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Deixando de lado, momentaneamente, os enfrentamentos exis-tentes na análise do Terceiro Setor, diante de sua heterogeneidade de atores e interesses, pode-se elencar práticas básicas existentes. As orga-nizações sociais não lucrativas e não governamentais têm funções deli-mitadas dentro das possibilidades e realidades existentes, de modo que apresentam dilemas e constrangimentos a depender do tipo de atividade que realizam.

O Terceiro Setor abrange diversas espécies de entidades. Essas se diferenciam umas das outras pela função ou atividade que exercem, porém apresentam características estruturais semelhantes e essenciais para a classificação enquanto membros do Terceiro Setor. Elas não são governamentais, possuem gestão própria e não têm fins lucrativos, além de poderem ser formalmente constituídas.

As ONGs são associações ou fundações que atuam em causas sociais de forma dissociada do Estado. Isso não significa que não possam receber repasses públicos, mas revela a independência dessas instituições. Elas têm a possibilidade de realizar atividades econômicas, a fim de arrecadar uma imensa quantidade de dinheiro, e podem também empregar uma grande quantidade de pessoas em seu quadro. Desse modo, é importante notar que a mão de obra existente em sua atuação

pode ser voluntária ou composta por funcionários regulares, já que trabalhadores formais não retiram sua finalidade social.

A gestão própria dessas entidades revela a estruturação de administrações internas, com desenvolvimento de princípios, objetivos e normas próprias. Ademais, não possuem intervenção de órgãos externos e seu processo de gestão é fiscalizado por gerências específicas, que controlam a parte administrativa e financeira da organização.

A existência de uma instituição sem fins lucrativos não indica impossibilidade de balanço financeiro positivo, já que a vedação se refere à percepção de lucro por integrante da organização. Assim, toda e qualquer rentabilidade dos membros do Terceiro Setor é revertida para consecução da prestação dos serviços sociais realizados.

Por não serem vinculadas ao governo não significa que as instituições do Terceiro Setor não possuem estrutura formal. São registradas e reconhecidas dentro de seu segmento apresentando todas as suas atividades regulamentadas. Essa institucionalização busca garantir o respaldo para trazer credibilidade para a sociedade, o governo e as pessoas envolvidas com as funções da instituição.

As organizações do Terceiro Setor são capazes de exercer uma infinidade de atividades à sociedade, empresas ou mesmo no âmbito estatal. Dentre as formas existentes de atuação em projetos sociais, existem as que controlam e as que executam as políticas públicas, as que autonomamente realizam projetos sociais, bem como as que influenciam processos legislativos e o poder executivo (TEODÓSIO, 2001).

De todo modo, é importante salientar que as diferentes formas nas quais as organizações desse setor atuam não são excludentes. Isto é, existe a possibilidade de instituições mesclarem essas funções e construírem uma realidade ampla de atuação social com muitas frentes e combates, já que em determinados momentos pode fazer o controle da execução de políticas públicas, mas em outros exercê-las simultaneamente.

O controle da execução de políticas públicas através da difusão de valores é uma função essencial para a manutenção de uma sociedade democrática. Muitas organizações do Terceiro Setor estão atuando

nessa área, promovendo movimentos que defendem direitos humanos e confrontam a corrupção, uma abordagem existente tanto em ONGs internacionais como as que atuam no cenário brasileiro.

A finalidade de organizações nesse campo de atuação é exigir do governo, empresas e mesmo da sociedade as posturas e propostas condizentes com as acordadas entre eles e o cumprimento das leis, a fim de manter uma harmônica convivência social.

Uma das ferramentas mais usadas para esse controle tem sido a internet, por ser uma forma democrática de fiscalização por parte da sociedade sobre a máquina pública e as organizações privadas existentes.

Esse auxílio tecnológico advindo das últimas décadas tem fortalecido os meios de combate a fraudes e desvios.

É possível observar as organizações sob duas óticas de atuação, através de atividades ampliadas ou restritas. A propagação de valores e a busca em cumprir metas associadas a transformações sociais mais longas e profundas caracteriza uma organização de atividade ampliada, enquanto estruturações sociais restritas recaem sobre metas específicas, atividades geralmente materiais e realizáveis a curto prazo.

O plano de ação traçado pelas organizações é uma temática muito debatida. As técnicas gerenciais utilizadas nesse setor comumente têm relação com pressupostos típicos do gerenciamento privado, realidade constantemente veiculada pela mídia e defendida por muitos como caminho privilegiado para a modernização. Outros pressupostos característicos do setor privado muito difundidos nessas instituições são o pragmatismo, a análise entre meios e fins, a disciplina financeira, o foco na eficiência, entre tantos outros.

O questionamento que reside ao analisar essa realidade é quanto aos reflexos da expansão dessa racionalidade gerencial sobre o Terceiro Setor, que pode acarretar na limitação das metas, na medida em que transformações sociais mais amplas tendem a ser complexas para realizar. A grande dificuldade passa a residir quando o foco se volta apenas para práticas pragmáticas, pois ganhos concretos no curto prazo

são mais fáceis e rápidos, de repercussão positiva direta sobre a imagem construída junto à comunidade.

Uma forma de atuação recorrente no Terceiro Setor é a aproximação com o Estado, com grandes empresas privadas ou mesmo com outras organizações do setor para viabilizar a execução de políticas públicas.

Essas parcerias entre Estado, empresas privadas, ONGs internacionais e organizações é marcada por trocas contínuas de recursos financeiros e humanos, conhecimento, tecnologia e informações.

Infelizmente, é necessário ressaltar que existem parcerias criadas sob essa denominação, mas que na realidade se torna uma captura da organização do Terceiro Setor. Em alguns casos é desenvolvida uma relação de submissão ao Estado, às empresas privadas ou aos organismos internacionais mais fortes (TEODÓSIO, 2001).

Não é permitido terceirizar as políticas públicas ao Terceiro Setor, pois cabe ao Estado a sua persecução. Essas organizações buscam realizar programas sociais à medida que somam à função pública. É essencial que a postura do Estado seja aberta para dialogar com os movimentos sociais, impondo regras, mas sem olvidar as grandes possibilidades de crescimento mútuo e interação democrática com a sociedade.

Problema de dinâmica semelhante precisa ser combatido também na relação com a iniciativa privada, pois organizações não devem atuar como subservientes da empresa junto à sociedade, mas ativamente no enfrentamento dos problemas sociais. Nessa relação, em algumas situações, observam-se problemas e defendem-se valores, que representam mais um querer empresarial do que pontos relevantes para a comunidade. Não se espera do setor privado atitudes completamente desinteressadas, mas há uma diferença gigante entre a empresa ter lucro com seus programas sociais e o estabelecimento de seus valores e filosofia (TEODÓSIO, 2001).

O relacionamento entre ONGs amplamente reconhecidas e organizações menores pode também gerar problemas. Essa realidade é mais recorrente do que se imagina, principalmente com relação a órgãos de financiamento de alcance mundial, que ao intencionalmente

abordarem uma instituição de pequeno porte seduzem com auxílios financeiros. Outras vezes compelem a execução de atividades prioritárias dentro das circunstâncias típicas de países desenvolvidos, mas que não representam a realidade brasileira.

Existe, ainda, uma outra forma de atuação social, que é através da execução autônoma. Esse modo de operação é extremamente trabalhoso, visto que a obtenção de recursos para o funcionamento é uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo Terceiro Setor, o que influencia na celebração de muitas parcerias.

A sociedade simpatiza muito com esses tipos de organizações que atuam de modo autônomo por passarem mais credibilidade para o público. No entanto, são poucas que conseguem solucionar esse grande dilema do Terceiro Setor, que é a captação de recursos.

Dentre as ferramentas para alcançar uma percepção regular de recursos está desde a venda de itens relacionados à causa social empreendida até o recebimento de doações. No entanto, essas estratégias de ganho de provimentos muitas vezes geram desvirtuamento do objetivo principal da organização, já que fazem com que energias sejam gastas mais para sobreviver do que na atuação das causas sociais propriamente ditas.

Em razão dessa realidade é que cabe ponderar sempre a programação de ações de forma cautelosa para adequá-las às finalidades basilares da organização. Longe de ser um fenômeno residual, essa tendência é um dilema que precisa ser combatido para que a sua própria sobrevivência não dependa de atitudes desprendidas do objetivo social que deve ser a atenção principal.

Uma possível forma de ação das organizações sem fins lucrativos é através das tentativas de influenciar os processos legislativos e decisórios executivos. Nessa perspectiva, nota-se como é múltiplo o espaço de atuação desse setor, já que existem ONGs com forte força na base para influir nas agendas internacionais, como aquelas que possuem unidades ao redor do mundo.

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