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Participação dos agricultores familiares no Conselho de Desenvolvimento Rural do município de Cabrobó/PE

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(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

BÁRBARA SAMPAIO RAMOS

PARTICIPAÇÃO DOS AGRICULTORES FAMILIARES NO CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO RURAL DO MUNICÍPIO DE CABROBÓ/PE

RECIFE 2016

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Bárbara Sampaio Ramos

PARTICIPAÇÃO DOS AGRICULTORES FAMILIARES NO CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO RURAL DO MUNICÍPIO DE CABROBÓ/PE

Dissertação submetida ao Programa de Pós - Graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco como requisito obrigatório para obtenção do título de Mestre em Serviço Social. Área de Concentração: Serviço Social, Movimentos Sociais, Direitos Sociais

Orientadora: Profª. Dra. Raquel Cavalcante Soares.

RECIFE 2016

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Catalogação na Fonte

Bibliotecária Ângela de Fátima Correia Simões, CRB4-773

R175p Ramos, Bárbara Sampaio

Participação dos agricultores familiares no Conselho de

Desenvolvimento Rural do município de Cabrobó/PE / Bárbara Sampaio Ramos. - 2016.

170 folhas : il. 30 cm.

Orientadora: Profª. Dra. Raquel Cavalcante Soares.

Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Universidade Federal de Pernambuco. CCSA, 2016.

Inclui referências e apêndices.

1. Agricultura familiar. 2. Participação social. 3. Controle social. I.

Soares, Raquel Cavalcante (Orientadora). II. Título.

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BÁRBARA SAMPAIO RAMOS

PARTICIPAÇÃO DOS AGRICULTORES FAMILIARES NO CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO RURAL DO MUNICÍPIO DE CABROBÓ/PE

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco como requisito obrigatório para obtenção do título de Mestre em Serviço Social.

Aprovada em: 6 /05 /2016

BANCA EXAMINADORA

Profª. Drª. Raquel Cavalcante Soares (Orientadora) Universidade Federal de Pernambuco

Profª. Drª. Maria das Graças e Silva (Examinadora Interna) Universidade Federal de Pernambuco

Prof. Drº. Tarcísio Augusto Alves da Silva Universidade Federal Rural de Pernambuco

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Aos Agricultores (as) Familiares de Cabrobó /PE pela sua força e luta cotidiana para enfrentar os desafios que a seca os põem, bem como pela grande contribuição no desenvolvimento da pesquisa, o ânimo, o carinho e a fé de todos vocês, diante da realidade a qual vivem, me deram forças para enfrentar todos os desafios vividos em cada etapa dessa minha trajetória.

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AGRADECIMENTOS

À Deus, por me iluminar com sua luz divina e me proporcionar sabedoria e paciência para enfrentar todos os desafios durante essa trajetória da minha vida.

À minha avó (Maria Nomilde) que sempre me acolheu, desde criança, com muito amor e esteve presente em todas as etapas da minha vida. Tudo que eu sou hoje dedico à senhora.

À Professora Drª Anita Aline Albuquerque Costa (em memória) por todas suas contribuições, reflexões e ensinamentos, os quais me fizeram amadurecer enquanto profissional e pesquisadora.

À professora Drª Raquel Cavalcante Soares, por todas as orientações, diálogos e ensinamentos, bem como pela sua contribuição para o meu amadurecimento intelectual e profissional desde o período da monografia na graduação de Serviço Social.

À Tairo Lins, por todo apoio e incentivo durante o período da Graduação e do Mestrado, obrigada pelo carinho e por sempre acreditar em mim e nos meus sonhos. Por você, terei um eterno carinho.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio financeiro durante o Mestrado, o qual viabilizou as condições necessárias para o desenvolvimento da pesquisa.

Aos Agricultores (as) Familiares, por me permitirem compreender a realidade vivida por vocês, e por exporem com tanta delicadeza suas dificuldades e lutas cotidianas, bem como a esperança por dias melhores. Foi um imenso prazer poder entender através de vocês a realidade dos meus avôs e bisavôs.

Ao presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (conhecido como Antonio de Nestor), ao Secretario da Agricultura Familiar e do Meio Ambiente (Marizan Rodrigues), ao presidente do sindicato dos agricultores familiares e Empreendedores Rurais (Adalberto Torres), ao Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), em especial a Flávio e Lucas (agrônomos e Técnico do IPA) de Cabrobó pela força, apoio e incentivo durante a pesquisa de campo.

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À Felipe Soares pela força, carinho, bem como pela troca de conhecimentos, e pelo dialogo constante durante todas as etapas do mestrado.

À minha mãe (Ana Maria) por me ensinar, com muito amor, a enfrentar os desafios postos pela vida e por sempre acalmar meu coração nos momentos de aflição. Seu amor, carinho, e dedicação foram essenciais para que eu pudesse alcançar meus objetivos.

Ao meu pai, (Ed Ramos) pelo incentivo e contribuição no desenvolvimento da pesquisa, as trocas de conhecimentos e experiências contribuíram para o amadurecimento do objeto de estudo desenvolvido nessa pesquisa.

À minha tia e madrinha (Edyene Ramos) pela sua grande contribuição no desenvolvimento da pesquisa, desde a elaboração do pré-projeto para a seleção de Mestrado. Seu incentivo e conhecimento acerca do assunto foram essenciais para que eu pudesse amadurecer o objeto de estudo.

À minha madrinha de Crisma (Noemia) por sempre me apoiar nas minhas escolhas, seu apoio e carinho foram essenciais em toda minha vida.

Aos colegas de Mestrado, em especial a Niedja Lima e Karla Ingrid, por sempre me acolherem nos momentos de aflição, bem como pela força durante todo esse percurso.

À Fabriicia Gomes, pela força e incentivo, desde a seleção do mestrado, como também pela constante troca de experiência de pesquisa.

Às contribuições dos professores (as) do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, em especial a Valdilene Viana e Maria das Graças e Silva.

Aos meus irmãos (Tasso Sampaio e Pablo Sampaio), pelo carinho e por sempre acreditarem em mim, vocês dois são o que tenho de mais precioso na minha vida.

À Antonio Neto, meu namorado, por compreender todos os momentos de estresse durante esse processo tão cheio de alegrias e sofrimentos, bem como por ter tornado mais leve e harmonioso os desafios, os quais tive que enfrentar durante essa trajetória. Obrigada pelo apoio, carinho e compreensão, até mesmo quando tivemos que ficar distantes, por um tempo, um do outro.

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À Wanessa Melo (monitora da cadeira Debate Contemporâneo no Serviço Social, a qual realizei o estágio docência), pela troca de conhecimentos e constante apoio nos momentos mais difíceis dessa trajetória.

À Edyjane Ramos, pelo apoio, incentivo, e pelas palavras de perseverança durante essa tão difícil trajetória do mestrado.

À Tarcisio Pires, por ter reaparecido na minha vida, num momento bastante delicado, me trazendo bastante alegria. Obrigada pela sua amizade.

Aos meus amigos, Vitor Caldas e Naara Daligia por sempre estarem ao meu lado, me apoiando e me instigando a lutar pelos meus sonhos. O carinho e atenção de vocês foram importantes para suportar as angústias desse processo.

(9)

Transcrito do livro “Cabrobó Cidade Pernambucana” de Arrisson de Sousa Ferraz.

Era imperioso tirar do Rio São Francisco um tesouro que ele sempre ofereceu.

Criada a mentalidade, foi colocada na ordem do dia a idéia de captação das águas do grande rio para irrigar as terras marginais, de maneira a se poder levar as áreas cultivadas a grandes extensões, bem maiores do que as estreitas faixas de vazante. Assim e só assim, seria possível eliminar o velho sistema de culturas, exclusivamente de manutenção. Se as chuvas teimavam em não vir, era preciso fazer alguma coisa para remediar na sua falta. Estava as coisas nesse pé, quando um belo dia, lá pelos meados de 1949, um homem de fé, um sertanejo de rija têmpera, um cabroboense de lei, o grande Francisco Ramos do Nascimento entrou em ação. Pensou e pensou muito no problema e como resultado chegou a uma conclusão. Mas, preferiu agir com prudência que sempre foi sábia conselheira. E assim, fez excursões pelas regiões da ribeira, onde se faziam experiências da solução que desejava, a fim de verificá-las pessoalmente. Consolidadas as suas convicções, passou dos projetos aos fatos, instalando em sua propriedade marginal uma “roda d´água”. Começara um ensaio que iria marcar uma nova era na vida de Cabrobó. Conquanto se tratasse apenas de iniciação e o processo fosse rudimentar, a realidade é que os resultados foram os melhores possíveis. A água levada a um plano de altura regular, dalí correndo pela gravidade para as canaletas do terreno e, ainda pela ação da gravidade, se espraiando pelas planuras e declives, propiciava o cultivo de razoáveis glebas.

A grande maioria dos agricultores seguiu na esteira do Chico Ramos, como é conhecido na intimidade o pioneiro, montando aparelhagem idêntica. E as rodas d`água multiplicaram-se nas ilhas e nas margens Cabroboenses do São Francisco. Várias culturas foram levadas a efeito com resultados compensadores, mas houve uma que apareceu com destaque, pelo rendimento que apresentava por área irrigada, como pela qualidade. Esta cultura foi a cebola que passou a dominar as glebas alimentadas pelas águas generosas do São Francisco. A cebola passou a ser a cultura base de Cabrobó. Seus canteiros verdejantes deram colorido e encanto a áreas outrora cobertas de ervas inúteis. Vieram as grandes safras do produto e de excelente qualidade. Veio a era da sua exportação em grande escala para os centros mais importantes do país.

Estava vitoriosa em toda linha a experiência de Chico Ramos, ...”.

Homenagem ao meu querido Bisavô Chico Ramos (em memória) que tanto contribuiu com o desenvolvimento do município de Cabrobó/PE.

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo analisar a participação dos agricultores familiares no Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural de Cabrobó (CMDR) e sua relação com o desenvolvimento local desse município. Para isso, adotou-se a perspectiva teórico-metodológica crítica na tentativa de desmistificar tanto as contradições que permeiam o processo de gestão democrática e o controle social democrático no CMDR de Cabrobó, como também as dificuldades que perpassam o processo de participação por parte dos agricultores familiares, levando em consideração as fragilidades, bem como as tendências que podem se fazer presentes nesse conselho. Para a concretização do estudo, além de levantamento bibliográfico e pesquisa documental, foi realizada pesquisa de campo, através de entrevistas semi-estruturadas que tiveram como finalidade identificar as tendências presentes no cotidiano da participação desses sujeitos sociais, as características da produção agrícola, os meios e as formas de participação dos agricultores (as) familiares no CMDR de Cabrobó, levando em consideração as relações de poder presentes no mesmo, bem como associando a relação entre a participação desse segmento com a perspectiva de desenvolvimento local do município. O resultado nos fez perceber que o surgimento do conselho, bem como a participação dos agricultores(as) familiares nessa instância contribuiu para o fortalecimento das associações rurais perante a sociedade civil e o poder público; para aumentar o número de parcerias para aprovação de projetos para a zona rural; como também para o aumento de investimentos dos benefícios destinados aos agricultores familiares. Desse modo, entendemos que a participação dos agricultores familiares no CMDR do município de Cabrobó contribui para o desenvolvimento local desse município, visto que na medida em que esse segmento produtivo participa dessa instância, além de se fortalecer como categoria, a mesma passa a ter mais vez e voz no atendimento à resposta as suas demandas, o que contribui, de certa forma, para melhorar sua produção agrícola, através dos recursos fornecidos pelo governo, possibilitando-lhes produzir não somente para subsistência, mas também para comercialização dos seus produtos no município, contribuindo assim para movimentar a economia local, bem como gerar emprego e renda, através das feiras, das vendas de produtos relacionados a agricultura nos comércios.

Palavras-chave: Agricultura Familiar. Políticas Públicas. Participação Social. Controle Social.

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ABSTRACT

This study aims to analyze the participation of family agriculture in the Rural Development Municipal Council of Cabrobó (CMDR) and their relationship to the local development of this municipality. For this, the theoretical-methodological perspective criticism in an attempt to demystify both the contradictions that pervade the democratic process and the social democratic control in CMDR to Cabrobó and the difficulties that permeate the process of participation by the family agriculture, taking into account the weaknesses, as well as the trends that can present in this Council. For the completion of the study, in addition to bibliographical and documentary research, field research was carried out by means of semi-structured interviews that had as purpose to identify the trends present in the daily life of participation of those social subjects, the characteristics of agricultural production, the means and ways of participation of family agriculture in CMDR of Cabrobó, taking into account the power relationships present in the same as well as associating – the local development perspective. The result made us realize that the emergence of the Council, as well as the participation of family agriculture in this instance has contributed to the strengthening of rural associations in view of civil society and the public authorities; to increase the number of partnerships for approval of projects for the rural area; as well as to the increase of investments of the benefits for family agriculture.Thus, we believe that the participation of agriculture in the municipality of CMDR Cabrobó contributes to local development of this municipality, since to the extent that this production segment participates in this instance, they also strengthen while category, the same happens to have more time and voice service to answer their demands, which contributes in a way to improve its agricultural production through the resources provided by the Government, enabling them to produce not only for subsistence, but also for marketing of their products in thus contributing to the local economy, as well as generate jobs and income, through trade shows, sales of products related to agriculture in the trades.

(12)

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Etnia...107

Gráfico 2- Faixa Etária...107

Gráfico 3 - Propriedade...108

Gráfico 4 - Renda da Família...110

Gráfico 5 - Produção...111

Gráfico 6 - Dinâmica da Unidade Familiar...112

Gráfico 7 - Programas Governamentais...113

Gráfico 8 - Aspectos Negativos do Agronegócio...116

Gráfico 9 - Aspectos Positivos do Agronegócio...117

Gráfico 10 – Agricultores (as) Familiares associados ao CMDR ...119

Gráfico 11 - Relações de poder no conselho...123

Gráfico 12 – Principal luta dos agricultores familiares de Cabrobó... ..127

Gráfico 13 – Políticas Públicas que os agricultores familiares de Cabrobó tem acesso... ...130

Gráfico 14 – Participação dos agricultores familiares de Cabrobó nas Organizações sociais...134

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AACOSAC Associação dos Agentes Comunitários de Saúde

ABAG Associação Brasileira do Agronegócio

ADAGRO Agencia de Defesa e Fiscalização Agropecuária

AGE/Mapa Assessoria de Gestão Estratégica do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

AGE Assembléia Geral Extraordinária

ATER Assistência Técnica e Extensão Rural

CAE Conselho Municipal de Alimentação Escolar

CEPEA Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada

CERMESTRA Cooperativa de Energia, Comunicação, Desenvolvimento do Médio São Francisco

CDL Câmera dos Dirigentes Lojistas

COAPECAL Cooperativa Agropecuária de Cabrobó CMAS Conselho Municipal de Assistência Social

CMDI Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa.

CMDCA Conselho de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente

CMS Conselho Municipal de Saúde

CMDR Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural

CONTAG Confederação Nacional dos trabalhadores na agricultura CONSAD`S Consorcio de Segurança Alimentar e Desenvolvimento Local

COMEC Conselho Muncipal de Educação de Cabrobó

CGMA Computer Ghaphic Master Academy

DETER Departamento de Ações de Desenvolvimento Territorial

DEA Departamento de Educação Ambiental

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EBAPE Empresa Brasileira de Abastecimento e Assistência Técnica de Pernambuco.

EMATER Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

FETRAF Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar

FUNDEB Conselho Municipal do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IBRA Instituto Brasileiro de Reforma Agrária

IDEB Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

IDHM Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INDA Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário

INEP/MEC Instituto Nacional de Ensino e Pesquisa do Ministério da Educação

IPA Instituto Agronômico de Pernambuco

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

MDA Ministério de Desenvolvimento Agrário

MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimentos

MST Movimento sem Terra

PAA Programa de Aquisição de Alimentos

PAC Programa de Aceleração do Crescimento

PIB Produto Interno Bruto

PBF Programa Bolsa Família

PBSM Plano Brasil sem Miséria

PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro

PNAE Programa Nacional de Alimentação Escolar

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PRONARA Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos

PRONATEC Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

PRP Partido Republicano Progressista

PNHR Programa Nacional de Habitação Rural

PNRA Plano Nacional de Reforma Agrária

PSB Partido Socialista Brasileiro

PTB Partido dos Trabalhadores Brasileiros

PGPAF Programa de Garantia Preços para a Agricultura Familiar PGPMEIS Política de Garantia do Preço Mínimo

PTC Programa Territórios da Cidadania

PTDRS Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável

RIDE Região Integrada de Desenvolvimento

SAF Secretaria da Agricultura Familiar

SIATER Sistema Informatizado de Assistência Técnica e Extensão Rural SDT Secretaria de Desenvolvimento Territorial

SDTMDA Secretaria de Desenvolvimento Territorial do Ministério de

SEAF Seguro da Agricultura Familiar

SRA Secretaria de Reordenamento Agrário

STR Sindicato dos Trabalhadores Rurais

SINDESC Sindicato dos Servidores da Socioeducação SINTEP Sindicato dos Trabalhadores (as) em Educação

SINTRAF Sindicato dos Agricultores Familiares e Empreendedores Rurais

USF Unidade de Saúde da Família

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...17 1.1 Considerações metodológicas: caracterização da pesquisa e instrumento

utilizado...20 2 A AGRICULTURA FAMILIAR E SUA INSERÇÃO NAS POLÍTICAS

PÚBLICAS DE DESENVOLVIMENTO RURAL...23

2.1 A ascensão da agricultura familiar na sociedade brasileira...23 2.2 O enfrentamento da Questão Agrária a partir do fortalecimento da agricultura familiar e sua inserção nas políticas de desenvolvimento rural local: um olhar a partir do governo de Fernando Henrique Cardoso (F. H. C), Lula, até os dias atuais...

...

48 3 REDEMOCRATIZAÇÃO E PARTICIPAÇÃO: A CONSTITUIÇÃO

FEDERAL DE 1988 ATÉ OS DIAS ATUAIS... 58

3.1

Democracia e participação no capitalismo...58 3.2 Conselhos: uma instância de gestão democrática e de exercício do controle

social:limitesepossibilidades...75

4 PARTICIPAÇÃO DOS AGRICULTORES FAMILIARES NO CMDR DE CABROBÓ – PE...96

4.1 Caracterização do município de Cabrobó- PE...96

4.2 O Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural do município de Cabrobó: uma proposta de democratização da gestão das políticas públicas destinadas aos agricultores...101

4.3 Indicadores do perfil dos agricultores familiares do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural de Cabrobó- PE...105

4.4 A relação da agricultura familiar x Agronegócio a partir da perspectiva dos agricultores familiares do CMDR do município de Cabrobó-PE... 114

(17)

4.5 Concepção de Participação e a importância do CMDR do município de

Cabrobó a partir da perspectiva dos agricultores familiares...118

4.6 Participação dos agricultores(as) familiares no CMDR de Cabrobó e sua relação com o Desenvolvimento local do município...129

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...142

REFERÊNCIAS...148

APÊNDICE A- ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI - ESTRUTURADA.. 160

APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO...165

(18)

1 INTRODUÇÃO

A presente dissertação tem como objeto de estudo a agricultura familiar e o controle social exercido nos conselhos, em particular, no Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural do Município de Cabrobó - PE. O interesse dessa temática advém da vivência cotidiana com os agricultores familiares do CMDR desse município, visto que possuo integrantes da família que pertencem a essa categoria, bem como fazem parte dessa instância. Além disso, o interesse advém das discussões teóricas na graduação em Serviço Social na disciplina serviço social e o mundo rural, na qual discutimos o reconhecimento da agricultura familiar e sua inserção nas políticas públicas, como também a importância da participação desses agricultores nas instâncias participativas e democráticas, além do constante debate, nessa disciplina, acerca da relação dessa profissão e o meio rural, visto que esse segmento produtivo é usuário das políticas sociais, e em particular, da política de assistência social devido às péssimas condições de vida e trabalho que os mesmos se encontram.

Assim, ao remetermos a discussão acerca da agricultura familiar e do exercício do controle social nos conselhos, é importante ressaltarmos que, assim como Cunha (2013), compreendemos que há várias décadas, no Brasil, tem se buscado a implementação da participação social dos cidadãos na questões de ordem social, política e econômica. No entanto, só a partir da Constituição Federal de 1988 é que foi implementado modelos de gestão descentralizado e participativo na formulação das políticas públicas na busca da democratização das ações, através da participação da sociedade civil e da criação de instâncias de participação e representação, entre outras, os conselhos gestores de políticas públicas.

Desse modo, na atualidade, com a implementação do Plano de Desenvolvimento Rural Sustentável, desde 2003, a gestão local, intersetorial e participativa tem sido apresentada como uma das diretrizes privilegiadas nas políticas públicas em Pernambuco e no Brasil, como condição ao desenvolvimento local de determinado território. Atenção especial tem sido conferida à participação da sociedade civil nos conselhos gestores das políticas.

Estudos e pesquisas têm sido realizados, explorando, sobretudo, a dinâmica e as condições da institucionalização desses conselhos, como: Tatagiba (2002), Sayago (2007), Duarte (2006), Raichelis (2006), entre outros. Este estudo tem como objetivo

(19)

analisar a participação dos agricultores familiares - no Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural (CMDR) do município de Cabrobó - e sua relação com o desenvolvimento local desse município. Para isso, iremos:

a) analisar de que forma se efetiva a inclusão dos agricultores familiares no processo decisório do conselho e suas condições de negociação;

b) Caracterizar o espaço de participação do agricultor familiar no seio da categoria no que tange ao fortalecimento dos interesses e demandas do coletivo e;

c) analisar quais são as reinvindicações dos agricultores familiares e como se processam e se integram as ações propostas e aprovadas pelo Conselho e seu alcance em relação ao desenvolvimento local.

Isso porque, percebemos a partir dos estudos teóricos, que o conselho municipal de desenvolvimento rural é considerado importante para o fortalecimento das organizações da agricultura familiar e vice-versa, mas ainda não se chegou a analisar como se realiza a participação dos agricultores nesses espaços de gestão democrática, e quais são suas reinvindicações na condição de agricultor familiar, levando em consideração suas particularidades. No entanto, é importante ressaltarmos que o conselho, ao mesmo tempo, que é entendido como possibilidade de luta e defesa dos interesses do coletivo da categoria, também, encontram-se imersos nos limites e mecanismo do capital, que por sua vez, acabam interferido e/ou dificultando a participação e a qualidade dessa participação nessa instância considerada democrática.

Com isso, concordamos com Andrade (1977) quando o mesmo ressalta que o rebatimento do capitalismo contemporâneo no rural é questão a ser analisada não só pelo Serviço Social, mas também pelas áreas afins e interdisciplinares. Pois, ao considerarmos as políticas rurais como estratégias para determinados territórios, temos que levar em consideração que as atividades econômicas e humanas estão condicionadas pelo espaço e tempo que estabelece a trama das inter-relações existentes entre elas.

A partir disso, a relevância da pesquisa justifica-se pela contribuição de novas concepções e novos olhares sobre o meio rural em torno dos mecanismos de participação, das práticas de controle social democráticas, do rebatimento dessas práticas na efetividade dos direitos dos agricultores familiares, os quais foram historicamente excluídos da

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agenda da política nacional e dos processos decisórios. Além de estimular o estudo sobre a participação social, controle social e democracia no âmbito do Serviço Social.

Ao considerarmos o caráter interventivo dessa profissão em atuar sobre e na realidade e ter como objeto de estudo a intervenção na questão social e suas expressões, acreditamos ser essencial à inserção do Serviço Social em espaços de discussão a respeito dessas questões que envolvam o segmento social agricultor familiar, tanto por ser um segmento usuário das políticas sociais de inclusão social, quanto pela escassez de produções bibliográficas, bem como de Assistentes Sociais atuantes nesse âmbito.

Sendo assim, faz-se necessário salientar que o debate acerca da participação social nos conselhos, ou em qualquer outra instância de gestão democrática, apresenta-se como fundamental no âmbito do Serviço Social. Pois, mesmo percebendo as limitações dos direitos sociais e das políticas públicas enquanto estratégia de enfrentamento da questão social na sociabilidade capitalista, a participação da sociedade civil nos espaços de gestão democrática, participativa e descentralizada é uma das várias formas dos sujeitos lutarem a favor da efetivação dos seus direitos, já que o espaço do conselho é caracterizado como estratégico de organização e luta da classe trabalhadora.

Dessa forma, abordamos na segunda seção a ascensão da agricultura familiar na sociedade brasileira - e para isso dialogamos desde a passagem do camponês tradicional ao agricultor familiar -, bem como a inserção desse segmento social - nas políticas públicas. Logo em seguida, discutimos, como se deu, o enfrentamento da questão agrária, a partir do fortalecimento da agricultura familiar e sua inserção nas políticas de desenvolvimento rural local, a partir do governo de Fernando Henrique Cardoso (F. H. C) e de Lula até os dias atuais, o que nos proporcionou analisar, e a partir disso distinguir, as três gerações das políticas públicas destinadas a esse segmento produtivo.

Já na terceira seção, discutiremos acerca da democracia e da participação social, levando em consideração a implementação da gestão descentralizada e participativa, a partir do período de redemocratização com a implementação da Constituição de 1998 até os dias atuais, bem como a importância da representação política dos agricultores(as) familiares nas instâncias democráticas e participativas. A partir disso, procuramos desvendar os limites e contradições que permeiam essas instâncias na sociedade capitalista. Logo após, adentramos na discussão dos Conselhos – considerados instâncias

(21)

de gestão democrática e de exercício do Controle Social, levando em consideração os limites e possibilidades do mesmo dentro da ordem do capital.

E por fim, a quarta seção, no qual abordaremos a participação dos agricultores(as) familiares no Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural de Cabrobó e sua relação com o desenvolvimento local desse município. Para isso, caracterizamos o município de Cabrobó, no qual está localizado o conselho estudado, discutimos as tendências expressas no perfil dos agricultores (as) familiares entrevistados, suas condições de vida, principais reivindicações, bandeiras de luta, e sua participação no CMDR.

Desse modo, todo esse percurso traçado, nos levou a compreender que a implementação da política social que promove a participação como simples meio de acesso aos direitos e respectivos programas sociais, por sua vez, limita o caráter e o conteúdo dessa participação. No entanto, contraditoriamente, os conselhos são espaços que podem ser apropriados no sentido de organizar e mobilizar o projeto desses agricultores familiares e seu reconhecimento enquanto parte constituinte da classe trabalhadora.

1.1 Considerações metodológicas

Partimos do entendimento de Minayo (1999, p.23) que pesquisa é “a atividade básica das ciências na sua indagação e descoberta da realidade [...]um processo intrinsecamente inacabado e permanente”. [Desse modo, de acordo com a autora, o termo pesquisa social] “[...] reflete posições frente à realidade e interesses de classes e de grupos determinados”

Nessa pesquisa teremos como base o método dialético – do abstrato ao concreto – como um modo para apreensão da realidade como totalidade em movimento (fluente e contraditória), no intuito de desvendar o cerne dos fenômenos sociais que estão em volta do objeto de estudo, o qual nos propusemos a estudar. Segundo Marx (1989 apud MUNHOZ, 2006, p.27)

nesse caminho do abstrato ao concreto, chega-se a determinações mais simples, o que consiste numa maior aproximação dos elementos realmente constituintes do fenômeno. Desse modo, entendemos que para a apreensão da totalidade (complexos constituído de complexos subordinados) presentes em

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torno do objeto a ser estudado é necessário realizar o movimento de aproximações sucessivas da realidade.

Entendemos esse movimento importante para que:

aquele concreto figurado (em princípio sensível, que se pode ver, quantificar às vezes até, mas que mesmo assim é abstrato porque não conhecido na sua essência, no por que de sua existência), vai se tornando cada vez mais percebido, no seu íntimo, pelo estudioso; vai deixando de ser abstrato – porque genérico - para constituir-se como compreensão em termos de essência, tendo em vista que, no processo de análise do mesmo, o sujeito foi conhecendo as determinações que o constituem (MUNHOZ, 2006, p.27).

Flick (2013, p. 126) acrescenta que “a pesquisa social é baseada em dados coletados com métodos empíricos. Em geral, [...] tem-se os métodos quantitativos e qualitativos”. Essa pesquisa social a qual nos propusemos a desenvolver é realizada no município de Cabrobó, o qual faz parte da região do Sertão do São Francisco. A metodologia utilizada, que segundo Minayo (1999, p.23) corresponde “ao caminho e o instrumental próprios de abordagem da realidade”, [será predominantemente qualitativa devido à natureza do objeto de estudo e aos objetivos]. Segundo Creswell (2010, p. 26) a pesquisa qualitativa:

é um meio para explorar e para entender o significado que os indivíduos ou os grupos atribuem a um problema social ou humano [...] e honra um estilo indutivo, um foco no significado individual e na importância da interpretação da complexidade de uma situação.

Flick (2013, p.126-127) menciona que os métodos qualitativos “estão mais interessados na descrição exata de processos e concepções [...] e é mais orientada para a produção de protocolos das suas questões de pesquisa e pra sua documentação e reconstrução.”[ Desse modo, o autor afirma que] “a finalidade real da pesquisa qualitativa não é contar opiniões ou pessoas, mas ao contrário, explorar o espectro de opiniões, as diferentes representações sobre o assunto em questão” (FLICK, 2013, p.68).

Desse modo, as estratégias qualitativas utilizadas para a coleta de dados foram: 1) pesquisa bibliográfica sobre a agricultura familiar, democracia, participação social, conselho, controle social, desenvolvimento rural local; 2) de estudo documental, que segundo Wolff (2004, apud FLICK, 2013, p.125), os documentos são artefatos padronizados, na medida em que ocorrem habitualmente em formatos particulares:

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anotações, observações, relatórios anuais, dentre outros [...]”. Nessa pesquisa, o estudo documental é realizado através do Estatuto do Conselho de Desenvolvimento Rural do município de Cabrobó/PE – CMDR – (2007, 2009), o que nos possibilitou entender como o mesmo surgiu e de que forma é composto; 3) pesquisa de campo, na qual serão feitas observações do CMDR de Cabrobó no que tange a sua dinâmica, a função dos seus membros, a sua articulação institucional, como também entrevistas semiestruturadas com 22 agricultores (as) familiares que compõem as Associações Comunitária dos Trabalhadores Rurais, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, do Sindicato dos Trabalhadores e Empreendedores Rurais, que fazem parte do CMDR, bem como aqueles que desconhecem essa instância, e com os agricultores que se encontram presentes nas reuniões do CMDR de Cabrobó. Nesse sentido, Gaskell (2002, p.65) menciona que:

A compreensão dos mundos da vida dos entrevistados e de grupos sociais especificados é a condição sine quan non da entrevista qualitativa. Tal compreensão poderá contribuir para um número de diferentes empenhos na pesquisa. Poderá ser um fim em si mesmo o fornecimento de uma “descrição detalhada” de um meio social específico; pode também ser empregada como uma base para construir um referencial para pesquisas futuras e fornecer dados para testar expectativa e hipóteses desenvolvidas fora de uma perspectiva teórica especifica.

Portanto, vale ressaltar que em todas as etapas do trabalho ressaltadas acima será dada atenção especial à participação dos Agricultores Familiares no Conselho.

(24)

2 A AGRICULTURA FAMILIAR E SUA INSERÇÃO NAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE DESENVOLVIMENTO RURAL

2.1 A ascensão da agricultura familiar na sociedade brasileira

Antes de discutirmos o processo de ascensão da agricultura familiar na sociedade brasileira, é necessário, primordialmente, entendermos o debate que perpassa acerca da passagem do camponês tradicional1 para o agricultor familiar (atualmente, considerado como moderno2 e capitalista3), bem como as rupturas e continuidades presentes na transição entre essas duas categorias sociais.

1Nessa direção, Sabourin (2009, p.29) afirma baseado em Martins (1981), que “o termo camponês é recente

no Brasil (anos 50). Sua origem é política, sendo associada às reivindicações da esquerda latino-americana em torno dos “campesinos”. Assim, o termo campesinato utilizado no Brasil corresponde a uma categoria política (...)”. De acordo com Sabourin (2009, p.30) existem cinco características das sociedades camponesas que foram identificadas por Mendras (1976, p.11-22): “uma relativa autonomia em relação à sociedade global; a importância estruturante do trabalho familiar e do grupo doméstico; um sistema econômico diversificado; parte autônomo e parte integrado a mercados diversificados; relações de interconhecimento e a função decisiva das mediações entre sociedade local e sociedade global”. A autora Wanderley acrescenta (2011, p.94) “Como é sabido, a referencia ao campesinato assumiu, inclusive no senso comum, uma dupla conotação. Por um lado, corresponderia, para muitos, às formas mais tradicionais da agricultura, realizadas em pequena escala, dispondo de parcos recursos produtivos, pouco integrado ao mercado e à vida urbana e frequentemente identificado à incivilidade e ao atraso econômico e social. Nesse sentido, ele se distinguiria da agricultura familiar, a qual, apesar de ter também conduções de produção restritas, estaria mais integrada às cidades e aos mercados. Por outro lado, a palavra camponês carregava um forte conteúdo político, pois ela era frequentemente associada ao movimento camponês, que foi duramente perseguido como “subversivo” pelos governos militares que dirigiam o Brasil de 1964 a 1985. A busca de uma expressão politicamente mais “neutra” levou, nesse período não democrático, a que fossem adotadas, oficialmente, denominações como “pequenos produtores”, “agricultores de subsistência”, “produtores de baixa renda”, que, além de imprecisas, carregavam um forte conteúdo depreciativo”.

2De acordo com Brandenburg (1998, p.208) “um agricultor moderno, ou neste caso um agricultor familiar

moderno, não é aquele que apenas investe em inovações técnicas no sentido de substituir a base técnica visando obter maior produtividade na produção e maior eficiência na gestão administrativa da unidade familiar, mas o agricultor que se coloca na condição de autor de um projeto de vida e que ao lutar para construí-lo combina racionalidade e subjetividade. Nestas condições, o agricultor familiar é, portanto uma categoria moderna, cujo projeto sem dúvida se inscreve como uma continuidade de uma “condição camponesa (WANDERLEY, 1996)”. Desse modo, “estas transformações do chamado agricultor familiar moderno, no entanto, não produzem uma ruptura total e definitiva com as formas “anteriores”, gestando, antes, um agricultor portador de uma agricultura camponesa, que lhe permite, precisamente, adaptar-se às novas exigências da sociedade” (WANDERLEY, 1996, p.2). Isso se dá porque esse segmento “está inserido em mercados modernos e são influenciados pela sociedade englobante e pelo Estado” (PICOLOTTO, 2014, p.70).

3 É importante ressaltarmos que “no estudo da agricultura no capitalismo avançado está muito mais em suas

funções globais para a economia, do que na sua capacidade setorial de representar um segmento significativo no processo de acumulação capitalista” (ABRAMOVAY, 1998, p.227). Isso porque não basta enxergarmos somente a capacidade setorial da agricultura familiar, ou seja, ver esse segmento apenas sob a ótica da produção agrícola, pois associado a essa categoria também existe um tipo de sociabilidade, de cultura, modos de ser e viver. De acordo com Abramovay (1998) o que o capitalismo vem provocando é a conversão do camponês em produto do capital, e para isso deixando de levar em consideração as relações sociais mais amplas que os caracterizam. Nessa direção, Abramovay (1998, p.251) acrescenta que “o mercado começa a dominar a vida social, onde a racionalidade econômica toma conta dos comportamentos dos indivíduos, os laços comunitários acabam por perder seu poder agregador e os camponeses vêem esvanecerem-se as bases objetivas de sua própria reprodução social”.

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Essa discussão é norteada por duas perspectivas, a primeira considera que a agricultura familiar (moderna) é indiscutivelmente uma nova categoria que foi gerada a partir das transformações sociais, políticas e econômicas das sociedades capitalistas, além de apresentar como “característica central a capacidade que ela oferece ao Estado de exercer um controle rigoroso sobre seu próprio processo de desenvolvimento” (ABRAMOVAY, 1998, p. 253). E outra perspectiva, que, considera a agricultura familiar como uma categoria em transformação, permeada por rupturas e continuidades em relação ao seu antepassado, ou seja, ao campesinato tradicional.

De acordo com Neves e Silva (2008, p.7), em termos gerais:

podemos afirmar que o campesinato, como categoria analítica e histórica, é constituído por poliprodutores, integrados ao jogo de forças sociais do mundo contemporâneo. Para a construção da história social do campesinato no Brasil, a categoria será reconhecida pela produção, em modo e grau variáveis, para o mercado, termo que abrange, guardas as singularidades inerentes a cada forma, os mercados locais, os mercados em rede, os nacionais e internacionais. Se a relação com o mercado é característica distintiva desses produtores (cultivadores, agricultores, extrativistas), as condições dessa produção guardam especificidades que se fundamentam na alocação ou no recrutamento de mão-de-obra familiar.

Além disso, é importante ressaltarmos que “a história do campesinato no Brasil pode ser definida como o registro das lutas para conseguir um espaço próprio na economia e na sociedade” (WANDERLEY, 1996, p.8).

O pensamento de Servolin (1989) é um dos que defende a primeira perspectiva, mencionada acima, ao entender a predominância dos agricultores familiares como um fenômeno recente que não possui vínculo ou herança com o passado do campesinato tradicional, visto que esse autor compreende que a agricultura familiar moderna presente na sociedade capitalista é desenvolvida por um personagem inteiramente novo, diferente do camponês tradicional, o qual não era gerado a partir das iniciativas do Estado.

Nessa direção, Amin e Vergoupolos (1978, p.37) explicam, com base na teoria de Chayanov, que o que cria uma distinção e ruptura do camponês tradicional para o agricultor familiar é o fato de que o “camponês em questão não é um empresário capitalista, ele não procura maximizar o lucro de seu capital e acumular, mas em primeiro lugar viver na terra que é sua, em virtude de uma organização social camponesa”4.

4 Isso nos deixa claro que o trabalho do camponês está associado apenas ao dispêndio necessário para

satisfazer as necessidades da família, o que dispensa qualquer tipo de troca mercantil que vise o lucro a partir da produção agrícola. Amin e Vergoupolos (1978, p.53) acrescentam que se não houvesse uma

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Desse modo, Abramovay (1992, p.22) afirma que “uma agricultura familiar, altamente integrada ao mercado, capaz de incorporar os principais avanços técnicos e responder às políticas governamentais não pode ser nem de longe caracterizada como camponesa”. Veiga (1991), assim como Abramovay (1992), afirma que dentre os vários processos de desenvolvimento que perpassaram a vida dos agricultores familiares até o estágio atual em que esse segmento se encontra de modernização dos processos produtivos, bem como inserção no mercado de trabalho, não nos possibilita afirmar que esse segmento caracterizado atualmente como profissional pode ser caracterizado ou ter características camponesas.

Já Caio Prado Júnior afirma a inexistência do campesinato no Brasil, “baseando - se numa visão europeia segundo a qual só existiria sistema camponês a partir da transformação do sistema feudal da serventia. No Brasil, para Prado Jr (1942), se teria passado da escravatura para o assalariamento dos trabalhadores rurais” (SABOURIN, 2009, p.29).

No entanto, partimos do pressuposto contrário à primeira perspectiva, e concordamos com o segundo posicionamento, pois entendemos que apesar da existência de rupturas presentes nos modos de vida e de produção entre ambas as categorias, visto que o camponês (caracterizado como um modo de vida, no qual sua produção é voltada para subsistência da família) e o agricultor familiar (caracterizado como segmento profissional, no qual sua produção está voltada não apenas para sua subsistência, mas também para o mercado de trabalho) partimos da ideia de Jollivet (2001 apud WANDERLEY, 2003, p.47) que “ no agricultor familiar há um camponês bem adormecido”.

Isso porque entendemos de acordo com Moura (1978, p.19) que:

[...] o camponês desempenha um contraditório papel que, de um lado, expressa a sua resistência em desaparecer e, de outro, é o resultado do próprio capitalismo que não o extingue. Este não só extrai sobretrabalho dos operários, como também o capta onde é possível. Entre essas possibilidades encontra-se o trabalho camponês. É nesse contexto de dramáticas tensões que o camponês vive no meio rural contemporâneo.

resistência do camponês as modernizações e exigências postas pelo capital o mesmo se tornaria um proletário “porque está submetido à dominação do capital que o explora e que dele extrai a mais-valia; semi-proletário porque conversa a aparência de um produtor mercantil livre. Objetivamente proletarizado, o camponês permanece no plano da consciência de classe, um pequeno produtor”. No entanto, é importante salientarmos que alguns autores vão de encontro a essa perspectiva, a exemplo Eric Sabourin ao argumentar que “considerar o camponês um exclusivo produtor para sua própria subsistência seria amputar a dimensão mercantil da sua atividade econômica, da qual não escapa (imposição do mercado) e que é por ele valorizada (desejo de inserção)” (SABOURIN, 2009, p.14)

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Nessa direção, Wanderley (2003, p.51) completa a ideia de Moura ao afirmar:

Enquanto o camponês tradicional enfatiza o “passado e suas tradições”, a agricultura moderna, ao introduzir a noção de progresso, transfere o primado ao futuro. Nesse contexto, usando as expressões de Rambaud, “são criadas instituições para controlar o futuro.” “A agricultura evolui sob o signo do número e da estatística previsional”, gerando a necessidade do planejamento [...] a agricultura familiar passa a ser, então, uma profissão que se aprende, como já dissera Mendras.

A partir disso, acreditamos que apesar das rupturas permeadas entre ambas as categorias, bem como a transição de uma agricultura camponesa5 para uma agricultura empresarial6 que caracteriza hoje os agricultores familiares (baseado na relação capital – trabalho7), percebemos a existência de uma suposta continuidade entre as mesmas8. Isso é notório nas palavras de Wanderley (1996 apud WANDERLEY, 2003, p. 56) quando a mesma afirmar que:

O tipo de capitalismo que se desenvolveu no setor agrícola brasileiro, antes ou depois do processo de modernização, jamais se libertou de sua vinculação com a propriedade da terra. Essa natureza estrutural do capitalismo agrário brasileiro, a meu ver, qualificou a própria modernização da agricultura – “uma modernização sob o comando da terra.

5De acordo com Godoi, Menezes, Marin (2009, p.15) é importante destacarmos que “o campesinato

representa um pólo de uma das mais importantes contradições do capital no Brasil, que consiste em sua capacidade de se “libertar” da propriedade fundiária [...] a principal luta dos camponeses é pela construção de seu patrimônio, condição sine quan non de sua existência [...] assim, a luta pela terra e pelo acesso a outros recursos produtivos não assume apenas a dimensão mais visível das lutas camponesas.

6Esse termo agricultura empresarial está associado a ideia de que a agricultura familiar, nos dias atuais, é

considerada como uma atividade econômica agrícola voltada para o mercado, e que por isso, constitui-se como o principal segmento social capaz de propiciar o desenvolvimento do meio rural e local. No entanto, segundo Lustosa (2012, p.90) é importante ressaltamos “que nem todos os agricultores inseridos nessa lógica do sistema são considerados aptos em potencial para atender as exigências e requisitos econômicos imediatos, como, por exemplo, a capacidade para remunerar o capital”. Em relação a agricultura familiar e patronal, os dados da FAO e o Censo Agropecuário, nos mostram que os agricultores familiares no Brasil geram em média por hectare 136% mais renda do que as explorações patronais, bem como são responsáveis por 77% dos trabalhadores rurais ocupado no setor agrícola. Jungmann, Raul Belens. O desenvolvimento do Meio Rural. Abril 2000. Disponível em: <www.bnaf.org.br/palest09.htm> Acesso em: 4.out.2015.

7Nessa relação contraditória e desigual, o agricultor familiar passa a ser visto, bem como reconhecido

socialmente como uma categoria eficaz e legitima que se apropria dos recursos produtivos a partir da lógica do mercado, afim de tornar os produtos agrícolas fonte de extração de lucro e acumulação capitalista.

8Amin e Vergoupolos (1978, p.65) acrescenta que “a agricultura camponesa está longe de se encontrar em

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Com isso, o que a autora nos revela pode ser expresso nas palavras de Neves e Silva (2008, p.13) quando ambas afirmam que:

o significado que a propriedade da terra tem até hoje, como um elemento que ao mesmo tempo torna viável e fragiliza a reprodução do capital, gera uma polarização (de classe) entre o proprietário concentrador de terras (terras improdutivas) e aquele que não tem terras suficientes.

Dessa forma, o processo de modernização da agricultura9 “é responsável, em grande parte, por determinar o ‘lugar’ social do campesinato na sociedade brasileira ao longo da sua história” (WANDERLEY, 2003, p. 56). Isso nos leva a refletirmos que tanto o processo de transição do camponês para o agricultor familiar - como vimos anteriormente, permeado por rupturas e continuidades – quanto o processo de modernização das condições de produção agrícola são marcados por uma integração econômico – social, no qual em geral discute-se “a incapacidade estrutural do camponês para assumir a modernização da produção agrícola10” (WANDERLEY, 2003, p.55), bem como de gerar os excedentes econômicos exigidos pela economia do mercado.

Nesse contexto, Neves e Silva (2008, p.14) ressaltam a importância sobre “a capacidade dos camponeses de formular um projeto de vida, de resistir às circunstâncias nas quais estão inseridos e de construir uma forma de integração à sociedade”. A partir disso, Wanderley (2003, p.54) é uma das autoras que defende essa segunda perspectiva explicitada anteriormente, ao trabalhar a ideia de que grande parte dos agricultores

9A modernização da agricultura está associada às novas formas de produzir, baseadas no uso de insumos

modernos e de máquinas agrícolas. De acordo com Figueiredo e Hoffmann (1998, p.439) “o crédito rural é considerado o principal instrumento de política visando à modernização da agropecuária brasileira entre 1960 e 1980. Nessa direção, Lamarche (1998, p.28) acrescenta que “a modernização da agricultura e do meio rural se efetuou a partir da transformação da agricultura camponesa tradicional: a persistência do campesinato, sua diferenciação social, suas novas formas de sociabilidade etc”. No entanto, é importante ressaltarmos com base em Prado Júnior (1979) que o avanço tecnológico no setor agrícola não necessariamente significa melhores condições de vida e de trabalho para o trabalhador rural, visto que, às vezes, pode até agravá-las pelo fato dos agricultores não se adaptarem as novas formas de produzir ou até mesmo de não atenderem às suas necessidades naquele respectivo momento, além do aumento do custo da produção.

10Wanderley (2003, p.55) ressalta que “no caso brasileiro, o processo de modernização das condições de

produção agrícola não está concluído nem se disseminou de forma homogênea por todo o território nacional. Nessa direção, Sabourin (2009, p.30) acrescenta que “para Nazaré Wanderley (1996, p.7), a parte representada pelo campesinato continua importante no Brasil, sobretudo no Nordeste, inclusive no âmbito da modernização de uma agricultura de tipo familiar: Este campesinato corresponde a uma das formas particulares da agricultura familiar, constituída a partir de modalidades especificas de produzir e viver em sociedade”.

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familiares presentes no Brasil possuem raízes camponesas. Nesse sentido, a autora destaca que:

No Brasil, a construção dessa identidade foi, de uma certa forma, retardada pelo envolvimento dos movimentos de luta pela terra com a realização de experiências de coletivização [...], bem como pela prioridade concebida pelo movimento sindical rural à consolidação do Pronaf. Mas ela começa a assumir uma expressão significativa por meio de novas estruturas organizacionais e da produção de um novo discurso referente a uma outra agricultura (WANDERLEY, 2003, p.54).

Essa outra agricultura que a autora nos remete é inerente a esse processo de modernização das condições de produção agrícola11, na qual:

mesmo integrada ao mercado e respondendo às suas exigências, o fato de permanecer familiar não é anódino e tem como consequência o reconhecimento de que a lógica familiar, cuja origem está na tradição camponesa, não é abolida; ao contrário, ela permanece inspirando e orientando – em proporções e sob formas distintas, naturalmente – as novas decisões que o agricultor deve tomar nos novos contextos a que está submetido. Esse agricultor familiar, de uma certa forma permanece camponês (o camponês “adormecido” de que fala Jollivet) na medida em que a família continua sendo o objetivo principal que define as estratégias de produção e de reprodução e a instância imediata de decisão (WANDERLEY, 2003, p.48).

Nessa perspectiva, Wanderley (2003), entende que a reprodução do campesinato enquanto um ator social específico não se explica tão somente pela sua subordinação aos ditames do capital, mas também pela sua capacidade de resistência e adaptação aos novos contextos econômicos e sociais nos quais estão inseridos. Sendo assim, a autora acrescenta que a agricultura familiar “[...] guarda ainda muitos de seus traços camponeses, tanto porque ainda tem que enfrentar os velhos problemas12, nunca resolvidos, como

11De acordo com Delgado (2010, p.88) esse processo de modernização “não só preservou como aprofundou

a heterogeneidade da agricultura brasileira, tanto no padrão tecnológico como nas relações de trabalho predominantes. Os indicadores de modernização ficaram concentrados nas regiões Sul e Sudeste e, parcialmente, no Centro – Oeste, à época uma fronteira agrícola. Na Amazônia e no Nordeste, são bem baixos os índices de modernização técnica”.

12Na 2ª Conferência Intermunicipal de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário da Região Sul,

realizada no dia 9/01/2016, o qual recebeu diversas autoridades ligadas ao setor agrário, foi elencado como “velhos” e recorrentes problemas da agricultura familiar: a reforma agrária e a regularização fundiária.

Disponível em: <

http://www.olhardireto.com.br/noticias/exibir.asp?noticia=Levantamento_das_dificuldades_enfrentadas_ na_agricultura_familiar_e_realizado_durante_Conferencia&id=329135 > Acesso em 29. jan. 2016. Atualmente além desses problemas a agricultura familiar enfrenta vários desafios, tais como: a valorização da mulher no meio rural, a luta contra o uso do agrotóxico, dentre outros.

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porque, fragilizado, nas condições da modernização brasileira, continua a contar, na maioria dos casos, com suas próprias forças” (WANDERLEY, 1996, p.15).

Ploeg (2008) assim como Wanderley (2003) é um dos defensores dessa ideia de que existe uma continuidade do camponês tradicional no agricultor familiar, ao identificar a agricultura camponesa como uma das agriculturas que compõe o estágio atual da agricultura mundial, bem como da agricultura empresarial e a agricultura capitalista. Neves e Silva (2008) salientam, na mesma perspectiva de ambos os autores, que os agricultores familiares podem ser um dos segmentos do campesinato.

Sabourin (2009, p.281) também é um dos autores que defende essa perspectiva, quando o mesmo afirma que há “a existência de uma agricultura com características camponesas, marcada principalmente pela autonomia perante o mercado de troca capitalista e pela permanência de estruturas de reciprocidade, entre outros elementos essenciais [...]”.

A respeito dessa discussão, a concepção de Lamarche (1993) também é bastante interessante para refletirmos a relação existente entre a agricultura familiar e a agricultura camponesa13. Lamarche (1993, p.15) nos propõem entender a exploração familiar como “unidade de produção agrícola onde a propriedade e o trabalho estão intimamente ligados à família”. A partir disso, o autor realiza uma distinção entre a exploração familiar e a exploração camponesa14, o que leva a Lamarche (1993) concluir que a exploração camponesa é uma exploração familiar, porém, nem toda exploração familiar é camponesa.

Nesse sentido, o autor Brandenburg (1998), assim como os demais autores mencionados acima, afirma a existência de uma “condição camponesa” presente na vida

13 Essa discussão se fez presente no painel 1 – Marco legal sobre a agrodiversidade na Feira da agricultura

familiar realizada em Lagoa Grande nos dias 21 a 23 de outubro de 2015. Foi discutido nesse painel os desafios e possibilidades do marco legal para a agrodiversidade e a agricultura camponesa por Marciano Toledo da Silva/Movimento dos Pequenos Agricultores/MPA. Marciano discutiu nesse eixo a interpretação do alimento e da produção como forma de negócio; bem como da forte presença da mercantilização na vida dos agricultores. Além de nos trazer como reflexão o seguinte tema: Direitos dos agricultores ou camponeses? Ele começa afirmando que foi após a revolução verde que surge essa confusão conceitual e jurídica. No entanto, afirma que não existe uma ruptura entre ambos os segmentos, e que os agricultores familiares de hoje são os camponeses de antigamente acompanhado de algumas mudanças. Dessa forma, Marciano Toledo afirma que o que diferencia ambos os segmentos no que diz respeito à categoria direito é que o direito do agricultor – está atrelado à forte influência do governo nas decisões e o direito dos camponeses – existe a auto determinação desses sujeitos na tomada de decisões referentes aos mesmos, sem que exista uma forte influência do governo.

14De acordo com Lamarche (1993, p.20) o que diferencia ambas as explorações é que “a exploração familiar

não pode ser definida em um modo de produção especifico, como é o caso da exploração camponesa ou da empresa de produção”.

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dos agricultores e no projeto de vida dos mesmos15. O autor destaca que essa condição se expressa:

Em primeiro lugar, dois atributos são os atributos mais valorizados pelos agricultores: a liberdade e a autonomia. Em segundo lugar, para o seu projeto de vida, os agricultores familiares planejam uma propriedade diversificada, uma organização da produção que explora a gestão equilibrada dos recursos naturais, mas ao mesmo tempo técnica e economicamente eficiente visando atender os interesses do bem estar da família [...] Desta forma o projeto do agricultor familiar pode ser definido como um projeto de vida “moderno-camponês” (BRANDENBURG,1998, p.207).

Essa discussão é imprescindível e nos dá suporte para entendermos o processo histórico que permeia desde o camponês tradicional ao agricultor familiar que se faz presente hoje na sociedade capitalista. Dessa maneira nas palavras de Lamarche (1998, p. 27) vimos a partir dessa discussão que:

Embora, uma certa corrente do pensamento social tenha negado a importância e mesmo a própria existência histórica do campesinato no Brasil, numerosos estudos, que adotam o pressuposto inverso, são hoje referencias clássicas para a reconstrução e analise da própria história agrária brasileira16.

Diante dessas duas correntes, defendemos que existe uma agricultura familiar que pode ser entendida aqui, como parte da diversidade da agricultura camponesa. E que, hoje, a família dispõe de diferentes meios de geração de renda, além de poder contar com a produção de alimentos para o consumo e venda, o que a diferencia em alguns aspectos do camponês tradicional, mas que não causa uma ruptura total entre ambas as categorias. Sob essa mesma ótica, Sabourin (2009, p. 281) afirma que:

No âmbito da vasta categoria da agricultura familiar, os estudos de caso abordados confirmam a existência de uma agricultura com características camponesas, marcada principalmente pela autonomia perante o mercado de troca capitalista e pela permanência de estruturas de reciprocidade, entre outros elementos essenciais. A autonomia do sistema de troca livre resulta em uma

15Sabourin (2009, p.32) com base na perspectiva de Ploeg (2008, p.24-28) menciona que essa condição

camponesa também pode ser identificada a partir de seis características “uma relação de co-produção com a natureza; a construção e autogestão de uma base autônoma de recursos próprios (terra, fertilidade, trabalho, capital); uma relação diferenciada com mercados diversificados autorizando certa autonomia; um projeto de sobrevivência e de resistência ligado à reprodução da unidade familiar; a pluriatividade; a cooperação e as relações de reciprocidade”.

16 De acordo com Sabourin (2009, p.281) “A história agrária do Brasil apresenta uma herança camponesa

diversa: a dos pequenos agricultores livres do Nordeste da época colonial, que ocupam os interstícios entre as grandes fazendas, a dos vaqueiros que compraram algumas léguas após a Lei da Terra, no Nordeste e Centro-Oeste, a de escravos africanos foragidos ou libertados; no Sul e Sudeste do país, a dos colonos camponeses europeus do século XIX e XX, oriundos da Alemanha, Itália, Polônia, Holanda e, por fim, a dos colonos japoneses produtores de hortaliças e frutas”.

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produção diversificada associando inserção diferenciada em mercados locais e regionais, autoconsumo e práticas de redistribuição local e interfamiliar.

A partir disso, a ascensão da agricultura familiar na sociedade brasileira17 se dá a partir dos anos 9018, com o processo de redemocratização no qual vários segmentos da sociedade civil além de serem fortalecidos ganharam visibilidade, dentre estes a agricultura familiar, que na década de 60 foi considerada como um obstáculo ao modelo de desenvolvimento econômico da região Nordeste19 (ABRAMOVAY,1994). Zangaro (1998, p.16) explica que isso se deu:

devido ao atraso das forças produtivas e a sua incapacidade de produzir alimentos a baixo custo para suprir o mercado interno e também devido à sua estrutura fundiária (latifúndio x minifúndio). De outra perspectiva as relações de produção do campo por não serem capitalistas nessa década, tardavam a expansão do mercado consumidor para os produtos industriais.

Desse modo:

[...] apenas o setor dominante da grande propriedade era visto como produtivo e legítimo público da política econômica20. Aos poucos o país vai tirando da

invisibilidade imposta vários setores sociais e descobrindo a diversidade da agricultura e do meio rural, suas potencialidades para uma ocupação mais equilibrada do território e das regiões e para a própria sustentabilidade e o dinamismo do desenvolvimento nacional (FRANÇA; SORIANO, 2010, p. 223).

17 De acordo com Picolotto (2014, p.79) “a construção da identidade da agricultura familiar, então, busca

livrar-se do caráter atrasado, imperfeito e incompleto que a noção de pequena produção carregava e motivar a sua ressignificação ao ser renomeada como agricultura familiar, dando-lhes novos adjetivos positivos, tais como: produtora de alimentos, moderna, eficiente, sustentável etc”.

18Sabourin (2009, p.46) acrescenta que foi “em meados dos anos 1990, sob o efeito das reivindicações

camponesas e das lutas para a implantação da reforma agrária, a atitude do Estado brasileiro mudou com relação à agricultura brasileira”. Nessa direção, (Brummer et.al, 1993 apud Picolotto, 2014, p.66) acrescenta que a agricultura familiar “nasceu no Brasil sob o signo da precariedade, precariedade jurídica, econômica e social do controle dos meios de trabalho e de produção e, especialmente da terra”. Precariedade que se revestiu também no “caráter rudimentar dos sistemas de cultura e das técnicas de produção” e da sua pobreza generalizada”. Dessa forma, Picolotto (2014, p.66-67) ressalta que “essa situação de precariedade, da maioria das vezes, limitou a constituição de uma categoria de agricultores centrados no trabalho familiar que pudesse fazer um contrapeso socioeconômico e político aos grandes proprietários e suas organizações. Nesse sentido, além dos agricultores de base familiar terem sido desprivilegiados no que concerne ao acesso à terra, ao crédito público, e às técnicas modernas, também tiveram grandes dificuldades para construir forças políticas autônomas que pudessem desafiar os grandes proprietários e o modelo de agricultura dominante”.

19Abramovay (1994, p.99) acrescenta que o discurso dos anos 1970 já era diferente dos anos 1960, pois

“não só a agricultura não era mais obstáculo ao desenvolvimento capitalista, mas, ao contrário, ela continha um elemento estratégico para este desenvolvimento, que era a oferta de produtos alimentares a baixos preços”.

20Picolotto (2014, p.65) ratifica essa ideia ao afirmar que: “A invisibilidade socioeconômica e política da

agricultura de base familiar foi fruto de um longo processo de subjugação e, em muitos casos, de dependência da grande agricultura de exportação. A grande propriedade, dominante em toda a história brasileira, se impôs como modelo socialmente reconhecido”.

Referências

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