que essa autorização seja efetivada por órgão municipal, desde que o município possua conselho de meio ambiente e plano diretor, com anuência prévia do órgão estadual.

Além das exigências relacionadas ao licenciamento ambiental e ao Código Florestal, há uma série de exigências específicas estabelecidas pelos zoneamentos ambientais que devem ser observadas pelos parcelamentos urbanos.

Finalizadas, então, as exigências ambientais, devemos analisar os requisitos urbanísticos para os loteamentos constantes da Lei 6.766/79. Nesse assunto, a atenção deve estar centrada no conteúdo do art. 4o dessa lei.

Primeiramente, a Lei 6.766/79 exige a previsão de áreas públicas, destinadas a sistemas de circulação, implantação de equipamentos urbanos e comunitários, bem como a espaços livres de uso público, as quais devem ser proporcionais à densidade de ocupação prevista pelo plano diretor ou aprovada por lei municipal para a respectiva zona. A redação original da lei previa a reserva para esse fim de não menos que 35% da gleba, salvo nos loteamentos destinados a uso industrial com lotes maiores que 15.000 m2, mas essa norma não vige mais. Mencione-se que a supressão do percentual mínimo de 35% pela Lei 9.785/99 tem sido questionada por alguns técnicos, preocupados com a repercussão negativa no caso de municípios que não possuem legislação urbanística consistente.

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O art. 17 da Lei 6.766/79 dispõe que as áreas públicas não podem ter sua destinação alterada pelo loteador, desde a aprovação do projeto, salvo nas hipóteses de caducidade da licença ou, na forma da lei, de desistência do loteador. O art. 22 estabelece que, desde a data de registro do loteamento, passam a integrar o domínio do município as vias e praças, os espaços livres e as áreas destinadas a edifícios públicos e outros equipamentos urbanos, constantes do projeto e do memorial descritivo.

No rol dos requisitos urbanísticos, a Lei 6.766/79 exige lotes com área mínima de 125 m2 e frente mínima de 5 metros, salvo nos loteamentos destinados à urbanização específica ou à edificação de conjuntos habitacionais de interesse social previamente aprovados pelos órgãos competentes.

Exige, também, a reserva de faixa non aedicandi de 15 metros ao longo de rodovias, ferrovias e dutos. No caso da faixa ao longo de águas correntes e dormentes, valem, em meu entender, as determinações do Código Florestal e não da Lei 6.766/79.

Por fim, a Lei 6.766/79 exige que as vias do loteamento sejam articuladas com as vias adjacentes oficiais, existentes ou projetadas, e harmonizadas com a topografia local.

Além desses requisitos, constantes dos incisos I a IV de seu art. 4o, a Lei 6.766/79 explicita que a legislação municipal deve estabelecer usos permitidos e índices urbanísticos de parcelamento e ocupação do solo, naturalmente com exigências mais rígidas que as constantes da legislação federal ou da estadual, e que o Poder Público competente, na maioria dos casos a Prefeitura, pode exigir a reserva de faixa non aedicandi destinada a equipamentos urbanos (abastecimento de água potável, serviços de esgotamento sanitário, energia elétrica, coleta de águas pluviais, rede telefônica e gás canalizado).

Acho que ficou clara a diferenciação entre as exigências ambientais e os requisitos urbanísticos a que se sujeitam os parcelamentos urbanos por força das normas federais.

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Só o proprietário da gleba pode promover o loteamento ou o desmembramento. Admite-se, em doutrina, o parcelamento promovido por compromissário comprador, com anuência expressa do proprietário e cláusula que obrigue o proprietário a, uma vez rescindido o contrato de compra e venda, assumir as obrigações do parcelador. Nunca refleti profundamente sobre o assunto, mas parece que essa abertura para o compromissário comprador pode ser estendida, com a mesma salvaguarda, para o superficiário previsto pela Lei 10.257/01 (Estatuto da Cidade).

Farei agora breves comentários sobre o procedimento administrativo da Lei 6.766/79. Quais são os passos para a implantação regular de um parcelamento urbano?

A primeira fase é a definição de diretrizes pela Prefeitura (arts. 6o a 8o da Lei 6.766/79). Cabe à Prefeitura definir diretrizes prévias a respeito de uso do solo, traçado dos lotes, sistema viário, espaços livres e áreas reservadas para equipamentos urbanos e comunitários. O prazo máximo de validade para as diretrizes expedidas é 4 anos. Os municípios com menos de 50.000 habitantes e aqueles cujo plano diretor contiver diretrizes de urbanização para a zona em que se situe o parcelamento podem dispensar, por lei, essa primeira fase do procedimento administrativo da Lei 6.766/79.

Após a definição de diretrizes, tem-se a apresentação do projeto (art. 9o da Lei 6.766/79). São apresentados os desenhos técnicos, o memorial descritivo e o cronograma proposto de execução das obras a cargo do empreendedor, com duração máxima de 4 anos. No caso de desmembramentos, o art. 10 da lei prevê procedimento simplificado.

A terceira fase é a aprovação do projeto, que equivale à licença urbanística para o empreendimento (arts. 12 a 17 da Lei 6.766/79). O projeto deve ser analisado e aprovado pela Prefeitura responsável pela definição de diretrizes.

A redação original da Lei 6.766/79 previa a competência dos estados para a aprovação de loteamentos e desmembramentos em uma série de situações (localizados em áreas de proteção de mananciais ou de patrimônio cultural, paisagístico e arqueológico, localizados em áreas limítrofes do município ou pertencentes a mais de um município, localizados nas regiões metropolitanas ou

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aglomerações urbanas, bem como quando abrangessem área superior a 1.000.000 m2), mas isso não consta mais da redação atual da lei. A partir da alteração feita pela Lei 9.785/99, cabe aos estados disciplinar a aprovação pelos municípios de parcelamentos enquadrados nas referidas situações.

Deve ser aqui mencionado que a alteração feita pela Lei 9.785/99 nesse tópico apresentou problema de técnica legislativa. Não foi feito o devido ajuste no parágrafo único do art. 13 da Lei 6.766/79, que continua a mencionar o exame e a anuência prévia do projeto pela autoridade metropolitana.

A última fase do procedimento administrativo é o registro do parcelamento (arts. 18 a 24 da Lei 6.766/79). O parcelamento deve ser submetido ao serviço de registro de imóveis no prazo de 180 dias da aprovação do projeto, sob pena de caducidade. Para o registro de parcelamento popular destinado às classes de menor renda, em imóvel declarado de utilidade pública, com processo judicial de desapropriação em curso e imissão provisória na posse, desde que o empreendimento seja promovido pela União, estados, Distrito Federal ou suas entidades delegadas autorizadas por lei a implantar projetos de habitação, fica dispensada a apresentação de título de propriedade.

Registrado o parcelamento, o cancelamento do registro apenas pode ser feito: por decisão judicial; a requerimento do empreendedor, com anuência da Prefeitura, enquanto nenhum lote houver sido objeto de contrato; e a requerimento conjunto do loteador e de todos os adquirentes dos lotes, com anuência da Prefeitura e do Estado (art. 23 da Lei 6.766/79).

Finalmente, para completar o painel sobre as normas federais que regulam os parcelamentos urbanos, deve ser analisado o art. 40 da Lei 6.766/79, que respalda as iniciativas de regularização fundiária empreendidas por todo o País. Dispõe o caput do dispositivo em questão que a Prefeitura Municipal, ou o Distrito Federal quando for o caso, poderá regularizar loteamento ou desmembramento não autorizado ou executado sem observância das determinações do ato administrativo de licença, para evitar lesão aos seus padrões de desenvolvimento urbano e na defesa dos direitos dos adquirentes dos lotes.

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No processo de regularização fundiária devem ser observados não apenas os condicionantes estabelecidos por legislação urbanística estadual e municipal, mas também as normas ambientais federais, estaduais e municipais.

Eram esses os comentários que eu tinha a fazer sobre o tema. Tenho certeza de que os ilustres debatedores aqui presentes, Dra. Cecília Malagutti e Dr. Erasmo Villa-Verde, farão com competência todas as complementações e correções necessárias.

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