No exemplo (1), constatamos a existência de duas sílabas com apenas uma emissão de ar, pronunciando-o lentamente, observa-se que o abdômen se contrai duas vezes, correspondendo a dois impulsos articulatórios. Temos, então, /pA. ‘s/, para a palavra “país”. Já no exemplo, na palavra Uruguai (2), temos três impulsos, correspondendo a três sílabas. Representada, assim: /u.Ru.gway/. Neste exemplo, as sílabas se organizam de modo diferenciado:
• /u/ - 1 segmento fônico = vogal;
• /Ru/ - 2 segmentos fônicos =consoante + vogal; • /gway/ - 4 segmentos fônicos = consoante + semivogal + vogal + semivogal.
Daí duas estruturas: incompleta – as duas iniciais; e completa – a terceira sílaba. Observe que na figura 18, a sílaba está completa, já nas figuras 19,20 e 21 exemplifica-se a sílaba incompleta:
A vogal, na língua portuguesa, é o ponto de maior sonoridade de uma sílaba, por essa razão ela, a vogal, tecnicamente se denomina ponto vocálico, centro silábico ou núcleo silábico. Então, na estrutura, localiza-se no ápice (= ponto mais
alto). Os outros segmentos fônicos que, ocasionalmente, se encontram ao lado da vogal em uma determinada sílaba, estarão abrindo (aclive) ou fechando (declive) essa sílaba.
A figura 19 representa a sílaba de estrutura completa, porque encerra os três momentos: aclive, ápice e declive. As figuras 20, 21 e 22 representam sílabas de estrutura incompleta, ou seja, aquela que não possui três momentos.
Além de podermos representar a sílaba no modelo supracitado, ou seja, no estruturalista, há outros modelos para representar as sílabas. O modelo que apresentaremos, aqui, é conhecido como fonologia autossegmental. Nesse modelo, a estrutura silábica é formada pelo núcleo, pelo ataque e pela coda. A vogal representa o núcleo (NUC). As consoantes que
Figura 19: Representação da sílaba na corrente estruturalista
Figura 20: Representação da sílaba: o aclive e o ápice
Figura 21: Representação da sílaba: o ápice e o declive
Figura 22: Representação da sílaba: o ápice
ápice
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acompanham o núcleo são conhecidas como ataque (ou onset) e coda. Ataque (ou onset) é a consoante que vem antes do núcelo. Coda é a consoante que vem após o núcleo.
Na representação da estrutura silábica, usamos a letra grega [s] para indicar o constituinte silábico, que se ramifica em ataque (A) e rima (R). A rima ramifica-se em núcleo (NUC) (obrigatório) e coda (CO) (opcional) (MORI, 2003). Vejamos a representação silábica no modelo autossegmental no diagrama 02.
Assim, a primeira camada é a (s) da (s) sílaba (s), que se ramifica (m) em ataque (A) e rima (R). A terceira camada se ramifica em núcleo (NUC) e coda (CO). Entre essa camada e a dos fonemas, há a intermediária, chamada esqueleto CV (consoante/vogal). Podemos visualizar essas camadas na representação das sílabas da palavra “susto”, como representado no diagrama 03.
Diagrama 02: Representação da sílaba no modelo autossegmental
Diagrama 03: Representação da palavra susto ó
Há outras propostas esboçadas sobre a representação fonológica da sílaba; uma delas e semelhante ao que apresentamos acima é a adotada por Selkirk (1982, apud Hora 2009) “segundo a qual, a sílaba pode ter os seguintes constituintes: há uma divisão principal da sílaba em ataque e rima, e a rima, por sua vez se divide em núcleo e coda”, conforme ilustra o diagrama 04, a seguir:
Há de ressaltarmos que nem todas as sílabas do português preenchem todas as posições, como foi também verificado para o modelo estruturalista. Há estruturas silábicas do tipo CV, como em “cá”, em que apenas o ataque e o núcleo são preenchidos, a exemplo do que representa o diagrama 05:
Diagrama 04: Representação da silábica no modelo autossegmental
Diagrama 05: Representação silábica do tipo CV com ataque e núcleos preenchidos
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Há algumas em que apenas o núcleo é preenchido, a exemplo de “a” no diagrama 06.
Como vemos, ao examinarmos a organização dos fonemas em unidades menores, percebemos mais uma vez que essa organização não é aleatória.
7.7 SÍNTESE DA UNIDADE
O primeiro nível de organização dos fonemas refere-se à formação de sílabas. Do ponto de vista articulatório, a sílaba é cada corrente de ar expirada que vem dos pulmões. Do ponto de vista da percepção, a sílaba é considerada uma cadeia de aclives (subidas), ápices (o mais alto grau), declives (descidas) de sonoridade. A posição de aclives e declives é ocupada preferencialmente pelas consoantes, e de ápice, obrigatoriamente, pelas vogais.
As sílabas são constituídas de vogais (V), consoantes (C) e glides (V’). No português, a presença das vogais é obrigatória na sílaba, as consoantes e os glides são opcionais. A sílaba pode conter vários tipos de estruturas: V, CV, CVC, CCV, CVCC, CCVCC, e o glide pode aparecer em qualquer uma. Quanto à Diagrama 06: Representação silábica de núcleo preenchido
estrutura, as sílabas podem ser: simples, ou complexas; abertas ou fechadas. Quanto à acentuação, as sílabas podem ser átonas ou tônicas.
Na representação da estrutura silábica, a primeira camada é a da sílaba (ó), que se ramifica em ataque (A) e rima (R). A terceira camada se ramifica em núcleo (NUC) e coda (Co). Entre essa camada e a dos fonemas, há a intermediária, chamada esqueleto CV (consoante/ vogal).
FÓRUM DE DISCUSSÃO
1) Por que tem sido difícil, num enunciado, delimitar a sílaba? Discuta com seus colegas.
ATIVIDADE I
1) Qualquer segmento fônico vocálico pode ser centro silábico? Justifique.
2) Por que, na Língua Portuguesa, um enunciado terá tantas sílabas quantas forem os fonemas-vogais?
ATIVIDADE II
1) Classifique cada sílaba das palavras abaixo, considerando a seguinte sequência: quanto à estrutura silábica quanto ao padrão silábico; quanto à tonicidade.
a) amor b) vida c) Uruguai d) pasteizinhos
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Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
2) Que significa “sílaba de estrutura incompleta”? Dê três exemplos.
ATIVIDADE III
1) Qualquer sílaba de estrutura completa tem o mesmo padrão silábico? Esclareça com exemplos.
2) A partir do modelo autossegmental apresentado nesta aula, faça a representação da estrutura silábica das palavras: amor e vida.
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Possui graduação em Licenciatura Plena em Letras, com habilitação em inglês pela Universidade Federal do Piauí – UFPI (1988), com Mestrado em Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC /Minas (2000) e Doutorado em Linguística pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB (2009). Atualmente é professora adjunta da Universidade Estadual do Piauí – UESPI. Atua na área de Lingüística, com ênfase em Teoria e Análise Linguística, desenvolvendo suas atividades acadêmicas principalmente em Sociolinguística, Variação e Mudança Lingüística, Fonética e Fonologia.
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