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Contexto histórico, político e cultural

A compreensão do momento em que o Brasil estava em seu desenvolvimento como país, demonstra as razões pelas quais o Terceiro Setor obteve solo fértil para seu crescimento.

Inicialmente, a prática do assistencialismo estava frequentemente associada aos programas estatais. Logo, o Estado detinha o controle social. No entanto, com o decurso de tempo o governo percebeu a inviabilidade em continuar tomando a responsabilidade de todas as áreas de interesse de toda a população.

Nessa perspectiva, ocorreu o enfraquecimento de modelos estatais, principalmente aqueles totalitários. É a partir desse momento que a sociedade tomou para si papéis essenciais na persecução de prestação de serviços sociais e iniciou a criação de movimentos. Então atingiu a maturidade que as pessoas seriam não meras receptoras, mas que precisariam unir-se a fim de fornecer assistência aos desamparados, já que eram responsáveis também pelas ações que os beneficiavam.

Entre os séculos XVIII e XIX, as ações sociais eram marcadas nitidamente pelo exclusivo caráter religioso, em razão da influência da colonização portuguesa, assim como pelo domínio da Igreja Católica. Com a revolução da década de 30, marcada pelo início do governo Vargas, extremamente populista, ocorreu a criação da primeira lei brasileira que regulamentava as regras para declaração de utilidade pública.

Nesse período, surgiu também o  Conselho Nacional do Serviço Social, autarquia federal que normatiza o profissional atuante na área da assistência social. Essa criação foi marcada inicialmente com o surgimento da primeira Escola de Serviço Social no Brasil em 1936, uma iniciativa vinculada à Igreja Católica com o intuito de amenizar as questões sociais e disciplinar da força do trabalho (IAMAMOTO, 2017).

Na década de 1930, o Serviço Social surge no Brasil intimamente vinculado às iniciativas da Igreja Católica, parte das estratégias de qualificação do laicato, especialmente sua parcela feminina — por meio dos movimentos da ação social e da ação católica —, em sua missão de apostolado junto à família operária. Registram-se, nas origens da profissão, fortes influências do Serviço Social francês e belga.

Entre os anos de 1936 a 1945 ocorreu o nascimento das primeiras escolas de Serviço Social e sua expansão no país, marcada pela prevalência da influência da religião católica. O primeiro curso criado em 1936 na Escola de Serviço Social de São Paulo, que futuramente se incorporou à PUC/SP em 1972, foi de fundamental importância para o desenvolvimento dessa profissão.

A Escola de Serviço Social do Instituto de Educação Familiar e Social, no Rio de Janeiro, foi criada em seguida, em 1937, tendo sida agregada à

PUC/RJ em 1946. Em 1940, foi fundado o Instituto de Serviço Social de São Paulo e no mesmo ano surgiu a Escola de Serviço Social de Pernambuco, a primeira do Nordeste, sendo posteriormente incorporada à UFPE em 1970. Em 1944, foi instituída a Escola de Serviço Social da Bahia, integrada à Universidade Católica de Salvador em 1961. Nos anos que se seguiram, diversas outras instituições foram criadas no Brasil (IAMAMOTO, 2017).

A forte presença da Igreja Católica marcou o nascimento dessas escolas. O investimento da iniciativa estatal é pequeno na formação de assistentes sociais ao longo desse período. Por parte do Estado, foram registradas algumas escolas, como o Centro de Serviço Social da Escola de Enfermagem Ana Nery, na Universidade do Brasil, atual UFRJ, e a Escola de Serviço Social de Natal, agregada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em 1969 (IAMAMOTO, 2017).

A Sociedade Brasileira de Higiene foi fundada em 1923 e abriu caminho para o Serviço Social a partir de sua visão majoritariamente educativa no âmbito da saúde pública, visando a prevenção de doenças de massa. Em 1930 foi criado o Ministério da Educação e Saúde, outro importante marco para o desenvolvimento do Terceiro Setor.

A assistência social cresceu bastante com a Segunda Guerra Mundial, especialmente no período pós-guerra, que marcou uma ampla expansão da economia capitalista. Na perspectiva da industrialização, baseada no modelo fordista, a produção em massa para o consumo gera a acumulação de capital, resultando em excedentes. O Estado resta beneficiado através de impostos, o que aumenta o financiamento de políticas públicas.

O reconhecimento do movimento sindical em sua luta por reivindicações políticas e econômicas tinha como características a busca pelo pleno emprego e manutenção de padrão salarial capaz de atender o poder de compra dos trabalhadores. Essa realidade fez com que a população passasse a conseguir rodar a economia através do aumento gritante do consumo.

Apesar de inexistir até os dias atuais um Estado de bem-estar social no Brasil, como implementado em outros países, aqui houve o

crescimento na prestação de serviços sociais ao público. Essa realidade gerou a possibilidade de criação de condições para o desenvolvimento do mercado profissional de trabalho e de institucionalização da profissão de assistente social.

No contexto da Guerra Fria, a forte influência norte-americana no cenário mundial do pós-guerra acarretou formulações de assistência social marcadas pelo desenvolvimento da comunidade. Nesse período, movimentos foram impulsionados pela intensificação das lutas sociais principalmente dentro de universidades, através dos movimentos estudantis.

Entidades que tiveram papéis importantes no crescimento do Terceiro Setor da América Latina foram o Centro Latino-Americano de Trabalho Social e a Associação Latino-Americana de Escolas de Serviço Social (Celats-Alaets). Ambas incentivaram o pensamento crítico no estudo do serviço social, especialmente quando correlacionado à realidade dos menos favorecidos na sociedade, dando suporte para o surgimento da pós-graduação e a pesquisa acadêmica nessa área. Assim, fortaleceram o estudo através do combate às ditaduras militares.

As organizações não governamentais, por meio dessa denominação, foram criadas já no final da década de 50 como organizações de natureza político-social pensadas por iniciativa de grupos de profissionais e técnicos militantes ou religiosos. Essas comunidades realizavam trabalhos de formação e promoção de grupos de base em setores desfavorecidos e marginalizados. Muitas vezes, essas entidades mantinham relações com associações católicas de cooperação europeias, que financiavam suas atividades.

Durante a ditadura militar brasileira, o Terceiro Setor buscou ampliar movimentos de lutas pela democratização do país, marcando forte presença nas lutas operárias que alavancaram o início da crise da ditadura militar. No contexto da ascensão de movimentos das classes sociais e defesa da elaboração e aprovação da Carta Magna de 1988, entidades foram socialmente questionadas pela prática política de diferentes segmentos da sociedade civil.

Os assistentes sociais, à época, tomaram frente em lutas democráticas, cuja visibilidade no cenário político condicionou mudanças nas áreas de ensino, de pesquisa e de organização corporativa da profissão.

Essa realidade resultou em uma ampla sistematização da categoria em suas bases sindicais, acadêmicas e profissionais.

No Brasil, a realidade histórica da ditadura militar consolidou o mercado de trabalho na perspectiva nacional para os assistentes sociais, gerando o crescimento do contingente de profissionais. O curso foi efetivamente inserido como formação nos quadros universitários e sujeito às exigências de ensino, pesquisa e extensão. Instalou-se também a pós-graduação stricto sensu, nutrindo a produção científica, o diálogo acadêmico com áreas afins, o mercado editorial e a renovação dos quadros docentes. Apesar do período difícil, a pós-ditadura trouxe grande crescimento para o Terceiro Setor.

No período da crise da ditadura houve um descompasso para o assistencialismo porque ao mesmo tempo em que dispunha de condições materiais para crescer a partir do avanço nas lutas pelos direitos sociais e políticos, carecia de desenvolvimento crítico para fundamentar suas finalidades. Logo, muitos atuantes foram capturados e movidos pelo anseio em transformação.

Buscava-se o aperfeiçoamento para a implementação de um conjunto de programas sociais compensatórios da repressão, do arrocho salarial e da desmobilização política de classes e grupos profissionais vivenciados por toda a população à época. Eram sufocadas as iniciativas críticas que tiveram lugar nos trabalhos comunitários e na educação.

Assim, foi um momento de avanços e retrocessos mútuos.

As lutas e resistências de parte de assistentes sociais foram uma de suas expressões através da organização sindical da categoria. Muitos profissionais sofreram a repressão estatal e foram sujeitos ao exílio ou à prisão arbitrária, tortura, e tiveram condenações por tribunais militares guiados pela Lei de Segurança Nacional. Essa história atualmente vem sendo desconstruída com a participação popular e o crescimento do Terceiro Setor.

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que o Terceiro Setor no Brasil teve início da forma como hoje conhecemos a partir da década de 50. Logo, a política e o cenário social vivenciados pelos brasileiros influenciaram fortemente o modo como essas organizações cresceram.

Além disso, o anseio pela liberdade de imprensa e pelos demais direitos que foram cerceados durante os anos da ditadura militar construíram grupos interessados em grandes mudanças de regime. Esses sentimentos que permeavam o solo brasileiro resultaram em um período de redemocratização demarcado pelo grande crescimento do Terceiro Setor. Nesse contexto, esse setor encontrou em meio ao caos a oportunidade de expansão não apenas sob o ponto de vista social, mas também político, de modo que os legisladores estavam prontos para normatizar essa construção de uma área devotada às mazelas. Apesar desse terreno fértil para o alastramento das organizações não governamentais, foram encontradas dificuldades no percurso à medida que as dimensões continentais se estreitavam. A globalização permitiu conexões que antes não eram possíveis, o que chamou atenção de públicos internacionais para causas difusas de interesse da humanidade, como ocorre com as queimadas na Amazônia. Desse modo, essa reflexão sobre a função social que essas entidades possuem é uma parte essencial no estudo do Terceiro Setor, pois não é suficiente fazer o bem, mas também prezar pela transparência e excelência da prestação do serviço tornam-se chave para instituições de sucesso.

Conceito e contextualização do Terceiro

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