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Sumário. Tribunal da Relação de Guimarães Processo nº 1446/09.4TBBCL.G1

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Tribunal da Relação de Guimarães Processo nº 1446/09.4TBBCL.G1 Relator: RITA ROMEIRA

Sessão: 01 Junho 2017 Número: RG

Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: APELAÇÃO Decisão: IMPROCEDENTE

EXPROPRIAÇÃO EXPROPRIAÇÃO POR UTILIDADE PÚBLICA

PROVA PERICIAL RESPOSTAS DOS PERITOS

VALOR PROBATÓRIO

Sumário

I - Sem prejuízo da força probatória da perícia ser fixada livremente pelo tribunal – art.º 389 do Código Civil -, no processo de expropriação a perícia assume uma particular importância – evidenciada até pela circunstância de se tratar de diligência obrigatória, nos termos do art.º 61, n.º 2, do C.

Expropriações.

II – De modo que, as conclusões apresentadas pelos peritos – unanimemente ou por maioria, preferindo-se as que provêm dos peritos nomeados pelo tribunal, pela maior equidistância relativamente às partes – só devem ser afastadas se o julgador, nos seus poderes de livre apreciação da prova,

decorrentes dos art.º 607, n.º 5 e 489 do Código de Processo Civil, constatar que foram elaboradas com base em critérios legalmente inadmissíveis ou desadequados, ou quando se lhe deparam erros ou lapsos evidentes, que importem correcção.

III - E se é certo que o tribunal não deve aceitar acriticamente os elementos fornecidos pelos Srs. Peritos, é também certo que os Srs. Juízes não devem substituir-se aos peritos, cedendo à tentação de emitir juízos valorativos de carácter eminentemente técnico, para o qual não estão – nem têm de estar – vocacionados.

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Texto Integral

Tribunal recorrido: Tribunal Judicial da Comarca de Braga, Barcelos- JL Cível – Juiz 1

Recorrentes: AA e BB

Recorrida: EP – Estradas de Portugal, SA.

Acordam no Tribunal da Relação de Guimarães

I – RELATÓRIO

Nos presentes autos de expropriação por utilidade pública em que é

expropriante a EP – Estradas de Portugal, S.A. e são expropriados AA e BB, residentes em Coimbra, discute-se a expropriação das parcelas de terreno nºs 19, 19S1 e 19S2, a confrontarem a Norte com CC, a Sul e Nascente com

Limite de Freguesia e a Poente com DD, necessárias à execução da obra da concessão Norte, A11 – IC 14 – Lanço Esposende - Barcelos – Braga, Sublanço Barcelos - Braga Oeste, com a área de 11.114 m2, a destacar do prédio

situado na freguesia de Gamil, concelho de Barcelos, inscrito na matriz predial rústica sob o artigo XXX da mencionada freguesia e descrito na Conservatória do Registo Predial de Barcelos sob o nº XXXX.

A declaração de utilidade pública, com carácter de urgência, da expropriação teve lugar através de despacho de 23 de Julho de 2002, do Exmº Senhor

Secretário de Estado das Obras Públicas, publicado no Diário da República nº 183, II Série, de 09 de Agosto de 2002, sendo, no mesmo despacho, a

expropriante autorizada a tomar posse administrativa da referida parcela.

Foi realizada a vistoria "ad perpetuam rei memoriam", datada de 30.9.2002, cujo relatório consta de fls. 27 a 29.

A decisão arbitral, por unanimidade, (cfr. fls. 5 e ss.) atribuiu à parcela

expropriada o valor de € 82.957,84 (oitenta e dois mil novecentos e cinquenta e sete euros e oitenta e quatro cêntimos). Este valor resultou da avaliação dessa parcela segundo os critérios estabelecidos no artigo 27º, do Código das Expropriações, tendo em atenção o que dispõe o seu nº 3. Os árbitros

consideraram que o terreno da parcela integra a classe de “Espaços Naturais”

e classificaram-na como “Solo para outros fins”.

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A expropriante procedeu ao depósito bancário da quantia determinada no acórdão de arbitragem a fls. 4, tendo havido posse administrativa, em 4.11.2002, cfr. consta a fls. 23 e 24.

Após, ter sido recebido o processo em Tribunal, foi proferido despacho de adjudicação da parcela à expropriante, cfr. consta a fls. 60, no dia 23.4.2009.

Notificada a decisão arbitral, dela vieram recorrer ambas as partes, nos termos do artº 52, do CE.

A expropriante, conforme consta a fls. 81 e ss., nas suas alegações conclui que:

- O acórdão arbitral adoptou uma metodologia de trabalho que contraria preceitos legais expressos e efectuou uma errónea valorização do terreno expropriado;

- Segundo o PDM de Barcelos, o prédio / parcela estava inserido em “Espaços Naturais”, Mata de Protecção;

- De acordo com o aproveitamento económico efectivo e o possível à data da publicação da DUP, o solo deve ser classificado como para outros fins e avaliado de acordo com os rendimentos resultantes da sua utilização como solo agrícola / florestal;

- Não podemos concordar com os valores adoptados no laudo arbitral, nomeadamente as produções e valores de produção, uma vez que estes são exagerados face ao tipo de solo e à sua localização;

- Não se pode ignorar que o solo florestal apresenta algum desnível descendente, face ao caminho, o que aumenta os custos de produção;

- O valor do solo florestal será obtido pela capitalização do rendimento líquido passível de ser obtido com o tipo de exploração florestal possível no terreno e considerado mais favorável do ponto de vista económico para o proprietário:

eucaliptal explorado em regime de talhadia.

Pede a revogação da decisão arbitral, considerando que o valor da parcela a expropriar não deverá ser superior a 55.570,00 euros.

A fls. 85 indica lista de quesitos.

Os expropriados AA e marido BB apresentaram o seu recurso, nos termos que constam a fls. 88 e ss, concluindo:

- Na indemnização que fixaram os árbitros não levaram em conta todo o

conjunto de circunstâncias, urbanísticas e outras, que caracterizam a parcela expropriada, tendo atendido a pouco mais do que simples destino agrícola e florestal;

- Os árbitros assentaram os seus cálculos numa classificação errada do terreno que, ao contrário do que pretendem, tem que ser tido em grande parte como

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terreno de construção, face às disposições do PDM de Barcelos;

- Parte do terreno expropriado apresenta evidente potencialidade construtiva directa (em baixa densidade), o que constitui facto determinante de

valorização do mesmo, tanto mais que tinha excelente localização e qualidade ambiental;

- O terreno expropriado situa-se em zona de expansão previsível (zona periurbana) da cidade de Barcelos e relativamente próximo do respectivo centro e na vizinhança (entre 200 / 300 metros) de diversos centros

comerciais e habitacionais importantes;

- A sul da parcela expropriada, e a confrontar cerca de 100 m com esta, existe construída uma via de circulação em piso betuminoso com faixa de rodagem com a largura de cerca de 8 m, com todas as infra-estruturas urbanísticas (rede de distribuição de água, esgotos, rede telefónica e eléctrica), sendo que a dita parcela dispõe de acesso directo a essa via pública, ao longo de toda a sua frente;

- De acordo com a Carta Administrativa Oficial de Portugal, a freguesia em que a parte se encontra é classificada como urbana;

- Embora se aceite o valor das benfeitorias, há que ter em conta a integração da parcela em espaço canal no PDM de Barcelos, o que força de Lei, atento o disposto no artigo 26º, nº 12, do C.E.;

- Não pode deixar de se corrigir, ao menos para 0,4 m2/m2 o índice

construtivo, o qual representa a situação corrente numa ocupação urbana de tipo moradias, que é o que se encontra, predominantemente, no raio de 300m;

- Tendo em conta a área total da parcela, a parte sobre a qual incide a área REN (cerca de 5000 m2) e a parte que face à situação espaço canal e ao artigo 26º, nº 12, do C:E. deve ser considerada área de solo apto para construção (cerca de 6114 m2), introduzindo nesta o índice de construção 0,4 e deduzindo todos os outros custos, chega-se ao valor de € 24,20 / m2;

Pedem a procedência do recurso e, em consequência, que seja a expropriante condenada a pagar-lhes a quantia global de € 184.258,90.

A fls.157 apresentaram lista de quesitos.

Admitidos os recursos (fls. 237) e notificadas as partes, vieram os

expropriados responder, ao abrigo do disposto nos artºs 59 e 60, do CE, nos termos que constam a fls. 254 e ss., pedem a improcedência do recurso apresentado pela expropriante e concluem nos termos expostos no recurso que apresentaram.

Nomeados os peritos, procedeu-se à respectiva avaliação.

(5)

A fls. 355 e ss., os peritos nomeados pelo tribunal e o perito indicado pela expropriante emitiram laudo maioritário. Nele, classificam a parcela como solo apto para outros fins e calculam o montante da indemnização a atribuir à

parcela a expropriar, de acordo com as normas estabelecidas nos artºs 25 e 27, do CE, em € 55.186, 73, sendo: (€ 45.136,73 o valor do terreno e € 10.050,00 o valor das benfeitorias).

Em laudo minoritário, junto a fls. 375 e ss., o perito indicado pelos expropriados classifica parte, do solo da parcela, como solo apto para a construção e outra parte como solo apto para outros fins e calculou o

montante da indemnização a atribuir à mesma, de acordo com o artº 26 do CE, em € 176.358,00.

Notificadas a entidade expropriante e os expropriados, do teor do laudo e das respostas aos quesitos, solicitaram esclarecimentos.

Os expropriados requereram que os peritos indicados pelo Tribunal e pela entidade expropriante prestassem esclarecimentos, nos termos referidos a fls.

394 e ss., o que foi feito, conforme consta a fls. 430 e ss..

A fls. 440 e ss., voltaram os expropriados a pedir esclarecimentos

complementares, que foram prestados, nos termos que constam a fls. 512 e ss., pelos peritos.

Notificados dos esclarecimentos prestados, os expropriados renovaram o seu pedido, nos termos que constam a fls. 523 e ss., requerendo que os peritos indicados pelo Tribunal fossem desvinculados, nomeando-se novos peritos a fim de se proceder a uma outra avaliação, o que veio a ser indeferido, nos termos do despacho proferido a fls. 527. Deste, os expropriados interpuseram recurso, na sequência do qual foi proferido douto Acórdão pelos Juízes desta Relação, cuja decisão anulou o despacho recorrido e determinou a sua

substituição por outro que ordenasse a notificação dos senhores peritos para se pronunciarem sobre as seguintes questões: esclarecer qual o critério que esteve na base da indicação da distância de 4000 m da parcela à cidade de Barcelos, esclarecer melhor por que razão entendem que a parcela não se situa em “espaço canal”, tomando expressa posição relativamente à certidão da Câmara Municipal que os expropriados juntaram aos autos.

Cumprindo o referido acórdão, foram os peritos notificados, nos termos do despacho de fls. 581, tendo prestado os esclarecimentos que se encontram a fls. 594 e 595.

Após esses esclarecimentos, os expropriados requereram, novamente, que os peritos prestassem os esclarecimentos mencionados a fls. 603 e ss., o que

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fizeram nos termos que constam a fls. 617 e fls. 622 e ss..

Notificadas, ambas as partes apresentarem alegações, nos termos do artº 64 do CE.

- A fls. 655, a expropriante manteve a posição expressa nas alegações anteriormente juntas aos autos.

- Os expropriados nos seguintes termos (cfr. fls. 630 a 637, cujo teor aqui se dá por inteiramente reproduzido):

- Há dois laudos de sentidos muito diferentes, sendo que o apresentado pelos peritos do Tribunal e da entidade expropriante carece de objectividade e não dá respostas ao que o Tribunal da Relação determinou, chocando frontalmente com a certidão emitida pela Câmara Municipal de Barcelos;

- Assim, ou se repete a peritagem com novos peritos a designar pelo Tribunal ou se toma como válido o critério enunciado pelo perito indicado pelos

expropriados, fixando-se o valor da indemnização nos quantitativos por este preconizados.

Com as suas alegações, os expropriados juntaram o documento constante de fls. 637 vº a 645, a cujo teor a entidade expropriante respondeu, cfr. consta a fls. 671 e ss.

Em 10.07.2013 foi proferido o despacho que consta a fls. 680, tendo o Tribunal, pelos motivos aí exarados, solicitado aos peritos subscritores do relatório maioritário a elaboração de um outro relatório pericial, para efeitos de fixação da justa indemnização, onde considerassem que a parcela

expropriada se situa em “espaço canal”.

Após a resposta dada pelos Peritos, cfr. fls. 689 e ss., por considerar que não satisfizeram o que lhes foi solicitado, o Tribunal insistiu, mas, não voltou a acontecer, conforme consta a fls. 727.

Face a isso, nos termos do despacho proferido em 27.03.2014, a fls. 733, o Tribunal ordenou a realização de nova perícia, por outros peritos, para aferir daquelas questões em apreço e dilucidar as dúvidas suscitadas nos autos.

Os novos peritos, após as diligências tidas por necessárias, apresentaram relatório nos termos que constam de fls. 803 a 828.

Aí, por um lado, subscrevem na íntegra a avaliação efectuada pelo grupo de peritos nomeado antes, que fixou o valor da indemnização em € 55.186,73, explicando a fls. 805 a razão porque o fazem.

Por outro lado, apresentaram a avaliação em conformidade com o pedido efectuado pelo Tribunal e, atenta a classificação da parcela como “solo apto para a construção” calcularam o valor indemnizatório da parcela em €

91.849,04.

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Os Ex.mos peritos indicados pelos expropriados e pela expropriante

chegaram, respectivamente, ao valor indemnizatório de € 176.358,00 e de € 55.172,84.

Notificados deste relatório, a fls. 836 e ss., vieram os expropriados requerer que os peritos indicados pelo tribunal prestassem os esclarecimentos aí

referidos e, a fls. 865, a entidade expropriante o esclarecimento das questões por si formuladas.

Os peritos, após notificação, prestaram os esclarecimentos que constam de fls.

894 a 898, em relação aos quais os expropriados se pronunciaram conforme consta a fls. 901 e 902.

Notificado o despacho de fls. 903, que determina o cumprimento do disposto no artº 64, do CE, ambas as partes apresentaram alegações.

- Os expropriados, nos termos que constam a fls. 906 e ss., concluem que o Tribunal deve atender ao relatório do perito pelos mesmos indicado, não devendo levar em linha de conta o relatório dos outros peritos.

- A expropriante, nos termos que constam a fls. 909 e ss., pugna que o valor da indemnização a atribuir aos expropriados não deverá exceder o montante indicado na primeira avaliação subscrita pela maioria dos peritos, após ter formulado as conclusões seguintes:

- Requer a alteração do valor peticionado no recurso da decisão arbitral pelo constante do laudo maioritário dos peritos, dado que a perícia realizada demonstrou serem menores os danos causados pela expropriação;

- Nos processos de expropriação, o julgador deve aderir à avaliação técnica efetuada pelos peritos, a menos que se suscitem questões de direito com relevância para o cálculo do valor do bem expropriado ou que existam elementos de prova suficientemente sólidos que o habilitem a divergir dos peritos;

- Sendo a determinação do valor do bem expropriado uma questão

essencialmente técnico-construtiva, deve o juiz dar a sua concordância ao parecer unânime dos peritos, ou quando esta não for alcançada, preferir o laudo maioritário, porque garante uma posição de maior distância,

imparcialidade e objectividade;

- O laudo maioritário encontra-se devidamente fundamentado, preconizando critérios sensatos e ponderados o que contribui para que o valor nele fixado corresponda ao da justa indemnização;

- A primeira avaliação é a que conduz ao valor real e corrente do bem pelo que é que adequada a determinar a justa indemnização;

- A avaliação complementar padece de várias deficiências que implicam que o

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valor nela determinado não seja condizente com o valor de mercado do bem;

- Desde logo mostra-se inadequada a taxa de capitalização de 2% aplicada no cálculo do valor do solo, uma vez que a taxa de capitalização correntemente adoptada no cálculo do valor dos solos florestais é a de 3%;

- Igualmente se mostra excessivo o valor de 10.050,00€, relativo a um mero muro;

- Além do mais e acima de tudo, atente-se no facto de que estando o terreno classificado no PDM de Barcelos como Espaços Naturais, RAN e REN, não seria possível edificar qualquer construção no terreno objecto de

expropriação;

- O PDM tem relevância na classificação e valorização do terreno pois ao condicionar o tipo de aproveitamento económico que o proprietário pode dar ao terreno, vai influir directamente no valor de mercado do mesmo;

- O solo da parcela expropriada deve ser classificado como “para outros fins”, avaliando-o pelo seu aproveitamento económico possível, factor esse

determinante na fixação do seu valor de mercado;

- Sem prescindir, ficcionando-se uma edificação, mesmo que de baixa

densidade, devia ter sido contabilizada uma percentagem para reforço com as infra-estruturas, cedência de terrenos ao domínio público como seja

parqueamento, baias de estacionamento, acessos, etc.

Por fim, a fls. 916 e ss., foi proferida sentença que decidiu nos seguintes moldes:

“Pelo exposto, atentas as considerações expendidas e as disposições legais citadas, decide-se julgar improcedente o recurso interposto pelos

expropriados e parcialmente procedente o interposto pela entidade expropriante, fixando-se a indemnização devida pela expropriação da parcela nº 19, com a área de 11.114 m2, a destacar do prédio situado na freguesia de Gamil, concelho de Barcelos, inscrito na matriz predial rústica sob o artigo 303 da mencionada freguesia e descrito na Conservatória do Registo Predial de Barcelos sob o nº 528/20080114, no montante de € 68.547 (sessenta e oito mil quinhentos e quarenta e sete euros).

Custas a cargo dos Expropriados – cfr. artigo 527º, nºs 1 e 2, do Código de Processo Civil.”.

Inconformados os expropriados interpuseram recurso, nos termos constantes das alegações juntas a fls. 943 e ss., que terminaram com as seguintes

CONCLUSÕES:

1 – Nem mesmo na segunda Peritagem, os Srs. Peritos avaliaram correctamente a Parcela em causa.

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2 – Aceita-se a classificação e a valorização que se fixa, no Relatório maioritário, para as partes RAN, REN e Benfeitorias.

3- Todavia no que concerne a 4.500 m2 de terreno de Parcela a expropriar, tal área tem que ser tida como “solo apto para construção” e com índice de

construção claramente superior, como aponta o Relatório do Sr. Perito dos expropriados.

4 – É errado o critério valorativo expresso no laudo maioritário por não repercutir, válida e justamente, todas as circunstâncias que têm a ver com a Parcela, conduzindo a um resultado final desequilibrado e não consentâneo com a natureza do solo em causa e do natural critério valorativo expresso pelo Sr. Perito dos expropriados e/ou a douta Sentença de fls. 637 e 645 dos autos, referente à anexa Parcela 23, ferindo-se assim o principio da igualdade.

5 – Consequentemente, o valor dos 4.050m2 em causa deveria ser fixado, à razão de 24,95€/m2 em 101.047,50€ e não no inaceitável valor de 28.689€, de onde resulta um mais que desadequado e injusto preço de 7,13€/m2 que, como é público e notório por ser comum dado de experiência, nem para mero

terreno agrícola (RAN e REN) se adequa (nem se encontra no mercado do Norte do País, máxime no distrito de Braga ou no Concelho de Barcelos).

6 – Termos em que deve ser fixada à Parcela expropriada o valor seguinte:

a) 58.497€ referente às áreas RAN e REN;

b) 10.050 respeitante a benfeitorias;

c) 101.047,50 relativos os 4.050m2 de “solo apto para a construção”;

d) Tudo a actualizar de acordo com o habitual critério legal, tendo-se em conta o levantamento inicial já verificado.

Não foram apresentadas contra-alegações.

Colhidos os vistos legais, cumpre apreciar e decidir.

Sabido que o objecto dos recursos é delimitado pelas conclusões dos recorrentes não podendo este tribunal conhecer de matérias nelas não incluídas, sem prejuízo das de conhecimento oficioso, a questão a decidir é uma e única, ou seja, saber se deve revogar-se a decisão recorrida, por ter atendido, na fixação da justa indemnização quanto aos 4050 m2 da parcela que classificou como “Solo apto para a construção”, aos critérios e valores defendidos no laudo maioritário.

II – FUNDAMENTAÇÃO

A) - OS FACTOS

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1 – Por despacho de 23 de Julho de 2002, do Exmº Senhor Secretário de Estado das Obras Públicas, publicado no Diário da República nº 183, II Série, de 09 de Agosto de 2002, foi declarada a utilidade pública, com carácter de urgência, da expropriação da parcela nº 19, com a área de 11.114 m2, a

destacar do prédio situado o lugar de Outeiro, freguesia de Gamil, concelho de Barcelos, inscrito na matriz predial rústica sob o artigo 303 da mencionada freguesia e descrito na Conservatória do Registo Predial de Barcelos sob o nº 528/20080114, a confrontar do norte com CC e outros, do sul com caminho municipal / limite de freguesia, do nascente com Joaquim Amorim da Fonseca e proprietário e do poente com DD e outros.

2 – Pela Ap. 16 de 2008/01/14, está registada, a favor de Maria Teresa Salazar de Castro Corte Real de Magalhães e Meneses, casada com António Maria Couto de Magalhães e Meneses, a aquisição, por sucessão hereditária e partilha, do prédio inscrito na matriz predial rústica sob o artigo 303 da

freguesia de Gamil e descrito na Conservatória do Registo Predial de Barcelos sob o nº 528/20080114.

3 – O prédio referido em 1) consta, na vistoria “ad perpetuam rei memoriam”

e no relatório de arbitragem exarados nos autos como sito no Lugar de Quintãs, freguesia de Rio Covo Sta. Eugénia, concelho de Barcelos.

4 - A expropriação destina-se à execução da obra da concessão Norte, A11 – IC 14 – Lanço Esposende – Barcelos – Braga, sublanço Barcelos / Braga Oeste.

5 – A parcela a expropriar tem uma forma irregular, é formada por terreno florestal, com ligeiro desnível descendente para sul, encontrando-se, na confrontação com o caminho, a norte, desnivelada em média cerca de 0,8 metros.

6 – À data da vistoria “ad perpetuam rei memoriam”, o acesso à parcela era feito por Caminho Municipal na confrontação sul, com pavimentação em tapete asfáltico e largura média de 5,5 metros, dotado de rede de

abastecimento de água, inserindo-se em zona florestal adjacente à Variante de Barcelos, com ligação a esta variante a uma distância de cerca de 400 metros.

7 - O prédio onde se situa a parcela expropriada dista do centro urbano de Barcelos cerca de 4000 metros.

8 – A parcela expropriada é constituída por terreno de características florestais, com mato e outras vegetações espontâneas e bem florestado, essencialmente por eucaliptos e alguns pinheiros de bom porte.

9 - O prédio onde se situa a parcela expropriada é vedado nas suas

confrontações norte, nascente e poente por muros em pedra seca, de suporte e vedação, com a espessura média de 0,5 metros e num cumprimento total de 335 metros.

10 – A cerca de 300 metros da parcela expropriada situam-se construções

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dispersas.

11 – De acordo com o Plano Director Municipal de Barcelos, a parcela expropriada, à data da declaração de utilidade pública, estava inserida em área classificada parte como Reserva Agrícola Nacional, parte como Reserva Ecológica Nacional e parte como Reserva Natural.

12 – Cerca de 6230 m2 da parcela expropriada integram a Reserva Agrícola Nacional e a Reserva Ecológica Nacional, cerca de 834 m2 integram a Reserva Agrícola Nacional e cerca de 4050 m2 não apresentam qualquer condicionante e integram a classe de Espaço Natural.

13 – Em 7 de Janeiro de 2010, o Município de Barcelos emitiu a certidão que se acha junta a fls. 427, onde consta que a parcela expropriada está localizada no “espaço canal” para o IC14, definido nas plantas do Plano Director

Municipal de Barcelos.

14 – A parcela expropriada encontra-se no interior da Unidade Operativa de Planeamento e Gestão 36.

15 – Correu termos, pelo extinto 2º Juízo Cível do Tribunal Judicial de

Barcelos, o processo de expropriação registado sob o nº 1447/09.2TBBCL, em era expropriante “EP – Instituto de Estradas de Portugal, S.A.” e expropriados AA e BB, relativo à parcela de terreno com a área de 31.243m2, a destacar do prédio sito no Lugar de Quintãs, freguesia de Rio Covo Stª Eugénia, concelho de Barcelos, inscrito na matriz predial rústica sob o artigo 3º e descrito na Conservatória do Registo Predial de Barcelos sob o nº 255, parcela essa, relativamente à qual, foi declarada a utilidade pública da respectiva expropriação por despacho de 23 de Julho de 2002, do Exmº Senhor

Secretário de Estado das Obras Públicas, publicado no Diário da República nº 183, II Série, de 09 de Agosto de 2002.

16 – No âmbito de tal processo, foi dado por assente, que a parcela expropriada estava, desde 4 de Julho de 1995, data da publicação da

Resolução do Conselho de Ministros que ratificou o Plano Director Municipal de Barcelos, dentro do Espaço Canal destinado à construção do IC14/A11.

*

B) - O DIREITO

Insurgem-se os expropriados, no recurso interposto, unicamente, (cfr. resulta do corpo das suas alegações e o que aceitam na conclusão 2), contra o valor de € 29 808,00 que foi fixado na decisão recorrida a título de indemnização pela área, de 4050 m2, da parcela que foi classificada como solo apto para construção, discordando, apenas, do critério seguido pelo Tribunal “a quo”

que determinou aquele valor.

Pugnam pela sua revogação e peticionam que se fixe a justa indemnização a atribuir-lhes, relativamente a esta parte da parcela, em € 101.047,50, tendo

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em consideração o índice de construção considerado no relatório pericial subscrito pelo seu perito (vejam-se conclusões 3, 2ª parte e 6, al. c)).

Mas, sendo esta a única questão a apreciar no recurso, há desde já que dizer que, não têm os recorrentes qualquer razão, quanto aos argumentos que invocam para se insurgirem contra a decisão recorrida.

Justificando.

Efectivamente, em nosso entender, não merece censura a decisão recorrida, por ter perfilhado o critério valorativo expresso pelos peritos do laudo

maioritário, pois, nada nos autos se vislumbra que, eventualmente, habilitasse a Mª Juíza a divergir daquele, nem ao fazê-lo desconsiderou qualquer decisão anterior, violou a lei ou princípio constitucionalmente consagrado.

No fundo, os recorrentes não apontam qualquer erro derivado da má aplicação de legislação aplicável ao critério seguido pelos peritos que elaboraram o relatório maioritário, perfilhado pela Mª Juíza “a quo”, apenas entendem que se devia seguir o critério proposto pelo seu perito que coincide com o relatório relativo a outra parcela, também, pertencente aos expropriados,

considerando, assim, não haver “…razão para tratar como diferente aquilo que o não é!”.

No entanto, sempre com o devido respeito por opinião diferente, não

concordamos que tal tenha acontecido. A Mª Juíza do Tribunal “a quo”, quanto ao critério que perfilhou para classificação da parcela expropriada, em

concreto, a parte que originou o presente recurso, teve em consideração todas as características da parcela e todos os elementos ao seu dispor, deles

retirando as devidas conclusões e consequências, como deixou bem expresso na decisão recorrida:

“Foi com base no relatório de vistoria “ad perpetuam rei memoriam” que o Tribunal assentou as características, dimensão e benfeitorias existentes na parcela expropriada, bem como apurou, do confronto desta com a

documentação referente ao registo do prédio na Conservatória do Registo Predial, o facto enunciado em 3).

Além dos relatórios periciais juntos aos autos, designadamente os elaborados pelos peritos indicados pelo Tribunal, “in casu”, deu o Tribunal especial

relevância ao documento (certidão) emitido pelo Município de Barcelos, em 7 de Janeiro de 2010, cujo original se acha junto a fls. 427.

(…).

Mas atentou-se ainda à cópia da sentença proferida no processo de

expropriação registado sob o nº 1447/09.2TBBCL, que correu termos pelo extinto 2º Juízo Cível do Tribunal Judicial de Barcelos, constante de fls. 637 a 645, ….

E fizemos por entendermos que a situação retratada em tal processo, e que

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mereceu a decisão aí constante pelos motivos aí exarados, apresenta

semelhanças com a em apreciação nestes autos, as quais impõem, sob pena de violação do princípio da igualdade, que este Tribunal pondere o que aí foi decidido.

(…)

Ora, no âmbito do processo de expropriação registado sob o nº

1447/09.2TBBCL, supra referido, o solo da área parcela expropriada não inserida em REN e RAN foi considerado, pelos senhores peritos subscritores do relatório maioritário que serviu de suporte à decisão aí proferida, nos quais se incluíam os indicados pelo Tribunal, como apto para a construção, e

avaliado em conformidade com o disposto no nº 12, do artigo 26º, do Código das Expropriações.

Considerando os factos supra aludidos, designadamente o que respeita à inserção da parcela expropriada dentro do Espaço Canal destinado à

construção do IC14, o facto de a mesma se achar a não mais de 3003 metros de zonas urbanas consolidadas e as semelhantes entre a matéria em discussão nestes autos e naqueloutros, parece-nos que o mais justo e adequado é

considerar que, relativamente à área da parcela expropriada não inserida em REN e RAN, não há nenhum obstáculo a que se considere o respectivo solo como apto para construção, já que preenche os requisitos exigidos para tal, e, atento o citado n.º 12 do art. 26º do Código das Expropriações, o qual não exclui, antes aponta, essa classificação, tendo em conta a área envolvente, e atento ainda o facto de tal classificação ser mais favorável para os

expropriados aproximando-se mais do conceito de justa indemnização, tendo em conta a área envolvente, a qual aconselha vivamente, em nome dos

princípios da igualdade e da proporcionalidade a não descurar a possibilidade de tratamento dos expropriados de forma desfavorável a outros grupos de expropriados…”.

Exposto o que antecede, vejamos.

É sabido que, por imperativo constitucional, qualquer expropriação importa para o expropriante o dever de reparar os prejuízos causados ao expropriado com a expropriação, ou seja, de lhe pagar uma justa indemnização. A

indemnização é justa quando repõe no património do expropriado, pelo equivalente em dinheiro, o valor da perda do bem por este sofrida. Assim, a justa indemnização há-de ser obtida com recurso a critérios que respeitem os princípios constitucionais da igualdade e proporcionalidade, assim como do direito geral à reparação dos danos, como corolário do Estado de direito democrático – art.º 2, da CRP, tomando como ponto de referência o valor adequado que permita ressarcir o expropriado da perda do bem que lhe pertencia, com respeito pelo princípio da equivalência de valores.

(14)

A expropriação por utilidade pública só pode ser efectuada com base na lei mediante o pagamento de justa indemnização – art.º 62, n.º 2, da CRP.

Nos termos que dispõe o art.º 1, do CE, (Código das Expropriações aprovado pela Lei n.º 168/99 de 18 de Setembro, aqui aplicável, atenta a data de

publicação da declaração de utilidade pública (23/07/2002) e, diploma a que respeitarão todos os artigos a seguir referidos sem outra menção de origem) a expropriação dos bens imóveis e os direitos a eles inerentes podem ter lugar mediante o pagamento contemporâneo de uma justa indemnização nos termos do presente Código.

O valor pecuniário arbitrado, a título de indemnização, deve ter como referência o valor real do bem expropriado, valor esse que numa economia com as características daquela que é a nossa – economia de mercado – é o do seu valor corrente, ou seja o seu valor venal ou de mercado, numa situação de normalidade económica.

A indemnização calculada de acordo com o valor de mercado, isto é, com base na quantia que teria sido paga pelo bem expropriado se este tivesse sido

objecto de um livre contrato de compra e venda, é aquela que está em

melhores condições de compensar integralmente o sacrifício patrimonial do expropriado e de garantir que este, em comparação com outros cidadãos não expropriados, não seja tratado de um modo injusto e desigual.

Este valor normativo de mercado foi o critério adoptado pelo Código das Expropriações de 1999, concretizando o princípio constitucional, no seu art.º 23, o qual é o valor venal com algumas correcções, e constitui o critério referencial determinante da avaliação dos bens expropriados para o efeito de fixação da respectiva indemnização a receber pelos expropriados.

Estabelece o art.º 23, n.º 1 – “A justa indemnização não visa compensar o benefício alcançado pela entidade expropriante, mas ressarcir o prejuízo que para o expropriado advém da expropriação, correspondente ao valor real e corrente do bem de acordo com o seu destino efectivo ou possível numa utilização económica normal, à data da publicação da declaração de utilidade pública, tendo em consideração as circunstâncias e condições de facto

existentes naquela data.”.

Acrescentando, no seu n.º 5 – “Sem prejuízo do disposto nos n.ºs 2 e 3 do presente artigo, o valor dos bens calculado de acordo com os critérios

referenciais constantes dos artigos 26º e seguintes deve corresponder ao valor real e corrente dos mesmos, numa situação normal de mercado, podendo a entidade expropriante e o expropriado, quando tal se não verifique, requerer ou o tribunal decidir oficiosamente, que na avaliação sejam atendidos outros critérios para alcançar aquele valor.”.

Tendo em vista evitar alguma subjectividade na determinação deste valor, o

(15)

legislador fixou critérios valorativos instrumentais, relativamente a vários tipos de bens expropriados.

A expropriação não pode ser entendida como fonte de enriquecimento, o que aconteceria a satisfazerem-se frequentes pretensões exageradas dos

expropriados, nem fonte de empobrecimento, fazendo recair apenas sobre eles os encargos com a satisfação das necessidades colectivas que se visaram

satisfazer com a expropriação.

Para se alcançar o justo valor dos bens há que atender ao destino efectivo ou possível do bem numa utilização económica normal.

Em obediência aos princípios enunciados, a sentença recorrida classificou o solo da parte, em causa, da parcela expropriada como solo apto para a

construção, classificação que os recorrentes aceitam e para determinação do seu valor aplicou os critérios de cálculo da indemnização previstos no artigo 26º, o que os peritos do laudo maioritário observaram.

Analisemos, então, se o valor da indemnização efectuado na sentença, quanto àquela parte da parcela, não é aceitável, como defendem os recorrentes.

Como se deixou dito, a sentença recorrida fixou o montante da indemnização, aderindo aos indíces valorativos apurados no laudo maioritário, em € 29 808,00. O que os recorrentes dizem errado, por considerarem adequado o valor de € 101 047,50 fixado no laudo minoritário.

Na sentença recorrida decidiu-se do seguinte modo: “Para cálculo do valor do solo “apto para a construção” atender-se-á, nos termos do artigo 26º, n.º 1 do Código das Expropriações: “…à construção que nele seria possível efectuar se não tivesse sido sujeito a expropriação, num aproveitamento económico normal, de acordo com as leis e os regulamentos em vigor, nos termos dos números seguintes e sem prejuízo do disposto no n.º5, do art. 23º”.

Já o n.º 12 do mesmo artigo, estabelece o critério que deve ser utilizado no cálculo do valor, determinando que: “Sendo necessário expropriar solos

classificados como zona verde, de lazer ou para instalação de infra-estruturas e equipamentos públicos por plano municipal de ordenamento do território plenamente eficaz, cuja aquisição seja anterior à sua entrada em vigor, o valor de tais solos será calculado em função do valor médio das construções

existentes ou que seja possível edificar nas parcelas situadas numa área envolvente cujo perímetro exterior se situe a 300 metros do limite da parcela expropriada.”

Postas estas considerações, passemos, então, de seguida, à análise do resultado da avaliação.

Dentre todas as diligências de prova, a avaliação, realizada por técnicos, assume especial relevo, …

(16)

(…).

No caso em apreço, o Tribunal, por despacho exarado a fls. 680 e pelos

motivos aí exarados, solicitou aos peritos subscritores do relatório maioritário a elaboração de um outro relatório pericial, para efeitos de fixação da justa indemnização, onde considerassem que a parcela expropriada se situa em

“espaço canal”.

(…)

Os senhores peritos apresentaram o relatório pericial constante de fls. 803 a 828.

Neste, os peritos indicados pelo Tribunal efectuaram a avaliação em conformidade com o pedido efectuado, …

Os peritos indicados pelos expropriados e o indicado pela entidade

expropriante apresentaram laudos autónomos, com valores divergentes dos indicados pelos peritos nomeados pelo Tribunal.

Ora, uma vez que o laudo dos Senhores Peritos do Tribunal é aquele que se encontra mais equilibrado, o Tribunal vai seguir o seu raciocínio.

…, para a determinação do valor a atribuir à área de 4050 m2 da parcela a expropriar, deverá ser determinante o laudo apresentado pelos Senhores Peritos nomeados pelo Tribunal, …”.

Temos, assim, que a decisão recorrida, face aos valores divergentes

apresentados nos laudos autónomos, dos peritos indicados pelos expropriados e pela expropriante, aderiu ao laudo de peritagem maioritário, apresentado pelos peritos do Tribunal.

Os expropriados discordam, referindo que a mesma aderiu a um laudo pericial

“…não consentâneo com a natureza do solo em causa…”.

Mas, não lhes assiste razão.

Pois, feita a análise do relatório pericial, maioritário, não podemos concordar que assim seja, basta atentar no exposto pelos Srs. Peritos intervenientes na perícia realizada, nomeadamente, quando satisfazem o solicitado pelo Tribunal no despacho proferido a fls. 680. Donde, a sentença recorrida ter aderido ao laudo maioritário, subscrito pelos peritos nomeados pelo tribunal, que

considerou mais equilibrado, em nossa opinião muito bem.

Segundo a jurisprudência maioritária é entendimento que, verificando-se divergência de análise entre os peritos, cumpre considerar o resultado da prova pericial, no laudo maioritário, sobretudo quando se mostra subscrito pelos peritos nomeados pelo tribunal cuja isenção revela maiores garantias de imparcialidade. E, sendo o mesmo proferido sobre matérias específicas, fora da área de conhecimento do julgador, não se mostra razoável que o Tribunal tenha a necessidade de tecer considerações, sobre assuntos técnicos, em

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relação aos quais não tem formação para poder pronunciar-se sobre os

mesmos, quando tem uma informação subscrita, por maioria, por técnicos com conhecimentos específicos para o efeito.

Contrariamente ao defendido pelos expropriados, não concordamos que sejam errados os critérios valorativos seguidos e os índices aplicados,

nomeadamente o de construção, maioritariamente. Pois, o que se verifica é que os mesmos tomaram em consideração as características reais do terreno à data da DUP, que a Mª Juíza “a quo”, na decisão, seguiu para fixação do valor da parte da parcela, em causa.

Os peritos que subscreveram o laudo maioritário, utilizaram para cálculo do valor do solo da parcela, acertadamente, o critério ínsito no art.º 26 e, atentas as características da parcela, aplicaram as percentagens que tiveram por correctas e acertadas.

Conforme consta da decisão recorrida a Mª Juíza “a quo” pareceu-lhe mais adequados e, aceitou como justos os valores encontrados pelos peritos do laudo maioritário, referindo: “Afigura-se correcta a valorização de 10% nos termos do n.º 6 do artigo 26º do C.E. para a localização e qualidade ambiental, e a valorização de 2,5% nos termos das várias alíneas do n.º 7 do mesmo

artigo.

E assim, considerando a área da parcela expropriar a valorar nestes termos - 4050 m2, a percentagem do valor do solo tendo em conta as infra-estruturas junto da parcela, o coeficiente de ocupação do solo de 0,136 m2/m2,

concluímos que o valor de tal parte da parcele ascende a € 29.808 (vinte e nove mil oitocentos e oito euros).”, o que subscrevemos, considerando, também nós, justos e adequados os critérios e valores que os peritos

consideraram correctos perante a avaliação que, maioritariamente, fizeram, possuindo conhecimentos técnicos para esse efeito, donde, não assistir razão aos recorrentes, como já dissemos.

Depois, também, não vemos que a decisão recorrida, perante o carácter técnico da questão e tendo em conta a maioria da decisão dos Srs. Peritos, tivesse necessidade de se pronunciar de outro modo, já que não apurou que essa decisão tivesse por base critérios legalmente inadmissíveis ou

desadequados ou padecesse de qualquer erro ou lapso.

Pois como é sabido e vem sendo decidido a este propósito, sem prejuízo da força probatória da perícia ser fixada livremente pelo tribunal – art.º 389 do Cód. Civil -, no processo de expropriação a perícia assume uma particular importância – evidenciada até pela circunstância de se tratar de diligência obrigatória, nos termos do art.º 61, n.º 2 – de tal forma que podemos, seguramente, afirmar que as conclusões apresentadas pelos peritos –

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unanimemente ou por maioria, preferindo-se as que provêm dos peritos

nomeados pelo tribunal, pela maior equidistância relativamente às partes – só devem ser afastadas quando se constata que foram elaboradas com base em critérios legalmente inadmissíveis ou desadequados, ou quando se nos

deparam erros ou lapsos evidentes, que importem correcção.

E se é certo que o tribunal não deve aceitar acriticamente os elementos

fornecidos pelos Srs. Peritos, temos também por seguro que os Srs. Juízes não devem substituir-se aos peritos, cedendo à tentação de emitir juízos

valorativos de carácter eminentemente técnico, para o qual não estão – nem têm de estar – vocacionados.

Tudo isto, sem prejuízo de aceitar-se que há um grau mínimo de

subjectividade que é inerente à apreciação de cada um dos peritos, na

aplicação dos seus específicos conhecimentos científicos, e em função da sua experiência pessoal.

Pelo que, não merece reparo, o facto da Mª Juíza “a quo” ter dado prevalência ao relatório maioritário dos Srs. Peritos do Tribunal, sendo que o relatório de avaliação em causa se mostra conforme às normas legais ao caso aplicáveis e devidamente fundamentado, revestindo-se de cariz exclusivamente técnico, nomeadamente no tocante ao índice de construção.

Pois que, como é sabido, o julgador, nos seus poderes de livre apreciação da prova, decorrentes dos art.º 607º, nº 5 e 489º do Código de Processo Civil, só deverá afastar-se do laudo dos peritos, caso verifique que estes se afastaram da aplicação de critérios legalmente previstos ou que o laudo padece de erro manifesto ou que é insuficiente a fundamentação, o que não se demonstra no caso em apreço, devendo ainda, em regra, privilegiar-se o parecer dos peritos do tribunal por oferecerem maiores garantias de imparcialidade, neste

sentido, vejam-se os Acs. RL de 6.6.2006 e 17.3.2005 e da RG de 22.1.2003, entre muitos outros, in www.dgsi.pt.

Pelo que, como já dissemos, não vemos razões, nem temos argumentos que nos permitam pronunciar em sentido contrário ao decidido, quanto à questão em litígio, na sentença recorrida, não se vislumbrando que tenha sido violado qualquer dispositivo legal.

Acrescendo, que se verifica que a Mª Juíza “a quo” seguiu a orientação

subjacente à avaliação feita pelos peritos nomeados pelo tribunal, mas não o fez acriticamente, como à evidência decorre da fundamentação expressa na sentença, em sede de direito.

Nestes termos, mantêm-se a decisão por referência aos valores expressos no indicado laudo maioritário, não se demonstrando razões para alteração da mesma.

(19)

Improcedem, assim, todas as conclusões da apelação.

*

III - DECISÃO

Pelo exposto, acordam os Juízes desta secção em julgar improcedente a apelação e confirmar, na íntegra, a sentença recorrida.

Custas pelos recorrentes.

Guimarães, 1 de Junho de 2017

( processei e revi – art.º 131, n.º5 CPC)

( Rita Romeira ) (Elisabete Valente) (Heitor Gonçalves) ( Rita Romeira )

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