PE
396
JARDEL
CORRÊA
DE
OLIVEIRA
A
ADOÇÃO
NA
CIDADE
DE
F
LORIAN
ÓPOLIS
ENTRE
JANEIRO
DE
1995
E
JUNHO
DE
1998
Trabalho apresentado à Universidade
Federal de Santa Catarina, para a conclusão do Curso de Graduação
em
Medicina.FLORIANÓPOLIS
-SANTA CATARINA
JARDEL
CORRÊA
DE
OLIVEIRA
A
ADOÇÃO
NA
CIDADE
DE
FLORIANÓPOLIS
ENTRE
JANEIRO
DE
1995
E
JUNHO
DE
1998
Trabalho apresentado à Universidade
Federal de Santa Catarina, para a conclusão do Curso de Graduação
em
Medicina.Coordenador do Curso: Prof. Dr. Edson José Cardoso Orientador: Prof. Mestre Carlos Eduardo Pinheiro
FLORIANÓPOLIS
-SANTA CATARINA
AGRADECIMENTOS
A
Deus, pela força e serenidadeque
me
iluminaramnão
sóna execução
deste trabalho,
mas
durante toda aminha
vida, incluindo a vida acadêmica.A
minha
esposa Márcia, por toda compreensão,cahna
e companheirismo,principalmente nas horas
mais
dificeis, pois nela encontrei e continuareiencontrado
um
suporte para seguirem
fiente.Ao
professor mestre CarlosEduardo
Pinheiro por ter aceitado coordenar este trabalho, prestando-me orientaçõesque
contribuíram para a realização destapesquisa.
A
juízaMaria
deLourdes Simas
Porto Vieira por ter permitidoo
acesso aos processos de pedido deadoção do
Juizadoda
Infância eda
Juventude de Florianópolis,sem
os quais seria impossível a concretização deste trabalho.Ao
funcionáriodo
cartóriodo
Juizado,Adauto
Femandes
Rolin, por ter sidomuito
prestativona
retirada dos processosdo
arquivo, realizando-oem
tempo
hábil para
que
a pesquisa pudesse ser concluída.Ao
Grupo
de Estudos eApoio
àAdoção
de Florianópolis(GEAAF)
pelasinfonnações
que sempre
me
foram
repassadassem nenhuma
restrição eque
ÍNDICE
1.INTRODUÇÃO
... .. 2.OBIETIVO
GERAL
... _. 2.1OBJETIVO
ESPECÍFICO
... .. 3.MÉTODO
... .. 4.RESULTADOS
E DISCUSSÃO
... ..4.1
DADOS
GERAIS
DOS
PROCESSOS
DE
ADOÇÃO
4.2
DADOS
DOS
ADOTANTES
... ._4.3
DADOS
DAS
CRLANCAS
ADOTADAS
... _.5.
CONCLUSÃO
... .. ó.REFERÊNCIAS
... ..NORMAS
ADOTADAS
... ..RESUMO
... ..SUMMARY
... _.APÊNDICE
... ._1NTRoDUÇÃo
A
adoção
éum
tema
polêmico,que
gera grandes discussões entre estudiosos,juristas e outros profissionais que lidam
com
tal questão e entre asdemais
pessoas que estão envolvidas direta e indiretamentecom
o
assunto.Segundo
Berthoud, C. 1, aadoção
suscita discussões, controvérsias, reaçõesemocionais as
mais
diversas, posicionamentos políticos e doutrinários, enfim,que
mobiliza dealguma
fonna
as pessoas, nos mais diversos círculos sociais.Neste estudo considera-se adoção,
quando
uma
criançaou
adolescente édesligada de sua família de origem, devido a várias situações,
como
por exemplo, destituiçãodo
pátrio poder, e é colocadaem
outra família, de acordocom
os ditames legais estabelecidos pelo Estatutoda
Criança edo
Adolescente(ECA)
2, vivendoem
tal ambientesem
distinção e discriminaçãoem
relação aoutros
membros,
pois étambém
sujeito de direitos e possui a necessidade de interação afetiva e social.De
acordocom
Diniz, J .3 pode-se defmir aadoção
como
inserçãonum
ambiente familiar, de
forma
definitiva ecom
aquisição de vínculo jurídicopróprio
da
filiação,segundo
asnormas
legaisem
vigor, deuma
criança cujo ospais
morreram
ou
são desconhecidos, ou,não
sendoo
caso,não
podem
ou
não
querem
assumiro
desempenho
das fimções parentais,ou
são pela autoridadecompetente, considerados indignos para tal.
O
adotado,segundo
Mioto, R. e Takashima, G.4, deve participarda
dinâmica e organização familiar através de seu papel de filho, das negociações explícitas e implícitasque acontecem na
família,na
intimidade e reciprocidadeque
vaisurgindo entre os
membros
etc., enfim, que possa vivenciar urna família de5
Conforme
Oliveira,M5,
adotaruma
criança é fazer delaum
verdadeirointegrante
do
seio familiar e compartilharcom
ela todas as situaçõesque
ocorrem
na
família.Dessa
forma, todos osmembros
da
família serãoreconhecidos
como
iguais e serão sujeitosque
ajudarão a construir a históriafamiliar.
Verifica-se, de acordo
com
Freire, F.6,que
a adoção, todos reconhecem,não
é
mais
uma
matéria exclusivamente jurídica,mas
um
recurso,um
instrumento,plenos de profunda manifestações éticas e sociais.
A
prática de adotar é milenar etem
suas origens associadas aospovos da
antigüidade,
como
por exemplo, os hebreus e os indianos.Porém, segundo Weber,
L. 7, aadoção
sedava
paraque
a famíliaque não
pudesse gerar seus sucessores consangüíneos
dessem
continuidade a sua proleatravés deste ato, para
que
o culto aos deuses familiares e domésticos semantivesse “vivo”.
A
adoção estava relacionadacom
os rituais e cultos enão
por sentimentos subjetivos,
como
por exemplo,o
amor.Para Granato, E. 8, a adoção
na
antigüidade obj etivava atender os anseios dascivilizações primitivas,
que
achavam
que
os vivoseram
protegidos pelosmortos
e
que
a religião só podia propagar-se pela geração.O
pai transmitia sua vida ao ñlho e, aomesmo
tempo, a sua crença,o
seu culto,o
direito demanter
o
lar, deoferecer
o
repasto fúnebre, de pronunciar as fórmulasda
oração. Assim, adotarum
filho era, portanto garantir a perpetuidadeda
religião doméstica, era asalvação
do
lar pela continuação das oferendas fúnebres pelo repouso dosantepassados.
Não
havia sequer a preocupaçãocom
laços afetivos entre adotante e adotado.Em
Sznick, V. 9, tem-se váriosexemplos
de adoçõesna
antigüidade: J osé,do
Egito, foi adotado por Putifar;
Moisés
(hebreu) por Térmulus, filhado
Faraó; Ester (hebréia) porMardoqueu
etambém
na famosa
lendado
surgimento deRoma,
em
que
seus fundadoresRômulo
eRemo
são “adotados” poruma
loba eAinda
na época
pré-romana, os babilonenses criaramo
Código
deHamurabi,
1728-1686
a.C. .Assim,
aadoção
foi disciplinada pelo Código,que
eraconhecido
como
“Sentenças de Direito”, nos artigos 185 a 193 e divulgou-seno
Egito,
na
Palestina ena
Caldéia. 9Em
Chaves, A. 1° tem-se: art. 185 -Se
alguém dá
seunome
auma
criança ea cria
como
filho, este adotadonão poderá
voltar à sua casa patema.Art.
192
-Se o
filho (adotado) deum
camareiroou
deuma
sacerdotisa-meretriz disser ao seu pai adotivo
ou
a suamãe
adotiva: “tunão
éso
meu
paiou
minha
mãe”,
dever-se-á cortar-lhe a língua.Verifica-se
que
o
Código
deHamurabi
regularizou edeu
caráter de institutoa adoção,
mas
em
contrapartidanão
se baseavaem
relações afetivas enão
procurava atender os interesses dos adotados,
que
eram
passíveis de castigos e outras formasde
punição senão
correspondessem aos adotantes.No
direito hebreu,podiam
adotar tantoo
paicomo
amãe
e esta prática só sedava
entre parentes. Podia-se adotartambém
escravos, pois esteseram
considerados
membros
da
família. 1°Também
poderia adotar,segtmdo
Gêneses,XVI,
1 e 2;XXX,
le 3, amulher
estéril. Esta poderia adotar os filhosda
serva que ela havia conduzido ao talamo de seu marido. 9Na
Gréciao
adotadorompia
defmitivamente os laçoscom
a família anteriore
não
podia aomenos
prestar funerais ao seu pai natural.A
adoção
tinhao
nome
de Tésis, diferenciando
o
tesei niós (filhos adotivos) dos fisei niós (filhos naturais).Poderiam
ser adotados tanto oshomens
quanto' as mulheres.Na
pólis grega, amulher
não
tinhao
direito de adotar e casais (na verdadeo
esposo)que
já
possuíam
filhostinham
esse direito concedido. 9Em
Atenas, aadoção
éum
ato excepcional,com
fms
sucessórios,ou
seja,para evitar
que
na
oikos (entidadeque
engloba coisas, pessoas e rituais7
Em
Esparta, as criançaspermaneciam
com
os pais até 7 anos de idade, pois pelas Leis de Licurgo, estaspassavam
a tutelado
Estado paraserem
treinadas afirn
deserem
fortes e hábeisna
arteda
guerra. Desta forma, aadoção
foipouco
empregada
em
Esparta. 9Na
pólis romana, a adoção erauma
poderosaarma
política, pois plebeutornava-se patrício e vice-versa,
podendo
se obter honrarias e magistraturas.Também
setomava
possível a designação de sucessor ao trono. Prova-secom
efeito, a série de imperadores filhos adotivos: Scipião Emiliano, Cesar Otaviano,
Calígula, Tibério, Nero, Justiniano.
No
funda
República, Cláudio para chegar ao tribunato, fez-se adotar porum
plebeu, eGabba
adotou Peson,homem
do
povo, para
que
continuasse as tradições de seugovemo.1°
Aqui, verifica-se
uma
adoção
de interesses, associada aopoder
e regalias.A
adoção
entre osromanos
dava-se de duas formas: aadoção
(adoptio) e aadrogatio. 9'1°
A
adrogatio era aadoção
deum
“sui juris”,ou
seja, esteabandonava
o seu culto doméstico etomava-se
herdeirodo
cultodo
adotante, sendoque
passavaa
integrar a família
do
pater famílias.A
adrogatio pertencia ao direito público, pois era de interesseda
sociedade e exigia formalidades,como
por exemplo, aparticipação
do
povo. 9'1°A
adoção (adoptio) era instituto de direito privado e se destinava ao “alienejuris”,
ou
seja, paraquem
estivesse sob pátrio poder. 9” 1°Tanto na
adrogatio quantona
adoptio exigia-seque o
adotante tivesseno
mínimo
60
anos,não
tivesse filhos biológicos eque
fosse 18 anosmais
velhoque o
adotado.No
Baixo
Império, amulher que
perdesse filhosna
guerrapoderia adotar
com
a autorizaçãodo
Imperador.Mais
tarde, mulheres virgenstiveram permissão para adotar, sob a
argumentação
de que assimpoderiam
manifestar sua afeição. 9
Na
IdadeMédia
aadoção
foi “sufocada” pela Igreja Católica, vistoque
estadesestruturação
da
família “nuclear” e “legítima”,ou
seja,do casamento
deveriam
resultar filhos biológicos. Assim,no
direito Canônico, aadoção
permaneceu
desconhecida, pois a poderosa Igreja manifestavauma
série decautelas.
Os
sacerdotesviam
aadoção
como
uma
forma
de transgredir aocasamento
e auma
filiação “legítima”,além
de seruma
possibilidade dereconhecer filhos adulterinos
ou
incestuosos,o
que
era proibido. 19° 1°Além
do
mais,na
Idade Média,segundo
Áries, P. H, haviaum
descasoem
relação a infância. Desta forma,
não
se viaa
necessidade de proteger a criançada
própria farnília,quem
dirá vinda deum
contexto extemo.Tarnbém
na
IdadeMédia
o
sistema feudalnão
incentivava a adoção, pois osfeudos
eram
auto-suficientes epredominantemente
com
relaçõesconsangüíneas. 19” 1°
A
adoção
ganhou
“vida”novamente
com
aRevolução
Francesa,na
modernidade, pois
Napoleão
Bonaparte a inseriuno Código
Civil, devido aofato de
que
sua esposa era estéril enão
poderia dar-lheum
sucessor.Porém,
sópoderiam
ser adotados pessoas maiores de 23 anos eque
teriam apenascomo
garantia os efeitos de sucessão, pois
o
adotadonão
pertencia a famíliado
adotante. 7' 9' 1°
Confonne
Hauser, J. e Weiller, D. 12, o adotante deveria termais
de50
anos,ser estéril e ser pelo
menos
15 anosmais
velhodo
queo
adotado;uma
pessoacom
menos
de23
anos poderia ser adotada por testamento seo
adotante ativesse criado por pelo
menos
seis anos antes de sua morte;uma
outraadoção
especial,
chamada
de “remuneratÓria”, permitia aadoção
sem
a condição deidade,
alguém que
tivesse salvado a vida do-adotante. -Verifica-se então
uma
“adoção
de interesses” baseadaem
sucessão epatrimônio.
Já a Inglaterra foi
uma
exceção entre os países europeus, pois sua leinão
sebaseava
no Código
Romano
e posteriormenteno
Napoleônico.A
lei inglesanão
9
principalmente pela terra.7
Segundo
Presser, S. 13, a terra era transmitida deuma
pessoa
a
outra por laços consangüíneos enão
poderia serdada
paramembros
não
familiares(nem
em
vida enem
após a morte),mesmo
que
essa fosse a vontadedo
proprietário.A
adoção foi criadana
lei inglesaem
1926,mas
foiem
1969 que
todasrestrições contra a herança de pessoas adotadas
foram
removidas. 7Na
década
de50
Verifica-seuma
maior
preocupaçãocom
a questãoda
adoção, pois
mais
de40
estados dos EstadosUnidos
começaram
a exigirinformações
que
permitissem avaliar a idoneidade dosque queriam
adotar.Desta
fonna, aadoção
começa
a voltar-seum
pouco mais
parao
adotado,em
relação as suas necessidades e interesses.
Também
houve a
profissionalizaçãodo
trabalho social e a criação de agências de adoção. 7Após
a PrimeiraGuerra
Mundial, aadoção
se caracterizou atravésdo
ladohumanitário e social, devido principalmente ao grande
número
de crianças órfãse abandonadas.
Depois da
Segunda
Guerra
Mundial,o
interesseem
adotar selimitou à crianças pequenas, pois as agências reforçavam
ou
incutiam naspessoas
que
pretendiam adotar,o “problema da
legitimidade” e cuidados paranão
pegaruma
criança de “sangue ruim”.Os
profissionaisestavam
armados
com
as correntes teóricas psicológicas a respeito
da
inteligência hereditária e sobre airreversibilidade dos efeitos causados por
um
desenvolvimento inicial pobre. 7Verifica-se
que ao
longo dos tempos, as leissempre procuravam
proteger osfilhos de sangue, sendo
que o
adotivo eramembro
coadjuvantena
família, vistoque não
possuia osmesmos
direitosque o
primeiro.A
sociedadetem
fortetendência a valorizar os laços de sangue, ignorando
que o
desenvolvimentobiopsicossocial
do
indivíduodepende
também
de outras relações,principahnente
do apego
eda
construção de vínculos afetivos,que não
precisamser necessariamente
com
uma
figura
matema.
Segrmdo
Frassão,M.
e Silva, Z. 14,houve
uma
época
em
que
secostumava
nos pais adotivos e criando inseguranças, pelo fato de acreditarem
que o
sanguefalaria
mais
alto.Os
medos
descritos por Schettine, 1995, enfatizam a dificuldade de se vero
filho adotivo dentroda
mesma
perspectivaem
que
se vêo filho
genético; a idéia deque
a criança adotada é necessariamente diferenteda
não
adotada. 14No
Brasil, aadoção
é colocadano
Código
Civilnos
artigos368
a 379,na
Lei ng 3133, de 8 de
maio
de 1957. Nesta leihouve
a reduçãoda
idadedo
adotante,
ou
seja, de50
anos passou para 30, ena
diferença de idade entreadotante e adotado
que
passou a ser de 16 anos.A
adoção do Código
Civil era feita através de escritura públicaem
cartório,fumando-se
um
contrato entre aspartes. 9” lg
No
entanto, a questãoda adoção ganha
mais ênfasecom
a instituiçãodo
Código
deMenores,
pela Lei ng 6.697, de 10 de outubro de 1979, enfatizando aadoção
plena e aadoção
simples. 7* 9' lgA
adoção
plena garantia a legitimaçãodo
adotado, reiterandono
art.37
aequiparação dos adotados plenos aos filhos de sanguelg. Ela caracteriza-se
em
integrar
o
adotadoem
um
novo
lar,rompendo
os vínculoscom
a sua família deorigem, garantindo
mudança
do
nome
e direito de herdar. 1°A
adoção
simples era revogável, contrária aadoção
plena, enão
haviaintegração
do
adotadono
núcleo familiar, apenas estabelecia vínculos de filiaçãocivil.
Dessa
forma,o
parentesco limitava-se ao adotante e ao adotado. 1°Com
o Estatutoda
Criança edo
Adolescente(ECA),
Lei ng 8.069, de 13 dejulho
do
1990,um
grande salto édado
em
relação a adoção, pois extinguiu-se aadoção
simples, passando a valer apenas aadoção
plena,onde o
adotadotoma-
se
um
filho
e adquire direitos e deveres iguais aodo filho
biológico. Isto épossível, pois
o
ECA
dá
a qualquer criança e adolescente a condição de sujeito de direitos, dentre eleso
“direito à convivência familiar e comunitária”, art. 19, acrescentando-se aquia
família substitutaquando não
é possível apermanência
no
núcleo familiar natural. 2ll
O ECA
prioriza os interesses dos adotados e preocupa-sena
construção devínculos afetivos, contrariando a
adoção
feita para cultuar deuses domésticos,para efeitos de sucessão etc. Verifica-se que, de acordo
com
Marmitt, A. 15,0
ECA
criouuma
adoção
com
roupagens novas, vindo toda elaimpregnada
de afeto e amor.Segundo
o
art.28 do
ECA,
§ 19 deve-sesempre que
possível ouvirpreviamente a criança e
o
adolescente sobre a situação de ser adotado econsiderar sua opinião.
Em
seu art. 45, § 29 colocaque quando
a criança formaior
de 12 anos é necessario o consentimento desta paraque
aadoção
sejaefetivada. 2
Apartir do
ECA
aadoção
deixa de sermeramente
um
registro civil(como
era
no
Código
Civil), passando a integrar a ação deuma
equipemultiprofissional,
formada
por juizes, promotores, advogados, assistentessociais, psicólogos e
médicos
envolvidosno
seu processo.Com
base nisto, a adoçãopôde
ser caracterizada de duas formas: aadoção
legal e a
adoção
ilegal.A
adoção
ilegal,segundo
Vaz, A. 16,também
chamada
deadoção a
brasileiraou
simulada, é aquelaque
contraria oECA,
o
qualnão
permite aadoção
de criançasou
adolescentessem
a intervençãodo Poder
Judiciário. Nela, os paisbiológicos entregariam
o
seu filho para os pais adotivos,que
entãoo
registrariarn
em
cartóriocomo
se fosse seu próprio filho,sem
que
hajao
conhecimento
das autoridades judiciais. Entretanto, muitosacabam
recorrendo aadoção
ilegal, visando aceleraro
processo de filiação.Agindo
desta forma,haveria a realização de
um
falso registroda
criança,além
deque
esta práticafavoreceria a ocorrência
do
comércio de crianças,com
o
objetivo deencaminha-
las muitas vezes para
o
exterior.Assim, esta
forma
deadoção
é consideradacomo
um
delito peranteo
de 2 a 6 anos.
No
entanto,quando
fica
reconhecidoum
motivo
nobre, degenerosidade,
humanidade
e solidariedade,o
art.242
também
prevê apossibilidade de perdão judicial. 16
Da
mesma
forma,quando
aadoção
ilegal é praticadacomo
um
gesto de amor,o
Código
Civil permiteo
não
cancelamentodo
registroda
criança. 16Por
outro lado,quando
aadoção
é realizada por estes meios, existeum
riscomaior
de os pais biológicos requererem seu filho de volta, pois elesnão foram
submetidos a
um
processo de destituiçãodo
pátrio poder.Por
isso,o Poder
Judiciário aconselha
que
nestes casos, os paisprocurem o
Juizadoda
Infância eda
Juventude para legalizar a adoção. 16Na
adoção
legal,o
casal deve inicialmente realizarum
pedido de habilitaçãopara a
adoção no
Juizado, passando porum
processo,em
que
se realizaum
estudo social, para avaliar a convivência
do
casal, as condições fmanceiras e de moradia, amotivação
eo
entendimento a respeitoda
adoção.Com
isso,`
já são feitas as orientações necessárias a respeito
do
assunto.O
solicitantedeve
aindapassar por
uma
avaliaçãomédica
equando
julgado necessário, psicológica.Cabe
ressaltar
que
as condições sócio-econômicasnão
são vistascomo
um
motivo
deimpedimento
para a adoção.Além
disso,devem
ser especificadasno
processo de habilitação aspreferências quanto a criança a ser adotada (sexo, cor, idade, se aceita irmãos,
problemas
fisicos e/ou mentais), se estas existirem.Com
base nestes processos,o
Juizadomantém
um
cadastrocom
uma
listadas pessoas habilitadas para a adoção,
conforme
aordem
de inscrição,segundo
prevêo
art.50 do
ECA.
2Quando
há
uma
criança disponível paraadoção ou
processo de destituiçãodo
pátrio poder,o
Juizado entraem
contatocom
os habilitados, de acordocom
aordem
de inscrição, caso hajauma
concordância entre as preferênciasdo
requerente e as características
da
criança. Realiza-se entãoum
processo de13
relacionamento
do
requerentecom
a criança. Isto é feito apósum
período deconvivência
que
é determinado pelo juizdo
processo.De
acordocom
o
ECA,
paraque
seja realizada a adoção, pelomenos
um
dosrequerentes deve ter
mais de
21 anos e a diferençamínima
de idade entreadotante e adotando deve ser de 16 anos. Entretanto,
quando o
juiz entenderque
a
adoção
representa reais vantagens para a criançaou
adolescente, a diferença deidade
pode
ser reduzida. 2Nos
casos deadoção
em
que o
adotante se habilitano
Juizado,não há
contato entre os adotantes e os pais biológicosda
criança, sendoque
os dados arespeito dos requerentes
da adoção
constituem segredo judicial.Embora
este seja o procedimento deadoção
preconizado peloECA,
verifica-se a ocorrência de outra
fonna
deadoção
legalno
Brasilque
estáem
ascensão nos últimos tempos. Consistena
adoção que
tem
origem
em uma
ligação pessoalentre adotantes e os pais biológicos
da
criança a ser adotada. Aqueles, por vezes,chegam
aacompanhar
a gestaçãoda
mãe
natural, proporcionando, atémesmo,
todo
o
atendimentomédico
necessário. 16 Esta, é aadoção
abertaou
casada. Neste caso, o casal entracom
o
pedido deadoção
sem
que
hajao
processo de habilitação.Na
grande maioria das vezes, jáhá
um
período de convivênciaprévio entre os adotantes e os adotandos,
sem
que
existaconhecimento
do Poder
Judiciário. Assim,
o
estudo social realizado destina-se a avaliar as relaçõesafetivas desenvolvidas entre os requerentes e a criança
ou
adolescente eo
desenvolvimento deste
no
seio familiar.Em
ambas
as formas deadoção
legal os requerentesrecebem
a guardada
criança,
que
nos casosem
que
há
um
processo de habilitação prévio ao pedido de adoção, constitui-seno
iníciodo
convivio entre adotantes e adotandos.A
guarda é
um
procedimento legalque
confere responsabilidades jurídicas aquem
a possui
com
relação a criançaou
adolescente.De
acordocom
o
art. 33do
ECA:
criança
ou
adolescente, conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros,inclusive aos pais. 2 '
O
Estatuto colocano
§ 19do
art.42
quenão
podem
adotar os ascendentes eos irmãos
do
adotando. 2 Nestes casos, a guarda éuma
opção
paraque
se possaassumir a criança
ou
adolescente deforma
legal.Mesmo
assim, excetuando-seos avós e irmãos, muitas vezes existe a presença de laços consangüíneos entre
adotante e adotando.
Verifica-se
a
existência de casos deadoção
legal e aberta,em
que há
aparticularidade de ser
o
adotando filho biológicodo companheiro
(de união estávelou
casamento)do
requerenteda
adoção. Esses casosrecebem
adenominação
deadoção
unilateral, jáque
apenasum
dosmembros
do
casalsolicita a
adoção do
filhodo
outro, estando previstosno
§ 19do
art. 41do
ECA.
2Atualmente, três outras formas de
adoção
vêm
sendo
muito
discutidas entreos estudiosos
do
assunto e pessoas envolvidasna
sua prática (pais adotivos,psicólogos, assistentes sociais, advogados, juizes etc.).
São
elas aadoção
interracial, a
adoção
tardia e aadoção
intemacional.A
adoção
interracial é aquelaem
que
os pais adotivospossuem
uma
cor depele diferente
do
da
filho adotado. Ocorreque
normahnente
ela é evitada,devido ao preconceito racial existente e aos temores de discriminação perante a
sociedade,
que
logo perceberia a criançacomo
não
sendo filha “legítima”do
casal.Com
isso, crianças e adolescentes, principahnente os mestiços e de cornegra,
acabam
tendomaior
dificuldadeem
serem
adotados, passando muitasvezes toda a sua infância ei adolescência institucionalizadas.
No
entanto, acriança/adolescente
deve permanecer o
mínimo
detempo
numa
instituição.A
instituição
não
éo
local‹adequado parauma
criança/adolescente viver, pois elaprecisa de tuna família
que
lhe dê atenção e carinho, pois é a famíliaque
oferece15 mental.
Na
família a criançapode
com
mais
facilidade desenvolvero
seu Eu, a sua subjetividade. 5Assim, tem-se a
adoção
tardia,que
consistena adoção
de criançasmais
velhas
ou
de adolescentes. Tecnicamente, considera-seuma
adoção
como
“tardia”
quando
a criançatem
idadeacima
de dois anos. 7Em
alguns casos, elaocorre estimulada por
um
grau de parentesco entre adotante e adotando eem
outros pelo fato deque
o requerente convive através de 'casamentoou
união estávelcom
amãe
ou
pai biológicoda
criança, consistindo, neste último caso,na
adoção
unilateral.Entretanto, excetuando-se estas duas situações, a prática de
adoção
tardiaimplica
em
uma
série de dúvidas, preconceitos e temores por parte daquelesque
buscam
a
adoção. Muitas vezes acredita-seque
uma
criançamais
velha, por játer convivido por
mn
certo períodocom
seus pais biológicos, estando sujeita asituações
como
negligência, abandono,maus
tratos, miséria, entre outras, seriauma
criança problemática,com
distúrbios deordem
emocional
e psicológica,que
dificilmente seriam superados.Além
disso,quando
se está diante deuma
adoção
deste tipo, entra-seem
uma
questão importantena
práticada
adoção,em
que
os adotantespodem
optar pelas característicasda
criançaou
adolescente, aceitandoou não
determinadoadotando, ao passo
que
estes sirnplesmenterecebem
os pais adotivos,sem
expressar quais são as suas preferências,
quando na
verdadedeveriam
pesar osinteresses
da
criançaem
primeiro lugar.Neste caso, por se tratarem de crianças
mais
velhasou
adolescentes,embora
tenham
muitas vezeso
desejo deserem
adotados e de fazerem parte deuma
família, deixando de viver dentro de
uma
instituição, eles,como
qualquer serhumano,
criam expectativas a respeitoda figura
dos pais.A
idéia de pai, esobretudo a idéia de
mãe,
é objeto de grandes idealizaçõesou
mesmo
de ataquesfantasmáticos.
É
por issoque
se se apresentaum
casal auma
criança dizendo- lheque
aqueles senhores“vão
ser seus pais”,muito
provavelmente ela reagiráde
uma
fonna
negativa.Aquelas
pessoasque nunca
viunão coincidem
com
a
complexa
realidade internaevocada
pelas palavras pai emãe.
3Porém,
aomesmo
tempo
em
que
isto ocorre, estas crianças e adolescentespossuem
grande carência afetiva e necessidade de viverem
um
ambientefamiliar
que
demonstre preocupação paracom
eles. Desta forma, é necessáriodar
tempo
paraque
a criança possa projetar sobre aquelas pessoas concretas osafetos ligados à sua vivência pessoal de pai e de
mãe,
paraque
ela possadesigna-los por esse
nome.
E
sehouver o
tato e a prudência necessários,em
breve elao
fará espontaneamente. 3Há
também
os casais inférteis,que
pornão
poderem
gerar filhos biológicos,optam
em
grande parte pelaadoção
de crianças recém-nascidasou
com
poucos
meses
de idade, para assim vivenciar todas as etapasna
criação deum
filhodesde
o
nascimento.Portanto, é importante atuar junto aos futuros pais adotivos para orienta-los' e
para desmistificar os estigmas
que
envolvem
a adoção, conscientizando-os deque
aadoção
visaem
primeiro lugar a criança e o adolescente, estimulandodesta
forma
aadoção
tardia e interracial.A
Segundo
Becker,M.
17,um
trabalhobem
feito de preparaçãopode
levarcandidatos a aceitar a
adoção
de crianças mais velhasou
de grupo de irmãos, pois estarãoabandonando
a idéia de “fazer de conta”que o filho
adotivo ébiológico.
A
concepção
generalizada deque
“brasileiros sóadotam
criançasrecém-nascidas e de sua própria etnia” se deve,
em
grande parte, à ausência detrabalho preparatório a adoção.
De
acordocom
Cezar, C. 18,promover
as adoções tardias éum
dever,mas
viabilizar
um
programa
de suporte éum
compromisso,
paranão
correro
risco de acenar aadoção
tardiacomo
um
acontecimento simplório.A
adoção
intemacional,que
corresponde aquela realizada parao
estrangeiro,17 casais de outros países aceitam a
adoção
de criançasmais
velhas, negras,como
também
aadoção
de irmãos, desejandoem
certos casosmais
deuma
criança.No
entanto,o
estímulo aadoção
internacional favoreceriao
comércio de crianças parao
exterior, razão pela qualo
ECA
dá
preferência aadoção
realizada dentro
do
território nacional,como
apareceno
seu art. 31. 2 ~Mesmo
assim, abusca
intensa e quase desesperada de crianças “adotáveis”por parte de
quem
deseja adotá-las e sobretudo por intermediários,como
asinúmeras agências de
adoção que
operam
a partirda Europa
e dos EstadosUnidos, representam
um
gravíssimoproblema
a ser enfrentado pelos paísesdo
Terceiro
Mundo,
entre os quais o Brasil."
A
adoção
intemacional éum
negócio de cerca de400
milhões de dólaresanuais e funciona de acordo
com
a lei de “procura e oferta”. Existeuma
demanda
importante nos países desenvolvidos, os quaispossuem
uma
populaçãoque
não
cresce e os países pobresque
têm
uma
grande quantidade de criançasabandonadas
evivem
em
urna situação de misériaacabam
por constituir urnaoferta. 7
Isto representa
uma
inversão nos papéisda
adoção, jáque
ela deve priorizar as necessidadesda
criança enão o
desejo dos adultos de ter filhos.Assim, toma-se importante a atuação das associações e grupos de apoio à
adoção. Estes,
segundo
Freire, I.l9, são reforçadoresna
“culturada
adoção”, poisembasados
no
ECA
procuram
assegurar os direitosda
criança edo
adolescente.Tais associações e grupos são
muito
recentesno
cenário brasileiro, sendo originados por algunsmembros
da
sociedade civil enão
possuem
fms
lucrativos,tendo
como
objetivo resguardaro
direitoda
criança de viverem
família ecomunidade.
A
maioria dosmembros
são pais adotivos,porém
não
significaque
outraspessoas
não
possam
participar,como
por exemplo, estudantes, pessoas solteiras, profissionais (médicos, assistentes sociais, psicólogos etc.).São
sociedades cujosmembros
trabalham voluntariamente para divulgar aadoção, prevenir o abandono, preparar adotantes e
encaminhar
filhos adotivos, e,de
maneira
ampla, conscientizar a população sobre a adoção, especialmentesobre as adoções necessárias, quer dizer, de crianças
mais
velhas, crianças decor diferente
da
dos adotantes e as adoções tardias e multirraciais. 7Além
do mais
existeo
intercâmbio entre estes organismos,formando
uma
rede socializadora de informações,
ou
seja, todos os grupos seconhecem,
discutem dúvidas e idéias,
repassam
novidades etc., descaracterizandouma
relação competitiva.
Observa-se a proposta de
formação
de Associações eGrupos
deApoio
àAdoção
tomar-se realidade,em
iniciativas corajosasda
sociedade civilorganizada. Hoje, vê-se
com
mais
clareza os muitos desafios existentes,mas
sabe-se
o que
é possível fazer para assegurar, paraalgumas
crianças,o
direito àconvivência familiar e comunitária, sabe-se
o que
é possível fazer paracombater
o
egoísmo
e a indiferença,promovendo
a solidariedade. 7Apesar
disto, verifica-se ainda a presença deuma
literatura escassa sobre aadoção, principahnente
no
âmbitoda
saúde.Existem
aspectospouco
abordados,que
precisam ser vistoscomo
objetos de estudo,como
o
histórico de saúde edoença
das crianças adotivas e as influênciasque
este sofre das diversassituações peculiares
que
envolvem
a adoção.É
necessário entender deque forma
os laços afetivos gerados pelaadoção
contribuem para a
promoção
da
saúde.Em
um
caso deadoção
relatado peloGrupo
de Estudos eApoio
àAdoção
de Florianópolis(GEAAF),
onde
os futurospais adotivos
levavam
uma
criança institucionalizada para passar os f1nais-de-semana
com
eles, esta apresentava lesões de pele ao chegar omomento
deretomar para a instituição.
Em
outro,uma
criançaque
tinhaproblemas
deinsônia, enquanto institucionalizada, jamais deixou de donnir a noite após ter sido adotada.
À 19
Verifica-se a existência de trabalhos
na
áreada
psiquiatria e psicologia,buscando
identificar a suscetibilidade de crianças adotivas para apresentaremproblemas
como
uso de álcool, realizado por I, L.2°, personalidade anti-social eesquizofrenia, elaborado por
Gomez,
A.21, entre outros.Porém,
praticamentenão
existem trabalhos
que
mostrem
os aspectos positivosda adoção
paraa
saúde.Observa-se
que
a tendência era a de se pesquisar a problemáticada
adoção,utilizando-se de “amostras clinicas”,
ou
seja, basicamente pacientespsiquiátricos
ou
indivíduos atendidosem
clínicas psicológicas para orientação,aconselhamento
ou
terapia. Tal tendênciacausou
sériosproblemas
especificamente
em
relação aos estigmas criados deque
as crianças adotivas caracteristicamente apresentammaior
incidência deproblemas
de ajustamento sócio-emocional eque
aadoção
em
si éum
fator de risco. 1Assim
como
em
outras áreasdo conhecimento humano, há
uma
tendência ase criticar a adoção,
mostrando
os seus pontos negativos,como
as crianças adotivas são problemáticas,como
são rebeldes.De
acordocom
Santos,N.
22, aconcepção que
em
geral setem
da adoção
é cheia de mitos e preconceitossustentados pela ignorância
do
assuntoou
pela atenção seletiva aos casosmal
sucedidos.
Imita-se a televisão,
que
mostra cenas de violência, errosmédicos
eproblemas
familiares, deixando de lado gestos de bondade, famílias felizes e asvárias vezes
em
que o
médico
atua corretamentepromovendo
a saúde.Isto
em
grande parte é influenciado pela visão preconceituosaque
asociedade
tem
da
adoção.Segtmdo
Montt,M.
e Ulloa, F. 23,uma
funçãoimportante
no
adulto é a de ser paicom
filhos biológicos.Desde
idades precocesos filhos são socializados para assumir este papel. Assim, a
matemidade
forma
parte dos projetos de vida
da
maioria das mulheres e oshomens
desenvolvem-sede
forma complementar
neste aspecto.A
família inicia-secom
o
acordodo
casalDesta forma, os laços afetivos, perante a sociedade, estão relacionados diretamente aos laços consangüineos.
Um
casal que aindanão
tenha filhos,pode
tê-los atravésda
adoção,mas
a sociedade lhes transmitemensagens
deque
ospais adotivos
não
são de fato pais reais, taiscomo
“depoisque
vocêsadotarem
podem
ter filhos próprios”. 23Verifica-se
o
modelo
de família baseadono
casamento,com
objetivo degerar filhos biológicos,
numa
sociedadeem
que
cresceo
número
de uniõesestáveis, divórcios e
mães
solteiras, formando-se outras formas de famíliacomo
a
adotiva.Assim, decidiu-se por realizar
o
presente trabalho, visando determinar aocorrência
da
práticada adoção
em
nosso meio, as formascomo
ela ocorre e ascausas
que
amotivam,
sendo a populaçãoque
nos interessavanumericamente
desconhecida
no
Brasil 22.Com
isso, procurou-se estabeleceruma
visão inicial arespeito
da
adoção, para propiciar a realização posterior denovos
estudos,que
possam
demonstrarcomo
aadoção
atuana
promoção
da
saúde, principalmentena
área pediátrica,onde
aadoção
se faz presente nas consultas ambulatoriais,21
2.
OBJETIVO
GERAL
- Traçar
um
perfilda
práticada adoção
em
Florianópolis.2.1
OBJETIVOS
ESPECÍFICOS
- Verificar a incidência
da adoção
em
Florianópolis entre janeiro de 1995 ejunho
de 1998;- Traçar
um
perfil dos requerentesda
adoção;- Verificar os motivos
que levam
ao requerimentoda
adoção; - Traçarum
perfil das crianças e adolescentes adotados;- Verificar os motivos pelos quais as crianças e adolescentes são colocados
para a adoção;
3.
MÉToDo
Realizou-se
um
estudo transversal, baseado nos dados obtidos a partir dosprocessos de pedido de adoção, realizados
no
Juizadoda
Infância eda
Juventude de Florianópolis entre janeiro de 1995 e julho de 1998.Limitou-se a pesquisa a partir de janeiro de 1995, pois os processos
que
antecediam esta data, encontravam-se
no
arquivomais
antigodo
Juizado,onde
haveria
maior
dificuldade para localização dosmesmos.
Já a data fnaldo
periodo pesquisado ficou estabelecida
em
julho de 1998, devido ao fato deque
após esta data havia
um
percentual grande de processos(33%) que
aindatramitavam
no
Juizado,não
apresentando sentença defmitiva.Inicialmente, realizou-se
uma
revisão bibliográficada
literatura existentesobre a adoção, através de livros, Trabalhos de
Conclusão
deCurso
da
Universidade Federal de Santa Catarina e trabalhos latino-americanos
identificados
na
base de dadosdo
LILACS
da
BIREME.
Para identificação dos processos de pedido de
adoção
utilizou-se os livros de registro dos processosdo
Juizado,onde constavam o
número
do
processo, osnúmeros
dos processos apensos, a data de autuaçãodo
processo, a datada
sentença, a data de arquivamento e
o
tipodo
processo.Ao
todo,haviam
228
processosno
período definido para a pesquisa. Destes,88
não foram
estudados, pois 12não
seencontravam
no
arquivo por aindaestarem tramitando
no
Juizado, portantosem
possuiruma
sentença defnitivafavorável
a
adoção.Os
outros76
processosnão foram
obtidos por razõesdiversas,
como
o
encaminhamento
de processos parao
Tribunal de Justiça,onde
devem
terpermanecido
arquivados;o
fato deque
alguns processos são apensos a outros,ou
seja, são juntados a outros processosque
se referem ao pedido de23 habilitação para a
adoção
dos requerentes, sendoque
estes são então arquivadospelos
números
dos processos apensos, oque pode não
constar nos livros de registro dos processosdo
Juizado; anão
localizaçãodo
processo pelo funcionáriodo
Juizado;o
arquivamentoem
local errôneo.Assim,
estudaram-se 140 processos,que foram
submetidos a aplicação deuma
ficha de coleta de dados,que
era divididaem
três partes (Apêndice).A
primeira parte correspondia aum
cabeçalhocom
os dadosdo
processo,que
continhao
número
do
processo de adoção, osnúmeros
dos processosapensos, a data de elaboração
do
pedido de adoção, a data de habilitação para a adoção, a data de concessãoda
guarda, a data de autuaçãodo
processo, a datada
correição, a data
da
sentença judicial, a datado
arquivamento,o
tipo deadoção
ea data de início
do
convívioda
criança a ser adotadacom
os requerentes. Utilizou-seo termo adoção
oficial para distinguir as adoções legais realizadas apartir de
um
processo de habilitação para a adoção, daquelas adoções legaisditas abertas.
Na
segunda
parteconstavam
os dados sobre os adotantes (requerentesdo
processo): estado civil atual; estado civil prévio; sexo,
quando
se tratava deuma
adoção
solicitada por apenasuma
pessoa(homem
ou
mulher); idade; quantidadede filhos
do
casal, sódo
homem
e sóda
mulher,quando
estespossuíam
filhos derelacionamentos prévios
ou viviam
sozinhos; existência de filhos adotivos e aquantidade;
número
de filhosque viviam
em
casana época do
processo; sexo eidade de cada
filho
e se este eraou não
adotivo; datado casamento
civil; anos deduração
do casamento ou
de convivência para aqueles casais de união estável;naturalidade; procedência; nacionalidade; cor; religião; profissão; escolaridade;
quantidade de crianças
que desejavam
adotarno
processo; preferências quanto asexo, idade e cor dos adotandos;
motivo
pelo qualestavam
solicitando a adoção.Na
terceira parteficavam
os dados a respeito das crianças e/ou adolescentesprocesso (na data
da
sentença); cor; sexo; sepossuíam
doençasna época do
processo e quais; motivos pelos quais
haviam
sido colocados para a adoção.Os
dadosforam
tabuladosno
programa
Epilnfo 6 e depois revisados.A
partir desteprograma
procedeu-se a análise estatística dos dados, sendoelaborado
o
trabalhocom
basena
revisão bibliográfica e nos resultadosencontrados. Para tanto, analisaram-se, dentre os 140 processos catalogados nas
fichas
de coleta, os 128 processos, cuja sentença judicial deferiuo
pedido deadoção.
Os
outros 12 processosforam
excluídosda
análise por apresentaremuma
sentença contrária ao deferimentoda
adoção,ou
por extinçãodo
processo,ou
por arquivamentoem
virtude de falta dedocumentação
necessáriaou
abandono do
processo pelos requerentes.Para efeito de se calcular a duração
do
processo de pedido de adoção,considerou-se a data
da
autuaçãocomo
sendo a data inicialdo
processo, pois elarepresenta
o
inícioda
tramitação desteno
Juizado. Já a dataque
aparecena
ficha
de coleta de dadoscomo
se fosse a de iníciodo
processo de adoção, constituina
verdade a data
em
que o
advogado
dos requerentes elaborouo
pedido deadoção
a ser
encaminhado
parao
juiz, sendoque
em
algtms casos ele só foi enviadomuito
tempo
depois de sua formulação,o que
falseariao
tempo
de duração dosprocessos.
H
A
data fmal foi tidacomo
sendo
a datada
sentença, pois a partir dela aadoção
passa a valer legalmente, salvo os casosem
que houver
contestação,o
que
não
foi verificadoem
nenhum
dos processos estudados.A
datado
arquivamento foi coletadamais
com
a finalidade de facilitar alocalização dos processos
no
Juizado,não
sendo utilizada para a obtenção de resultados.A
data de correição foi excluída pornão
ter significânciano
estudo, jáque
constava
em
poucos
processos, representando urna revisão feita pelo juiznos
25
4.RESULTADoS
E DISCUSSÃO
4.1
DADOS
GERAIS
DOS
PROCESSOS
DE
ADOÇÃO
Abrangendo-se
os 128 processos de pedido deadoção
legal realizadosno
Juizado
da
Infância eda
Juventude de Florianópolis entre janeiro de 1995 ejunho
de 1998,segundo
a distribuição destes pela quantidade solicitada portrimestre a cada
ano
(Tabela I), observou-seque
60,2%
foram
requeridosno
segundo
semestre, contrariando os dados encontradosno
trabalho de Cañizales,N.
e Durán,M.
24, realizadoem
Caracas,
na
Venezuela,em
que
predominaram
as solicitações feitas
no
primeiro semestre (69,6%). Entretanto, este trabalhohavia avaliado apenas 0 período de 1
ano
(segundo semestre de1982
e primeirosemestre de 1983).
TABELA
I -QUANTIDADE
DE PROCESSOS
DE
PEDIDO
DE
ADOÇÃO
SOLICITADOS
POR
TRIIVIESTRE,ENTRE
JANEIRO
DE
1995E
JUNHO DE
1998,NO
JUIZADO
DA
INFÂNCIA
E
DA
JUVENTUDE
DE
FLORIANÓPOLIS
ANQS
MÉDIA DE
TRIMESTRES
TOTAL
PROCESSOSPon
ÍÊÊEÍÊDI1%
1995 1996 1991 1998 TR1MEsTRE jan. _ mar. 3 25 6,25 16,6% abr. - jun. 14 35 s,75 23,2% jul. - S61. - 33 11,00 29,2% om. - dez. _ ss 11,66 31,0%
TOTAL
34 39 - 10o,0° oooo'5“oo |-iii _¿>No×`1 ::‹»~›Quanto
aos tipos deadoção
(Tabela II), veiificou-seque
a maioria dosprocessos ocorreu por
adoção
aberta (91,4%), representando 117 casos, sendoque
18 (14,1%)foram
considerados separadamente por apresentarem a(8,6%) deu-se a partir de
um
processo de habilitação prévio,ou
seja,foram
poucos
os casos deadoção
oficial.TABELA
II - TirosDE
ADOÇÃO
vE1uF1cADOsNos PROCESSOS DE PEDIDO DE
ADOÇÃO
TIPOS
DE
-- ~PERCENTAGEM
ADOÇÃO
FREQUENCIAPERCENTAGEM
CUMULATIVA
Aberta 99 77,3% 77,3%
Unilateral 18 14,1% 91,4%
Oficial l l 8,6% l00,0%
TOTAL
12s 1oo,o% -Desta fonna, constatou-se
uma
possivel tentativa dos adotantes de reduzir Otempo
de duraçãodo
processo atravésda adoção
aberta, ao invés de seguir osprocedimentos legais, caracterizados pela
adoção
Oficial.Assim, analisando-se a duração dos processos (Tabela III), verificou-se
que
metade
recebeu a sentençaem
menos
de
4meses
após a entradano
Juizado,sendo
que
75%
estavam
concluídos até 6 meses.Apenas
7 processos (5,5%)duraram mais
de 1 ano.No
entanto,nenhum
delesdemorou
mais que
lano
e 5meses
para terO
resultadoda
sentença.TABELA
Ill -DURAÇÃO
Dos PROcEssOs DE
PEDIDODE
ADOÇÃO
(entre a data da autuação e a data da sentença)
~ -- ^
PERCENTAGEM
DURAÇAO DO
PROCESSO FREQUENCIAPERCENTAGEM
CUMULATIVA
menos de 1
m
2 1,6% 1,6%lm-<2m
27 21,1% 22,7% 2m
- < 3m 29 22,6% 45,3% 3m-<4m
is 14,1% 59,4% 4m
- < 5m
11 8,6% 68,0% 5m
- < 6m
9 7,0% 75,0% 6m
- < 9m
19 14,8% 89,9% 9m
- < 1 a 6 4,7% 94,5% > l ano 7 5,5% l00,0%TOTAL
128 100,0%-27
Desta forma, poderia-se supor
que
não
há morosidade da
Justiça nosprocessos realizados
no
Juizado de Florianópolis, oque
no
entantopode
ter sidoinfluenciado pelo grande
número
de adoções abertas.Analisando-se a duração entre
o
inícioda
guarda e a sentença (Tabela IV),houve
uma
semelhança
destaem
relação aotempo
de duraçãodo
processo, jáque
em
ambos
os casos,50%
destes apresentaramum
período demenos
de4
meses
de duração. Este resultado estaria baseadono
fato deque
em
muitos dosprocessos a guarda é concedida
no
dia de iníciodo
processo (datada
autuação)ou
até 2 dias após.Falando-se especificamente quanto
ao
tempo
de guarda,56,6%
duraram
menos
de4
meses, enquantoque
em
86,1%
dos processos este período foiinferior a l ano.
Em
apenas 10 casos (9,3%) as crianças ficaram sob a guardados requerentes por
mais
de2
anos,mas
isto foi verificado, pois eles jápossuíam
a guarda antes de entraremcom
o
pedido de adoção,o que
ficou
evidente pelo processo de
adoção mais
longo,que
durou 1ano
e 5 meses.TABELA
IV -DURAÇÃO
ENTRE
A coNcEssÃo DA GUARDA
E
A
SENTENÇA
JUDICIALNos
PRocEssos
DE
PEDIDODE
ADoÇÃo
DURAÇAO
ENTRE
A
GUARDA
.. ~_
PERCENTAGEM
E
A
SENTENÇA
LFREQUENCIA
PERCENTAGEM
CUMULATIVA
menos de 1 mês 3 2,8% 2,8%
Im-<2m
2m-<3m
3m-<4m
4m-<5m
Sm-<6m
6m-<9m
9m-<la
la-<2a
2 aou mais 20,4% 22,3% 11,1% 6,5% 5,5% 12,0% 5,5% 4,6% 9,3% 23,2% 45,5% 56,6% 63,1% 63,6% so,6% 86,1% 90,7% 1oo,o%TODM.
l00,0%Já
que
a maioria das adoções foi aberta, poderia se imaginarque o
tempo
deespera entre a habilitação
no
Juizado e a concretizaçãoda adoção
(TabelaV)
fosse longo. Entretanto, constatou-se
que
em
64,2%
dos casosem
que
foimencionada
a datada
habilitação este período foi inferior a l ano, sendoem
50%
inferior até a 6 meses.TABELA
V
-DURAÇÃO
ENTRE
A
HABILITAÇÃO
Dos
ADOTANTES
E
A
SENTENCA
JUDICIALNos PROCESSOS DE
PEDIDODE
ADOÇÃO
DURAÇAO
ENTRE
HABILITAÇAO -- ›~PERCENTAGEM
E
SENTENÇA
FREQUENCIAPERCENTAGEM
CUMULATIVA
lm-<2m
2m-<3m
4m-<5m
Sm-<6m
6m-<9m
9m-<la
la-<2a
>2a
l 4 1 l l 1 4 1 7,1% 28,7% 7,1% 7,1% 7,1% 7,1% 28,7% 7,1% 7,1% 35,8% 42,9% 50,0% 57,1% 64,2% 92,9% 1oo,o%TOTAL
14 l00,0% -Porém,
estes resultados traduziram, até certo ponto,uma
falsa realidade, poisobservando-se a duração entre a habilitação e a sentença de acordo
com
O
tipode
adoção
(Tabela VI), teve-seque
apenas50%
destes processos representaramreahnente
adoção
oficial. Ressalta-seque
em
4
dos 11 processos deadoção
oficial existentes,
não
constava a datada
habilitação.TABELA
VI -DURAÇÃO
ENTRE
A
HABILITAÇÃO
Dos ADOTANTES
E
A
SENTENÇA
JUDICIALNos PROCEssOs
DE
PEDIDODE
ADOÇÃO
DE
ACORDO
COM
os
TIPOSDE
ADOÇÃO
DURAÇÃO
ENTRE
TIPOSDE
ADOÇÃO
TOTAL
%
HABILITAÇA0 E
SENTENÇA
ABERTA
%
OFICIAL%
0~1lm29d
la-la1lm29d
6a-6al1m29d
85,7% 14,3% 42,8% 42,8% 14,2% 64,2% 28,7% 7,1%TOTAL
l00,0% l00,0°/ 100 0°o29
4.2
DADOS
DOS
ADOTANTES
Nas
tabelasque
serão apresentadas a seguir, teve-seum
total de 118adotantes
do
sexo masculino e 109do
feminino, devido aos casos deadoção
solicitados apenas pelo
homem
ou
pela mulher.Com
relação ao estado civil atual dos adotantesna época do
processo(Tabelas VII e VIII), verificou-se que a maioria deles
possuíam
um
relacionamento conjugal, seja por
casamento
ou
união estável, representados por73,7%
doshomens
e73,4%
das mulheres e por23,7%
doshomens
e20,2%
dasmulheres respectivamente. Entre as mulheres, foi
maior
o núrnero de adotantesque não possuíam companheiros
(6,4%). Já entre oshomens
teve-se apenas2,5%. Considerando-os juntamente, eles representaram
7,8%
de todos osprocessos de adoção,
o
que
éum
pouco
menor
do que o
encontradono
trabalhode Caracas 24 (20%),
onde
todaseram
mulheres.Cabe
ressaltarque
nenhum
homem
solteiro requereu a adoção.TABELA
VII -ESTADO
c1v1LATUAL
Dos
ADOTANTES
MASCULINOS
Nos
1>ROcEssosDE
PEDIDO
DE
ADOÇÃO
ESTADO
c1v1LATUAL
.. ~PERCENTAGEM
Dos ADOTANTES
FREQUENCIAPERCENTAGEM
CUMULATIVA
Casado 87 73,7% 73,7%
União estável 28 23,7% 97,4%
Divorciado 2 1,7% 99,1%
Separado l 0,9% l00,0%