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Direito do Terceiro Setor. Unidade I Terceiro Setor: Conceito e Origem

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Unidade I

Terceiro Setor: Conceito e Origem  

Direito do

Terceiro Setor

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DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial

CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico

TIAGO DA ROCHA Autoria

MARINA EUGÊNIA COSTA FERREIRA

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AUTORIA

Marina Eugênia Costa Ferreira

Olá! Meu nome é Marina Eugênia Costa Ferreira, sou formada e mestre em Direito, com uma vasta experiência profissional na área de Direito Administrativo. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões.

Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo!

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ICONOGRÁFICOS

Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que:

INTRODUÇÃO:

para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência;

DEFINIÇÃO:

houver necessidade de se apresentar um novo conceito;

NOTA:

quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento;

IMPORTANTE:

as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você;

EXPLICANDO MELHOR:

algo precisa ser melhor explicado ou detalhado;

VOCÊ SABIA?

curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias;

SAIBA MAIS:

textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento;

REFLITA:

se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre;

ACESSE:

se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast;

RESUMINDO:

quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens;

ATIVIDADES:

quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada;

TESTANDO:

quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas;

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SUMÁRIO

História do Terceiro Setor ...10

O Terceiro Setor no Brasil ...10

O Terceiro Setor no mundo ... 15

Surgimento do Terceiro Setor no Brasil ...21

Reflexões quanto ao nascimento do Terceiro Setor no Brasil ... 21

Contexto histórico, político e cultural ...24

Conceito e contextualização do Terceiro Setor ... 30

Definições para o conceito de Terceiro Setor ... 30

Tecnicidades terminológicas ... 36

Os atores do Terceiro Setor e suas funções ...43

As funções do Terceiro Setor ...43

Os atores do Terceiro Setor ... 48

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UNIDADE

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INTRODUÇÃO

Você sabia que a área do Terceiro Setor é uma das mais demandadas no mundo atual e será responsável pela geração de diversos empregos nos próximos anos? Isso mesmo! O Terceiro Setor faz parte da cadeia produtiva da humanidade no mundo globalizado e o seu crescimento exponencial nas últimas décadas vem atraindo cada vez mais profissionais.

Seu papel principal é a evolução social, que ocorre através da redução de desigualdades sociais, bem como proteção da dignidade da pessoa humana.

O Terceiro Setor no Brasil teve início no século XVI a partir da fundação da Santa Casa de Misericórdia em Santos. As principais instituições que atuavam em causas sociais, à época, eram vinculadas à Igreja Católica. Assim, muitas organizações recebiam a denominação de “Santa Casa”. A modernização trouxe novas necessidades sociais, o que acarretou na criação de outras associações desvinculadas do caráter religioso anteriormente existente. Ultimamente, o trabalho em conjunto é a marca caraterística desse setor que se desenvolve consideravelmente nas últimas décadas.

Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo!

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OBJETIVOS

Olá. Seja muito bem-vinda (o). Nosso propósito é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos:

1. Compreender o surgimento e a história do Terceiro Setor no con- texto das organizações nacionais e estrangeiras;

2. Refletir sobre o surgimento do Terceiro Setor no Brasil, compreen- dendo as justificativas diante do contexto histórico, político e cultural;

3. Definir o conceito e a terminologia técnica do Terceiro Setor;

4. Identificar as funções e os atores do Terceiro Setor.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?

Ao trabalho!

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História do Terceiro Setor

INTRODUÇÃO:

Ao término deste capítulo você será capaz de entender como surgiu o Terceiro Setor no Brasil e no mundo. Isso será fundamental para o exercício de sua profissão. As pessoas que atuam ou pretendem trabalhar nessa área, ao adquirirem essas instruções, tiveram melhores resultados ao exercer suas competências. E então? Motivado para desenvolver essa competência? Vamos lá!

O Terceiro Setor no Brasil

As primeiras instituições ligadas à filantropia no Brasil foram advindas da conexão existente com a Igreja. Em razão do colonialismo existente em solo pátrio, inexistia abertura para o crescimento de organizações livremente instituídas por voluntários.

Pilares-base em qualquer sociedade, a saúde e educação surgiram no Brasil em razão da Igreja e não do Estado. Os primeiros hospitais, manicômios e asilos criados partiram de uma instituição conhecida até os dias atuais, a Santa Casa de Misericórdia, criada em 1543 (OLIVEIRA, 2005).

No século XVII, o Estado criou duas escolas no Brasil, uma na Bahia e outra no Rio de Janeiro. Porém, essa incipiente preocupação com a pauta educacional era ínfima demais para suportar toda necessidade de um país com dimensões continentais (PAIVA, 1973).

Durante esse período, era muito comum a criação de instituições assistencialistas por parte da elite dominante juntamente com a Igreja.

Dessa forma, as entidades sentiam pressões para retribuir com o cumprimento de obrigações, sob o risco de perder a ajuda.

De certa forma, ao analisar esse momento da história e surgimento do Terceiro Setor no Brasil, existe um sentimento de reprovação diante desses primeiros passos tomados pelas organizações. A prática de

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oferecer ajuda esperando algum tipo de vantagem é condenável, mas observar que algo era feito pelos necessitados é uma perspectiva importante de perceber. Ademais, nem toda pessoa que detinha o poder utilizava-o de modo desvirtuado (OLIVEIRA, 2005).

Até a separação entre Igreja e Estado, que somente ocorreu com a Constituição de 1891, as associações que se dedicavam a causas sociais estavam intimamente ligadas à Igreja Católica. Essa mescla entre religião e política era indissociável naquele momento.

Após a Proclamação da República foram proibidas as subvenções por parte do governo às instituições religiosas, o que gerou uma grande redução do número de entidades que conseguiram perpetuar seus trabalhos sem o apoio oficial estatal. Isso acarretou numa grande diminuição no número de organizações que conseguiam se manter e dar continuidade aos trabalhos sociais (PAIVA, 1973).

É nesse contexto histórico que não só organizações religiosas passam a existir, mas também instituições independentes de perfis teológicos passaram a crescer. Isso viabilizou também o surgimento de novas formas de ação social por parte da sociedade através da maior autonomia que passou a existir.

É a partir do governo de Getúlio Vargas que o Estado retorna sua atenção às reivindicações sociais com a criação do sistema público de ensino. Esse novo posicionamento do Estado passa a acrescentar a filantropia no país, visto que a Legislação passa a interferir diretamente nas formas de ajudar através da criação de políticas públicas (OLIVEIRA, 2005).

O processo de redemocratização no Brasil teve relevante atuação da sociedade civil organizada, em razão da sua oposição ao regime militar, visto que esses novos papéis sociais emergiram por meio da cidadania participativa. Essa realidade conduziu a um novo modo de compreender as relações de poder da sociedade contemporânea.

Ademais, é possível confirmar que o nascimento da sociedade civil organizada na década de 70, marcada pela oposição ao Estado autoritário

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e visando contribuir com a redemocratização dos processos decisórios, foi muito além do contexto social:

[...] movimentos sociais não populares, advindos de outras camadas sociais, tais como o das mulheres, dos ambientalistas, pela paz, dos homossexuais, etc., também já tinham iniciado uma trilha de lutas independente do mundo do trabalho e se firmado como agentes de construção de identidades e força social organizada. (GOHN, 2005, p. 73)

A implantação do regime militar no Brasil acabou influenciando a consolidação crescente do Terceiro Setor. Nesse período, a insatisfação alarmante da população com a política interna do país fez com que os movimentos sociais ganhassem robustez.

Inicialmente, o caráter assistencialista do Estado era mais presente, mas com o fim da ditadura militar e a retomada da democracia, o governo brasileiro passou a tomar medidas neoliberais, na medida em que diminuiu a intervenção do Estado nos aspectos sociais (PAIVA, 1973).

Assim, o Terceiro Setor assume um papel importante, pois como o governo reduziu investimentos nos segmentos sociais, as entidades sem fins lucrativos passaram a assumir a maior parte das demandas sociais do país.

A Constituição Federal de 1988 é que consolida como estratégia base a ampliação da participação da sociedade na esfera pública, reconhecendo ser dever do Estado, mas também da sociedade o enfrentamento de causas sociais.

Figura 1 - Organograma de organização do Terceiro Setor a partir de 1988

ESTADO SOCIEDADE

TERCEIRO SETOR Fonte: Elaborado pela autora.

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É a partir desse momento que o Terceiro Setor começa a tomar forma. Mecanismos são criados para que o Estado tenha o papel de fomentar, mas não necessariamente executar todas as políticas públicas.

Ocorre, então, a redefinição de papéis.

A Constituição brasileira hoje vigente favorece a criação de organizações sem fins lucrativos, seja através da forma associativa ou fundacional, independentemente de autorização. A entidade tem como única obrigação a inscrição de seus atos constitutivos em cartório civil, conforme dispõem os arts. 53 a 69 do Código Civil de 2002 (BRASIL, 2002).

No Brasil, foi promulgada a denominada Lei do Terceiro Setor no final da década de 1990, a qual instituiu a qualificação denominada Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, as OSCIPs (BRASIL, 1999), cuja certificação fornecia às organizações da sociedade civil acesso a novos recursos através de um Termo de Parceria. Esse documento firmava entre entidades e o Poder Público obrigações de transparência administrativa.

Atualmente, o cenário político, econômico e social enfrentado pelo país decorrente dos efeitos catastróficos da pandemia da Covid-19, tem influenciado na contínua desaceleração da economia, acarretando o desemprego, entre outros problemas sociais.

Esse cenário temerário influencia não apenas o Brasil, mas também as maiores economias do mundo, como os Estados Unidos e a China.

É nesse contexto que organizações sem fins lucrativos têm tido a oportunidade de crescer e demonstrar sua relevância social diante das diversas demandas sociais enfrentadas por todos nos dias atuais.

O engajamento da sociedade, bem como o estímulo a doações têm crescido diante do consenso quanto ao cenário difícil enfrentado por milhares de pessoas. O envolvimento do cidadão em causas sociais tem aumentado desde o início do distanciamento social como modo de amenizar a sensação de solidão.

Além disso, a perspectiva ainda é de crescimento para o Terceiro Setor, que muitas vezes ainda é esquecido. Assim, de certa forma a pandemia acarretou um aumento na conexão das pessoas mesmo que

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por meio do uso das tecnologias, encurtando distâncias e desenvolvendo empatia pelas causas sociais.

Portanto, mesmo diante de um momento tão repleto de incertezas, as atividades sociais ganham mais espaço e crescem nos meios digitais.

Através das diversas plataformas existentes para aproximar pessoas, é possível ajudar a engajar em diversos programas, ações e atividades desenvolvidas por organizações não governamentais ao redor do mundo.

Logo, o estímulo para atuação social pode e deve ser praticado por todo cidadão que busca melhorar o cenário do seu país, cidade ou região, seja onde for.

Alterações marcantes no Terceiro Setor ocorrem muitas vezes devido a uma maior exigência estatal em práticas de gestão. Há em razão disso diferenças entre a natureza pública e corporativa das organizações sem fins lucrativos. Essa realidade aconteceu em todo o mundo através do processo de globalização, que impulsionou a consolidação de tais práticas nas entidades.

É necessário ressaltar que o crescimento econômico brasileiro e as crises sociais geraram o redirecionamento de recursos e um aumento no rigor da escolha de projetos a serem financiados por parte das entidades internacionais. Isso porque a expectativa de uma maior profissionalização e prestação de contas tornou-se natural, em parte devido aos vários casos de corrupção e desvios de verba em instituições, organizações e fundações supostamente integrantes do Terceiro Setor.

Assim, entidades que atuam nesse setor começaram a desenvolver seus próprios grupos representativos, justamente em razão da realidade alastrada nessas organizações, gerando uma expectativa clara pela transparência.

Atualmente, o crescimento de entidades sem fins lucrativos está intimamente conexo à responsabilidade social. Diversas empresas passaram a ter interesse em parcerias através da intensificação de doação de recursos e a realização de ações com as ONGs, além da criação de seus próprios setores de voluntariado, que iniciaram projetos a fim de desenvolver seus programas internos. Assim, a nova forma como

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empresas atuam na economia sofreu alterações na perspectiva de visão de mercado no Terceiro Setor, reforçando ainda mais a tendência da profissionalização desse setor.

O Terceiro Setor no mundo

Desde o momento que a escrita foi desenvolvida, nota-se a presença de ações sociais através da ajuda voluntária de um ser humano para com o seu semelhante. É inerente ao homem agrupar-se em sociedade e como característica base desse tipo de organização está a mescla entre a vocação e a necessidade de ajudar mutuamente o outro. Essa realidade teve seus reflexos modificados à medida que as sociedades evoluíram em seus relacionamentos interpessoais.

Inicialmente, a ajuda aos necessitados era papel da família, tribo ou clã, a depender da organização de cada civilização. Tratava-se de um suporte mútuo que prestavam uns aos outros. Os vínculos existentes nesses grupos formavam a essência da motivação para a ajuda mútua.

A identidade de algum modo agregava e desenvolvia o senso de comunidade, que fazia crescer o dever de proteção um pelo outro (OLIVEIRA, 2005).

Na Grécia antiga, a ajuda aos doentes, inválidos, viúvas e órfãos era uma prática estabelecida pelo próprio Estado através de pensões ou distribuição de mantimentos. As verbas para esses auxílios eram constituídas através do pagamento de ingressos aos estádios, assembleias, teatro, entre outras atrações públicas oferecidas nas cidades.

Em Roma, um sistema alimentício para ajudar os necessitados foi instituído pelo imperador no final do século I. O maior interesse à época era a nutrição infantil e garantir alimentação básica para as camadas mais pobres da população. Instituições beneficentes romanas foram criadas juntamente com posições para os responsáveis pelo trabalho social necessário à persecução do bem comum.

Carlos Magno, imperador romano, dedicava uma parte do seu tempo para legislar sobre caridade e proteção para o povo. Ele criou um sistema em que parte do que era auferido pela Igreja seria destinada

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aos pobres, mais precisamente um décimo das esmolas auferidas. Esse sistema recebeu o nome mais tarde de plano de beneficência eclesiástica civil (OLIVEIRA, 2005).

Figura 2 - Carlos Magno, imperador romano

Fonte: WikiCommons

No ocidente, com o surgimento de diversas religiões, como o judaísmo, cristianismo e islamismo, as pessoas passaram a dedicar mais do seu tempo para causas sociais. Os seres humanos passaram a ter uma maior influência por impulsos humanitários e nesse momento surgem normas morais e religiosas.

O mérito da esmola sob o aspecto religioso influenciou muitos seguidores da Igreja Católica no auxílio aos mais necessitados. Claramente, não foi a solução de todos os problemas sociais, mas aliviou o sofrimento e a fome de muitos.

Ao longo da idade média a ajuda pública, a ajuda mútua e esmola foram as três principais formas de assistência aos necessitados. A ajuda pública era fornecida principalmente através de ordens religiosas e hospitais, muitas vezes vinculados aos mosteiros que começaram a surgir.

Esse termo refere-se também à obrigação do senhor feudal em proteger

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os seus vassalos, servos e súditos de modo a atender suas necessidades (OLIVEIRA, 2005).

A ajuda mútua era uma prática comum realizada por corporações pelos membros que a constituíam. As associações profissionais, por exemplo, organizaram formas de assistência social aos seus pares, de modo que os membros dessa organização, independentemente de qual fosse a sua categoria interna, eram protegidos pela entidade.

A esmola, por sua vez, era uma forma de auxílio aos necessitados, a qual tinha como característica principal seu caráter individual. Muitos fiéis realizam essa prática com a específica finalidade de salvação, como uma espécie de dever religioso. Essa maneira de doar recursos podia ocorrer de modo direto ao necessitado ou à sua família, mas também muitas vezes eram dados os recursos às instituições que prestavam esses serviços ao público desfavorecido (PAIVA, 1973).

A ação social é tão antiga quanto a história da humanidade, pois desde que os seres humanos passaram a se organizar em grupos, tiveram membros mais enfraquecidos, que dependiam dos demais. Por isso, à medida que as sociedades cresceram e tornaram-se mais complexas, o ato de ajudar requereu avanços.

O mercantilismo e seu desenvolvimento ao longo dos séculos tornaram possível a criação do capitalismo, que viveu revoluções burguesas, culminando no surgimento do proletariado e movimentos sindicais. Essa realidade de transformação social fez surgir as primeiras legislações de cunho social ao redor do mundo para atender a pobreza.

Assim, em meados do século XIX, iniciou na Europa um forte movimento liberal com a finalidade de reivindicar condições humanas dignas de trabalho. As precárias realidades de higiene, habitação e instrução atingiam a classe operária em alguns países ocidentais em rápida industrialização. Em razão dessa situação, associações foram criadas para tentar reduzir desigualdades sociais e defender os direitos fundamentais do homem. Ademais, buscavam também atender necessidades imediatas da população mais carente que sofria com as calamidades, epidemias e guerras que se alastravam vastamente à época (OLIVEIRA, 2005).

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Essas entidades desde o seu princípio buscavam marcar fortemente sua independência com relação ao Estado. Portanto, encontravam em países como a Alemanha, França e Inglaterra, forte abertura para seu crescimento e difusão. Contribuíram imensamente para amenizar mazelas e promover vitalidade para as classes trabalhadoras.

Na Inglaterra, a Lei de Pobres, em 1601, trouxe avanços, que foram efetivamente concretizados no âmbito social em 1834 quando ocorreu sua reforma e permite evoluções nas organizações de beneficência. A legislação fabril inglesa no século XIX também teve importante papel na função assistencial necessária naquele período (OLIVEIRA, 2005).

Na Alemanha, houve a criação dos primeiros seguros sociais e na França foram propostas mudanças sociais, movimentos que tiveram papel de realce na implementação do aumento de ações sociais promovidas pelo Estado.

Louis Blanc era um francês socialista que atuou fortemente na defesa do direito ao trabalho e igualdade de salários, a fim de encampar as indústrias pelo Estado, a fim de que todos tivessem meios para prosperar.

Na Alemanha do século XIX, desenvolveu-se um programa de ajuda aos necessitados assumidos pelo governo que tinha como característica principal a ajuda através de impostos e doações. Tratava-se da elaboração de um estudo permanente da situação dos pobres mediante técnicas de observação participante com o envolvimento de voluntários que moravam em bairros pobres, informando a respeito das condições da vida local, a fim de zelar pelos necessitados.

O assistencialismo privado nasceu em países europeus e estendeu- se no período de ocupação colonial, sendo precursora do aparecimento da Cruz Vermelha. Trata-se de um movimento internacional laico, mas que possui inspiração cristã com sede em Genebra.

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Figura 3 - Símbolo da Cruz Vermelha

Fonte: Creative Commons

Outra entidade com raízes semelhantes à mencionada é o Exército da Salvação, criado em 1864, cuja ação continua forte até os dias atuais.

Apesar da influência cristã e sua origem britânica, essa organização espalhou-se por muitos países ao redor do mundo.

Figura 4 - Símbolo do Exército da Salvação

Fonte: Creative Commons

Atualmente, as entidades que visam prestar assistência social no mundo são inúmeras. Muitas atuam remotamente e viabilizam através da tecnologia um suporte antes inimaginável.

A Covid-19 trouxe o crescimento de mazelas e pobrezas em áreas mais carentes. Assim, é possível assistir durante essa pandemia a conexão entre a humanidade, a fim de amenizar o sofrimento daqueles que vivenciam maiores dificuldades.

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RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que o Terceiro Setor surgiu no Brasil através da forte presença da Igreja Católica, enquanto que em outras civilizações essa prática é muito mais antiga, já que surge desde quando as pessoas passaram a se organizar em grupos. Com o passar dos anos a cisão entre Estado e Igreja gerou um fortalecimento desse setor à medida que a figura de voluntários desvinculados da religião passou a existir.

Essa realidade ocorreu somente no século XIX, quando a sociedade tomou posição de atuante nas áreas sociais.

Muitos países recebiam influências europeias a respeito da emancipação dos direitos de segunda geração. Isso instruía e fortalecia a população no senso de comunidade, que passava a tomar ciência do peso que associações tinham na prática. A atuação entre Estado e sociedade cresceu e hoje vem sendo transformada, já que a maior participação do Terceiro Setor ocorre entre empresas privadas e a sociedade. Essa percepção da importância de contribuir para sociedade cresce entre o âmbito privado e demonstra a preocupação com um mundo melhor e mais justo para as novas gerações que estão por vir. A Covid-19 trouxe enormes desafios que vêm sendo enfrentados diariamente por todos ao redor do mundo. As camadas mais desfavorecidas sofrem ainda mais. O Terceiro Setor, portanto, encontra um grande potencial de desenvolvimento à medida que todos tentam unir-se para superar essa realidade tão difícil que o planeta enfrenta nesse momento delicado.

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Surgimento do Terceiro Setor no Brasil

INTRODUÇÃO:

Ao final deste capítulo, você terá meios para construir sólidas conclusões sobre como o surgimento do Terceiro Setor no Brasil sofreu influências da realidade histórica, política e cultural vivenciada pelo país à época. Essa reflexão será fundamental para consolidar seus conhecimentos iniciais sobre a temática. O público atuante nessa área, ao absorver esse conteúdo, terá melhores resultados para exercer suas competências. Motivado para desenvolver esse tema?

Então, vamos lá.

Reflexões quanto ao nascimento do Terceiro Setor no Brasil

A primeira entidade sem fins lucrativos brasileira foi a Santa Casa de Misericórdia de Santos, criada em 1543 com o apoio da Igreja Católica.

Nesse período, as instituições de beneficência estavam vinculadas à religiosidade inerente ao Estado.

No século XIX, com a Proclamação da República, a cisão entre Igreja e Estado dificultou as entidades sem fins lucrativos darem continuidade a sua persecução social. Grande parte do auxílio financeiro vinha do âmbito público.

Assim, a autonomia das associações cresceu e desenvolveu a independência social para com os vínculos antes arraigados. Esse momento foi essencial para permitir a percepção de novas formas de organização do Terceiro Setor.

Com o passar dos anos, inclusive, tornou-se clara a importância da disposição de parte da destinação de verba pública para entidades sem fins lucrativos. Esse aporte fornecido pela Administração Pública é também seu dever.

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As primeiras ONGs, como hoje conhecemos, datam da década de 50, vinculadas geralmente ao desenvolvimento da educação de base e, como já foi vastamente demonstrado, ainda hoje muitas estão organizadas junto à Igreja. Ocorre que o seu crescimento ganhou força nas últimas décadas.

Nesse período da história político-administrativa brasileira, entre a ditadura populista de Getúlio Vargas e a ditadura militar, a população inicia formas de organização associativa. De certa forma, relativamente autônomos e inevitavelmente políticos, de modo que foram criadas várias associações civis e sindicatos. Eles eram atrelados ao Estado e passaram a representar mudanças significativas na sociedade.

Nascem, a partir de então, capitaneadas pelas classes intelectualizadas e militantes, as organizações com foco na análise de textos. Essa tendência espalha-se pela América Latina, indo ao encontro do regime de força alastrado em vários países como Chile e Argentina.

Na sociedade civil, essas instituições ocupam espaços de atuação local há muitos séculos, principalmente por meio de projetos de curto alcance ou pouca visibilidade e com presença marcante da Igreja.

As ONGs existem no Brasil há muito tempo. A novidade é o nome organizações não governamentais criadas pelo Banco Mundial e pelas Nações Unidas. Antes, esses tipos de organizações eram conhecidos como centros de pesquisa, associações promotoras de educação popular, entidades de assessoria a movimentos sociais.

Nos anos 60 e 70, após essa fase anterior, as organizações não governamentais tiveram um extenso fortalecimento sob o contexto da ditadura militar. Os objetivos essenciais dessa fase passaram a ser a defesa dos direitos humanos e políticos, a fim de proteger a democracia conquistada ao longo do tempo (BRASIL, 2020).

Esse período foi de extrema importância histórica no Brasil, haja vista ter coincidido com esse papel reivindicatório. A redemocratização do país foi marcada por esse desenvolvimento no papel de muitas instituições que combatiam a restrição de liberdades cerceadas intensamente naquele momento.

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A formação do Terceiro Setor como modelo atual, marcado pela participação ativa da sociedade civil em parceria com a Administração Pública, é resultado do século XX. Essa realidade acontece em razão das mudanças na forma como se organiza as atividades estatais atualmente.

As proposições estatais demonstram a complexidade existente na humanidade, no fim do século XX, perante controversas alterações sistemáticas, em uma velocidade maior do que a sociedade estava preparada para enfrentar.

É nova também a forma que o segmento vem assumindo a partir da década de 80, visto que alcança uma maior visibilidade e toma corpo, incorporando instituições e formas organizacionais diferentes. Somente a partir da ECO 92, realizada no Rio de Janeiro, a mídia brasileira, em geral, veio reconhecer as ONGs, especialmente diante da repercussão internacional do evento e da capacidade de mobilização dessas organizações.

Essa democracia participativa crescente nesse momento denunciou modelos vigentes e apresentou propostas alternativas concretas para o desenvolvimento social. Alguns desses projetos careciam inicialmente de estudos de viabilidade econômico-financeira detalhados e outros se apresentavam carregados de ideais humanitários que se confundiam com valores políticos, muitas vezes contrários aos interesses governamentais e de grandes corporações. No entanto, ainda assim esse período marcou a mídia profundamente a ponto de registrar as atuações de grupos brasileiros que buscavam conhecer alternativas.

Em meio à globalização e crise enfrentada mundialmente diante da Covid-19, desenvolve-se um cenário difícil em que o Terceiro Setor recebe posição de atenção. Através da crise de identidade do Estado brasileiro e a reconstrução da sociedade civil pela recolocação de protagonistas ainda pouco expostos e pertencentes a um segmento difuso da sociedade brasileira, tem-se o resultado atual (LOPEZ, 2018).

A análise dos momentos históricos de intervenção estatal demonstra que a intervenção mínima e máxima do Estado não supria as necessidades sociais. É a partir do Estado democrático de direito e a

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construção da constituição como base sólida do ordenamento jurídico, que os países passam a garantir mais direitos às populações.

O Terceiro Setor conquistou grande crescimento no Brasil nas últimas décadas. Segundo um estudo realizado pelo  Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), o  país fechou o ano de 2017 com aproximadamente 820 mil organizações da sociedade civil (LOPEZ, 2018).

A importância e a atualidade dessa temática estão corroboradas ao observar a atuação do governo federal, que reconhece a importância do Terceiro Setor ao promover relevantes convênios e parcerias com organizações sociais. O Estado ressalta também a importância do reconhecimento das ações políticas e sociais realizadas pelas diversas instituições que fazem parte dessa microesfera formada por diferentes combinações e subconjuntos de organização.

Nessa perspectiva, as organizações sociais no Brasil assumem temas centrais de discussões na esfera pública e atuam em atividades de interesse coletivo, ressoando aos diferentes setores da sociedade.

Algumas áreas de atuação das entidades sem fins lucrativos são a expansão das campanhas para enfrentamento da violência, a ampliação da oferta de leitos no sistema público de saúde, a proposição de metodologias de ensino alternativas em escolas, a preservação da fauna e a flora das ameaças da intervenção humana, entre outras.

Contexto histórico, político e cultural

A compreensão do momento em que o Brasil estava em seu desenvolvimento como país, demonstra as razões pelas quais o Terceiro Setor obteve solo fértil para seu crescimento.

Inicialmente, a prática do assistencialismo estava frequentemente associada aos programas estatais. Logo, o Estado detinha o controle social. No entanto, com o decurso de tempo o governo percebeu a inviabilidade em continuar tomando a responsabilidade de todas as áreas de interesse de toda a população.

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Nessa perspectiva, ocorreu o enfraquecimento de modelos estatais, principalmente aqueles totalitários. É a partir desse momento que a sociedade tomou para si papéis essenciais na persecução de prestação de serviços sociais e iniciou a criação de movimentos. Então atingiu a maturidade que as pessoas seriam não meras receptoras, mas que precisariam unir-se a fim de fornecer assistência aos desamparados, já que eram responsáveis também pelas ações que os beneficiavam.

Entre os séculos XVIII e XIX, as ações sociais eram marcadas nitidamente pelo exclusivo caráter religioso, em razão da influência da colonização portuguesa, assim como pelo domínio da Igreja Católica. Com a revolução da década de 30, marcada pelo início do governo Vargas, extremamente populista, ocorreu a criação da primeira lei brasileira que regulamentava as regras para declaração de utilidade pública.

Nesse período, surgiu também o  Conselho Nacional do Serviço Social, autarquia federal que normatiza o profissional atuante na área da assistência social. Essa criação foi marcada inicialmente com o surgimento da primeira Escola de Serviço Social no Brasil em 1936, uma iniciativa vinculada à Igreja Católica com o intuito de amenizar as questões sociais e disciplinar da força do trabalho (IAMAMOTO, 2017).

Na década de 1930, o Serviço Social surge no Brasil intimamente vinculado às iniciativas da Igreja Católica, parte das estratégias de qualificação do laicato, especialmente sua parcela feminina — por meio dos movimentos da ação social e da ação católica —, em sua missão de apostolado junto à família operária. Registram-se, nas origens da profissão, fortes influências do Serviço Social francês e belga.

Entre os anos de 1936 a 1945 ocorreu o nascimento das primeiras escolas de Serviço Social e sua expansão no país, marcada pela prevalência da influência da religião católica. O primeiro curso criado em 1936 na Escola de Serviço Social de São Paulo, que futuramente se incorporou à PUC/SP em 1972, foi de fundamental importância para o desenvolvimento dessa profissão.

A Escola de Serviço Social do Instituto de Educação Familiar e Social, no Rio de Janeiro, foi criada em seguida, em 1937, tendo sida agregada à

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PUC/RJ em 1946. Em 1940, foi fundado o Instituto de Serviço Social de São Paulo e no mesmo ano surgiu a Escola de Serviço Social de Pernambuco, a primeira do Nordeste, sendo posteriormente incorporada à UFPE em 1970. Em 1944, foi instituída a Escola de Serviço Social da Bahia, integrada à Universidade Católica de Salvador em 1961. Nos anos que se seguiram, diversas outras instituições foram criadas no Brasil (IAMAMOTO, 2017).

A forte presença da Igreja Católica marcou o nascimento dessas escolas. O investimento da iniciativa estatal é pequeno na formação de assistentes sociais ao longo desse período. Por parte do Estado, foram registradas algumas escolas, como o Centro de Serviço Social da Escola de Enfermagem Ana Nery, na Universidade do Brasil, atual UFRJ, e a Escola de Serviço Social de Natal, agregada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em 1969 (IAMAMOTO, 2017).

A Sociedade Brasileira de Higiene foi fundada em 1923 e abriu caminho para o Serviço Social a partir de sua visão majoritariamente educativa no âmbito da saúde pública, visando a prevenção de doenças de massa. Em 1930 foi criado o Ministério da Educação e Saúde, outro importante marco para o desenvolvimento do Terceiro Setor.

A assistência social cresceu bastante com a Segunda Guerra Mundial, especialmente no período pós-guerra, que marcou uma ampla expansão da economia capitalista. Na perspectiva da industrialização, baseada no modelo fordista, a produção em massa para o consumo gera a acumulação de capital, resultando em excedentes. O Estado resta beneficiado através de impostos, o que aumenta o financiamento de políticas públicas.

O reconhecimento do movimento sindical em sua luta por reivindicações políticas e econômicas tinha como características a busca pelo pleno emprego e manutenção de padrão salarial capaz de atender o poder de compra dos trabalhadores. Essa realidade fez com que a população passasse a conseguir rodar a economia através do aumento gritante do consumo.

Apesar de inexistir até os dias atuais um Estado de bem-estar social no Brasil, como implementado em outros países, aqui houve o

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crescimento na prestação de serviços sociais ao público. Essa realidade gerou a possibilidade de criação de condições para o desenvolvimento do mercado profissional de trabalho e de institucionalização da profissão de assistente social.

No contexto da Guerra Fria, a forte influência norte-americana no cenário mundial do pós-guerra acarretou formulações de assistência social marcadas pelo desenvolvimento da comunidade. Nesse período, movimentos foram impulsionados pela intensificação das lutas sociais principalmente dentro de universidades, através dos movimentos estudantis.

Entidades que tiveram papéis importantes no crescimento do Terceiro Setor da América Latina foram o Centro Latino-Americano de Trabalho Social e a Associação Latino-Americana de Escolas de Serviço Social (Celats-Alaets). Ambas incentivaram o pensamento crítico no estudo do serviço social, especialmente quando correlacionado à realidade dos menos favorecidos na sociedade, dando suporte para o surgimento da pós-graduação e a pesquisa acadêmica nessa área. Assim, fortaleceram o estudo através do combate às ditaduras militares.

As organizações não governamentais, por meio dessa denominação, foram criadas já no final da década de 50 como organizações de natureza político-social pensadas por iniciativa de grupos de profissionais e técnicos militantes ou religiosos. Essas comunidades realizavam trabalhos de formação e promoção de grupos de base em setores desfavorecidos e marginalizados. Muitas vezes, essas entidades mantinham relações com associações católicas de cooperação europeias, que financiavam suas atividades.

Durante a ditadura militar brasileira, o Terceiro Setor buscou ampliar movimentos de lutas pela democratização do país, marcando forte presença nas lutas operárias que alavancaram o início da crise da ditadura militar. No contexto da ascensão de movimentos das classes sociais e defesa da elaboração e aprovação da Carta Magna de 1988, entidades foram socialmente questionadas pela prática política de diferentes segmentos da sociedade civil.

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Os assistentes sociais, à época, tomaram frente em lutas democráticas, cuja visibilidade no cenário político condicionou mudanças nas áreas de ensino, de pesquisa e de organização corporativa da profissão.

Essa realidade resultou em uma ampla sistematização da categoria em suas bases sindicais, acadêmicas e profissionais.

No Brasil, a realidade histórica da ditadura militar consolidou o mercado de trabalho na perspectiva nacional para os assistentes sociais, gerando o crescimento do contingente de profissionais. O curso foi efetivamente inserido como formação nos quadros universitários e sujeito às exigências de ensino, pesquisa e extensão. Instalou-se também a pós-graduação stricto sensu, nutrindo a produção científica, o diálogo acadêmico com áreas afins, o mercado editorial e a renovação dos quadros docentes. Apesar do período difícil, a pós-ditadura trouxe grande crescimento para o Terceiro Setor.

No período da crise da ditadura houve um descompasso para o assistencialismo porque ao mesmo tempo em que dispunha de condições materiais para crescer a partir do avanço nas lutas pelos direitos sociais e políticos, carecia de desenvolvimento crítico para fundamentar suas finalidades. Logo, muitos atuantes foram capturados e movidos pelo anseio em transformação.

Buscava-se o aperfeiçoamento para a implementação de um conjunto de programas sociais compensatórios da repressão, do arrocho salarial e da desmobilização política de classes e grupos profissionais vivenciados por toda a população à época. Eram sufocadas as iniciativas críticas que tiveram lugar nos trabalhos comunitários e na educação.

Assim, foi um momento de avanços e retrocessos mútuos.

As lutas e resistências de parte de assistentes sociais foram uma de suas expressões através da organização sindical da categoria. Muitos profissionais sofreram a repressão estatal e foram sujeitos ao exílio ou à prisão arbitrária, tortura, e tiveram condenações por tribunais militares guiados pela Lei de Segurança Nacional. Essa história atualmente vem sendo desconstruída com a participação popular e o crescimento do Terceiro Setor.

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RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que o Terceiro Setor no Brasil teve início da forma como hoje conhecemos a partir da década de 50. Logo, a política e o cenário social vivenciados pelos brasileiros influenciaram fortemente o modo como essas organizações cresceram.

Além disso, o anseio pela liberdade de imprensa e pelos demais direitos que foram cerceados durante os anos da ditadura militar construíram grupos interessados em grandes mudanças de regime. Esses sentimentos que permeavam o solo brasileiro resultaram em um período de redemocratização demarcado pelo grande crescimento do Terceiro Setor. Nesse contexto, esse setor encontrou em meio ao caos a oportunidade de expansão não apenas sob o ponto de vista social, mas também político, de modo que os legisladores estavam prontos para normatizar essa construção de uma área devotada às mazelas. Apesar desse terreno fértil para o alastramento das organizações não governamentais, foram encontradas dificuldades no percurso à medida que as dimensões continentais se estreitavam. A globalização permitiu conexões que antes não eram possíveis, o que chamou atenção de públicos internacionais para causas difusas de interesse da humanidade, como ocorre com as queimadas na Amazônia. Desse modo, essa reflexão sobre a função social que essas entidades possuem é uma parte essencial no estudo do Terceiro Setor, pois não é suficiente fazer o bem, mas também prezar pela transparência e excelência da prestação do serviço tornam-se chave para instituições de sucesso.

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Conceito e contextualização do Terceiro Setor

INTRODUÇÃO:

Ao término deste capítulo você será capaz de entender como surgiu o Terceiro Setor no Brasil e no mundo. Isso será fundamental para o exercício de sua profissão. As pessoas que atuam ou pretendem trabalhar nessa área, ao adquirirem essas instruções, tiveram melhores resultados ao exercer suas competências. Motivado? Então, vamos lá.

Avante!

Definições para o conceito de Terceiro Setor

Terceiro Setor, atualmente, no Brasil, é composto por fundações privadas e associações sociais. Esse conjunto de pessoas jurídicas de direito privado, que possuem interesse social e não têm finalidade lucrativa, são dotadas de autonomia e administração própria, cujo objetivo principal é a atuação voluntária junto à sociedade civil, buscando o seu aperfeiçoamento. 

Essa atuação muitas vezes recebe outras denominações, como Setor Solidário ou Social, tem papel essencial dentro de sociedades que buscam a evolução social e a solidificação de valores democráticos, pluralistas e atrelados à solidariedade humana.

Diante da relevância desse setor na vida de todo ser humano, a Assembleia Constituinte de 1988 reconheceu ao Ministério Público o dever de proteger a ordem jurídica, o regime democrático e os interesses sociais e individuais indisponíveis. Essa instituição permanente e essencial à função jurisdicional do Estado busca garantir a transparência, a fim de que a persecução dos objetivos sociais seja alcançada pelas organizações sociais sem fins lucrativos.

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Apesar do uso indiscriminado do termo Terceiro Setor, pouco se entende sobre esse conceito. As pessoas normalmente possuem vastas definições sobre seu significado. Alguns correlacionam às organizações não governamentais, outros vinculam com a caridade ou com atividades religiosas. Há também quem associe o nome ao setor de serviços na economia. Essa falta de conhecimento tem relação com a tímida quantidade de estudos desenvolvidos no país sobre essa temática.

A pesquisa existente faz breve menção à história da terminologia e às tradições às quais está relacionado.

Essa realidade é inquietante especialmente ao notar que existem grupos que defendem as qualidades desse setor social, principalmente no que diz respeito à transferência do Estado no fornecimento de serviços públicos e na elaboração de políticas públicas. Esses passam a ser vislumbrados e executados pela iniciativa privada.

A partir do objetivo de elucidar os possíveis significados e vieses do Terceiro Setor, desenvolve-se essa narrativa sobre as origens do termo e os motivos pelos quais ele é utilizado até os dias atuais, diante de tantos outros que, em geral, denominam o mesmo fato.

Essa expressão Terceiro Setor como usamos hoje começou a ser utilizada na década de 70 nos Estados Unidos para distinguir um setor da sociedade no qual atuam entidades sem fins lucrativos, especialmente direcionadas para a geração e a distribuição de bens e serviços públicos para a sociedade.

No ano de 1972, a mídia norte-americanos instigou críticas ao governo da época para incentivar a alteração comportamental no que se refere às políticas públicas. Buscava-se exaltar as instituições privadas sem fins lucrativos em detrimento do foco ser o setor lucrativo de serviços sociais, pois o fomento e incentivo foram essenciais para o desenvolvimento e estabelecimento desse setor (ALVES, 2002).

Obras internacionais influenciaram a consolidação da expressão Terceiro Setor. Esse termo sofreu uma queda na década de 80, pois foi um momento em que se discutia as formas de sistematização e as possíveis

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áreas de atuação através de atividades que não eram governamentais nem mercantis.

No lugar do uso do termo Terceiro Setor, a literatura norte-americana passou a gradualmente substituí-la pelo termo “nonprofit sector”, que em português a tradução seria “setor não lucrativo”. Cabe avaliar a realidade, uma vez que por mais que fosse possível naquele momento acreditar no enfraquecimento e até desaparecimento do termo Terceiro Setor, as bases de uma sociedade compartimentada em três setores já estavam consolidadas (SMITH, 1991).

Porém a referência como “não lucrativo” tampouco demonstrou- se unânime entre as pessoas que a utilizavam, havendo divergências desde o princípio quanto ao seu uso. Uma crítica recorrente recebida pelo uso dessa expressão decorre de ter sido criado a partir da comparação negativa entre as ações na esfera do mercado e as ações sociais.

Essa negação deriva do termo expressando mais fortemente o que o setor não lucrativo não é do que sobre o que ele é. Essa concepção também pressupõe erroneamente, de forma completamente injustificada, que toda atividade sem fins lucrativos é, de certa forma, uma maneira desvirtuada de empreendimento comercial (LOHMANN, 1989).

Uma importante ponderação com relação à nomenclatura, é que em diferentes realidades existem muitos termos limitantes no que se refere à acepção complexa designada para o Terceiro Setor. É possível encontrar textos que se referem a “setor voluntário”, “setor da caridade”,

“filantropia”, “organizações não governamentais”, “economia social”, “setor independente”, entre outros.

Esse emaranhado de formas para referir-se a uma mesma realidade gera grandes desafios para a área da pesquisa acadêmica, especialmente quando a finalidade é estabelecer relações de semelhança entre os setores, mesmo que em enquadramentos diversos a depender do país.

As características utilizadas nesses exemplos expostos como forma de denominação ressaltam apenas uma faceta das diversas formas de práticas exercidas pelo Terceiro Setor. Logo, essas possibilidades de nomenclaturas não seriam as mais completas e deixam de lado outros

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aspectos relevantes que poderiam auxiliar na compreensão da dinâmica do setor.

A distinção desses termos é relevante em razão das suas diferentes conotações e seus diversos usos. Chamar de Setor Voluntário parte-se da perspectiva de construção do trabalho através dos cidadãos que por iniciativa própria dispõem de seu tempo a fim de dedicar-se a causas sociais. Nesses casos, o significado desse termo, na maioria das vezes, repercute no fato de caber aos voluntários a própria administração das ações realizadas, voltando a atenção para esse grupo participante, que faz acontecer e são muito ativos no cotidiano das organizações do setor (ALVES, 2002).

No Reino Unido, o Setor Voluntário é a denominação mais utilizada, bem como em demais nações participantes do Commonwealth. Essa forma de denominação é bastante criticada visto que nesses países, muitas das organizações ao qual o termo tem sido aplicado são, na prática, administradas por profissionais contratados.

O chamado Setor de Caridade é uma denominação mais tradicional para o setor não lucrativo, utilizada especialmente nos Estados Unidos e no Reino Unido. Nesses países, inclusive, o termo “charity” é dado às organizações tais como uma declaração de utilidade pública. Essa forma de uso destaca os repasses de doações privadas que os projetos do setor percebem (SALAMON; ANHEIER, 1992).

Essa definição é vastamente criticada por duas razões. A primeira decorre da conotação negativa do termo caridade, implicando uma maneira pejorativa. De toda forma é importante notar que o que é angariado através de atos de caridade muitas vezes são apenas parte da receita das organizações existentes.

Muitos autores norte-americanos usam a denominação Filantropia ou Setor Filantrópico para identificar o setor. Ocorre que a acepção dessa palavra pode vir a significar uma boa intenção através de uma ação, um serviço ou uma doação de caráter voluntário, cujo único objetivo é a geração de um bem público. Nesse caso, a base é a intenção de quem

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doa, a fim de servir a um propósito maior para a humanidade por meio de uma contribuição particular de tempo, energia ou dinheiro.

A filantropia pode ser um agrupamento de comportamentos, nos mais diversos contextos, que têm por finalidade propiciar serviços comunitários. Ainda é possível compreender a filantropia como uma esfera de atividade institucional, na qual a fomentação do bem comum é transmitida pela sociedade à organização não governamental receptora (SALAMON; ANHEIER, 1992).

Ao encarar as possíveis interpretações dadas aos termos setor não lucrativo e filantropia são usados na academia, é possível concluir que dentre as três definições apresentadas apenas a primeira assemelha-se explicitamente ao que se entende por setor não lucrativo, já que esse entendimento realça a ação individual. Ocorre que essa tênue área de intersecção entre os respectivos campos semânticos não demonstra ser suficiente para torná-los sinônimos.

Crítica semelhante e do mesmo modo relevante na utilização do termo filantropia é designar todo o setor não lucrativo. Não se deve usar como se fossem equivalentes e intercambiáveis os termos filantropia e setor não lucrativo, já que esse modo de ação está abarcado pelo setor sem fins lucrativos (SALAMON; ANHEIER, 1992).

Se uma das definições de atividade filantrópica parte da intenção de quem doa ou de quem recebe a doação, no sentido de contribuir para o bem comum, essa forma de compreensão é, de fato, uma característica marcante desse setor, mas não a única.

A prática social dentro de empresas privadas gera uma grande dificuldade quanto à tipificação. Apesar de desenvolver-se dentro de uma esfera onde o lucro é o objetivo basilar, não se pode rechaçar absolutamente toda e qualquer forma de caridade como possível dentro desse cenário. Por essa mesma razão, algumas formas de denominação típicas para essas realidades são os termos “responsabilidade social” e

“filantropia empresarial”, não que outras formas de nomenclatura inexistam.

Ainda é importante atentar para a correlação de sentidos constantemente confundidos no campo semântico. Textos escritos por

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autores especializados, muitas vezes, confundem situações divergentes quando se referem à Filantropia Empresarial como sinônima do Terceiro Setor. Este contém àquele já que a atuação de caridade por uma instituição que visa o lucro pode ser abarcada por esse setor através de parcerias que promovam ações de assistência aos que mais precisam dentro da sociedade (ALVES, 2002).

Alguns estudiosos norte-americanos usam, ainda, a denominação Setor Independente ou Terceira Força, que ressalta a relevância da posição que se encontram as instituições que ocupam um lugar próprio, na medida em que não só independem dos comandos estatais, mas também permanecem equidistantes do setor comercial.

Esse termo tampouco é considerado de forma consensual, considerando que muitos discordam do raciocínio-base desses pesquisadores de que o setor não lucrativo seria supostamente independente. Os críticos dessa denominação justificam esse ponto ao analisar que entidades sem fins lucrativos dependem de receitas advindas, de algum modo, dos setores lucrativos do sistema (SALAMON;

ANHEIER, 1992).

Já o termo Economia Social é muito utilizado na França para designar diversas associações sem fins lucrativos. Os estudiosos franceses, economistas e cientistas sociais, a princípio, oferecem estrutura de suporte para suas colocações, diferentemente dos demais. Eles defendem a aproximação das definições de Terceiro Setor e Economia Social através na medida que pesquisam formações cooperativas de autogestão e seus funcionamentos.

Essa denominação que parte da palavra economia também apresenta nos textos especializados conexão com outras formas de sistematização definitivamente estabelecidas como entidades comerciais.

A carga axiológica dessas terminologias e sua semântica dificultam a viabilidade do uso dessas nomenclaturas, que facilmente induzem a raciocínios antagônicos.

As Organizações Não Governamentais, as famosas ONGs, são dignas de realce dentre as diversas formas usadas como sinônimas

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para designar o Terceiro Setor. É um termo recorrente em nações em desenvolvimento para se referir a instituições que auxiliam nas causas sociais, fomentando o desenvolvimento da comunidade local. Existem cada vez mais pesquisas sobre as ONGs, claramente voltadas ao uso do termo organizações não lucrativas (ALVES, 2002).

Na atualidade, a expressão Organizações Não Governamentais e sua sigla correspondente, ONG, transformaram-se em termos banais, de modo que passaram a ser utilizados em diversas situações para abranger uma grande comunidade.

Em obras de autores internacionais sobre desenvolvimento das nações, é possível observar, com frequência, a caracterização específica das Organizações Não Governamentais apenas para designação das que atuem em países subdesenvolvidos, como é o caso dos que se encontram localizados na América Latina.

As chamadas ONGs designam organizações que iniciaram suas atividades na América Latina durante movimentos sociais e de lutas contra as ditaduras que se instalaram no continente durante as décadas de 60 e 70. Isso marca drasticamente essas organizações com um cunho político muito forte, diferentemente das demais partes do mundo (ALVES, 2002).

Tecnicidades terminológicas

No final da década de 80 e nos anos seguintes foram realizados sucessivos congressos para debater a temática do Terceiro Setor ao redor do mundo. Muitos pesquisadores da área das ciências sociais passaram a se interessar pelo fenômeno emergente das organizações sem fins lucrativos que se alastrava (SALAMON; ANHEIER, 1992).

Um dos resultados desse momento foi o projeto de pesquisa desenvolvido na Universidade de John Hopkins sobre esse tema, que fez com que o uso da expressão Terceiro Setor retomasse nos escritos acadêmicos. Isso gerou a expansão do uso dessa terminologia em vários países, incluindo, o Brasil (ALVES, 2002).

Esse projeto, que se estende até a atualidade, tem como finalidade principal dimensionar o impacto do Terceiro Setor sobre as economias

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nacionais dos diversos países pesquisados, além de dar maior visibilidade a esse setor nas diversas realidades ao redor do globo.

Tanto em países em desenvolvimento, tipicamente localizados ao sul do mapa-múndi, quanto nas nações desenvolvidas, em sua maioria geograficamente posicionados ao norte, cidadãos vem criando associações, fundações e instituições similares para a promoção de serviços humanitários. O objetivo essencial é realizar atividades que fomentem o desenvolvimento econômico de base, a prevenção da degradação ambiental, a proteção dos direitos civis e a persecução de várias outras demandas que não vinham sendo atendidas ou foram deixadas de lado pelo Estado (ALVES, 2002).

O cenário político e o momento histórico vivenciado nessas décadas em questão convergiram simultaneamente em mudanças revolucionárias e geraram a diminuição da presença estatal, o que auxiliou no crescimento das ações de caráter associativo.

O estado de bem-estar social, crise que ficou conhecida como crise do Welfare State na década de 80, fez com que os direitos básicos antes garantidos e subsidiados exclusivamente pelo Estado fossem remanejados para a estrutura organizacional das ONGs.

Os países mais pobres sofreram grandemente a falta de recursos que viabilizassem seu desenvolvimento. Essa realidade foi seguida do amplo aumento da dívida externa no final do século XX, que basicamente inviabilizou as nações a continuarem financiando atividades para fomentar o desenvolvimento.

Nesse contexto, a temática do meio ambiente recebeu atenção mundial diante de degradações crescentes espalhadas por todos os continentes. Essa realidade demonstrou a falta de políticas públicas internacionais apropriadas para combater aquele cenário global. Restou evidente que esse tipo de crise necessitaria de uma conjuntura de ações difusas e ao mesmo tempo conexas para amenizar os efeitos nefastos previstos por estudiosos, o que significou a descentralização do problema (SALAMON; ANHEIER, 1992).

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Somou-se ao cenário mundial a crise do modelo socialista, especialmente após a queda do Muro de Berlim, que culminou na decadência daquela forma organizacional de planejamento estatal para a gestão da economia mundial.

A revolução dos meios de comunicação iniciada na década de 70 facilitou a dispersão do uso de computadores, fax e celulares, ampliando as possibilidades de comunicação entre as pessoas. O auge ocorreu com o início da internet, que rompeu barreiras antes inimagináveis pelo ser humano e facilitou ainda mais a difusão do conhecimento que a própria rede passou a gerar.

Por fim, o grande crescimento mundial na década de 60 acarretou um enorme aumento das populações urbanas. Isso fez com que comunidades mais exigentes fossem formadas e trouxe expectativas maiores para os governantes.

As organizações não lucrativas presentes em países desenvolvidos e as ONGs que lutam pelos direitos civis em nações ainda em desenvolvimento, ambas, são fenômenos que compõem o termo abrangente Terceiro Setor. Logo passou a ser adotado e buscou manter várias modalidades de ações e formas de organização.

Pontuado de outra forma, é possível concluir que foi em razão da perspectiva da revolução associativa que o termo Terceiro Setor renasceu na literatura da década de 70 para ser usado como conector de termos globais, considerando as variadas especificidades nacionais e/ou regionais das organizações (SALAMON; ANHEIER, 1992).

Após esse período, os pesquisadores foram capazes de afastar a forte carga ideológica e de várias tradições locais, que se adensavam na terminologia até então utilizada. Assim, esse período foi essencial para avanços na interpretação desse tema.

A denominação Terceiro Setor adveio da conceituação clássica da economia, para a qual a sociedade é subdividida em setores, conforme os objetivos econômicos de seus agentes sociais, sejam de natureza jurídica pública ou privada. Portanto, agentes de natureza privada atuantes em atividades que objetivam finalidades privadas fariam parte do Primeiro

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Setor, correspondente ao mercado. Agentes de natureza pública que exercem ações que visam fins públicos fariam parte do Segundo Setor, correspondente ao Estado. Assim, agentes de natureza privada que praticassem atividades com o intuito público integrariam o Terceiro Setor (ALVES, 2002).

Nesse sentido, a princípio, associa-se o Terceiro Setor a práticas simultaneamente não governamentais e não mercantis, ou seja, não lucrativas.

Inexiste até o momento consenso entre os pesquisadores se há alguma ordem de importância, de prevalência ou de surgimento dos três setores demarcados pela economia. Debates ideológicos e análise das teorias até hoje estudadas foram insuficientes para gerar concordância na academia sobre essa questão.

A viabilidade prática no uso de uma terminologia só para uma temática ao mencionar o Terceiro Setor deu condições para que diversas realidades de pesquisa pudessem conversar, pois ao resumir numa só palavra uma vasta área de pesquisa, tornou-se possível dialogar com muitos problemas que a academia jamais havia enfrentado. Dentre os principais, o problema de como tornar comparável todo o Terceiro Setor, em termos globais, e como tratar como iguais formas organizacionais tão diferentes foram questionamentos comuns a estudiosos de situações diversas de mundo (ALVES, 2002).

A fim de esclarecer esses questionamentos restaram identificadas características presentes, em maior ou menor grau, nas organizações do Terceiro Setor. A formalização, isto é, a apresentação de alguma forma de institucionalização, como o registro público de suas atividades ou outras formas que justifiquem a sua existência formal através de reuniões regulares e representantes reconhecidos.

Na natureza privada, ou seja, institucionalmente separadas do Estado, há inexistência de distribuição de lucros, pois se houver recursos excedentes, estes não serão repassados aos membros, mas revertidos para a própria atividade-fim, a autogestão, ou seja, a capacidade de

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controlar suas atividades e a participação voluntária, quer seja em suas atividades, em sua gestão ou em sua direção (SALAMON; ANHEIER, 1992).

Essa definição estrutural da pesquisa construiu um parâmetro-base de análise pelo qual se tornou possível estudar o Terceiro Setor em diversos países, inicialmente em 13 países e, hoje, já em 40 países. Concluiu-se que esse setor varia muito, de acordo com as diversas realidades nacionais.

Assim, em cada realidade o estudo permite uma certa flexibilização para que possam ser incluídas ou não algumas organizações consideradas as características próprias do lugar.

Apesar de o projeto desenvolvido pela Universidade de John Hopkins ser pioneiro na temática e em sua dimensão, é preciso observar problemas de base. A escolha operacional em que nasce o recorte do grupo inicial a ser pesquisado diminuiu bastante a quantidade de organizações sem fins lucrativos a serem estudadas. Além disso, a definição estrutural foi construída na perspectiva da realidade do Terceiro Setor norte-americano, distorção basilar que leva a conflitos subsequentes quando se analisam outros países (ALVES, 2002).

Portanto, considerando que os cinco critérios anteriores admitiram a inclusão ou exclusão das organizações e aceitaram a flexibilização de combinações diversas no Terceiro Setor, nota-se que a fixação estrutural utilizada pela Johns Hopkins, apesar de ser uma forma intrigante de abordagem para incluir realidades diversas de Terceiros Setores ao redor do globo, mais oculta do que revela. Assim, é essencial observar teorias alternativas sobre essa temática.

Dentre as definições alternativas para o Terceiro Setor, é possível vislumbrar a economia vista através de três conjuntos, em que o primeiro é formado de organismos estatais, a quem cabe conservar a ordem social. O alcance de seus objetivos ocorre por meio do uso da autoridade legitimada pela sociedade, pois representa os interesses da maioria e opera na esfera do sistema político.

O segundo conjunto de organizações identificado corresponde ao mercado. Essas organizações estão compreendidas nas atividades de produção de bens e serviços. A função desse conjunto fomenta seus

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objetivos através das trocas econômicas negociadas, visando maximizar lucros. Resta aqui representados os interesses individuais operados na esfera do mercado.

O terceiro conjunto de organizações recai sobre o setor associativo voluntário. As organizações classificadas aqui são as que mais se ocupam em articular e realizar visões sociais. Essas atingem suas finalidades representando interesses marginalizados e atuam na esfera da sociedade civil.

Essa classificação escolhida é o mais abrangente possível sem qualquer tipo de distinção entre organizações por tamanho, local, base financeira ou interesse substantivo. Estão incluídos países do primeiro e do terceiro mundo e tampouco faz qualquer tipo de reserva moral ou ideológica. A partir dessa alargada inclusão, essa teoria está marcada por um modo excessivamente simplificado de definir o fenômeno das organizações que não têm o lucro como principal finalidade.

Há, ainda, uma outra forma de compreender o Terceiro Setor que analisa a lógica pela qual o nome tem sido atribuído a diferentes organizações do setor não lucrativo. Essa visão critica o fato de todas as demais análises partirem da ideia de que o mundo social é tripartite, já que seria possível vislumbrar uma quarta categoria, o setor doméstico.

Na literatura tradicional das ciências sociais, o setor doméstico é geralmente inserido no setor privado, o que talvez seja um erro já que o setor doméstico e o setor privado têm características diversas em suas atividades. O setor doméstico abrange as relações familiares e comunitárias.

Nessa perspectiva, as organizações não lucrativas são realocadas do terceiro para o quarto lugar porque surge uma nova figura. O Terceiro Setor, a princípio, perde sua posição especial e exclusiva de ator voluntário, uma vez que é possível imaginar serviços voluntários também dentro da esfera doméstica.

Zonas ambíguas de intersecções entre os mundos existem e as respostas não são claras e bem definidas, mas basicamente é possível falar do Terceiro Setor como elemento de um conjunto, uma mescla intermediária entre o mercado, o Estado e a comunidade.

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As organizações do Terceiro Setor têm características polivalentes diante da combinação de fatores políticos e sociais tão importantes quanto os papéis que desempenham no mundo econômico. São organizações híbridas que compõem recursos e racionalidades de diversos setores.

Existe um pluralismo sinérgico no Terceiro Setor e diante das diversas explicações e tentativas de definições apresentadas, a teoria que permite imaginar uma quarta categoria parece potencialmente interessante, já que é excessivamente exigente, mas observa o fenômeno sob uma ótica multidisciplinar.

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que o Terceiro Setor no Brasil é recente na forma como atualmente observarmos. Ademais, essa denominação utilizada é demasiadamente genérica, haja vista abarcar vários tipos de organismos com diferentes marcos históricos. A análise política e cultural da acepção do termo é profundamente densa, baseada em vasta pesquisa acadêmica. Apesar de ser muito comentado como uma das novidades em termos de políticas públicas, o chamado Terceiro Setor ainda é algo pouco analisado no cenário científico brasileiro. Trata-se de um termo abrangente que agrega diversos tipos de organizações. Após debruçar- se sobre as teorias e os contextos que marcaram esses momentos de consolidação da nomenclatura, foi possível perceber que existe uma vasta mescla de nomenclaturas para referir-se a realidades distintas, o que dificulta uma uniformização ideal para marcar o tema. Essas dificuldades encontradas não facilitam a pesquisa desenvolvida e a compreensão por parte de quem tem interesse em adentrar na temática. Assim, a partir desse momento, o termo preferido será Terceiro Setor, já que setor não lucrativo não deve ser usado como terminologia sem qualquer distinção.

Referências

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