• Nenhum resultado encontrado

Blockchain aplicado à comercialização de energia elétrica entre microrredes: uma análise exploratória das perspectivas técnicas e regulatórias

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Blockchain aplicado à comercialização de energia elétrica entre microrredes: uma análise exploratória das perspectivas técnicas e regulatórias"

Copied!
70
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE TECNOL ´OGICA FEDERAL DO PARAN ´A DEPARTAMENTO ACAD ˆEMICO DE EL ´ETRICA

CURSO DE ENGENHARIA EL ´ETRICA

RAFAEL DA COSTA BONOTTO

BLOCKCHAIN APLICADO `

A COMERCIALIZAC

¸ ˜

AO DE

ENERGIA EL ´

ETRICA ENTRE MICRORREDES: UMA

AN ´

ALISE EXPLORAT ´

ORIA DAS PERSPECTIVAS

T ´

ECNICAS E REGULAT ´

ORIAS

TRABALHO DE CONCLUS ˜AO DE CURSO

PATO BRANCO 2018

(2)

RAFAEL DA COSTA BONOTTO

BLOCKCHAIN APLICADO `

A COMERCIALIZAC

¸ ˜

AO DE

ENERGIA EL ´

ETRICA ENTRE MICRORREDES: UMA

AN ´

ALISE EXPLORAT ´

ORIA DAS PERSPECTIVAS

T ´

ECNICAS E REGULAT ´

ORIAS

Trabalho de conclus ˜ao de curso, apre-sentado `a disciplina de Trabalho de Con-clus ˜ao de Curso 2, do Curso de nharia El ´etrica da Coordenac¸ ˜ao de Enge-nharia El ´etrica - COELT - da Universidade Tecnol ´ogica Federal do Paran ´a - UTFPR, C ˆampus Pato Branco, como requisito par-cial para obtenc¸ ˜ao do t´ıtulo de Engenheiro Eletricista.

Orientador: Prof. Dr. Fernando Jos ´e Avancini Schenatto

PATO BRANCO 2018

(3)

TERMO DE APROVAC¸ ˜AO

O Trabalho de Conclus˜ao de Curso intitulado BLOCKCHAIN APLICADO

`A COMERCIALIZAC¸ ˜AO DE ENERGIA EL ´ETRICA ENTRE MICRORREDES: UMA AN ´ALISE EXPLORAT ´ORIA DAS PERSPECTIVAS T ´ECNICAS E REGULAT ´ORIAS

do acadˆemico Rafael da Costa Bonotto foi considerado APROVADO de acordo com a ata da banca examinadora N◦ 209 de 2018.

Fizeram parte da banca examinadora os professores:

Fernando José ´Avancini Schenatto

Ricardo Vasques de Oliveira Jonatas Policarpo Américo

A Ata de Defesa assinada encontra-se na Coordenação do Curso de Engenharia Elétrica

(4)

DEDICAT ´ORIA

Aos esp´ıritos criativos. Aos azar ˜oes. Aos resolutos. Aos determinados. Aos rebeldes. Aos desafiadores. Aos pensadores independentes. Aos lutadores. Aos que s ˜ao verdadeiramente crentes que podem conquistar o que acreditam.

(5)

EP´IGRAFE

O homem racional se adapta ao mundo. Aquele que ´e irracional persiste em tentar adaptar o mundo a si mesmo. Portanto, todo progresso depende so-mente do homem irracional.

(6)

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradec¸o `a minha condic¸ ˜ao de ser humano saud ´avel e de amor insaci ´avel pela vida, essa que ainda me carece de compreens ˜ao. Agradec¸o aos pequenos mas imprescind´ıveis prazeres da vida como o sol da manh ˜a, o som do mar e aos livros interessantes que li e que ainda lerei.

Aos meus pais Renato e Ur ˆania, que sempre acreditaram fielmente nas mi-nhas decis ˜oes e que me proporcionaram liberdade suficiente para desbravar o mundo com sabedoria e assertividade.

A minha irm ˜a Marina, que durante nossa conviv ˆencia enquanto crianc¸as potencializou minha criatividade e vis ˜ao de mundo e hoje me inspira e me encanta com sua personalidade, sua forc¸a e seus sonhos.

A psic ´ologa Tuani Savaris, que me auxilia a me conectar com uma parte de mim que eu achava estar perdida. Me sinto cada dias mais capaz de me expandir como pessoa. Seu cuidado fez com que eu me sentisse humano novamente.

Ao meu orientador e amigo, Fernando Schenatto, que acreditou na minha proposta de tema e que, com uma habilidade singular de um mestre, orientou este trabalho com zelo, compreens ˜ao e atenc¸ ˜ao.

Aos meus amigos que colhi durante a universidade e aos que eu trouxe comigo ao longo da vida. Cresc¸o a cada dia ao compartilhar experi ˆencias com voc ˆes.

´

E de um profundo desejo meu que cada um alcance o melhor de si.

Ao Aaron Swartz e Alexandra Elbakyan, que doaram suas vidas em ati-vismo em prol da liberdade de acesso irrestrito ao conhecimento. Este trabalho s ´o foi poss´ıvel pelo fruto de seus esforc¸os. O mundo inteiro tem uma d´ıvida enorme com voc ˆes.

E a todos que contribu´ıram de forma significativa na minha vida e que n ˜ao pude mencionar aqui. Sou grato.

(7)

RESUMO

BONOTTO, Rafael da Costa. Blockchain aplicado `a comercializac¸ ˜ao de energia el ´etrica entre microrredes: uma an ´alise explorat ´oria das perspectivas t ´ecnicas e regulat ´orias. 2018. 70 f. Trabalho de Conclus ˜ao de Curso (Graduac¸ ˜ao) – Curso de Engenharia El ´etrica, Universidade Tecnol ´ogica Federal do Paran ´a, Pato Branco, 2018.

O aumento da disponibilidade de recursos distribu´ıdos de energia (DER) e a evoluc¸ ˜ao dos dispositivos de tecnologia da informac¸ ˜ao que auxiliaram no avanc¸o da conectividade entre as microrredes forneceram meios para novos formatos de comercializac¸ ˜ao de energia el ´etrica com o surgimento de mercados de energia locais (LEM). O Blockchain, tecnologia paralela a este fen ˆomeno, surge como uma alterna-tiva para tornar os mercados de energia mais seguros e eficientes. No entanto, assim como as LEMs, a tecnologia em quest ˜ao se encontra em estado inicial de desenvol-vimento e est ´a limitada aos desafios regulat ´orios que cada localidade exige para seu mercado de energia pr ´oprio. O trabalho analisa como que o Blockchain se apresenta atualmente dentro do contexto de energia el ´etrica ao realizar uma revis ˜ao sistem ´atica da literatura (RSL), verifica-se qual o perfil de adoc¸ ˜ao dos pa´ıses com relac¸ ˜ao aos LEMs e ao Blockchain e traz, de forma breve, uma an ´alise das condic¸ ˜oes regulat ´orias brasileiras com relac¸ ˜ao ao tema. Conclu´ı-se que o Blockchain n ˜ao ´e uma tecnolo-gia suficientemente madura para ser aplicada no contexto de enertecnolo-gia el ´etrica, mesmo com progressos significativos e testes em operac¸ ˜ao, e depende de mais avanc¸os ope-racionais para ser utilizadas em larga escala nas aplicac¸ ˜oes em quest ˜ao. No Brasil, avanc¸os de car ´ater regulat ´orio est ˜ao sendo realizados mas n ˜ao h ´a garantia que haja a legalizac¸ ˜ao de comercializac¸ ˜ao de energia el ´etrica entre microrredes no curto-prazo.

Palavras-chave: Microrredes, Blockchain, Gerac¸ ˜ao Distribu´ıda, P2P, Mercado de

(8)

ABSTRACT

BONOTTO, Rafael da Costa. Blockchain applied to trading energy among microgrids: an exploratory analysis of the technical and regulatory perspectives. 2018. 70 f. Traba-lho de Conclus ˜ao de Curso (Graduac¸ ˜ao) – Curso de Engenharia El ´etrica, Universidade Tecnol ´ogica Federal do Paran ´a, Pato Branco, 2018.

The increase in the availability of distributed energy resources (DER) and the evolution of information technology devices that helped advance the connectivity between microgrids provided means for new formats of energy commercialization with the emergence of local energy markets (LEM). The Blockchain, technology parallel to this phenomenon, emerges as an alternative to make energy markets safer and more efficient. However, like LEMs, the technology in question is in the initial state of development and is limited to the regulatory challenges that each locality requires for its own energy market. The work analyzes how Blockchain is currently present within the context of electrical energy when conducting a systematic literature review (SLR) and verified the adoption profile of the countries in relation to the LEMs and the Blockchain and briefly presents an analysis of the Brazilian regulatory conditions in relation to the theme. It is concluded that Blockchain is not a sufficiently mature technology to be applied in the context of electric power, even with significant progress and testing in operation, and depends on more operational advances to be used on a large scale on the applications in question. In Brazil, regulatory advances are being made but there is no guarantee that there is a legalization of the commercialization of electricity between microgrids in the short term.

Keywords: Microgrids, Blockchain, Distributed Energy Resources, P2P, Electricity

(9)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Hype Cycle das tend ˆencias tecnol ´ogicas emergentes. . . 16 Figura 2 - Em (a), o conceito de Internet da Energia como troca de

ener-gia el ´etrica e dados relacionados em uma pequena escala e, em (b), a representac¸ ˜ao da troca de energia el ´etrica em comu-nidades em m ´edia ou larga escala. . . 23 Figura 3 - Agentes institucionais do setor el ´etrico. . . 26 Figura 4 - Estrutura do mercado tradicional de energia el ´etrica. . . 29 Figura 5 - Estrutura do mercado de energia el ´etrica com arranjo de um

mercado local. . . 30 Figura 6 - Design de um mercado local gen ´erico. . . 31 Figura 7 - Fases de um protocolo gen ´erico de uma rede Blockchain . . . 34 Figura 8 - Fluxograma dos m ´etodos e procedimentos de pesquisa. . . 39 Figura 9 - Classificac¸ ˜ao de artigos por quantidade de citac¸ ˜oes no PB . . 44 Figura 10 - Classificac¸ ˜ao de artigos por nacionalidade de publicac¸ ˜ao no PB 45 Figura 11 - Classificac¸ ˜ao de peri ´odicos/jornais por relev ˆancia acad ˆemica

no PB . . . 45 Figura 12 - Vis ˜ao geral da pr ´oxima gerac¸ ˜ao do mercado de energia el ´etrica. 47 Figura 13 - Modelo de maturidade da tecnologia Blockchain para aplicac¸ ˜oes

em LEMs. . . 51 Figura 14 - Pa´ıses com projetos de adoc¸ ˜ao de LEMs em arquitetura P2P

e com tecnologia Blockchain focados em comercializac¸ ˜ao de energia el ´etrica. . . 57

(10)

LISTA DE QUADROS

1 Agentes institucionais do setor el´etrico brasileiro . . . 25 2 Est´agios de maturidade de aplicac¸˜ao do Blockchain em LEMs. . . . 52 3 Artigos selecionados na fase de elegibilidade . . . 66

Quadro Quadro Quadro

(11)

-LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Premissas utilizadas para a realizac¸ ˜ao da pesquisa . . . 40 Tabela 2 - Ocorr ˆencia de palavras-chave nos artigos do PB . . . 43

(12)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACL Ambiente de Contratac¸ ˜ao Livre. ACR Ambiente de Contratac¸ ˜ao Regulada. ANEEL Ag ˆencia Nacional de Energia El ´etrica.

B2C Business-to-Consumer (Provedor para consumidor). CCEE C ˆamara de Comercializac¸ ˜ao de Energia El ´etrica. CMSE Comit ˆe de Monitoramento do Setor El ´etrico. CNPE Conselho Nacional de Pol´ıtica Energ ´etica. CP Consulta P ´ublica.

DER Distributed Energy Resources (Recursos de energia distribu´ıdos). DISCO Distribution Companies (Companhias de distribuic¸ ˜ao).

EPE Empresa de Pesquisa Energ ´etica.

ESS Energy Storage System (Sistema de armazenamento de energia). GENCO Generating Companies (Companhias geradoras).

IEEE Institute of Electrical and Electronics Engineers (Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletr ˆonicos).

IEMS Intelligent Energy Management System (Sistemas de gerenciamento de energia inteligentes).

LEM Local Energy Market. (Mercado de energia local). MME Minist ´erio de Minas e Energia.

ONS Operador Nacional do Sistema El ´etrico. P2P Peer-to-peer (Ponto-a-ponto).

PAC Ponto de acoplamento comum. PB Portf ´olio Bibliogr ´afico.

PoW Proof-of-Work .

RSL Revis ˜ao Sistem ´atica da Literatura.

SC Smart Contracts. (Contratos Inteligentes).

SD Science Direct.

SIN Sistema Interligado Nacional.

SMS Smart Metering Systems (Sistemas de medic¸ ˜ao inteligentes). TEM Traditional Energy Market (Mercado de energia tradicional).

(13)

SUM ´ARIO 1 INTRODUC¸ ˜AO . . . 13 1.1 OBJETIVOS . . . 18 1.1.1 Objetivo geral . . . 18 1.1.2 Objetivos espec´ıficos . . . 18 1.2 JUSTIFICATIVA . . . 18 1.3 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA . . . 19 2 FUNDAMENTAC¸ ˜AO TE ´ORICA . . . 20

2.1 ARQUITETURAS DE REDES DE ENERGIA EL ´ETRICA . . . 20

2.1.1 Gerac¸ ˜ao distribu´ıda . . . 20

2.1.2 Microrredes . . . 21

2.1.3 Peer-to-peer . . . 22

2.1.3.1 Prosumers . . . 24

2.2 COMERCIALIZAC¸ ˜AO DE ENERGIA EL ´ETRICA . . . 24

2.2.1 Agentes institucionais do setor el ´etrico brasileiro . . . 24

2.2.2 Mercado de Energia Tradicional . . . 27

2.2.3 Mercado de Energia Local . . . 29

2.3 BLOCKCHAIN . . . 32

2.3.1 Conceito e contexto da tecnologia . . . 32

2.3.2 Princ´ıpios de funcionamento de uma rede Blockchain . . . 33

2.3.3 Blockchain aplicado `a comercializac¸ ˜ao de energia el ´etrica . . . 36

3 METODOLOGIA . . . 38

3.1 ENQUADRAMENTO METODOL ´OGICO . . . 38

3.2 M ´ETODO, ETAPAS E PROCEDIMENTOS DE PESQUISA . . . 38

3.2.1 Revis ˜ao Sistem ´atica da Literatura . . . 38

3.2.2 Procedimentos e fases da pesquisa realizada . . . 39

3.2.3 An ´alise bibliom ´etrica . . . 41

(14)

4 RESULTADOS E DISCUSS ˜OES . . . 42

4.1 AN ´ALISE BIBLIOM ´ETRICA . . . 42

4.1.1 Distribuic¸ ˜ao de artigos por ano de publicac¸ ˜ao . . . 42

4.1.2 Distribuic¸ ˜ao de artigos por palavras-chave . . . 42

4.1.3 Grau de relev ˆancia dos autores no portf ´olio bibliogr ´afico . . . 43

4.1.4 Classificac¸ ˜ao de artigos por quantidade de citac¸ ˜oes . . . 44

4.1.5 Classificac¸ ˜ao de artigos por nacionalidade de publicac¸ ˜ao . . . 44

4.1.6 Classificac¸ ˜ao de artigos por relev ˆancia acad ˆemica . . . 45

4.2 DISCUSS ˜AO DE PORTF ´OLIO . . . 46

4.2.1 Novo paradigma dos mercados de energia el ´etrica . . . 46

4.2.1.1 Implicac¸ ˜oes regulat ´orias . . . 49

4.2.1.2 Implicac¸ ˜oes t ´ecnicas . . . 49

4.2.2 An ´alise t ´ecnica, regulat ´oria e tecnol ´ogica do Blockchain no setor de ener-gia el ´etrica . . . 50

4.2.3 An ´alise das condic¸ ˜oes regulat ´orias brasileiras . . . 53

4.2.3.1 Microrredes . . . 53

4.2.3.2 Comercializac¸ ˜ao de energia el ´etrica . . . 54

4.2.3.3 Blockchain no setor de energia el ´etrica brasileiro . . . 54

4.2.4 Casos internacionais de aplicac¸ ˜ao do Blockchain no setor de energia el ´etrica . . . 56

5 CONCLUS ˜AO . . . 59

(15)

13 1 INTRODUC¸ ˜AO

O cen ´ario de gerac¸ ˜ao e distribuic¸ ˜ao de energia el ´etrica no mundo tem so-frido alterac¸ ˜oes em seu processo tradicional de comercializac¸ ˜ao e em sua direc¸ ˜ao de fluxo de gerac¸ ˜ao de energia. Com a inserc¸ ˜ao frequente e a popularizac¸ ˜ao de gerac¸ ˜ao renov ´avel e intermitente na rede de energia el ´etrica, que ocorre em v ´arios pa´ıses, incluindo o Brasil, os consumidores de energia el ´etrica convencionais podem se trans-formar em prosumers1, atuando tanto como geradores como consumidores de energia el ´etrica (HWANG et al., 2017).

As atuais possibilidades para os prosumers s ˜ao limitadas ao excedente de gerac¸ ˜ao produzido por esses. Em alguns pa´ıses, ´e poss´ıvel vender esse excedente de volta para o agente respons ´avel pelos servic¸os realizados no ˆambito da distribuic¸ ˜ao de energia el ´etrica, como as concession ´arias. Elas compensam com cr ´edito ou, no caso de alguns pa´ıses, pagam pelo kWh por um prec¸o estabelecido por comercializac¸ ˜ao.

´

E desvantajoso para os agentes que produzem e entregam excedentes para a rede com compensac¸ ˜ao de cr ´edito para as concession ´arias de energia el ´etrica pois com tais limitac¸ ˜oes regulat ´orias n ˜ao se encaixam outros modelos de transac¸ ˜ao de energia. Mesmo em pa´ıses que cont ˆem pol´ıticas p ´ublicas de tarifas do tipo feed-in2, o

kWh pago ´e abaixo do valor que ´e ofertado pela concession ´aria que est ´a comprando este excedente, o que ´e visto como uma desvantagem comercial para quem produz energia (HWANG et al., 2017).

Em pa´ıses que s ´o permitem a compensac¸ ˜ao de energia gerada por cr ´edito, como ´e o caso do Brasil, o retorno do investimento em gerac¸ ˜ao pr ´opria de energias renov ´aveis ´e comprometido negativamente, visto que, de acordo com indicadores 1Prosumers ´e um neologismo do ingl ˆes que une as palavras Producer (Produtor) e Consumer

(Consumidor).

2A tarifa de contrato de oferta padr ˜ao, do ingl ˆes Feed-In Tariff, ´e uma pr ´atica de pol´ıtica

p ´ublica utilizada para incentivar a utilizac¸ ˜ao de energias renov ´aveis no sistema el ´etrico ao pre-miar financeiramente o produtor de energia renov ´avel que devolver `a rede el ´etrica uma parcela de energia gerada provindas de fontes renov ´aveis de energia. Ou seja, existe uma compensac¸ ˜ao monet ´aria para quem injeta pot ˆencia gerada na rede por meio de fontes de energia distribu´ıdas e renov ´aveis (VIEIRA et al., 2016).

(16)

1 Introduc¸ ˜ao 14

econ ˆomicos simples (como exemplo o Payback3, TIR4 e VPL5) demonstra que sis-temas adquiridos com a intenc¸ ˜ao de investimento s ´o iniciam a dar lucro em um longo per´ıodo se comparado com pa´ıses que adotam as tarifas do tipo feed-in (ZHANG et al., 2018).

Devido `as condic¸ ˜oes vigentes, em que os consumidores que possam pro-duzir a pr ´opria energia t ˆem opc¸ ˜oes limitadas de negociar essa energia gerada, n ˜ao tardou para que novas modalidades de negociac¸ ˜ao de energia surgissem e outras ar-quiteturas de negociac¸ ˜ao pudessem ser inseridas no ambiente de gerac¸ ˜ao, com ´ercio e distribuic¸ ˜ao de energia, um ambiente que ´e conhecido tradicionalmente por ser centra-lizado em quase todos os seus processos. Novas arquiteturas nascem para suportar novos modelos de negociac¸ ˜ao que reflitam as necessidades atuais dessa nova moda-lidade de agentes em sistemas de energia (HWANG et al., 2017).

Os prosumers se enquadram como agentes tanto na configurac¸ ˜ao de siste-mas descentralizados como em sistesiste-mas distribu´ıdos. As duas arquiteturas permitem com que haja negociac¸ ˜ao com mais de um gerador ou consumidor de energia el ´etrica, que ´e justamente o que ocorre com a inserc¸ ˜ao dos Recursos Distribu´ıdos de Energia (DERs) nos sistemas de pot ˆencia.

O crescimento da conex ˜ao dos DERs com a rede, a reduc¸ ˜ao de custos de produc¸ ˜ao de pain ´eis fotovoltaicos e a forte tend ˆencia mundial de servic¸os basea-dos em economia compartilhada permite que a arquitetura peer-to-peer se apresente como uma nova perspectiva de como a energia pode ser comercializada e distribu´ıda, tanto em quest ˜ao t ´ecnica-operacional como econ ˆomica e regulat ´oria (LIU et al., 2017).

A arquitetura peer-to-peer (P2P) ´e um modelo descentralizado de negocia-c¸ ˜ao em que dois indiv´ıduos interagem para vender ou comprar bens ou servinegocia-c¸os sem necessitar de um agente intermedi ´ario (ZHANG et al., 2018).

O conceito de P2P ´e uma realidade estabelecida em outros setores da eco-nomia global de servic¸os e est ´a sendo inserida dentro da realidade de comercializac¸ ˜ao de energia para aproveitar o uso de energias renov ´aveis locais. Pa´ıses como Reino 3Retorno, do ingl ˆes Payback, ´e um indicador econ ˆomico utilizado para calcular o per´ıodo de

retorno de um investimento aplicado.

4Taxa Interna de Retorno (TIR) ´e um indicador utilizado em an ´alise de viabilidade de

inves-timentos que analisa quanto um empreendimento pode render ao considerar um fluxo de caixa descontado continuamente durante um per´ıodo fixo de tempo.

5Valor Presente L´ıquido (VPL) ´e um m ´etodo utilizado tamb ´em para an ´alise de viabilidade de

projetos que adianta todos os fluxos de caixa de um projeto para a data zero (Condic¸ ˜oes atuais no momento em que se faz a an ´alise do projeto, considerando a depreciac¸ ˜ao do empreendimento e o valor do dinheiro utilizado para an ´alise) aplicando uma taxa de m´ınima de atratividade para o desconto do fluxo de caixa de refer ˆencia.

(17)

1 Introduc¸ ˜ao 15

Unido, Alemanha e Holanda j ´a adotam sistemas em fase de testes que incorporam essa filosofia em que os prosumers possam explorar novas opc¸ ˜oes de utilizac¸ ˜ao de excedentes de gerac¸ ˜ao ou comercializarem melhores prec¸os para utilizac¸ ˜ao de ener-gia (ZHANG et al., 2018).

Um sistema de energia el ´etrica tradicional ´e caracterizado por ser centra-lizado em diversas etapas dentro do processo de transfer ˆencia de energia aos con-sumidores, sobretudo na etapa de distribuic¸ ˜ao. Isso faz com que um ´unico agente controle todas as transac¸ ˜oes comerciais que s ˜ao realizadas na rede (TOLMASQUIM, 2015;MAYON; PARODI, 2018).

Dentro de uma nova realidade poss´ıvel de sistema de energia el ´etrica, um novo ambiente de comercializac¸ ˜ao de energia el ´etrica n ˜ao ´e s ´o sustentado por uma nova arquitetura de negociac¸ ˜ao: deve haver uma estrutura que reflita condic¸ ˜oes de negociac¸ ˜ao para todos os agentes presentes na rede.

As novas estruturas em microrredes se encaixam neste novo paradigma pois potencializam a otimizac¸ ˜ao de gerenciamento de sistemas el ´etricos para econo-mizar ainda mais em contas de energia entre as microrredes envolvidas (ZHANG et al., 2018).

Alam et al. (2017), com o objetivo de introduzir diversas tend ˆencias em gerenciamento de sistemas de energia, demonstram um trabalho que une sistemas de gerenciamento pelo lado da demanda (Demand Side Management) associados com o conceitos de redes inteligentes (Smart Grids) para minimizac¸ ˜ao do custo da energia.

Com o cen ´ario desenhado para transac¸ ˜oes cada vez mais bidirecionais en-tre consumidores e geradores de energia, todos esses caracterizados como prosu-mers, conforme mencionado anteriormente, h ´a a necessidade de criar um ambiente de negociac¸ ˜ao que permita confianc¸a entre os envolvidos na negociac¸ ˜ao bem como protec¸ ˜ao contra fraudes aos envolvidos, problema comum em arquiteturas P2P.

Nakamoto (2009) prop ˆos uma criptomoedam denominada Bitcoin, em um ambiente de negociac¸ ˜ao por meio de uma tecnologia denominada Blockchain, carac-terizados como uma rede de computadores com bancos de dados distribu´ıdos em que ocorrem as transac¸ ˜oes e verificac¸ ˜oes entre os envolvidos nas negociac¸ ˜oes do ativo em quest ˜ao, que funciona com base na natureza descentralizada da rede, ou seja, sem intermedi ´arios, consensos entre os contratos estabelecidos e com criptografia para protec¸ ˜ao dos dados envolvidos (IMBAULT et al., 2017). Potencialmente, o Blockchain

(18)

1 Introduc¸ ˜ao 16

pode ser aplicado em diversas ´areas econ ˆomicas como sistemas banc ´arios, servic¸os p ´ublicos, governamentais e aplicac¸ ˜oes envolvendo IoT (Internet of Things6).

A discuss ˜ao sobre a relev ˆancia do Blockchain nas ind ´ustrias, independente dos setores relacionados, ainda ´e especulativa, do ponto de vista de aplicac¸ ˜oes em larga escala e de que forma as suas vantagens podem contribuir para a melhora de servic¸os de maneira geral (MYLREA; GOURISETTI, 2017).

Com o objetivo de clarear as possibilidades de aplicac¸ ˜ao de tecnologia como o Blockchain, a empresa de consultoria Gartner emitiu em 2018 um relat ´orio so-bre a tend ˆencia de tecnologias emergentes, em que essas tecnologias em alto estado especulativo e com altas expectativas por parte da m´ıdia e da ind ´ustria s ˜ao classifica-das em cinco estados de maturac¸ ˜ao e adoc¸ ˜ao (GARTNER, 2018). Estes cinco estados s ˜ao definidos em um ciclo denominado Hype7Cycle que est ´a exposto na Figura 1.

Plataformas de falas em AI Displays Voluméricos

Robôs Autônomos

AIcomo Plataforma de Serviço Interface Computador-cérebro Ambientes de Trabalho Inteligentes

Robôs Inteligentes Computação Quântica

Blockchain para segurança de dados

Engenharia neuromórfica

Poeira Inteligente

Tecidos Biológicos Artificiais Carros Autônomos Voadores

Inteligência ArtificialGeral Impressão 4D

Aprimoramento Humano Limite da Inteligência Artificial

5G Gêmeo digital

Nanotubos de carbono

Plataformas de IoT (Internetdas Coisas) Assistentes virtuais

Baterias de ânodo de silício

Casa Conectada/Inteligente Direção Autônoma Nível4 Direção Autônoma Nível5 Realidade Mista

Realidade Aumentada

Gatilho da inovação

Auge das expectativas

infladas Vale da desilusão Aclive da iluminação Plateau de produtividade Tempo Ex pe ct at iv as menos de 2 anos 2 a 5 anos 5 a 10 anos mais de 10 anos

Plateau vaiseralcançado em:

Julho de 2018

Figura 1: Hype Cycle das tend ˆencias tecnol ´ogicas emergentes. Fonte: Adaptado de Gartner (2018).

Com refer ˆencia `a Figura 1, os cinco est ´agios do Hype Cycle s ˜ao oGatilho

6Internet das Coisas, do ingl ˆes Internet of Things, ´e um conceito em que v ´arios

dispositi-vos eletr ˆonicos se conectam a internet para se integrar com outros sistemas. O Blockchain ´e relacionado com esse conceito pois ´e poss´ıvel gerenciar dados de cobranc¸a por uso de um dis-positivo oferecendo todas as vantagens de uma rede em Blockchain: transac¸ ˜oes criptografadas, inviol ´aveis e confi ´aveis.

7Hype ´e o uso excessivo de publicidade e propaganda para fazer pessoas se interessarem

(19)

1 Introduc¸ ˜ao 17 de Inovac¸ ˜ao (Avanc¸o inicial da tecnologia), Auge das expectativas infladas (Alta

atenc¸ ˜ao da m´ıdia e interesse popular, tecnologia em desenvolvimento),Vale da desi-lus ˜ao (Frustrac¸ ˜ao das expectativas populares e perda de interesse popular), Aclive da iluminac¸ ˜ao (Sem a atenc¸ ˜ao da m´ıdia popular, o progresso de trabalho na tecnologia

´e convertido em avanc¸os significativos e relevantes para a comunidade acad ˆemica) e oPlateau8 de produtividade (Tecnologia alcanc¸a estabilidade e seus benef´ıcios s ˜ao

amplamente demonstrados) (GARTNER, 2018).

Verifica-se pela Figura 1 com base no relat ´orio emitido pela Gartner, que o Blockchain encontra-se na terceira fase do ciclo e que alcanc¸ar ´a o seu plateau entre 5 e 10 anos, o que reafirma o seu estado especulativo e indica que sua adoc¸ ˜ao em ind ´ustrias ´e um t ´opico ainda em discuss ˜ao (GARTNER, 2018). Entretanto, diversos es-tudos j ´a indicam haver espac¸o para esse tipo de tecnologia dentro do setor de energia el ´etrica (GORANOVIC et al., 2017; SALEME et al., 2018; XUE et al., 2017; MUNSING et al., 2017).

Sendo assim, a utilizac¸ ˜ao de sistemas em Blockchain ´e uma forte tend ˆencia tecnol ´ogica, visto que se encaixa em diversas ind ´ustrias que potencialmente est ˜ao prop´ıcias a serem adaptadas para um sistema P2P (MYLREA; GOURISETTI, 2017). Sendo o sistema de energia el ´etrica convencional totalmente centralizado e com possibilida-des de inserc¸ ˜ao de novos agentes comercializadores na rede, a tecnologia ´e aplic ´avel. Um sistema de energia el ´etrica que se desenha com base nas tend ˆencias tecnol ´ogicas e mercadol ´ogicas deve ser ”descentralizado, integrado com diversas fon-tes de energia, com ger ˆencia do sistema baseado em computac¸ ˜ao na nuvem9, flex´ıvel

e seguro”(MYLREA; GOURISETTI, 2017, p. 3). A estrutura de comercializac¸ ˜ao e distribui-c¸ ˜ao de energia que este trabalho deseja explorar est ´a dentro desse sistema-modelo de refer ˆencia.

Com base nas tend ˆencias de modelos de sistemas de energia em P2P e com a integrac¸ ˜ao da tecnologia de Blockchain, o trabalho aqui apresentado se carac-teriza como uma an ´alise geral sobre a tecnologia de Blockchain aplicada aos sistemas de energia el ´etrica, no modelo de comercializac¸ ˜ao em arquitetura P2P, explorando a possibilidade de aplicac¸ ˜ao dessa arquitetura e tecnologia no contexto do Brasil com inspirac¸ ˜oes em modelos e experi ˆencias de implementac¸ ˜ao internacionais.

8Per´ıodo em que n ˜ao h ´a mudanc¸as significativas

9Computac¸ ˜ao na nuvem ´e um conceito de rede em que toda a utilizac¸ ˜ao de dados dispon´ıveis

de aplicac¸ ˜ao est ´a armazenada em computadores ou servidores compartilhados e descentraliza-dos. Todo acesso ´e feito atrav ´es de comunicac¸ ˜ao pela internet, diferente de sistemas convenci-onais que se comunicam com um servidor local.

(20)

1.1 Objetivos 18

1.1 OBJETIVOS

Apresentam-se, portanto, o objetivo geral definido para esse trabalho, bem como os objetivos espec´ıficos necess ´ario para alcanc¸ ´a-lo.

1.1.1 OBJETIVO GERAL

Apresentar uma an ´alise sobre as perspectivas t ´ecnicas e regulat ´orias para aplicac¸ ˜ao da tecnologia Blockchain para comercializac¸ ˜ao de energia el ´etrica entre mi-crorredes.

1.1.2 OBJETIVOS ESPEC´IFICOS

• Caracterizar as microrredes no contexto da gerac¸ ˜ao distribu´ıda de energia el ´etrica e na transformac¸ ˜ao estrutural do mercado de energia;

• Caracterizar os princ´ıpios da tecnologia Blockchain e suas aplicac¸ ˜oes no con-texto da comercializac¸ ˜ao de energia el ´etrica;

• Analisar casos internacionais da aplicac¸ ˜ao do Blockchain na comercializac¸ ˜ao de energia el ´etrica entre microrredes em arquitetura P2P;

• Identificar marco regulat ´orio brasileiro acerca da comercializac¸ ˜ao de energia e de microrredes independentes;

• Discutir o potencial de aplicac¸ ˜ao do Blockchain no ˆambito da comercializac¸ ˜ao de energia el ´etrica no Brasil.

1.2 JUSTIFICATIVA

Os avanc¸os tecnol ´ogicos na ´area de sistemas de informac¸ ˜ao, a diminuic¸ ˜ao dos custos de gerac¸ ˜ao da energia renov ´avel, com enfoque especial para a energia solar fotovoltaica, com subs´ıdios e incentivos governamentais em diversos pa´ıses e a adequac¸ ˜ao de estruturas regulat ´orias para receber esse aumento de energia re-nov ´avel, forneceram base para um fen ˆomeno que remonta `as origens dos sistemas de distribuic¸ ˜ao de energia el ´etrica, quando esse era majoritariamente descentralizado e aguardava inovac¸ ˜oes operacionais para se expandir (BAKKE, 2016).

A descentralizac¸ ˜ao da gerac¸ ˜ao de energia el ´etrica em uma economia co-nectada e moderna trouxe possibilidades al ´em do campo da sustentabilidade e da

(21)

1.3 Estrutura da monografia 19

atuac¸ ˜ao mais pr ´oxima do consumidor, antes somente final, de energia el ´etrica ao per-mitir a ascens ˜ao de novas estruturas de redes, como as microrredes.

Ainda nessa conjuntura, a possibilidade de novas formas de se comerci-alizar de energia el ´etrica convida a academia e a ind ´ustria a rediscutir o formato de estrutura do mercado de energia e a discuss ˜ao da inserc¸ ˜ao de novos agentes nesse mercado. Com todos os avanc¸os tecnol ´ogicos e o cen ´ario prop´ıcio de um mercado descentralizado de energia el ´etrica, o Blockchain se apresenta como uma tecnologia que pode contribuir para estabelecer um novo paradigma no que tange ao com ´ercio de energia.

Sendo assim, a verificac¸ ˜ao de como o Blockchain pode contribuir como base para comercializac¸ ˜ao de energia el ´etrica entre microrredes e analisar quais s ˜ao as possibilidades e desafios no ˆambito t ´ecnico e regulat ´orio pode auxiliar na maturac¸ ˜ao e adaptac¸ ˜ao da pr ´opria tecnologia ao acelerar a sua adoc¸ ˜ao pelo setor de energia el ´etrica de maneira gradual, respeitando os limites regulat ´orios, padr ˜oes normativos e demandas mercadol ´ogicas e comerciais.

1.3 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA

No cap´ıtulo 2 apresenta o um estudo sobre os principais t ´opicos que funda-mentam a comercializac¸ ˜ao de energia el ´etrica, como arquiteturas de redes, microrre-des e peer-to-peer, e associar com a tecnologia Blockchain aplicada ao setor el ´etrico. No cap´ıtulo 3 descreve o enquadramento metodol ´ogico para a selec¸ ˜ao da bibliografia utilizada para a realizac¸ ˜ao do trabalho, bem como as etapas da pesquisa, crit ´erios de selec¸ ˜ao e coleta de artigos e an ´alise de dados.

No cap´ıtulo 4 apresenta os resultados obtidos com a revis ˜ao sistem ´atica dos dados de pesquisa e a discuss ˜ao com relac¸ ˜ao ao progresso da tecnologia Block-chain no contexto de comercializac¸ ˜ao entre microrredes e desafios a serem superados no ˆambito t ´ecnico e regulat ´orio.

No cap´ıtulo 5 aborda as conclus ˜oes com relac¸ ˜ao ao tema elaborado e a sugest ˜ao de trabalhos futuros relacionados.

(22)

20 2 FUNDAMENTAC¸ ˜AO TE ´ORICA

2.1 ARQUITETURAS DE REDES DE ENERGIA EL ´ETRICA

Nessa sec¸ ˜ao, discute-se os pontos cr´ıticos que fundamentam e comp ˜oem as novas proposic¸ ˜oes de arquiteturas de redes de energia el ´etrica: gerac¸ ˜ao distribu´ıda, microrredes, comercializac¸ ˜ao de energia e a tecnologia Blockchain. Sendo assim, ´e v ´alido introduzir inicialmente o conceito de gerac¸ ˜ao distribu´ıda que corresponde a base te ´orica do presente trabalho e, posteriormente, os elementos que se beneficiaram com o aumento desta.

2.1.1 GERAC¸ ˜AO DISTRIBU´IDA

Uma pesquisa realizada em 2013 relatou que 94% dos executivos senio-res do setor de concession ´arias e servic¸os relacionados a energia el ´etrica ”preveem que haver ´a uma completa transformac¸ ˜ao ou importantes mudanc¸as no modelo de neg ´ocios das concession ´arias”at ´e 2030 (PWC, 2013). Essas mudanc¸as est ˜ao intrinsi-camente relacionadas com o aumento do fluxo de gerac¸ ˜ao de energia distribu´ıda em que sistemas de pot ˆencia em diversos pa´ıses est ˜ao sendo submetidos (BURGER; LUKE, 2017).

N ˜ao h ´a uma definic¸ ˜ao internacionalmente aceita com relac¸ ˜ao ao termo de gerac¸ ˜ao distribu´ıda que se relacione com as situac¸ ˜oes em que essas fontes se co-nectam ao sistema de pot ˆencia est ˜ao limitadas `a regulac¸ ˜ao imposta pela legislac¸ ˜ao vigente no espac¸o, o que impossibilita trac¸ar uma linha m ´edia de um conceito que estabelec¸a qual ´e a finalidade desses recursos distribu´ıdos na rede el ´etrica (BURGER; LUKE, 2017; MEHIGAN et al., 2018). A definic¸ ˜ao comumente usada para gerac¸ ˜ao dis-tribu´ıda ´e apresentada no trabalho de Vaziri et al. (2011),

Gerac¸ ˜ao distribu´ıda ´e uma fonte de gerac¸ ˜ao conectada `a rede direta-mente ao n´ıvel de tens ˜ao relacionado com a distribuic¸ ˜ao ou pelo lado de medic¸ ˜ao do consumidor.

Entretanto, a definic¸ ˜ao utilizada nesse trabalho para gerac¸ ˜ao distribu´ıda deve se sobrepor as quest ˜oes regulat ´orias at ´e ent ˜ao, visto que o objetivo ´e identificar

(23)

2.1 Arquiteturas de redes de energia el ´etrica 21

quais s ˜ao as potencialidades desses recursos para novas modalidades de transac¸ ˜ao de energia el ´etrica.

Sendo assim, adota-se a definic¸ ˜ao mais delimitada de Mehigan et al. (2018),

Gerac¸ ˜ao distribu´ıda ´e uma fonte de gerac¸ ˜ao de energia el ´etrica, que

tamb ´em pode ser considerado um DER1, que ´e conectada a rede de

distribuic¸ ˜ao el ´etrica pelo lado de medic¸ ˜ao do consumidor ou isolado da rede para atender a demanda que lhe ´e exigida.

Comumente, gerac¸ ˜ao distribu´ıda tamb ´em pode ser associada como um sin ˆonimo de recursos de energia distribu´ıdos (DER). Para o presente trabalho, isso ser ´a tratado como verdadeiro para abranger todas as possibilidades de operac¸ ˜oes em que fontes de energia el ´etrica s ˜ao conectadas `a rede, sem distinguir a natureza da fonte (MEHIGAN et al., 2018).

No contexto de gerac¸ ˜ao distribu´ıda, a caracterizac¸ ˜ao que ser ´a utilizada para classificar o montante de pot ˆencia de pequeno porte gerado, micro e minigerac¸ ˜ao de energia, ser ´a referente `a definic¸ ˜ao proposta pela ANEEL (2014), ao definir que,

A microgerac¸ ˜ao distribu´ıda refere-se a uma central geradora de ener-gia el ´etrica, com pot ˆencia instalada menor ou igual a 100 quilowatts (kW), enquanto que a minigerac¸ ˜ao distribu´ıda diz respeito `as centrais geradoras com pot ˆencia instalada superior a 100 kW e menor ou igual

a 1 megawatt (MW) (ANEEL, 2014, p. 11).

Sendo assim, para todos os efeitos, todas as DERs tratadas no presente trabalho ser ˜ao delimitadas e ter ˜ao suas caracter´ısticas definidas pela ANEEL como micro ou minigerac¸ ˜ao.

Com a utilizac¸ ˜ao de DERs dispon´ıveis para comercializar energia el ´etrica, a possibilidade da gerac¸ ˜ao de energia estar pr ´oxima do local em que deva ser atendida a demanda permite criar uma pequena estrutura semelhante `a rede de distribuic¸ ˜ao convencional, por ´em miniaturizada: as microrredes.

2.1.2 MICRORREDES

De acordo com a definic¸ ˜ao do PRODIST, documento elaborado pela Ag ˆencia Nacional de Energia El ´etrica (ANEEL) que cont ´em os procedimentos relacionados `a distribuic¸ ˜ao no sistema el ´etrico nacional, microrrede pode ser definido como:

Rede de distribuic¸ ˜ao de energia el ´etrica que pode operar isoladamente do sistema de distribuic¸ ˜ao, atendida diretamente por uma unidade de

gerac¸ ˜ao distribu´ıda. (ANEEL, 2015, p. 43)

(24)

2.1 Arquiteturas de redes de energia el ´etrica 22

Entretanto, segundo Bellido et al. (2018), a definic¸ ˜ao de microrrede definida pelo PRODIST ´e caracterizada como incipiente no ˆambito regulat ´orio e n ˜ao abrange todas as possibilidades atuais de uma microrrede do ponto de vista mercadol ´ogico de energia el ´etrica.

Para o presente trabalho, al ´em da sua principal func¸ ˜ao de operar de forma isolada do sistema de pot ˆencia, a definic¸ ˜ao de microrrede deve abranger suas outras func¸ ˜oes e modelos que permitem a venda de sua energia e/ou servic¸os para seus consumidores, distribuidoras e outras microrredes e que n ˜ao se restrinjam somente em auxiliar a distribuidora de energia el ´etrica local em suas atividades (BELLIDO et al., 2018;PARK; YONG, 2017).

Sendo assim, conforme Bellido et al. (2018), a definic¸ ˜ao de microrrede ´e complementada `a definic¸ ˜ao proposta pelo PRODIST e definida para o presente traba-lho como:

Grupo de cargas interconectadas e de recursos de energia distribu´ıdos (DER) que age como uma entidade ´unica control ´avel com respeito a

rede de energia el ´etrica atrav ´es de um ponto de acoplamento comum2

(BELLIDO et al., 2018).

Do ponto de vista operacional e gerencial, as microrredes evolu´ıram com os avanc¸os da tecnologia da informac¸ ˜ao ao serem produzidos medidores inteligentes e equipamentos que permitissem maior conectividade entre dispositivos (TEOTIA; BHA-KAR, 2016). A uni ˜ao dos os avanc¸os da tecnologia da informac¸ ˜ao e as microrredes tem como resultado o estabelecimento das smart grids e, com isso, o surgimento da possi-bilidade de comercializac¸ ˜ao de energia el ´etrica entre arquiteturas de redes (GIOTITSAS et al., 2015).

O modelo mais expoente de arquitetura de redes computacionais s ˜ao as baseadas em peer-to-peer, que ser ´a explanada na pr ´oxima subsec¸ ˜ao.

2.1.3 PEER-TO-PEER

De acordo com Park e Yong (2017), o formato ponto-a-ponto3(P2P) se

re-fere `a noc¸ ˜ao de que, em uma rede conectada como a internet, existem peers (Pontos) que se comportam como clientes ou servidores simultaneamente, trocando e compar-tilhando informac¸ ˜oes.

2O ponto de acoplamento comum (PAC) ´e um ponto de operac¸ ˜ao no sistema el ´etrico de

pot ˆencia onde m ´ultiplos consumidores ou m ´ultiplas cargas podem ser conectadas. (PAC) (APQ, 2018)

(25)

2.1 Arquiteturas de redes de energia el ´etrica 23

Diferente de arquiteturas de rede unidirecionais como as tradicionais Busi-ness-to-Consumer (B2C), em que o fluxo de informac¸ ˜ao origina de poucos provedores para uma quantidade enorme de consumidores ou usu ´arios, todos os participantes da rede P2P participam e utilizam as informac¸ ˜oes da rede, tanto provedores como consumidores (PARK; YONG, 2017).

Dado o novo contexto gerado pelo aumento de fornecimento de DER e as contribuic¸ ˜oes das tecnologias dos sistemas de informac¸ ˜ao para as microrredes, conforme mencionado na subsec¸ ˜ao 2.1.2, o conceito de redes em P2P se estende para o sistema de distribuic¸ ˜ao de energia el ´etrica. O conceito de Internet da Energia4

une todas as vantagens de uma rede conectada e aplica a possibilidade de transac¸ ˜ao de informac¸ ˜ao e de energia el ´etrica entre todos os seus agentes participantes, similar ao conceito tradicional de redes de computadores (GIOTITSAS et al., 2015; BELL; GILL, 2018).

(a) (b)

Figura 2: Em (a), o conceito de Internet da Energia como troca de energia el ´etrica e dados relacionados em uma pequena escala e, em (b), a representac¸ ˜ao da troca de energia el ´etrica em comunidades em m ´edia ou larga escala.

Fonte: Adaptado de Park e Yong (2017).

Na Figura 2 ´e representado de forma gr ´afica o conceito de energia da in-ternet como exemplificac¸ ˜ao e relac¸ ˜ao com as redes P2P convencionais. Na 2(a) ´e a representac¸ ˜ao com a possibilidade de transac¸ ˜ao de energia el ´etrica entre vi-zinhos, em uma esp ´ecie de microrrede inteligente adaptada para essa modalidade de comercializac¸ ˜ao descentralizada. J ´a na Figura 2(b), a uni ˜ao de v ´arias micror-redes inteligentes pr ´oximas podem se conectar para formar um grande grupo de comercializac¸ ˜ao local de energia el ´etrica, possibilidade que tamb ´em ´e poss´ıvel dentro 4Do ingl ˆes, Energy Internet. H ´a varias refer ˆencias ao mesmo conceito mas com outra

denominac¸ ˜ao, como P2P Electricity, Energy Sharing e outros conceitos superiores que englo-bam a ideia de se utilizar de uma rede compartilhada e descentralizada para transac¸ ˜oes de informac¸ ˜oes e outros produtos (PARK; YONG, 2017). O conceito mais famoso ´e o de Economia

(26)

2.2 Comercializac¸ ˜ao de energia el ´etrica 24

do contexto de P2P.

Verifica-se que, conforme apresentado anteriormente o conceito de P2P, cada usu ´ario de uma rede pode agir como um provedor ou usu ´ario de energia el ´etrica. Dentro da l ´ogica de comercializac¸ ˜ao de energia el ´etrica, com pap ´eis que s ˜ao divididos entre produtores e consumidores de energia el ´etrica, h ´a de existir a possibilidade de que alguns agentes possam agir das duas formas (PARK; YONG, 2017).

Dessa forma, surge o prosumer, um novo agente no setor de energia el ´etrica que atende a essa demanda estrutural e que assume a possibilidade de agir com base nessas modalidades de produtor e consumidor de energia.

2.1.3.1 PROSUMERS

Com a inserc¸ ˜ao frequente e a popularizac¸ ˜ao de gerac¸ ˜ao renov ´avel e inter-mitente na rede de energia el ´etrica, que ocorre em v ´arios pa´ıses, incluindo o Brasil, os consumidores de energia el ´etrica convencionais podem se transformar em prosumers, atuando tanto como geradores como consumidores de energia el ´etrica (HWANG et al., 2017;MILLER; SENADEERA, 2017).

Os prosumers t ˆem seu papel fundamental nesse formato de transac¸ ˜ao co-mercial e do fluxo de pot ˆencia em uma rede pois, al ´em da transfer ˆencia de energia e dados em uma rede comum, podem viabilizar novos modelos de comercializac¸ ˜ao de energia el ´etrica e auxiliar na otimizac¸ ˜ao do fluxo de pot ˆencia que, atualmente em v ´arios pa´ıses, ´e uma func¸ ˜ao exclusiva das concession ´arias (MILLER; SENADEERA, 2017; GIOTITSAS et al., 2015).

2.2 COMERCIALIZAC¸ ˜AO DE ENERGIA EL ´ETRICA

Como o presente trabalho deseja explorar as condic¸ ˜oes relacionadas `a comercializac¸ ˜ao de energia el ´etrica, ´e v ´alido discutir a sua estrutura tradicional gen ´erica e como que o aumento da oferta de DERs e as estruturas de microrredes contribuem para novos modelos de transac¸ ˜oes entre produtores e consumidores relacionados com a microgerac¸ ˜ao de energia el ´etrica.

2.2.1 AGENTES INSTITUCIONAIS DO SETOR EL ´ETRICO BRASILEIRO

Antes de discutir as estruturas gen ´ericas definidas, apresentam-se os agen-tes institucionais do setor el ´etrico brasileiro com o prop ´osito de se discutir

(27)

posterior-2.2 Comercializac¸ ˜ao de energia el ´etrica 25

mente as suas responsabilidades e poss´ıveis futuras atribuic¸ ˜oes em um modelo de mercado de energia descentralizado.

O novo modelo do setor el ´etrico, vigente desde 2003 por meio da medida provis ´oria de no144/2003, est ´a institu´ıdo pelos seguintes agentes institucionais e suas

principais compet ˆencias segundo o Quadro 1.

Quadro 1: Agentes institucionais do setor el ´etrico brasileiro

Org ˜ao Func¸ ˜ao

Conselho Nacional de Pol´ıtica Energ ´etica (CNPE)

Proposic¸ ˜ao de pol´ıticas e diretrizes relacionadas ao setor el ´etrico brasileiro Minist ´erio de

Minas e Energia (MME)

Formulac¸ ˜ao e implantac¸ ˜ao de pol´ıticas no setor energ ´etico, de acordo

com as diretrizes do CNPE Comit ˆe de Monitoramento

do Setor El ´etrico (CMSE)

Monitorar a continuidade e seguranc¸a do suprimento eletroeneg ´etico

Ag ˆencia Nacional

de Energia El ´etrica (ANEEL)

Regular e fiscalizar a produc¸ ˜ao, transmiss ˜ao distribuic¸ ˜ao e comercializac¸ ˜ao de energia el ´etrica

Empresa de Pesquisa Energ ´etica (EPE)

Realizar estudos e pesquisas para apoio t ´ecnico ao planejamento estrat ´egico C ˆamara de Comercializac¸ ˜ao

de Energia El ´etrica (CCEE)

Respons ´avel pela viabilizac¸ ˜ao de comercializac¸ ˜ao de energia el ´etrica no Sistema Interligado Nacional (SIN) Operador Nacional

do Sistema El ´etrico (ONS)

Exerce o supervisionamento, controle e coordenac¸ ˜ao do SIN

Fonte: Adaptado de Tolmasquim (2015)

Os agentes institucionais seguem uma hierarquia com relac¸ ˜ao a elaborac¸ ˜ao de diretrizes e normas at ´e a operacionalizac¸ ˜ao destas. Portanto, os agentes apresen-tados, suas relac¸ ˜oes de hierarquia e a suas classificac¸ ˜oes de atividades est ˜ao esque-matizados conforme a Figura 3.

(28)

2.2 Comercializac¸ ˜ao de energia el ´etrica 26 CNPE  Conselho Nacional de Política Energética  MME  Ministério de Minas e Energia  CMSE  Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico  ANEEL  Agência Nacional de Energia Elétrica  CCEE  Câmara de Comercialização de Energia Elétrica  ONS  Operador Nacional do Sistema Elétrico  EPE  Empresa de Pesquisa Energética  Atividades de Governo Atividades Regulatórias Atividades Especiais Órgãos vinculados Relação de hierarquia

Figura 3: Agentes institucionais do setor el ´etrico. Fonte: Adaptado de Tolmasquim (2015).

Segundo Tolmasquim (2015), classifica-se esses agentes em tr ˆes grupos: Atividades de governo, Atividades regulat ´orias e atividades especiais. Estas est ˜ao relacionadas como:

• Atividades de governo: relacionadas com a pol´ıtica de comando, de iniciativa, de fixac¸ ˜ao de objetivos do Estado e de manutenc¸ ˜ao da ordem jur´ıdica.

• Atividades regulat ´orias: relacionadas com a assegurac¸ ˜ao da disciplina dos servi-c¸os p ´ublicos e das atividades reservadas, tais como a gerac¸ ˜ao de energia el ´etrica, a qualquer t´ıtulo, e a comercializac¸ ˜ao, seja norteada por crit ´erios n ˜ao exclusiva-mente pol´ıticos.

• Atividades especiais: No Brasil, s ˜ao atividades relacionadas com a operac¸ ˜ao do sistema el ´etrica e a operacionalizac¸ ˜ao da comercializac¸ ˜ao de energia el ´etrica. S ˜ao desempenhadas por pessoas jur´ıdicas de direito privado que desempenham func¸ ˜oes de interesse p ´ublico.

No ˆambito desse trabalho, os ´org ˜aos apresentados s ˜ao respons ´aveis pelas pol´ıticas regulat ´orias, operacionais e comerciais relacionadas com o tema de energia el ´etrica. S ˜ao esses ´org ˜aos que estruturam o mercado de energia el ´etrica e regulam sua operac¸ ˜ao para fornecer energia el ´etrica de qualidade para o uso p ´ublico.

(29)

2.2 Comercializac¸ ˜ao de energia el ´etrica 27

2.2.2 MERCADO DE ENERGIA TRADICIONAL

O mercado de energia tradicional5(TEM) representa o resultado da

integra-c¸ ˜ao tradicional entre os agentes de energia el ´etrica (Geraintegra-c¸ ˜ao, transmiss ˜ao, distribuiintegra-c¸ ˜ao) e consumidores refletida em seus pap ´eis comerciais (Produtores, comerciantes, vare-jistas e consumidores.) (TEOTIA; BHAKAR, 2016).

Os agentes b ´asicos participantes dessa estrutura tradicional, simplificados e relacionados com a estrutura brasileira, s ˜ao:

• Companhias geradoras (GENCO): Geradores, usinas e todas as atividades rela-cionadas;

• Companhias de distribuic¸ ˜ao (DISCO): Concession ´arias e operadoras do sistema de distribuic¸ ˜ao e todas as atividades relacionadas;

• Consumidores Livres6: Consumidores com carga e atendimento de tens ˜ao el ´etrica

suficientes para serem atendidos diretamente por agentes geradores;

• Consumidores: Usu ´arios do sistema el ´etrico que n ˜ao atendem aos requisitos de demanda e tens ˜ao el ´etrica para negociar diretamente com GENCOs e, quando tem, n ˜ao optam por essa modalidade.

Segundo Teotia e Bhakar (2016), ´e poss´ıvel simplificar dois mercados em que ocorrem a realizac¸ ˜ao, de fato, da comercializac¸ ˜ao de energia el ´etrica. Estes mer-cados s ˜ao o mercado de atacado e o mercado de varejo.

O mercado de atacado corresponde ao ambiente em que contratos de ener-gia el ´etrica por meio de leil ˜oes e contratos bilaterais de enerener-gia el ´etrica entre DISCOs, GENCOs e Consumidores livres7s ˜ao firmados para realizar as transac¸ ˜oes de energia el ´etrica (TEOTIA; BHAKAR, 2016).

Ainda segundo Teotia e Bhakar (2016), as caracter´ısticas principais do mer-cado de atamer-cado, nota-se:

5TEM, do ingl ˆes Traditional Energy market.

6No Brasil, Consumidor livre ´e aquele que, atendido em qualquer tens ˜ao, exerceu a opc¸ ˜ao

de compra de energia el ´etrica, nas condic¸ ˜oes previstas nos artigos 15 e 16 da Lei de no 9.074,

que regulamenta a comercializac¸ ˜ao livre de energia el ´etrica. Suas caracter´ısticas s ˜ao definidas por ter uma carga de 3 MW ou maior e a tens ˜ao de 69 kV ou superior. Sua atuac¸ ˜ao depende exclusivamente de um agente comercializador intermedi ´ario para a efetivac¸ ˜ao de contratos de energia el ´etrica (TOLMASQUIM, 2015).

7Esses necessitam de um agente comercializador, atuando como intermedi ´ario, para realizar

(30)

2.2 Comercializac¸ ˜ao de energia el ´etrica 28

• A impossibilidade de pequenos consumidores escolherem a DISCO de melhor interesse;

• A volatilidade do prec¸o de energia dependendo das limitac¸ ˜oes e restric¸ ˜oes dos agentes relacionados com a transmiss ˜ao de energia el ´etrica;

• A dif´ıcil integrac¸ ˜ao de fontes de energia vari ´avel ou renov ´avel devido a sua de-pend ˆencia de garantias f´ısicas para definir um custo marginal de operac¸ ˜ao.

No Brasil, essas garantias s ˜ao realizadas e efetivadas dentro de ambien-tes regulados de comercializac¸ ˜ao, o Ambiente de Contratac¸ ˜ao Regulada (ACR) e o Ambiente de Contratac¸ ˜ao Livre (ACL), ambos viabilizados pela CCEE (TOLMASQUIM, 2015).

J ´a o mercado de varejo corresponde ao ambiente do mercado que ´e con-siderado uma segunda inst ˆancia em relac¸ ˜ao aos contratos de energia, esses sujeitos a riscos assumidos pelas DISCOs com o objetivo de atender os consumidores (TE-OTIA; BHAKAR, 2016; TOLMASQUIM, 2015). De acordo com Teotia e Bhakar (2016) e Tolmasquim (2015), as caracter´ısticas mercadol ´ogicas do mercado de varejo dentro da estrutura tradicional de comercializac¸ ˜ao de energia el ´etrica s ˜ao:

• Os contratos s ˜ao realizados de maneira bilateral entre DISCOs e consumidores por meio de uma fatura de energia el ´etrica baseada em seu consumo;

• Prec¸o fixado para atender os consumidores, o que retira a oportunidade desses de se beneficiar com o custo baixo de energia durante o baixo pico de carga demandada;

• No caso do Brasil, a impossibilidade de um consumidor ordin ´ario contratar outras concession ´arias torna o mercado de energia menos competitivo e que resulta em

ˆonus financeiro aos consumidores;

• O custo da transmiss ˜ao e transmiss ˜ao sempre ser ˜ao repassados ao consumidor final.

A estrutura de um mercado de energia el ´etrica tradicional, dada as suas func¸ ˜oes e agentes explanados anteriormente, ´e apresentada na Figura 4.

(31)

2.2 Comercializac¸ ˜ao de energia el ´etrica 29

GENCO  GENCO  GENCO 

DISCO DISCO GENCO  DISCO Consumidor  Livre  Rede de distribuição

Consumidor Consumidor Consumidor Rede de transmissão

Fluxo de potência Mercado de atacado

Mercado de varejo

Figura 4: Estrutura do mercado tradicional de energia el ´etrica.

Fonte: Adaptado de Teotia e Bhakar (2016).

2.2.3 MERCADO DE ENERGIA LOCAL

O mercado de energia local8 (LEM) representa uma estrutura proposta

gen ´erica considerando que haja uma terceira inst ˆancia de negociac¸ ˜ao de energia el ´etrica como uma segunda opc¸ ˜ao aos consumidores que n ˜ao s ˜ao considerados li-vres.

Al ´em dos agentes apresentados na subsec¸ ˜ao 2.2.2 e devido a presenc¸a do mercado local, os novos participantes dessa estrutura local s ˜ao:

• Prosumer : Agente que ´e, ao mesmo tempo, consumidor e produtor de energia el ´etrica (Conforme subsec¸ ˜ao 2.1.3.1);

• Pequenas unidades geradoras: Agentes relacionados com a minigerac¸ ˜ao de energia el ´etrica, que tamb ´em podem ser referenciados como DERs (Ver subsec¸ ˜ao 2.1.1);

• Operador de mercado (Ou operador de sistema): Agente que intermedia os flu-xos de pot ˆencia entre consumidores, prosumers e pequenas unidades geradoras para otimizac¸ ˜ao do fluxo de pot ˆencia.

Para facilitar a visualizac¸ ˜ao da proposta de uma estrutura de mercado des-centralizada do ponto de vista da distribuic¸ ˜ao, apresenta-se a Figura 5.

(32)

2.2 Comercializac¸ ˜ao de energia el ´etrica 30

GENCO  GENCO  GENCO 

DISCO DISCO GENCO  DISCO Consumidor  Livre  Rede de distribuição Operador do mercado Pequenas  unidades  geradoras  Prosumer Rede de transmissão Fluxo de potência Mercado de atacado Mercado de varejo Mercado local Consumidor Consumidor

Figura 5: Estrutura do mercado de energia el ´etrica com arranjo de um mercado local.

Fonte: Adaptado de Teotia e Bhakar (2016).

O operador de mercado, agente citado anteriormente, n ˜ao tem uma defini-c¸ ˜ao e fundefini-c¸ ˜ao amplamente aceita, visto que depende das condidefini-c¸ ˜oes regulat ´orias do sis-tema de pot ˆencia aplicado e de outros agentes que variam conforme essas regulac¸ ˜oes e outras situac¸ ˜oes locais (BELL; GILL, 2018;TEOTIA; BHAKAR, 2016).

Com relac ˜ao `a distribuic¸ ˜ao de responsabilidades de operac¸ ˜ao e manutenc¸ ˜ao da rede de distribuic¸ ˜ao, alguns trabalhos tratam o operador de mercado como uma ramificac¸ ˜ao de uma concession ´aria de distribuic¸ ˜ao de energia, com a responsabili-dade de gerenciar o fluxo de pot ˆencia entre os agentes do mercado local com base na disponibilidade de DERs. Para as DISCOs, a responsabilidade se limita a manutenc¸ ˜ao das redes de distribuic¸ ˜ao local e atividades correlatas (BELL; GILL, 2018; TEOTIA; BHA-KAR, 2016;TOLMASQUIM, 2015).

Um operador de mercado, como respons ´avel pela coordenac¸ ˜ao desses re-cursos, trabalha em conjunto com a DISCO para otimizar o fluxo de pot ˆencia dentro desse mercado local. Dependendo da estrutura regulada, uma mesma entidade pode fazer o papel dos dois agentes, como ocorreria no Brasil (TEOTIA; BHAKAR, 2016; TOL-MASQUIM, 2015;MAYON; PARODI, 2018). Uma exemplificac¸ ˜ao do design dessa estrutura local pode ser verificada na Figura 6.

(33)

2.2 Comercializac¸ ˜ao de energia el ´etrica 31 Operador do mercado Fluxo de informação e potência Mercado local Agregador DISCO Controlador  local da rede  (n)  Armazenamento  de energia  DERs Prosumers  (Industriais e comerciais)  Consumidores  (Industriais e comerciais)  Controlador  local da rede  (n+1)  Armazenamento  de energia  DERs Prosumers  (Industriais e comerciais)  Consumidores  (Industriais e comerciais)  ...

Figura 6: Design de um mercado local gen ´erico.

Fonte: Adaptado de Teotia e Bhakar (2016), com alterac¸ ˜oes.

Dentro de um design de mercado local gen ´erico, conforme a Figura 6 o agregador surge como mais um agente intermedi ´ario importante que permite a inter-face dos DERs com o operador do mercado para que esse possa realizar o despacho

´otimo de energia para os agentes das redes locais (TEOTIA; BHAKAR, 2016).

O Agregador, portanto, ´e respons ´avel por calcular e verificar os acordos realizados junto com o operador de mercado e distribuir o pagamento para as unidades que proveram os recursos de DER (INTELLIGRID, 2018). Em conjunto com o controlador local da rede, que pode ser uma microrrede levando em considerac¸ ˜ao a estrutura planejada de mercado, as trocas de informac¸ ˜oes entre as redes ´e efetivada, assim como o fluxo de energia gerado e demandado entre as redes (TEOTIA; BHAKAR, 2016). Dado o aumento da gerac¸ ˜ao distribu´ıda e da disponibilidade crescente de DERs no sistema el ´etrico de pot ˆencia, os avanc¸os da tecnologia da informac¸ ˜ao que modernizam as microrredes e a adaptac¸ ˜ao de um mercado de energia mais conectado baseado em arquiteturas P2P, gerou-se o ambiente ideal para se rediscutir formatos de comercializar energia el ´etrica. Uma tecnologia nova, com a cont´ınua evoluc¸ ˜ao dos dispositivos de informac¸ ˜ao, oferece possibilidades de tornar o mercado de energia el ´etrica mais integrado do ponto de vista de transac¸ ˜oes e confiabilidade: o Blockchain.

(34)

2.3 Blockchain 32

2.3 BLOCKCHAIN

O Blockchain ´e uma ponte que une os avanc¸os de todos os conceitos apre-sentados anteriormente em direc¸ ˜ao `a um mercado de energia descentralizado ope-racionalmente. Essa sec¸ ˜ao tem como objetivo introduzir a tecnologia Blockchain de maneira isolada e ligar as suas possibilidades com os avanc¸os do setor de energia el ´etrica.

2.3.1 CONCEITO E CONTEXTO DA TECNOLOGIA

O Blockchain ´e uma tecnologia de registro de transac¸ ˜oes, como uma esp ´ecie de livro fiscal (Conceito baseado no termo em ingl ˆes ledger ), que s ˜ao distribu´ıdos en-tre os bancos de dados que suportam a rede criada por esses bancos constantemente atualizados a cada transac¸ ˜ao realizada dentro dessa rede (MUNSING et al., 2017; SAN-SEVERINO et al., 2017).

Sendo assim, caracteriza-se por uma rede Blockchain toda rede que tra-balha com registro de transac¸ ˜oes em bancos de dados distribu´ıdos que opera sob a tecnologia Blockchain.

Segundo Munsing et al. (2017), Blockchain ´e uma tecnologia emergente para a computac¸ ˜ao descentralizada e armazenamento de dados, assegurado por crip-tografia e mecanismos de consenso distribu´ıdos. Como todo o registro das transac¸ ˜oes ´e validado na pr ´opria rede, extingue-se a necessidade de um intermedi ´ario que fac¸a a validac¸ ˜ao para verificar se a transac¸ ˜ao ´e real e se est ´a nos par ˆametros de aceitac¸ ˜ao de valor de todos os participantes da rede. Todos esses fatores foram respons ´aveis pela popularizac¸ ˜ao da tecnologia dentro de ambientes em que o P2P, conforme discutido na subsec¸ ˜ao 2.1.3, j ´a ´e uma realidade instaurada (GORANOVIC et al., 2017).

O Blockchain nasceu e se popularizou no contexto financeiro, especifica-mente no contexto das criptomoedas9. A criptomoeda Bitcoin foi o principal expoente da tecnologia desde o seu lanc¸amento em 2008 e fez com que outros setores da economia como seguros, gest ˜ao de ativos e sa ´ude se atentassem `a possibilidade de minimizar a atuac¸ ˜ao de intermedi ´arios no of´ıcio de validac¸ ˜ao de contratos (GORANOVIC et al., 2017).

9Criptomoedas s ˜ao meios de troca de valor em que as transac¸ ˜oes realizadas com essas s ˜ao

asseguradas em uma rede Blockchain para validac¸ ˜ao. Seu lastro ´e exclusivamente relacionado com a impossibilidade t ´ecnica de fraude devido `a forma como a rede opera com a tecnologia Blockchain e valida todas as transac¸ ˜oes que ocorrem na rede.

(35)

2.3 Blockchain 33

Com o setor de energia el ´etrica em transformac¸ ˜ao e o avanc¸o das tecnolo-gias de informac¸ ˜ao dos dispositivos relacionados `as microrredes, conforme discutido na subsec¸ ˜oes anteriores, a tecnologia Blockchain ganha notoriedade com a possibili-dade de criac¸ ˜ao de novos modelos de neg ´ocios para o setor (GORANOVIC et al., 2017; KOUNELIS et al., 2017;SANSEVERINO et al., 2017).

2.3.2 PRINC´IPIOS DE FUNCIONAMENTO DE UMA REDE BLOCKCHAIN

O Blockchain, por ser totalmente baseado em uma rede P2P, em que os agentes s ˜ao conectados e se relacionam randomicamente na rede, agem conforme um protocolo TCP10 definido para trocar dois tipos de informac¸ ˜ao: contratos

inteligen-tes e blocos (DANZI et al., 2017).

A primeira distinc¸ ˜ao a ser feita sobre a sua operac¸ ˜ao ´e com relac¸ ˜ao a ca-racter´ıstica de permiss ˜ao da rede. Uma rede Blockchain pode ser classificada como p ´ublica ou privada e que depende de uma plataforma para sua operac¸ ˜ao (XUE et al., 2017). Exemplos de plataformas conhecidas s ˜ao a Ethereum, Bitcoin (redes p ´ublicas) e Hyperledger (rede privada) e essas servem como base para adaptar os algoritmos de decis ˜ao montados para cada situac¸ ˜ao de aplicac¸ ˜ao, fornecendo funcionalidades espec´ıficas para cada caso (XUE et al., 2017).

Para esse trabalho, ser ´a considerada a utilizac¸ ˜ao da plataforma Ethereum por tr ˆes raz ˜oes: A Ethereum ´e uma plataforma open-source, ou seja, que permite alterac¸ ˜oes no c ´odigo-fonte da aplicac¸ ˜ao e flexibiliza o tratamento de modelos diferen-tes para cada situac¸ ˜ao de mercado, pela quantidade de trabalhos dispon´ıveis utili-zando a plataforma, o que facilita a comunicac¸ ˜ao de conceitos e, como principal mo-tivo, o fornecimento do uso do recurso de contratos inteligentes (KOUNELIS et al., 2017; DANZI et al., 2017;MUNSING et al., 2017).

A estrutura simplificada proposta por Danzi et al. (2017) que ser ´a utilizada como base te ´orica para a apresentac¸ ˜ao dos conceitos da tecnologia Blockchain pode ser visualizada na Figura 7.

10Siga do ingl ˆes Transmission Control Protocol. Um TCP se relaciona com a troca de dados

(36)

2.3 Blockchain 34 Buffer  Cópia local (Blockchain)  Atualização  de um SC  Novo bloco  Conteúdo  do bloco  (a) (b) (c) (d)

Figura 7: Fases de um protocolo gen ´erico de uma rede Blockchain Fonte: Adaptado de Danzi et al. (2017).

A Figura 7 servir ´a como refer ˆencia para a explanac¸ ˜ao do funcionamento de protocolo em uma rede blockchain. A tecnologia Blockchain, por consistir de um banco de dados distribu´ıdos em cada servidor para cada usu ´ario da rede, det ˆem c ´opias id ˆenticas de todas as transac¸ ˜oes realizadas na rede. Essas transac¸ ˜oes, quando re-alizadas s ˜ao organizadas de forma a criar blocos, definidos como o conjunto dessas transac¸ ˜oes realizadas. Dentro de cada bloco existe as atualizac¸ ˜oes de contratos inte-ligentes.

Os contratos inteligentes (SC), do ingl ˆes Smart Contrats, ´e um dos servic¸os dispon´ıveis por meio de uma plataforma espec´ıfica de Blockchain. No contrato inte-ligente ´e que s ˜ao definidos os dados e informac¸ ˜oes relevantes para a operac¸ ˜ao de uma transac¸ ˜ao. No contexto de energia el ´etrica, essas informac¸ ˜oes ser ˜ao tratadas como vari ´aveis e poderiam ser, por exemplo, o prec¸o de venda da energia definido pelo prosumer, quantidade de pot ˆencia a ser fornecida ou adquirida pelo agente.

Segundo Danzi et al. (2017), o contrato inteligente pode ser abstra´ıdo como um agente virtual que interage com outros agentes virtuais pela l ´ogica que est ´a em seu programa e dessa forma regulando a redistribuic¸ ˜ao de cr ´edito entre os agentes ao realizar a atualizac¸ ˜ao do contrato. No contexto do modelo de Blockchain que ser ´a apresentado posteriormente, as atualizac¸ ˜oes de SC s ˜ao produzidas pelo operador de controle de uma microrrede, enquanto que a criac¸ ˜ao de um bloco, estrutura digital que cont ´em os dados das transac¸ ˜oes de uma rede em Blockchain, ´e de funcionamento intr´ınseco da tecnologia, sendo assim, o processo de criac¸ ˜ao de um SC ´e separado da criac¸ ˜ao de um bloco.

Ainda na fase (a) da Figura 7, as atualizac¸ ˜oes dos SC que verificam um novo estado de vari ´aveis definidas pela rede Blockchain e s ˜ao armazenadas em um buffer antes de serem deslocadas para a mem ´oria principal. Isso ocorre quando um

(37)

2.3 Blockchain 35

agente cria uma atualizac¸ ˜ao de um SC e envia para seus vizinhos.

Na fase (b) da Figura 7, os SCs ainda n ˜ao foram validados e aguardam a verificac¸ ˜ao se aquelas informac¸ ˜oes s ˜ao verdadeiras, que ´e justamente criar a ideia de um consenso entre todos os envolvidos da rede (GORANOVIC et al., 2017). Con-forme explanado anteriormente, esse processo ocorre de forma paralela `a criac¸ ˜ao dos contratos inteligentes representa e ´e denominado de minerac¸ ˜ao.

O processo de minerac¸ ˜ao ´e o cumprimento do mecanismo de consenso, principal vantagem das redes blockchain (GORANOVIC et al., 2017). Nesse trabalho, ser ´a utilizado o mecanismo de consenso tradicional das redes blockchain, denominado de Proof-of-Work (PoW).

Segundo Goranovic et al. (2017), o PoW consiste em que os minerado-res, computadores conectados a rede que fornecem a sua capacidade computacional para a soluc¸ ˜ao de problemas matem ´aticos, sejam submetidos a um ”quebra-cabec¸a computacional”em que seu resultado ´e consideravelmente dif´ıcil de resolver mas facil-mente verific ´avel. Uma vez que esse quebra-cabec¸a ´e resolvido, ´e gerado uma chave de confirmac¸ ˜ao para a verificac¸ ˜ao entre os agentes da rede.

O Blockchain trabalha com uma chave de confirmac¸ ˜ao denominada de hash, que ´e uma chave criptografada matematicamente que faz com que as relac¸ ˜oes entre os blocos criados s ˜ao virtualmente inquebr ´aveis (YANG et al., 2017). Essas cha-ves s ˜ao assinaturas digitais que atestam a validade de uma transac¸ ˜ao na rede. A criptografia relacionada a essas assinaturas est ´a fora do escopo do presente trabalho. Conforme a capacidade computacional da rede aumenta, blocos s ˜ao cria-dos mais r ´apicria-dos pela presenc¸a de mais mineradores (GORANOVIC et al., 2017). A re-compensa mais usual para mineradores tem sido o fornecimento de parte dos cr ´editos das transac¸ ˜oes que ocorrem dentro da rede e, no ˆambito de sistemas de energia el ´etrica, esse incentivo ao fornecimento de capacidade computacional pode ser trans-ferido da mesma forma (DANZI et al., 2017;MUNSING et al., 2017).

Ent ˜ao, conforme a fase (c) da Figura 7, ap ´os o trabalho dos mineradores em verificar a validade dos SCs, um bloco ´e criado com as novas informac¸ ˜oes e repassado para todos os agentes da rede blockchain. Ao final, na fase (d) da Figura 7, todos os agentes armazenam o novo bloco em sua c ´opia local da rede blockchain, garantindo a todos os participantes dessa rede que as transac¸ ˜oes foram efetivadas de fato.

(38)

2.3 Blockchain 36

2.3.3 BLOCKCHAIN APLICADO `A COMERCIALIZAC¸ ˜AO DE ENERGIA EL ´ETRICA Segundo Goranovic et al. (2017), as pesquisas relacionadas com a tec-nologia Blockchain ainda s ˜ao um novo campo e maior parte do trabalho publicado ´e focado nos aspectos de seguranc¸a e escalabilidade e existem poucas aplicac¸ ˜oes para controle de dispositivos f´ısicos.

O setor em que o Blockchain surgiu foi o setor financeiro e esse difere do se-tor de energia el ´etrica com relac¸ ˜ao `a manutenc¸ ˜ao de qual tipo de troca de informac¸ ˜ao ´e realizada entre agentes do setor. Enquanto um intermedi ´ario banc ´ario, como um banco, somente realiza transac¸ ˜oes de informac¸ ˜oes, um intermedi ´ario no setor de ener-gia el ´etrica como uma concession ´aria ou comercializadora de enerener-gia el ´etrica realiza e monitora, al ´em da troca de informac¸ ˜oes, despachos e transmiss ˜ao de pot ˆencia el ´etrica para cargas conectadas ao sistema (MUNSING et al., 2017).

Segundo Yang et al. (2017), as principais vantagens da aplicac¸ ˜ao do Block-chain poderia suprir as principais necessidades e desafios do futuro do consumo de energia, que seriam oconsenso, flexibilidade e seguranc¸a ao establecer uma rede

de informac¸ ˜ao descentralizada e segura.

• Consenso: O Blockchain permite com que um grupo de peers11 possa alcanc¸ar

o consenso entre transac¸ ˜oes efetivadas na rede. Conforme descrito anterior-mente, cada usu ´ario ´e respons ´avel pela manutenc¸ ˜ao dos dados que circulam na rede;

• Flexibilidade: Nenhuma central de controle seria necess ´aria com relac¸ ˜ao `as transac¸ ˜oes financeiras, o que d ´a autonomia ao usu ´ario sobre a topologia de sua microrrede, fluxo de pot ˆencia e a possibilidade de se conectar ou desligar da rede principal;

• Seguranc¸a: O sistema ´e protegido por meio de criptografia e, sendo assim, ´e pro-tegido contra intrusos que poderiam incluir dados maliciosos na rede e verificar falhas ou perdas na transmiss ˜ao de energia el ´etrica entre os peers (SANSEVE-RINO et al., 2017).

O Blockchain, portanto, serve somente como uma base para transac¸ ˜oes comerciais e execuc¸ ˜ao das tomadas de decis ˜ao. Para um sistema descentralizado

(39)

2.3 Blockchain 37

operar nessa estrutura conectada, s ˜ao necess ´arias estruturas de algoritmos para rea-lizar as escolhas entre o valor de mercado praticado dentro das poss´ıveis microrredes e o valor da energia dispon´ıvel pela rede tradicional (TEOTIA; BHAKAR, 2016).

Segundo Teotia e Bhakar (2016), a transac¸ ˜ao de energia el ´etrica em uma rede local que est ´a inserida em uma arquitetura P2P (ou seja, descentralizada) pode se beneficiar com o uso de algoritmos baseado em teoria de jogos para soluc¸ ˜oes descentralizadas, como mecanismos de leil ˜ao, modelo de Stackelberg, modelos n ˜ao-cooperativos e outros. A descric¸ ˜ao e tratamento desses algoritmos n ˜ao est ´a no escopo do presente trabalho.

(40)

38

3 METODOLOGIA

Este cap´ıtulo apresenta a metodologia empregada para a realizac¸ ˜ao desse trabalho e a contextualizac¸ ˜ao sobre a execuc¸ ˜ao e a delineac¸ ˜ao da pesquisa.

3.1 ENQUADRAMENTO METODOL ´OGICO

Segundo Gil (2002), uma pesquisa pode ser classificada em seus objetivos como explorat ´oria, descritiva ou explicativa. Com relac¸ ˜ao `a abordagem desse trabalho, classifica-se esse como uma pesquisa explorat ´oria, visto a pouca disponibilidade de trabalhos e artigos cient´ıficos relacionados com o tema e com o objetivo de aprimorar as ideias e unir conceitos para criar propostas de linhas de estudo.

Com relac¸ ˜ao aos procedimentos t ´ecnicos da pesquisa, ela se caracteriza como uma pesquisa bibliogr ´afica, em que se apoia por meio de materiais elaborados como livros acad ˆemicos, artigos cient´ıficos e outras fontes (GIL, 2002).

Para o desenvolvimento da pesquisa ´e realizada uma revis ˜ao sistem ´atica da literatura incorporando an ´alise bibliom ´etrica e de conte ´udo.

3.2 M ´ETODO, ETAPAS E PROCEDIMENTOS DE PESQUISA

Esta sec¸ ˜ao descreve todas as etapas da pesquisa e os m ´etodos emprega-dos, bem como as premissas utilizadas e o processo de discuss ˜ao dos dados obtidos com os trabalhos selecionados.

3.2.1 REVIS ˜AO SISTEM ´ATICA DA LITERATURA

Segundo Nakagawa et al. (2017), uma Revis ˜ao Sistem ´atica da Literatura (RSL) tem como principal objetivo identificar, selecionar, avaliar, interpretar e sumari-zar estudos dispon´ıveis em bases de peri ´odicos ou livros que s ˜ao considerados rele-vantes para um t ´opico de pesquisa ou fen ˆomeno de interesse.

De acordo com Mafra e Travassos (2006), uma RSL convencional ´e condu-zida por meio de um processo que pode ser classificado em tr ˆes fases: planejamento,

Referências

Documentos relacionados

Quando conheci o museu, em 2003, momento em foi reaberto, ele já se encontrava em condições precárias quanto à conservação de documentos, administração e organização do acervo,

O estágio de Medicina Interna ficou ligeiramente aquém das minhas expectativas, na medida em que ao ter sido realizado num hospital privado, o grau de autonomia que me

Neste estudo foram estipulados os seguintes objec- tivos: (a) identifi car as dimensões do desenvolvimento vocacional (convicção vocacional, cooperação vocacio- nal,

Os principais objectivos definidos foram a observação e realização dos procedimentos nas diferentes vertentes de atividade do cirurgião, aplicação correta da terminologia cirúrgica,

O relatório encontra-se dividido em 4 secções: a introdução, onde são explicitados os objetivos gerais; o corpo de trabalho, que consiste numa descrição sumária das

O Departamento de Ar Isento de Óleo responde pela comercialização na Nigéria de compressores e equipamentos de ar comprimido, utilizados pela Indústria Pesada, nomeadamente

Alves (2001) ressalta que a variável custos da qualidade ambiental decorrente de gastos para manter o padrão de emissão dos resíduos, em conformidade com as leis que regulamentam

Para Raposo e Astoni (2007), a atitude das mulheres de iniciarem seu próprio negócio é um passo muito importante na luta pelos seus direitos; entretanto, com essa atitude