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Reflexões quanto ao nascimento do Terceiro Setor no Brasil

A primeira entidade sem fins lucrativos brasileira foi a Santa Casa de Misericórdia de Santos, criada em 1543 com o apoio da Igreja Católica.

Nesse período, as instituições de beneficência estavam vinculadas à religiosidade inerente ao Estado.

No século XIX, com a Proclamação da República, a cisão entre Igreja e Estado dificultou as entidades sem fins lucrativos darem continuidade a sua persecução social. Grande parte do auxílio financeiro vinha do âmbito público.

Assim, a autonomia das associações cresceu e desenvolveu a independência social para com os vínculos antes arraigados. Esse momento foi essencial para permitir a percepção de novas formas de organização do Terceiro Setor.

Com o passar dos anos, inclusive, tornou-se clara a importância da disposição de parte da destinação de verba pública para entidades sem fins lucrativos. Esse aporte fornecido pela Administração Pública é também seu dever.

As primeiras ONGs, como hoje conhecemos, datam da década de 50, vinculadas geralmente ao desenvolvimento da educação de base e, como já foi vastamente demonstrado, ainda hoje muitas estão organizadas junto à Igreja. Ocorre que o seu crescimento ganhou força nas últimas décadas.

Nesse período da história político-administrativa brasileira, entre a ditadura populista de Getúlio Vargas e a ditadura militar, a população inicia formas de organização associativa. De certa forma, relativamente autônomos e inevitavelmente políticos, de modo que foram criadas várias associações civis e sindicatos. Eles eram atrelados ao Estado e passaram a representar mudanças significativas na sociedade.

Nascem, a partir de então, capitaneadas pelas classes intelectualizadas e militantes, as organizações com foco na análise de textos. Essa tendência espalha-se pela América Latina, indo ao encontro do regime de força alastrado em vários países como Chile e Argentina.

Na sociedade civil, essas instituições ocupam espaços de atuação local há muitos séculos, principalmente por meio de projetos de curto alcance ou pouca visibilidade e com presença marcante da Igreja.

As ONGs existem no Brasil há muito tempo. A novidade é o nome organizações não governamentais criadas pelo Banco Mundial e pelas Nações Unidas. Antes, esses tipos de organizações eram conhecidos como centros de pesquisa, associações promotoras de educação popular, entidades de assessoria a movimentos sociais.

Nos anos 60 e 70, após essa fase anterior, as organizações não governamentais tiveram um extenso fortalecimento sob o contexto da ditadura militar. Os objetivos essenciais dessa fase passaram a ser a defesa dos direitos humanos e políticos, a fim de proteger a democracia conquistada ao longo do tempo (BRASIL, 2020).

Esse período foi de extrema importância histórica no Brasil, haja vista ter coincidido com esse papel reivindicatório. A redemocratização do país foi marcada por esse desenvolvimento no papel de muitas instituições que combatiam a restrição de liberdades cerceadas intensamente naquele momento.

A formação do Terceiro Setor como modelo atual, marcado pela participação ativa da sociedade civil em parceria com a Administração Pública, é resultado do século XX. Essa realidade acontece em razão das mudanças na forma como se organiza as atividades estatais atualmente.

As proposições estatais demonstram a complexidade existente na humanidade, no fim do século XX, perante controversas alterações sistemáticas, em uma velocidade maior do que a sociedade estava preparada para enfrentar.

É nova também a forma que o segmento vem assumindo a partir da década de 80, visto que alcança uma maior visibilidade e toma corpo, incorporando instituições e formas organizacionais diferentes. Somente a partir da ECO 92, realizada no Rio de Janeiro, a mídia brasileira, em geral, veio reconhecer as ONGs, especialmente diante da repercussão internacional do evento e da capacidade de mobilização dessas organizações.

Essa democracia participativa crescente nesse momento denunciou modelos vigentes e apresentou propostas alternativas concretas para o desenvolvimento social. Alguns desses projetos careciam inicialmente de estudos de viabilidade econômico-financeira detalhados e outros se apresentavam carregados de ideais humanitários que se confundiam com valores políticos, muitas vezes contrários aos interesses governamentais e de grandes corporações. No entanto, ainda assim esse período marcou a mídia profundamente a ponto de registrar as atuações de grupos brasileiros que buscavam conhecer alternativas.

Em meio à globalização e crise enfrentada mundialmente diante da Covid-19, desenvolve-se um cenário difícil em que o Terceiro Setor recebe posição de atenção. Através da crise de identidade do Estado brasileiro e a reconstrução da sociedade civil pela recolocação de protagonistas ainda pouco expostos e pertencentes a um segmento difuso da sociedade brasileira, tem-se o resultado atual (LOPEZ, 2018).

A análise dos momentos históricos de intervenção estatal demonstra que a intervenção mínima e máxima do Estado não supria as necessidades sociais. É a partir do Estado democrático de direito e a

construção da constituição como base sólida do ordenamento jurídico, que os países passam a garantir mais direitos às populações.

O Terceiro Setor conquistou grande crescimento no Brasil nas últimas décadas. Segundo um estudo realizado pelo  Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), o  país fechou o ano de 2017 com aproximadamente 820 mil organizações da sociedade civil (LOPEZ, 2018).

A importância e a atualidade dessa temática estão corroboradas ao observar a atuação do governo federal, que reconhece a importância do Terceiro Setor ao promover relevantes convênios e parcerias com organizações sociais. O Estado ressalta também a importância do reconhecimento das ações políticas e sociais realizadas pelas diversas instituições que fazem parte dessa microesfera formada por diferentes combinações e subconjuntos de organização.

Nessa perspectiva, as organizações sociais no Brasil assumem temas centrais de discussões na esfera pública e atuam em atividades de interesse coletivo, ressoando aos diferentes setores da sociedade.

Algumas áreas de atuação das entidades sem fins lucrativos são a expansão das campanhas para enfrentamento da violência, a ampliação da oferta de leitos no sistema público de saúde, a proposição de metodologias de ensino alternativas em escolas, a preservação da fauna e a flora das ameaças da intervenção humana, entre outras.

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