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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Mestrado em Urbanismo

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

Mestrado em Urbanismo

V SEMINÁRIO DE HISTÓRIA DA CIDADE E DO URBANISMO “Cidades: temporalidades em confronto”

Uma perspectiva comparada da história da cidade, do projeto urbanístico e da forma urbana. SESSÃO TEMÁTICA 5: HISTÓRIA E CULTURA URBANA TEMPORALIDADE E FORMA URBANA COORDENADOR: CARLOS ALBERTO MARTINS (EESC-USP)

A forma da expansão urbana numa cidade de médio porte: a evolução espacial de Uberlândia

Humberto E. de Paula Martins(*) A evolução urbana das chamadas cidades de médio porte apresenta especificidades com relação às metrópoles. Nas regiões metropolitanas, são estudados processos de evolução de cidades de grande porte, geralmente capitais de estado e cuja gestão está ligada a um conjunto de municípios menores. Diferentemente, as cidades de médio porte apresentam uma menor dimensão de infra-estrutura urbana e de aparelho administrativo e geralmente o processo de gestão não é conjunto com outros municípios.

O presente trabalho trata da evolução urbana de uma cidade de médio porte: Uberlândia. Trabalha-se na perspectiva lefebvriana (1) de evolução urbana como um

processo sócio-espacial, em que o espaço urbano aparece como elemento fundamental da dinâmica do desenvolvimento industrial, influenciando e sendo influenciado por ela. Nesta visão, o espaço urbano e o espaço industrial se produzem conjuntamente.

As origens da evolução de Uberlândia, as formas da expansão urbana, as etapas da ocupação das áreas da cidade, as características do processo de evolução urbana são tratadas ao longo do trabalho para desaguar numa caracterização da recente estrutura urbana.

Assim, na primeira seção trata-se das origens do processo de evolução urbana de Uberlândia, ainda no século XIX e seu desenvolvimento nas primeiras décadas do século XX. Na segunda seção, apresenta-se a forma da expansão urbana, através de mapas baseados no ano de aprovação dos loteamentos. A terceira seção trata da evolução urbana no período do desenvolvimento industrial, mostrando diversos momentos importantes desta evolução: as décadas de 40, 50 e 60, que criaram as condições para um salto no processo de industrialização, e o novo padrão que se estabeleceu a partir da implementação da “Cidade Industrial”. A quarta e última seção apresenta a conformação recente do espaço urbano de Uberlândia, destacando processos que vêm ocorrendo nos últimos anos.

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1 - Origens da evolução urbana de Uberlândia

As origens do processo de evolução urbana de Uberlândia remontam ao início do século XIX. Em 1818, chegava à região, ainda pouco desbravada, João Pereira da Rocha e família, que se instalaram à beira de um córrego, posteriormente chamado córrego São Pedro. Esta família tomou posse das terras próximas e fundou a Fazenda do Salto, que seria dividida entre seus familiares em 1845.

A partir dessa pioneira ocupação, outras fazendas foram fundadas e outras famílias se instalaram nas redondezas, induzindo a constituição de um povoado, que foi denominado “Arraial de Nossa Senhora do Carmo e São Sebastião da Barra de São Pedro de

Uberabinha”. Este povoado constituiu o embrião do núcleo urbano que iria se consolidar anos mais tarde (UBERLÂNDIA, 1991, p.41).

O núcleo urbano que deu origem a Uberlândia tinha um perímetro situado entre a Igreja do Carmo (então Igreja Matriz), localizada na atual praça Cícero Macedo e o Largo do Rosário (atual praça Dr. Duarte), conforme pode ser visto no Mapa 1:

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Nesse perímetro havia várias residências e casas comerciais; nos seus arredores havia o cemitério e várias chácaras, que foram gradativamente incorporadas ao sítio urbano.

Este povoado foi elevado a “Distrito de Paz” de Uberaba em 1852. A partir de 1857, o arraial passou a se chamar oficialmente “São Pedro de Uberabinha” e nessa época (em 1858) contava com 40 residências, que se estendiam ao longo do perímetro descrito acima (do Largo da Matriz ao Largo do Rosário). Em 1883, o sítio urbano incorporou mais 12 alqueires de terras, doados por José Machado Rodrigues. Essas terras deram origem ao bairro hoje chamado de Patrimônio, próximo ao córrego São Pedro (atual Avenida Rondon Pacheco). Na penúltima década do século XIX, mais precisamente a 31 de agosto de 1888, o arraial foi elevado à categoria de município. Nessa época, a população era de cerca de 14 mil habitantes (SOARES, p. 26).

Em 1895 foi inaugurada no município, a Estação da Estrada de Ferro Mogiana, marcando a inclusão da cidade na rota da Mogiana. A extensão da Mogiana (que no ano seguinte chegou até Araguari), trouxe significativo impacto para o desenvolvimento da cidade e da região.

Na virada para o século XX, o ritmo da urbanização se acelerou e vários

equipamentos coletivos foram instalados. Nas décadas seguintes as transformações no espaço urbano cada vez mais se faziam sentir. A partir da década de 20, intensificou-se o crescimento populacional e a urbanização, com a crescente incorporação de áreas agrícolas à área urbana, na qual era a intensa construção de moradias . No ano de 1929, o município de São Pedro de Uberabinha passou a se chamar Uberlândia.

Nas décadas de 20 e 30 iniciou-se o processo de industrialização de Uberlândia, impulsionado pelo ritmo da urbanização. As primeiras instalações industriais buscaram se localizar em áreas periféricas, “nas saídas da cidade”, o que constituiu, por sua vez, estímulo à expansão urbana:

“O processo de ocupação dos subúrbios acompanhou principalmente a localização das indústrias e da estação ferroviária, apesar dos trilhos dividirem a área urbana em duas partes distintas: aquela situada abaixo da estação que era conhecida genericamente como cidade, e a outra que era a Vila Operária [...] Com o crescimento da cidade, as chácaras, localizadas no limite da zona rural, foram sendo incorporadas ao espaço urbano, formando-se novos bairros. Assim , foram criadas a Vila Martins, fundada em 1925 [...], a Vila Oswaldo [...] e a Vila Carneiro”. (ver mapa 2) (SOARES, 1988, p. 34, parênteses nossos)

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Paralelamente a essa expansão, o centro comercial transformou-se e também se expandiu para outras áreas. Esta descentralização teve origem na década de 30.

As décadas de 40 e 50 também foram marcadas por transformações espaciais e uma grande expansão urbana, tendo ocorrido nessas décadas um intenso desenvolvimento urbano e industrial. O comércio local e a indústria, em processo incipiente de

desenvolvimento, traziam, por sua vez, enormes estímulos à expansão urbana. Juntamente com esse crescimento econômico, a área urbana se transformou e se expandiu,

desencadeando um processo de melhoria e ampliação da infra-estrutura de água e esgoto, construção e asfaltamento de rodovias, ruas e avenidas, além da inauguração do aeroporto e do ajardinamento de diversas praças públicas (SOARES, 1988, p. 43).

Foi nesse período que passou a atuar um novo agente na produção do espaço de Uberlândia: o capital imobiliário. Conforme FERREIRA (1994, p. 43): ...nessa época que surge a primeira empresa imobiliária, iniciando o processo de loteamento.

Através da abertura de novos lotes, com o parcelamento de várias chácaras e fazendas nos arredores da cidade, a atividade imobiliária tornou-se bastante atuante na cidade. Essa atividade foi determinante no processo de expansão da área urbana, pois o capital imobiliário incentivou a abertura de loteamentos, expandindo a área urbana.

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Atestando essa expansão imobiliária, pode-se citar o fato de que, entre os anos de 1940 e 1958, a cidade passou de 7.000 para 28.271 lotes, sendo que 5.500 deles foram abertos de 1944 a 1946 (SOARES, 1988, p. 52).

Esse processo de expansão urbana prosseguiu nas décadas seguintes, e a atividade imobiliária manteve-se como um importante agente da expansão urbana.

2 - A (forma da) expansão urbana

O Mapa 3 mostra os contornos da mancha urbana sobre os principais eixos viários (rodovias e avenidas), trazendo o nome desses eixos e de alguns bairros e localidades. Os eixos e a mancha urbana foram extraídas de um mapa de 1991, fornecido pela Prefeitura Municipal de Uberlândia - PMU:

(MAPA 3)

Para a visualização da forma da expansão urbana de Uberlândia, elaborou-se o Mapa 4, com base no ano de aprovação dos loteamentos. O Mapa 4 foi construído a partir de um mapa de 1986, fornecido pela Prefeitura Municipal de Uberlândia , que consta no trabalho de SOARES (1988, p. 54) e de outro que consta no Plano Diretor (UBERLÂNDIA, 1991).

O mapa da PMU indica 9 períodos temporais e as áreas correspondentes aos

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uma reorganização dos períodos temporais, que reduziu para três o número de períodos, adequando o mapa aos objetivos da dissertação e tornando mais clara a visualização da expansão urbana. O fundo de mapa utilizado foi praticamente o mesmo, apenas com a redução e simplificação, desprezando traços que dividiam áreas da mesma classe e destacando o rio e os principais eixos viários: as rodovias que cortam a cidade e duas

grandes avenidas (João Naves de Ávila e Rondon Pacheco). A partir daí, adaptou-se o mapa que consta no Plano Diretor (UBERLÂNDIA, 1991), que acrescenta o período 1986-1991.

(MAPA 4)

O movimento da expansão urbana pode ser melhor visualizado quando apresentado numa coleção de mapas, colocando-se um mapa para cada período temporal estabelecido.

Como pode ser visto, a expansão urbana de Uberlândia se deu em anéis concêntricos, a partir de um núcleo central. Este núcleo central corresponde, de maneira geral, ao núcleo central originário (2) acrescido de áreas posicionadas ao norte e a nordeste. Com poucas irregularidades, a expansão se deu deste núcleo para sua periferia, de maneira relativamente homogênea.

A expansão não privilegiou preponderantemente nem o eixo norte-sul, nem o eixo leste-oeste, embora tenha se dado ligeiramente mais sobre este último, sem qualquer

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sentido específico (do leste para o oeste ou vice-versa). O movimento da expansão não seguiu o sentido de qualquer um dos principais eixos rodoviários em especial e, tampouco, parece ter sofrido influência do rio quanto à sua direção, ou em relação ao atraso ou

incentivo de ocupação das áreas a sua margem, mostrando-se relativamente homogêneo no sentido centrífugo, a partir de um núcleo inicial.

3- A evolução urbana no período de desenvolvimento da indústria

Na Tabela 1, estão reunidos os dados referentes à população. Nessa tabela pode-se observar a evolução do crescimento populacional de Uberlândia:

TABELA 1 - POPULAÇÃO DE UBERLÂNDIA, NOS ANOS DE 1940, 1950, 1960, 1970, 1980 E 1991 ANO POPUL. TOTAL POPUL. URBANA PERCENT. DE POP.URB. NA. POP.TOT.(%) CRESCIM POPUL TOT(%)∗ CRESCIM POPUL. URB.(%)∗ 1940 42.179 22.123 52,55 ... ... 1950 54.874 35.799 65,24 30,01 61,82 1960 88.282 71.717 81,24 60,88 100,33 1970 124.706 111.466 89,38 41,26 55,42 1980 240.961 231.598 96,11 93,22 107,74 1991(3) 366.711 357.830 97,58 52,19 54,50 ∗em relação a dez anos atrás

FONTE: Censos Demográficos de 1950, 1960, 1970, 1980 e 1991

O crescimento populacional de Uberlândia, no período mostrado na tabela, esteve relacionado à imigração. Essa imigração foi tanto do tipo urbana-urbana, com habitantes de municípios vizinhos e de outras regiões de Minas Gerais e Goiás, assim como rural-urbana, a partir das mudanças tecnológicas e da mecanização que marcaram a agricultura na região e reduziram a absorção da mão-de-obra no campo (ver BRANDÃO, 1989, pp.150-161).

A Tabela 1 mostra que o crescimento da população urbana sempre foi maior que o crescimento da população total, em termos percentuais. Essa diferença, entretanto, foi cada vez menor ao longo do tempo. Na década de 80, a população aumentou de 240.961 para 366.711 habitantes, um crescimento de 52,19%, bastante inferior aos 93,22% da década anterior. O crescimento da população urbana no mesmo período (década de 80) , foi de 54,50%, apenas ligeiramente maior. Essa aproximação dos índices deve-se ao fato de que a quase totalidade da população do município passou a ser formada por população urbana: 96,11% em 1980; e 97,58% em 1991.

Pode-se observar pela tabela que nas décadas de 40 e 50 foi grande o crescimento populacional de Uberlândia. Particularmente a população urbana teve intenso crescimento nessas décadas: 61,82% na década de 40; e 100,33% na década de 50. A participação da população urbana (taxa de população urbana) na população total do município cresceu de 52,55% em 1940, para 65,24% em 1950, e para 81,24% em 1960.

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Este processo acelerado de urbanização da população se deu em Uberlândia antes de acontecer a nível nacional ou mesmo na região Sudeste e no estado de Minas Gerais, como destaca FERREIRA (1994), afirmando que essa urbanização “precoce”

“...ocorreu em função da concentração de terras no município, de sua pouca fertilidade do solo e da atividade pecuária extensiva, determinando, portanto, que a cidade se voltasse para o setor de comércio, e assim implanta-se uma infra-estrutura urbana para a população residente.” (FERREIRA, 1994, p.43) O percentual de população urbana do Brasil e da região Sudeste (o maior percentual do país) mostravam, no ano de 1960, 44,6% e 57,0% respectivamente. Naquele ano

Uberlândia apresentava 81,24% de população urbana, patamar que só iria ser atingido pela região Sudeste, em conjunto, no ano de 1980: 82,8% , conforme os censos demográficos (BRASIL, 1960 -1980).

O crescimento da população urbana, juntamente com a expansão e a transformação do espaço urbano, foram importantes e criaram condições para um salto de qualidade no desenvolvimento industrial, representado pela constituição da “Cidade Industrial” e do Distrito Industrial, cuja localização é mostrada no Mapa 5:

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A constituição da “Cidade Industrial”, em 1965, e do Distrito Industrial, em 1971, ambos no setor norte da cidade, trouxeram modificações para o desenvolvimento urbano. A partir da década de 60, o desenvolvimento urbano-industrial passou a se dar num outro padrão, incorporando novos elementos.

Dentre os novos elementos que passaram a marcar o desenvolvimento urbano, pode-se citar a construção de conjuntos habitacionais, que também eram viabilizados pela conjuntura nacional. O Conjunto Industrial - COHAB/MG contou com a participação direta da “Cidade Industrial”:

“A criação do Banco Nacional de Habitação - BNH, em 1964, e o estabelecimento da ‘Cidade Industrial’ permitiram a implantação de um novo tipo de habitação popular na cidade de Uberlândia. Em 1968 foi concluído um núcleo habitacional de 300 casas para operários com diversos equipamentos coletivos: escola, igreja, praça, água, luz, esgoto, dentre outros, situação não existente nos outros conjuntos até então construídos. A área do conjunto, a 7 km do centro, foi doada à COHAB pela Comissão de Implantação da Cidade

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Industrial. A prefeitura, de acordo com a política do BNH, implantou toda a infra-estrutura do conjunto." (SOARES, 1988, p. 60, grifos nossos)

Este Conjunto Industrial - COHAB/MG foi instalado numa área próxima à “Cidade Industrial”, conforme mostra o Mapa 6:

(MAPA 6)

Esse período foi marcado por uma política habitacional que privilegiava a ação do Estado, principalmente pela construção de conjuntos habitacionais para a população de baixa renda, o que viabilizou a implantação de outros conjuntos habitacionais pelo BNH.

Esse novo padrão de desenvolvimento urbano incluiu também uma crescente especialização e divisão técnica do espaço urbano (SOARES, p. 72). A constituição da “Cidade Industrial” e do Distrito Industrial envolveu a participação do Estado no âmbito dos governos estadual e municipal, que pautaram suas ações dentro de uma concepção de planejamento urbano vigente à época. A constituição desses espaços industriais gerou um movimento de concentração industrial ao norte da cidade. O terciário, diferentemente, encontrava-se inserido na malha urbana, principalmente no seu núcleo central.

Durante a década de 70, tendeu-se à consolidação dessa divisão técnica do espaço urbano, e se estabeleceu o seguinte arranjo espacial: o setor industrial concentrado ao norte da cidade, distante do núcleo central originário; o setor comercial mais fragmentado pela cidade, com o comércio varejista situado principalmente no núcleo central; e conjuntos habitacionais estabelecidos em áreas periféricas. O Mapa 7 mostra o uso do solo em 1978:

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(MAPA 7)

Em meados da década de 70, ocorreu a transferência dos trilhos da estrada de ferro, que, de certo modo, represavam a expansão da cidade e a desconcentração do comércio. O comércio varejista e a rede bancária se localizavam ao sul da linha férrea, que, dessa

maneira, constituía um obstáculo à expansão da cidade em direção norte.

A transferência dos trilhos permitiu o espraiamento do comércio varejista, que passou a se localizar em áreas fora do núcleo central, desencadeando a formação de centros

“secundários” em diversos bairros. Estes “centros secundários” passaram a conter uma gama variada de comércios e serviços, e mudaram a configuração do espaço urbano:

“Podemos afirmar que em Uberlândia, os diversos centros comerciais secundários surgiram pela descentralização das atividades do ‘centro’, reforçada pela alta valorização do solo e pela extensão de sua malha urbana [...] Sem significativas barreiras ao seu crescimento, o espaço urbano da cidade vem aumentando de forma mais intensa nos últimos 15 anos. Sua configuração se modificou, principalmente no que diz respeito à expansão e diversificação do centro comercial em direção às rodovias que circundam a cidade e também à

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extensão de áreas comerciais secundárias nos seus principais bairros” (SOARES, 1988, p. 86).

Durante a década de 80, o ritmo de crescimento populacional diminuiu, mas ainda foi grande, principalmente se comparado à média nacional: a população total do município de Uberlândia aumentou 52,19% entre 1980 e 1991, enquanto a população total do Brasil cresceu 22,81%, no mesmo período. (BRASIL, Censos Demográficos de 1980 e 1991)

Estes dados se inserem no quadro de mudança que marcou o padrão do crescimento populacional brasileiro, durante a década de 80. Nesse período, houve uma inflexão no padrão concentrador do crescimento populacional que vinha se dando desde 1940, e os maiores índices de incremento populacional foram apresentados por municípios menores e centros intermediários (BAENINGER, 1992).

4 - Conformação recente da estrutura urbana de Uberlândia

O Mapa 8, referente à densidade demográfica Uberlândia, foi construído utilizando-se dados de 1990. Neste mapa, pode-se observar que essa densidade tende a ser maior na área central, embora esta relação não seja simples e direta.

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Foi elaborado, também, um mapa a partir do “Relatório de destinação dos imóveis por bairros” (UBERLÂNDIA, 1993). Esse relatório apresentava a quantidade de imóveis de cada bairro no ano de 1993, com a indicação da parcela que era destinada a cada uso

(residencial, comercial, industrial e prestação de serviços) ou que se tratava de terrenos sem uso. A partir desses dados, classificou-se os bairros em cinco tipos, de acordo com a predominância quantitativa de cada destinação que era dada aos imóveis. Os dois primeiros tipos estabelecidos caracterizam uso residencial, enquanto os tipos 3 e 4 caracterizam uso do solo voltado para a atividade comercial e de serviços, ainda que haja também uso residencial.

Assim, o Mapa 9 mostra a destinação dos imóveis por bairros, no ano de 1993. Pode-se notar por este mapa que o espaço urbano de Uberlândia vem se

complexificando crescentemente, com a diversificação e transformação do uso do solo em diversas áreas, assim como novos elementos têm se incorporado ao processo de produção do espaço.

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A desconcentração da atividade comercial, que já era uma tendência na década de 70 e no início da década de 80, é confirmada pelo Plano Diretor, em sua análise feita em 1991: ...Atualmente verifica-se a tendência de formação de centros de comércio e de serviços locais em bairros como: Luizote de Freitas, Tubalina, Tibery, Brasil e Roosevelt

(UBERLÂNDIA, 1991, p. 41).

Essa desconcentração pode ser verificada claramente no Mapa 9. Neste mapa, nota-se que a área de atividade comercial (e de serviços) vem se colocando a partir do núcleo central numa faixa a nordeste. A oeste deste núcleo, depois de uma interrupção, a faixa continua, incorporando uma nova área no extremo oeste da mancha urbana, que corresponde ao Conjunto Habitacional Luizote de Freitas.

Uma comparação entre os mapas mostra a seguinte questão: as áreas que se destacam pela atividade comercial e de serviços são também as áreas mais antigas, com exceção do bairro Roosevelt. Este é também o único dos bairros mais antigos que não está posicionado na faixa referida acima, localizando-se ao norte dessa faixa.

Outro elemento que compõe este quadro de desconcentração é o estabelecimento de novos pontos de atração de atividades comerciais (e outras) fora do centro mais antigo:

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“Atualmente a região próxima ao cruzamento das avenidas João Naves de Ávila e Rondon Pacheco está se consolidando como um novo pólo de atração. Aí está instalado o Carrefour, e estão sendo construídos o Center Shopping e o novo Centro Administrativo que irá abrigar todos os órgãos da

Administração Municipal e a Câmara de Vereadores””.(4) (UBERLÂNDIA, 1991,

p. 41, parênteses nossos)

Além da desconcentração espacial das atividades do centro, notadamente o comércio e os serviços, outros processos pertinentes ao espaço urbano no período recente podem ser identificados.

Um desses processos é que uma série de serviços (consultórios médicos e

odontológicos, clínicas especializadas, salões de belezas, hospitais, escolas de idiomas) têm ocupado antigas residências situadas entre as avenidas João

Pinheiro e Getúlio Vargas, área que tem grande parte da destinação dos imóveis para atividades de prestação de serviço.

O processo de verticalização ganhou extraordinário impulso no período recente e gerou a seguinte situação: uma alta valorização dos edifícios novos, que têm acesso elitizado e uma desvalorização dos edifícios mais antigos (que foram erguidos na cidade desde os anos 50), geralmente situados em áreas centrais de muito congestionamento de trânsito e poluição, que acabaram se transformando em ...verdadeiros cortiços, onde estudantes, comerciários e outras pessoas de menor poder aquisitivo passaram a compartilhar um mesmo local de moradia (SOARES, 1988, p. 98).

As tendências de expansão do espaço urbano de Uberlândia vem se dando a sudeste e a oeste, conforme o Plano Diretor :

“As tendências de expansão vêm ocorrendo na região dos bairros Santa Luzia e Luizote de Freitas, a oeste da cidade, onde muitos conjuntos

habitacionais vêm sendo implantados. Ao norte, a nordeste e a leste da cidade encontram-se fortes bloqueios físicos ao seu crescimento, tais como o Distrito Industrial, a rodovia BR-050, o aeroporto, a região hortifrutigranjeira da cidade e a bacia do rio Araguari.” (UBERLÂNDIA, 1991, p.42).

Paralelamente a essas tendências apresentadas pelo espaço urbano, Uberlândia vem se consolidando como um centro de consumo regional. Pessoas de diversas cidades

próximas dirigem-se a Uberlândia para comprar produtos de vários tipos, usando-os em consumo próprio e até mesmo para revenda. A presença de hipermercados e

shopping-centers constitui-se numa atração tanto em termos de preço quanto de variedade: “Algumas recentes iniciativas no setor comercial vem reforçando seu papel de empório da região. São elas o Makro (hipermercado atacadista), o Carrefour (hipermercado varejista) e o Ubershopping, já em funcionamento, e também o Center Shopping, em fase de construção (inaugurado em 1992).” (UBERLÂNDIA, 1991, p. 41, todos parênteses nossos).

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Estes novos espaços comerciais que se estabeleceram na cidade, nos últimos anos, estão em sintonia com a desconcentração espacial do comércio, processo que fez parte das transformações ocorridas no espaço urbano de Uberlândia, nas últimas décadas. O comércio apresentava, desde a década de 70, uma espacialidade mais complexa e desconcentrada do que a espacialidade da indústria. Esta última, como foi visto, apresentou a partir daquela década, uma tendência de concentração na área norte da cidade.

As transformações tratadas nesta seção mostram que, no período recente, têm se modificado aquele arranjo espacial que marcou o espaço urbano durante a década de 70. Diferentemente daquele quadro, que era caracterizado pela consolidação da divisão técnica do espaço, têm se estabelecido um conjunto de transformações, trazendo maior

complexidade ao espaço urbano. O espaço industrial tem apresentado mudanças no período recente, que se inserem neste quadro de transformações do espaço urbano. Considerações finais

A recuperação da evolução urbana de Uberlândia, desde suas origens, mostrou um processo de expansão que ocorreu em anéis concêntricos, a partir de um núcleo central originário. Com poucas irregularidades, a expansão ocorreu desse núcleo para sua periferia, de maneira relativamente homogênea.

Os dados demográficos indicaram um intenso processo de urbanização em

Uberlândia. Esse processo ocorreu conjuntamente ao desenvolvimento industrial, que se intensificou na década de 70. Nesse período o processo de desenvolvimento urbano passou a ocorrer num novo padrão, caracterizado pela construção de conjuntos habitacionais e por uma crescente divisão técnica do espaço urbano. Verificou-se que as áreas de maior

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atividade comercial e de serviços são as áreas de ocupação mais antiga, correspondentes ao núcleo central do espaço urbano.

A partir da década de 80, o setor terciário apresentou sinais de desconcentração espacial e a formação de “centros secundários” trouxe modificações ao padrão anterior. Mais recentemente, pode-se identificar uma crescente complexificação do espaço urbano, que envolve: diversificação e transformação no uso do solo; processos de verticalização, elitização e degradação espaciais; e estabelecimento de novos espaços comerciais e industriais.

Assim, o processo de evolução urbana de Uberlândia vem apresentando importantes transformações, cuja compreensão só se torna possível a partir do conhecimento das raízes históricas desse processo.

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NOTAS

(*) Doutorando em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal de Uberlândia

(1)Essa perspectiva é discutida em LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. São Paulo: Documentos, 1969, 122 p.

(2)O córrego São Pedro, que aparece no mapa 2, foi canalizado e sobre seu leito se situa a avenida Rondon Pacheco, assim como o córrego Cajubá (mapa 2) corresponde à avenida Getúlio Vargas (Conforme

UBERLÂNDIA, 1991, p. 37)

(3)Em 1991, Uberlândia era o quarto município, em população, do estado de Minas Gerais, atrás de Belo Horizonte, Contagem e Juiz de Fora. Naquele ano, Uberlândia detinha 2,33% da população de Minas Gerais e 0,25% da população brasileira, sendo o 41° município brasileiro em população. (UBERLÂNDIA, Prefeitura Municipal, 1992, pp. 69-70)

(4)O Center Shopping foi inaugurado em 1992 e o Centro Administrativo em 1993.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAENINGER, Rosana. “O processo de urbanização no Brasil: características e tendências” In: BÓGUS E WANDERLEY (orgs.). A luta pela cidade em São Paulo. São Paulo: Cortez, 1992, pp. 11-29;

BRANDÃO, Carlos A. Triângulo: capital comercial, geopolítica e agro-indústria. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, CEDEPLAR, 1989, 188p, dissertação de mestrado;

BRASIL,.INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Censo demográfico de Minas Gerais: 1950. 1960, 1970, 1980 e 1985. Rio de Janeiro;

FERREIRA, Denise. Análise do planejamento do transporte urbano de Uberlândia, MG. Brasília: Universidade de Brasília, Instituto de Arquitetura e Urbanismo (Departamento de Urbanismo), 1994, 127 p., dissertação de mestrado;

LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. São Paulo: Documentos, 1969, 122 p.;

SOARES, Beatriz. Habitação e produção do espaço em Uberlândia. São Paulo: Universidade de São Paulo - USP, 1988, dissertação de mestrado, 117p.;

UBERLÂNDIA, Prefeitura Municipal. Plano diretor da cidade de Uberlândia.(Diagnóstico preliminar) Uberlândia, 1991, 115 p.;

UBERLÂNDIA, Prefeitura Municipal/ Secretaria de Indústria, Comércio e Turismo. Uberlândia-92: os números do desenvolvimento . Uberlândia, 1992, 316 p.;

UBERLÂNDIA, Prefeitura Municipal. Relatório de destinação dos imóveis por bairro. PMU/PRODAUB, Uberlândia, 1993, 57p..

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