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Capítulo 7

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7. VISÃO TRADICIONAL E NOVAS PERSPECTIVAS PARA

ELABORAÇÃO DE PROJETOS

Este capítulo apresenta a visão tradicional de elaboração de projetos no Brasil inserida no âmbito do planejamento econômico e as novas perspectivas para elaboração de projetos diante da globalização, evolução tecnológica, estabilidade econômica e velocidade da informação.

Inicialmente, a partir de um levantamento bibliográfico, é apresentado como diversos autores vêm o tema, o conceito de projeto e os aspectos abordados em uma visão mais tradicional sob o âmbito de planejamento econômico. O tema projeto como viabilidade de empreendimentos, avaliação social, impactos ambientais, externalidade, benefícios e custos sociais e planejamento estratégico é abordado com a finalidade de analisar sua evolução ao longo dos anos.

Verifica-se a elaboração de projetos sob a ótica de planejamento estratégico e colaborativo com visão mais abrangente e integradora, levando em consideração as peculiaridades de velocidade de informação, o fluxo físico e a otimização de toda a cadeia de abastecimento.

A apresentação do conceito e estrutura de um plano de negócio e as conclusões complementam este capítulo.

7.1. Conceituação de Projeto

No Brasil, a palavra projeto é usada tanto para designar projeto de viabilidade, para os casos de engenharia, como para nomear empreendimentos, ou seja, a execução de projetos. Esta interpretação difere de outros países, como os da língua inglesa que usam "design" para projetos de engenharia e "project", para empreendimento ( Casarotto, 1995 ).

O termo projeto era conhecido inicialmente no Brasil apenas na área de engenharia, definindo um plano de trabalho a ser feito. A partir da Segunda Guerra Mundial, com a necessidade de planejamento e desenvolvimento econômico, o termo passou a ser empregado com maior influência e amplitude para designar o documento em que se procura justificar a aplicação de recursos de qualquer natureza para um determinado fim.

A bibliografia nacional sobre elaboração de projetos, se inspirou no Manual de

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visando orientar a elaboração e análise de empreendimentos nos países em desenvolvimento (Gatner, 1995).

As publicações nacionais sobre elaboração de projetos nas décadas de 60 e 70 tinham como objetivo principal ajudar os professores e participantes dos cursos de capacitação em desenvolvimento econômico, ministrados pelas Nações Unidas e Comissão Econômica para a América Latina - CEPAL e pelos Bancos de Desenvolvimento. Fazem parte da literatura desse período os livros de Caldas, Simonsen (1974), Holanda (1975), OCDE (1975), Melnick (1978).

Desta forma, torna-se oportuno registrar algumas definições encontradas em publicações especializadas sobre elaboração de projeto.

 Para Simonsen (1974) o significado da palavra projeto é suficientemente amplo para que se possa defini-lo com vigor e preciso no campo da economia aplicada. O projeto situado dentro de um plano global de desenvolvimento, seria basicamente um conjunto de informações e estimativas que indicam ou contra-indicam a realização de um empreendimento específico.

 Projeto em um sentido lato, é qualquer propósito de ação definida e organizada de forma racional. Em termos estritamente econômico, quando fala-se em projeto, tem-se em vista um plano de investimento, ou tem-seja um comprometimento de recursos realizado com o objetivo de obter benefícios futuros, durante um período razoável de tempo ( Holanda, 1975 ).

 Projeto é um conjunto de informações sistematicamente ordenados que servem para descrever e comparar as vantagens e desvantagens de um certo empreendimento, geralmente visando obter apoio / aprovação legal ou financeira ( Ramos, 1995 ).

 Entende-se projeto como um conjunto de informações internas e/ou externas à empresa, coletadas e processadas com o objetivo de analisar-se, e, eventualmente implantar-se uma decisão de investimentos. O projeto é, pois, um modelo que, incorporando informações qualitativas e quantitativas, procura simular a decisão de investir ( Woiler, 1985 ).

 O projeto está associado à percepção de necessidades ou oportunidades de certa organização. Dessa forma o processo de elaboração, análise e avaliação de projetos envolve um complexo de elenco de fatores socioculturais, econômicos e políticos que

O livro Projetos Industriais de Caldas e Pando, publicado pela APEC, não contém a data de publicação, entretanto Holanda ( 1974 p.106 ) cita Caldas como autor de notas de aula do curso de Preparação e Análise de Projetos promovido em Recife em 1970.

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influenciam as tomadas de decisão quanto à escolha de objetivos e dos métodos a serem utilizados. O projeto dá forma à idéia de executar ou realizar algo no futuro, para atender as necessidades ou aproveitar as oportunidades ( Clemente et al, 1998 ).

 Projeto é um empreendimento não repetitivo, caracterizado por uma seqüência clara e lógica de eventos, com início, meio e fim, que se destina a atingir um objetivo claro e definido, sendo conduzido por pessoas dentro de parâmetros predefinidos de tempo, custo, recursos envolvidos e qualidade ( Vargas, 1998 ).

A partir dessas definições pode-se conceituar o projeto de forma dinâmica, ou seja, o conjunto de atividades que se desdobra desde a sua concepção até o encerramento das atividades de um empreendimento, passando pelos estágios de concepção, elaboração, análise e avaliação, implantação e operação.

7.2. Planejamento e Projeto

Pode-se definir planejamento como "a aplicação sistemática de conhecimento humano para prever e avaliar curso de ação alternativas, com vistas à tomada de decisões adequadas e racionais, que sirvam de base para a ação futura" ( Holanda, 1975:36 ).

"Planejar é decidir antecipadamente o que deve ser feito, um plano é uma linha de ação preestabelecida" ( Newman apud Holanda, 1975:36 ).

O planejamento econômico, em um sentido mais restrito, é definido como o processo de elaboração, execução e controle de um plano de desenvolvimento, que envolve a fixação de objetivos gerais e metas específicas, tendentes a elevar o nível de renda e o bem-estar da comunidade ( Holanda, 1975 ).

A técnica de elaboração de projetos no Brasil desenvolveu-se no âmbito de programação do desenvolvimento econômico, segundo Melnick ( 1978 ), o problema de desenvolvimento implicaria em um esforço em toda sua extensão, desde os aspectos teóricos e conceituais básicos, na macroeconomia, até as suas fases práticas e executivas, na microeconomia. Dentro deste campo de estudo, incluíam-se as técnicas de programação global e setorial, como as relativas à preparação e avaliação de projetos individuais de investimentos. Nesse esquema, a preparação de projetos constituía a fase final de formulação dos programas de desenvolvimento, e o elemento de ligação com a etapa prática das realizações estabelecidas nestes programas.

Holanda (1975), diz que os programas constituem marcos explícitos de referências para a elaboração de projetos, existindo em todo país um mínimo de planejamento ou um conjunto

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de indicações gerais que orientam as políticas do governo e as decisões de investimento das empresas privadas.

Na estruturação de um programa de investimento cujo caminho fosse a programação descendente, isto é, de cima para baixo, onde define-se primeiramente os objetivos gerais, que em fases sucessivas, são desdobradas em programas e projetos, os projetos constituiriam a última etapa, enquanto na programação ascendente, isto é, no sentido contrário, de baixo para cima, os projetos seriam a primeira fase do planejamento.

Fonte: Holanda, 1995

Figura 7.1 - Esquema de uma estrutura integrada de planejamento

Existe em todo pais um mínimo de planejamento econômico ou um conjunto de indicações gerais que orientam as políticas de governo e as decisões de investimento dos empresas privadas.

Qualquer que seja o objetivo de um planejamento para o governo de promover o bem estar social, como para o empresário, de maximizar os lucros, torna-se necessário a elaboração de planos mais detalhados de investimentos.

Nos países menos desenvolvidos, o planejamento econômico reveste-se de importância fundamental como instrumento de administração pública e privada, uma vez que permitirá o ordenamento das prioridades e a distribuição dos recursos de forma racional e eficiente, evitando o desperdício e acelerando a melhoria de vida da comunidade.

Para Clemente et al (1998), é provável que no Brasil a proximidade conceitual entre planejamento e projeto, tenha proporcionado certa liberdade na utilização do termo projetamento praticamente como sinônimo de planejamento, por alguns autores. Entretanto, para a maioria a elaboração, análise e avaliação de projeto são atividades do planejamento,

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um conceito mais amplo, que compreende várias outras atividades. Desta forma, de um modo geral, entende-se que um projeto refere-se a um tema específico, requer quantidades definidas de recursos e de tempo e estabelece resultados tipicamente quantificáveis.

Contador (1998) concorda com Holanda (1975), quando diz que os projetos podem constituir a etapa final de uma programação descendente, ou por outro lado corresponder aos instrumentos de uma etapa inicial de programação ascendente, vez que neste caso parte-se dos projetos e programas, para atender aos objetivos gerais. Na prática, entretanto, os projetos são elaborados na maioria das vezes, sem que estejam integrados em planos globais, e estes por sua vez nem sempre chegam a ser suficientemente detalhados ao nível de projetos ( Contador, 1997 ).

7.3. Projetos Sociais e Privados

Os movimentos sociais dos anos 60 e 70 representaram uma nova cultura em ascensão. Enquanto na década de 50 prevalecia o pensamento do desenvolvimento econômico a qualquer custo, na década de 60 o primeiro movimento ecológico levava ao pensamento de agir localmente, pensando globalmente. Na década de 70 a questão econômica enfoca a ambiental, e na década de 80 consolida-se a legislação de controle ambiental com a participação de vários segmentos de sociedade.

Á medida que as empresas industriais foram se tornando mais complexas, com o desenvolvimento de novas tecnologias químicas, eletrônicas e de comunicação, administradores e engenheiros passaram a se preocupar não apenas com os componentes individuais, mas também com as interações mútuas. Tanto nos sistemas físicos como nos organizacionais. Desta forma, começaram a ser formuladas estratégias e metodologias com concepções sistêmicos ( Capra, 1996 ).

A elaboração de projetos no Brasil, inspirada inicialmente em projetos de desenvolvimento econômico, passou a um conceito mais amplo, onde várias áreas de conhecimento como a matemática, engenharia, administração de empresas, marketing, publicidade, pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e processos desenvolveram novos estudos.

Na década de 80, o tema avaliação social de projetos passou a ser discutidos no Brasil em cursos e seminários, sendo disseminado nos meios acadêmicos e nas instituições e agências de financiamento oficiais do Brasil. Contador (1997) incorporou efeitos indiretos dos projetos, através da análise social, identificando se o projeto seria ou não atrativo para a sociedade como um todo.

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Woiler (1985) abordou à visão de elaboração de projetos inserindo as experiências do setor privado, principalmente na área industrial, apresentando o projeto como parte integrante do processo decisório, desde a idéia de investir até a sua consecução. Segundo essa ótica, o projeto insere-se em um processo de planejamento.

Fonte: Woler & Mathias ( 1985:29 )

Figura 7.2. O Projeto como parte integrante do processo de planejamento

Inicia-se o planejamento da empresa com o estabelecimento de objetivos de modo a compatibilizar os interesses dos diversos grupos que detêm alguma parcela de poder na empresa e as necessidades impostas pelo meio ambiente. Esses objetivos irão manter as decisões estratégicas. Tem-se nesse ponto o processo de elaboração e análise de projetos, como um simulador e realimentador das decisões estratégicas, particularmente das decisões de investimentos.

Antes que do planejamento estratégico resultem as decisões de investimento, torna-se necessário testar sua viabilidade e verificar a compatibilização com os objetivos.

À medida que o tempo passa, o processo de planejamento estratégico sofre uma transição para o planejamento tático.

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Quando a empresa constata a viabilidade de determinada decisão de investimento e decide pela sua implementação, tem-se que o planejamento passa do estratégico para o tático, e o projeto de viabilidade cede lugar para o projeto final.

Neste ponto, o projeto já deve estar definido em seus grandes aspectos, começando o trabalho de detalhamento de engenharia e de implantação.

Passaram a constituir novos aspectos da tema elaboração de projeto, nesse período a relação entre planejamento estratégico e elaboração do projeto de viabilidade da empresa, bem como a aplicação de programação linear.

Buarque (1984) publicou um livro destinada às pessoas que trabalhavam em bancos de desenvolvimento e outros organismos governamentais de fomento, preenchendo a lacuna decorrente de livros que servissem didaticamente para explicar as novas metodologias de avaliação econômica de projetos.

7.4. Planejamento Estratégico, Colaboração e Projeto

A globalização da economia e os avanços tecnológicos, especialmente nas comunicações, as mudanças dos conceitos mercadológicos e dos processos de produção estão cada vez mais rápidos. Nesse contexto verifica-se o aumento do risco nas empresas, vez que em qualquer lugar do mundo e a qualquer momento, pode-se passar a produzir melhor e mais barato um mesmo produto. As técnicas quantitativas de elaboração e avaliação de projetos foram complementadas com os aspectos qualitativos, que na nova concepção de negócio passaram a ter muita importância para determinar as estratégias.

Essas mudanças acabaram com a visão tradicional do projeto em favor da era dos projetos de negócios.

Por outro lado, modificou-se a ótica de elaboração de projeto de uma fábrica isolada para se falar em negócios com a formação de alianças entre empresas, especialmente as pequenas, como forma de diminuir os riscos ( Casarotto, 1999 ).

A década de 90, reflete a preocupação com o meio ambiente. A conferência sobre o meio ambiente em 1992, no Rio de Janeiro serviu para despertar a consciência ecológica no Brasil.

O paradigma chamado de consciência ecológica, concebe o mundo como um todo, integrado, e não como uma coleção de partes dissociadas, reconhecendo a interdependência de todos os fenômenos, e o fato de que, enquanto indivíduos e sociedade somos todos dependentes do processo cíclico da natureza ( Capra, 1996 ). A evolução da consciência ecológica, passando por varias etapas desde uma mentalidade predadora até chegar ao atual

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conceito de desenvolvimento sustentável e ecologia profunda, levou as entidades interessadas na análise de projeto a desenvolverem modelos mais sofisticados de avaliação de projetos (Tavora Jr., 1994).

Foram incorporados à avaliação econômica-financeira aspectos externos à teoria econômica como impactos aos meio ambiente físico e bióticos, impactos antropológicos, sociológicos e culturais chamados de externalidades.

A segunda metade da década de 90 veio mostrar que era necessário empreender projetos mais abrangentes e integradores que incluíssem, numa ponta, os fornecedores e, na outra, os clientes.

Os sistemas corporativos de gestão permitiram um avanço na qualidade administrativa e integradora.

O tema planejamento, e em particular elaboração de projeto, a partir do Plano Real em 1994 com a estabilização econômica e as mudanças conjunturais que acirraram a concorrência e proporcionaram o desenvolvimento de novas ferramentas administrativas, voltou a despertar o interesse. Desta forma, novas abordagens começaram a ser introduzidas como a de: Casarotto (1995), que inseriu os projetos industriais no campo da estratégia empresarial; Gatner (1995), com a proposta de um novo modelo de análise de projeto com variáveis traduzindo a capacidade competitiva da empresa; Contador (1997), ampliando os aspectos de avaliação social de projetos e abordando os temas impacto ambiental, externalidades, benefícios e custos sociais; Clemente (1998), com o tema projetos empresariais e públicos orientados ao estudo para temas atuais, como gerência de projetos, projetos ecológicos, impactos ambientais e fatores humanos envolvidos.

Casarotto (1999) diferencia projeto de fábrica de projeto de negócios e aborda redes de pequenas e médias empresas e desenvolvimento local, fazendo uma distinção entre os componentes tradicionais de um projeto, que ele denomina projeto de fábrica cujos elementos básicos consistem em: estudo de mercado; produção; tamanho e localização; administração e equacionamento econômico-financeiro. Os novos tópicos abordados no projeto de negócio são: estratégia competitiva; mercado, marca; parceria com fornecedores, clientes e concorrentes; terceirização, franquias; fabricação, logística; gestão e equacionamento econômico-financeiro.

Nos projetos de negócio, verifica-se uma maior complexidade de funções com a utilização do conceito de alianças, ou seja, trabalho de forma associada ou cooperativação com outras empresas.

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Tabela 7.1 - Visão tradicional e novas perspectivas para elaboração de projeto

Aspectos do Projeto Tópicos Tradicionais ( Projetos de Fabricação )

Tópicos Nova Abordagem ( Projetos de Negócio )

Econômico Estudo de mercado Estratégia competitiva

Estratégia produto/mercado Análise de portfólio Mercado Marca Técnicos Engenharia Tamanho e localização Estratégia de utilização de meios Integração/Terceirização Sistema logístico Segurança Financeiros Investimentos Custos e receitas Financiamento Avaliação econômico-financeira Gestão financeira Análise de sensibilidade

Jurídicos Aspectos fiscais e tributários Aspectos fiscais e tributários, patentes, regime jurídico Administrativos Organização e execução Gestão de recursos humanos

Administração da qualidade

Meio Ambiente - Economias externas

Deseconomias externas

Integração - Co-gestão de cadeias

Rede de pequenas e médias empresas e desenvolvimento local

Fonte: Holanda (1977), Woiler (1985) e Casarotto (1995)

7.5. O Empreendedorismo e o Plano de Negócio

A preocupação com a geração de novos postos de trabalho e a manutenção dos existentes tem levado a sociedade brasileira e o governo a darem especial atenção a temas como o empreendedorismo, micro, pequenas e médias empresas e o desenvolvimento local.

Multiplicam-se no país iniciativas de apoio e incentivo ao empreendedorismo com incubadoras de empresas, programas voltados a capacitação de empreendedores, disciplinas específicas na área de empreendedorismo. O governo federal, reconhecendo a importância do empreendedorismo, lançou para o período de 2000 a 2003, o Programa Jovem Empreendedor,

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oferecendo linhas de crédito para jovens com vocação empreendedora interessados em montar o seu próprio negócio.

O interesse pelo assunto empreendedorismo iniciou-se no Brasil a partir de 1981, com a disciplina Novos Negócios, ou Iniciação Empresarial no curso de Especialização em Administração da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas ( Degen, 1989 ).

O tema elaboração de projeto passou a ter o enfoque de plano de negócio associado à criação de pequenas empresas ou de empresas de base tecnológica. Essa nova abordagem destina-se, principalmente, as pessoas que, de uma forma ou de outra, acreditam nas vantagens que a livre iniciativa pode trazer, tratando dos aspectos básicos necessários que devem ser considerados por aqueles que se tornam empreendedores ( Degen, 1989 ).

O plano de negócio é apresentado como uma atividade dinâmica que se desdobra desde a identificação de oportunidades de negócio, sua transformação em um conceito viável, avaliação de potencial de lucro e crescimento, definição de estratégia competitiva e preparação do plano de negócio até a obtenção dos recursos para realizá-lo.

O conceito de plano de negócio segundo vários autores é o seguinte:

Ronal Degen ( 1989:178 ), "o plano de negócio representa uma oportunidade única para

o futuro empreendedor pensar e analisar todas as facetas do novo negócio".

Pereira ( 1995:31 ), "O plano de negócio é um documento escrito que tem o objetivo de

estruturar as principais idéias e opções que o empreendedor deverá avaliar para decidir quanto à viabilidade da empresa a ser criada".

Dolabella (1999), o "plano de negócio é um exercício de planejamento de criação de um

empreendimento para ter validade, deve ser desenvolvido em bases realísticas".

Na elaboração do seu plano o empreendedor poderá descobrir que o empreendimento é irreal, que existem obstáculos jurídicos ou legais intransponíveis, que os riscos são incontroláveis ou que a rentabilidade é insuficiente para garantir a sobrevivência da empresa ou do novo negócio.

O exercício de elaboração de projeto permite uma reflexão sobre os pontos vitais do empreendimento, requerendo conhecimento sobre o negócio, o contexto mercadológico, a percepção gerencial da habilidade de lidar com assuntos técnicos e legais e de vencer barreiras de relacionamento interpessoal. A iniciativa, criatividade e capacidade de vencer obstáculos são considerados requisitos fundamentais na elaboração de um plano de negócio e condução de um empreendimento ( Dolabella, 1999 ).

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As características de um plano de negócio são apresentadas como: uma forma de pensar sobre o futuro do negócio, onde ir, como ir rapidamente e o que fazer durante o caminho para diminuir incertezas e riscos; documento que descreve a oportunidade de um negócio, porque a oportunidade existe e porque o empreendedor e sua equipe têm condições de aproveitá-la, como o empreendedor pretende faze-lo instrumento de negociação interna e externa para administrar a interdependência com sócios, empregados, financiadores, incubadores, clientes, fornecedores, bancos; é mais um processo do que o produto, mas não é o negócio; não é imutável, deve ser constantemente revisto ( Dolabella, 1999 ).

Os benefícios advindos da elaboração do plano de negócio são os seguintes: permite ordenar as idéias dando uma visão de conjunto do negócio; impõe a avaliação do potencial de lucro e crescimento do novo negócio, bem como de suas necessidades operacionais e financeiras; examina as conseqüências de diferentes estratégias competitivas de marketing, de vendas, de produção e de finanças; permite que as avaliações e experiências sejam realizadas com base em simulações, evitando gastos e riscos do início da operação de um novo negócio; constitui-se num documento indispensável para negociar com sócios e investidores; pode contribuir para a obtenção de condições favoráveis e de apoio a novos empreendimentos diante dos fornecedores e clientes; é importante para o recrutamento de empregados dando-lhes a perspectiva do novo negócio e a possibilidade deles crescerem com o novo empreendimento; serve de orientação para a execução das tarefas de acordo com a estratégia competitiva definida para o novo negócio ( Degen, 1989 ).

7.6. Estrutura do Plano de Negócio

O plano de negócio deve ter uma estrutura seqüenciada e lógica, que permite ao empreendedor fazer o levantamento de dados: a análise de informações; a consulta a terceiros e as decisões a serem tomadas. Abrange os diversos aspectos do empreendimento: a análise das oportunidades que deram origem à idéia do negócio; o estudo de mercado; os aspectos técnicos e financeiros; a análise dos aspectos jurídicos e organizacionais de abertura do empreendimento e a avaliação da viabilidade de implantação da idéia ( Pereira, 1995 ).

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Tabela 7.2 - Estrutura do plano de negócio

Tópicos Itens

Sumário Executivo Versão condensada do plano de negócio - Definição do negócio

- Clientela-alvo

- Resumo da parte técnica e financeira - Conclusão

Qualidade pessoal dos empreendedores Experiência empresarial e formação escolar Aspectos Mercadológicos A busca e seleção de oportunidades

Definição de negócio

O estudo de mercado - Clientela

- Concorrentes - Fornecedores Aspectos operacionais, administrativos e

jurídicos

Operacionais

- Localização: macro e micro - Processo, tecnologia, instalações

- Equipamentos, moveis e utensílios, material de consumo, serviços técnicos

Administrativos

- Estrutura organizacional - Funções, atividades, controles

- Recursos humanos: quantidade e qualidade

Jurídicos

- Regime jurídico de empresa - Estrutura societária

- Aspectos fiscais e tributários

- Registro do nome da empresa e patentes tecnológicas Aspectos econômico-financeiro Estimativa de investimento de capital

Análise econômico-financeira de investimento

Projeção do fluxo de caixa

Estimativa de capital de giro

Estrutura dos custos e formação de preços e vendas

Conclusões Estratégia competitiva: política de preço, de distribuição, propaganda, promoção, parcerias, política de RH

Avaliação final

Anexos Documento de natureza técnica e juridica Fonte: Adaptado de Pereira (1995)

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O sucesso da criação de um negócio desenvolve-se através de três fases sendo, a primeira delas a identificação da oportunidade do negócio; a segunda, o desenvolvimento do conceito de negócio; e a terceira, a implantação do empreendimento. Essas três fases são desenvolvidas através de dez etapas ( figura 7.3 ) ( Degen, 1989 ).

Fonte: Adaptado de Degen (1989)

Figura 7.3 - Etapas da criação de um negócio próprio

A identificação do negócio ocorre em duas etapas que são: identificar a oportunidade, para isto torna-se necessário predisposição e criatividade, e coletar informações.

O desenvolvimento do conceito de negócio ocorre através das etapas: desenvolver conceito de negócio; identificar os riscos; procurar experiências similares; reduzir riscos; avaliar o potencial de crescimento e lucros e definir estratégias competitivas.

A implementação do empreendimento deverá ocorrer através da elaboração do plano de negócio e da operacionalização do negócio.

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A técnica de elaboração e avaliação de projetos é essencialmente prática e de caráter interdisciplinar, envolvendo princípios básicos de economia, engenharia, finanças e administração e um conjunto de métodos e critérios objetivos para a tomada de decisão por parte das entidades governamentais e das empresas de iniciativa privada.

A elaboração de projeto em um conceito mais amplo consiste no estudo de alocação ótima de recursos, em função da problemática básica das ciências econômicas, que é a Lei da Escassez ( Contador, 1997 ).

Várias áreas de conhecimento como a matemática, engenharia, estratégia militar, administração de empresas, e mais recentemente marketing, publicidade e desenvolvimento de novos processos e produtos, vêm desenvolvendo estudos a partir desse conceito de projeto.

A literatura existente no Brasil sobre projeto baseia-se nos manuais publicados pelas Nações Unidas em 1958, cujo objetivo era orientar a elaboração e análise de empreendimentos visando o desenvolvimento econômico, principalmente dos países menos ricos, como forma de evitar o desperdício e melhorar a qualidade de vida de seus habitantes através do ordenamento de suas prioridades e distribuição de recursos de uma maneira mais eficaz.

Nessa visão, o projeto fazia parte de um esquema de estrutura integrada de planejamento, consistindo em projetos específicos, resultantes do desdobramento de planos globais e setoriais de um planejamento a nível nacional, por cerca de três décadas ( 60, 70 e 80 ). O enfoque usado para projetos encontrava-se inserido no âmbito do planejamento, e projetos sociais e projetos privados, seguindo as orientações dos Bancos de Desenvolvimento, principalmente o BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e os Bancos Regionais como por exemplo, Banco do Nordeste. Como a distribuição de capital era feita através dessas instituições, o projeto passou a ser erroneamente confundido com os estudos apresentados para obtenção de recursos junto a esses bancos.

Novos fatos que surgiram a partir da década de 90 a nível nacional e internacional como: a estabilidade monetária, a globalização, a mudança do papel do Estado, a consciência ecológica, o aumento da competitividade e o desenvolvimento de novas tecnologias foram contribuindo para que o tema projeto voltasse a ser discutido de uma forma mais ampla no âmbito do planejamento estratégico e colaborativo.

Os aspectos econômicos, técnicos, financeiros, administrativos e jurídicos descritos através dos tópicos tradicionais de projetos como o estudo de mercado, engenharia, tamanho e localização, investimentos, custos e receitas, financiamento, avaliação econômico-financeira e

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organização e execução, continuaram a fazer parte da estrutura básica dos projetos. Entretanto, foram incorporados novas visões como: meio ambiente, planejamento estratégico, planejamento colaborativo, e o empreendedorismo.

As abordagens conceituais modernas de projeto, projeto de negócio e plano de negócio, apresentaram maior complexidade de funções, estrapolando os de projetos isolados e específicos e situando-se numa visão mais abrangente e integradora incluindo numa ponta, os fornecedores e na outra os clientes com otimização de toda a cadeia de abastecimento.

O novo conceito de projeto de negócio apresentado por Casarotto (1999), leva em consideração o novo ambiente onde arrisca-se mais, os aspectos qualitativos sobrepondo-se aos quantitativos, a estratégia adequada para manter o negócio vai além da elaboração de um bom projeto. A capacidade de adaptação e de fazer alianças e o objetivo de ganhos pela produtividade e não pela especulação, devem ser usados como forma de diminuir os riscos e ganhar sinergia.

O conceito de plano de negócio coloca como objetivo principal a orientação do empreendedor com relação às decisões estratégicas do negócio antes do início do seu empreendimento. A elaboração do plano de negócio é a última etapa do desenvolvimento do conceito de negócio.

O plano de negócio vincula-se à orientação do empreendedor antes de iniciar um empreendimento. A elaboração do plano de negócio é considerada a última etapa do desenvolvimento da criação de um negócio próprio. Para Degen (1989), o sucesso de um negócio próprio depende do desenvolvimento do conceito de negócio e a implantação do empreendimento que inicia-se com a elaboração do plano de negócio, definição das necessidades de recursos e suas fontes.

A abordagem conceitual convencional de projeto esteve muito tempo sob a orientação de instituições financeiras de desenvolvimento. Este fato pode ter contribuído para que os projetos funcionassem muito mais como instrumento de pedido de financiamento.

O conceito mais atual de projeto de negócio e plano de negócio situa-se mais próximo do projeto como instrumento gerencial. Entretanto, um tema tão importante para a sociedade brasileira com grandes disparidades inter regionais e inter pessoais de renda precisa ser mais debatido, tanto do ponto de vista dos empresários quanto da sociedade, de forma a auxiliar na aplicação eficiente dos recursos. E isto só será possível quando o assunto planejamento e em particular elaboração, análise e avaliação de projetos seja desenvolvido não apenas de uma forma interdisciplinar mas sobretudo cooperativa, evitando-se que os engenheiros integrem-se

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apenas às partes de tecnologia, os economistas à área de economia, os administradores aos aspectos técnicos gerenciais e os empreendedores apenas a identificação de oportunidades.

O processo de elaboração, análise e avaliação de projetos deve ser ampliado para avaliar-se os aspectos do potencial empreendedor e os aspectos socioculturais.

Como consideração final deste capitulo verifica-se que o processo de elaboração, análise e avaliação de projeto, apesar de ter incorporado aspectos atuais como impactos ambientais, estratégias, cooperação/interação, precisa ser ampliado de maneira a abordar a visão empreendedora do empresário e os aspectos socioculturais.

A participação de novas áreas de conhecimento, como na elaboração de novos projetos, por exemplo a de psicologia e sociologia, poderiam contribuir a análise e avaliação dos fatores socioculturais e de desenvolvimento de pessoal.

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