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Intervenção psicomotora em saúde mental : inserida em projeto comunitário no grupo de Intervenção e Reabilitação Ativa (GIRA)

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Academic year: 2021

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Universidade de Lisboa

Faculdade de Motricidade Humana

Intervenção Psicomotora em Saúde Mental: inserida

em Projeto Comunitário no Grupo de Intervenção e

Reabilitação Ativa (GIRA)

Relatório de Estágio elaborado com vista à obtenção do

Grau de Mestre em Reabilitação Psicomotora

Orientadora: Professora Doutora Ana Paula Lebre dos Santos Branco

Melo

Júri:

Presidente:

Doutora Maria Celeste Rocha Simões, professora auxiliar com

agregação da Faculdade de Motricidade Humana, da Universidade de

Lisboa;

Vogais:

Doutora Ana Paula Lebre dos Santos Branco Melo, professora

auxiliar da Faculdade de Motricidade Humana, da Universidade de

Lisboa;

Doutora Camélia Santina Murgo Mansão, professora da

UNOESTE convidada da Universidade do Oeste Paulista

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Agradecimentos

Agradeço a todos aqueles que permitiram a concretização deste estágio, e que à sua maneira fizeram com que eu crescesse tanto a nível profissional como pessoal, principalmente:

À instituição GIRA, por me terem acolhido como sendo parte da família, me terem transmitido valores de equidade e de respeito pelo outro e me terem feito ver que a “Doença mental não é limite para nada”.

À Dra. Sofia Couto, Dra. Ana Martins, Dra. Carla Pulido, Dra. Joana Nina, ao Dr. José Andrade, à Dra. Rita Sampaio e à Dra. Ana Cardoso, por durante estes meses me terem incluído na equipa e terem sido muito mais que mentores, partilhando o seu conhecimento, experiências e acima de tudo o gosto e carinho por todo este trabalho.

À Dra. Carla Santos, à Dra. Adriana Frazão, ao Dr. Nuno Salema, à Teresa Lanita, e restante equipa do projeto “Troca a Dar”, por me terem apresentado este desafio e termos em conjunto realizado um projeto que superou todas as expectativas.

À Dra. Alice de Sousa, minha orientadora local por todo o apoio, conhecimento, experiências, desafios, momentos formais e informais, vividos de forma tão gratificante.

À Professora Dra. Paula Lebre, orientadora académica por todo o apoio e conhecimento transmitido, permitindo que todos esses meses fossem uma aventura enriquecedora a todos os níveis.

Aos meus utentes, aqueles que foram o motor, aqueles que com as suas histórias de vida, com a forma como lidam com as adversidades, por serem as pessoas fantásticas que são, terem aceite os desafios com o maior dos sorrisos, vocês foram e serão sempre, sem dúvida os maiores e ensinaram-me tanto sem se aperceber.

Aos amigos de sempre e para sempre, Ana Rezendes, Jéssica Bairos, Maria Sousa, Liliana Figueiredo, Ana Melo, Mariana Moreira, Rita Santos, Inês Magalhães, Mariana Freitas, Inês Nalha, Margarida Santos, João Quintela, Tomás Pereira e Rúben Barbosa, por estarem sempre lá para me apoiar e por tornarem esta aventura mais divertida como só vocês o sabem fazer.

Aos meus avós, tios que sem eles nada disto seria possível, por todo o apoio e carinho. Ao meu irmão e pais por todo o apoio incondicional e toda a ajuda, que mesmo estando longe, estiveram sempre perto, sem eles nada disto teria sido possível.

E por fim a todos aqueles que à sua maneira me apoiaram e fizeram desta aventura a melhor de todas. Um muito obrigada a todos do fundo do coração daqui até ao outro lado da lua.

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Resumo

No âmbito do Ramo de Aprofundamento de Competências Profissionais do Mestrado em Reabilitação Psicomotora, da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, este relatório tem como intuito descrever todas as atividades realizadas ao longo do estágio, realizado no Fórum Socio-Ocupacional de Alfama (FSO), pertencente ao Grupo de Intervenção e Reabilitação Ativa (GIRA), uma Instituição Particular de Solidariedade Social, na área da Saúde Mental.

Inicialmente será apresentado o enquadramento da prática profissional, onde se encontra a componente teórica que serviu de suporte a toda a intervenção, sendo descritos conteúdos relacionados com a área da Saúde Mental, terapias expressivas e intervenção psicomotora.

Seguidamente, serão descritas todas as atividades desenvolvidas no FSO, o Projeto “Troca a Dar”, as sessões de grupo de Psicomotricidade e as sessões de Dança e Movimento Expressivo, finalizando com a apresentação do estudo de caso e com a descrição das atividades complementares ao estágio.

Por fim, será realizada uma reflexão crítica a todo o trabalho e resultados obtidos ao longo da intervenção, bem como resultados obtidos no Projeto “Troca a Dar”, concluindo que a intervenção psicomotora e as terapias expressivas são uma mais valia para as pessoas com experiência em doença mental, bem como a realização de projetos que envolvam estas com a comunidade, promovendo benefícios ao nível das relações socias, afetos, pertença à comunidade e satisfação com o suporte social.

Palavras-chave: Saúde Mental; Intervenção Psicomotora; Dança e Movimento Expressivo; Troca a Dar; Suporte Social;

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Abstract

Within the the Professional Skills Development Branch under the Master's Degree in Psychomotor Rehabilitation, from Faculdade de Motricidade Humana, Universidade de Lisboa, this report aims at all describing the activities done throughout the internship, held at the Fórum Sócio Ocupacional Retiro de Alfama (FSO), belonging to the Grupo de Intervenção e Reabilitação Ativa (GIRA), a Private Institution of Social Solidarity, in the area of Mental Health.

Initially, the framework of the professional practice, will be presented, namely the theoretical background that supported the intervention, related to Mental Health, expressive therapies and psychomotor intervention.

Following, the activities developed in the FSO, the "Troca a Dar" Project, Psychomotricity and Dance and Expressive Movement sessions will be presented, as well as a case study and the description of the complementary internship activities.

Finally, a review will be carried out on all the work and results throughout the intervention, as well as results obtained in the project "Troca a Dar", concluding that the psychomotor and expressive therapies are an asset for people with experience in mental illness, in addition to the development of projects that involve the community, promoting benefits in terms of social relations; emotions; belonging to the community and satisfaction with social support.

Key-words: Mental Health; Psychomotor intervention; Dance and Expressive Movement; Troca a Dar; Social Support

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Índice Geral

Agradecimentos _______________________________________________________ i Resumo ______________________________________________________________ii Abstract _____________________________________________________________ iii Índice Geral __________________________________________________________ iv Índice de Tabelas ______________________________________________________ vi Índice de Figuras ______________________________________________________ vii Introdução ____________________________________________________________1

I Enquadramento da Prática Profissional ___________________________________3

I.1 Definição de Saúde Mental __________________________________________3 I.2 Qualidade de Vida em Saúde Mental ___________________________________4 I.3 Perturbações do Espetro da Esquizofrenia e outras Perturbações Psicóticas ____5 I.3.1 Esquizofrenia ____________________________________________________________ 6 I.4 Reabilitação Psicossocial e Recovery __________________________________8 I.5 Redes de Suporte Social ____________________________________________9 I.6 Mentoria/Tutoria __________________________________________________10 I.7 Enquadramento Legal da Saúde Mental em Portugal _____________________10 I.8 Intervenção Psicomotora e Terapias Expressivas ________________________12 I.9 Intervenção individual vs. em grupo ___________________________________14 I.10 Caracterização do Grupo de Intervenção e Reabilitação Ativa (GIRA) ___________15 I.10.1 Contextualização Histórica do GIRA __________________________________________ 15 I.10.2 Missão, Visão e Valores ____________________________________________________ 15 I.10.3 Organização e Serviços ____________________________________________________ 15 I.10.4 População - Alvo _________________________________________________________ 17 I.10.5 Fórum Sócio Ocupacional “Retiro de Alfama” ___________________________________ 17 I.10.6 Caracterização da População e Admissão do Cliente _____________________________ 19 I.11 Descrição do Projeto “Troca a Dar”_____________________________________________ 21

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I.11.1 Atividades desenvolvidas no Projeto “Troca a Dar” _______________________________ 25 I.11.2 Cronologia das Atividades __________________________________________________ 31 I.11.3 Sustentabilidade do Projeto “Troca a Dar” ______________________________________ 31 I.11.4 Participantes do Projeto “Troca a Dar” _________________________________________ 32

II Realização da Prática Profissional __________________________________33

II.1.1 Descrição das atividades realizadas ao longo do estágio _______________________ 33 II.1.2 Sessões de Psicomotricidade, Dança e Movimento Expressivo __________________ 36 II.1.3 Contexto de Intervenção ________________________________________________ 37 II.1.4 Estratégias Gerais de Intervenção _________________________________________ 38 II.1.5 Caracterização dos Grupos de Intervenção __________________________________ 39 II.1.6 Avaliação ____________________________________________________________ 43 II.1.7 Objetivos de Intervenção ________________________________________________ 47 II.1.8 Apresentação e Discussão dos Resultados __________________________________ 48 II.1.9 Análise de caso - Intervenção Psicomotora Individual __________________________ 66 II.1.10 Dificuldades e Limitações ________________________________________________ 76 II.1.11 Atividades Complementares de Formação _____________________________________ 77

Conclusão ___________________________________________________________80

Bibliografia __________________________________________________________82

Anexos______________________________________________________________88

Anexo A – Horário Semanal na GIRA _______________________________________88 Anexo B – Sessão Tipo Psicomotricidade ____________________________________89 Anexo C – Sessão Tipo Dança e Movimento Expressivo ________________________90 Anexo D – Ficha de Impacto das Sessões de Grupo ___________________________91 Anexo E – Sinopse da Apresentação Final de Dança ___________________________96 Anexo F – Artigo publicado na OMNIA Revista Interdisciplinar de Ciências e Artes ____97 Anexo G – Poster European Conference on Resilience In education – Malta 2018 ___ 107 Anexo H – Poster XIII Congresso João de Deus ______________________________ 108

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Índice de Tabelas

Tabela 1 – Caracterização da População da GIRA _____________________________20 Tabela 2 – Cronologia das atividades de estágio inseridas no projeto “Troca a Dar” ___31 Tabela 3 – Objetivos de Intervenção ________________________________________48 Tabela 4 – Participação nas sessões de Psicomotricidade e Dança ________________49 Tabela 5 - Escala de Satisfação com o Suporte Social (N=21) ____________________50 Tabela 6 - Escala da Qualidade de Vida (N=21) _______________________________52 Tabela 7 – Escala de Afeto Positivo e de Afeto Negativo (N=21) __________________54 Tabela 8 - PANAS - Afetos Positivos (N=21) _________________________________54 Tabela 9 - PANAS - Afetos Negativos (N=21) _________________________________54 Tabela 10 – índice de Bem-Estar Pessoal (N=21) _____________________________56 Tabela 11 - Checklist Aprendizagem Estruturada de Competência Sociais- Avaliador 1_58 Tabela 12 - Checklist Aprendizagem Estruturada de Competência Sociais - Avaliador 2 58 Tabela 13 – Sistema de Avaliação comportamental da Habilidade Social ___________59 Tabela 14 – Escala de Observação de Objetivos na Terapia Psicomotora ___________59 Tabela 15 - Ficha de Avaliação do Impacto das Sessões Respostas à questão "O que Aprendeu?" ___________________________________________________________63 Tabela 16 - Ficha de Avaliação do Impacto das Sessões Resposta às questões "O que sentiram?" e "Quais os maiores desafios" ____________________________________64 Tabela 17 - Ficha de Avaliação do Impacto das Sessões Respostas à questão "O que Gostou?" _____________________________________________________________65 Tabela 18 - Ficha de Avaliação do Impacto das Sessões Resposta à questão "O que Aprendeu?" ___________________________________________________________65 Tabela 19 - Áreas Fortes e Dificuldades do Estudo de Caso _____________________71 Tabela 20 - Objetivos Gerais e Específicos da Intervenção Individual ______________71 Tabela 21 – Publicações Científicas e Divulgação em Congressos ________________79 Tabela A1 - Horário Semanal na GIRA ______________________________________88 Tabela B1 - Sessão Tipo Psicomotricidade ___________________________________89 Tabela C1 - Sessão Tipo Dança e Movimento Expressivo _______________________90 Tabela F1 - Total de participantes por atividade (N=26) ________________________ 104 Tabela F2 - Adesão participantes atividades Troca a Dar (N=26) _________________ 104

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Índice de Figuras

Figura 1 - Organigrama da GIRA __________________________________________16 Figura 2 - Sala de Refeições da GIRA ______________________________________18 Figura 3 - Sala de Atividades Polivalente da GIRA _____________________________18 Figura 4 - Sala de Atendimento da GIRA ____________________________________19 Figura 5 - Gabinete de Atendimento da GIRA _________________________________19 Figura 6 - Salão do Centro Cultural Magalhães de Lima _________________________38 Figura 7 - Sala do ISPA onde decorreu a apresentação final do projeto _____________38 Figura 8 - Resultados obtidos para cada uma das dimensões de sintomas, no início e final da intervenção ________________________________________________________73 Figura 9 - Esquema de Tensões - Avaliação Inicial (figura da esquerda) e avaliação final (figura da direita) _______________________________________________________74

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Introdução

O presente relatório de estágio encontra-se enquadrado no âmbito do Ramo de Aprofundamento de Competências Profissionais, do segundo ano de Mestrado em Reabilitação Psicomotora da Faculdade de Motricidade Humana, Universidade de Lisboa.

Quanto aos objetivos deste estágio, estes passam por: a) estimular o domínio do conhecimento aprofundado no âmbito da Reabilitação Psicomotora, quanto às suas vertentes científicas e metodológicas, bem como promover uma competência reflexiva multidisciplinar; b) procura desenvolver capacidades de planeamento, gestão e coordenação de serviços e/ou programas de Reabilitação Psicomotora, nos diferentes contextos e domínios de intervenção; c) desenvolver a capacidade para prestar um contributo inovador na conceção e implementação de novos conhecimentos e práticas, bem como desenvolver novas perspetivas profissionais e políticas, de forma a alcançar o desenvolvimento do enquadramento profissional e científico da área; d) permitir que os formandos desenvolvam espírito crítico, de forma a integrarem adequadamente projetos de investigação neste âmbito e de preferência em equipas multidisciplinares ou centros de investigação (Martins, Simões & Brandão, 2016).

O estágio decorreu no Grupo de Intervenção e Reabilitação Ativa (GIRA), uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), que procura dar apoio a populações que se encontram em risco de exclusão social, na área da Saúde mental, promovendo a sua reabilitação e integração social. Teve início em outubro de 2017 e o seu término em julho de 2018, tendo decorrido no Fórum Sócio ocupacional de Alfama (FSO), uma das valências desta instituição, que procura promover a reinserção sociofamiliar e/ou profissional, através do desenvolvimento de atividades ocupacionais que promovem a autonomia do próprio, bem como o relacionamento interpessoal. Este estágio teve como orientador académico a Professora Doutora Paula Lebre e como orientador local a Mestre Alice de Sousa e a Diretora do GIRA e Psicóloga Clínica, a Dra. Sofia Couto.

A realização deste estágio, acontece pela candidatura de um projeto, por parte da GIRA ao Programa BIP/ZIP Lisboa 2017 – Parcerias Locais, da Câmara Municipal de Lisboa, em parceria com o dISPArteatro e com a Faculdade de Motricidade Humana. O projeto denominado de “Troca a Dar”, tem como principal objetivo construir e manter redes de suporte social no Bairro de Alfama, envolvendo adultos em situação de vulnerabilidade e risco de exclusão social e idosos em risco de solidão e isolamento,

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recorrendo para tal a um sistema de trocas locais e de sessões de intervenção em atividades ligadas à dança, teatro e psicomotricidade.

O presente relatório encontra-se organizado em duas partes principais: o enquadramento da prática profissional, onde será apresentada a revisão de literatura, estando presentes os tópicos mais relevantes para a realização do estágio, como a definição de Saúde Mental, definição de qualidade de Vida, Perturbação da Esquizofrenia e Reabilitação Psicossocial e Recovery. Na segunda parte, será descrita a realização da prática profissional, onde se encontra a descrição da instituição, do projeto “Troca a Dar”, organização das atividades realizadas, bem como, descrição da sessão-tipo, dos contextos e das estratégias gerais de intervenção, descrição do processo de avaliação e intervenção com os grupos e estudo de caso.

Serão ainda apresentadas as dificuldades e limitações, da prática profissional, bem como as atividades complementares ao estágio. Por fim, será realizada uma análise crítica e uma reflexão de todo o trabalho desenvolvido.

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I Enquadramento da Prática Profissional

No presente capítulo, encontra-se a revisão da literatura, sobre os temas relevantes que estiveram na base de todo o trabalho desenvolvido, nomeadamente a definição de saúde mental, perturbação do espetro da esquizofrenia, qualidade de vida em saúde mental, reabilitação psicossocial, terapias expressivas e psicomotricidade em saúde mental, bem como outros temas relevantes a toda a intervenção.

I.1 Definição de Saúde Mental

A Saúde Mental é definida pela Organização Mundial de Saúde (2014), como um estado de bem-estar, no qual o indivíduo entende o seu próprio potencial, de forma a lidar com as tensões normais da vida, bem como trabalhar produtivamente sendo capaz de contribuir para a sua comunidade.

Segundo a OCDE (2014), cerca de 5% da população ativa possui um problema de saúde mental grave, pelo que mais de 15% é afetada por uma perturbação mental comum, sendo sugerido que uma em cada duas pessoas irá ter uma doença mental na vida, afetando a mesma negativamente, ao nível das perspetivas de emprego, produtividade e salários.

Segundo a American Psychiatric Associaton (2013), esta define uma perturbação mental como sendo:

“(…) uma síndrome caracterizada por perturbação clinicamente significativa da cognição, da regulação da emoção, ou do comportamento do sujeito que reflete uma disfunção dos processos psicológicos, biológicos ou do desenvolvimento subjacentes ao funcionamento mental. As perturbações mentais estão geralmente associadas com significativo mal-estar ou défice social, ocupacional, ou noutras atividades importantes. Uma resposta expectável ou culturalmente aprovada a um fator de stress comum ou uma perda, tal como a morte de um ente querido, não é uma perturbação mental. O comportamento socialmente desviante (por exemplo, político, religioso ou sexual) e os conflitos que ocorrem primariamente entre o sujeito e a sociedade não são perturbações mentais, a menos que o desvio ou conflito resulte de uma disfunção do sujeito, conforme descreve acima.” (APA, 2013, p.22).

A Comissão das Comunidades Europeias (2005), “Sem Saúde mental não há saúde”, defende que esta permite aos indivíduos terem acesso à realização intelectual e emocional, assim como, a sua integração na escola, trabalho e sociedade. A saúde

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Mental é “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade” (Organização Mundial da Saúde, 2014).

Quando falamos de Saúde Mental, esta não é apenas o bem-estar psicológico é também a capacidade que o indivíduo possui de se adaptar às diferentes circunstancias a que está sujeito no seu dia a dia, é a capacidade de este gerir os seus pensamentos, sentimentos e comportamento, bem como a interação com os outros (World Health Organization, 2013).

A doença mental engloba perturbações e desequilíbrios mentais, bem como disfuncionamentos que se encontram ligados à angústia, sintomas e doenças mentais diagnosticáveis, sendo que a condição mental de cada um está dependente de uma variedade de fatores, sendo eles: (a) Biológicos – e.g. genética e género ; (b) Individuais – e.g. antecedentes pessoais; (c) Familiares e socias – e.g. enquadramento social e (d) económicos e ambientais – e.g. estatuto social e condições de vida (Comissão das Comunidades Europeias, 2005).

Segundo a APA (2013), o diagnóstico de uma perturbação mental deve auxiliar o médico aquando da determinação do prognóstico, dos planos de tratamento, bem como ao nível dos potenciais resultados do tratamento dos seus pacientes, contudo o diagnóstico não implica que exista uma necessidade de tratamento, sendo esta uma decisão clínica que deve ter em conta a gravidade e a proeminência dos sintomas, o sofrimento do paciente associado com o(s) sintoma(s), o défice relacionado com os sintomas do paciente, assim como os potenciais riscos e benefícios do tratamento.

Segundo a Direção-Geral de Saúde (2012), a criação de políticas de saúde mental, tem ao longo dos anos sofrido um grande avanço, pois observou-se que os custos diretos ou indiretos associados às perturbações psiquiátricas, resultantes de despesas assistenciais e da diminuição da produtividade, tem levado a um enorme impacto económico nos orçamentos públicos.

I.2 Qualidade de Vida em Saúde Mental

Segundo Cummins (2005), a qualidade de vida é um conceito multidimensional, influenciado por diversos fatores, sendo estes pessoais, ambientais e as interações do indivíduo com o seu envolvimento, sendo um conceito com componentes objetivas e subjetivas que deve ser igual para todos os indivíduos. A subjetividade vai estar dependente da perceção do próprio indivíduo sobre aquilo que é a sua qualidade de vida (Schalock et al., 2002). Assim, uma boa qualidade de vida é caracterizada pela presença de sentimentos de bem-estar, de controlo, de autonomia, sentimento de presença, autoperceção positiva, bem como participação dos indivíduos em atividades

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significativas e agradáveis, procurando sempre uma visão positiva sobre o futuro (Connell, et al., 2012).

A esquizofrenia é uma perturbação crónica que provoca nos indivíduos inúmeros prejuízos, sendo mesma considerada pela OMS uma das dez doenças mais incapacitantes, prejudicando assim a qualidade de vida destes (Sousa, Pinho, Pereira, 2017), para além de outras variáveis que contribuem para uma má qualidade de vida, como os sintomas depressivos, a falta de esperança e as crenças estigmatizantes (Margariti, et al., 2015). No que toca aos tratamentos da esquizofrenia, nem sempre o avanço significa uma melhoria na qualidade de vida destes indivíduos, tendo assim havido a necessidade de se ter em conta os avanços psicossociais (Maldonado, Urízar, García e Dávila, 2012).

É de referir que o suporte social, permite aos indivíduos uma maior capacidade de adaptação aos acontecimentos da vida diária, pelo que indivíduos com esquizofrenia, dizem ter melhores condições de vida, menos sintomas e internamentos, quando possuem relações socias de apoio (Maldonado et al., 2012). Assim, aumentar o conhecimento sobre a qualidade de vida e o suporte social destes indivíduos, irá permitir um maior desenvolvimento de intervenções eficazes e adequadas, pelo que desinstitucionalizar estes indivíduos, não será suficiente para garantir uma boa qualidade de vida, sendo importante tomar todas as medidas necessárias a integrar estes na comunidade, dando-lhes o suporte social que necessitam (Sousa, Pinho & Pereira, 2017).

I.3 Perturbações do Espetro da Esquizofrenia e outras

Perturbações Psicóticas

Segundo o DSM V (APA, 2013), as Perturbações do Espetro de Esquizofrenia e outras Perturbações Psicóticas, incluem a Perturbação Esquizotípica (da Personalidade), a Perturbação Delirante, a Perturbação Psicótica Breve, Perturbação Esquizofreniforme, Esquizofrenia, Perturbação Esquizoafetiva, Perturbação Psicótica Induzida por Substâncias/Medicamentos, Perturbação Psicótica Devida a Outra Condição Médica, Catatonia Associada a Outra Perturbação Mental, Perturbação Catatónica Devida a Outra condição Médica, Catatonia Não Especificada, Perturbações do Espetro da Esquizofrenia com Outra Especificação e outras Perturbações Psicóticas e Perturbações do Espetro da Esquizofrenia Não Especificada e Outras.

As Perturbações Psicóticas são caracterizadas pela presença de anomalias em um ou mais dos seguintes domínios: (a) delírios; (b) alucinações; (c) pensamento (discurso) desorganizado; (d) comportamento motor anormal ou desorganizado (inclui a

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catatonia); (e) sintomas negativos (APA, 2013). O aparecimento dos sintomas psicóticos pela primeira vez e a sua evolução, está dependente do tipo de perturbação, pelo que os distúrbios psicóticos, como a esquizofrenia, bipolaridade e depressão com sintomas psicóticos, tendem a surgir no final da segunda ou terceira década de vida, enquanto que as perturbações delirantes, surgem com maior frequência na meia idade, podendo os sintomas psicóticos causados por abuso de substâncias ou medicamentos, surgir em qualquer idade (Jeffrey & First, 2018).

I.3.1 Esquizofrenia

A Esquizofrenia é uma perturbação psicótica grave e crónica, caracterizada por Delírios, Alucinações, Discurso desorganizado, Comportamento grosseiramente desorganizado ou catatónico e Sintomas Negativos (diminuição da expressão emocional ou incoerência frequente), pelo que o diagnóstico é realizado pela presença de dois ou mais destes sintomas, cada um por uma porção de tempo significativa durante um período de um mês, ou se existir sinais contínuos da perturbação durante pelo menos 6 meses (APA, 2013;Solana, Pereira & Tarazona, 2018). A esquizofrenia provoca um défice ao nível das relações interpessoais e uma perda da realidade, sendo a “dissociação” o sintoma mais relevante, onde o indivíduo sofre uma perda da unidade do pensamento, levando a alterações ao nível da personalidade (Afonso, 2014).

A esquizofrenia pode ser subdividida em tipos, sendo estes: a) Esquizofrenia Paranoide – onde surgem ideias delirantes relativamente estáveis, como perseguição, sendo estas acompanhadas de alucinações e de perturbação das perceções; b) Esquizofrenia Hebefrênica – presença de uma perturbação dos afetos e de ideias delirantes, sendo as alucinações fugazes e fragmentárias e o comportamento irresponsável e imprevisível; c) Esquizofrenia Catatónica – caracterizada pela presença de distúrbios psicomotores proeminentes; d) Esquizofrenia Residual – caracterizada pela presença de sintomas negativos; e) Esquizofrenia Simples – caracterizada pela excentricidade do comportamento, incapacidade de dar resposta às exigências da sociedade, bem como uma diminuição do desempenho global (Silva, Santos, Miron, Miguel, Furtado & Bellemo, 2016).

Quanto aos sintomas da esquizofrenia, estes podem ser divididos em sintomas positivos, negativos, cognitivos e afetivos, apresentando aspetos relacionados com o pensamento, perceção, rendimento cognitivo, afetividade e comportamento (Afonso, 2014). No caso dos sintomas positivos, estes são caracterizados por uma distorção ou excesso das funções normais do indivíduo, surgindo com maior visibilidade na fase “aguda” da doença (Afonso, 2010). Assim, os sintomas positivos segundo Afonso (2014)

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são: a) Ideias delirantes – temática, persecutória, mística ou religiosa, grandeza, catástrofe ou apocalítica, paranoide, culpa, somatoforme, autorrelacionamento, controlo, roubo e difusão ou inserção do pensamento; b) Alucinações - auditivas, olfativas, cenestésicas e visuais; c) Perturbações formais do pensamento - perda de associação de ideias, tangencialidade, bloqueios do pensamento, descarrilamento do pensamento e incoerência; d) Alterações do comportamento - comportamento estranho ou bizarro, quebra de regras sociais, agitação ou inquietude motora, comportamento repetitivo e comportamento auto e heteroagressivo).

No caso dos sintomas negativos estes caracterizam-se pela perda ou diminuição das funções normais do indivíduo, surgindo após a remissão de sintomas positivos (Afonso, 2010), sendo estes segundo Afonso (2014): a) Alogia – pobreza do conteúdo do pensamento, aumento do tempo de latência de resposta, linguagem pobre com respostas curtas e, por vezes, monossilábicas e perda de discurso espontâneo; b) Isolamento e empobrecimento social – diminuição do interesse por atividades sociais, dificuldade em estabelecer relações íntimas, diminuição da satisfação no relacionamento social (anedonia social) e redução do interesse sexual; c) Abulia e apatia – falta de ânimo no desempenho das atividades da vida diária, dificuldade ou incapacidade para realizar um plano de ação, apesar do desejo de o fazer, redução da capacidade de persistência perante uma dificuldade ou adversidade (falta de resiliência) e perda de autocuidado e hábitos de higiene; d) Embotamento afetivo – diminuição da expressão mímica, diminuição da resposta afetiva, redução de movimentos espontâneos, diminuição ou evitamentos do contacto visual e empobrecimento afetivo com queixas e valorização subjetiva.

Os indivíduos com esquizofrenia sofrem inúmeras alterações, ao nível das funções sensoriais, motoras e cognitivas (Forsyth & Lewis, 2017). O comportamento motor global encontra-se desorganizado, podendo manifestar-se de diversas formas, e os problemas podem ser observados em qualquer forma de comportamento dirigido a um determinado objetivo, fazendo com que surjam dificuldades na realização das atividades diárias (APA, 2013). As síndromes mais frequentes e interrelacionadas na esquizofrenia são a catatonia, os sinais extrapiramidais e a lentificaçao psicomotora (Docx, et el., 2012), sendo o comportamento catatónico caracterizado por uma redução acentuada na reatividade ao ambiente, a) varia da resistência a instruções; b) manutenção de uma postura rígida, inapropriada ou bizarra, podendo levar à falha total de respostas verbais e motoras; c) atividade motora sem propósito e excessiva sem causa óbvia; d) movimentos estereotipados repetidos, olhar fixo, esgares, mutismo e eco da fala (APA, 2013). Diversas evidencias científicas, defendem que a plasticidade

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sináptica, se encontra prejudicada nos indivíduos com esquizofrenia, afetando assim a aprendizagem, memória e maturação dos circuitos neurais (Forsyth & Lewis, 2017).

I.4 Reabilitação Psicossocial e

Recovery

A Reabilitação Psicossocial baseia-se na convicção de que é possível ajudar a pessoa a ultrapassar as limitações causadas pela sua doença, pela aprendizagem de competências e de novas capacidades, sendo igualmente necessário sensibilizar a comunidade para a aceitar e diminuir as barreiras que a sociedade coloca à integração na educação, emprego, nos grupos sociais e de lazer, bem como na família. Desta forma é necessário promover a autonomia e o exercício dos direitos, através do empowerment das pessoas que têm perturbações mentais e da advocacia, bem como criar redes de suporte social que deem apoio às competências adquiridas e a desenvolver (Fazenda, 2008, p. 23).

Segundo a Organização Mundial de Saúde, no seu relatório anual de 2001 (p.62), esta define a reabilitação psicossocial como sendo um processo que “permite aos indivíduos que se encontram debilitados, incapacitados ou deficientes, devido a uma perturbação mental, a oportunidade de poderem atingir o seu nível potencial de funcionamento independentemente da comunidade, o que engloba tanto o aumento das competências sociais como a introdução de mudanças ambientais”.

Este modelo inspira-se nos princípios da saúde mental comunitária que preconizam que as pessoas, independentemente do diagnóstico atribuído, ou de qualquer outra vulnerabilidade social e/ou física, devem viver e manter-se na comunidade, mesmo nos momentos mais difíceis, mas com acesso aos recursos disponíveis. […] Este processo de recovery faz-se através de redes de suporte, de grupos de ajuda mútua e da participação em contextos diversificados (Ornelas, 2005, p. 13).

O conceito de recovery (ou recuperação pessoal) pode ser definido como “a reaquisição de papéis sociais significativos e o envolvimento em atividades que ligam as pessoas às suas comunidades” (Duarte, 2007, p. 131). O acesso aos recursos de emprego, educação, habitação ou outros serviços que estão disponíveis na comunidade para todos os cidadãos é também uma condição fundamental para garantir uma melhoria nas condições de vida concretas das pessoas com experiência de doença mental, bem como uma oportunidade para a diversificação, alargamento e fortalecimento das redes de suporte social naturais (Chamberlin & Rogers, 1990; cit. in Duarte, 2007). Por outro lado, a interação das pessoas com e sem experiência de

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doença mental nos contextos comunitários ajuda a combater os mitos relativos à doença mental e a tornar a comunidade mais recetiva e inclusiva (Kloos, 2005, cit. in Duarte, 2007, p. 131).

A reabilitação psicossocial na comunidade deve seguir alguns princípios, de forma a favorecer o indivíduo com doença mental, pelo que a participação deste promove uma maior oportunidade de recovery (Community Resource Unit Inc, 2005). A reabilitação psicossocial e o recovery (dois processos interdependentes e complementares) envolvem três eixos: o ter onde viver, o participar em redes sociais e a inserção em um trabalho socialmente útil (Saraceno, 1999, cit. in Anastácio & Furtado, 2012; Organização Mundial de Saúde – OMS, 2001), sendo que estes são pilares fundamentais ao sucesso da intervenção e exigem a participação ativa da pessoa com doença mental e o empenho da sociedade para disponibilizar os recursos necessários, e ser inclusiva e recetiva à diferença.

I.5 Redes de Suporte Social

As redes de suporte social desempenham um importante papel na qualidade de vida das comunidades humanas, nomeadamente num bairro, onde a possibilidade de apoio mútuo, a participação ativa na comunidade e nas relações interpessoais potencia o suporte aos indivíduos e oferece também a construção de uma identidade social (Caetano & Guadalupe, 2011). Deste modo, todas as respostas sociais que potenciem a participação ativa da população na procura de estratégias passíveis de execução e de encaminhamento/equacionamento de problemas aumentam a dinâmica de relações interpessoais e a sua capacitação.

No que diz respeito à pessoa com doença mental, considera-se que o estabelecimento de vinculações afetivas e laços funcionais permite aumentar a literacia face à doença, desconstruir preconceitos e, por conseguinte, valorizar a individualidade e as competências das pessoas com experiência de doença mental. Sendo assim, o suporte social é um fator de redução do impacto de perturbações mentais, como a esquizofrenia (Sousa, Pinho, Pereira, 2017).

Reforçando assim as dinâmicas de inclusão, bem-estar e capacitação, o projeto “Troca a Dar”, descrito posteriormente, pretendeu minimizar a falta de redes de suporte dos moradores em situação vulnerabilidade e dos idosos e proporcionar oportunidades de partilha e suporte social, com capacidade de auto-organização e procura coletiva de soluções.

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I.6 Mentoria/Tutoria

Tendo em conta a organização do Projeto “Troca a Dar”, que será descrito posteriormente, torna-se relevante abordar o tema da Mentoria, pois foi um dos objetivos propostos aquando da elaboração do projeto, sendo este capacitar jovens universitários para a importância da Saúde Mental e o acompanhamento de indivíduos com doença mental e a sua inclusão na sociedade.

Assim, a Mentoria/Tutoria é uma relação estruturada e de confiança que oferece orientação, suporte e encorajamento (Nacional Mentoring Partnership, 2005). A relação é dinâmica e muda ao longo do tempo (Garvey & Alred, 2003), sendo também recíproca, mas assimétrica (Jacobi, 1991). No que toca ao impacto, este aumenta com a durabilidade da relação (Grossman & Rhodes, 2002), sendo os programas de mentoria eficazes quando os mentores se tornam significativos na vida dos indivíduos (DuBois, Neville, Parra & Pugh-Lilly, 2002).

As relações de mentoria podem ser geradoras de mudanças duradouras e outras podem ser superficiais, de curta duração e mesmo destrutivas (Grossman e Rhodes, 2002). Os objetivos podem diferir em função dos contextos, das relações, esperando-se que exista esperando-sempre uma transmissão de conhecimento (Garvey e Alred, 2003).

I.7 Enquadramento Legal da Saúde Mental em Portugal

O número de utentes com perturbações mentais registados nos cuidados de saúde primários tem sofrido um aumento desde 2011, no que diz respeito às perturbações de ansiedade, perturbações depressivas e às demências (Direção Geral de Saúde, 2017). Em 2013, mais de um quinto dos portugueses sofria de uma perturbação psiquiátrica (22,9%), sendo Portugal o segundo país com maior prevalência de doenças psiquiátricas da Europa, sendo as perturbações de ansiedade as que possuem uma maior prevalência (16,5%), seguidas das perturbações de humor (7,9%) (Almeida et al., 2013). O maior registo de doentes com perturbações de ansiedade e de demência encontram-se segundo a Direção Geral da Saúde (2017), nas regiões do Centro e Alentejo.

Portugal começou a preocupar-se com a temática da saúde mental, no início da década de 60, com a Lei nº 2118, de 3 de abril de 1963, designada Lei de Saúde Mental. Em 1984, foi criada a Direção de Serviços de Psiquiatria e Saúde Mental, sendo esta uma entidade de gestão verticalizada, que veio desempenhar as funções do Instituto de Assistência Psiquiátrica (IAP), já extinto (Entidade Reguladora da Saúde, 2014).

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Em 2009, foi publicado o Decreto-Lei nº 204/2009, de 22 de outubro, que veio alterar e republicar o Decreto-Lei nº 35/99, de 5 de fevereiro, que por sua vez regulamentava a Lei nº 36/98, de 24 de julho, a Lei da Saúde Mental, que tinha como objetivo compatibilizar os princípios de organização dos serviços de saúde mental, tendo em conta a nova realidade criada devido à aprovação do Plano Nacional.

Em 2010, surge um novo decreto, o Decreto-Lei nº 8/2010 de 28 de janeiro, que veio promulgar um conjunto de unidades e equipas de cuidados continuados integrados de saúde mental, sendo estes destinados às pessoas com doença mental grave de que resulte incapacidade psicossocial e que estejam em situação de dependência, independentemente da idade (Nº1 do Artigo 1º do Decreto-Lei nº8/2010).

Ainda de acordo com o Decreto-Lei acima mencionado, este diz-nos que as unidades e equipas de cuidados continuados englobam: (a) Unidades Residenciais; (b) Unidades Sócio Ocupacionais; e (c) Equipas de Apoio Domiciliário, que por sua vez se articulam com os serviços locais de saúde mental e com a rede nacional de cuidados continuados integrados (RNCCI) (Nº2 do Artigo 1º do Decreto-Lei nº8/2010). Tendo ainda em conta o mesmo decreto-lei este diz-nos que as Unidades sócio ocupacionais estão localizadas “na comunidade, em espaço físico próprio, sendo destinadas a pessoas com moderado e reduzido grau de incapacidade psicossocial, clinicamente estabilizadas, mas com disfuncionalidades na área relacional, ocupacional e de integração social”. Este tinha como finalidade “a promoção de autonomia, a estabilidade emocional e a participação social, com vista à integração social, familiar e profissional” (Artigo 14º do Decreto-Lei nº8/2010). Este decreto foi ainda alterado e republicado pelo Decreto-Lei nº22/2011, de 10 de fevereiro, sendo regulamentado pelas Portarias nº149/2011, de 8 de abril e nº 183/2011, de 5 de maio.

O Programa Nacional para a Saúde Mental 2017, faz-nos um ponto de situação sobre o estado da Saúde Mental em Portugal no ano 2016, onde se pode constar que: (a) as pessoas estão cada vez a viver mais anos, contudo vivem com incapacidades ao nível da saúde mental, o que implica uma sobrecarga para a sociedade; (b) a mortalidade por saúde mental é baixa e está na sua maioria relacionada com o suicídio; (c) o número de suicídios é maior no Alentejo, sendo maioritariamente do género masculino; (d) é necessário que se verifique um maior rigor e qualidade ao nível da prescrição de medicamentos na área da saúde mental; (e) é importante que aumentem os registos de perturbações mentais nos Centros de Saúde e (f) é importante que se aumente os cuidados e serviços ao nível da saúde mental para as crianças/adolescentes e adultos.

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Através dos diversos dados recolhidos nos últimos dez anos, é evidente que as perturbações psiquiátricas, bem como os problemas ligados à saúde mental, são uma das principais causas de incapacidade e de morbilidade, sendo que Portugal é um dos países com maior prevalência de doenças mentais da Europa, onde uma grande percentagem de pessoas com doenças mentais graves, ainda continuam a não ter acesso a cuidados de saúde mental, e muitas daquelas que ainda vão conseguindo ter acesso continuam a não beneficiar dos modelos de intervenção, como os programas de tratamento e de reabilitação psicossocial (Direcção-Geral da Saúde, 2017).

De forma a assegurar que toda a população portuguesa possui acesso a serviços que promovam a sua saúde mental, que prestem cuidados de qualidade e que facilitem a reintegração e a recuperação das pessoas com doença mental, o Ministério da Saúde tomou a decisão de prolongar o Plano Nacional de Saúde até 2020, que apresenta como metas: (a) aumentar em 25% o registo das perturbações mentais nos Centros de Saúde; (b) estabilizar a prescrição de medicamentos para o tratamento da ansiedade na população; (c) apoiar a criação de 1500 lugares para adultos e 500 para crianças/adolescentes em Cuidados Continuados Integrados de Saúde Mental e ainda (d) realizar mais 30% de ações de promoção da saúde mental e de prevenção das doenças mentais.

I.8 Intervenção Psicomotora e Terapias Expressivas

Partindo dos pressupostos da reabilitação psicossocial e recovery, existem evidências científicas que assinalam a relevância das terapias expressivas neste processo. Em particular salientamos o papel da dança, da psicomotricidade e do teatro como um recurso promissor na aquisição de competências psicossociais.

Segundo Jensen e Bonde (2018), as atividades artísticas, possuem um enorme potencial para a promoção do bem-estar e da saúde mental. Partindo do princípio de que a Dança é uma expressão universal do ser humano, presente em todas as idades, géneros, culturas, e assumindo uma diversidade de formas e estilos que a caracteriza e a torna potencialmente acessível a todos (Inclusiva), o seu potencial para eliminar barreiras e conectar pessoas é enorme (DanceAbility, 2018). A dança, suportando a ideia de que o corpo e o psiquismo se encontram em constante interação, tem vindo a ser utilizada em múltiplos contextos e com múltiplas finalidades. A nível psicoterapêutico, referida por alguns autores como dança movimento terapia, esta promove a integração dos domínios emocionais, cognitivos, físicos e sociais, assim como a saúde e o bem-estar (American Dance Therapy Association, 2014). A literatura

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defende que a dança movimento terapia é uma intervenção eficaz, que para além do bem-estar, tem o potencial para promover uma melhor qualidade de vida, uma melhor imagem corporal, bem como competências interpessoais, a redução de sintomas como a depressão e ansiedade (Koch,Kunz, Lykou & Cruz, 2014), e redução de índices de stress e sintomas de somatização (Bräuninger, 2014). Por outro lado, o foco do trabalho desenvolvido em expressões artísticas associadas quer à dança quer ao teatro assentam na exploração da criatividade e imaginação dos seus elementos, e incentivam o processo de criação coletiva, onde cada participante tem a liberdade para contribuir e enriquecer o processo criativo que, segundo Jung (1997), é fundamental para o nosso bem-estar e desenvolvimento pessoal.

Inserido nos objetivos do Projeto “Troca a Dar”, a criação do grupo PédeMeia2

onde essencialmente se promoveram atividades de dança e movimento expressivo, teve por base a adoção de práticas corporais centradas na dança enquanto meio fundamental para a promoção da inclusão e promoção da qualidade de vida e bem-estar, onde se assinala o seu potencial de forma a eliminar barreiras e conectar pessoas com e sem deficiência através da dança e do movimento (DanceAbility,2018).

No que respeita a intervenção psicomotora esta assenta em três possíveis abordagens, uma ao nível da saúde, uma abordagem psicossocial e uma abordagem psicoterapêutica, procurando através do movimento, da consciência corporal e da diversidade de atividades de expressão motora, promover o comportamento motor, as capacidades cognitivas, relacionais e afetivas, do funcionamento psicomotor, pelo que esta intervenção inclui aspetos físicos, cognitivos e emocionais, tendo em conta a capacidade do indivíduo estar e agir num contexto psicossocial. As avaliações sistemáticas e as intervenções individuais ou em grupo, realizadas a este nível, têm como intuito melhorar as capacidades, competências, habilidades, estimular a autoestima e promover o bem-estar pessoal e social e da saúde mental, em indivíduos com problemas psiquiátricos graves, procurando sempre dar resposta às necessidades individuais (Probst, 2017).

A psicomotricidade funciona como um suporte corporal das funções mentais, de onde surgem as identidades do indivíduo nos diferentes “aspetos da sua evolução complexa e única, isto é, do seu desenvolvimento, da sua socialização e da sua aprendizagem” (Fonseca, 2010).

Em contexto científico, Fonseca (2010) apresenta-nos uma visão multifacetada da psicomotricidade e da corporeidade humana, assim como uma visão de prevenção, educação, reeducação, terapia e reabilitação total, intervindo na saúde, na educação, e

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na segurança social ou no bem-estar. A intervenção psicomotora guia-se sempre pelo corpo, pois um dos objetivos principais é colocar o corpo e a motricidade no centro do comportamento e da evolução enquanto pessoa. Para além do corpo, a intervenção psicomotora é também mediatizada pela ação, pelos gestos, pelos jogos, pelo ritmo e pela motricidade.

No entender de Fonseca (2010), a psicomotricidade deve apresentar três componentes que se encontram interligadas: a multicomponencial, que inclui de forma coerente os contributos e domínios das ciências biológicas, humanas e sociais; a multiexperiencial, que se trata da participação da psicomotricidade no desenvolvimento humano desde o recém-nascido ao idoso, desde o indivíduo inexperiente ao experiente e desde o indivíduo dito “normal” ao indivíduo com deficiência ou alguma perturbação e, por fim, a multicontextual, que leva a psicomotricidade aos vários contextos, onde se integra e observa a atividade humana como objetivo de inclusão total do indivíduo na comunidade em geral.

I.9 Intervenção individual

vs.

em grupo

A escolha entre intervenção individual ou e em grupo, tem de ter em conta a especificidade do quadro clínico de cada indivíduo, sendo a duração temporal de cada uma variável, bem como tem de ter em consideração as necessidades apresentadas e os recursos/apoios existentes no contexto em questão, (Martins, 2001).

Ao nível das sessões individuais, o terapeuta apresenta uma maior disponibilidade para o cliente, permitindo assim um melhor conhecimento do mesmo e a realização de um trabalho mais profundo (verbalização de emoções e dos sentimentos pessoais), bem como permite fortalecer a relação terapêutica e ir ajustando o plano terapêutico às características e necessidades indivíduais (Aragón, 2011).

No que toca às sessões de grupo, estas são mais dinâmicas e promovem a comunicação e uma maior espontaneidade, pois os clientes sentem que são menos observados pelo terapeuta, permitindo também o prazer de estar com outras pessoas e poder partilhar experiencias (Aragón, 2011).O grupo é um criador de sensibilidades e de conhecimentos e um organizador de estruturas que se adaptam às diversas situações vividas. Escutar os outros e estar presente para eles não é tarefa fácil, contudo nós só nos reconhecemos quando conhecemos o outro em mutualidade e simultaneidade, assim temos a vivência dual. (Onofre, 2003). As sessões de grupo, permitem que os indivíduos experienciem diferentes competências na relação com os outros, não esquecendo também de trabalhar as competências e dificuldades de cada

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um deles (Johnson, Moffatt, Smith & White, 2012).O diálogo com os outros permite que se desenvolva sentimentos de cooperação, de exigência, entreajuda e co-gestão (Costa, 2008).

I.10 Caracterização do Grupo de Intervenção e Reabilitação

Ativa (GIRA)

I.10.1 Contextualização Histórica do GIRA

A GIRA (Grupo de Intervenção e Reabilitação Ativa), fundada em 1995, por familiares e amigos de pessoas com doença mental grave, é uma instituição particular de solidariedade social (IPSS), sem fins lucrativos. Esta pretende dar apoio a populações que se encontram em risco de exclusão, promovendo a sua reabilitação e integração social (GIRA, s.d).

I.10.2 Missão, Visão e Valores

Tem como missão “Melhorar o funcionamento de pessoas com incapacidades psiquiátricas, de modo a terem sucesso nos ambientes de sua escolha, procurando uma diminuição progressiva do apoio técnico de manutenção” (Gira, s.d). Procura ainda, “Sensibilizar a comunidade e assim contribuir para a sustentabilidade da reinserção social das pessoas apoiadas” (GIRA, s.d).

Tem como visão “Contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade inclusiva, onde as pessoas com doença mental possam usufruir de uma cidadania plena” e assenta em valores como a dedicação, respeito, inovação, responsabilidade e confiança (Gira, s.d).

I.10.3 Organização e Serviços

A atividade da GIRA, desenvolve-se tendo em conta domínios de intervenção que assentam em quatro pilares, sendo estes: Residencial, Aprendizagem (Formação), Trabalho e Socialização.

De seguida é apresentada na figura 1, o Organigrama da GIRA, onde estão presentes os órgãos gerentes, bem como a direção técnica das respostas socias da Gira, que foram criadas no âmbito do Despacho Conjunto 407\98, DR, II série, n°138, 18 de junho entre o Ministério da Saúde e o Ministério do Trabalho e da Solidariedade.

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Figura 1 - Organigrama da GIRA

No que toca às Unidades Residenciais (UR), a GIRA possui três unidades de Vida Autónoma que dá resposta a vinte e quatro indivíduos e uma unidade de Vida Protegida que dá resposta a sete indivíduos. As Unidades Residenciais, são estruturas comunitárias residências, que pretendem, proporcionar uma possibilidade de habitação, sendo este um aspeto importante no processo de Reabilitação Psiquiátrica e na prevenção da institucionalização, bem como proporcionar a convivência de um grupo pequeno, mais adaptado e com vista à máxima inserção destes na comunidade (GIRA, 2013).

Quanto aos Fóruns Sócio Ocupacionais (FSO), estes encontram-se localizados na comunidade e foram criados com o objetivo de promover o fator da socialização. A GIRA possui dois fóruns, o FSO “Retiro de Alfama”, localizado no Concelho de Lisboa, tendo iniciado a sua atividade em 2000 e que dá resposta a trinta indivíduos e o FSO “Gaivota” - Charneca da Caparica, com início de atividade em 2002, localizado no Concelho de Almada e que dá por sua vez resposta a vinte e cinco indivíduos. Estas unidades inseridas na comunidade e em espaço físico próprio, que se destinam a “pessoas com desvantagem, transitória ou permanente, decorrente de doença

Mesa da Assembleia Geral

Direção Conselho Fiscal Departamento de qualidade Respostas Socias Departamento de Voluntariado e Estágio 4 Unidades Residenciais FSO “Retiro de Alfama” FSO “Gaivota” 3 UR 1 UR 1 Equipa de Apoio Domiciliário

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psiquiátrica grave estabilizada, em que a estrita intervenção clínica se revelou insuficiente e em que a integração nesta estrutura, perspetiva a facilitação da inserção sociofamiliar e/ou profissional (GIRA, s.d).

A GIRA trabalha ainda em articulação com outros serviços, como autarquias, onde prevalecem as Câmaras Municipais de Lisboa e Almada, ao nível da ação social e as Juntas de Freguesia. E em termos das Comunidades Locais, conta com o Banco Alimentar, Centro Distrital de Segurança Social, Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, Centros de Saúde, Conselho Local de Ação Social de Almada (CLASA), Federação Nacional das Associações Famílias Pró-Saúde Mental (FNAPSAM), Federação Nacional das Entidades de Reabilitação de Doentes Mentais (FNERDM), Grupo Concelho para a Deficiência no Concelho de Almada, Hospital Garcia da Orta, Rede Social de Lisboa e Santa Casa da Misericórdia.

I.10.4 População - Alvo

A GIRA destina-se a indivíduos em idade adulta, que se encontram em situação de desvantagem, transitória ou permanente devido a doença psiquiátrica grave e clinicamente estabilizada. Pelo que a instituição procura: a) realizar uma reabilitação ativa dos doentes apoiados; b) criar grupos de autoajuda para as famílias dos doentes; c) promover a qualidade de vida da pessoa com experiencia em doença mental e sua família; d) intervir a nível social no domínio da saúde mental e informar e sensibilizar a comunidade sobre estas problemáticas (GIRA, s.d). São ainda objetivos desta instituição, a criação de grupos de suporte ao nível da integração da pessoa com Doença Mental, tendo em conta as diversas necessidades, de forma a promover uma adequada inserção/reinserção familiar e sociofamiliar, e/ou profissional dos destinatários, bem como a integração em estruturas residenciais adequadas, desenvolver atividades indutoras de autonomia do próprio e do relacionamento interpessoal e programas de formação e/ou emprego.

I.10.5 Fórum Sócio Ocupacional “Retiro de Alfama”

O presente estágio curricular foi desenvolvido no FSO “Retiro de Alfama”, que iniciou a sua atividade a 1 de junho de 2000, encontrando-se situado em Alfama, Concelho de Lisboa, tendo sido cedida pela Câmara Municipal de Lisboa, a infraestrutura onde o FSO se encontra situado. Este dá resposta a indivíduos com doença mental grave e persistente, nomeadamente perturbações psicóticas, estando neste momento a dar apoio a trinta clientes. O horário de funcionamento do FSO é de segunda a sexta-feira, das 9h00 às 17h00, durante todo o ano.

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Figura 3 - Sala de Atividades Polivalente da GIRA O FSO “Retiro de Alfama”, tem como intuito” (GIRA, 2013): (a) desenvolver atividades ocupacionais, mediante a elaboração de um programa ocupacional personalizado, que permita desenvolver a autonomia dos utentes e do relacionamento interpessoal, promovendo a reinserção sócio- familiar e/ou profissional dos mesmos; (b) Articular com o Serviço Local de Saúde Mental ou psiquiatria responsável pela assistência clínica do cliente e ter em conta as indicações para a elaboração do programa ocupacional; (c) Manter uma estrutura de recursos humanos qualitativa e quantitativamente adequada ao normal desenvolvimento das atividades; (d) Organizar um processo por cliente; (e) Identificar quem é o cliente, a família, médico de família e médico assistente; (f) Promover a necessária articulação e envolvimento dos familiares no desenvolvimento do programa ocupacional; (g) Colaborar com o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, de forma a facilitar o acompanhamento e avaliação de resultados do programa ocupacional, fornecendo-lhe designadamente informações e outros dados com interesse para o efeito e (h) Observar as instruções emanadas pelos serviços competentes dos Ministérios de tutela em matéria de qualificação e formação dos recursos humanos e ainda no que respeita às comparticipações dos clientes e famílias pelos serviços prestados.

Quanto ao espaço onde se situa o FSO, este situa-se mesmo no centro de Alfama, sendo assim um edifício antigo e com pouca acessibilidade, sendo constituído por três pisos, no primeiro piso encontra-se a cozinha em conjunto com a sala de refeições (figura 2), uma casa de banho e uma despensa, o segundo piso possui mais duas casas de banho, uma sala de atividades polivalentes (figura 3), uma sala de atendimento (figura 4) , um terraço e um gabinete técnico (figura 5).

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No que toca à equipa técnica o FSO “Retiro de Alfama”, conta com uma equipa multidisciplinar, composta por uma psicopedagoga, um psicólogo clínico, uma técnica de serviço social, uma animadora sociocultural, um trabalhador auxiliar e um auxiliar de cozinha. Juntamente com esta equipa estão estagiários das mais diversas áreas, encontrando-se a realizar estágio duas técnicas de serviço social e uma psicóloga. Devido ao Projeto “Troca a Dar” foi possível ainda aumentar a equipa com a contratação de uma psicomotricista e de mais um Psicólogo especializado em Psicoterapia.

Todas as segundas das 11h00 ao 12h00 decorria na GIRA uma reunião entre os clientes e técnicos, onde era estabelecido o calendário semanal das atividades, os clientes informavam nessa reunião que consultas e em que dias da semana as iriam ter, em que dias não estariam presentes na GIRA, devido a tratamentos ou outros assuntos pessoais. Eram ainda discutidas as divisões de tarefas no FSO, sendo que os utentes se encontravam organizados em grupos, onde eram divididas as tarefas a realizar no FSO (cozinha, limpeza, compras), sendo estas atividades rotativas mês a mês.

I.10.6 Caracterização da População e Admissão do Cliente

No que toca à caracterização da população que frequenta o FSO “Retiro de Alfama” (tabela 1), estão inscritos 30 clientes com idades compreendidas entre os 33 e os 80 anos. Quanto aos diagnósticos dos clientes, (N=20) possui um diagnóstico de esquizofrenia (N= 6), possui um diagnóstico de perturbação bipolar, (N= 2), possui um diagnóstico de perturbação depressiva, (N= 1), diagnóstico de perturbação da Figura 4 - Sala de Atendimento da GIRA Figura 5 - Gabinete de Atendimento da GIRA

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personalidade e (N= 1), outro diagnóstico. Frequentam uma Unidade Residencial da GIRA, 16 clientes e em Residência Própria ou de Familiares, 14 clientes.

Tabela 1 – Caracterização da População da GIRA

Variável Número (N) Género Feminino 12 Masculino 18 Idade Média 55.5 Mínimo 31 Máximo 80

Diagnóstico Espetro da esquizofrenia e outras perturbações

psicóticas 20

Perturbação Bipolar 6

Perturbação Depressiva 2

Perturbações da Personalidade 1

Outros 1

Tipo de Residência Residência na UR Protegida ou Autónoma 16

Residência Própria ou de Familiares 14

Quanto à admissão do cliente no FSO “Retiro de Alfama”, é necessário que este apresente determinadas condições como, ter idade superior a 16 anos e com experiência em doença mental, estar em fase de estabilização clínica, aderir à medicação e estar ligado à consulta externa de uma unidade psiquiátrica.

Quando recebida a candidatura a equipa responsável pelo processo de admissão, irá realizar a avaliação desta, de forma a verificar se o possível cliente possui as condições de admissão, se cumprir é realizada uma avaliação multidisciplinar que engloba os seguintes procedimentos: (1) Avaliação Social; (2) Avaliação Psicológica e (3) Elaboração de propostas de admissão, quando necessário.

Depois de recebida e analisada a candidatura, a equipa responsável pelo processo de admissão irá elaborar a proposta de admissão, sendo assim realizada uma entrevista com o cliente, onde se procede aos primeiros levantamentos do evoluir da doença da pessoa, assim como, do seu enquadramento sociofamiliar, sendo o seu acolhimento realizado pelo Técnico de Serviço Social/Psicopedagogo onde se realiza um rastreio da situação de modo a estabelecer a viabilidade do pedido.

O possível cliente inicia um período de experiência com a duração de 1 mês, sendo realizada uma avaliação inicial por um psicólogo, onde será elaborado um traçado psicológico do mesmo, com o intuito de saber se se enquadra nos parâmetros estabelecidos. Após este período de experimentação, e reunidas as informações

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Sociais e Clínicas, e após auscultação do candidato no que se refere às expectativas e necessidades do mesmo, cabe ao Diretor Técnico, que comunicará sempre à Direção, pronunciar-se sobre a inserção ou não do candidato.

É realizada uma reunião de equipa técnica, onde os resultados são analisados e discutidos, chegando-se aqui à decisão da continuidade ou não deste cliente. Depois de o cliente ser informado sobre a decisão e esta ser positiva, inicia-se um novo período de reavaliações, sendo elaborado um contrato de adesão ao programa e o estabelecimento de um Plano Individual de Reabilitação (PIR) em conjunto com o cliente e familiares. Depois de todas estas metas estabelecidas é dado início ao processo de intervenção do cliente, tendo sempre como base o estabelecido no PIR, sendo realizadas avaliações intermédias para se ir ajustando ou redefinindo o PIR.

O PIR é constituído por: (a) Identificação do problema\necessidades; (b) Plano de ação\resposta; (c) Quem vai dar a resposta\intervir; (d) Quando? Data de início; (e) Data da conclusão ou revisão.

Cada cliente possui um processo individual onde podem ser encontrados documentos como: (a) Ficha de Programa Ocupacional (que inclui identificação do familiar ou outra pessoa, bem como o contacto do médico de família e outros médicos); (b) o contrato estabelecido com a GIRA; (c) os documentos socias (ficha de abordagem a nota social, documentos pessoais e a ficha de acompanhamento psicossocial; (d) PIR e a avaliação multidisciplinar e (e) outros documentos relevantes como justificação de faltas, cartas dos próprios, entre outros. Neste processo podemos ainda encontrar o dossier clínico e confidencial, com avaliações e notas psicológicas, relatórios médicos, guia de tratamento e documentos relativos à saúde.

Os clientes na GIRA ainda possuem um técnico de referência, sendo este um técnico que trabalha no FSO, o objetivo passa por este se reunir frequentemente com o cliente de forma a perceber se o que está estabelecido pelo PIR está a ser cumprido e discutir sobre possíveis mudanças. Este técnico de referência é ainda responsável pela articulação com os Serviços Locais de Saúde Mental (SCLM).

I.11 Descrição do Projeto “Troca a Dar”

O presente estágio surge da candidatura do Projeto “Troca a Dar”, por parte da instituição GIRA, ao Programa BIZ/ZIP Lisboa 2017 – Parcerias Locais, da Câmara Municipal de Lisboa, onde através da aprovação do mesmo foi possível integrar na instituição, durante um ano, novos técnicos e estagiários. Tendo a Faculdade de

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Motricidade Humana, sido parceira deste projeto, foi assim possível a realização deste estágio académico. De seguida será descrito o projeto “Troca a Dar” e todas as atividades desenvolvidas no âmbito do mesmo.

O Plano Nacional de Saúde Mental 2007-2016, acentua a necessidade de desenvolver respostas próximas da comunidade, que contribuam para a promoção da saúde mental da população portuguesa. Segundo o Diagnóstico Social de Lisboa (DSL, 2009) as crianças, famílias, desempregados, idosos, imigrantes e outros grupos em risco de exclusão, constituem o grupo da população que enfrenta um maior desfavorecimento social. De acordo com a Carta dos BIP/ZIP (2010), algumas das áreas sociais mais preocupantes no bairro de intervenção prioritária de Alfama são a solidão dos idosos, o desemprego, a marginalidade e os conflitos na vizinhança. O diagnóstico social da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior (JF Santa Maria Maior, 2015) onde se insere o bairro de Alfama e onde está integrado o Fórum Sócio Ocupacional da entidade promotora, específica a necessidade de combater a vulnerabilidade da população idosa e a forte incidência de doença mental dos moradores, causados em grande medida por falta de redes de suporte.

Deste modo, este projeto pretendeu atuar no problema central, a falta de suporte dos grupos em situação de vulnerabilidade e risco de exclusão.

Assim, o Projeto “Troca a Dar”, surge da necessidade de colmatar algumas das áreas socias mais preocupantes no bairro de intervenção prioritária de Alfama, tais como a falta de suporte e o risco de solidão e isolamento da população idosa, procurando promover as competências sociais e emocionais dos grupos em situação de vulnerabilidade e risco de exclusão, dando-lhes ferramentas para participar de forma ativa na comunidade.

A conceção deste projeto teve como base os dados assinalados no relatório do Diagnóstico Social efetuado na Freguesia de Santa Maria Maior em 2011 que, embora se reconheça o trabalho realizado desde então, ainda existe uma necessidade de intervenção social, do qual a GIRA pretende ter um papel ativo.

Entre 2011 e 2013 os Serviços Locais de Saúde Mental (SCML) realizaram 158 atendimentos a indivíduos diagnosticados com Doença Mental (DM) na cidade de Lisboa o que, tendo em conta as estatísticas da OMS a nível europeu (Relatório Mundial da Saúde, 2001), parece ser um número relativamente baixo. Considerando que poderá existir uma elevada incidência de DM no bairro de Alfama, pertencente à Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, o presente projeto teve também como intuito, sensibilizar a comunidade e diminuir o estigma associado há DM, através da criação de

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um sistema de suporte social informal em articulação com voluntários e comerciantes locais. Deste modo, pretendeu-se fortalecer as redes de suporte e o sentimento de pertença à comunidade, de forma a que estes passassem a funcionar de forma autónoma e auto-organizada mantendo assim a sustentabilidade do projeto.

No decurso deste Projeto, a GIRA foi responsável pela identificação de idosos recenseados na Junta de Freguesia de Santa Maria Maior que se encontrassem em situação de risco de exclusão social e que apresentassem vulnerabilidades na área da Saúde Mental. Este levantamento de necessidades, contribuiu para uma maior capacidade da GIRA, através do serviço que presta na comunidade de Alfama no Fórum Socio-Ocupacional (FSO) sito na rua Norberto Araújo nº 1, em prestar apoio às pessoas identificadas. Reforçando as dinâmicas de inclusão, bem-estar e capacitação este projeto pretendeu assim minimizar o problema da falta de redes de suporte dos moradores em situação de vulnerabilidade e dos idosos, bem como permitiu proporcionar oportunidades de partilha e suporte social, com capacidade de auto-organização e procura coletiva de soluções. O objetivo geral do projeto era assim: “Construir e manter redes de suporte social no bairro de Alfama, envolvendo adultos em situação de vulnerabilidade e risco de exclusão social (pessoas com doença mental, em risco de pobreza, desempregados/desocupados, entre outros e idosos em risco de solidão e isolamento, através de um sistema de trocas locais.” Este processo é assegurado pela equipa técnica do projeto pelos tutores (jovens universitários voluntários), para cada laço que se estabeleça. Os tutores serão capacitados para esta intervenção e atuarão individualmente com cada um dos voluntários.

Os idosos em situação ou risco de solidão e isolamento serão os beneficiários das ações destes voluntários, de acordo com as necessidades, poderá ser para fazer companhia regularmente, fazer pequenos recados, acompanhar a serviços, fazer passeios, etc. O comércio e serviços locais serão também beneficiários, na medida em que os voluntários poderão ser uma mais-valia para a sua atividade. Tais ações permitirão o despoletar de convívios, o incentivo à participação e o sentimento de pertença à comunidade. Reforçando as dinâmicas de inclusão, bem-estar e capacitação previstas no diagnóstico social da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, este projeto pretende minimizar o problema da falta de redes de suporte dos moradores em situação vulnerabilidade e dos idosos e proporcionar oportunidades de partilha e suporte social, com capacidade de auto-organização e procura coletiva de soluções.

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Figura 1 - Organigrama da GIRA  __________________________________________16 Figura 2 - Sala de Refeições da GIRA  ______________________________________18 Figura 3 - Sala de Atividades Polivalente da GIRA _____________________________18 Figura 4 - Sala de
Figura 1 - Organigrama da GIRA
Figura 3 - Sala de Atividades Polivalente da GIRA
Figura 4 - Sala de Atendimento da GIRA Figura 5 - Gabinete de Atendimento da GIRA
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