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Fonetica e Fonologia

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Academic year: 2021

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Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

Lucirene da Silva Carvalho

UESPI 2010

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UAB – UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL UESPI – UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA LICENCIATURA PLENA EM LETRAS ESPANHOL

UESPI 2010

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

(3)

ISBN: 978-85-61946-09-8

1. Língua Portuguesa – Fonética e Fonologia. 2.-Fonética. 3.- Fonologia. I. Título.

(4)

Presidente da República

Luiz Inácio Lula da Silva

Vice-presidente da República

José Alencar Gomes da Silva

Ministro da Educação

Fernando Haddad

Secretário de Educação à Distância

Carlos Eduardo Bielschowsky

Diretor de Educação à Distância CAPES/MEC

Celso José da Costa

Governador do Piauí

Wilson Nunes Martins

Secretária Estadual de Educação e Cultura do Piauí

Maria Pereira da Silva Xavier

Reitor da UESPI – Universidade Estadual do Piauí

Prof. Carlos Alberto Pereira da Silva

Vice-reitor da UESPI

Prof. Nouga Cardoso Batista

Pró-reitor de Ensino de Graduação – PREG

Prof. Manoel Jesus Memória

Coordenadora da UAB-UESPI

Prof. Bárbara Olímpia Ramos de Melo

Coordenador Adjunto da UAB-UESPI

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Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação – PROP

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Coordenador do curso de Licenciatura Plena em Letras Espanhol – EAD

(5)

Profª. Dra. Bárbara Olímpia Ramos de Melo

Coordenador Adjunto

Prof. M.sC. Raimundo Isídio de Sousa

Coordenadora do Curso de Licenciatura Plena em Letras – Espanhol

Profª. Ms.C. Margareth Torres de Alencar Costa

Coordenador de Tutoria

Prof. Esp. Omar Mário Albornoz

Coordenação de Produção de Material Didático

Prof. Esp. Marivaldo de Oliveira Mendes

Autora do Fascículo

Profª. Dra. Lucirene da Silva Carvalho

Revisão

Profª. M.sC. Teresinha de Jesus Ferreira

MATERIAL PARA FINS EDUCACIONAIS DISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS CURSISTAS UAB/UESPI

UAB/UESPI/NEAD

Campus Poeta Torquato Neto (Pirajá), NEAD, Rua João Cabral, 2231, bairro Pirajá, Teresina (PI).

CEP: 64002-150, Telefones: (86) 3213-5471, 3213-7398 (ramal 294). http://ead.uespi.br E-mails: eaduespi@hotmail.com coordenacao.uab@uespi.br

Luiz Paulo de Araújo Freitas

Capa

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURAS

Figura 01 Relação entre linguagem: língua e fala...17

Figura 02 Tela de abertura do programa Wave Surfer 1.5.3...25

Figura 03 Pregas vocais...28

Figura 04 Movimento da glote...28

Figura 05 Órgãos envolvidos no processo de realização dos sons...30

Figura 06 Cavidade oral e cavidade nasal...33

Figura 07 Articuladores ativos e passivos...34

Figura 08 Ponto bilabial...42

Figura 09 Ponto labiodental...42

Figura 10 Ponto dental/alveolar...43

Figura 11 Ponto palato-alveolar...43

Figura 12 Ponto palatal...44

Figura 13 Ponto velar...44

Figura 14 Ponto glotal...44

Figura 15 Ponto de articulação...54

Figura 16 Alfabeto fonético internacional...59

Figura 17 Posicionamento dos lábios...77

Figura 18 Representação esquemática da área vocálica...79

Figura 19 Representação da sílaba na corrente estruturalista...130

Figura 20 Representação da sílaba: o aclive e o ápice...130

Figura 21 Representação da sílaba: o ápice e o declive...130

Figura 22 Representação da sílaba: o ápice...130

QUADROS Quadro 01 Diferenças entre Fonética e Fonologia...20

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articulação...48

Quadro 05 Símbolos Consonantais da Língua Portuguesa...49

Quadro 06 Variações do “r” e dos “rr” ortográficos...50

Quadro 07 Transcrição fonológica e transcrição fonética...63

Quadro 08 Alfabeto fonético do português...66

Quadro 09 Classificação das vogais...78

Quadro 10 Classificação das vogais tônica orais...85

Quadro 11 Vogais pretônicas orais...86

Quadro 12 Vogais postônicas orais mediais...86

Quadro 13 Vogais postônicas orais...87

Quadro 14 Vogais tônicas reduzidas...88

Quadro 15 Vogais postônicas orais mediais...88

Quadro 16 Vogais nasais do Português...90

Quadro 17 Arquifonemas do Português...107

Quadro 18 Estrutura silábica...127

DIAGRAMAS Diagrama 01 Comparação entre sons e fonemas...102

Diagrama 02 Representação da sílaba no modelo autossegmental...131

Diagrama 03 Representação da palavra susto...131

Diagrama 04 Representação silábica no modelo autossegmental...132

Diagrama 05 Representação silábica do tipo CV com ataque e núcleos preenchidos...132

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO...11

UNIDADE 1 1FONÉTICA, FONOLOGIA E APARELHO FONADOR...15

1.1 FONÉTICA E FONOLOGIA: UMA VISÃO SAUSSURIANA...15

1.2 DIFERENÇA ENTRE FONÉTICA E FONOLOGIA...16

1.2.1 Diferenças: fonética x fonológica...19

1.2.2 Importância da fonética e da fonologia...20

1.2.2.1 Domínio da fonética...22

1.2.2.2 Domínio da fonologia...24

1.3 APARELHO FONADOR...25

1.3.1 Constituição do aparelho fonador...25

1.3.2 Funcionamento do aparelho fonador...29

1.4 SÍNTESE DA UNIDADE...32 UNIDADE 2 2 CONSOANTES DO PORTUGUÊS...39 2.1 CONSOANTES DO PORTUGUÊS...39 2.1.1 Lugar de articulação...40 2.1.2 Modo de articulação...44

2.2 VARIAÇÃO DE ALGUNS SONS CONSONANTAIS...48

2.2.1 Variações do “r” e dos “rr” ortográficos...48

2.2.2 Variações do “s” ortográfico...49

2.2.3 Variação do “l” ortográfico em final de sílaba...50

2.3 SINTESE DA UNIDADE ...51

UNIDADE 3 3 TRANSCRIÇÃO FONÉTICA...55

3.1 ALFABETO FONÉTICO INTERNACIONAL...55

3.1 OS DIACRÍTICOS...58

3.2 TRANSCRIÇÃO FONÉTICA: UTILIDADES...59

3.3 TRANSCRIÇÃO FONOLÓGICA...59

3.4 TRANSCRIÇÃO FONÉTICA E FONOLÓGICA...59

3.4.1 Transcrição fonética do português...63

3.5 SÍNTESE DA UNIDADE...66

UNIDADE 4 4 VOGAIS E SEMIVOGAIS DO PORTUGUÊS...74

4.1 INTRODUÇÃO...71

4.2 CLASSIFICAÇÃO DAS VOGAIS DO PORTUGUÊS...71

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4.3.1.3 Antes e depois de vogal tônica...80

4.3.1.4 Antes e depois de vogal átona...80

4.4 VOGAIS ORAIS DO PORTUGUÊS...81

4.4.1 Vogais tônicas orais...81

4.4.2 Vogais pretônicas orais...82

4.4.3 Vogais postônicas orais médias...83

4.4.4 Vogais postônicas orais finais...84

4.4.5 Vogais nasais...86

4.5 DITONGOS...88

4.6 SÍNTESE DA UNIDADE...90

UNIDADE 5 5 FONOLOGIA: FONEMA, ALOFONE, ARQUIFONEMA...97

5.1 INTRODUÇÃO...97

5.2 FONEMA...97

5.2.1 Identificação dos fonemas...99

5.3 ALOFONE...100

5.4 NEUTRALIZAÇÃO E ARQUIFONEMA...102

5.5 SÍNTESE DA UNIDADE...105

UNIDADE 6 6 PROCESSOS DE MUDANÇAS FONOLÓGICAS...111

6.1 INTRODUÇÃO...111 6.2 PROCESSOS FONOLÓGICOS...111 6.2.1 Acréscimos de traços...112 6.2.2 Perda de traço...112 6.2.3 Mudanças de traços...113 6.3 SÍNTESE DA UNIDADE...116 UNIDADE 7 ESTRUTURA SILÁBICA DO PORTUGUÊS...121

7.1 INTRODUÇÃO...121

7.2 DEFINIÇÃO DE SÍLABA...121

7.3 ESTRUTURA DA SÍLABA...122

7.4 CLASSIFICAÇÃO DAS SÍLABAS...123

7.5 ORGANIZAÇÃO INTERNA DA SÍLABA...123

7.6 ESTRUTURA E REPRESENTAÇÃO DA SÍLABA...124

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11 UESPI/NEAD Letras Espanhol

APRESENTAÇÃO

Caros acadêmicos de Letras, apresentamos a você mais uma disciplina: Fonética e Fonologia da Língua portuguesa, que integra a grade curricular do seu curso. Este fascículo faz parte do material de apoio pedagógico desenvolvido pela Universidade Estadual do Piauí - UESPI, do Curso de Licenciatura Plena em Língua Espanhola, na modalidade Educação a Distância. Ele foi organizado e sistematizado em unidades. Damos especial atenção à primeira, segunda e quarta unidades, porque é nela que você verá as diferenças entre Fonética e Fonologia, aparelho fonador, consoantes e vogais do português. Com relação à Fonética, o estudo será dedicado à fonética articulatória aplicada ao português, que compreende a composição e funcionamento do aparelho fonador, características da articulação dos segmentos consonantais e vocálicos, variações dialetais e transcrição fonética. No tocante à Fonologia, você estudará o fonema – os segmentos consonantais e vocálicos. Aprenderá também que os fonemas sofrem variações e podem formar classes, como os arquifonemas. Além disso, fará transcrição fonológica e conhecerá, ainda, os processos de mudanças fonológicas e estrutura silábica.

Com o objetivo de colaborar com a sua metodologia de estudo, sugerem-se alguns passos: observe os objetivos de cada unidade e faça as atividades propostas no final de cada uma delas, isso ajudará você a compreender e a assimilar o assunto melhor.

Para alcançar sucesso nos estudos, empenhe-se, tanto nos trabalhos de grupo, quanto nas reflexões individuais; compartilhe ideias; atente para as referências bibliográficas e, se necessitar, recorra a elas para aprofundar os conteúdos.

Finalmente, leia, reflita, analise criticamente cada ideia aqui apresentada. Suas dúvidas poderão ser colocadas junto ao seu tutor.

Desejamos a você bons estudos.

Profª Drª. Lucirene da Silva Carvalho

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UNIDADE 1

FONÉTICA E FONOLOGIA E APARELHO FONADOR

• Diferenças e características entre fonética e fonologia; • Funcionamento do aparelho fonador;

• Importância do aparelho fonador;

• Importância da disciplina fonética e fonologia para o futuro professor de língua materna.

OBJETIVOS

• Caracterizar fonética e fonologia;

• Compreender as diferenças entre fonética e fonologia; • Entender o funcionamento do aparelho fonador;

• Reconhecer a importância da fonética e da fonologia para o processo ensino-aprendizagem do futuro professor.

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Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

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1 FONÉTICA, FONOLOGIA E APARELHO FONADOR

1.1 FONÉTICA E FONOLOGIA: UMA VISÃO SAUSSURIANA

A preocupação com o estudo da linguagem é antiga, contudo os estudos linguísticos só obtiveram um valor científico entre o final do século XIX para o início do século XX, que se deu com os estudos linguísticos de Ferdinand de Saussure. Através das análises linguísticas de Saussure – o pai da linguística – é que se pôde entender melhor a diferença entre fonética e fonologia.

Segundo Saussure a linguagem humana compreende dois aspectos essenciais: a língua e a fala. Para ele, a língua é um conjunto de código comum produzido socialmente. Por essa razão, o falante não pode nem criá-lo, nem modificá-lo,

cabe-lhe apenas registrar passivamente. Enquanto a fala é um “ato individual de vontade e inteligência” (CLG, 1977, p.22), realizada concretamente através da língua. Noutras palavras, isso quer dizer que a língua funciona como um arquivo de informações adquiridos ao longo da nossa vida em sociedade, que ficam guardados no cérebro, enquanto fala é a realização puramente física e psico-acústica de dados fornecidos pelo cérebro, como demonstra a figura 01.

Para o linguista suíço, a língua e a fala

são interdependentes, elas não se separam, funcionam de forma interligada, visto que “[...] a língua é ao mesmo tempo o instrumento e o produto da fala”, portanto ambas constituem a linguagem humana (MORI, 2003, p. 147). Como você vê, a partir da dicotomia

Figura 01: Relação entre linguagem: língua e fala

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Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

saussuriana, pode-se depreender que a fonética relaciona-se à fala ao passo que a fonologia diz respeito à língua. Neste sentido, pode-se dizer também que os sons da fala são estudados pela fonética e os da língua pela fonologia. Assim, pode-se dizer que o conhecimento de língua(gem) já nasce com o ser humano, não haveria como aprendê-lo só através da observação das coisas. Se a linguagem fosse aprendida como em um jogo de repetição, só seríamos capazes de falar o que ouvíssemos. Do contrário não seríamos capazes de falar o que ouvimos, contudo – de fato – quando falamos uma língua demonstramos saber muito mais do que aquilo que ouvimos.

1.2 DIFERENÇA ENTRE FONÉTICA E FONOLOGIA

Os estudos de fonética são tão antigos quanto os da gramática. Desde a antiguidade, existe o interesse em descrever a função de letras e dos sons, explicando o funcionamento do aparelho fonador e os mecanismos de produção da fala (MASSINI-CAGLIARI, (MASSINI-CAGLIARI, 2003).

Em 1928, é que a diferença entre fonética e fonologia foi consolidada e que se deu a partir de análises de três lingüistas russos: Jakobson, Trubetzkoy e Karcevsky. Eles entenderam que havia necessidade de estabelecer diferenças entre as duas áreas. Desse modo, a fonética passou a se preocupar do estudo dos sons da fala, enquanto que a fonologia se voltou para a análise dos sons da língua. (CALLOU E LEITE, 2001).

Assim, pode-se dizer que a fonética estuda as características dos sons da fala, enquanto a fonologia estuda os sistemas de sons da língua. Ou ainda: a fonologia concentra-se nos sons capazes de distinguir significados como observado, por

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exemplo, em [g]ato / [p]ato, o que diferencia uma palavra da outra é a troca que ocorre entre os fonemas /g/ e /p/.

Noutra perspectiva, a Fonética é a ciência que descreve os sons, o modo como eles são articulados. Já a Fonologia, é uma ciência explicativa, interpretativa. Estuda o funcionamento do som em uma dada língua, ou melhor, como os sons são utilizados no sistema de pronúncia de uma língua.

As unidades básicas da Fonética são os fones, que são entendidos como o menor segmento discreto perceptível de som em uma corrente da fala. Na transcrição, são representados entre colchetes [b], [p]. Ao passo que as unidades básicas da Fonologia são os fonemas, denominadas as unidades mínimas do sistema de sons de uma língua, representados entre barras inclinadas /b/, /p/.

Apesar de a Fonética e a Fonologia serem ciências distintas, há uma relação de interdependência entre elas, visto que o estudo fonológico de uma dada língua precisa considerar os aspectos fonéticos. Do mesmo modo, ao descrever a fonética de uma língua, o estudioso não pode desconsiderar aspectos do sistema fonológico.

No quadro 01, a seguir, será apresentado um resumo das diferenças entre fonética e fonologia.

Ressalte-se a importância de se mencionar, aqui, os traços distintivos. Em Fonologia, traços distintivos ou funcionais referem-se a unidades mínimas contrastivas, que são aqueles que referem-servem para distinguir entre si os elementos lexicais. Nesta perspectiva, o fonema pode ser realizado por vários traços de sons. Na concepção de Callou e Leite (2001), a presença ou ausência de certos traços opõe o fonema a todos os demais da língua. Eles constituem as unidades mínimas e indivisíveis.

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Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

Esses traços articulatórios ou acústicos servem para caracterizar um fonema em face de outro que tem com ele traços comuns. (CALLOU; LEITE, 2001). Segundo essas mesmas autoras, “é a partir desses traços que se organizam os sistemas fonológicos das línguas” (p. 38). Neste caso, uma diferença mínima entre duas unidades da língua constitui um traço distintivo, que no entendimento de Callou e Leite (2001, p.38) se estabelece quando “mediante um ou outro traço distintivo uma unidade linguística opõe-se a outros elementos”. Por exemplo, a consoante [b] em português funciona como sonora – e não surda – em relação ao [p], e como não nasal em relação ao [m]. As características comuns aos três segmentos fônicos é o traço articulação labial, os três são articulados nos lábios, e o que os diferencia é que [b] e [p] são orais, em oposição a [m], que é nasal.

Quadro 01 – Diferenças entre Fonética e Fonologia

Tem como tarefa investigar os sons da fala, do ponto de vista fisiológico, físico e psico-acústico.

Descreve os órgãos que intervêm na produção dos sons (produção).

Mostra o caminho e os órgãos pelos quais o som passa até a sua

exteriorização (processo de realização). Investiga a propagação do som no espaço falante-ouvinte (propagação).

As unidades básicas são os fones (menor segmento discreto perceptível de som na cadeia da fala), devem vir sempre

representados entre colchetes [p], [b].

Distingue significações por meio de diferenças de sons.

Descreve as combinações possíveis dos sons.

Inventaria os sons que têm funcionalidade, isto é, o sistema fonológico.

Explica e interpreta o funcionamento do som em uma dada língua.

As unidades básicas são os fonemas (unidades mínimas do sistema de sons de uma língua), devem vir sempre representados entre barras inclinadas /p/, /b/.

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1.2.1 Diferenças: fonética x fonológica

Diz-se que há diferença fonética quando duas unidades mínimas distintas, colocadas no mesmo ponto do contexto, não produzem mudança de significado, isto é, “a diferença por elas provocada se restringe às propriedades físicas de cada unidade”, como assevera Paulino (1987).

Um exemplo claro disso é verificado, quando comparamos os enunciados /mi ‘niânu/ e /mE‘niânu/. As duas unidades em questão são /i/ e /E/.

Podemos observar que a permuta de /i/ por /E/, nesse contexto, não produz nova significação, embora fisicamente sejam distintas. Pode-se dizer, portanto, que entre esses dois enunciados há diferença fonética.

De outro modo, diz-se que há diferença fonológica entre dois enunciados, “quando duas unidades mínimas distintas, situadas no mesmo ponto do contexto, produzirem significações diferentes”. (PAULINO, 1987, p. 19).

Para exemplificar essa diferença, tomemos o exemplo de /‘bala/ e /‘mala/. As duas unidades mínimas distintas são /b/ e /m/ que estão no mesmo contexto: início de palavra, sílaba tônica, seguido por – ala. Observemos que, partindo-se do contexto /‘_ala/ se colocarmos /b/, teremos uma forma linguística com uma significação determinada, ou seja, bala = “projétil”; por outro lado, se trocarmos por /m/ teremos outra significação, que é a palavra mala = “espécie de caixa para transporte”. Como resultado disso, entre os enunciados / ‘bala/ e / ‘mala/ há uma diferença fonológica. A propósito, a título de esclarecimento, o diacrítico (‘ ) serve para indicar a sílaba tônica, e deve ser usado sempre antes da sílaba tônica, e não em cima da sílaba, com é feita com a transcrição

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Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

ortográfica. Por exemplo, observe a diferença de uso nas palavras para /‘pa\a / e Pará /pa ‘\a/.

Veja que o que as diferencia é o acento tônico, na primeira palavra o acento recai na primeira sílaba, já na última, ele recai na segunda.

1.2.2 Importância da fonética e da fonologia

A pergunta que você fará, caro aluno, é: por que devo estudar fonética e fonologia? A resposta é simples, o professor de língua quer de língua materna ou segunda língua precisa conhecer a língua que ensina e quando se trata de segunda língua, a exigência é ainda maior, pois como ensinar a fonética e a fonologia de outra língua, se não sabe a da sua própria. Ao estudar fonética e fonologia, você compreenderá melhor o funcionamento sonoro das línguas.

Mori (2003) aponta quatro aspectos importantes a respeito da aplicação da teoria fonológica. Ei-las:

• As teorias fonológicas são aplicadas na criação de ortografias de línguas ágrafas, isto é, línguas sem escrita.

• A fonologia auxilia no conhecimento do sistema fonológico da língua materna. Através dela, podemos estabelecer a relação entre os fonemas e os símbolos gráficos. É importante o professor conhecer bem o sistema fonológico para explicar os problemas de ortografia. Na língua portuguesa, por exemplo, não há correspondência entre o fonema /z/ e a representação gráfica. Ele pode ser representado por ‘z’ como zebra ‘s’ como em casa e por ‘x’ como em exercício.

• Ela pode também ajudar na aprendizagem de uma língua estrangeira. Por essa razão, o professor precisa conhecer bem o

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sistema fonológico tanto da língua materna, quanto da língua estrangeira. Esse conhecimento irá auxiliá-lo a fazer o aluno superar a tendência de transpor o sistema fonológico da língua materna para a língua que está aprendendo. Por exemplo, um falante espanhol que conhece superficialmente o português, não distingue o /E/ de pé e o /e/ de você, uma vez que na língua dele o “e” é representado apenas pelo fonema /e/, ou seja, tem apenas este fonema.

• A teoria fonológica é usada por especialistas em patologias da linguagem para entender as desordens fônicas, tais como gagueira, troca de sons, na fala de pessoas com distúrbios da linguagem.

Massini-Cagliari e Cagliari destacam que a Fonética serve de suporte para os estudos de fonologia e de outras áreas da linguística. Neste sentido, enfatizam que:

tem contribuído enormemente para o desenvolvimento de tecnologias que se utilizam dos elementos sonoros da fala, como a engenharia de telecomunicações, sobretudo a telefonia, as ciências da computação, com especial referência à produção de programas de produção e de reconhecimento da fala. (MASSINI-CAGLIARI E (MASSINI-CAGLIARI, 2003, P. 107)

Como observamos a Fonética e a Fonologia têm contribuído muito não só para a ciência, mas também para a área tecnológica, surgindo no panorama científico-tecnológico outras contribuições, que não se restringem ao estudo dos sons e fonemas, servindo apenas como critério a sua classificação e caracterização. Hoje, por exemplo, através da fonética forense pode-se identificar o interlocutor, através da captura de áudio, sendo possível saber se aquela voz é de quem se diz ser ou não.

Em síntese, podemos afirmar que tanto a Fonética quanto a Fonologia são duas áreas da linguística que têm o mesmo objeto de estudo, o som, porém com enfoques e abordagens diferentes.

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Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

Em última análise, qualquer aluno de Letras, precisa conhecer as duas áreas, visto que vai lidar com a língua e o seu funcionamento.

1.2.2.1 Domínio da fonética

Em outras palavras, a Fonética é o estudo sistemático dos sons da fala, ou seja, trabalha com os sons propriamente ditos, levando em consideração a maneira como são produzidos, percebidos e quais aspectos físicos estão envolvidos na sua produção.

A Fonética classifica-se basicamente em três domínios: 1. Fonética articulatória - estuda os sons do ponto de vista fisiológico. Assim, ao descrevermos a realização de um som, por exemplo [p], podemos afirmar que durante a sua articulação não houve vibração das cordas vocais, por isso ele é não-vozeado, e o fluxo de ar seguiu o caminho do trato vocal, o que o caracteriza como som oral, havendo obstrução pelos dois lábios, por essa razão é classificado como oclusivo e bilabial. Esse é o papel da fonética articulatória: o de descrever e classificar os sons.

2. Fonética acústica - leva em conta as propriedades físicas do som, como os sons da fala chegam ao ouvido. Quando realizamos qualquer som, a sua propagação se dá através de ondas sonoras até chegar ao ouvido do interlocutor. A análise desse som e sua propagação é realizada com o auxílio de programas computacionais específicos, tais como PRAAT e WAVE SURFER.

Estes programas permitem avaliar a altura e intensidade da voz humana.

3. Fonética auditiva - preocupa-se em estudar a percepção do aparelho auditivo, ou seja, como o ouvido capta o som, visto que, muitas vezes, nem sempre percebemos o mesmo som de forma semelhante. Somente uma análise mais apurada permitirá

identificá-P r o g r a m a s Computacionais a d q u i r i d o s g r a t u i t a m e n t e através dos sites w w w. p r a a t . o r g para o programa PRAAT; www.speech.kth.se/ wavesurfer, para Wavesurfer.

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lo. Este tipo de estudo cabe à Fonética Auditiva, campo de pesquisa ainda muito pouco explorado.

Estes três tipos de estudos são pouco implementados concomitantemente. Isso se deve à falta de especialização, de pessoas qualificadas para atuarem na área, observada, sobretudo, nos estudos acústicos e auditivos. Por essa razão, os estudos na área articulatória são os mais adotados no meio acadêmico, uma vez que é a área da fonética mais fácil de ser detectada e verificada, por dizer respeito à produção dos sons. No entanto, para empreender um estudo mais detalhado da produção de alguns sons, é necessário recorrer a estudos acústicos. No passado, tais estudos necessitavam de aparelhos sofisticados, e, muitas vezes, de difícil acesso. Atualmente, com um computador equipado com programas específicos que dispõem de softwares para realizar análises acústicas, como as realizadas pelo PRAAT, por exemplo, podem-se obter excelentes resultados. Uma demonstração desse tipo de programa pode ser observada na figura abaixo.

Figura 02: Tela de abertura do programa Wave Surfer 1.5.3.

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Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

Por se tratar de um curso de graduação e considerando, também, as dificuldades em encontrar especialistas na área, a disciplina Fonética e Fonologia, concentrar-se-á na parte articulatória dos sons, ou melhor, na fonética articulatória. Esta parte da fonética, como já mencionado, volta-se para a produção dos sons, levando em conta seu modo de articulação, seu ponto, o caráter vozeado ou não e ainda a configuração nasal ou oral. Para isso, iniciaremos com a apresentação da realização dos sons. Antes, porém, é necessário destacar o domínio de estudo da Fonologia.

1.2.2.2 Domínio da fonologia

Há basicamente duas linhas de estudo da Fonologia, uma denominada segmental, que compreende o estudo das vogais e consoantes; e a supra-segmental, que se concentra em estudar o acento, o ritmo e a entoação. No nível segmental, estuda-se a forma como os sons se organizam para formar unidades linguísticas maiores (sílabas, morfemas – unidades mínimas das palavras, como radical, prefixo, sufixo, palavras e sentenças. Além disso, estuda as variações que os fonemas podem apresentar. Já o nível supra-segmental ou prosódico é aquele que não se realiza como segmento específico na cadeia de sons, ocorrendo vários segmentos ao longo da cadeia. Isso significa dizer que em qualquer enunciado, além dos fonemas segmentais, temos outras unidades. Ninguém fala sem imprimir uma modulação de maior ou menor força em certas unidades enunciadas. Há uma acentuação, entonação e juntura. Portanto, essas diferentes variações são ou podem ser os fonemas supra-segmentais. Destacam-se três fenômenos prosódicos:

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a) Quantidade ou duração – É o tempo de pronúncia de um segmento, que pode ser longo ou breve. Registram-se os segmentos longos através do sinal diacrítico [:] colocado logo após o som alongado. Assim, pode-se registrar a maior duração da vogal [o], por exemplo, na palavra gol, como pronunciada pelos locutores de futebol, da seguinte forma: [go:w].

b) Intensidade – resulta da maior ou menor força expiratória, ao longo da cadeia da fala, determinando segmentos tônicos e átonos. Costuma-se indicar a sílaba tônica por um apóstrofo anterior a ela: [‘sapU], [ka ‘f]

c) Altura – resulta da frequência de vibrações das cordas vocais em uma dada unidade de tempo, determinando diferentes tons e entonações.

1.3 APARELHO FONADOR

Falar é um ato tão natural para o ser humano como o uso de qualquer um dos cinco sentidos (tato, paladar, audição, visão, olfato). Essa capacidade o particulariza entre os animais. A fala é um sistema simbólico diferente de outros sistemas usados também na comunicação, como os gestos, a linguagem das abelhas. Essa diferença se dá em virtude de o sistema da fala poder ser segmentado em unidades menores. Por exemplo, a palavra “bola” contém quatro fonemas [b], [o],[ l],[ a]. A partir de agora, estudaremos a composição e o funcionamento do aparelho fonador, que produz essas unidades sonoras.

1.3.1 Constituição do aparelho fonador

A primeira pergunta que pode vir a sua cabeça é: como se realiza o som? Para responder a essa pergunta, temos que entender o caminho que o fluxo de ar segue na respiração. É

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Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

importante lembrarmos que os sons não se realizam no momento de “inspiração”, mas na “expiração”. O oxigênio, que é vital ao ser humano, chega até os pulmões pela traqueia. Em seu caminho de volta, ainda ar, ele sofre a primeira deformação ao chegar à laringe. É na laringe que definimos dois tipos de sons.

O ar expelido pelos pulmões chega à laringe e atravessa a glote, que fica na altura do chamado pomo-de-adão ou gogó. O ar, então, chega à abertura entre as duas pregas musculares das paredes superiores da laringe, conhecidas pelo nome de cordas vocais (ou pregas vocais). O fluxo de ar pode encontrá-las fechadas ou abertas, em virtude de estarem aproximadas ou afastadas. Caso estejam fechadas, o ar força sua passagem, fazendo-as vibrar e produzir os sons chamados de vozeados. No segundo caso, quando relaxadas, o ar escapa, com pouca vibração das cordas vocais, produzindo sons chamados de não-vozeados, como ilustra a figura 03.

Figura 03: Pregas vocais.

Figura 04: Movimento da glote. Fonte: http://www.studiomel.com/17f.html

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As pregas vocais estão situadas no interior da laringe e se constituem em um tecido esticado com duas pregas. O expulsar do ar por elas as faz vibrarem produzindo o som pelo qual nos comunicamos. As pregas são fibras elásticas que se distendem ou se relaxam pela ação dos músculos da laringe com isso modulando e modificando o som e permitindo todos os sons que produzimos enquanto falamos ou cantamos.

Todo o ar inspirado e expirado passa pela laringe e as pregas vocais, estando relaxadas, não produzem qualquer som, pois o ar passa entre elas sem vibrar. Quando falamos ou cantamos, o cérebro envia mensagens através dos nervos até os músculos que controlam as cordas vocais que fazem a aproximação das cordas de modo que fique apenas um espaço estreito entre elas. Quando o diafragma e os músculos do tórax empurram o ar para fora dos pulmões, isso produz a vibração das cordas vocais e consequentemente o som, como demonstra a figura 03, na página anterior.

De acordo com Cristófaro-Silva (2002), os órgãos usados na produção da fala não têm apenas função de produzir sons. Na verdade, a função primária deles é mastigar, sentir o paladar, engolir, respirar ou cheirar.

A autora divide os órgãos do corpo humano que compõem o aparelho fonador em três grupos: sistema respiratório, fonatório e articulatório. O sistema respiratório, que se situa abaixo da glote, é constituído pelos pulmões, músculos pulmonares, traqueia. Os músculos pulmonares produzem a pressão para os pulmões liberarem a corrente de ar, que passa pelos brônquios e traqueia. Sem a corrente de ar os sons não poderiam existir.

O sistema fonatório é composto pela laringe, que é uma câmara oca onde a voz é produzida. Nela estão as cordas vocais, que determinam a sonoridade dos sons (surdos ou sonoros).

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Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

O sistema articulatório é formado pela faringe, cavidade bucal, cavidade nasal (nariz), palato mole, úvula, (conhecida como campainha), dentes, língua, lábios e palato duro (céu da boca). A função da cavidade nasal e bucal e o da faringe é a de ampliar o som. Palato mole, língua, palato duro, dentes e lábios têm a função de articular o som. Observe a constituição do aparelho fonador na figura 05.

Outros autores, contudo, ampliam a constituição do aparelho fonador. Dentre esses, destaca-se a opinião de Oliveira e Brenner (1988), ao informar que a constituição do aparelho fonador é feita de partes de órgãos do aparelho digestivo, do aparelho respiratório, do aparelho circulatório e do sistema nervoso.

De modo sucinto, podemos dizer que o aparelho fonador pode ser definido como um mecanismo de produção da fala, sendo a sua formação feita por diferentes partes, algumas das quais pertencem ao aparelho digestivo, outras ao aparelho respiratório. A boca e a faringe, órgãos do aparelho digestivo, desempenham papel essencial na formação das vogais e consoantes. As dimensões dessas cavidades podem ser modificadas pela ação dos músculos da língua, do palato mole e da faringe.

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O aparelho respiratório participa integralmente da produção do som da fala.

Os pulmões produzem a corrente de ar comprimido utilizado para a geração do som.

A laringe, que se destina originariamente à passagem de ar; e a glote cuja função original é, de fato, a prevenção da queda de corpos estranhos no interior do aparelho respiratório, também participa ativamente da produção da fala. Como vemos, não há uma predisposição fisiológica para a fala.

O quadro 02 apresenta o resumo dos três sistemas que compõem o parelho fonador.

1.3.2 Funcionamento do aparelho fonador

Quando queremos falar alguma coisa a alguém, entra em funcionamento o sistema nervoso. Esse sistema emite estímulos para os músculos pulmonares, produzindo, assim, pressão para que os pulmões liberem o ar que passa pelos brônquios para penetrar na traquéia e chegar à laringe. Nela, o ar encontra a primeira barreira a sua passagem, chegando à glote. Ela fica na

Quadro 02 Resumo dos órgãos e funções do aparelho fonador

Pulmões, músculos pulmonares, traqueia. Laringe (cordas vocais, glote).

Faringe, cavidade bucal, cavidade nasal.

Palato mole, língua, palato duro, dentes e lábios.

Produção de pressão no ar que sai dos pulmões (sem a corrente do ar não existiriam os sons.

Determinação da sonoridade de sons (surdos ou sonoros).

Ampliação do som.

Articulação dos sons. ÓRGÃOS FUNÇÕES

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Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

altura do chamado pomo-de-adão ou gogó. A glote é uma abertura entre duas pregas musculares das paredes superiores da laringe, denominadas cordas vocais. O nome corda é impróprio. Trata-se, na realidade de lábios ou dobras, simetricamente situados à direita e à esquerda da linha mediana. Esses lábios são dois músculos gêmeos elásticos, formados pela capa muscular que reveste interiormente as cartilagens da laringe. Quando o ar sai dos pulmões, elas podem permitir a passagem livre, se estiverem abertas, e, desse modo, não vibrarão. Se, ao contrário, oferecem resistência, entrarão em vibração. No primeiro caso, o ar força a passagem fazendo as cordas vocais vibrarem e produzirem sons sonoros ou vozeados. No segundo caso, com as cordas vocais separadas, o ar passa sem provocar vibração, dando origem aos sons surdos ou desvozeados. Esse funcionamento pode ser observado na figura 05, ilustrada na página anterior.Para compreender melhor esse fenômeno, você pode colocar os dedos no pomo-de-adão ou gogó e dizer [b] e [p], sem emitir vogais, somente repetindo esses sons. Repita cada um várias vezes. Note que, ao dizer [b], as cordas vocais vibram, quer dizer, o som é sonoro, enquanto ao dizer [p], elas não vibram, o som produzido é surdo.

Ao sair da laringe, o ar entra na faringe, onde se depara com uma encruzilhada, que lhe oferece duas vias de acesso: a entrada para a cavidade bucal e a cavidade nasal. Entre essas cavidades, fica o palato mole. Se a úvula estiver abaixada, o ar penetrará na cavidade nasal, então teremos o som nasal; se a úvula estiver levantada, impedirá a passagem pela cavidade nasal, obrigando o ar a passar pela boca, daí teremos o som oral. Você poderá perceber essa diferença ao dizer as palavras lá e lã (repita cada uma várias vezes). Ao pronunciar a primeira palavra, o ar sai pela boca; e ao pronunciar a segunda, o ar sai pelo nariz. Portanto,

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em lá temos um som oral, enquanto em lã temos som nasal. Na figura 06, a seguir, podemos verificar onde se realizam os sons orais e nasais.

Observemos que o ar que está na boca tem a função de caixa de ressonância. Nela, através dos dentes, língua e lábios podem ser produzidos variados sons. Para essa produção, usa-se o palato mole e os alvéolos, que é a parte alta que fica atrás dos dentes superiores, através dos quais se chega ao palatoduro. A língua é o principal órgão da articulação do som. É ela que interfere na formação dos sons das vogais e das consoantes. No trato vocal, temos o conjunto de articuladores. Tais articuladores, como observados na figura 06, podem ser classificados como ativos e passivos.

Articuladores ativos são denominados aqueles articuladores que na realização do som se movimentam. São eles: maxilar inferior, com os dentes, língua, lábios, palato mole e úvula. Ao contrário, são denominados articuladores passivos os que não se movimentam, tais como maxilar superior com os dentes, alvéolos e palato duro, conforme demonstra a figura 07.

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Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

De acordo com Cristófaro-Silva (2002, p. 31), a relação entre articuladores ativos e passivos se dá a partir “da posição do articulador ativo em relação ao articulador passivo (podendo ou não haver contato entre eles)”, podemos determinar o lugar de articulação dos segmentos consonantais.

Em síntese, o ser humano não possui um órgão específico para a fonação. Ele conta com vários órgãos: parte do aparelho digestivo, respiratório, circulatório e até do sistema nervoso central, a fim de elaborar o processo de fonação. Neste aspecto, podemos dizer, ainda que, de acordo com os estudos de Rosetti (1974, p. 43) “a voz humana é provocada pelos influxos do nervo recorrente transmitidos à laringe, sendo que a célula nervosa transforma a energia química produzida pela nutrição em energia elétrica”.

1.4 SÍNTESE DA UNIDADE

O aparelho fonador é composto por três sistemas: respiratório, fonatório e articulatório. O sistema respiratório é constituído pelos pulmões, músculos pulmonares e traqueia. Os

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músculos pulmonares produzem a pressão para os pulmões liberarem a corrente de ar. Ela passa pelos brônquios e traqueia (sem a corrente do ar, os sons não existiriam).

O sistema fonatório é composto pela laringe, que é uma câmara oca, onde a voz é produzida. Nela estão as cordas vocais que determinam a sonoridade dos sons. Se elas estiverem próximas, o ar força a passagem fazendo-as vibrar e produzir o som sonoro. Se elas estiverem separadas, o ar passa sem vibrações, dando origem aos sons surdos.

O sistema articulatório é formado pela faringe, trato vocal (cavidade bucal), cavidade nasal, palato mole, dentes, língua, lábios e palato duro. Na faringe, o ar se depara com uma encruzilhada, que lhe oferece duas vias de acesso: a entrada para a cavidade bucal e a cavidade nasal. Entre essas cavidades, fica o palato mole. Se a úvula estiver abaixada, o ar penetrará no nariz e teremos o som nasal. Se ela estiver levantada, impedirá a passagem pela cavidade nasal, obrigando o ar a passar pela boca e teremos o som oral.

FÓRUM DE DISCUSSÃO

1) Mostrar que determinado som da LP não tem funcionalidade é uma tarefa da Fonética ou da Fonologia? Dê exemplos.

ATIVIDADE I

1) Reconheça as atividades de pesquisa a seguir discriminadas como sendo da competência da Fonética ou da Fonologia:

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Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

ÓRGÃOS FUNÇÕES Sistema respiratório Laringe Cordas vocais Faringe Cavidade bucal Cavidade nasal

Dentes, língua, lábios, alvéolos, palato duro.

a) Parte da linguística que trata dos sons da fala, ou seja, em relação às funções que eles exercem numa dada língua ( ). b) É adotada para distinguir significações por meio de diferenças de sons ( ). c) Tem como tarefa a investigação dos sons da fala, de um ponto de vista puramente fisiológico, ou mais precisamente psico-acústico ( ). d) Preocupa-se com a produção e processo de realização, com a propagação e a percepção do som da fala ( ). e) Descreve os órgãos que intervêm na produção dos sons ( ). f) Descreve as combinações possíveis de sons ( ).

2) Preencha o quadro apontando as funções dos órgãos do aparelho fonador

ATIVIDADE II

1) Relacione as colunas: (1) Fonética; (2) Fonologia a) ( ) Estuda o som da fala.

b) ( ) Estuda o som da língua.

c) ( ) Concentra-se no estudo de sons responsáveis pela distinção de significados.

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d) ( ) Analisa como o som é produzido pelo aparelho fonador. e) ( ) O fone é representado entre colchetes [f].

f) ( ) O fonema é representado entre barras /f/.

2) Faça a diferença entre fonética e fonologia. Apresente exemplos.

ATIVIDADE III

1) Estabeleça a diferença entre fonética acústica e fonética articulatória.

2) Após pesquisa em textos que tratem sobre o aparelho fonador, utilize o código abaixo para determinar as respostas corretas:

2.1 ( ) A laringe faz parte do aparelho respiratório.

2.2 ( ) Nas cavidades supraglotais há somente órgãos do aparelho digestivo.

2.3( ) As aritenoides são cartilagens pequenas que se situam na laringe.

2.4 ( ) As cordas vocais são músculos cobertos por uma membrana e que se movem no sentido horizontal e vertical. 2.5 ( ) As cavidades supraglotais, que são caixas de ressonância, compreendem a faringe, as fossas nasais, a cavidade bucal e a projeção dos lábios para a frente;

a) F, V, V, V, F b) V, F, F, F, V c) V, F, F, V, V d) V, F, V, V, V

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Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

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UNIDADE 2

CONSOANTES DO PORTUGUÊS

• Classificação dos sons consonantais da língua portuguesa quanto ao ponto e ao modo de articulação;

• Estabelecimento da diferença entre ponto e modo de articulação; • Identificação de fones consonantais.

OBJETIVOS

• Classificar os sons consonantais da língua portuguesa quanto ao ponto e modo de articulação;

• Conhecer a diferença entre ponto e modo de articulação; • Reconhecer os símbolos de fones consonantais.

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Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

123456789012345678901234567890121 123456789012345678901234567890121 123456789012345678901234567890121 123456789012345678901234567890121 123456789012345678901234567890121 123456789012345678901234567890121 123456789012345678901234567890121

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2 CONSOANTES DO PORTUGUÊS

O fluxo do ar é modificado de diferentes maneiras. E segundo Callou e Leite (2001, p. 23) “os diferentes modos por que o fluxo de ar é modificado permitem o estabelecimento de duas grandes classes de sons”. É ele, portanto, que permite o estabelecimento entre as duas grandes classes de sons: as vogais e as consoantes. Acrescenta-se a estas, outra classe de sons, as semivogais, também denominada como a dos glides. Neste aspecto, uma primeira pergunta se poderia fazer: o que diferencia as três classes? Nas vogais a produção de sons se dá sem bloqueio à passagem de ar na cavidade do trato vocal. Nas consoantes, a produção de sons se dá com bloqueio total ou parcial à passagem do ar no trato vocal. Nas semivogais ou glides sons fracos de [i] e [u] que formam sílabas com uma vogal ficam a meio caminho entre vogais e consoantes.

Ainda, segundo Cristófaro-Silva (2002), as semivogais são analisadas somente no nível fonológico.

2.1 CONSOANTES DO PORTUGUÊS

Do ponto de vista fonético, as consoantes são produzidas por um fechamento ou estreitamento do aparelho fonador, de modo que a passagem do ar seja total ou parcialmente bloqueada.

Ao caracterizar um som consonantal, é relevante considerar se há ou não vibração das cordas vocais (sons sonoros ou surdos), se o som é nasal ou oral e em qual lugar e modo se deu a articulação (CALLOU; LEITE, 2001). Nesta aula, examinaremos o lugar e o ponto de articulação. Iniciaremos pelo ponto de articulação.

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Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

2.1.1 Lugar de articulação

Lugar de articulação é o local em que os dois articuladores entram em contato. Um articulador é qualquer parte do aparelho fonador que participa da produção do som. Ele pode ser ativo (dotado de movimento) ou passivo (sem movimento) (CALLOU; LEITE, 2001).

Quanto ao ponto de articulação, o português apresenta os seguintes sons:

Bilabial - a passagem do ar é obstruído pelos dois lábios. O som é produzido pela junção dos lábios. Os sons bilabiais são [p, b, m]. Podemos afirmar também que são sons produzidos com um estreitamento ou fechamento produzido pelo contato dos lábios. Exemplos: [p]ata, [b]ola, [m]oca.

Labiodental - há sons que são produzidos pela obstrução

Figura 08: Ponto bilabial

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parcial do ar. Desta forma, o som é produzido pela aproximação do lábio inferior e a arcada dentária superior. São labiodentais: [f,v]. Exemplos: [f]aca, [v]aca .

Dental /alveolar - som produzido com a ponta da língua entre os dentes superiores e inferiores, ou com a língua contra a parte posterior dos dentes incisivos superiores, ou com os alvéolos. São eles: [t, d, s, z, l, n, r, {, }]. Exemplos: [t]atu, [d]ado, [n]ada, ma[l]a, ca[r]o (caro, de caro amigo), ca[äääää]ne (dialeto caipira) “carne”, [s]apo, [z]ebra. Chamamos a atenção para o som do “r”. Você deve ter notado que ele tem vários tipos de sons, ou seja, várias realizações. Ele pode ser alveolar, velar ou glotal. Sobre ele e outras variações de sons, trataremos nas próximas aulas.

Palato-alveolar - som produzido na região imediatamente anterior à região onde se articulam os sons palatais. Trata-se de um som palatal ao qual se acrescenta a característica alveolar. São palato-alveolares: [tS, dZ, S, Z]. Exemplos: [tStStStStS]ia (tia), [dZdZdZdZdZ]ia (dia),

Figura 11: Ponto palato-alveolar.

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Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

[SSSSS]a (chá), [ZZZZZ]a (já).

Palatal - som produzido com o contato da parte central da língua com o palato duro. Ou ainda pode-se dizer que são sons produzidos com a lâmina da língua tocando o palato duro, como os observado em [´, ø]. Exemplos: ba[ø]o ou ba[y)]o (banho)* (depende do dialeto); ma[´´´´´]a ou ma[lJlJlJlJlJ]a (malha)* (depende do dialeto).

Velar - som produzido com o dorso da língua, ou seja, a parte de cima da língua (centro da língua), contra o palato mole. São velares: [k], [g],[x]. Exemplos: [k]asa, [g]ato, [X]ato* “rato” (realização (velar) pertinente ao dialeto carioca); [h]ato* (realização (aspirada ou glotal – comum no nordeste brasileiro).

Figura 14: Ponto Glotal. Figura 12: Ponto palatal.

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Glotal - Podemos também registrar a realização glotal – que é o som produzido com a articulação das cordas vocais, ou melhor, o som é glotal, quando as duas cordas vocais articulam-se entre si. São sons glotais: [h,î]. Exemplos: [h]ato “rato”, ba[h]Iga “barriga” e ca[î]ga* “carga”, articulação que também depende do dialeto. No dialeto piauiense, por exemplo, a glotal é a realização predominante, conforme pesquisas de Carvalho (2009).

Os sons linguísticos ainda podem ser classificados quanto ao modo de articulação. Utilizaremos apenas os sons realizados na Língua Portuguesa.

Na unidade III, daremos mais explicações sobre esses sons linguísticos e os símbolos que usamos para representá-los na língua portuguesa.

Resumindo melhor o exposto, apresentaremos, a seguir, um quadro com a classificação dos pontos de articulação.

Quadro 03 – Classificação dos sons consonantais quanto ao ponto de articulação

PONTO DE ARTICULAÇÃO

EXEMPLOS DE FONES CONSANATAIS

Som produzido com um estreitamento ou fechamento produzido pelo contato dos lábios.

[p]ato, [b]ola, [m]ala

[f]aca, [v]aça

Som produzido com o contato do lábio inferior com os dentes superiores. Som produzido com a ponta da língua entre os dentes superiores e inferiores, ou com a língua contra a parte posterior dos dentes incisivos superiores, ou com os alvéolos. Som produzido na região imediatamente anterior à região onde se articulam os sons palatais. Trata-se de um som palatal ao qual Trata-se acrescenta característica alveolar.

[t]atu, [d]ado, [n]ada, ma[l]a, ca[R]o, ca[Ó]ne (dialeto caipira), [s]opa, [z]ebra.

[tS]ia, [dZ]ia, [S]a (chá), [Z]a (já).

ba[ø]o ou ba[y)]o (banho)*, ma[´]a ou ma[lJ]a (malha), (*Depende do dialeto)

[k]asa, [g]ato, [X]ato (rato)*, ca[Ä]ga* (carga). (*Depende do dialeto)

[h]ato* (rato), ba[h]iga* (barriga), ca[ú]ga* (carga) (*Depende do

Som produzido com o contato da parta central da língua com o palato duro. Som produzido com o dorso (teto ou centro da boca) da língua contra o palato mole.

Som produzido coma articulação das cordas vocais. PONTO DE ARTICULAÇÃO Bilabiais Dentais ou alveolares Alveolopalatais Palatais Velares Glotais Labiodentais

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44

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

2.1.2 Modo de articulação

a) Oclusiva ou Plosiva - são as que resultam de uma oclusão momentânea da passagem de ar, seguida de uma abertura brusca (explosão). Nesse caso, o fluxo de ar encontra uma interrupção total, seja pelo fechamento dos lábios, seja pela pressão da língua sob a arcada dentária ou sob o palato duro. São elas: [p,b, t, d, k, g].

Esta oclusão é realizada em português, nos seguintes pontos: Oclusão bilabial – um lábio contra o outro –[p], [b] Oclusão ápico-dental – a ponta da língua contra os dentes ou gengivas – [t] e [d]. Oclusão dorso-palatal – o dorso da língua contra o palato duro – [k] e [g] sempre diante vogal anterior, como no exemplo das palavras quilo e guia.

b) Fricativas – são as caracterizadas por um estreitamento da passagem do ar, que produz um ruído de fricção ao passar entre dois articuladores. São fricativas: [f, v, s, z, S, Z, x). As fricativas do português são as seguintes:

• Fricativas labiodentais [f] e [v]; • Fricativas alveolares [s] e [z]; • Fricativas álveo-palatais [S] e [Z];

• Fricativa velar [x] de carro, realizada no dialeto carioca. Note que, comumente, o [s] e o [z] recebem a denominação de sibilantes, enquanto o [S] e o [Z] de chiantes.

c) Africada – é a combinação entre oclusivo e fricativo. É o que acontece na realização de: [tS, dZ], observada na fala de piauienses da Capital e do norte do estado, ao pronunciarem [tS]ia e [dZ]ia, “tia” e “dia”, por exemplo.

d) Nasal – aquele som que, na sua realização, parte do ar sai pelo trato vocal (boca) e parte pelas fossas nasais (nariz). São exemplos desses sons: [m, n, ø]. Em português, temos a possibilidade de produzir nasais:

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• Bilabiais - [m] (mala); • Ápico–dental - [n] (nada); • Palatal - [ø] (banho); • Velar [N] (manga)

e) Lateral – som produzido quando a língua ao tocar os alvéolos, obstrui a passagem do ar nas vias superiores, mas permite que o ar passe através das paredes laterais da boca. São laterais [l, ´]. Em português, podem-se produzir laterais:

Ápico-dental [l] (leite) Palatal [´] (palha)

f) Vibrante – Caracteriza-se pelo movimento vibratório e rápido da língua, provocando, desse modo, breves interrupções na corrente de ar. A vibrante é representada pelo‘r’. Em português, existem as vibrantes:

• Anterior ou apical [r] de “caro” – pronunciado de maneira que a ponta da língua ao tocar os alvéolos empurra para fora a corrente de ar.

• Pode também haver uma batida única, cuja denominação é a de flap [R] (vibrante simples).

• Ou uma multiplicidade de batidas denominadas de trill de vibrante múltipla [}].

g) Tepe – Ao contrário da vibrante, o tepe se caracteriza por apenas uma batida da ponta da língua contra os alvéolos. É o caso do [R]. Este som é aquele sempre usado nos encontros consonantais em palavras como prato e fraco.

h) Retroflexa – Caracteriza-se pelo levantamento e encurvamento da ponta da língua em direção ao palato duro, representado foneticamente pelo símbolo [}]. Este é o “erre” encontrado comumente no falar de algumas comunidades de são Paulo, do Paraná e também Minas Gerais.

Para facilitar a compreensão do que fora até agora estudado, vamos resumir, através de um quadro, o modo de articulação das consoantes.

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46

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

A partir do que estudamos nesta aula, podemos sintetizar um quadro com a classificação das consoantes do português do Brasil com seus respectivos símbolos.

Quadro 04 – Classificação dos sons consonantais quanto ao modo de articulação

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Quadro 05 – Símbolos Consonantais da Língua Portuguesa

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Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

Os símbolos que representam os fones não correspondem, muitas vezes, às letras que representam. Por exemplo, [´] representa o som das letras “lh”, assim como o símbolo [ø] representa o som das letras “nh”. Esses símbolos são estabelecidos por convenções.

2.2 VARIAÇÃO DE ALGUNS SONS CONSONANTAIS

Os sons consonantais, em português, podem variar de acordo com o dialeto, que envolvem as variações regionais ou idioleto (variações individuais). Essas variações são comumente mais percebidas com os fonemas “r” e “s”. Em seguida, veremos nos itens da sequência, algumas dessas variações, a partir de estudos de Cristófaro Silva (2002).

2.2.1 Variações do “r” e dos “rr” ortográficos

Você notou que o “r” e os “rr” ortográficos têm vários símbolos fonéticos para representá-los. Isso se dá devido à variação dialetal de pronúncia das duas formas ortográficas. Vamos analisar as variações?

Fonte: Quadro elaborado a partir de informações de Cristófaro-Silva (2002).

Quadro 06 Variações do “r” e dos “rr” ortográficos

AMBIENTE

Seguido de consoante na mesma sílaba ou em posição intervocálica (maioria dos dialetos)

Final de sílaba ou palavra (alguns dialetos).

Início de palavras, em posição intervocálica (“rr”), seguido de consoante surda em sílaba diferente ou final de palavra.

Final de sílaba antes de consoante sonora.

Início de palavra, em posição intervocálica (“rr”) ou seguido de consoante em sílaba diferente. Final de sílaba ou palavra. SÍMBOLO FONÉTICO [RRRRR] [x, h] [FFFFF, úúúúú] [r)r)r)r)r)] [ÓÓÓÓÓ] (caipira) EXEMPLOS c[R]avo, ca[R]a

ca[R]ta, ma[R] [X]apaz ou [h]apaz ca[X]o ou ca[h]o (“carro”) Is[X]ael, Is[h]ael

ma[X], ma[h]

go[F]dura ou go[ú] dura

[r)] apaz, Ca[r)]o, Is[r]ael

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2.2.2 Variações do “s” ortográfico

Segundo ainda Cristófaro-Silva (2002), os segmentos [s,S,z] pode ser representada ortograficamente pelo “s”. Isso ocorre principalmente em final de palavra, com as denominadas fricativas sibilantes. Por exemplo, ao observar as palavras paz, gás e rapaz, observamos que a pronúncia delas pode variar, dependendo do dialeto. Ao pronunciar paz [pAs], um carioca pode dizer [AS] ou ainda ser realizada a variante [pAz] entre falantes da região de Teófilo Otoni, como destaca a mesma autora. Em grande parte da região Nordeste, esse mesmo segmento é realizado como [pAys], para a mesma palavra. Neste caso, observamos o aparecimento do glide. O glide corresponde a um ditongo, sobre o qual trataremos na seção dedicada às vogais.

O “s” ortográfico, em limite de sílaba, pode manifestar-se de duas maneiras na língua portuguesa: fricativa alveolar, como na pronúncia de pasta [pAstA], observada na fala de pessoas do sul e sudeste do País, ou como fricativa palatal, observada na realização de [pAStA] em grande parte do Nordeste e na fala do carioca, por exemplo. Cristófaro-Silva (2002) ressalta também que o “s” ortográfico pode comportar-se de duas maneiras, ao se observar os seguintes grupos de palavras:

a) Casca – aspas – pasta b) Rasga – asma – Gasbrás

Ela afirma que a primeira alternativa é a ocorrência de uma das fricativas desvozeadas [s,S], isso sempre ocorre quando a consoante seguinte for desvozeada, como nas palavras do grupo a, alternando com a ocorrência de uma das fricativas vozeadas

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[z,Z] quando a consoante seguinte for vozeada, conforme se observa nas palavras do grupo b. Na opinião da autora (2002, p. 53), “esta alternativa é selecionada, por exemplo, pelo dialeto de Belo Horizonte”. Já entre falantes do dialeto do Rio de Janeiro verificamos a “ocorrência da fricativa alveopalatal desvozeada [S] quando a consoante seguinte for vozeada”, como apresentam os exemplos do grupo b. (CRISTÓFARO-SILVA, 2002, p.53).

2.2.3 Variação do “l” ortográfico em final de sílaba

O “l” ortográfico em final de sílaba pode ter o som de [Â] ou [w] tem o som de consoante lateral alveolar ou dental com articulação secundária de velarização, que é o levantamento da parte posterior da língua em direção ao véu palatino. Essa pronúncia é usada no Sul do Brasil e em Portugal. Podemos observá-la, também, em pessoas mais velhas provenientes ou que moram na zona rural.

Na maioria dos dialetos brasileiros, ocorre a vocalização, ou seja, o “l” ortográfico é pronunciado como vogal [u], realização observada, por exemplo, nas palavras bolsa [‘bowsA] e calça [‘kawsA]. Essa pronúncia é representada pelo símbolo fonético [w]. Desse modo, o “l” ortográfico da palavra “calça” pode ser representadas tanto por [‘bowsA] quanto por [‘boÂsA], dependendo, é claro, do dialeto.

Até aqui descrevemos como se realizam as consoantes. Na próxima aula trataremos do sistema vocálico da língua portuguesa, bem como do sistema semivocálico. Na seção seguinte, passaremos a tratar do alfabeto fonético internacional e de transcrição fonética.

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2.3 SÍNTESE DA UNIDADE

Os sons produzidos pelo aparelho fonador classificam-se em três subsistemas: vogais, consoantes e semivogais (ou glides). Esses três subsistemas formam o sistema de sons da língua portuguesa.

As consoantes são classificadas quanto ao modo e ponto de articulação. Ponto de articulação é o local onde é realizado o bloqueio à passagem da corrente do ar. Os sons consonantais, a partir do ponto de articulação, são classificados em labial ou bilabial (estreitamento ou fechamento produzido pelo contato dos lábios –[p], [b], [m]); labiodental (contato do lábio inferior com os dentes superiores – [f], []); dental ou alveolar (a ponta da língua entre os dentes incisivos superiores e inferiores, ou a língua contra a parte posterior dos dentes incisivos superiores ou contra os alvéolos – [t], [d], [n], [ä], [r], [s], [z]); alveopalatais (região imediatamente anterior á região onde se articulam os sons palatais. Trata-se de um som palatal ao qual é acrescido a característica alveolar – [tS], [dZ], [S], [Z]; palatal (contato da parte central da língua com o palato duro – [ø], [y)], [´], [lJ]); velar (dorso da língua em contato com o palato mole – [k], [g], [X], [Ä]); glotal (articulação das cordas vocais –[h], [ú]).

FÓRUM DE DISCUSSÃO

1) Que papel tem a úvula na produção dos sons linguísticos? Explique.

ATIVIDADE I

1) Qual o papel das cordas vocais na produção dos fonemas vocálicos e consonantais?

2) Como atuam os alvéolos na produção de fonemas em português?

ATIVIDADE II

1) Classifique os fones consonantais do português quanto ao lugar de articulação.

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Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

2) Os fonemas /f/, /m/ e /k/ são produzidos mediante o mesmo modo de articulação?

ATIVIDADE III

1) Apresente duas palavras para os sons ‘r’ e ‘s’, nas quais pode haver variação de pronúncia. Procure identificar a região onde esses sons são realizados.

2) Localize na, figura abaixo, os pontos de articulação, nomeando-os.

Fonte: Massini-Cagliari e Cagliari (2003, p.124).

FONES CONSONANTAIS LUGAR DE ARTICULAÇÃO

[f ] , [v] [k], [g] [S], [Z] [tS], [dZ] [ø], [´]

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UNIDADE 3

VOGAIS E SEMIVOGAIS DO PORTUGUÊS

• Alfabeto Fonético Internacional;

• Transcrição fonética e transcrição fonológica; • Símbolos fonéticos de acordo com o IPA; • Transcrição fonética e variação linguística.

OBJETIVOS

• Caracterizar Fonética e Fonologia;

• Compreender as diferenças entre Fonética e Fonologia; • Entender o funcionamento do aparelho fonador;

• Reconhecer a importância da Fonética e da Fonologia para o processo ensino-aprendizagem do futuro professor.

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3 TRANSCRIÇÃO FONÉTICA

Para falarmos de transcrição fonética, é necessário antes tratarmos de representação fonética dos sons, que somente poderão ser realizados com o apoio do Alfabeto Fonético Internacional. Vamos ver o porquê.

3.1 ALFABETO FONÉTICO INTERNACIONAL

Uma das dificuldades mais flagrantes da língua escrita está na representação gráfica dos fonemas, fato que ocorre, praticamente, com todos os “sistemas ortográficos de línguas cuja ortografia é fono-representativa”, como esclarece Cavaliere (2005, p. 44). Por exemplo, o fonema /s/ em português pode ser representado pelas letras s (seda), c (cedo), x (máximo), ç (ração), além dos dígrafos SC (nascer), xç (exceção), sx (exsudar). Já a letra x pode representar tanto a consoante /s/, como na palavra máximo, ou o grupo consonantal /ks/, presente na palavra axioma. Em alguns idiomas, como o francês, o sistema ortográfico tem forte influência etimológica, isto é, baseia-se na origem da palavra para justificar a sua escrita.

Considerando que os estudos fonéticos e fonológicos exigem uma representação gráfica biunívoca do fonema, ou seja, procura-se representar cada fonema a apenas um grafema e para que esse grafema corresponda apenas a um fonema, surgiu a necessidade de se criar um alfabeto fonético. Desse modo, o alfabeto fonético é o resumo de uma série de símbolos convencionais de que se utilizam os foneticistas e fonólogos para representar graficamente os sons da língua.

Com vistas a unificar as transcrições dos sons, considerando que suas realizações podem variar de uma língua

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Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

Figura 16 Alfabeto fonético internacional

para outra, foi criado o Alfabeto Fonético Internacional (AFI) em português, tendo em inglês a sigla IPA, que quer dizer, Internacional Phonetic Alphabet. Uma pergunta que pode surgir é: por que usar um alfabeto diferente do alfabeto que se usa para escrever? A resposta é simples. Como a fonética lida com a substância da expressão, devemos tentar registrá-la o mais fielmente possível. Portanto, esse sistema permite ao se fazer uso da transcrição fonética que qualquer falante conhecedor de seus símbolos realize sons de quaisquer línguas. Este alfabeto apresenta tanto as consoantes quanto as vogais utilizadas nas diferentes línguas do mundo.

Na figura a seguir, encontramos a tabela fonética Internacional (IPA) com a revisão de 1993 e atualizado em 1996. A tabela está organizada conforme os traços envolvidos na produção dos sons, isto é, para as consoantes, leva-se em conta o modo de articulação, o lugar de articulação e a vibração ou não das cordas vocais (surdas ou sonoras). Já para as vogais, levavamos em conta o grau de abertura, o grau de arredondamento dos lábios e a posição relativa da língua na boca. Na tabela abaixo, encontramos os símbolos correspondentes aos sons que são produzidos pela conjunção dos traços.

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Fonte: http://www.unilang.org/card.php?lang=ia&res=45

Como em nenhuma língua do mundo, a ortografia corresponde perfeitamente à fonologia nem à fonética, podemos recorrer, convencionalmente, a esse alfabeto demonstrado acima com vistas a proceder a uma transcrição fonética ou fonológica.

Caro aluno, você poderia perguntar qual a diferença entre a transcrição fonológica e a fonética. Diremos que a escrita fonológica procura reproduzir apenas a língua em sua parte de unidades mínimas distintivas, já a fonética é muito mais complexa. Ela procura reproduzir tudo o que um falante nativo diz e da maneira como diz, isto é,

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Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

alofonicamente, com todos os dados de fala regional, dialetal e até idioletal. É a escrita adotada comumente em pesquisa de campo.

3.1 OS DIACRÍTICOS

Geralmente, para fazermos transcrição fonológica ou fonética, necessitamos de alguns sinais específicos para representá-la, os quais são denominados diacríticos. Segue abaixo uma lista desses diacríticos, para facilitar a compreensão dessas transcrições realizadas neste fascículo:

• [ ] = transcrição fonética entre colchetes, cada unidade representa um som.

• / / = transcrição fonológica ou fonêmica: entre barras inclinadas, cada unidade representa um fonema da Língua Portuguesa; • ‘ = indicação de sílaba tônica: a tônica é a que segue ao sinal. Ex.: para /‘paRa/ é diferente de Pará /pa ‘Ra/. Note que o que as diferencia é a posição do acento tônico. Na primeira palavra o acento recai na primeira sílaba, já na segunda, na última sílaba.

• ~ = indica que uma palavra pode ter mais de uma possibilidade de realização, significa alterna com. Ex.: [mu ‘´Eh] ~ [mu ‘lE], ou seja, são formas variantes.

• ’! transforma-se ou resulta em. Ex.: [ay] ’! [a] • ... = indicação do limite de sílaba. Ex.: [ma.ka.ku]

• * = realização que depende do dialeto. Ex.: ba[ø]o ou ba[y)]o* (banho) (depende do dialeto).

3.2 TRANSCRIÇÃO FONÉTICA: UTILIDADES

A transcrição fonética é de grande utilidade, visto ser expressiva não somente nos estudos linguísticos, mas também na

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didática das línguas modernas. Na linguística, a transcrição possibilita uma referência acurada ao som em estudo, de tal sorte que não seja confundido com sons semelhantes ou de proximidade articulatória. Na didática, a transcrição informa, por exemplo, ao aluno de qualquer língua estrangeira a pronúncia exata de uma palavra, bem como as variações que essa palavra pode sofrer em determinada área geolinguística, visto que sua acuidade inclui a fidedigna expressão dos alofones e marcas prosódica.

3.3 TRANSCRIÇÃO FONOLÓGICA

A transcrição fonológica é diferente da fonética. Na transcrição fonológica, “apenas os fonemas são presentes. Os alofones são apresentados por seus respectivos fonemas [...]” (CRISTÓFARO-SILVA, 2002, p.132). Os fonemas são transcritos entre barras, enquanto que os fones e alofones entre colchetes. Caro aluno, você perguntaria: por que ocorrem essas diferenças? Como já mencionado na unidade I, a Fonética representa as particularidades da fala de cada indivíduo, ao passo que a Fonologia relaciona-se à língua, que é o sistema linguístico compartilhado por todos os falantes.

3.4 TRANSCRIÇÃO FONÉTICA E FONOLÓGICA

A transcrição fonética exige uma acuidade muito grande, pois é preciso registrar toda e qualquer nuança de pronúncia.

O pesquisador deve possuir todos os conhecimentos fonéticos, pois terá que transcrever tudo e tal como o informante fala. A linguagem humana é articulada, por isso podemos dividir qualquer enunciado em seus fonemas componentes. Mas, na

É o estudo das variações na utilização da língua por indivíduos ou grupos sociais de o r i g e n s g e o g r á f i c a s d i f e r e n t e s , conforme registra Dubois et al. (2007).

Referências

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