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Arq. Bras. Cardiol. vol.82 número4

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Arquivos Brasileiros de Cardiologia - Volume 82, Nº 4, Abril 2004

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Cardiom iopat ia Hipert róf ica em Gêm eos

M onozigót icos

Aloir Q. Araujo, Edmundo Art eaga, Charles M ady

São Paulo, SP

Instituto do Coração do Hospital das Clínicas - FMUSP

Correspondência: Aloir Queiroz de Araujo – InCor - Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 44 - 05403-900 - São Paulo, SP

e-mail: aloirqueiroz@cardiol.br Recebido para publicação em 3/3/04 Aceito em 25/3/04

Gêmeos monozigóticos (GM) com 19 anos de idade, portadores de cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva, sintomas iniciados em torno dos 13 anos (dispnéia CF II) e apresentação clínica similar (sopro sistólico de ejeção 3/6 na borda esternal esquerda, eletro-cardiograma com sinais evidentes de hipertrofia ventricular esquer-da). Nos dois pacientes, ao ecocardiograma, havia aumento mode-rado do átrio esquerdo, hipertrofia septal acentuada (>30mm) e gradiente obstrutivo severo na via de saída do ventrículo esquerdo, sem diferenças significativas entre ambos. Algumas discordâncias foram observadas nos aspectos bidimensionais (fig. 1). O Doppler colorido demonstrou dilatação importante de ramos coronarianos septais no gêmeo G (fig. 2), o que não foi evidenciado no gêmeo V. Na evolução, o gêmeo G teve piora importante da sintomatologia (angina e dispnéia), refratária à medicação, sendo encaminhado para realização de miectomia cirúrgica.

A cardiomiopatia hipetrófica é uma doença primária do mio-cárdio causada por um grande número de mutações em genes codificadores para proteínas sarcoméricas1, e o fenótipo pode sofrer

influência de genes modificadores2 e fatores ambientais. Assim,

as manifestações clínicas e morfológicas da doença são muito variadas, indo da ausência de sintomas até a insuficiência cardía-ca avançada, mesmo entre portadores da mutação em uma deter-minada família.

GM são considerados geneticamente idênticos (genes causa-dores e modificacausa-dores), e qualquer discordância fenotípica entre eles tem sido creditada à ação de fatores ambientais. Nos GM com cardiomiopatia hipertrófica, seriam esperadas expressões si-milares da doença, como observado por Maron e cols.3,

admitin-do-se pequenas diferenças. Entretanto, os casos relatados na litera-tura não dão sustentação a essa premissa. Há relatos de pares com fenótipos concordantes3-6 e discordantes4,7. Nossos pacientes,

em termos gerais, apresentaram a doença com o mesmo espec-tro, mas alguns aspectos ecocardiográficos e a evolução clínica, os diferenciaram parcialmente.

Os casos que estamos relatando e a revisão da literatura trazem mais dúvidas do que respostas a respeito dos mecanismos pato-genéticos implicados no desenvolvimento da cardiomiopatia hi-pertrófica. Não há uma explicação razoável para tantos

contras-tes encontrados, ou seja, pares de GM com apresentações muito similares e pares com expressões fenotípicas tão diferentes, in-cluindo severidade dos sintomas, grau e distribuição da hipertrofia, presença de obstrução, idade de apresentação e curso a longo prazo.

Podemos assumir que a base genética em GM é absolutamente idêntica? A maioria deles se desenvolve a partir da separação das células do embrião único no estágio de 2 células mas, em humanos, a separação pode ocorrer em estágios tão tardios quanto 7 dias de gestação, e o tempo em que ocorre a separação poderia deter-minar diferenças umbelicais e anastomóticas placentárias, levan-do a ambientes intra-uterinos diferentes8. Adicionalmente,

exis-tem discussões sobre mecanismos que resultariam em diferenças genotípicas e epigenéticas em gêmeos idênticos9, mas são

fenô-menos raros e não devem ser assumidos como causas coadjuvan-tes importancoadjuvan-tes das discordâncias aqui discutidas.

Fig. 1 - A e B) ecocardiograma bidimensional do gêmeo V; C e D) ecocardiograma bidimensional do gêmeo G. Em A e C (cortes transversos), nota-se hipertrofia mais difusa no gêmeo G. A seta indica uma displasia na parede inferior do VE do gêmeo V. Em B e D (cortes longitudinais), nota-se que os septos apresentam espessuras similares mas a PP do gêmeo G é mais hipertrofiada. VD- cavidade do ventrículo direito; AE- átrio esquerdo; AO- aorta; VE- cavidade do ventrículo esquerdo; SIV- septo interventricular; PP- parede posterior do VE.

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Cardiomiopatia Hipertrófica em Gêmeos Monozigóticos

1. Marian AJ, Roberts R. The molecular genetic basis for hypertrophic cardiomyopa-thy. J Mol Cell Cardiol 2001; 33: 655-70.

2. Marian AJ. Modifiers genes for hypertrophic cardiomyopathy. Curr Opin Cardiol 2002;17:242-52.

3. Maron BJ, Casey AS, Almquist AK. Hypertrophic cardiomyopathy in monozygotic twins. Circulation 2002; 105: 22-9.

4. Littler WA. Twin studies in hypertrophic cardiomyopathy. British Heart Journal 1972; 34: 1147-51.

5. Ciró E, Nichols PF, Maron BJ. Heterogeneous morphologic expression of genetical-ly transmitted hypertrophic cardiomyopathy. Two-dimensional echocardiographic analysis. Circulation 1983; 67: 1227-33.

Referências

6. Wylie L, Ramage A, MacLeod DC. Hypertrophic cardiomyopathy with shared mor-phology in identical twins: a case report. Scott Med J 2002; 47: 64-5 . 7. Clarck CE, Henry WL, Epstein SE. Familial prevalence and genetic transmission of

idiopathic hypetrophic subaortic stenosis. N Engl J Med 1973; 289: 709-14. 8. Singh SM, Murphy B, O’Reilly R. Epigenetic contributors to the discordance of

monozygotic twins. Clin Genet 2002; 62: 97-103.

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Fig. 2 – A) gêmeo G, corte longitudinal. Presença de dilatações coronarianas septais detectadas com Doppler colorido (setas)

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