• Nenhum resultado encontrado

Gerhad F. Hasel - Teologia Do Antigo Testamento

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Gerhad F. Hasel - Teologia Do Antigo Testamento"

Copied!
108
0
0

Texto

(1)

.\

I I )

II

I

I-1 7t

Ouestfies

Fu

no De

tai

"

"J

;

~AD

D

F. HASEL

(2)

Sumario

Abreviaturas .... .... ... . . ... ... .. .. . . ... ... .. . 6 Prefacio .. ... . .... .. .... ... .. . . ... ... ... .. . . ... . . 7

Introduc;:ao 9

1. Origens e Desenvolvimento da Teologia do AT 13

2. 0 Problema da Metodologia 27

3. A Questao da Hist6ria, Hist6ria da Tradic;:ao e Hist6ria da

Salvac;:ao

.

43

,

4. 0 Centro e a Teologia do AT 57

5. A Relac;:ao Entre os Testamentos ... . .... .. ... .. ... .. . ... 77

6. Sugest6es Essenciais Para Se Elaborar uma Teologia do AT. 95

Bibliografia Selecionada 107

lndice dos Autores 115

(3)

Abreviaturas

AUSS CBQ EOTH EvTh FRLANT lOB JBL JBR OaG OTCF OTT RScPhTh SBT TAT ThLZ ThZ TOT VT WMANT ZAW ZThK 6

L

Andrews University Seminary Studies Catholic Biblical Quarterly

Essays on Old Testament Hermeneutics, ed. Claus Weste r-mann (Richmond, Va., 1963).

Evangelische Theologie

Forschungen zur Religion und Literatur des Alten und Neuen Testaments

Interpreter's Dictionary of theBible (Nashville, 1962) Journal of Biblical Literature

Journal of Bible and Religion

Offenbarung als Geschichte, ed. W. Pannenberg (2.a ed.; G6ttingen, 1963)

The Old Testament and Christian Faith, ed. B. W. Ander-son (New York, 1963)

G. von Rad, Old Testament Theology (2vols.; New York, 1962, 1966)

Revue des Sciences Philosophiques et Theologiques Studies in Biblical Theology

G. von Rad, Theologie des Alten Testaments (5.a ed.; Miinchen, 1966)

Theologische Literaturzeitung Theologische Zeitschrift

W. Eichrodt, Theology of the Old Testament (2 vols.; Philadelphia, 1961, 1965)

Vetus Testamentum

Wissenschaftliche Monographien zum Alten und Neuen Testament

Zeitschrift fiir alttestamentliche Wissenschaft Zeitschrift fiir Theologie und Kirche

(4)

Pre/acio

Temos presenciado uma torrente de estudos sobre teologia do AT desde 0 lanc;:amento deste livro em 1972. Situam-se entre eles cinco novas teologias, sen do tres da autoria de eruditos europeus e duas de americanos, mas todas divergem entre si sobre prisma e metodo. Alem disso, foi divulgado grande numero de artigos e ensaios que abordam aspectos importantes dessa disciplina.

o

fa to de a primeira edic;:ao ter-se esgotado com surpreendente rapidez comprova sua ampla utilizac;:ao por professores e alunos e revela seu valor como introduc;:ao ao atual debate sobre a natureza, func;:ao, metodo e escopo da teologia do AT. Procuramos, nesta edic;:ao revista, apresentar capHulos atualizados, com 0 acrescimo de

comentarios sobre pontos de vista divulgados na literatura recente. Complementando esta tarefa primordial, adicionamos um novo capi-tulo sobre a origem e0 desenvolvimento das teologias biblica e do AT,

expondo os motivos do debate em curso e mostrando um panorama das divers as etapas da conturbada hist6ria da disciplina. Incorpora-mos uma ampla bibliografia, que abrange, principalmente, a litera-tura atual. Este e um testemunho vigoroso da importancia do assunto para 0pensamen to teol6gico de hoje.

Gostaria de expressar meu reconhecimento e gratidao aos professo-res que me expuseram a teologia biblica enquanto discipulo e aos meus alunos que contribuiram estimulando debates. Agradec;:o espe-cialmente ao Sr. Marlin J. VanElderen, editor-chefe da Wm. B. Eerd-mans Publishing Company, cujo encorajamento e apoio desempenha-ram papel fundamental na rapida publicac;:ao desta edic;:ao revista. Nao posso deixar de agradecer tambem aqueles que executaram ser-vic;:osde datilografia e tarefas congeneres, colaborando, assim, para a concretizac;:ao deste volume.

Seminario Te076gico Universidade Andrews

(5)

A teologia do AT encontra-se, inegavelmente, em crise. As ultimas monografias e artigos de estudiosos europeus e americanos' demons-tram que problemas fundamentais e quest6es cruciais continuam sem soluc;:ao e objeto de intenso debate. Embora date de seculos, a teologia doAT hoje nao sabe ao certo sua verdadeira identidade.

George Ernest Wright nos fala de sua mudanc;:a de opiniao em The

OT and Theology (New York, 1969), afirmando: "Devo concordar com Eichrodt ... " (p. 62). Anteriormente, em seu conhecido estudo

God Who Acts: Biblical Theology as Recital (SBT, 8; London, 1952), ele concordava com os conceitos teol6gicos de Gerhard von Rad, referen tes

a

essencia da teologia do AT.2 Por ou tro lado, 0 te610go

frances Edmond Jacob retorna ao incessante debate sobre a natureza, func;:aoemetodo da teologia do AT em seu ultimo livro, Grundfragen alttestamentlicher Theologie (Stuttgart, 1970), no qual ele prossegue fundamentando e defendendo sua posic;:ao.3 0 mesmo se da com 0

erudito holandes Th. C. Vriezen. A segunda edic;:ao inglesa de seu livro An Outline of OT Theology (Newton, Mass., 1970)4 - inteira-mente revista e ampliada - coloca nova enfase no conceito de

1 Veja aBibliografia, p.107.

2 The OT and Theology, p. 61e s. Veja tambem os seguintes ensaios de WriRht: "ReflectionsConcerningOTTheology",Studia Biblica etSemitica. FestschrIft Th.

e.

Vriezen(Wageningen, 1966),p. 376-388; e "Historical Knowledge and Revel a-tion", em Translating and Understanding the ~T. Essays in Honor of Herbert G.May, ed.H.T.FrankeW. L.Reed(NewYork, 1970),p.279-303.

3 Anova edi,ao francesa deThenloRie de IA T(2.a edi,iio. Neuchatel. 1(68) aborda tambem, em seu pref£icio, os problemas aqui em discussao. Sao pertinentes tambem dois artigos recentes de Jacob: "Possibilites et limites d'llne theologie biblique", Revue d'Histoire etdePhilosophie Religieuses, 46 (1966),p. 116-130; e "La theologie de l'AT", Ephemerides theologicae lovanienses, 44 (1969), p.420-432.

4 Asegunda edi~aoinglesabaseia-se na 3. a ed. holandesa de1966 einc1uiainda ex-certosdaliteratura publicada ap6s1966.

(6)

comunhao. B. S. Childs analisa, em sua ousada e incisiva monogra-fia, Biblical Theology in Crisis (1970), a essencia, os sucessos e os fra -cassos do chamado Movimento Teol6gico Biblico nos Estados Uni-dos, que diz-se ter atingido 0 fim de seus dias.5 Ele tambem prop6e uma nova metodologia para se abrac;:ar uma "nova teologia biblica". 6 Algo congenere europeu

a

monografia de Childs foi escrito pelo te610go alemao Hans-Joachim Kraus; sua obra Die Biblische Theo-logie. Ihre Geschichte und Problematik (1970) se preocupa es sencial-mente com a hist6ria da disciplina na Europa a partir de 1770.7 Este volume indispensavel exp6e pormenorizadamente problemas cruciais da mesma (p. 307-395).

The Path of Biblical Theology, de Wilfred

1.

Harrington, OP, retrata "0 metodo, 0 escopo e 0 ambito da teologia biblica". Ele examina as teologias do AT e do NT, baseando-se, principalmente,

em teologias representativas, mas nao tem tanto sucesso quando aborda as relac;:6es complexas e contradit6rias da teologia biblica. Nesse ponto, Kraus demonstra muito mais percepc;:ao e sensibilidade em relac;:ao

as

quest6es e problemas. Harrington, no entanto, apresen -ta impor-tantes aspectos da contribuic;:ao cat6lica romana.

Err quatro an os foram escritas cinco novas teologias do AT, recorde este nunca antes alcanc;:ado e dificil de ser repetido no futuro. A. Deissler, erudito cat6lico, desenvolve sua teologia do AT sob 0 titulo The Basic Message of the OT,8 revelando, de imediato, uma postura teol6gica contraria

a

de G. von Rad, a saber, que 0 AT possui um centro unificador: Deus eseu relacionamento com 0 mundo e com o homem. 9A mensagem fundamental do AT consiste em seu testemu-nho do Deus unico, nao-secular, supratemporal, santo e pessoal, exibido nas paginas de Genesis, Exodo, Deuteronomio, nos escritos dos profetas e tradic;:6es sacerdotal e da sabedoria. W. Zimmerli 10

5 A data exata do"fim" do Movimento Teol6gico Biblico como for~a dominante na America e maio de 1963, segundo se acredita; etambem a data da publica~ao de Honest /0 God de J. A. T. Robinson; veja Biblical Theology in Crisis (Filadelfia,

1970), p. 85e 91, de B.S. Childs. Verifique as analises e criticas de M. Barth, em "Whither Biblical Theology", Interpretation, 25/3 Uulho de 1971), p. 350-354, e,

emAUSS, 10(1972),179-183, deGerhardF. Hasel.

6 Veja especial mente os capitulos 5 e 6, intitulados "The Need for a New Biblical Theology" e "The Shape of a New Biblical Theology", do livro de Childs, p. 91-96 e 97-122.

7 Esurpreendente que Kraus mencione tao poucas vezes nomes de eruditos anglo-saxoes (p. 2, 4,5, 334, 336, 344, 373 e s.). Embora trate detalhadamente de muito do que R.C.Dentan abordou (veja a Bibliografia), aparentemente ele nao se refere nem uma vez ao estudo dele.

8 DieGrundbo/schaf/ desAT(Freiburg i.Br., 1972).

9 Neste ponto ha concordancia com a tese proposta por W. Zimmerli em sua analise deOTTdevon Rad em VT,13 (1969), p. 109.

10 Grundriss der all/estamentlichen Theologie (Stuttgart, 1972). Repare na ampla discussao desta obra feita por C. Westermann, em "Zu zwei Theologien des AT",

EvTh, 34(1974), p. 102-110.

10

(7)

--compartilha com Deissler da convicc;:aode que um centro unico pode

servir delinha de orientac;:ao. A teologia do AT

"e

toda express6es do

AT acerca de Deus"," e, portanto, "0 dever lda teologia do ATJ

e

apresentar um AT que descreva Deus no sentido que the

e

mais

pr6prio".12 Em Outline of OT Theology, Zimmerli considera 0 AT um "livro comunicativo (Buch der Anrede)" , 0 que evidencia a distancia que vaientre ele e von Rad, para quem 0 AT

e

um "livro de hist6ria (Geschichtsbuch)" . 130 tomo intitulado Theological Founding Structures of the OT, de G. Fohrer,14 ap6ia-se fundamentalmente no

duplo conceito do governo de Deus ede sua comunhiio com 0 homem. Afigura-se aqui a influencia de Th. C. Vriezenl5 e M. Buber.'6 A obra de Fohrer carece de uma estrutura coerente.17 0 mesmo

pode-se dizer do livro de J. L. McKenzie, A Theology of the OT (Garden City, 1974), que principia com um capitulo sobre "Culto"

(assunto nem sequer men cionado por Zimmerli), discutindo, em seguida, "Revelac;:ao", "Hist6ria", "Natureza", "Sabedoria", "In

s-tituic;:6esPolitic as eSociais", econc1uindo com "0 Futuro de Israel".

Em vez de adotar uma linha de orientac;:ao (um centro, conceito ou tema) ou alguma estrutura em especial, McKenzie seleciona "t6picos

especificos", "normalmente escolhidos de acordo com estudos e interesses pessoais ... "18Por conseguinte, seu livro esta longe de ser um guia completo de teologia do AT e nem pretende se-Io. Contra s-tando com estas quatro teologias, que pretendem ser meramente descritivas, esta a obra de C. R. Lehman, Biblical Theology I: Old Testament (Scottdale, Pa., 1971). A teologia do AT

e

aqui considera -da parte integrante da teologia biblica, estando alicerc;:ada no "co n-ceito fundamental de revelac;:aoprogressiva" e na "suprema unidade da Biblia". 19 "A teologia biblica estuda a revelac;:ao de Deus no decorrer da hist6ria biblica", ou seja, "0 desvendamento da revelac;:ao

divina acerca das alianc;:as registradas nas Escrituras. "20 Lehman,

portanto, combina a hist6ria da religiao de Israel com a teologia do

AT, sob0titulo de teologia biblica.

11 Zimmerli, Grundriss, p.7.

12 P.9.

13 G. von Rad, OTT, II,p.415.

14 Theologische Grundstrukturen des AT (Berlim, 1972). Note tambem a discussao deWestermann, EvTh, 34(1974), p.96-102.

15 Especialmente no tocante ao conceito de "comunhao" - nucleo do AT segundo Vriezen (infra, Capitulo IV) ena coletanea "The Personal Structure" (p. 133 e ss.).

16 Isto se evidencia no princ!pio da "correlacao" e na grande enfase na "fe dos profetas" .

17 Essencialmente. nliohanenhuma rela,ao entre oscapitulos 1-3 e4-7.

18 McKenzie, A Theology of the OT, p. 23.

19 Lehman, Biblical Theology I: Old Testament, p.8. 20 P.37.

(8)

Toda essa contribuic;:ao recente em forma de monografias indica

que 0 debate sobre a natureza, func;:ao, metodo e configurac;:ao da

teologia do AT continua aceso. As ultimas obras sobre 0 assunto demonstram que a carreira dessa disciplina, e, no sentido mais

amplo, da teologia biblica, ainda nao terminou. Os ultimos progres -sos vem acarretando ainda maiores complicaC;:6es.

Todo exegeta e te610go responsavel continuara a pesquisar os

problemas basicos determinantes do carater da teologia do AT (e do

NT) e, conseqiientemente, da teologia biblica. Nossa exposic;:aonao

pretende ser completa, mas procura tocar em pontos que, em nosso entender, sao problemas primordiais ainda sem soluc;:ao.Procuramos enfocar a origem e 0 desenvolvimento da teologia biblica prime ira-mente, e·da teologia do AT, a fim de salientar as origens das quest6es fundamentais desse debate que vem-se desenrolando. Assim, nossa enfase em quest6es cruciais - nuc1eo desses problemas fundamentais - esta bem apoiada. Baseados neste exame, apresentaremos, no

ultimo capitulo, nossas sugest6es para 0 estudo da teologia do AT.

(9)

1

Origens

e

Desenvolvimento

da Teologia do AT

o

proposito deste capitulo e examinar as principais tendencias da hist6ria das teologias biblica e do AT desde suas origens ate seu renascimento ap6s a Primeira Guerra Mundial. 1 Esta pesquisa

hist6rica visa apresentar 0 fundamento do debate em curso sobre 0

ambito, prop6sito, natureza e func;:ao da teologia do AT. Como esta e parte integrante da teologia biblica, nao pode ser estudada separada-mente.

A.Da Reforma ao Iluminismo. 0 principio protestante "sola

scrip-tura" / que transformou no grito de guerra da Reforma contra a teologia escolastica e a tradic;:ao eclesiastica, preparou 0 terreno para

o desenvolvimento subseqiiente da teologia biblica atraves de sua conciamac;:ao

a

livre interpretac;:ao das Escrituras (sui ipsius

inter-pres).3 Nao foram os reformistas que criaram 0 termo "teologia

biblica" nem a abrac;:aram como disciplina, como veio a ser entendida posteriormente.

o

termo "teologia biblica" tem duplo sentido: (1) pode caracterizar a teologia que est a arraigada no ensinamento das Escrituras e nelas fundamentada ou (2) pode caracterizar a teologia inerente

a

pr6pria Biblia.4 Neste ultimo caso, trata-se de uma disciplina teol6gica

1 Entre as melhores hist6rias sobre teologia biblica, destacam-se: R. C. Dentan, Prefaceto OT Theology (2." ed.; New York, 1963);H. J. Kraus, Die biblische

Theologie.Ihre Geschichteund Problematik (Neukirchen- Vluyn, 1970);0_ Merk, Biblische TheologiedesNT in ihrer Anfangszeit (Marburg, 1972);C. T. Fritsch, "New Trends in OT Theology", Bibliotheca S'Jcra, 103 (1946), p. 293-305; E. Wuerthwein, "Zur Theologie desAT". ThR, 36 (1971),p.185-208.

2 Visando 0emprego deste principio no periodo da pre-Reforma, veja H. Oberman, The Harvest of Medieval Theology (2." ed.; Grand Rapids, Mich., 1967), p.

201,361-363,377,380-390.

3 G. Ebeling, "The Meaning of 'Biblical Theology''', Word and Faith (Londres, 1963),p.81-86.

4 W. Wrede, Uber Aufgabe und Methode der sogenannten Neutestamentlichen Theologie(Giittingen, 1897),p.79;Ebeling, Word and Faith, p. 79-81;K. Sten-dahl, "Method in the Study of Biblical Theology", The Bible in Modern Scholarship, ed. J. P. Hyatt (Nashville, 1965), p. 202-205; Merk, Biblische Theoiogie,p. 7.

(10)

especifica, cuja origem e desenvolvimento descreveremos sumaria-mente.

A hermeneutica "sola scriptura" de Lutero e s<!uprincipio do "was Christum treibet" aliados ao dualismo "letra-espirito"5 0 impediram de desenvolver uma teologia biblica_ O. Glait e Andreas Fischer, representantes da Reforma Radical, desenvolveram, nos primordios de 1530, um metodo que prefigurava 0da futura teologia biblica. 6

o

termo "teologia biblica" s6 apareceu pel a primeira vez cem anos apos a Reforma na obra Deutsche Biblische Theologie (Kempten, 1629) de Wolfgang Jacob Christmann, da qual nao existem exempla-res hoje em dia.7 Ja a Theologia Biblica (Daventri, 1643) de Henricus A. Diest pode ser adquirida;

e

0 primeiro documento a propiciar vislumbres da natureza de uma disciplina, que entao nascia. Com-preendia-se que a teologia biblica consistia em "textos de prova" das Escrituras, extraidos indiscriminadamente dos dois Testamentos, de modo a apoiar os tradicionais "sistemas de doutrina" -da ortodoxia protestante primitiva. A func;:ao auxiliar da "teologia biblica", em contraposic;:ao

a

dogmatica, foi solidamente estabelecida por Abra-ham Calovius - um dos representantes mais destacados da ortodoxia protestante - ao intitular de "teologia biblica" 0 que antes era chamado de theologica exegetica. 8Em seus trabalhos, os "textos de

prova" biblicos, conhecidos por dicta probantia e mais tarde por

collegia biblica, tinham a func;:ao de apoiar a dogmatica. A contri-buic;:ao duradoura de Calovius foi atribuir

a

teologia biblica 0 papel de disciplina auxiliar das doutrinas do protestantismo ortodoxo. Este papel de disciplina auxiliar da dogmatica ortodoxa evidencia-se nos trabalhos de teologia biblica de Sebastian Schmidt (1671), Johann Hiilsemann (1679), Johann Heinrich Maius (1689), Johann Wilhelm Baier (1716-19) e Christian Eberhard Weismann (1739).9

o

retorno ao dominio da Biblia, caracteristica do pietismo alemao, deu novo curso

a

teologia biblica_ 10Nesse movimento, esta tornou-se

5 G. Ebeling. "Die Anfiinge von Luthers Hermeneutik". LihK. 48 (1951). p. 172-230, esp. 187-208.

6 G. F. Hasel, "Capito, Schwenckfeld and Crautwald on Sabbatarian Anabaptist Theology", Mennonite QuarterlyReview,46 (1972), p.41-57.

7 Mencionado em M. Lipenius, Bibliotheca realistheologica omnium marteriarum

(Frankfurt, 1685), tomo !,col. 1709, ealudido pela primeira vezpor Ebeling em

Word and Faith, p.84, n.3.

8 Calovius, Systema locorum theologicorum I(Wittenbergae, 1655).

9 Schmidt, Collegium Biblicum in quo dicta et Novi Testamenti iuxta seriem locorum comunium tlzeologicorum explinatur (Strassburg, 1671); Hiilsemann,

Vindiciae Sanctae Scripturae per loca c/assica systematis theologici (Lipsiae, 1679); Maius, Synopsis theologiaejudicae veteris etnova(Giessen, 1698); Baier, Analysis etvindicatio illustrium scripturae (Altdorf, 1716-19); Weismann, Insti

-tutionestheologiae exegetico-dogmaticae (Tuebingen, 1739). 10 O. Betz, "History of Biblical Theology" ,IDB, !,432.

(11)

um instrumento de reac;:ao

a

arida ortodoxia protestante." Philipp

Jacob Spener (1635-1705), um dos pais do pietismo, combateu 0

escolasticismo protestante munido da "teologia biblica". 12A influ

en-cia do pietismo se faz sentir nas obras de Carl Haymann (1708),

J. Deutschmann (1710) e J. C. Weidner (1722), que se valem da

teologia biblica para fazer frente aos sistemas ortodoxos de

dou-trina_13

J a em 1745 a teologia biblica sofre uma nitida separac;:ao da teologia dogmatica (sistematica), passando a ser entendida como fundamento desta ultima.14 Isto denota sua libertac;:ao do simples papel de auxiliar da dogmatica. A possibilidade de a teologia biblica rivalizar com a dogmatica e se converter numa disciplina totalmente independente esta inerente nesse progresso. Estas tendencias eram patrocinadas pelo racionalismo da era do iluminismo.

B.

A Era

do Iluminismo_ Uma concepc;:ao completamente nova do estudo da Biblia desenvolveu-se sob divers as influencias na era do iluminismo (Aufklarung). Em primeiro lugar e antes de mais nada, deu-se a reac;:ao do racionalismo a qualquer forma de sobrenatur a-lismo.'5 A razao humana tornou-se 0 padrao definitivo e a fonte principal de conhecimento, isto e, a autoridade da Biblia como registro infalivel de revelac;:ao divina fora rejeitada. A segunda grande contribuic;:ao do periodo iluminista foi 0 desenvolvimento de uma

nova hermeneutica: 0 metodo historico-critico,16 cujo lugar esta

assegurado atualmente no liberalismo e em movimentos subseqiie n-tes_ Em terceiro lugar, submeteu-se aBiblia

a

critica literaria radical,

11 Dentan, Preface to OT Theology, p. 17; Merk, Biblische Theologie. p. 18-20;

Kraus, Biblische Theologie, p.24-30.

12 P. J. Spener, Pia Desideria (Frankfurt, 1675), traduzido e editado por T. G.

Tappert (Filadelfia, 1964), p.54e s.

13 Haymann, Biblische Theologie (Leipzig, 1708); Deutschmann, Theologia Biblica

(1710); Weidner, Deutsche Theologia Biblica (Leipzig, 1722).

14 Segundo artigo sem assinatura em J. H. Zedler, ed., Grosses vollstimdiges Universallexikon (Leipzige Halle, 1745; reimpresso Graz, 1962), vol. 43, col. 849, p.866es.,920 e s.d.Merk, Biblische Theologie, p.20.

15 0deismo ingles, representado por John Locke (1632-1704), John Toland (1670

-1722), Matthew Tindal (1657-1733) eThomas Chubb (1679-1747), e que enfatiz a-vaa supremacia da razao sobre a revela~ao, teve seu paralelo no continente na

"ortodoxia racional" de Jean A. Turretini (1671-1737) e nas pessoas de S. J.

Baumgarten, J. S. Semler (1725-1791), J. D. Michaelis (1717-1791). Veja W. G.

Kiimmel, The NT: The History of the Investigation of its Problem (Nashville,

1972), p. 51-72; H. 1. Kraus, Geschichte der historisch-kritischen Erforschung desAT(2." ed.; Neukirchen- Vluyn, 1969), p. 70e ss.

16 G. Ebeling, "The Significance of the Critical Historical Method for Chl!fCh and Theology in Protestantism", Word and Faith, p. 17-61; U. Wi1ckens, "Uber die

Bedeutung historischer Kritik in der Bibelexegese", Was heisst Auslegung der Heiligen Schrtft? eds. W. Joest et al. (Regensburg, 1966), p. 85 ess.; J. E.

Ben-son, "The History of the Historical-Critical Method in the Church", Dialog, 12

(1973), p. 94-103; K. Scholder, Ursprunge und Probleme der Bibelkritik in 17.

Jahrhundert. Ein Beitrag zur Entstehung der historisch-kritischen Theologie (Munich,1966).

(12)

o que se deve a 1. B. Witter e J. Astruc, entre outros. Por ultimo, 0

racionalismo, por sua pr6pria natureza, foi levado a abandonar a concepc;:ao ortodoxa da inspirac;:ao da Biblia, de forma que ela veio a

ser considerada um mere documento antigo, que deve ser estudado

como todos os outros documentos antigos.'7

Anton Friedrich Biisching, parcialmente levado pelo pietismo e

fortemente influenciado pelo racionalismo, deixa patente, em suas

obras, pela primeira vez, que a teologia biblica tornara-se -rival da

dogmatica.18 Critica-se a dogmatica protestante, tambem conhecida como "teologia escolastica", por suas especulac;:6es vazias e teorias

estereis. G. Ebeling bem sumariou: "A 'teologia bib liea' deixou de ser uma disciplina auxiliar da dogmatica, tornando-se agora rival desta. "19

Um grande incentivador da "revoluc;:ao da hermeneutica"20 foi 0

racionalista Johann Solomo Semler (1725-1791), cuja obra, em quatro volumes, Treatise on the Free Investigation of the Canon (1771-75), trazia a afirmac;:ao de que a Palavra de Deus eas Sagradas Escrituras nao sao identicas,21 sugerindo que nem toda a Biblia e resultado de inspirac;:ao,22 sen do um mere documento hist6rico, que devia ser examinado, como qualquer outr~ documento congenere,

por meio de uma metodologia exc1usivamente historica e, portanto,

critica.23 Assim, conc1uiu-se que a teologia biblica nao passava de

uma disciplina historic a, que se contrapunha

a

dogmatica tra di-ciona1.24

Gotthilf Traugott Zachari~ (1729-1777) deu um grande passo em direc;:ao

a

separac;:ao entre a teologia biblica e a dogmatica, em sua obra, em quatro volumes, sobre a primeira (1771-75).25 Influenciado pela nova orientac;:ao ditada pela dogmatica e pela hermeneutica, ele

procurou elaborar um sistema de ensinamentos teol6gicos baseand

o-se num minucioso trabalho de exegese. Cada livro das Escrituras 17 A pessoa-chave eJ.S.Semler, que, em sua obra em quatro volumes, Abhandlung

von derfreien Untersuchung desKanons (1771-75), combateu a doutrina ortodoxa

da inspira~ii.o. Kraus, Geschichte, p. 103 e ss.

18 A. F. Biisching, Dissertatio inauRuralis exhibens epitomen theologiae e solis l i-teris sacris concinnatae (Goettingen, 1756); idem, Epitome Theologiae (Lem go-viae, 1757); idem, Gedanken von der Beschaffenheit und dem Vorzug der biblisch-dogmatischen Theologie vor der scholastischen (Lemgo, 1758).

19 Ebeling, Word and Faith, p. 87.

20 Dentan, Preface, p. 19.

21 Kiimmel, The NT: The History, p. 63.

22 G. Hornig, Die Anfonge der historisch-kristischen Theologie (Gottingen, 1961),

p.56 e ss.

23 Merk, Biblische Theologie, p. 22.

24 Hornig, Die Anfonge, p. 57 e s.; Merk, Biblische Theologie, p. 23 e s.

25 G.T. Zacharia, Bib/ische Theologie oder Untersuchung des biblischen Grundes der vornehmsten theologischen Lehren (Gottingen e Kiel, 1771-75); Dentan, Preface, p. 21; Kraus, Biblische Theologie, p. 31-39; Merk, Biblische Theologie, p.23-26.

(13)

possui epoca, importancia e finalidade pr6prias. Zacharill., contudo, ateve-se

a

inspirac;:ao da Biblia/6 tal como J. A. Ernesti (J707-1781)/7 seguindo 0 metodo de exegese biblica deste.28 A exegese hist6rica e a compreensao canonica das Escrituras nao entram em conflito,

segundo a concepc;:ao de Zacharill., porque 0 "aspecto hist6rico fica em segundo plano na teologia". 29 Desta forma, nao e necessario se fazer distinc;:ao entre os Testamentos - ha uma relac;:ao de reciproci-dade entre eles. Essencialmente, 0 interesse de ZacharHI. permanecia centrado no sistema dogmatico, cujas impurezas ele desejava ex

-purgar.

As obras de W. F. Hufnagel (1785-89)30 e do racionalista C. F. von Ammon (1792)31 pouco se distinguem em estrutura e prop6sito da de ZachariiL A teologia biblica de Hufnagel consiste numa "coletanea,

mediante analise hist6rico-critica, de textos de prova biblicos, em apoio

a

dogmatica. "32Von Ammon, por sua vez, adotou as ideias de Semler e dos fil6sofos Lessing e Kant, apresentando 0 que mais se assemelhava a uma "teologia filos6fica". Digna de nota e a sua maior apreciac;:ao do NT,33 sendo esse 0 primeiro passo para um tratamento independente da teologia do AT,l4 adotado quatro anos mais tarde por G. L. Bauer.

o

ne610go e racionalista Johann Philipp Gabler (1753-1826), que nunca escreveu ou mesmo pretendeu escrever uma teologia biblica,

contribuiu de forma decisiva e marcante para 0 desenvolvimento da nova disciplina, com sua palestra de abertura na Universidade de Altdorf, em 30 de marc;:o de 1787.35Esse ana marcou para a teologia biblica 0 inicio de seu papel de disciplina exc1usivamente hist6rica,

totalmente independente da dogmatica. Gabler da sua famosa de-finic;:ao: "A teologia biblica possui um carater hist6rico: ela trans mite o que os escritores sacros pensavam de temas divinos; ja a teologia

26 Zacharia, Biblische Theologie, !,p.VI.

27 J_ A. Erncsti, Institutio interpres Novi Testamenti (Leipzig, 1761); Kummel. TheNT: TheHistory, p.60es.

28 Kraus, Biblische Theologie, p. 35. 29 Zachariii, Biblische Theologie,!, p. LXVI.

30 W. F. Hufnagel, Handbuch der biblischen Theologie (Erlangen, vol. !, 1785; vol. II, 1789).

31 C. F. von Ammon Entwurf einer reinen biblischen Theologie, 3 vols. (Erlangen, 1792). Cf. Kraus, Biblische Theologie,p.40-51.

32 D. G. C.von Colin, Biblische Theologie(Leipzig, 1836), !,p.22. 33 Kraus, Biblische Theologie,p. 51.

34 Dentan, Preface,p. 26.

35 J. P. Gabler, "Oratio de iusto discrimine theologicae biblicae et dogmaticae regundisque recte utriusque finibus" ["About the Correct Distinction of Biblical and Dogmatic Theology and the Right Definition of their Goals"], em Kleine

theologische Schrzften, eds. Th. A. Gabler e J. G. Gabler (Ulm, 1831), II, p. 17<)-198. Tradu~ao completa para 0 alemao em Merk, Biblische Theologie, p. 273-284; tradu~ao parcial para 0ingles em Kummel, History, p. 98-100.

(14)

dogmatic a possui um carater didatico: ela transmite as ponderac;:6es filosoficas de determinado teologo acerca de temas divinos, levan do em conta sua capacidade, epoca e regiao em que viveu, e orientac;:ao ou escola, entre outras coisas_"36 Sua perspectiva indutiva, historica e descritiva da teologia biblica apoia-se em tres considerac;:6es es sc,,-ciais: (1) A inspirac;:ao deve ser deixada de lado, porque "0 Espirito de Deus decididamente nao destruiu 0 atributo da compreensao e percepc;:ao inerentes aos santos".37

0

que import a nao ea "autoridade divina", mas "apenas 0 que eles [autores biblicos] pensavam". 38 (2) Cabe

a

teologia biblica coligir diligentemente as concepc;:6es e ideias de cada escritor da Biblia, porque ela nao contem as ideias apenas de um unico individuo. Por essa razao, as opini6es dos autores biblicos precis am ser "extraidas pacientemente das Sagradas Escritu -ras, orden ad as apropriadamente, relacionadas devidamente aos con-ceitos gerais e comparadas detalhadamente umas com as outras_.. "39 Isto pode ser realizado atraves da aplicac;:ao sistematica do metodo historico-critico, aliado

a

critica literaria, historica e filos6fica.40 (3) A teologia biblica como disciplina historica e obrigada, por definic;:ao, a "fazer distinc;:ao entre as diversas fases das religi6es antiga e nova. "41 A tarefa principal e investigar quais conceitos sao relevantes para a doutrina crista, isto e, quais se "aplicam ao dia de hoje" e quais "perderam sua validade" _42 Estas dec1arac;:6es progra-maticas trac;:aram 0 futuro da teologia biblica (AT e NT), apesar de 0 programa de Gabler a respeito ter side condicionado por sua epoca e apresentar consideraveis limitac;:6es.43

George Lorenz Bauer (1755-1806),44 disdpulo de 1. G. Eichhorn, foi 0 primeiro a compreender a finalidade de uma teologia biblica

rigorosamente hist6rica_ Deve-se a ele a publicac;:ao da primeira teologia do AT: Theologie des Alten Testaments (Leipzig, 1796).45 Atribui-se a ele, devida ou indevidamente, ter dividido a teo-logia biblica em teologia do AT e do NT.46A Theologie des AT de 36 "Oratio", em Kleine theoiogische Schriften, II, 183 e 184. Cf. R. Smend, "1. P.Gablers Bergrundung der biblischen Theologie", EvTh, 22 (1962),p_ 345-367;Kraus,Biblische Theologie,p. 52-59;Merk,Biblische Theologie, p. 29-140. 37Kleine (heologischeSchnften, II,p.186.

38 P. 186;Kummel,History, p. 99. 39 P.187;Kummel,History,p.100. 40 Merk,Biblische Theologie,p. 68-81.

41 Gabler, "Oratio", em Kleinetheologischl'Schriften, II,p. 186; Kummel,History, p.99.

42 P.191;Kummel,History, p.100.

43 Merk,Biblische Theologie, p. 87-90,111-113.

44 Veja especialmente Kraus, Biblische Theologie, p. 87-91, e Merk, Biblische Theologie, p.141-203.

45 Poucotempo depois elepublicou a obra emquatro volumesBiblische Theologie des Neuen Testaments (Leipzig, 1800-1802).

46 Gabler haviaproposto esse tratamento independente emsua palestra deabertura em 30 de mar~o de1787.

(15)

Bauer possui estrutura triplice: (1) teologia, (2) antropologia e (3) cristologia, 0 que revela sua subordinac;:ao ao sistema da teologia dogmatica. Ele, que era um racionalista de linha historico-critica,47

destacou-se no desenvolvimento da teologia biblica (AT e NT)

grac;:as

a

aplicac;:ao sistematica do metodo historico-critico, aliado

a

enfase racionalista no argumento historico.48 Sua recomposic;:ao histo-rico-critica dos diversos testemunhos biblicos levantou, entre outros

problemas, 0 do vinculo entre os Testamentos - objeto de intenso

debate hoje em dia. Alem disso, 0 carater de disciplina historica da

teologia biblica - vigorosamente sustentado por Gabler e

conseqiien-temente por Bauer e outros - volta a ser debatido hoje, bem como 0

problema da natureza da narrativa. Nem por isso Gabler e Bauer

deixam de ser osresponsaveis pela independencia da teologia biblica e

do ATquanto

a

disciplina.

C. Do Iluminismo

a

Teologia Dialetica. Mostramos como a teolo-gia biblica se libertou na era do iluminismo do papel de disciplina

auxiliar da dogmatica, passando a rivaliza-Ia. Em seguida, a nova

disciplina sucumbiu adiversas correntes filosoficas, sendo dominada

pelas mesmas, experimentou 0 desafio das ciencias biblicas conserva -doras e foi finalmente eciipsada pelo metodo da historia das religi6es

(Religionsgeschichce)_ Na epoca da teologia dialetica (logo apos a

Primeira Guerra Mundial) ela ganhou vida nova_

As primeiras decadas do seculo XIX registraram 0 surgimento de

diversas obras importantes. Gottlob Ph Chr. Kaiser publicou tres

volumes sobre teologia biblica entre 1813 e 1821.49Racionalista que

era, repeliu toda sorte de sobrenaturalismo e procurou delinear 0

desenvolvimento historico-genetico da religiao do AT. Foi ele 0

primeiro a adotar a perspectiva da historia das religi6es,

subordinan-do todos os aspectos biblicos e nao-biblicos ao principio da "religiao

universal" .

A obraBiblische Dogmatik (1813) de W_M. L. de Wette, discipulo

de Gabler, marcou 0 inicio do abandono do racionalismo. Tendo

adotado a filosofia kantiana de

J.

F. Fries, tornou-se 0 primeiro

teologo da Biblia a combinar a teologia biblica com um sistema

filosofico.50 Sua alta sintese de fe e sentimento obedecia a um

"desenvolvimento genetico" da religiao desde 0hebraismo, viajudais-mo, ate 0cristianismo. 51

47 Merk, Biblische Theologie, p.202_ 48 P.199.

49 G. P. C. Kaiser, Die biblische Theologie, 3vols. (Erlangen, 1813, 1814, 1821). Cf. Dentan, Preface, p. 28 e s.; Kraus, Biblische Theologie, p. 57 e s.; Merk,

B]bilsche Theologie, p.214-216. SO Kraus, Biblische Theologie, p. 72. 51 Merk, Biblische Theologie, p.210-214.

(16)

I

i:·1 'I, I'

i

I

ii~SrITUTO ADVENTISTA DE ENSINv ARTUR NOGUEIRA· SP

D. C. von Colin, racionalista moderado, em sua obra Biblische

Theologie, de dois volumes, public ada em 1836, trata, em sua primeira parte, da "Teologia Biblica do AT" YAqui ele reage fortemente aofato de ter deWette agregado filosofia a teologia biblica. Apresenta tambem uma teologia biblica e historica impregnada de teocracia. Assim como outros que 0precederam, sofreu a pressao do particularismo e do universalismo e fez um esboc;:o da evoluc;:ao historic ahebraismo-judaismo-cristianismo.

Wilhelm Vatke (1806-1882)53 considerava a fase "racionalista" da teologia biblica necessaria, mas ultrapassada. Ele foi 0 primeiro a adotar afilosofia hegeliana da tese (religiao natural), antitese (re li-giao espiritual =religiao hebraica) e sintese (religiao absoluta ou universal =cristianismo), em seu livro Die biblische Theologie. Die

Religion des Alten Testaments (Berlim, 1835). Ele argumentava que 0 metodo de ordenac;:ao dos tflementos do AT nao podia se basear em categorias, como esta na Biblia, devendo ser livremente det ermina-do;54a partir disso formular-se-ia 0 dogma da independencia sobe -rana do AT segundo a perspectiva da historia das religi6es. 55Tres anos apos adivulgac;:aodo livro de Vatke, que posteriormente exerceu forte influencia sobre 1. Welihausen,56 Bruno Bauer (1809-1882)57 publicou uma segunda teologia do AT, sob 0 prisma da historia das religi6es, fundamentada no hegelianismo - ele havia chegado a conclus6es diametralmente opostas asdeseu mestre Vatke.58

Em meados do seculo XIX, foi desencadeada uma fortt:!reac;:ao conservadora contra aperspectiva racionalista efilos6fica da teologia do AT (e biblica), por parte daqueles que contestavam a validade do metodo historico-critico e dos que tentavam aliar uma apreciac;:ao hist6rica moderada ao reconhecimento da revelac;:ao divina. Em Christology of the OT (1829-35),59 E. W. Hengstenberg contesta a aplicac;:ao da metodologia historico-critica

a

Biblia e pouca distinc;:ao faz entre osTestamentos.

52 Biblische Theologie, 2 vols. (Leipzig. 1836). Cf. Kraus, Biblische Theologie, p.60-69.

53 L.Perlitt, Vatke und Wellhausen (Berlim, 1965).

54 W. Vatke, Biblische Theologie. DieReligion desAT(Berlim, 1835), p.4 e s. 5S Kraus, Biblische Theologie. p.93-96.

56 Dentan, Preface, p. 36.

57 B.Bauer. Die ReliRion des Alten Testaments in der geschichtlichen Entwicklung ihrer Priflcipien, 2vols. (Berlim, 1838).

58 0hegelianismo moderado tam bern esta presente em L. Noack, Die Biblische Theologie. Einleitung insAlte und Neue Testament und Darstellung des Lehrge-haltes der biblischen Bucher (Halle, 1853). Ele fez uma estranha combina~ao de ideias da pesquisa hist6rico-critica de deWette e Vatke para 0ATe de F. C.Baur para 0NT.

59 0original em alemao, ChrislOlogie des Alten Testaments (Berlim, 1829-35), foi traduzido pela primeira vezpara 0 ingles em 1854. Constituia-se numa reliquia ate ser reimpresso recentemente por MacDonald Publ. Comp., P.O. Box 6006, MacDill AFB, Florida 33608.

(17)

As teologias do AT de J. C. F. Steudel (1840),60 H. A. C. Haevernick (1848)61 e G. F. Oehler (1873-74),62 public ad as postuma-mente, evidenciam uma apreciac;:ao historic a moderada, que faz justic;:a

a

autoridade e inspirac;:ao do AT. Steudel insistia no metodo

historico-gramatical, porem rejeitava 0 pernicioso historico-critico. Ele conservou a doutrina da origem divina do AT, mas rejeitou a perspectiva limitada da doutrina da "inspirac;:ao verbal". 63"Criticava duramente a subjetividade dos hegelianos"64 e, nao obstante, foi rotulado de "sobrenaturalista racional". Sua concepc;:ao de teologia do AT incluia a orientac;:ao dogmatica Deus-Homem-Salvac;:ao. Hae-vernick adotou 0 seguinte conceito de desenvolvimento da religiao do AT: "religiao primitiva-Iei-profetas" e conservou 0padrao Deus-Homem-Salvac;:ao. Procurou, ao mesmo tempo, fazer distin<;:ao entre as Testamentos e neutralizou os axiomas dogmatico-ortodoxos.

Deve-se a Oehler a contribuic;:ao mais importante e duradoura. Ele foi0primeiro, depois de Gabler, a publicar um volume que abordava em profundidade a teoria e0metodo de interpretac;:ao da teologia do AT sob 0 aspecto teologico e biblico.65 Seu volumoso Theology of the

OT

foi divulgado em frances e ingles.66 Oehler reagiu

a

pressao marcionita iniciada por F. Schleiermacher com a depreciac;:ao do AT e tambem

a

uniformidade absoluta do AT e do NT defendida por Hengstenberg.67 Todavia, ele mesmo nao abria mao da unidade dos Testamentos. Ha unidade na diversidade.68 Ele aceitou a separac;:ao entre a teologia do AT e do NT,69 mas insistia que a primeira so ganhava sentido quando no contexto mais amplo do canon. A teologia do AT e uma "ciencia hist6rica apoiada na exegese historico-gra-matical. que tem por tarefa reproduzir 0 conteudo dos escritos biblicos levando em conta as regras da lingua da epoca em questao, bem como um exame dos escritores sacros e de sua condic;:ao individual".70 A apreciac;:ao mais apropriada da teologia biblica e a "historico-genetica", segundo a qual aexegese historico-gramatical, e nao a historico-critica, deve ser aliada a um "processo organico de

60 J. C. F. Steudel, Vorlesungen uber die Theologie des AT, ed. G. F. Oehler (Beriim, 1840).

61 H. A. C. Haevernick, Vorlesungen uber die Theologie des AT, ed. E. Hahn (Eriangen, 1848).

62 G.F. Oehler, TheologiedesAleen Testaments, 2 vols. (Tuebingen, 1873, 1874). 63 Steudel, Vorlesungen,p.44-51, 64.

64 Dentan, Preface,p.42.

65 G_F.Oehler, Prolegomena zur TheologiedesAlten Testaments (Stuttgart, 1845). 66 Tradu~OeS em ingles por E.D. Smith e S.Taylor (Edinburgh, 1874-75) eG. E.

Day (New York, 1883). 67 Oehler, Theologie, J,p.3e4. 68 P.29-31, 70.

69 P.33. 70 P.66.

(18)

evoluc;:ao"da religiao do AT.71 0 estudo de teologia do AT de Oehler e considerado "0mais nota vel retrato da teologia biblica sob 0prisma da historia da salvac;:ao do seculo XIX". 72 Contudo, encontra-se

"hoje praticamente ultrapassado, em grande parte porque Oehler tentou aplicar 0metodo genetico", 73influenciado por Hegel. 74

Uma parte expressiva da reac;:ao conservadora foi desencadeada na escola da historia da salvac;:ao por teo logos como Gottfried Menken

(1768-1831)

,75

Johann T. Beck

(1804

-

18

7

8

)16

e especial mente J. Ch.

Konrad von Hofmann

(1810-18

77

)

.77

Esta escola do seculo

XIX

tinha por principios

(1)

a historia do povo de Deus "relatada na Palavra", (2)0conceito de inspirac;:ao divina da Biblia e(3) 0

resulta-do (preliminar) da relac;:ao entre Deus e 0 homem personificado em

Jesus Cristo. Von Hofmann descobriu, nas paginas da Biblia, 0

relato continuo de uma historia de salvac;:ao na qual 0 Senhor ativo da

Historia e 0 Deus triuno, cujo intento e redimir a humanidade.

Como Jesus Cristo e 0 tema principal da his tori a da salvac;:ao e

tambem aquele que a prove de sentido,78 0 AT nao pode deixar de

conter enunciac;:6es historico-salvificas. Cabe

a

teologia do AT dar essa explicac;:ao. Cada livro da Biblia possui lugar proprio e l6gico na historia da salvac;:ao. A Biblia nao deve ser considerada meramente uma colec;:ao de textos de prova au urn reposit6rio de doutrinas, mas,

sim, um testemunho do papel de Deus na Historia, que so terminara com sua consumac;:ao escatologica. A influencia da escola da hist6ria da salvac;:ao no desenvolvimento das teologias do AT e do NT tem side expressiva e faz sentir-se ainda hoje, embora de formas completamen-te novas e diversas.79

Imediatamente antes de a teologia do AT ter side eclipsada pela

conceituac;:ao da historia das religi6es - responsavel por seu golpe

fatal - foi publicada a monumental obra em quatro volumes,

71 P.67e68.

72 Kraus, Biblische Theologie, p. 106.

73 Dentan, Preface, p.45e s.

74 Oehler, Prolegomena, p. x.

75 A importancia de sua posi~ao nessa escola foi demonstrada por Kraus em Biblische Theologie, p.240-244.

76 P.244-247.

77 J. Ch. K.von Hofmann, Weissagung und Erfullung im Alten und Neuen

Testa-ment (Niirdlingen, 1841-44), idem, Der Schriftbeweis (Niirdlingen, 1852-56); idem, Biblische HermeneUlik, eds. 1. Hofmeister eVo1ck(Niirdlingen, 1880), trad. ingl., Interpreting theBible (Minneapolis, 1959).

78 WeissagungundErfullung,!, p. 40.

79 No campo da teologia doAT saopatentes asinfluencias deO.Procksch, Theologie des AT (GUtersloh, 1950), p. 17-19,44-47; G.von Rad, OTT, II, 357 ess., entre outros (veja abaixo, Cap. III). No campo da teologia do NT, veja G. E. Ladd, A Theology of the NT (Grand Rapids, Mich., 1974), p. 16-21, onde sao apontados eruditos da atualidade queusam esse metodo.

(19)

magnum opus, de Henrich Ewald.80 Durante uma gerac;:ao inteira a

influencia conservadora de Ewald impediu que 0 escolasticismo

alemao aceitasse a reconstruc;:ao modernista da religiao israelita,

popularizada por Wellhausen.81 Ferdinand Hitzig (1807-1875)82 e

August Dillmann (1823-1894),83 alunos de Ewald, escreveram

teolo-gias do AT publicadas postumamente. Ewald defendia a abordagem

sistematica de sua materia; Hitzig escreveu uma "historia de

concei-tos"; eDillmann uma "historia da revelac;:ao" com enfase na historia

da salvac;:ao.

o

ana de 1878 marcou 0inicio do triunfo do metodo da historia das

religi6es (Religionsgeschichte) sobre a teologia do AT com a

publica-c;:aode Prolegomena to the History of Israel, de Julius Wellhausen

(1844-1918). A partir dai, a teologia do AT (e a biblica) foi

grande-mente influenciada (1) pela datac;:ao mais recente do documento P

(sacerdotal), por parte da critic a do Pentateuco, sugerida por K. H.

Graf e A. Kuenen, e popularizada por Wellhausen,84 e (2) pelo

panorama inteiramente novo da evoluc;:ao da historia da religiao israelita, reconstruido com base na nova datac;:ao de elementos do AT, fixada pela escola de Graf, Kuenen e Wellhausen. Outra caracteristi-ca distinta da escola da historia das religi6es e 0 metodo

historico-genetico do desenvolvimento evolucionario. Esta nova escola

harmo-nizava-se com a tendencia intelectual da epoca, "propagada por

Hegel e Darwin, de que os principios da evoluc;:ao eram a chave

magica que destrancava todos os segredos da Historia". 85Nessa nova era, 0 termo teologia biblica e usado (mal usado) nas publica-c;:6esde August Kayser (1886),86 Hermann Schultz (cinco edic;:6es de 1869 a 1896),87 C. Piepenbring (1886),88 A. B. Davidson (1904)89 e

80 H. Ewald, Die Lehre der Bibel von Gott oder The%gie des Alten und Neuen Bundes (Leipzig, 1871-76). Os volumes I-III foram traduzidos e tern 0 titulo

Old and New Testament Theology (Edinburgh, 1888).

81 SegundoJ. Wellhausen, con forme cita<;ao de A. Bertholet, "H. Ewald", Die Re

-ligion in Geschichte und Gegenwart (Tuebingen, 1901), II,p. 767.

82 F. Hitzig, Vorlesungen uber Biblische Theologie und messianische Welss agun-gen des Alten Testaments, ed. J. J. Kneucher (Karlsruhe, 1880); d. Dentan, Preface, p.49; Kraus, Biblische Theologie, p. 107-110.

83 A. Dillmann, Handbuch der alttestamentlichen Theologie, ed. R. Kittel (Leipzig,

1895); d.Kraus, Biblische Theologie, p. 110-113.

84 R. J. Thompson, Moses and the Law in a Century of Criticism Since Graf (Leiden, 1970), p.53-101.

85 Dentan, Preface, p.S1.

86 A. Kayser, Die Theologie desAlten Testaments in ihrer geschichtlichen Entwic

k-lung dargestellt, ed. E. Reuss (Strassburg, 1886). A ultima edi~ao recebeu novo

titulo: Geschichte der israelitischen Religion (Strassburg, 1903).

87 H.Schultz. A/rrestamenliiche Then/ogie (Braunschweig, 1869). Na 2.a ed..de1878. Schultz adota a teoria de Wellhausen. A4.a ed., de 1889, foi traduzida com 0 titulo de Old Testament Theology (Edinburgh, 1892). AS." ed. alema foieditada

em Giittingen, em 1896.

88 C. Piepenbring, Theologie de J'Ancien Testament (Paris, 1886). Aed. em ingles

foi editada em New York, em 1893.

89 A_B. Davidson, The Theology of the OT, ed. S.D. F. Salmond (Edinburgh, 1904). 23

(20)

Bernhard Stade (1905),90 ao passo que Rudolf Smend (1893) foi mais preciso.91

Por mais de quatro decadas a teologia do AT permaneceu eclipsada pel a Religionsgeschichte. 92A maturidade do historicismo do metodo da historia das religioes dera 0 golpe mortal na unidade do AT, que passou a ser encarado como uma coletanea de elementos de diversas epocas, consistindo apenas nas reflexoes dos israelitas ace rca de religioes pagas diversas. Esta perspectiva exerceu influencia parti-cularmente nefasta sobre a teologia do AT e sobre a compreensao do mesmo sob todos os aspectos. Alem disso, "0 vinculo essencial e intrinseco entre 0 Antigo eo Novo Testamentos reduziu-se, por assim dizer, a uma tenue conexao historic a e a uma relac;:ao de causa, de forma que 0 que se atribuia a causas externas, fugindo completamen -te a uma demonstrac;:ao segura, passou a ser explicado por uma

homogeneidade verdadeira, ja que esta se apoiava na realidade". 93 Foi necessario um "verdadeiro ato de bravura" para romper "a tirania dohistoricismo sobre os estudos do AT"94 e para redescobrir e reavivar essa teologia.

D. 0Reavivamento da Teologia do AT. Varios fatores, sem contar oZeitgeist em transic;:ao, propiciaram 0 reavivamento da teologia do AT (e do NT) nas decadas que se seguiram

a

Primeira Guerra

Mundial. R. C. Dentan aponta tres fatores principais que concorre

-ram para 0 "renascimento da teologia do AT": (1) uma perda generalizada de fe no naturalismo evolutivo; (2) a reac;:ao contra a convicc;:ao de que a verdade historica podia ser obtida atraves da simples "objetividade" cientifica ou que essa mesma objetividade pudesse realmente ser alcanc;:ada; e (3) a tendencia do retorno ao conceito de revelac;:ao da teologia dialetica (neo-ortodoxa).95 Ver ifi-cou-se que 0 historicismo do liberalism096 era totalmente descabido e

uma nova perspectiva fazia-se entao necessaria.

o

primeiro indicio claro do reavivado interesse pela teologia do AT surgiu em 1922 com a publicac;:ao do volume Theologie des Alten Testaments, de E_Konig. Ele, que tinha em alta conta a credibilidade

90 B.Stade, Bib/ische Theologie des Alten Testaments (Tuebingen, 1905).

91 R. Smend, Lehrbuch der alttestamentlichen Religionsgeschichte ( Freiburg-Leipzig, 1893).

92 Ate 1922, com a publica~ao deE. Konig, Theologie des Alten Testaments kritisch

und vergleichend dargesteUt (Stuttgart, 1922), nao houve nenhuma teologia do

AT"que procurasse estudar seriamente 0assunto" (Eichrodt, OTT, I,p. 31). 93 Eichrodt, OTT, I,p.30.

94 Eichrodt, OTT, I.31. 95 Dentan, Preface, p. 61.

96 Veja especialmente C. T. Craig, "Biblical Theology and the Rise of Historicism". JBL, 62 (1943), p. 281-294; M. Kiihler, "Biblical Theology", The New Schaff-Herzog Encyclopedia ofReligious Knowledge (reimpressao, Grand Rapids. Mich.,

1952). II, p. 183 ess.; C. R. North, "OT Theology and the History of Hebrew Religion", Scottish Journal of Theology ,2 (1949). p. 113-126.

(21)

do AT, rejeitou a doutrina evolucionista da religiao do AT de Welihausen e rec1amou 0uso correto do metoda hist6rico-gramatical deinterpretac;:ao. Sua teologia do AT e, contudo, "hibrida", pelo fato de conjugar a hist6ria do desenvolvimento da religiao israelita com um historico de elementos teologicos especificos da fe do AT.97

A decada de

20

e caracterizada por um intenso debate sobre a natureza da teologia do AT_98 Em 1923, W. Staerk99 levantou 0

problema da relac;:ao entre a Religionsgeschichte, a filosofia da religiao e a teologia biblica.

0

importante ensaio de C. SteuernagellOO

surgiu dois anos mais tarde, pleiteando a autonomia deuma teologia do AT exc1usivamente historica, como complemento da historia da religiao de Israel. Em 1926, 0_ EissfeldtlOI entrou na discussao, ao

afirmar que a teologia do AT nao era uma disciplina historica, alem de depender da fe do te610go, sendo, portanto, subjetiva. ao passo que 0 estudo da religiao de Israel era historico e objetivo. Esta dicotomia entre conhecimento e fe, objetividade e subjetividade, entre 0 relativo e 0normativo foi frontalmente atacada num ensaio de W. Eichrodt,102 que conservou-se aferrado

a

historia e considerava insatisfatorias as afirmac;:6es de Eissfeldt. Ressaltou ainda que a heranc;:a deixada por Gabler - uma teologia do AT sob a forma de disciplina historica - estava essencialmente bem fundada e afirmava que nao existia uma historia da religiao de Israel inteiramente livre de pressuposic;:6es. A subjetividade esta presente em toda ciencia, po r-que nao e possivel que 0 processo de selec;:ao e organizac;:ao seja exc1usivamente objetivo.

A "era de ouro" da teologia do AT comec;:ou na decada de 30 e se estende ate a atualidade. E. Sellin (1933) eL. Kohler (1936) editaram trabalhos expressivos sobre teologia do AT - ambos seguem a orientac;:ao Deus-Homem-Salvac;:ao.103 W. Eichrodt (1933-39) inaug u-rou 0metodo dissecativo, baseando-se em um principio unificador, 104

97 Konig,Theologie des AT, p.1.

98 Pesquisas. veja N. W. Porteous, "aT Theology", The OT and Modern Study,

ed. H. H. Rowley (London, 1951),p.316-324; Emil G. Kraeling, The OT Since the Reformation (New York,1955)'p.268-284;Dentan, Preface, p.62-71; epara

detalhes abaixo, Capitulo 2.

99 W. Staerk, "Religionsgeschichte und Religionsphilosophie in ihrer Bedeutung fur diebiblischeTheologie", ZThK, 4(1923), p. 289-300.

100 C. Steuernagel, .,Alttestamentliche Theologie und alttestamentliche Religions -geschichte", Vom Alten Testament. Festschrift fUr K. Marti, ed. K. Budde (Beiheft, ZAW, 41; Giessen,1925), p.266-273.

101 O. Eissfeldt, "Israelitisch-jiidische Religionsgeschichte unci alttcstamentliche

Theologie", ZA W, 44(1926), p.1-12.

102 W. Eichrodt, "Hat die alttestamentliche Theologie nochselbstiindige Bedeutung

innerhalb deralttestamentlichen Wissenschaft?" ZA W, 47(1929),p.83-91. 103 E. Sellin,Theologie desAlten Testaments (Leipzig, 1933);L. Koehler, Theologie

desAT(Tuebingen, 1936),trad. comoOT Theology (Londres, 1957).

104 W. Eichrodt, Theologie des AT, 3vols.(Leipzig, 1933,1935,1939), trad. como

(22)

e W. Vischer (1934) publicou seu primeiro volume de The Witness of

the OT to Christ .105 H. Wheeler Robinson tambem deu sua

importan-te colaborac;:ao.106 Figuram entre as principais contribuic;:oes para a teologia do AT os trabalhos de W. e H. Moeller (1938), P. Heinisch (1940), O. Procksch (1949), O. 1. Baab (1949), G. E. Wright (1952, 1970), Th. C. Vriezen (1949). P. van Imschoot (1954), G_von Rad (1957, 1960),

J.

B.

Payne (1962), A. Deissler (1972), G. Fohrer (1972), W. Zimmerli (1972) e 1. L. McKenzie (1974).'07 Trabalhos com 0titulo de "teologia biblica" foram publicados por M. Burrows

(1946), G. Vos (1948),

J.

Blenkinsopp (1968) e C. R. Lehman

(1971).'08 E. J. Young (1959) e 1. N. Schofield (1964), por sua vez, editaram estudos concisos sobre metodologia do AT, seguindo as linhas conservadora e moderada, respectivamente.'09 B. S. Childs fez um exame indispensavel do "Movimento Teologico Biblico" na America, que, embora decorresse da teologia biblica europeia, resul-tou basicamente da batalha travada entre os fundamentalistas e os modernistas de 1910 ate a decada de 30, nos EUA, devido

a

contro-versia por eles gerada em torno da Biblia. 110

Nenhum dos principais problemas da teologia do AT (e biblica) e objeto de consenso. As questoes basicas tem sido amplamente debatidas por eruditos de diferentes origens e escolas de pensamento. A pesquisa historic a deste capitulo salienta os principais origin adores dessas questoes do atual debate sobre teologia do AT, assunto esse abordado nos capitulos que seseguem (2 a 5).

105 W. Vischer, DasChristuszeugnis desAT(Ziirich, 1934), trad. (Londres, 1949). 106 H. W. Robinson, Inspiration and Revelation in the OT (Oxford, 1946); idem,

Record andRevelation(Londres, 1938), p.303-348.

107 P.Heinisch, TheologiedesAT (Bonn, 1940), trad. Theology '?fthe OT (Colleg e-ville, Minn., 1950); O. Procksch, Theologie des AT (Giitersloh, 1949); O. J. Baab, TheTheology of the OT (Nashville, 1949); G. E. Wright, God WhoActs: Biblical TheologyasRecital (Londres, 1952); idem, The OT and Theology (New York, 1970); Th. C. Vriezen, Hoofdlijnen der Theologie van het Oude Testament (Wageningen, 1954),2." ed. re\'. ingl. All Outline of OT Theology (Newton,

Mass., 1970); P. van Imschoot, Theologie de J'AT (Tournai, 1943), trad. Theology of the OT (New York, 1965); J. B. Payne, The Theology of the Older Testament (Grand Rapids, Mich., 1962); A.Deissler, DieGrundbotschaft des AT (Freiburg i. Br., 1972); G. Fohrer, Theologische Grundstrukturen des AT ( Ber-lim, 1972); W. Zimmerli, Grulldriss der alttestamentlichen Theologie(Stuttgart,

1972); J.L.McKenzie, A Theology oftheOT(New York, 1974).

108 M. Burrows, An Outline ofBiblical Theology (FiladeJfia, 1946); G. Vos, Biblical Theology(Grand Rapids, Mich., 1948); J. Blenkinsopp, A Sketchbook of Biblical Theology (Londres, 1968); C. R. Lehman, Biblical Theology I: OT (Scottdale, Pa., 1971).

109 E.J. Young, TheStudy of OT Theology Today(Londres, 1959); J. N. Schofield, Introducing OT Theology(Filadelfia, 1964).

(23)

2

o

Problema da Metodologia

o

problema fundamental da metodologia, alem de incluir uma serie de questoes basicas, nao e objeto de consenso entre os teologos da Biblia. Atualmente encontram-se em voga cinco metodos para estudo da teologia do AT perfeitamente distintos. Entretanto, nao sao todos mutuamente exclusivos. Embora cada teologo empregue um metodo especifico para estudar a teologia do AT, pode utilizar-se de outr~ como complemento. Assim, torna-se por vezes dificil estabele-cer a relac;:ao entre 0 metodo e 0 teologo_ Procuramos associar os teologos que utilizam uma metodologia diversificada aos metodos que mais caracterizam seus trabalhos ou em cujo desenvolvimento se destacaram.

A_ 0

Metodo D

e

scritivo.

Este metodo, que teve por patronos Gabler, Wrede e Stendahl,l e defendido, na atualidade, por E. J

a-o

discurso de abertura de Johann Philipp Gabler, "Oratio de iusto discrimine theologiae biblicae etdogmaticae, regundisque recte utriusque finibus", na Univer -sidade deAltdorf, em 30 de mar~o de 1787, marcou 0inicio de uma nova fase no estudo dateologia biblica com a afirma~ao deque "a teologia biblica tern carater hist6rico [e genere hislOrico] por apresentar 0que os escritores sacros pensavam

ace rca detemas divinos ... "(em Gab/eri Opuscu/a Academica II,[1831], p.183e s.). Cf. R. Smend, "J. Ph. GablehS Begriindung der biblischen Theologie", EvTh, 22 (1962), p.345 e ss.0ensaio Uber Aufgabe und Methode der sogenannten Neutes-tamentlichen Theologie (Giittingen, 1897), p.8, volta a enfatizar 0"carMer rigor o-samente hist6rico" da teologia do NT (biblica). 0 poderoso e incisivo artigo de Krister Stendahl, "Biblical Theology, Contemporary", em IDB, !, p. 418-432, seguido de seuensaio "Method in the Study of Biblical Theology", em The Bible in Modern Scholarship, editado por J. Philip Hyatt (Nashville, 1965), p. 196-209, apresenta argumentos em favor da rigorosa distin~lio entre "0 que denotava" e "0que denota".

(24)

cob/ G. E. Wright.3 P. Wernberg-M511er4 e P. S. Watson,S entre

outros. Afirma-se que 0 teologo da Biblia deve se deter na descric;:ao

"do que 0 texto denotava", e nao "do que denota", conforme

distinc;:aofeita por Stendahl. 60 progresso da teologia biblica depende

daaplicac;:aorigorosa desta distinc;:ao/ que deve ser entendida como a "cunha"8 que separa, de uma vez por todas, a apreciac;:ao descritiva

da Biblia da normativa empregada pelo teologo sistematico, cuja

func;:ao e traduzir 0seu significado para 0presente. Esta ultima tarefa

- "0 que denota" hoje - nao deve ser considerada parte integrante

do metodo estritamente descritivo ehistorico.

B.S. Childs9 condena 0 metodo descritivo, em virtude das

limita-c;:oesque este impoe. A tarefa descritiva nao pode ser encarada como

uma etapa imparcial que conduz

a

interpretac;:ao teologica genuina.

o

texto, diz Childs, e "um testemunho que transcende a si mesmo

do intento divino de Deus". Precisa ocorrer a "transic;:ao do nivel de

testemunho para 0 da propria realidade"

.'

0

Stendahl admite que a

tarefa descritiva e"capaz de expor a transcendentalidade do

proposi-to e func;:ao dos texproposi-tos biblicos atraves dos seculos ..."" mas nega que

2 E. Jacob afirma, em Theology of the OT (Londres, 1958), p. 31, que a teologia do AT

e

urn "tema rigorosamente hist6rico". Sustentou recentemente, levado por certa cautela, que nenhum metodo pode gozar de primazia sobre outro, porque uma teologia esta sempre "unterwegs" (Grundfragen alttestamentlicher Theologie, p. 17) eha diversos caminhos para se abordar ateologia do AT (p. 16). Ao mesmo tempo prega que cabe

a

teologia do AT apresentar ou exprimir 0 conteudo do pr6prio AT(p. 14).

3 Wright, em God Who Acts, p. 37e s., afirma finalmente que acredita ser a teolo -giabiblica uma "disciplina hist6rica" melhor definida como uma "teologia narra-tiva, na qual 0homem confessa sua fenarrando os acontecimentos que moldaram sua hist6ria e atribuindo-os

a

obra redentora deDeus". Este Wright, que agora se harmoniza mais com Eichrodt do que com von Rad, apega-se

a

concep~ao de que a teologia biblica euma "disciplina descritiva". Ver "Biblical Archaeology Today", deG. E. Wright, emNew Directions inBiblical Archaeology, ed. D. N. Freedman eJ.C. Greenfield (New York, 1969), p. 159.

4 Wernberg-Miiller (ver a Bibliografia), p. 29, defende uma "teologia descritiva, imparcial" .

5 "The Nature and Function of Biblical Theology", Expository Times, 73 (1962),200: "Como disciplina cientifica, a teologia biblica deve ser meramente descritiva ..." Veja a critica de H. Cunliffe-Jones, em "The 'Truth' of the Bible", Expository Times, 73(1962), p.287.

6 !DB. I,p.419.

7 Stendahl adota aqui a posi~ao dos colaboradores da Universidade de Upsala do livro The Root of the Vine: Essays in Biblical Theology, ed. A. Fridrichsen (Londres, 1953), que concordam ter a teologia biblica carater fundamentalmente descritivo e hist6rico, devendo ser distinguida das pondera~Oes normativas pos-teriores.

8 Em Biblical Theology in Crisis, p. 79, Childs objeta

a

dicotomia reafirmada por Stendahl, uma vez que ela insere uma "cunha entre as disciplinas teol6gicas e biblica" que0Movimento deTeologia Biblica procurou remover.

9 "Interpretation in Faith: The Theological Responsibility of an OT Commentary", Interpretation. 18(1964), p. 432-449.

10 P.437,440e444.

(25)

ao teo logo da Biblia cabe explicar essa realidade. Childs, contudo, insiste que "0 que 0texto 'denotava' depende muito de sua relac;:ao com aquele a quem foi dirigido", Ele argumenta que "quando encaradas no contexto do canon, as duas perguntas - 0 que 0 texto denotava e0que denota - apresentam-se inseparavelmente ligadas e estao sujeitas

a

interpretac;:ao da Biblia como Escritura"

.

'2

A. Dulles

apresenta argumento semelhante ao mencionar 0 "embarac;:o criado pela separac;:ao radicaL., entre 0que aBibJia quis dizer equer dizer".

Enquanto Stendahl atribui valor normativo

a

tarefa de decifrar 0que a Biblia quer dizer, Dulles sustenta que 0 valor normativo deve ser atribuido tambem ao que ela quis dizer. Se assim for, a dicotomia de Stendahl achar-se-a debilitada, pois "a possivel adoc;:iio de uma

apreciac;:ao descritiva 'objetiva' ou descompromissada - caracteris ti-ca esta das mais interessantes da posic;:ao tomada por Stendahl - e

eliminada.'3 Argumentos semelhantes foram apresentados por R. A. F. MacKenzie, C. Spicq e

R.

de Vaux.'4

Talvez devamos nos lembrar das palavras de O. Eissfeldt: "Nao

podemos penetrar na natureza da religiao do AT a partir de bases

historicas_"15 De que maneira pode 0me todo descritivo

nao-norma-tivo, com sua limitada enfase na Historia, nos conduzir

a

plenitude

da realidade teologica contida no texto? Por definic;:ao e pressu

posi-c;:ao,0 metodo historico e descritivo e limitado a tal ponto que a totalidade da realidade teol6gica do texto nao vem

a

tona. Sera que a

teologia biblica precisa se restringir ao papel de "primeiro capitulo" da teologia historica? Se aquela tambem possui carater normativo,

considerando que 0que a Biblia denotava e normativo por si so, entao nao seria de se esperar que ela extrapolasse a mera descric;:ao do que

os textos biblicos denotavam? A teologia biblica nao pretende tomar 0 lugar nem competir com a teologia sistematica, uma vez que esta

e

12 Biblical Theology inCrisis, p. 141.

13 "Response to Krister Stendahl's Method in the Study of Biblical Theology",

The Bible in Modern Scholarship, p. 210es.Stendahl, eclaro. contesta apossibi

-lidade deuma "objetividade absoluta" (lDB, I, p. 422; The Bible in Modern Scho-larship, p. 202). Ele esta plenamente certo ao ressaltar que a relatividade da

objetividade humana nao justifica que demos "vazao as nossas tendenci:ls" nem. insistimos emdizer. nos permite executar urn trabalho exclusivamente descritivo. 14 R.A.F. MacKenzie, em "The Concept of Biblical Theology", Theology Today, 4

(1956), p. 131-135, esp. 134: "A objetividade cientifica, lria - no ser.tido deraci

o-nalista -

e

totalmente incapaz de captar c muito menos pesquisar os valores re

ll-giosos das Escrituras. Em primeiro lugar

e

preciso haver a devo<;.1i.o,0reconhec l-mento por Ie da origem e autoridade divinas do livro, para que 0 crente possa

empregar, adequada e proveitosamente, as tecnicas mais fidedignas das ciencias

segundarias, sem ~equer violar sua autonomia caracteristica ou mesmo fugir ao

ideal cient[fico." C. Spicq, citado por Harvey (ver a Bibliografia), p. 18 e s. R. de

Vaux, "Method in the Study of Early Hebrew History". em The Bible in Modern Scholarship, p. 15-17; "Peut-on ecrire une 'theologie de l'AT?" Bible et Onent

(Paris, 1967),p.59-71.

15 "Israelitisch-judische Religionsgeschichte und alttestamentliche Theologie", ZA W. 44 (1926). 1-12;

cr.

acritica deW. Eichrodt. infra, n. 27.

(26)

constituida de sistemas formados segundo categorias proprias, com ou sem ajuda da filosofia. A teologia sistematica precisara ainda aprofundar sua reflexao sobre a aplicac;:ao da teologia eda pregac;:ao

a

diversidade de quest6es contemporaneas com que se defronta todo cristao. Ela sempre tera lugar assegurado no pensamento cristao. Mas, em contraste com a teologia sistematica, sera que a teologia biblica nao precisa extrair seus proprios principios expositivos da Biblia, ao inves de extrai-los de documentos ec1esiasticos ou da filos o-fia escolastica e moderna? Nao seria porventura uma das func;:6es da teologia biblica enfronhar-se na natureza transcendental dos textos biblicos, em seu prop6sito e func;:ao ontol6gicos e teol6giLCls atraves dos seculos, sem definir antecipadamente 0 carater da realidade biblica?

B. 0 Metodo Confessional. Parece natural aargumentac;:ao de que o metodo confessional

e

a unica opc;:ao viavel para se ~hegar a uma soluc;:ao do problema da metodologia. Ele se op6e diametralmente ao metodo descritivo hist6rico, que, para muitos, resulta apenas na historia da religiao de Israel,16 e nao numa teologia do

AT.'7

0 me-todo confessional baseia-se amplamente na distinc;:ao metodol6gica precisa de Eissfeldt entre Religionsgeschichte, que diz-se ser uma disciplina totalmente "imparcial", 18em que crente e descrente podem

16 Th. C. Vriezen, em The Religion of Ancient Israel (FiladeIfia, 1967), p. 7:"A fina-Iidade doque se segue edescrever urn quadro da religiao de Israel tendo em vista nao apenas seu desenvolvimento historico, mas tambem sua essencia ecarater cen-tral" (0 grifo

e

meu). Segundo G. Fohrer, Geschichte der israelitischen Religion (Berlim, 1969), p. 7 e s., "a descri~ao da hist6ria da religiao israelita deve incluir o relato do desenvolvimento da mesma como amera hist6ria de uma mera religiao dentre outras, sem envolver-se no julgamento de valores teol6gicos ou ressaltar pontos devistaapologeticos."

17 Jacob, Theology of/he OT, p. 24.

18 Em Interpretation, 17 (1964). p. 432 e ss., Childs atribui 0termo "critica impar-cial"

a

aprecia~ao exclusivamente descritiva daBiblia conforme 0metodo hist6rico-critico. Este tipo de interpreta~ao que ele defende define previamente a postura

do pesquisador em rela~ao

a

Escritura como de neutralidade para com sua

revela~ao suprema. G. E. Wright (em Trallslating and Understanding the OT, p. 298 ess.) critica 0 emprego do termo "critica imparcial" para caracterizar 0

metodo hist6rico-critico, uma vez que nenhum erudito faz uma descri~iio "impar-cial". Este seu argumento, sem duvida alguma, e valido. 0 metodo hist6rico-critico, entretanto, alega estender-se desde 0principio, por exc1uir 0aspecto divino ederevela~1i.o.SeChilds insinua, com sua enfase, que a exegese s6pode originar-se e permanecer no "ambito da fe" (definida por Jesus Cristo para os cristaos),

en tao efor~oso admitir que 0metodo hist6rico-critico nao inclui nenhuma postura religiosa ou de "fe" (d. G. Ebeling, "The Significance of the Critical Historical Method for Church and Theology in Protestantism", em Word and Faith [Fila-deIfia, 1963], p. 17-61, esp. 47 e 50). Sendo assim, afigura-se entao que 0 metodo empregado para a simples descri~ao e demasiadamente limitado para propiciar uma ampla compreensao teol6gica. Pode-se acrescentar, parenteticamente, que G. von Rad, na 5." edi~ao alema de sua Theologie des AT (Munchen, 1966), I (doravante citado como TAD, menciona uma "scheinbar exakt arbeitenden Geschichtswisenschaft", que, entretanto, e limitada por nao se utilizar de uma hip6tese que considera 0elemento "Deus".

Referências

Documentos relacionados

Fig. Jurassic-Cretaceous geological evolution for the West Gondwana and its relationship with zeolite-cemented sandstone. A) During the Jurassic, quiescence periods without

4 Este processo foi discutido de maneira mais detalhada no subtópico 4.2.2... o desvio estequiométrico de lítio provoca mudanças na intensidade, assim como, um pequeno deslocamento

A democratização do acesso às tecnologias digitais permitiu uma significativa expansão na educação no Brasil, acontecimento decisivo no percurso de uma nação em

Disto decorre que cada entidade sindical minimamente representativa deverá, num futuro próximo, escolher, em primeiro lugar, um dado mix de serviços,sejam de de natureza

Como já foi dito neste trabalho, a Lei de Improbidade Administrativa passa por uma releitura doutrinária e jurisprudencial, visando delimitar de forma precisa os tipos ímprobos,

Este desafio nos exige uma nova postura frente às questões ambientais, significa tomar o meio ambiente como problema pedagógico, como práxis unificadora que favoreça

O relatório encontra-se dividido em 4 secções: a introdução, onde são explicitados os objetivos gerais; o corpo de trabalho, que consiste numa descrição sumária das

Finally,  we  can  conclude  several  findings  from  our  research.  First,  productivity  is  the  most  important  determinant  for  internationalization  that