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A Coordenação de Orações - material da 4ª Semana

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Academic year: 2021

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Universidade Aberta do Brasil

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Alagoas Departamento de Ensino a Distância

__________________________________________________________________

A Coordenação de Orações

Em se tratando da Coordenação de orações, pode-se dizer que estas são estruturalmente independentes, isto é, que uma não exerce função sintática dentro de outra, em razão de não se operar o encaixe de uma oração em lugar de um dos termos de outra, como no caso da subordinação. É por esse motivo que a T. (transformação) de coordenação tem sido, geralmente, considerada como uma simples operação de adição, como, por exemplo, em:

104 (i) Rodrigo viajou para o exterior. (ii) Rodrigo só voltará em dezembro.

(iii) Rodrigo viajou para o exterior e só voltará em dezembro.

105 (i) Denise não foi ao casamento. (ii) Denise não enviou o telegrama.

(iii) Denise não foi ao casamento nem enviou o telegrama.

106 (i) Você vai comigo ao teatro? (ii) Você prefere ficar em casa?

(iii) Você vai comigo ao teatro ou prefere ficar em casa?

Ocorre, porém, que mesmo em se tratando de orações estruturalmente independentes, o fato de se apresentarem combinadas em um mesmo período faz com que se estabeleça entre elas uma vinculação semântica, passando o período, dessa forma, a veicular significados diferentes daqueles que cada uma das orações teria se enunciada separadamente. Essa vinculação fica patente em quase todos os tipos de orações coordenadas citadas por nossas gramáticas:

(2)

a) adversativas – em que o conteúdo da 2ª oração se opõe a alguma ideia, fato, argumento, etc., explícitos ou não, da primeira:

Ex.: O paciente apresenta melhoras, mas deverá ficar no hospital.

b) explicativas – quando, na segunda oração, apresenta –se um explicação ou uma justificativa daquilo que foi dito antes.

Ex.: Não chore, filha, que eu volto.

c) conclusivas – quando a segunda oração encerra uma conclusão ou dedução a partir do conteúdo da primeira.

Ex.: Não preenchia as condições necessárias, portanto não foi admitido para o cargo.

Fica bem evidente, nos exemplos citados, a interdependência semântica: para haver oposição, há necessidade de dois enunciados contrastantes; só se explica ou justifica algo que foi dito anteriormente; uma conclusão decorre sempre de premissas. É por esta razão que Garcia (1978) diz tratar-se, nesses casos, de “falsa coordenação”. Mas também no caso das coordenadas “típicas” (alternativas e aditivas), a interdependência existe: a relação de alternância só se estabelece, evidentemente, entre duas opções possíveis, como se verifica em (106). Além disso, Garcia apresenta, ainda, exemplos em que o par alternativo quer...quer possui legítimo valor concessivo, como:

Ex.: Irei, quer chova, quer faça só. (Mesmo que chova, mesmo que faça sol)

e outros em que, segundo Rocha Lima, o valor é concessivo condicional:

Ex.: Irei, quer queiras, quer não queiras. (Se quiseres e mesmo que não queiras)

Exemplos em que o par ou...ou apresenta valor condicional:

Ex.: Ou te calas, ou te mato. (Se não te calares, eu te mato)

Mesmo em se tratando de orações aditivas, elas expressam, em muitos casos, uma prossequência temporal, o que torna impossível, portanto, a inversão da ordem:

(3)

Ainda que não ocorra essa idéia de sequência no tempo, o simples fato de se reunirem duas ou mais orações em um mesmo período revela determinada intenção do falante que pode, por exemplo, estar querendo estabelecer um paralelo entre dois comportamentos ou dois acontecimentos quaisquer. (...)

Prova da dependência semântica que se estabelece entre as orações ditas coordenadas é que, mesmo quando assindéticas ou justapostas, a relação se mantém nítida não causando qualquer problema quanto à compreensão. Observe-se:

(115) Estive presente à conferência; não te vi lá. (oposição)

(116) Foi a minha grande oportunidade; não a deveria ter perdido. (conclusão)

(117) Não comparecerei ao banquete; não fui convidado. (justificativa)

Em virtude do exposto, postulamos que a coordenação se origina de uma operação por meio da qual o locutor combina, em um mesmo período, duas ou mais orações, no intuito de estabelecer entre elas determinado tipo de relação significativa. É por esta razão que, do ponto de vista semântica, não é possível afirmar que as orações chamadas coordenadas sejam independentes entre si.

A coordenação apresenta-se, pois, como um mecanismo importante na constituição dos enunciados da língua e mantém estreita relação com outros processos sintáticos, entre eles a pronominalização recíproca, a pronominalização anafórica, e a relativização apositiva, que serão abordados a seguir.

I. A Coordenação e a Pronominalização Recíproca

A pronominalização recíproca é antecedida, necessariamente, de uma transformação de coordenação de duas orações, nas quais o SN sujeito da primeira deve ser igual ao SN objeto da segunda e vice-versa. Considerando o exemplo como:

(118) Cristina e Marcelo amam-se.

Tem-se uma estrutura profunda, na qual x e y indicam a identidade dos sintagmas sujeitos e objetos:

(4)

(i) Cristina amar Marcelo.

x y

(ii) Marcelo amar Cristina.

y x

Operando sobre essa estrutura respectivamente a t. conjunção, (iii), a T. redução da coordenação (iv) e a T. recíproca (v), obtêm-se:

(iii) Cristina amar Marcelo e Marcelo amar Cristina.

x y y x

(iv) Cristina e Marcelo amar Marcelo e Cristina.

x y y x

(v) Cristina e Marcelo amam-se.

II. A Coordenação e a Pronominalização Anafórica

O processo anafórico, um dos processos básicos de coesão textual, consiste numa operação (a transformação anafórica), por meio da qual se pronominaliza um elemento já explicitado anteriormente, de modo que a interpretação do pronome anafórico fica na dependência da interpretação do elemento ao qual ele se remete, e que passa a ser o seu referente. Observe-se o exemplo (120), em que a anáfora se estabelece entre duas frases simples:

(120) Juliana foi ao cinema. Ela voltou tarde.

Frequentemente, a transformação de coordenação é responsável pela anáfora, como ocorre em:

(5)

(122) Márcia não foi bem nas provas, portanto ela tem pouca possibilidade de passar de ano.

(...)

III. A Coordenação e as Orações Relativas Apositivas

As relativas apositivas, por seu valor de aposto, originam-se de orações coordenadas e se encaixam ao lado do SN que contém elemento idêntico. Denominadas explicativas, pelas gramáticas tradicionais, distinguem-se das restritivas, porque estas resultam de orações subordinadas e se encaixam, dentro do SN. A frase (128),, que é uma relativa apositiva na superfície:

(128) (i) Márcio, que é esportista, gosta de voleibol.

origina-se de duas orações conjuntas:

(ii) Márcio gosta de voleibol e Márcio é esportista.

sobre as quais opera a transformação apositiva, que encaixa a segunda oração após o sintagma nominal da primeira, originando:

(iii) Márcio [e Márcio é esportista] gosta de voleibol.

(...)

As relativas apositivas distinguem-se, também, das restritivas por fatores de ordem semântica e pragmática. As últimas indicam limitação na referência ao antecedente, isto é, fazem uma asserção sobre um subconjunto do conjunto a que este se refere; as primeiras, por sua vez, fazem uma asserção sobre todos os elementos do conjunto representado pelo antecedente (que pode ser evidentemente um conjunto unitário), não fazendo, portanto, qualquer delimitação. Assim, as frases (130) e (131) terão interpretações diferentes:

(130) As obras que foram premiadas são valiosas. (apenas aquelas que foram premiadas, não todas)

(6)

(131) As obras, que foram premiadas, são valiosas. (todas as obras foram premiadas)

Verifica-se, desse modo, que o uso das vírgulas para separar as relativas apositivas é em decorrência de fatores sintático-semânticos e não um critério de classificação. Assim sendo, a distinção entre uma relativa restritiva e uma apositiva depende, muitas vezes, do contexto em que estiverem inseridas.

Há, ainda, fatores pragmáticos envolvidos no emprego das relativas apositivas, já que estas exprimem, em grande número de casos, o conhecimento de mundo do falante, a pressuposição que este faz acerca do conhecimento do ouvinte, as crenças por eles partilhadas, etc.

SILVA, M. Cecília P. de Souza; KOCH, Ingedore Villaça. Linguística Aplicada ao Português: Sintaxe. São Paulo, Cortez, 2001

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