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Continuação aquisição da propriedade imóvel e materiais seguintes. Como o nome está dizendo, acessão é acréscimo. É algo que incorpora

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Professor Firmino Carlos (21) 99255-4612

firmino.adv@gmail.com Face: Firmino Carlos

Continuação aquisição da propriedade imóvel e materiais seguintes. Queridos todos! Vamos lá:

Da Acessão Art. 1.248 NCC

Como o nome está dizendo, acessão é acréscimo. É algo que incorpora ao imóvel. Você é o proprietário de um imóvel e tem essa propriedade aumentada com uma acessão e você adquire a propriedade dessa acessão. O Código enumera 5 modalidades de acessão. Portanto, você pode adquirir a propriedade imóvel:

 pela formação de ilhas;

 pelo aluvião; fatos  pela avulsão; naturais  pelo abandono do álvio e

 através de plantações e construções feitas no seu imóvel por 3ºs. (fato humano)

As 4 primeiras hipóteses são aquisições que decorrem, geralmente, de fatos naturais. Já nas plantações e construções, a aquisição se dá por fato humano.

Das Ilhas – Art. 1.249, NCC

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corrente. E aí se pergunta: A quem pertencerá a ilha que se forma no curso de um rio? A 1ª preocupação é saber se o rio é público ou particular. O rio público é aquele cujas águas são navegáveis.

Todo rio navegável é um rio público, portanto, suas águas não pertencem a ninguém. Já os rios particulares são aqueles não navegáveis e que constam em terrenos particulares. As ilhas que se formam nos rios públicos também são públicas, pertencerão à União. Já as ilhas que se formam nos rios particulares pertencerão ao proprietário do imóvel onde o rio corta.

Então, se eu tenho uma fazenda cortada por um rio não navegável, e nesse rio forma-se uma ilha, ela passará a me pertencer, porque o rio corta a minha fazenda.

As coisas começam a se complicar quando as margens do rio pertencem a proprietários diferentes. Uma margem pertence a A e a outra pertence a B.

Por exemplo:

A

Ilha pertencente a

A

Pertence a

A

Linha Imaginária

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marginal. Para resolver o problema da ilha que vem cortada pela linha divisória, se estabelece um condomínio legal ou necessário (imposto por lei), cada proprietário ficará com a parte da ilha que couber na sua metade; e aí se aplicam as regras comuns de condomínio.

Uma outra situação complicada que o Código também responde é a seguinte

A

B C D

Linha Imaginária

E

F G H

ilha

Há vários proprietários cujos imóveis dão frente para a ilha. Como dividir esta ilha? Vai se estabelecer um condomínio e cada proprietário marginal (proprietário de margem) terá a propriedade da parte da ilha, que ficar na metade do rio correspondente, e na projeção da testada de seus lotes. Aí se aplica a chamada: projeção das testadas.

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resistindo até hoje. E lá tem todo um capítulo disciplinando a formação de ilhas. Aí os alunos perguntam: por que se repete isso no Código Civil? O Código Civil estabelece apenas os princípios gerais e o Código de águas desce a maiores detalhes.

Da Aluvião – Art. 1.250, NCC

É o 2º modo de adquirir a propriedade por acessão. O aluvião é um fenômeno lento, imperceptível, que as vezes leva décadas para se perceber. E consiste no depósito progressivo de materiais sólidos feitos por um rio num ponto de sua margem.

As águas do rio vai carregando arei, galhos de árvores, folhas, detritos etc. Num determinado ponto do rio, geralmente numa curva, esse material vai sendo depositado. No início nem se percebe, é preciso muito tempo para que se comece a formar ali uma prainha e depois este acréscimo se consolida chamado aluvião.

A quem pertencerá este acréscimo? Aí há uma diferença fundamental entre a formação de ilhas e o aluvião; é que na formação de ilhas é necessário saber se o rio é público ou particular, porque, como já foi dito, as ilhas formadas nos rios públicos também são públicas. Mas o aluvião sempre pertencerá ao proprietário marginal, ainda que se forme no Amazonas, no São Francisco, no Paraná ou em qualquer outro rio público.

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várias propriedades? Aplica-se o mesmo princípio das ilhas: a projeção das testadas.

A B C D aluvião

E mais uma vez se estabelece um condomínio legal ou necessário. Tanto quanto a formação de ilhas quanto o aluvião é um modo originário de adquirir a propriedade gratuito. Até porque no aluvião você não tem a menor possibilidade de saber a quem pertencia os materiais que formaram o aluvião, o mesmo em relação as ilhas.

Da Avulsão – Art. 1.251, NCC

É o 3º modo de adquirir a propriedade imóvel por acessão.

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O NCC, a todo momento, se refere a palavra “prédio”, significando terreno. Na linguagem comum, prédio é sinônimo de edifício, e terreno baldio para o leigo jamais será um prédio. Em direito prédio é um imóvel – vem do direito romano – predium – solo). O solo é o predium, portanto, para o NCC, quando ele se refere a prédio, estejam certos, tanto pode ser um terreno baldio quanto um edifício de 40 andares. Ambos são prédio para o direito. Mas isso é difícil explicar para o leigo. Para os romanos e para nós o solo é o prédio, o edifício é uma acessão ao prédio.

Então, a avulsão é um fenômeno repentino, brutal, instantâneo. Há outras enormes diferenças entre o aluvião e a avulsão. No caso da avulsão também tanto faz se o rio é público ou particular. Se o rio Amazonas arranca um pedaço de uma margem e vai se depositar em outra, o proprietário do terreno onde esse pedaço aderiu vai adquirir a propriedade sobre ele, mesmo que o rio seja público. Portanto, só na formação de ilhas é que vocês terão que ver se o rio é público ou particular. No aluvião e na avulsão na precisa se preocupar com isso.

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O NCC dispõe que se o proprietário que recebe o pedaço de terra não quiser pagar a indenização, terá que consentir na sua remoção. (parágrafo único do art. 1.251).

O proprietário prejudicado pela avulsão tem 1 ano para reclamar esta devolução ou indenização. Esse prazo é decadencial. Ou seja, se passar 1 ano da avulsão, o proprietário beneficiado pela avulsão pode dormir tranquilo porque nunca mais poderá ser incomodado para devolver os bens. (art. 1.251). Portanto, a aquisição na avulsão pode ser gratuita como onerosa, pois o proprietário beneficiado poderá ter que indenizar aquele que ficou prejudicado.

Então, o aluvião é sempre gratuito, pois não há como saber quem era o proprietário anterior, mas a avulsão pode ser gratuita ou onerosa.

Do Álveo abandonado – Art. 1.252, NCC

É o 4º modo de adquirir a propriedade por acessão.

Se o rio corre por um terreno particular o proprietário do terreno passa a ser proprietário do álveo abandonado, mesmo que o rio seja público.

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que mudam o curso do rio, como pode se dar por obra humana, como uma barragem.

Essas hipóteses de acessão estudadas até aqui não são muito frequentes e não tem um grande significado econômico. Porém, o 5º modo de aquisição da propriedade por acessão – plantações e construções – podem ter grande valor econômico e acontecem com muito maior frequência. É o caso de pessoas que constroem em imóveis alheios e aí precisa se saber a quem pertencem essa acessão.

É de maior importância prática o conhecimento da aquisição da propriedade de imóvel por plantações ou por construções.

1º - quando o sujeito constrói em terreno próprio, mas usando sementes ou materiais de construção alheios, ex.: no meu próprio terreno eu planto milharal do terreno do meu vizinho; ex.: construo casa no meu terreno, usando tijolos e material e cimento do meu vizinho ou de terceiro.

Pergunta-se, então:

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construiu em seu próprio terreno, usando de má-fé sementes ou materiais alheios, ou que não têm dono, mas não é ele o dono, que não estão abandonados, ele terá que indenizar pelo seu valor. E pagar perdas e danos.

Uma vez um aluno perguntou por um exemplo de perdas e danos, e eu dei a ele o exemplo de ter usado em seu próprio terreno sementes ou materiais de construção alheios, usando de má-fé, porque essas sementes ou materiais não existem mais no mercado. Aí, então, além de pagar a indenização das sementes e materiais alheios, há que se pagar por perdas e danos, porque, não existindo mais no mercado, o proprietário das sementes ou materiais de construção não teria condições de repô-los.

Essa é a grande diferença entre boa-fé ou má-fé na construção ou plantação em terreno próprio, usando sementes ou materiais alheios. Em ambos há que se indenizar pelo valor, mas na má-fé há que se responder por perdas e danos, que será apurado caso a caso, diante da situação concreta.

Como vocês vêem, essa hipótese é fácil de ser resolvida, e também não é muito frequente. Mais frequente e desafiadora é a 2ª hipótese, quando alguém planta ou constrói em terreno alheio. Mais uma vez a solução dependerá da boa-fé ou da má-fé de quem plantou ou construiu em terreno alheio.

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planta ou constrói em terreno alheio, mesmo que com suas sementes e seu material, perde a propriedade do que plantou ou construiu para o proprietário do solo. Agora, se eu construí ou plantei em solo alheio, de boa-fé, pensando que aquele solo me pertence ou que não pertence a ninguém, eu perderei a propriedade, mas poderei reclamar a indenização do valor das sementes ou do valor dos materiais da construção, portanto aquele que plantou ou construiu de boa-fé em terreno alheio recuperará o valor das sementes ou da construção. O código não fala claramente. Uma corrente mais tradicional entendia que só seriam indenizáveis apenas o material usado na construção e, por analogia, as sementes, mas a corrente mais moderna entendia que só seriam indenizáveis o material de construção, por analogia, as sementes, mas a corrente mais moderna entende que o espírito da lei foi indenizar tudo o que se dispendeu para a construção, incluindo aí a mão-de-obra sem a qual não se faria a construção, mas o código não dá uma resposta muito clara a esse respeito.

E, se o proprietário do solo não tiver recursos para pagar essa indenização? Já houve caso de se alienar o imóvel para se pagar a indenização o que pode realmente parecer injusto, mas não há outra solução possível.

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porque a causa justa é a má-fé de quem assim procedeu, portanto quem planta e constrói em terreno alheio, sabendo que o terreno é alheio, e me perdoem a comparação aparentemente grosseira, é o mesmo que, como diz o jargão, fazer filho em mulher alheia; portanto, se eu plantar ou construir em terreno, sabendo que e alheio, eu perco não só a propriedade do que plantei ou construí, como também perco qualquer indenização do que dispendi.

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compensam-se as más-fés; e qual seria a solução? A propriedade da construção passa para o proprietário do terreno, mas este terá que indenizar o construtor das despesas dos materiais, como se fosse uma compensação da má-fé (só os materiais ou só as sementes como indenização).

Só que o código passado parava aí, e não cuidava de uma hipótese muito mais comum, e, que por isso mesmo, gerava grande perplexidade. É quando alguém constrói ou planta, invadindo o terreno alheio, parcialmente, porque o código passado só tratava, quando a plantação ou construção era feita totalmente em terreno alheio.

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O novo código, em boa hora, enfrentou essa questão e, na minha, opinião, deu uma solução bastante razoável. Eu chamo a atenção de vocês para esta solução que resolverá diversos conflitos.

1ª preocupação: verificar se a invasão do terreno alheio foi inferior a 1/20 (um vigésimo) da área do terreno alheio - o código trata de pequena invasão - Art. 1258 CC/02. Se quem invadiu o terreno alheio, mas não ultrapassou um vigésimo, está de boa-fé; ele adquire a propriedade da parte invadida, e indenizará o proprietário pelo valor proporcional dessa área e a desvalorização do valor remanescente, ou seja, ele indenizará o proprietário vizinho pelo valor da parte invadida.

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remanescente; e se for de má-fé, pagará o décuplo do valor e ficará com a parte invadida.

2ª preocupação: a invasão do terreno alheio foi superior a um vigésimo, de grande monta. Aí é o art. 1259 CC/02. Aí já é um problema diferente. Mesmo de boa-fé, quem invadiu adquirirá a propriedade do solo invadido, mas agora pagará perdas e danos, ou seja, pagará o valor do solo invadido mais perdas e danos, e essas perdas e danos correspondem à desvalorização maior do próprio imóvel a dez vezes a sua inviabilidade econômica. Muitas vezes o proprietário vizinho não pode mais construir em seu terreno, porque não lhe sobra mais área suficiente. Então, aí, não basta indenizar a desvalorização; aí entram perdas e danos que, é claro, serão apuradas com perícia. Aí é interessante, porque, mesmo de boa-fé, o invasor pagará por perdas e danos. E se fosse de má-fé? O legislador nunca iguala boa-fé com má-fé. A solução é draconiana. Quem construiu mais de um vigésimo de má-fé terá que demolir o que construiu. Não adquirirá a propriedade. Aí o vizinho poderá exigir a demolição do que invadiu o seu terreno.

Vejam, então, que o legislador deu respostas a todas as hipóteses. Podemos, até, não concordar com as soluções adotadas. Mas, pelo menos, agora não há mais omissão. Agora o juiz tem no código as soluções para esses problemas. Caberia a pergunta: por que, mesmo sendo invasor de boa-fé, pagará perdas e danos. O legislador entendeu que, se você foi negligente em não obedecer convenientemente a divisa, numa pequena invasão isto pode ter resultado de uma confusão dos marcos.

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AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE MÓVEL

Nós já dissemos que o código trata de maneira diferente a aquisição da propriedade imóvel e da propriedade móvel. A aquisição da propriedade imóvel é cercada de muito maior cuidado, muito maior controle, maior rigidez das solenidades. Por isso, o código separa os modos, maneiras de aquisição.

O primeiro deles é a USUCAPIÃO, que é comum, ou seja, pela usucapião tanto se pode adquirir a propriedade móvel quanto a propriedade imóvel, e os requisitos são, rigorosamente, os mesmos, a não ser quanto ao tempo.

A aquisição da propriedade móvel pela usucapião também depende da posse contínua da coisa móvel, e de uma posse mansa e pacífica, e também exercida “animus domini”. São, portanto, os mesmíssimos requisitos exigidos para os imóveis, ou seja:

. posse contínua;

. posse mansa e pacífica; . exercida com animus domini.

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(dez) anos, passa-se para 5 (cinco) anos e 3 (três) anos. No mais, todos os comentários que fiz para os imóveis se aplicam para os móveis.

O segundo modo de adquirir a propriedade móvel é a OCUPAÇÃO. É o modo de adquirir a propriedade das coisas móveis que nunca pertenceram a ninguém ou estão abandonadas, ou seja, a res nullius e a res derelicta:

- res nullius = coisa de ninguém

- res derelicta = coisa abandonada.

“Res nullius” são aquelas coisas móveis que nunca tiveram proprietário, exemplo: concha marinha que o mar atira na praia, um animal selvagem, são coisas que nunca pertenceram a ninguém – res nullius.

Já, coisas abandonadas são aquelas que já pertenceram a alguém, já tiveram dono, mas que não mais se interessou em mantê-las em seu patrimônio, preferiu então renunciar à propriedade, abandonando essas coisas. Elas passam a ser “res derelicta” - coisas abandonadas - que não se confundem com coisas extraviadas que são suscetíveis de ocupação. As coisas extraviadas continuam tendo proprietário. O proprietário não tinha a intenção de demitir-se da propriedade, portanto a coisa extraviada continua a pertencer ao seu titular, por isso não são suscetíveis à ocupação.

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para minha casa para enfeitar um móvel, eu acabei de ocupar essa concha, e adquirir a sua propriedade. Ela, que antes desse ato jurídico, não pertencia a alguém, passou agora a pertencer a mim. Esse ato jurídico se chama, tecnicamente, ocupação. Na linguagem comum, a palavra ocupação tem outro significado, e muito mais usado para imóveis, quando é exatamente o oposto. A ocupação só se verifica, em relação aos móveis. Não há aquisição de propriedade imóvel por ocupação.

A ocupação é um ato jurídico “stricto sensu” e material. É um ato jurídico, e, não, um negócio jurídico, porque o resultado da manifestação da vontade do agente já está previsto em lei, e esse resultado é a aquisição da propriedade. Toda vez que a vontade manda produzir resultados já previstos em lei, isso é um ato jurídico e, não, um, negócio jurídico, portanto a ocupação é um exemplo típico de ato jurídico e material, e, não, participativo, porque, na ocupação, a lei não exige que o ocupante leve ao conhecimento de terceiros a sua vontade, ou seja, eu posso abaixar-me, pegar a concha, levar para casa, adquirindo-lhe a propriedade, não tendo que comunicar isso a quem quer que seja. Eu não estou proibido de fazê-lo, mas também não estou obrigado a fazê-lo. Isso é que se chama ato jurídico material. Já o ato jurídico participativo é aquele que se pratica com a intenção de comunicá-lo a terceiro, de levá-lo ao conhecimento de terceiro, por exemplo: a citação do réu, de uma interpelação de devedor. Também a ocupação traduz um modo originário e gratuito de adquirir a propriedade móvel:

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transferi-la ao adquirente. Se ela estava abandonada, no momento em que ela foi abandonada, passa a não ter mais proprietário, então é um modo originário de adquirir a propriedade;

Gratuito - porque é óbvio que quem está ocupando uma coisa que nunca pertenceu a alguém e está abandonada não tem algum preço a pagar, nenhuma contraprestação a pagar por ela, até porque não teria a quem pagar.

Então, a ocupação é um ato jurídico material, e uma forma originária e gratuita de adquirir a propriedade móvel. Ela não exige nenhuma outra solenidade; basta que eu pegue a coisa móvel e leve para casa, acrescentando-a acrescentando-ao meu pacrescentando-atrimônio, incorporacrescentando-ando acrescentando-ao pacrescentando-atrimônio.

Mas nem todas as coisas que não têm dono são passíveis de ocupação, são objeto de ocupação. Há coisas que eu não posso ocupar, por exemplo: poços minerais... determinadas coisas móveis que, por interesse científico, cultural, ou até por segurança nacional, não podem pertencer a particulares. Então, se na floresta eu encontrar um fóssil, eu não posso, simplesmente, pegá-lo e levá-lo para casa; eu terei que entregá-lo a uma autoridade pública, dado o interesse cultural de que essa coisa se reveste. Por isso é que o código diz: quem se assenhorear de coisa sem dono, tão logo lhe adquire a propriedade, não sendo essa ocupação defesa por lei. É o Art. 1263 CC/02. Isso quer dizer que há coisas que não pertencem a alguém, mas que também não podem ser ocupadas.

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Se ela está extraviada, eu não posso ocupá-la, ao contrário, eu tenho que diligenciar e descobrir o proprietário e devolvê-la.

RESPOSTA: é de Ihering. Ele disse que só há um meio de se chegar a uma conclusão; é pela experiência comum , dos fatos da vida. Aquilo que Ihering chamou de situação de normalidade da coisa perante o meio em está inserida. É aí que Ihering dá aquele famoso exemplo do viajante que segue por uma estrada, e passa diante de um campo de feno, arado; e, pela margem da estrada, um molho de feno amarrado, mas sem alguma placa indicando quem é o proprietário, sem ninguém ao lado para guardar. Diz Ihering que o homem normal não toca nesse molho de feno; ele sabe que não está extraviado, nem está abandonado. Ele vê que, se ele está diante de um campo arado, ele pertence ao proprietário do campo, que deve ter acabado de colhê-lo, e deve estar aguardando transporte; então ele percebe que aquele molho de feno está em situação de normalidade. É normal que, diante de um campo de feno arado, se encontrem molhos de feno amarrado, defronte dele.

Continua Ihering: o homem continua a caminhar no campo, e passa diante de uma casa em construção e vê, na margem da estrada, um monte de tijolos, sem nenhum cartaz dizendo a quem pertencem aqueles tijolos; não há alguém ao seu lado, dizendo para guardá-lo. O homem normal continua o seu caminho sem tocar nos tijolos; ele sabe que eles não estão nem abandonados nem extraviados; eles estão em situação de normalidade; ele sabe que, diante da obra de uma casa em construção, é normal montes de tijolos. A presunção é que os tijolos pertencerão a quem estiver efetuando a construção.

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não tocou nos tijolos. Imediatamente, ele vai se abaixar, vai pegar a cigarreira, e vai procurar o seu proprietário, porque o homem normal sabe que aquela cigarreira não está em situação de normalidade, porque cigarreira de prata, repetindo Ihering, não é para estar jogada na estrada, e, sim, para ser guardada em uma gaveta, ou no bolso do seu proprietário. Se ela está na margem da estrada é porque ela está extraviada. Aí ele percebe que a cigarreira de prata está extraviada. O homem continua a caminhar na estrada e percebe algumas mangas no chão caídas de uma árvore de um terreno particular. Ora, essas mangas pertencem, em princípio, ao proprietário da mangueira. Mas, como elas estão caídas na estrada, e o proprietário, ao que tudo indica, não se interessou em colhê-las, esse homem normal não tem dúvidas em recolhê-las, e levá-las para casa, porque o homem percebe que as mangas do chão estão abandonadas, por causa do seu pequeno valor. O proprietário delas não se deu ao trabalho de recolhê-las. Então, o homem normal pode ocupar as mangas, e vai procurar o proprietário das cigarreiras. São exemplos de Ihering.

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Então, quanto à ocupação, nós já examinamos o seu significado e as suas conseqüências na aquisição da propriedade.

Vejam como o direito dá significado jurídico a todos os atos humanos. O leigo não vislumbraria o ato jurídico no fato corriqueiro de um sujeito andando na praia, abaixar-se, pegar uma concha e colocá-la no bolso. Já o advogado diria: eis a ocupação; eis a aquisição por ocupação de uma propriedade móvel.

Em um ônibus, alguém pegar uma carteira perdida: “Olha! Uma descoberta!”. Num supermercado, a dona de casa escolhe e pega um tomate do balcão: “Olha! A concentração de um débito; a obrigação de dar coisa incerta”. A dona de casa diz: “Eu não estou comprando tomates; estou concentrando débitos na obrigação de dar coisa incerta”. Há uma linguagem jurídica própria para os atos humanos. Passa um cachorrinho: “Olha! Lá vai um semovente”.kkkkkkkkkkkkkkkk rindo alto.

Vimos, até aqui, dois modos de adquirir a propriedade móvel: - pela usucapião

- pela ocupação.

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definição de tesouro. O que é um tesouro que pode ser objeto de achado? É o depósito antigo de coisas preciosas.

É o 1º requisito: tesouro é composto de coisas preciosas, e antigas. Antiga pode ser 500 (quinhentos), 100 (cem) anos; não é fixado; isso faz parte da experiência comum. Então, é o depósito antigo de coisas preciosas.

O 2º requisito é que esteja oculto, pelo menos tem que estar demonstrado que a intenção do dono é escondê-lo. Por isso é que, normalmente, todo tesouro é encontrado escondido, enterrado, ou no fundo de cavernas.

O outro requisito é que não seja possível identificar o dono; não haja notícia do dono; não haja memória do dono; não haja notícia de propriedade. Isso é que é tesouro. Então, um depósito, antigo, de coisas preciosas, oculto, de cujo dono não haja memória. Se for possível identificar o dono, ou seus herdeiros, será uma coisa extraviada, terá de ser devolvida. Só será tesouro suscetível de apropriação, se não for possível, ou não houver a memória do dono. E aí? O que vai acontecer com quem achar um tesouro? Aí o código dá as regras:

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o tesouro é um empregado do dono do solo, ou alguém incumbido por ele de procurar o tesouro, aí, é claro que o tesouro pertencerá, inteiramente, ao proprietário do solo, porque quem achou estava se diligenciando para esse fim, a mando do proprietário do solo. É o caso, por exemplo:

-> O proprietário de uma fazenda teve uma indicação, porque achou um pergaminho que indicava que havia um tesouro naquele terreno, lá enterrado. Então, ele contrata 10 (dez) homens para cavar o terreno todo para encontrar o tesouro, e um deles encontra. Ele não pode reclamar metade do tesouro, porque não o encontrou casualmente, ele encontrou porque ele estava contratado pelo proprietário do solo para encontrá-lo. É por isso que o artigo anterior fala “casualmente”. Da mesma maneira, se eu não estava autorizado pelo proprietário a procurar o tesouro, se eu entrei no terreno alheio sem o conhecimento do proprietário, e, lá, eu acho o tesouro, ele pertencerá inteiramente ao proprietário do solo.

Nota 1: o “casualmente” quer dizer: sem oposição do proprietário, porque, se há oposição do proprietário ou sem o conhecimento do proprietário, o tesouro pertencerá integralmente ao proprietário do solo.

Nota 2: o caso concreto vai depender sempre do juiz. O novo código permite ao juiz esta maior discricionariedade. Diante do caso concreto, com as regras da experiência comum, o juiz decidirá se aquilo foi um achado casual, sem oposição do proprietário, ou se, ao contrário, o descobridor infringiu a confiança do proprietário, entrou sorrateiramente no imóvel.

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aforado, o tesouro pertencerá metade a quem o encontrou e metade ao foreiro, e, não, ao proprietário. É uma regra diferente. Se o terreno é aforado, e alguém ali encontrou um tesouro, casualmente, a metade do tesouro será do descobridor, e a outra metade é do foreiro, e, não, para o proprietário do terreno.

Quanto à questão do fundo do mar, vou acabar com desenho animado, com infância de vocês kkkkkkkk, na realidade, não são tesouros, porque resultam de naufrágios, não houve a intenção de ocultar, até porque o fundo do mar tem legislação própria; quando é no fundo do mar, pertence à União; quando é em mar territorial, então seria metade do descobridor, e metade da União. Quando em mar livre, ai é de quem descobriu.

O outro modo de adquirir a propriedade móvel é a TRADIÇÃO. É importantíssimo! Acho até que é o modo mais comum de todos. A tradição é o modo de se adquirir a propriedade móvel por ato intervivos:

- compra e venda

- permuta

- dação em pagamento - doação

- alienação (onerosa ou gratuita).

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Aquisição de bem móvel por ato intervivos: basta a tradição;

Aquisição de bem imóvel por ato intervivos: além da tradição, é preciso o registro do título.

Há várias espécies de tradição, transferindo a propriedade. A primeira é a TRADIÇÃO REAL. Outros preferem chamar de TRADIÇÃO FISICA. É a coisa que é transferida fisicamente às mãos do adquirente. É a coisa de pequeno volume, de pequena massa corporal, por exemplo: este código. Se eu vender este código aqui à nossa colega, eu transferirei a propriedade simplesmente entregando em suas mãos, e ela pode tomá-lo em suas mãos. O tamanho e o peso do código permitem isso.

Assim, para as coisas pequenas em massa e volume, costuma-se fazer a tradição física, real, e, quando eu passo a coisa para as mãos do adquirente, com esse simples condão, eu estou transferindo a propriedade, não precisa mais nada. Não precisa uma declaração formal, não precisa de um registro. O puro gesto de entregar a coisa ao adquirente faz com que ele adquira a propriedade.

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chaves e diz: “Olha, está lá na garagem”; é um gesto inequívoco, eu não preciso entregar o próprio carro, ou as chaves da casa, embora a casa não seja móvel. É imóvel, mas também mostra que essa tradição não transfere propriedade com imóvel, mas, sendo coisa móvel, transfere. Então, a chave do carro transfere a propriedade do carro, mas a chave da casa, não.

Também colocar a coisa à disposição do adquirente é uma tradição ficta. Vou dar outro exemplo: eu vendi o carro que está na garagem de minha casa, e vendi aqui nesta sala. As chaves estão na ignição do carro, ou no quadro das chaves da garagem, eu não tenho as chaves comigo. Então, eu pego um cartão e escrevo, dizendo assim: “Senhor porteiro, o portador está autorizado a levar o meu carro, que eu acabei de vender nesta data”; e entrego o cartão. Isso é tradição ficta, porque eu já coloquei a coisa à disposição do adquirente. É um gesto inequívoco de transferir a coisa. Estou autorizando a pessoa a apanhar a coisa e carregá-la. Então, não é preciso nem eu pegar as chaves e entregá-las. Basta um bilhete dirigido a quem tem a guarda das chaves, autorizando entregá-las. Agora, tem que ser um gesto inequívoco, de transferir a propriedade.

A tradição também pode-se dar pelo CONSTITUTO POSSESSÓRIO. É o que diz o Art. 1267, § único., por exemplo: eu vendo um automóvel e combino com o comprador de continuar usando mais uns dias, mas transfiro desde logo a propriedade. É o que se chama tradição pelo constituto possessório.

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compra e venda). Tem nada a ver com tradição. Muita gente pensa que a compra e venda só se aperfeiçoa quando se entrega a coisa vendida, e se paga o preço. Não é nem uma coisa nem outra. A compra e venda se aperfeiçoa no momento do consenso. A entrega da coisa e o pagamento do preço são atos da execução do contrato, e não do nascimento do contrato. Quando o vendedor entrega a coisa ao comprador, ele não está fazendo nascer o contrato de compra e venda, ao contrário, ele está fazendo a execução do contrato de compra e venda; da mesma forma, quando o comprador paga o preço, ele não está fazendo nascer o contrato de compra e venda, ao contrário, quando o comprador paga o preço, ele está executando contrato de compra e venda, porque contrato de compra e venda, assim como contrato de doação, e o contrato de permuta, eles nascem no momento do consentimento, ou seja, eles nascem no momento da aceitação da proposta.

Finalmente, os últimos modos de adquirir a propriedade móvel são: - a especificação;

- a confusão; - a comistão; - a adjunção.

Vou fazer uma revelação: a figura da comistão, que existe desde os romanos, e que estava lá no código de Beviláqua, e que sempre se chamou comistão, por passe de mágica, passou a se chamar comissão, mas é um erro material; continua sendo comistão. Risquem do código:

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Quando você está trabalhando uma matéria prima de espécie nova, ex.: você está trabalhando a argila, e resulta daí a cerâmica ou um vidro; você está trabalhando a areia e resulta daí um cristal. Isto é uma especificação: você parte de uma matéria prima, e chega a uma espécie nova. É evidente que, se a matéria prima é sua, a espécie nova também será. O problema é quando eu construo a cerâmica com a argila do vizinho: o proprietário da cerâmica ou é o proprietário da argila? O problema é o mesmo que quando eu construo imóvel no terreno do vizinho. O assunto é resolvido pelo Art. 1269 CC/02, que privilegia o trabalho o trabalho do especificador, valorizando o trabalho humano: a arte, a técnica, o engenho, vejam que a matéria prima só em parte era do especificador. Então, a cerâmica é do especificador, se não puder se reduzir à forma original. Agora, toda a matéria-prima é alheia. Aí o especificador tem que indenizar pelo valor da matéria-prima, se agiu de boa-fé. Agora, se agiu de má-fé e for impraticável retornar à forma original, a propriedade passará para o proprietário da matéria prima. Se eu sabia e usei o barro do vizinho, a peça será dele.

Chamo a atenção de vocês para o § 2º do Art. 1270 CC/02, que trata especificamente da pintura em relação à tela; ou a escultura em relação à matéria prima; ou o escrito em relação ao papel. A quem pertencerá o quadro pintado, a estátua esculpida, o escrito: aos proprietários da tela, do mármore, do papel? É um problema seriíssimo, porque entra o trabalho intelectual.

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especificação tem valor muito superior à matéria-prima: o quadro é do pintor, e este terá que indenizar o dono do hotel, por ser dono da tela matéria-prima, mas é uma exceção.

CONFUSÃO

O termo CONFUSÃO tem dois sentidos, em Direito: 1. confusão no direito das obrigações;

2. confusão nos direitos reais.

A confusão no direito das obrigações é quando as qualidades de credor e devedor se fundem em uma mesma pessoa, ou seja, a mesma pessoa passa a ser credora e devedora dela mesma. Eu passo a dever a mim mesmo. Isso é uma confusão da obrigação. E o resultado jurídico da confusão da obrigação é a extinção da obrigação sem o pagamento, porque não haveria qualquer interesse econômico em alguém pagar-se a si mesmo. Em nada alteraria o seu patrimônio, e o direito não se compadece com atos inúteis. É óbvio que a confusão das obrigações só surge por um fato subsequente ao nascimento da obrigação. É óbvio, pois eu não posso, ao longo do dia, pegar um papel e escrever que “eu pagarei a mim mesmo R$ 1.000,00, ao final do dia”. A confusão ocorre sempre depois que a obrigação já nasceu.

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das obrigações, pois é claro que ele não vai pagar os dez mil a ele mesmo, logo extingue-se a obrigação sem pagamento.

Outro exemplo: o Banco A é credor do Banco B de 1 milhão. Antes do vencimento, o Banco A incorpora o Banco B, assumindo o seu ativo e o seu passivo; só que no passivo do Banco B está a dívida de 1 milhão com o Banco A; então, o Banco A passou a dever a ele mesmo; também se resolve a obrigação sem o pagamento. Para aquele 1º exemplo, lembro que, quando minha filha me pede 10 mil emprestados, eu digo: “Filha, se eu jamais vou ver a cor desse dinheiro, porque você jamais terá a intenção de pagá-lo, por ser minha única herdeira, e, como você é advogada, o que você me pede não é um empréstimo, é uma doação.” A não ser que eu fosse judeu, como aquele do caso Jacob, que emprestou ao seu filho herdeiro Isaac, porque judeu não doa, nem dá, nem ao filho herdeiro, e o fez com 10% de juro, e, quando soube que o filho não ia suportar os juros, morreu de enfarte. É pura brincadeira. Que me desculpem os judeus, pois eu não tenho qualquer tipo de preconceito racial, nem religioso, nem de cor, nem qualquer preconceito discriminatório.

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Ocorre a confusão à luz dos direitos reais, quando dois líquidos se misturam, não podendo mais ser separados; exemplo: água e álcool. É claro que, se a água e o álcool pertencem a uma mesma pessoa, a confusão da mistura água e álcool também pertencerá à mesma pessoa. O problema é quando a água e o álcool não pertencem à mesma pessoa. E o que será a comistão?

A COMISTÃO é o mesmo que a confusão, só que, ao invés de ser a mistura de 2 líquidos que não mais podem ser separados, é a mistura de dois sólidos que não mais podem ser separados, como o bronze. O bronze é uma comistão, porque é a mistura do níquel com o cobre. Uma vez fundidos, nunca mais se separam.

E ADJUNÇÃO? É quando dois sólidos se misturam, não mais podendo se separar, mas sendo possível distingui-los, exemplo: camadas distintas de minerais, como gelatina, com camadas coloridas.

REGRA GERAL: as coisas pertencentes a diversos donos: a) confundidas, b) misturadas, ou c) adjuntadas, sem o consentimento deles, continuam a pertencer-lhes, sendo possível separá-las, sem deterioração - art. 1272 CC/02.

1ª REGRA: não sendo possível a separação das coisas, ou exigindo dispêndio excessivo, subsiste indiviso o todo, cabendo a cada um dos donos quinhão proporcional ao valor da coisa com que entrou para a mistura ou agregado - Art. 1272, § 1º CC/02.

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3ª REGRA: Se a confusão, comistão ou adjunção se operou de má-fé, à outra parte caberá escolher entre: 1) adquirir a propriedade do todo, pagando o que não for seu, abatida a indenização que lhe for devida, ou 2) renunciar ao que lhe pertencer, caso em que será indenizado - Art. 1273 CC/02.

4ª REGRA: Aplicam-se as regras acima, mesmo que a união de matérias de natureza diversa - Art. 1274 CC/02.

Este assunto ocorre pouco, mas vocês têm, na norma, com os Artigos 1272 até 1274 do CC/02, toda a aplicação técnica da lei, com clareza, a solução técnica.

PERDA DA PROPRIEDADE

Como a propriedade é um direito, é importante saber como se perde esse direito. Para perder a propriedade, os modos são os mesmos, quer propriedade móvel, quer propriedade imóvel (embora diferentes na aquisição).

ALIENAÇÃO - CUIDADO !!! Nem alienar é sinônimo de vender, nem adquirir é sinônimo de comprar, embora vender seja uma forma de alienar, mas doar também o é. Isto porque tanto a alienação quanto a aquisição podem ser onerosas ou gratuitas:

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ALIENAÇÃO ONEROSA - É quando você transfere uma coisa ou direito a terceiro, mediante uma contraprestação, exemplo: compra e venda; o alienante transfere mediante contraprestação, ao vender; e o adquirente também mediante contraprestação, compra. Então, na compra e venda, o vendedor faz uma alienação onerosa, e o comprador faz uma aquisição onerosa; já na

ALIENAÇÃO GRATUITA E NA AQUISIÇÃO GRATUITA - a transferência se dá sem contraprestação, então o doador faz uma doação gratuita, e o donatário adquire, gratuitamente, a coisa doada.

Então, perde-se a propriedade (móvel ou imóvel) por alienação, quer seja onerosa ou gratuita. Por uma questão de hermenêutica, quando o código não discrimina, você não poderá fazê-lo. Então, o Art. 1275, I CC/02 diz alienação, não diz se gratuita ou onerosa, então é para ambas as formas.

A alienação é a forma de se perder a propriedade por ato intervivos. Aí se incluem compra e venda, doação, permuta, dação em pagamento, em todas essas hipóteses perde-se a propriedade por alienação. São chamados atos translativos da propriedade. Isso tanto se aplica para bens móveis quanto para imóveis. O que varia é a forma. Se se tratar de imóveis de valores superiores a 30 salários mínimos, essa alienação tem que ser por instrumento público, sob pena de nulidade; quer seja coisa móvel ou imóvel, com valor inferior a 30 salários mínimos, a alienação pode ser feita de qualquer forma – universal.

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Vamos examiná-los em conjunto. Muita gente confunde renúncia com abandono. O leigo não saberia distinguir: quando eu estou renunciando a minha propriedade de quando eu estou abandonando a minha propriedade, porque em ambos os casos o resultado é a perda da propriedade, e em ambos os casos eu tive a intenção deste resultado: desfazer-me da propriedade, emitir-me da propriedade.

Se eu levar ao conhecimento de vocês a minha intenção de desfazer-me do livro da estante, estarei renunciando a minha propriedade.

Já no abandono o proprietário se demite da propriedade sem comunicar a terceiros a sua intenção. É um ato puramente material.

Diferença:

RENÚNCIA - É ato participativo (com conhecimento a terceiros); ABANDONO - não se destina ao conhecimento de terceiros.

Muita gente acha muito estranho: “Pode-se renunciar à propriedade de um imóvel?” Sim ! Claro que pode! Mas não é simples. Tem-se que dirigir ao oficial do registro de imóveis um requerimento expresso, dizendo isso: “Fulano de tal, proprietário do imóvel da rua tal, nº tal, objeto da matrícula nº tal, vem pela presente manifestar/apresentar sua renúncia à propriedade tal”.

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onde se encontra situado. Se não estiver na posse de terceiro, três anos depois ele será arrecadado pelo Município, passará a integrar o patrimônio do município onde estiver situado.

É o que diz o Art. 1276 CC/02. Vejam o p. único do Art. 1275 CC/02. Só pode ser renunciado o imóvel que estiver registrado no Registro de Imóveis.

Já o abandono, não! O imóvel não precisa estar registrado, porque o proprietário não comunica isso.

Na prática, há uma dificuldade em identificar se um imóvel está abandonado, porque o proprietário não colocou uma placa, dizendo: “abandonei este imóvel”, ou: “este imóvel está abandonado”; você, simplesmente, se desinteressa da propriedade, porque o abandono é um ato material. E aí há alguns indícios que levam o homem comum à convicção de que o imóvel foi abandonado. O fato de não mais pagar os impostos é um indício claro. Em segundo lugar, deixar que o imóvel se deteriore, cresça o mato, se torne terreno baldio, ou a construção ali existente se deteriore (se ele tem cônjuge, ele só renuncia à meação dele). É evidente que é só a meação dele, como ocorre na doação, ele só doa a meação dele. Já, se ele não tem herdeiros, ele renuncia ao terreno todo.

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A alienação decorre do poder ou da faculdade de dispor da coisa. Quando falamos sobre a propriedade e as suas faculdades, dizemos que são 3 as faculdades do proprietário: as de usar a coisa; tirar dela as suas utilidades econômicas, ou seja, gozar da coisa e dispor da coisa. E, como o proprietário dispõe da coisa, é óbvio que ele poderá aliená-la; é evidente que há exceções a essa regra. Há coisas que são inalienáveis das quais o proprietário não pode dispor.

Mas a regra geral é, ao contrário, a disponibilidade que permite ao proprietário alienar a coisa. A alienação, portanto, é o 1º modo de se perder a propriedade. O 2º é a renúncia que é um ato jurídico participativo em que o proprietário resolve demitir-se do direito de propriedade comunicando sua vontade a terceiros.

Quando se trata de imóvel, essa renúncia tem que ser levada ao conhecimento do Oficial do Registro de Imóveis para o competente cancelamento da matrícula. Renunciada a propriedade sobre o imóvel, o Município onde ele se situa depois poderá arrecadá-lo para incorporá-lo ao seu patrimônio.

O 3º modo de se perder a propriedade é o abandono, que se distingui da renúncia, porque o abandono seria um ato jurídico material, e não se destina ao conhecimento de terceiros. O proprietário que abandona a coisa que lhe pertence, não está interessado de que o fato chegue a conhecimento de outro.

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se exerce a propriedade, perde-se o próprio direito. Esse perecimento da coisa pode se dar pela sua destruição física. Pode se dar porque ela está em local conhecido, mas em que não possa mais ser alcançada, como as coisas que caem, por exemplo.

Pode se dar porque a coisa é posta fora do comércio, como é o caso de um terreno à beira mar, que seja coberto definitivamente pelo avanço das águas, o terreno passa a ficar submerso, e por isso perde-se a propriedade.

Finalmente, o 5º modo é a desapropriação, que é um dos exemplos mais típicos de um fato do príncipe, um ato de Estado, de poder, no qual sacrifica-se um direito individual em prol do interesse coletivo, do bem comum. Essa desapropriação, entretanto, se faz mediante justa indenização do expropriado para compensar o MINUS patrimonial que a desapropriação representa.

A desapropriação não se confunde com a requisição, porque na desapropriação, o poder expropriante só pode se imitir na posse da coisa expropriada após o depósito da indenização que pretende pagar. Enquanto que na requisição, dispensa-se esse depósito, mas por isso mesmo é que a requisição só se admite no Código Civil passado em tempo de guerra, nesse NCC de eminente perigo social.

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O § 2º do art. 1.276, CC, nos dá um critério para aferir essa intenção do abandono. “PRESUMIR-SE-Á DE MODO ABSOLUTO A INTENÇÃO A QUE SE REFERE ESTE ARTIGO (que é o artigo que trata do abandono), QUANDO CESSADOS OS ATOS DE POSSE, DEIXAR O PROPRIETÁRIO DE SATISFAZER OS ÔNUS FISCAIS.” Cessados os atos de posse, ou seja, o proprietário não mais exerce a posse, não pratica, portanto, qualquer ato de posse que denote a sua intenção de se valer da propriedade, porque, como eu já disse, a posse é a otimização econômica da propriedade, é através da posse que o proprietário tira da coisa as suas utilidades econômicos.

Ora, se o proprietário não pratica mais nenhum ato de posse, ele não está tirando da coisa qualquer proveito econômico, e se ainda por cima, deixa de satisfazer os ônus fiscais, cessa o pagamento dos tributos, taxas que recaem sobre a coisa, aí então, se presume o abandono.

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Feitos estes comentários, complementando a aula anterior, podemos tratar dos direitos de vizinhança, que constitui um tema sempre provocante e muito ventilado em provas.

Direitos de vizinhança

Como o nome está dizendo direitos ou, como preferem alguns, deveres de vizinhança, eu tenho a impressão de que a expressão deveres de vizinhança traduziria melhor o instituto do que direitos de vizinhança, mas como o nome está dizendo, são relações jurídicas que disciplinam a vizinhança, quer dizer, são direitos que se concedem a proprietários ou possuidores de imóveis vizinhos.

A sua criação pela lei decorre do fato de que a experiência nos confirma de que a vizinhança é sempre turbulenta, conflituosa. A proximidade física das pessoas traz extraordinários benefícios, mas também perigosas ameaças, porque cada um é uma individualidade, sentimentos diferentes ideais diferentes, e essas diferenças individuais costumam acentuar-se com a proximidade física que muitas vezes elas explodem em conflitos.

Então, a ordem jurídica percebeu que a vizinhança poderia reconjuntar um fator de desequilíbrio social, fator gerador de turbulência, violência, daí a necessidade de criar certas condutas obrigatórias que mitiguem o risco desses conflitos, e este é o objetivo desse direito de vizinhança, tornar mais civilizada a relação de vizinhança, mais amena.

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humanidade como protótipo da sabedoria, perguntou-se então ao sábio Rei Salomão, qual seria o pior castigo que se poderia dar a uma pessoa? E ele imediatamente respondeu: DAR-LHE UM MAU VIZINHO, porque o vizinho temos que tolerar a cada dia, o parente podemos passar meses ou anos sem ver, mas o vizinho temos que ver e conviver diariamente. Portanto, não há nada mais estressante do que a convivência diária com um mau vizinho.

Por que o Código Civil se preocupou tanto em estabelecer regras de vizinhança, que para muitos leigos seria apenas normas sociais, de boa educação, pertencendo, portanto, ao mundo das relações sociais? Porque o legislador percebeu a importância dessas regras para se manter a paz social, e essa é a função precípua do direito: assegurar a paz social.

Se todos os brasileiros conhecessem esses direitos e deveres de vizinhança, muitos dos conflitos que hoje deságuam nas delegacias policiais, nos hospitais e, as vezes, até nos cemitérios, seriam evitados.

Observação importantíssima para efeito de concurso, de prova...etc blá blá blá, porque já foi perguntado pelo menos 3 vezes nos últimos 5 anos, é quanto a NATUREZA JURÍDICA DOS DIREITOS DE VIZINHANÇA. Seriam direitos pessoais, portanto, obrigacionais? Ou, ao contrário, seriam direitos reais? Qual a natureza jurídica do direito de vizinhança?

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extremamente benevolente ao fazer uma pergunta tão fácil de responder, porque muitos abrem o Código Civil e ao encontrar a disciplina dos Direitos de vizinhança no Livro do Direito das Coisas, respondem logo que se trata de Direitos Reais.

E, ao contrário do que imaginavam de receber a nota máxima da pergunta, recebem um redondo e traumatizante zero, porque os direitos de vizinhança são, sem a menor dúvida, relações obrigacionais, pessoais, e não reais.

Agora, como relações obrigacionais constituem obrigações PROPTER REM. Portanto, a natureza jurídica dos direitos de vizinhança é de obrigação PROPTER REM, que são aquelas obrigações que recaem sobre uma coisa, constituindo uma zona intermediária entre os direitos pessoais e os direitos reais. É uma situação híbrida, essas obrigações propter rem, é como se tivessem um pé no mundo dos direitos pessoais e o outro no mundo dos direitos reais. E por quê? Porque são relações obrigacionais, mas que nascem da propriedade ou da posse de uma coisa, e só subsistem enquanto o devedor ou o credor forem os proprietários da coisa ou possuidores dela.

Essas obrigações estão, portanto, umbilicalmente ligadas à propriedade ou à uma coisa, e por isso, os romanos chamavam PROPTER REM, obrigações sobre a coisa, que aderem a coisa.

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coproprietários de uma coisa. E só serão devedores da cota condominial enquanto se mantiverem proprietários da coisa. Alienando os seus quinhões, esses condôminos automaticamente deixam de ser devedores dessa obrigação, que se transferirá ao adquirente da fração.

A cota condominial é o 1º exemplo sempre lembrado de uma obrigação PROPTER REM. E o 2º é exatamente os direitos de vizinhança, que são relações obrigacionais que nascem da propriedade ou da posse de imóveis vizinhos.

Devedores e credores dessas obrigações são exatamente os proprietários ou possuidores de imóveis vizinhos. Uma vez alienado o imóvel por um dos proprietários, ele não mais será devedor dessas obrigações perante o antigo vizinho, ele só será devedor e credor enquanto for vizinho. Os direitos de vizinhança traduzem obrigações propter rem. Por que então estão no Livro dos Direitos Reais? Não teria sido um erro topográfico do legislador? O legislador teria se enganado, se distraído, levando para o Livro dos Direitos Reais uma relação que é tipicamente pessoal?

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Portanto, esses direitos de vizinhança transcendem os aspectos puramente sociais, de conduta social, ética, de educação, de convívio educado entre as pessoas, para se inserirem também no mundo jurídico. Portanto, é uma matéria que interessa tanto ao direito quanto a própria ordem social.

O 1º desses direitos de vizinhança, é um dos mais importantes, é o direito que se assegura a qualquer proprietário ou possuidor de imóvel de exigir que cessem as interferências vindas de imóveis vizinhos e que coloquem em risco a sua saúde, o seu sossego ou a sua segurança.

Portanto, quem é proprietário ou possuidor de um imóvel tem automaticamente o direito de exigir não ser prejudicado pelo vizinho quanto ao seu sossego, ou a sua saúde, ou a sua segurança, e por isso, o proprietário ou possuidor que esteja sendo afetado pelo uso anormal do imóvel vizinho poderá se valer do judiciário para fazer cessar essas interferências nocivas.

O Código passado, ao redigir esse dispositivo, fez de maneira muito infeliz, e muitos dos equívocos da redação passada, foram corrigidos.

Em 1º lugar, no Código passado falava, no mesmo capítulo, em uso nocivo e em mau uso da propriedade vizinha. Usava-se, portanto, 2 qualificações: uso nocivo e, em outro local, falava-se em mau uso, e a doutrina discutia se mau uso era sinônimo de uso nocivo. Não se entendia porque no Título do capítulo falava-se em uso nocivo da propriedade, e depois no caput, em mau uso.

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Uso anormal será todo aquele que põe em risco a segurança, a saúde ou o sossego do vizinho, seja ele qual for.

Uso normal é o que não causa dano ou prejuízo aos vizinhos, não afeta esses valores fundamentais que são a segurança, o sossego e a saúde.

É claro que o Código não poderia ser casuístico, definindo de maneira objetiva o que seria o uso anormal, isso competirá ao juiz, usando os critérios da experiência comum e alguns princípios que o próprio Código Civil enumera, e que veremos mais adiante.

Não há uma definição, e nem poderia haver no Código, do que seria o uso anormal, isso seria impossível. Por mais criativo e imaginativo que fosse o legislador, ele não conseguiria elencar todas as hipóteses em que o uso de uma propriedade pudesse causar danos aos vizinhos.

É mais um exemplo de cláusula aberta. Quer dizer, quando o Código Civil fala em uso anormal da propriedade vizinha isso é uma cláusula aberta, significa dizer que caberá ao juiz, com sua experiência comum dos fatos da vida, fechar esse conceito, diante do caso concreto, decidir se aquele uso já ultrapassou os limites da normalidade.

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O NCC, ao contrário, deixa as mãos dos juízes mais livres para que possam compor realmente os conflitos de interesse. Ex.: claro: coíbe-se o uso anormal, e cabe ao juiz decidir se de fato esse uso é anormal.

Esse era o 1º equívoco: usar 2 expressões diferentes no mesmo artigo – MAU USO e USO NOCIVO (art. 554, CC/16). Agora unificou-se, o mau uso e o uso nocivo são agora uso anormal.

Outro equívoco imperdoável é que o Código passado falava em proprietário ou inquilino de um prédio. Ora, inquilino é o locatário, portanto, aquele que participa de um contrato de locação. A palavra inquilino, desde os romanos - inquilinus - representava aquele que recebia de outrem a posse direta de uma coisa para usá-la e gozá-la.

Numa interpretação literal, portanto, só poderiam manejar os direitos de vizinhança, os proprietários ou locatários de prédios; o comodatário, para citar um exemplo, não poderia se valer desse direito. O usufrutuário também não, assim como o usuário ou o titular do direito real de habitação, porque nenhum deles é proprietário e nenhum deles é inquilino.

É evidente que essa não era a intenção da lei, por isso a doutrina interpretava o dispositivo, e isso era pacífico, entendendo que era uma figura clássica de metonímia.

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necessária e exclusivamente ao locatário, quis se referir aos possuidores que não são proprietários da coisa, mas têm a posse.

Mas isso era uma regra de interpretação. Agora o NCC corrigiu, agora diz “o proprietário ou possuidor”, agora não é mais preciso saber o que é metonímia para interpretar o dispositivo, porque agora o legislador usou o gênero, como também usou no art. 2º, não fala mais “todo homem”, par evitar a dúvida colocou “toda pessoa”, usou o gênero. O NCC afastou as metonímias, preferiu ficar com o gênero.

Outra questão interessante é que o NCC usa pela 1ª vez a palavra interferências, que é mais abrangente. Interferências significa influência de 1 prédio sobre o outro. Tudo o que se faz num prédio, todos os comportamentos que se tem na utilização de um prédio que possam se refletir no vizinho.

Agora acabou essa discussão, porque fala-se apenas em uso anormal e fala-se em interferências, como sendo qualquer comportamento que influa no imóvel vizinho.

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reclamar contra essas interferências prejudiciais aqueles que fizessem divisa com o prédio que estava sendo mal utilizado.

Então, eu só poderia reclamar contra o proprietário ou possuidor do imóvel que fizesse divisa com o meu, chamado imóveis lindeiros, que vem de linde, que é sinônimo de divisa, as lindes do Império Romano eram as suas fronteiras.

Essa também não é a intenção da lei, nunca foi, então mais uma vez entra a interpretação teleológica, que é muito melhor que a literal. Quando o legislador falou em imóveis vizinhos, ele quis falar aqueles que podem influir nos outros. Então, eu posso considerar imóvel vizinho, para efeito dos direitos de vizinhança, um que esteja a 5 km do meu, separado por vários imóveis. Ex.: uma fábrica cuja chaminé despeja fumaça tóxica, e é carregada pelo vento e chega até uma casa a 5 km de distância. Para efeito de interferência prejudicial, esta fábrica é um imóvel vizinho ao proprietário que está sofrendo essas emanações.

Então, quando o Código dispõe, no art. 1.277, em propriedade vizinha, não interpretem literalmente, como sendo aquela que faz divisa, e sim como aquela que pode interferir no outro imóvel. O barulho excessivo pode ser produzido numa casa afastada da minha por 5 ou 6 outros imóveis, mas desde que o barulho chegue até a minha, ele está interferindo no meu sossego.

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imóvel vizinho não é medido geograficamente, e sim pela possibilidade de interferência.

Outra questão é que o legislador referiu-se a 3 valores fundamentais, que devem ser preservados: a SEGURANÇA, o SOSSEGO e a SAÚDE dos vizinhos. Ora, se o legislador usou 3 palavras, é porque elas têm sentido diferentes, senão usava só uma. O Código não é um dicionário para mostrar erudição vocabular. O Código não usa palavras como sinônimos só para mostrar erudição, se ele falou segurança, sossego e saúde são valores diferentes.

A SEGURANÇA está mais ligada à ideia de integridade física. Ex.: o proprietário de um prédio descobre que no imóvel vizinho, o proprietário dele guarda, numa casa ali existente, uma enorme quantidade de dinamite, de explosivos, ou seja, o imóvel vizinho é um vulcão prestes a entrar em erupção. Pode explodir a qualquer momento, e é claro que os efeitos da explosão poderão atingir o imóvel vizinho. Então, ele tem o direito de exigir a remoção desses explosivos.

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O SOSSEGO diz respeito mais intimamente a direito de repouso, é uma interferência que impede o repouso dos vizinhos, o sono. Isso está mais ligado a produção de ruídos. Tudo isso se interpenetra, porque o ruído pode afetar a SEGURANÇA e a SAÚDE. Mas a questão do sossego, está mais ligado a um comportamento do vizinho que impeça o sono dos demais, por isso quase todas as ações ligadas a questão do sossego dizem respeito a ruídos excessivos.

Hoje, há muitas ações contra templos religiosos que se valem de autofalante para divulgar suas pregações. Danceterias, boates, fábricas que têm apito.

Eu já fiz uma ação contra o barulho de uma torre de refrigeração de um supermercado, é um caso concreto, porque no térreo do edifício há um supermercado, que tem uma enorme torre de ventilação para manter os alimentos refrigerados, e que funciona 24 h por dia, de dia é suportável, mas de noite, os vizinhos diziam que não podiam dormir. Então, eles exigiam, nesta ação, que o supermercado ou tirasse a torre de refrigeração, ou adotasse medidas que fizessem cessar o barulho que ela produzia.

Não é só barulho, eu já tive um caso (não é mentira não kkk trago prova material) que era contra um holofote. Era uma luz que se projetava para um anúncio da parede de 1 edifício, que dava direto num quarto de dormir de um dos apartamentos. Vejam que pode ser tudo que prejudique o sossego, o sono, o repouso a que todos nós temos direito.

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também causa doenças, claro que este elenco não é taxativo, o juiz tem que ver se a interferência pode afetar de qualquer maneira a dignidade da pessoa.

Como a todo direito corresponde uma ação que o assegura, o proprietário ou possuidor de um prédio tem o direito de impedir as interferências do vizinho que coloca em risco a sua SEGURANÇA, SOSSEGO e SAÚDE, tem que haver uma ação própria para se obter essa finalidade, essa ação é a conhecida ação de dano infeto, que é de índole possessória, porque ela também protege a posse e não apenas a propriedade, porque é o proprietário ou o possuidor, um inquilino pode propor com uma ação de dano infeto contra o vizinho, proprietário do prédio, por estar colocando em risco o seu sossego, assim como o comodatário, o usuário, o usufrutuário.

Então, a ação de dano infeto tem índole possessória, porque ela pode ser manejada para defender a posse pelo possuidor, e não necessariamente pelo proprietário, o DOMINUS, por isso que a doutrina inclui esta ação no rol das ações de índole possessória, embora, obviamente não seja um interdito possessório.

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Essa ação é muito frequente entre os proprietários ou possuidores de imóveis, um mais alto e outro mais baixo. Onde o imóvel superior pela má conservação ameaça ruir sobre o inferior, então, o proprietário do prédio inferior tem o direito de exigir as obras de conservação para evitar essa ruína, inclusive, também podendo exigir caução para prevenir a reparação dos danos se a ruína ocorrer antes da reforma. Tudo isso se obtém em sede de ação de dano infeto.

Claro que a doutrina se incumbiu de criar alguns princípios que deveriam nortear o juiz para decidir uma ação de dano infeto, que aliás era uma ação que todo juiz temia, era sempre uma ação difícil de julgar. Primeiro pela falta desses critérios e segundo porque o juiz se via envolvido pela animosidade, pelo acirramento de ânimos dos vizinhos. Mas eram contribuições doutrinárias.

Agora não, agora o parágrafo único do art. 1.277 trouxe para o texto da lei, ou seja, positivou esses princípios que antes eram meramente doutrinários. Agora o juiz tem critérios legais para aferir se a interferência é nociva ou não.

O primeiro critério que a doutrina sempre recomendou é o da RAZOABILIDADE. Aliás, vivemos a era da razoabilidade, esta talvez seja hoje um dos mais importantes princípios a nortear os comportamentos sociais.

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filhos e o meu aniversário ou da minha mulher. Está absolutamente dentro da razoabilidade. Agora, se ele fizer 1 por semana o ano inteiro, isso já está além da razoabilidade. É claro que a lei não pode estabelecer 4, 6, 8, isso é mais uma cláusula aberta, para isso é que o juiz julgar com a experiência comum da vida.

Ex2.: uma fumaça que quase sufocou o vizinho. Mas foi numa festa de São João, 1 vez por ano, é razoável. Agora, todo dia o vizinho junta as folhas e toca fogo, fazendo fumaça, não é razoável. Mas uma fogueira de São João, 1 vez por ano, é mais do que razoável.

O segundo critério é o da TOLERABILIDADE, que se associa ao 1º, um decorre do outro. Quer dizer, as pessoas têm que ter um nível de tolerância dos comportamentos vizinhos. Quem vive principalmente numa cidade, em regime condominial, por exemplo, tem que tolerar certos comportamentos do vizinho. Ex.: bate-boca entre marido e mulher de vez em quando, a descarga do vaso sanitário da madrugada do vizinho, que parece o Niágara despejando água às 3 h da manhã, durante o dia você nem percebe, mas às 3 h da manhã, você acorda com o barulho da descarga. A máquina do elevador que às 2 h da manhã é acionada por 1 vizinho notívago.

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Aliás, criou-se entre os brasileiros leigos, uma ideia absolutamente equivocada de que a famosa “Lei do Silêncio” só se aplica à noite. Esta lei não existe, há toda uma legislação sobre Meio Ambiente, mas não há uma lei do silêncio. Quantas vezes já se ouviu que não se pode reclamar do barulho, porque ainda são 7 h da noite, por exemplo, as pessoas acham que é só a partir de 10 h que a Lei do Silêncio se aplica. Nunca houve isso. Então, quer dizer que você pode perfurar o tímpano do vizinho porque ainda é meio dia. Isso nunca existiu.

O que há é que a legislação sobre ruído diminui a tolerabilidade a partir de 10 h da noite. Então, até 10 h admite-se 85 decibéis, à noite são 60 ou 50 decibéis. Então, isso é uma ilusão dos leigos de que a “Lei do Silêncio” é só para noite.

O que deve ser levado em conta pelo juiz é o nível de tolerabilidade, ele terá que, durante a ação, interferir no caso de ter que haver mais tolerância, que dá para aguentar. Assim, pessoas que moram principalmente numa cidade em condomínio edilício têm que ter nível de tolerância.

O outro critério, também muito lembrado pela doutrina, é o da ANTERIORIDADE. Quer dizer, vamos ver quem chegou 1º, o que não significa que quem chegou 1º pode matar os vizinhos. Ex.: uma fábrica que faz muito barulho, só que a fábrica já estava aqui, o sujeito fez a casa ao lado da fábrica, e sabia que ia ter de suportar esse barulho.

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Então, o princípio da anterioridade a doutrina também recomendava que fosse examinado pelo juiz. Se você chegou sabendo que naquele local há barulho, fumaça etc, você tem que ter um nível de tolerabilidade maior, já devia estar psicologicamente preparado para esses incômodos.

O outro critério era o da VOCAÇÃO ECONÔMICA DO LUGAR, dependendo do zoneamento urbano, ou seja, há bairros que são tradicionalmente de vida noturna, restaurantes, bares, danceterias, como o Baixo Leblon, Baixo Gávea etc. Quem compra um apartamento de 1º andar dando para rua no Baixo Leblon, tem que saber que não vai dormir bem, vai ouvir barulho de motocicleta, gritaria, risos. Agora, quem compra um apartamento no Alto da Gávea tem direito a esperar silêncio, porque ali não é um bairro com vocação comercial, e sim residencial.

Então, o zoneamento também vai influir nisso, a vocação econômica do lugar, há bairros que tem vocação comercial, outros industriais como São Cristóvão hoje. Quem compra um apartamento em São Cristóvão tem que ter um nível de tolerabilidade para atividade industrial maior.

E, finalmente, o INTERESSE COLETIVO, é preciso saber se essas interferências se justificam no interesse coletivo. Tudo isso era doutrina, embora a jurisprudência acolhesse pacificamente.

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Então, agora os juízes têm previsão legal para aferir essas interferências, e proibi-las ou autorizá-las. Agora é o legislador e não mais o doutrinador que fornece ao juiz os critérios para ele julgar uma ação de dano infeto.

E como se não bastasse, o art. 1.278 consagrou o último princípio doutrinário, que é o da prevalência do interesse coletivo. Ou seja, o juiz pode autorizar a continuação das interferências, ainda que prejudiciais, mas se o interesse público prevalecer. É o sacrifício mais uma vez do direito individual em benefício do interesse coletivo. Isso, aliás, é um dos princípios do NCC, estamos vivendo uma época socializadora do direito, em que cada vez mais vamos abandonando a proteção dos interesses individuais para priorizar os interesses coletivos. Isso é uma tônica moderna do direito, a socialização do direito.

A função social do direito é um dos paradigmas do NCC. Ex.: o juiz se convence que a fábrica realmente está produzindo fumaça que causa alergia aos vizinhos, doenças respiratórias, mas fechar a fábrica significa desemprego para 1.000 pessoas e respectivas famílias, cessação de recolhimento de impostos, uma série de consequências sociais muito graves, como o desemprego, que na época de hoje é uma das maiores ameaças ao equilíbrio social.

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Ambiente criou a figura do poluidor pagador, ou seja, em certos casos admite-se a poluição, desde que admite-se indenize, daí chamar de poluidor pagador. Ou admite-seja, eu poluo, mas pago, indenizo. Os ecologistas acham que não se deve admitir isso, não se deve admitir nenhum poluidor, ainda que indenize o dano. E aqui se mantém essa ideia do poluidor pagador, o proprietário ou possuidor de um imóvel pode interferir na saúde, no sossego dos vizinhos, se isso for recomendado pelo interesse coletivo, mas desde que indenize.

Os vizinhos que são obrigados a tolerar essas interferências, eles poderão também exigir adoção de providências técnicas capazes de minorar esses efeitos, está no Código também. Se os vizinhos provarem que já há recursos técnicos capazes de mitigar esses efeitos, eles poderão exigir que, além da indenização, sejam adotadas essas providências.

Referências

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