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A influência da língua portuguesa nas línguas bantu faladas em Moçambique: o caso da língua xichangana 1

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em Moçambique: o caso da língua xichangana

Alexandre António Timbane

Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira

Rosane de Andrade Berlinck

Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho

Resumo. Moçambique tem uma grande diversidade linguística. No 3º Seminário da Padronização de línguas bantu moçambicanas realizado em 2008 foram padronizadas ortograficamente 17 línguas de grupo bantu (Ngunga e Faquir). O português é a língua oficial, porém não é materna para a maioria da população (Constituição). O português é falado especialmente por pessoas escolarizadas e/ou por aquelas que moram na zona urbana. A língua xichangana é uma língua bantu (a 2ª língua mais falada em Moçambique) que se modifica nos últimos anos, sobretudo a nível lexical, fruto do contato com o português. A pesquisa objetiva conhecer e explicar as influências português no xichangana. Através de corpus extraído em gravações de conversas informais em xichangana e do levantamento lexical no Dicionário changana-português (Sitoe) verificou-se como os empréstimos não só provêm do português, mas também do inglês e do afrikaans. A integração ocorre ortográfico e foneticamente na maior parte dos casos e que esses fenómenos não empobrecem, mas sim enriquecem o xichangana. Muitos empréstimos são necessários, pois não existe o equivalente em xichangana porque retratam realidades novas, resultados da expansão das novas tecnologias. Constata-se que há mudanças significativas nos sobrenomes resultado do aportuguesamento.

Palavras-chave: Moçambique, Influência, Português, Língua Xichangana

Abstract. Mozambique has a great linguistic diversity. At the 3rd Seminar on the Standardization of Bantu Mozambican Languages, in 2008, 17 languages of the Bantu group were standardized (Ngunga and Faquir). Portuguese is the official language but it is not maternal for the majority of the population (Constituição) Portuguese is spoken especially by educated people and/or by those living in urban areas. The xichangana language is a Bantu language (the 2nd most spoken language in Mozambique) that has changed in recent years, especially at the lexical level, due to the contact with Portuguese. This research aims to understand and explain the influences of Portuguese in xichangana. Through a corpus extracted in recordings of informal conversations in xichangana and of the lexical survey in the Dicionário changana-português, (Sitoe) we established how linguistic borrowing derives not only from Portuguese, but also from English and Afrikaans. The integration of

loanwords takes place orthographically and phonetically in most cases. These phenomena do not impoverish, but rather enrich xichangana. Many loanwords are necessary as there is no equivalent in xichangana. The loanwords portray new realities, resulting from the expansion of new technologies.

It is observed that there are significant changes in surnames resulting from Portuguesecizing.

Keywords: Mozambique, Influence, Portuguese, xichangana language

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Moçambique (tal como todos países africanos) tem uma diversidade linguística resultado da história da formação do povo africano, que é composta por etnias e grupos populacionais com características distintas. Se África é ‘o berço da humanidade’, segundo Diop, então é verdade afirmar que o ser humano surgiu e logo inventou uma língua que serviu para a comunicação entre membros da comunidade. Constituirá verdade afirmar que a língua é o espelho da cultura de um povo e é através da língua que se transmite as regras de ser e de estar na comunidade. Em Moçambique não foi exceção, pois o país conta com cerca de vinte Línguas Bantu (LB) espalhadas pelas dez províncias que concorrem com a Língua Portuguesa (LP), que tem o estatuto de língua oficial segundo a Constituição da República de Moçambique, embora não sendo a língua materna da maioria da população moçambicana, tal como os dados do Instituto Nacional de Estatística de Moçambique de 2019 apontam. Para a presente pesquisa adotaremos o termo ‘línguas bantu’ posicionando-se e apoiando os argumentos de Dimande (s.p.) e Chimbutana (40) que defendem que a língua não pertence a um único indivíduo (pessoa), mas sim a uma comunidade linguística (pessoas) e, portanto, não se pode considerar o singular do género língua ntu que na tradução seria ‘língua de (uma) pessoa’. O correto é ‘língua bantu’ quando quiser referir- se a uma única língua, como por exemplo, o bitonga. Este é o singular. Quando se fizer referência a várias línguas (plural) será ‘línguas bantu’ com o morfema do plural na palavra ‘língua como já se viu, mantendo-se a palavra bantu 2 pois ela quer dizer apenas pessoas” (Dimande s.p.).

O termo ‘bantu’ é usado nos estudos da linguística africana para se referir a um grupo de línguas compostas por cerca de 600 línguas faladas por pouco mais de 220 milhões de pessoas numa vasta região da África contemporânea, que se estende desde o sul de uma linha que vai desde os Montes Camarões (a sul da Nigéria), junto à Costa Atlântica, até a foz do Rio Tana, na República do Quênia, abrangendo países da África Central e Austral (Ngunga, Introdução à linguística bantu 35).

A LP é falada especialmente por pessoas alfabetizadas e/ou por aquelas que moram nas zonas urbanas. Mas também, o número de falantes da LP como língua materna vem aumentando, segundo Gonçalves (4), fato que é impulsionado pelo planejamento linguístico 3 (Calvet 15; Severo 453) pela educação inclusiva, massiva bem como do aumento dos meios de comunicação tais como a rádio, o jornal, a televisão e a internet. Vejamos o crescimento de falantes de línguas maternas, língua segunda e línguas bantu em Moçambique, segundo dados dos censos populacionais de 1980, 1997, 2007 e 2017 apresentados pelo Instituto Nacional de Estatística de Moçambique:

Quadro I: Crescimento dos falantes do português e das LB Estatuto da

língua % falantes em

1980 % de falantes

em 1997 % de falantes

em 2007 % de falantes em 2017

Português L2 24,4 39 50,3 60,3

Português L1 1,2 6,5 10,7 16,5

Línguas bantu 98,8 93,5 89,3 81,2

Fonte: INE (64 e 68) e Timbane (A variação e a mudança lexical 36)

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Os dados apresentados no Quadro I mostram o perigo que as LB correm ou correrão ao longo dos próximos anos. De 1980 até 2017 houve uma redução do número de falantes das LB como língua materna fato que consideramos ‘tendência perigosa’ num espaço onde há valorização do português em detrimento das línguas africanas. A política e o planejamento linguístico interferem e marcam a valorização ou desvalorização das línguas. Mas as LB ainda resistem face à expansão da LP, pois a língua materna mais usada ainda é o emakhuwa (26,3%) falada ao norte do país 4 do país por cerca de 5.307.378 pessoas; em segundo lugar está a língua xichangana 5 (com cerca de 11,4%) falada no sul por cerca de 1.660.319 pessoas e em terceiro lugar, o cisena (com cerca de 7,8%), uma língua falada por 1.314.190 pessoas na região central 6 de Moçambique. É preciso, reconhecer a existência considerável da comunidade asiática radicada em Moçambique desde os tempos da colonização. Esta comunidade é falante das línguas urdu e gujarati, para além do hindi e do árabe utilizados nas religiões de origem asiática e no comércio. A Índia tem 22 línguas, segundo Abbi (2012) e é muito provável que hajam imigrantes falantes dessas diversas línguas indianas ao longo do vasto país que se estende desde o Rio Rovuma até à Província de Maputo. A língua xichangana, que é objeto do nosso estudo, é falada especificamente nas províncias de Maputo, de Gaza e parte da província de Inhambane. Os limites linguísticos são diferentes de limites políticos. Por isso a língua xichangana também é falada nos países vizinhos de Moçambique: África do Sul e Zimbábue (Sitoe).

O número crescente de cidadãos alfabetizados (a maioria jovens) favorece a mistura de línguas, providenciando em muitos casos mudanças linguísticas por meio do processo de empréstimos vindos do português, inglês e afrikaans, entre outras, para a língua xichangana. Uma das características comuns das línguas é a capacidade de evoluir (perda/ganho de certos traços linguísticos) ao longo do tempo, fato que não é mau, errado, feio, mas sim um destino normal de todas as línguas vivas. São transformações que aparecem de forma discreta, quase imperceptíveis e que mais tarde se generalizam em toda a comunidade linguística.

Nesta pesquisa, pretendemos explicar como o português empresta as várias unidades lexicais para o xichangana bem como os processos da sua integração.

Será demonstrado como os tabus étnicos e os empréstimos podem influenciar nas mudanças linguísticas dentro de um grupo linguístico.

O trabalho apresenta cinco seções tratando em primeiro lugar da situação sociolinguística de Moçambique com maior incidência na língua xichangana e destacando a origem, as variantes, a localização geográfica e as relações com a LP. Debate-se sobre as várias teorias, com particular atenção para questões que abordam as mudanças e as interferências linguísticas por meio de empréstimos e estrangeirismos. Para além disso apresenta-se a metodologia, os resultados e as considerações finais.

Contextualização sociolinguística

Segundo Labov, todo o sistema linguístico está sujeito a variação e a mudança.

Existe um sistema linguístico, que é virtual/abstrato onde cada falante busca as

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regras da gramática assim como o vocabulário. O vocabulário está na individualidade e o léxico está no sistema. Nenhuma língua em uso está isenta à influência de fatores internos e externos à língua porque existe uma estreita relação entre ela e a organização sociocultural. Em muitas sociedades, a língua tem um valor mais importante até porque ela identifica um povo socialmente marcado. Os va changana (=povo dos changana; plural de mu changana) 7 são um grupo étnico localizado no sul de Moçambique que partilham a mesma cultura, hábitos e principalmente a mesma língua. Os vachangana falam a língua xichangana; os varonga falam a língua xironga; os vatswa falam língua xitswa e assim sucessivamente.

Os povos bantu são por natureza de tradição oral. As obras mais antigas escritas em língua xichangana datam do séc. XIX com a elaboração das primeiras bíblias e livrinhos de catequese e de orações. Nessa altura, a produção escrita tinha como objetivo evangelizar e civilizar religiosamente povos africanos que eram consideradas ‘selvagens’. O ensino colonial era obrigatoriamente feito em português e o xichangana era conotado como “dialeto”. Era uma atitude preconceituosa que visava inferiorizar o homem africano e sua língua/tradição, pois existe uma diferença clara entre língua e dialeto sob o ponto de análise linguístico.

O período do desprezo pelas LB iniciou no período colonial e se estende até trinta anos após a independência alcançada em junho de 1975. Foi em 1989 que se realizou o 1º Seminário sobre a Padronização da Ortografia das Línguas Moçambicanas liderado por docentes e pesquisadores da Universidade Eduardo Mondlane-Moçambique. Antes desse período havia muita disparidade na ortografia, tal como ficou demonstrado no exemplo da palavra xichangana discutida na introdução deste trabalho. O 2º Seminário (ocorrido em 1999) trouxe mais debates sobre os aspectos cruciais discutidos em 1989. O 3º e último Seminário realizado em 2008 veio “sistematizar as experiências acumuladas desde então tentado buscar consensos sobre os aspectos que ainda se revelavam problemáticos” (Ngunga e Faquir 4). Segundo os mesmos linguistas, o xichangana já é língua de ensino em 23 escolas a título experimental num sistema conhecido como educação bilíngue, fato que consideramos positivo quando se fala em preservação das línguas africanas e redução de reprovações que ocorrem pelo fraco domínio do português como língua oficial e obrigatória nas escolas. De referir que o xichangana é a língua materna de muitas crianças na região sul de Moçambique com mais incidência nas zonas suburbanas e rurais. Antes de mais, é necessário deixar claro qual é a origem do xichangana, sua localização geográfica e o convívio com a LP.

A Origem da Língua xichangana

A maioria das línguas existentes no mundo estão classificadas e organizadas em

grupos, sub-grupos, famílias e sub-famílias. A maior parte das línguas africanas já

está classificada desde as décadas 50 e 60 descritas na sua maioria por europeus,

missionários e outros pesquisadores curiosos da época (Lyons). A língua

xichangana não podia fugir à regra e assim, ela nasceu das LB. A palavra bantu

significa “pessoas”. Segundo Greenberg, as línguas africanas se dividem em quatro

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grandes famílias e subfamílias: Afro-asiática (Semítica, Egípcia, Cushítica, Berber e Chádica), Nilo-sahariana (Songhai, Sahariana, Maban, Fur, Chari-Nilo, Koman), Congo-kordofaniana (Níger-Congo, Kordofaniana) e Koi/San (Khoi, San, Sandawe, Iraqw, Hatsa ou Hadza).

É da subfamília Niger-Congo que surgem as LB. Ngunga (Introdução à linguística bantu, 50–53) mostrou que essas línguas receberam este nome devido a existência de características comuns; entre elas se destaca: a) possuir um sistema de gêneros gramaticais, em número não inferior a cinco; b) ter vocabulário comum a outras línguas, a partir do qual se pode formular hipóteses sobre a possível existência de uma língua ancestral comum; e c) ter um conjunto de radicais invariáveis a partir dos quais a maior parte das palavras se forma por aglutinação de afixos: uma estrutura básica do tipo consoante-vogal-consoante ou ainda juntando-lhes sufixos gramaticais formam-se bases verbais.

As LB, segundo Guthrie, são classificadas em 15 zonas codificadas por letras maiúsculas: A, B, C, D, E, F, G, K, L, M, N, P, R, S (ctd. in Ngunga, Introdução à linguística bantu 45–54). Cada grupo de língua foi codificado por um número decimal sufixado à letra do código da respectiva zona. Com o mapeamento de Guthrie, Moçambique ficou abrangido por quatro zonas que são: G, P, N, S. Assim, as línguas faladas em Moçambique ficaram distribuídas da seguinte forma: Zona G: Grupo Swahile (G40), Zona P: Grupo Yao (P20), Zona N: Grupo Nyanja (N30), Zona S: Grupo Shona (S10), Grupo Tswa-Ronga (S50) e Grupo Copi (S60). Assim, a língua xichangana (S53) faz parte do grupo Tswa-Ronga juntamente com Xitswa (S51), Xigwamba (S52), Xironga (S54). No território moçambicano, o xichangana (S.53) possui cinco variantes, conforme mostra o quadro a seguir:

Quadro II: Variantes do xichangana

VARIANTES LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA

xihlanganu Distritos de Namaacha, Moamba e Magude xidzonga Distritos de Magude, Bilene e parte de Massingir xin’walungu Distrito de Massingir

xibila Distritos de Limpopo e parte de Chibuto

xihlengwe Distritos de Xai-Xai, Manjacaze, Chibuto, Guijá, Chicualacuala, Panda, Morrumbene, Massinga, Vilanculo e Govuro

Fonte: Sitoe (7)

É preciso sublinhar que a localização não é clara, uma vez que os falantes se

deslocam constantemente de uma província para a outra ou mesmo de um distrito

para o outro devido a vários fatores. Esse deslocamento é justificado pela

instabilidade política, pela guerra e calamidades naturais que sempre assolaram

aquele país. Hoje, o xichangana tem empréstimos do português, do inglês, do

afrikaans e do isizulu (estas três últimas línguas oficiais na África do Sul). É

importante mostrar algumas particularidades do xichangana: Segundo resultados

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do 3º Seminário da Ortografia das Línguas Moçambicanas, o xichangana tem 46 grafemas do alfabeto muitos deles inexistentes em português. Segundo Ngunga e Faquir, há consoantes especiais como é o caso das “implosivas [ ɓ ] e [ ɗ ] que se escrevem b’ e d’, respectivamente para se distinguirem das oclusivas [b] e [d] que se escrevem b e d, respectivamente”. São exemplos de b’ava (pai), ku bava (ser amargo), d’okomela (fruto) e faduku (lenço). Outro aspeto especial a considerar são os cliques velar não-vozeado [!], velar vozeado [g!] e velar nasal [ ɧ !] são grafados como q, gq e n’q como nos exemplos: 8 xiqamelo (travesseiro), n’gqhondho (juízo), n’qolo (carroça). É frequente se ver a pré-nasalização nas consoantes b, f, p e v:

mpumga (arroz), mbuti (cabrito), nfenhe (macaco), mpsandla (rã), mvhuche (carvão em pó), mpfula (chuva).

Durante muitos anos (décadas 60, 70 e 80) muitos moçambicanos deslocavam-se para África do Sul, com objetivo de obter emprego nas minas de ouro e de carvão. Na região sul do país era tradição que os jovens fossem trabalhar nas minas antes do casamento. O regresso desse grupo moçambicanos das minas da África do Sul (na maioria homens e jovens) trouxe mudanças bruscas do xichangana principalmente nas províncias de Maputo e de Gaza. Sitoe apresentou que 13,5% de verbetes eram empréstimos: 385 do português, 243 do zulu, 167 do inglês e 83 do afrikaans. Os dados aqui apresentados resultam da nossa pesquisa que consistiu na contagem desses itens lexicais para se chegar ao resultado apresentado. A maior parte desses empréstimos preenchem lacunas lexicais para descrever realidades novas ou mesmo antigas. Mas também há casos de abandono de palavras já existentes em xichangana.

Relações entre o português e o xichangana no mesmo espaço geográfico

A LP, por ter estatuto de língua oficial, tem muito prestígio em Moçambique, principalmente nas zonas urbanas. O português não escapa às interferências das LB, tal como explica Ngunga (“Interferências de línguas moçambicanas” 7–20).

Ainda sobre os estrangeirismos e os empréstimos linguísticos no português falado em Moçambique, há que salientar o trabalho de Timbane que explica como as unidades lexicais vindas do inglês e das LB se integram no português formando o que se denomina por Português de Moçambique.

O português é falado por uma minoria, o que leva com que as pessoas sintam

necessidade de usá-la em situações oficiais para se beneficiar dos serviços públicos,

como é o caso de cartórios, bancos, ministérios entre outros. As crianças das

regiões rurais só falam o português na escola, na sala de aulas com o professor,

reservando o xichangana para comunicações do dia a dia, nos trabalhos domésticos

até na comunicação com colegas da turma. Nas conversas informais, fora do

recinto escolar, as crianças usam o xichangana que é a língua materna. Segundo

Timbane, nas cidades o cenário é bem diferente, pois “as crianças da cidade falam

a LP em casa em 92,4%. Isto quer dizer que os pais ensinam português às crianças

desde a tenra idade” (O Ensino da língua portuguesa). Essa situação é oposta às regiões

rurais, daí o impacto o fracasso escolar causado pela obrigatoriedade do uso do

português (Timbane, O Ensino da língua portuguesa na 1ª classe 65). 9

(7)

A política linguística 10 determinou as funções de cada uma das línguas na sociedade: o português como língua de prestígio e as línguas bantu sem nenhum estatuto. Cada uma das línguas atua no devido lugar segundo situações. Por exemplo, em discursos políticos junto às povoações rurais da etnia vachangana há obrigação de existir um tradutor ou intérprete para fazer chegar a mensagem à população. Por vezes alguns líderes políticos, em momento de campanha eleitoral, se sentem ‘obrigados’ a falar xichangana como forma de mostrar sua identidade e sinal de pertença junto aos eleitores. No comércio formal e informal é frequente ouvir mais xichangana do que português. A Rádio Moçambique possui em cada província um emissor provincial que transmite seus programas em línguas locais fato que consideramos positivo na divulgação das línguas bantu. Outro caso mais interessante a observar é dos moçambicanos de origem asiática (mais conhecidos como monhés) que se sentem estimulados à aprender xichangana para melhor se comunicarem com os clientes falantes desta língua. Na província e na cidade de Maputo, comerciantes nigerianos e de outras nacionalidades aprendem xichangana para que possam interagir com seus clientes na maioria falantes do xichangana.

Não se pode distanciar a língua da cultura e do meio ambiente envolvente.

Os estudos das relações entre língua e meio ambiente (ecolinguística) discutidos com pormenor por Sapir, Calvet (Pour une écologie des langues), Couto, e Mufwene mostram como o espaço geográfico e ambiental influenciam nos usos linguísticos. Os ecossistemas natural, mental e social interagem entre si, criando relações que se dão entre indivíduos pertencentes a um povo que se localiza num espaço/território. Isso significa também que o “ecossistema linguístico local (comunidade de fala) em que se dá a ecologia da interação comunicativa é constituído por qualquer agrupamento de pessoas (P) que convivam de modo duradouro em determinado espaço (T) e que interajam (L) e até em comunidade de comunicação” (Couto et al.). Desta forma o sotaque moçambicano é influenciado pelas línguas locais, o léxico é influenciado pelos contextos específicos daquele povo havendo decalques e transferências das LB para o português formando o que Timbane designa por português de Moçambique (Que português se fala em Moçambique?). Por exemplo, as palavras cacana (prato feito à base de momordica balsamina), matapa (prato feito à base de folhas de mandioca), massala (fruto da árvore strychnos spinosa) não são conhecidas no Brasil, do mesmo modo as palavras jaburu, gambá, mamão, pocan, pé de moleque são desconhecidas em Moçambique.

O léxico de uma língua, segundo Sapir, reflete o ambiente físico e social dos

falantes (44). Sapir dá exemplo dos índios nutka habitantes de uma tribo costeira

que possuem termos específicos para nomear diversas espécies de animais que

habitam naquele espaço. O estudo apresentado por Quiraque analisa a estrutura

morfo-lexical de provérbios em língua tewe e suas estratégias de (não)

correspondência no português usado no Brasil revelou que o meio social em que

a comunidade linguística está inserida influencia na criação dos provérbios. 11 Os

provérbios só ‘fazem sentido’ quando interpretados dentro do contexto social,

cultural e ambiental próprios.

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A variação linguística nas línguas naturais e os empréstimos lexicais A variação e a mudança linguísticas

Descrever fenômenos linguísticos de uma determinada língua sem ter em conta o contexto sócio-cultural pode se tornar perigoso. A língua e a cultura se complementam porque a língua é, por excelência, uma instituição social e, portanto, ao se proceder a seu estudo, é indispensável que se leve em conta variáveis extralinguísticas, socioeconômicas e históricas – que lhe condicionam a evolução e explicam, em parte sua dialetação regional e social (Bortoni-Ricardo 31).

Concordamos com a perspectiva de Bortoni-Ricardo, pois os contextos sociais comparticipam na variação e na mudança das línguas aos níveis: fonético- fonológico, morfológico, sintático, semântico, lexical e estilístico-pragmático. Há que considerar vários fatores que comparticipam na variação: a origem geográfica, o status econômico, o nível de escolaridade, a idade, o sexo, as redes sociais, mercado de trabalho entre muitos outros.

A sociolinguística, segundo Joyce,

revela o papel ativo da língua na formação do grupo social e das identidades individuais. Ela indica também de que forma os fenômenos linguísticos são realidades sociais, o resultado de mudanças sociais que ambos refletem e moldam”. (209)

Isso significa que não existe uma língua que seja um sistema uno, invariado e rígido. Para Rodrigues, todas as língusa comportam variações de duas ordens:

em função do falante e em função do ouvinte (11). Quando Rodrigues fala de função do falante refere-se às variantes espaciais, variantes de classe social, variantes de grupos de idade, variantes de sexo e variantes de gerações. A segunda função se refere à variação de formalismo, de modalidade e de sintonia.

Naro fundamenta que não é necessário que seja especialista em línguas para perceber que as línguas mudam. Basta comparar o português e o latim para notarmos as diferenças em todos níveis. Muitos linguistas provaram que as línguas não são estáticas. Paiva e Duarte mostram que a predominância de uma determinada variante linguística na fala de pessoas coloca o pesquisador frente a duas possibilidades: instalação gradual de uma nova variante na língua ou;

diferenciação linguística etária que se repete a cada geração. Quer dizer, os falantes de uma língua alteram seu comportamento linguístico ao longo do seu percurso da vida, sem que se observem alterações no sistema (179).

Bagno parte em defesa da “mudança linguística” afirmando que “toda

língua muda com o tempo”, ou melhor “os falantes mudam a língua o tempo

todo” (41–42). O autor defende ainda que não existe língua sem falantes, por

isso “não é a língua que muda […] são os falantes, em sociedade, que mudam a

língua. E essa mudança não é para melhor, nem para pior: é mudança

simplesmente” (42). O português brasileiro é diferente do europeu porque a

variedade brasileira resulta da miscelânea de línguas africanas, línguas europeias

e línguas indígenas.

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As mudanças não ocorrem por acaso. Elas são resultado da interação entre mecanismos cognitivos que processam a linguagem dentro do nosso cérebro e fatores sociais ou culturais. A forma como se fala o xichangana atualmente não está errada, nem tão pouco. Os falantes inseridos da sociedade criaram essas novas formas para sua língua. Lyons, por exemplo, se limita a mencionar quatro processos que ilustram a mudança. Ele mostra que as mudanças podem ser explicadas por processos de assimilação (transformação de sons idênticos ou semelhantes a outros, em função de situação ou modo de articulação); haplologia (perda de uma ou duas sílabas foneticamente semelhantes em uma seqüência), analogia e empréstimo (194). O autor acrescenta que “um dos sintomas desse processo de mudança linguística é o que se chama comumente de hipercorreção”

(23). As mudanças lexicais que apresentaremos neste trabalho são hipercorreções que ocorrem na fala da classe média e frequentemente na de pessoas instruídas. Os empréstimos em estudo aparecem exclusivamente com pessoas que têm noções básicas da LP e incorporam-nos na língua xichangana originando esse fenómeno.

Apoiando-nos em Weinreich et al, afirmamos que a mudança linguística começa quando “a generalização de uma alternância particular num dado grupo da comunidade de fala toma uma direção e assume o caráter de uma diferenciação ordenada” (125–126). Na verdade, a generalização da mudança linguística através da estrutura linguística não é uniforme nem instantânea. Ela envolve a covariação de mudanças associadas durante substanciais períodos de tempo, e está refletida na difusão de isoglossas por áreas do espaço geográfico.

Temos que considerar três tipos de interferências numa língua: interferências fônicas, interferências sintáticas e interferências lexicais. As interferências são, na verdade, casos isolados (individuais). Acontecem de forma particular enquanto os empréstimos estão no coletivo. Calvet sustenta que essas interferências passam a ser empréstimos quando a comunidade linguística consente e aceita aquelas interferências que partiram de um indivíduo (Sociolinguística: uma introdução crítica 39).

Os empréstimos que serão apresentados nesta pesquisa revelam ainda esse dinamismo que as línguas possuem em diferentes grupos sociais.

Limites de línguas naturais

Os limites geográficos são diferentes dos limites linguísticos em África. Por exemplo, a língua swahili (língua do grupo bantu) para além de ser falada em Moçambique também é falada na Uganda, na República Democrática do Congo, nas zonas urbanas do Burundi e de Ruanda, no sul da Somália, na Zâmbia, no sul da Etiópia, em Madagáscar e nas Ilhas Comores (Whiteley 12). É língua oficial do Quênia, Tanzânia e Uganda. O xichangana, que é objeto de estudo, também é falado na Suazilândia, no Zimbábue e na África do Sul.

As línguas sempre têm limitações dependendo dos contextos sociais e

culturais em que estão inseridas. Por exemplo, em português não tem palavra para

se referir a uma cerimônia de evocação dos antepassados (ku pahla). Em xichangana

não existe uma palavra para designar “garfo.” São limites que são superados através

do processo de empréstimos e estrangeirismos lexicais.

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Calvet defende a existência de milhares de línguas que permitem diariamente a milhões de falantes comunicar-se de maneira satisfatória em seu ambiente social tradicional, mas que são incapazes de assegurar uma comunicação científica (As políticas linguísticas 65). Isso acontece porque as línguas vão se adaptando sempre segundo as condições sociais, econômicas, políticas, culturais e até econômicas dos seus falantes. Essas condições aceleram o surgimento do novo léxico e outras variações e mudanças que dão novo rumo à língua. Isso ainda obriga a intervenção de políticas linguísticas que decidem equipar a língua para ser utilizada na Matemática, Química, Biologia, Informática, entre outras áreas.

A língua xichangana também tem muitas limitações sobretudo nas áreas de ciências e tecnologias. O estatuto de língua regional deixa-a impedida de “evoluir,”

pois é de menor relevo para os falantes. Poucos se interessam (principalmente políticos) pela promoção, ensino, desenvolvimento e manutenção das línguas autóctones. Há pouca literatura em xichangana, pois os falantes têm uma cultura oral (oratura), além disso, o nível de escolaridade dos falantes é limitado.

Empréstimos e seus tipos

Bloomfield define empréstimo como “adoção de traços lingüísticos diversos dos que pertencem ao sistema que recebe” (ctd. in Bonatti 79). 12 O empréstimo pode resultar de condicionamento social ou geográfico, como pode ser feito de simples contato. Define-se por empréstimo, o processo de entrada de palavras, expressões ou ideias provenientes de outras línguas. Na verdade, por esses processos a língua se adapta a novas situações de cultura ou procura dar maior expressividade à comunicação. O fenômeno aconteceu/acontece no português do Brasil. Vários exemplos de palavras ilustram como a LP falada no Brasil emprestou palavras do inglês e de línguas indígenas. Mas é preciso sublinhar que os estrangeirismos não ocorreram apenas do inglês só. Ilari mostra que o português do Brasil emprestou também do francês, do italiano, do alemão, das línguas africanas e das línguas indígenas brasileiras (73).

As palavras drinque, deletar, logar, escanear, printar e craque são alguns exemplos de empréstimos provenientes do inglês: drink, login, scanner, print e crack respectivamente, unidade lexicais no português do Brasil e que sofreram adaptação gráfica. As unidades lexicais marketing, pendrive, ranking, show e game são estrangeirismos, pois estas foram emprestadas do inglês sem sofrer alguma alteração na sua ortografia nem fonética (Timbane, “Os estrangeirismos e os empréstimos”. O mesmo acontece com palavras latinas mais usadas no português atual (campus, curriculum, dominus, bônus, corpus) que até preservam a sua gramática (plural campi, curricula, domini, bônus, corpora). Os empréstimos e os estrangeirismos podem ser necessários (quando não existe seu equivalente na língua de chegada) ou de luxo (quando existe seu equivalente, mas usado por razões de estilo/prestígio). Segundo Preti, “a língua oral é a mais suscetível de expressar variações e nela os critérios de aceitabilidade social são mais elásticos.

Principalmente a nível lexical […] e a dinâmica sociedade contemporânea é bem

(11)

expressa na transformação do léxico, não só na criação neológica dos vocábulos científicos, mas principalmente, na linguagem coloquial” (53).

É nessa esfera que os empréstimos ocorrem, de forma consciente ou não marcando assim um futuro da língua bem diferente. Na verdade, o léxico de uma língua, “tende a renovar-se e a ampliar-se, em decorrência de contatos linguísticos e interculturais e de necessidades de nomeação de novos referentes da realidade circundante, como também pode manter-se conservador em comunidades isoladas geograficamente e pouco expostas a avanços tecnológicos, a meios de comunicação de massa” (Isquerdo 11).

A ação dos empréstimos afeta muitas vezes as duas línguas. Enquanto, os empréstimos do português afetam a língua xichangana, o xichangana afeta a LP, fato demonstrado por Ngunga (Interferências de línguas moçambicanas) e Ngunga e Simbine. As línguas são dinâmicas e “não há barragem nem represa capaz de impedir o fluxo da língua, seu avanço, suas modificações enquanto houver gente falando uma determinada língua, ela sofrerá variação, modificações, transformações e mudanças” (Bagno 157). O empréstimo lexical por vezes, tem a função de preencher a lacuna de um significante quando a comunidade lingüística recebe um novo significado. As línguas de países cultural e cientificamente mais desenvolvidos contribuem com maior número de empréstimos às demais línguas do mundo porque tais empréstimos acompanham os novos avanços atingidos nesses países e exportados ao resto do mundo.

Metodologia

Segundo Paiva e Duarte há duas maneiras para o estudo da variação: tempo real de longa duração e tempo real de curta duração (182–190). O método de análise de fenômenos linguísticos em “tempo real de longa duração” se caracteriza pela observação controlada de fenômenos no período temporal: décadas, séculos, etc.

Pode-se observar diacronicamente. O segundo método, que é “o tempo real de curta duração”, foi o mais adequado para o nosso estudo. Recolhemos vocábulos em conversas de 10 jovens (sendo 5 do sexo masculino e 5 feminino) de 15 a 25 anos e de 6 adultos (2 homens e 4 mulheres) de 50 a 60 anos. A razão da escolha dessas idades se deveu a teoria de que o “processo de aquisição da linguagem se encerra mais ou menos no começo da puberdade (15 anos) e que a partir desse momento a língua do indivíduo fica essencialmente estável” (Naro 44).

É preciso sublinhar que homens e mulheres não falam da mesma maneira.

Segundo Paiva, para além do timbre e altura da voz, há ainda aspectos culturais,

políticos e sociais que diferenciam a fala do homem com a da mulher em várias

sociedades (33). É importante incluir neste leque, os tabus e mitos, pois também

comparticipam muito na mudança linguística. Paiva conclui que “as diferenças

mais evidentes entre a fala de homens e mulheres se situam no plano lexical” (33)

Nessa perspectiva, a autora mostra que as mulheres não trariam muitos assuntos

importantes relativos a mudança lexical no xichangana. Os povos falantes de

xichangana são da linhagem patrilinear, daí o domínio do homem com relação à

mulher em toda a região sul de Moçambique, o que significa que as mulheres se

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116 │ InterDISCIPLINARY Journal of Portuguese Diaspora Studies Vol. 8 (2019)

comunicam mais no contexto familiar somente. Esta é a razão pela qual preferimos

“trabalhar” só com homens nas nossas pesquisas. Questões de tabus, mitos também interferem em estudos linguísticos. Foi um estudo qualitativo onde pudemos comparar léxicos de épocas diferentes.

Apresentação e discussão dos dados O léxico da língua portuguesa no xichangana

O léxico é a face mais visível da língua e é através dele que se constrói frases e/ou discursos. Os traços culturais de uma comunidade linguística se refletem no léxico utilizado que por vezes é intraduzível, pois é específico. O léxico fica armazenado no sistema e cada falante busca palavras para formar o seu vocabulário. Observa- se que realidades inexistentes na língua são emprestadas de outras línguas sem prejuízo do sistema, pois isso está previsto. Prestemos atenção ao Quadro III. Ele mostra as unidades lexicais recolhidas do xichangana falado por jovens e adultos com menos de 50 anos.

Quadro III: Empréstimos do português no xichangana

A escrita de palavras neste quadro procurou-se aproximar à fonologia. Esse posicionamento resulta do fato de que as palavras são de origem estrangeira e ao chegar no xichangana se integram adaptando elementos fonológicos e gráficos.

Olhando para a primeira coluna, parecem palavras do português. Mas estas palavras são do xichangana e algumas delas já registradas no Dicionário changana- português de Sitoe. No quadro III pode-se notar facilmente que o xichangana

Xichangana Português (europeu)

Xichangana Português (europeu)

panelà panela obrà obra

ku passarà passar (engomar) mangà manga

sopà sopa lixù lixo

tintà tinta gàràdè grade

pawù pão padirinyù padrinho

ku vhotà vota mategà manteiga

sumù sumo bankù banco

sobirinyù sobrinho vizinyù vizinho

saladà salada operaçawù operação

fofu fósforo fugawù fogão

peresù preço sinorà cenoura

panù pano sã maçã

xitaratù estrada uvhà uva

paratù prato titiya titia

papayà papaia lapì lápis

papelà papel selularì celular

pedererù pedreiro komputadori computador

orù ouro ku batizarà (ou ku

babatisa)

batizar

fotù foto ku gozàrà gozar

(13)

emprestou muitas palavras do português. Essas palavras não existiam no léxico do xichangana antes da chegada dos portugueses. Por exemplo, o objeto correspondente à “panela” já existia no vocabulário dos falantes do xichangana há muito tempo e se chamava mbità. A palavra mais usual nos tempos de hoje é panelà (empréstimo de luxo) ao invés de mbità, a palavra original nesta língua. Um outro exemplo que ilustra o mesmo fenômeno linguístico é do objeto correspondente a “prato” na LP. Antigamente, chamava-se ngelò e hoje é mais comum pronunciar-se paratò. Hoje, ngèlò é reservado para “prato feito de madeira” (com característica tradicional) e pàràtò para o mais convencional (de vidro, de alumínio, de barro ou outro material que não seja madeira. É preciso ressaltar que a estrutura silábica é consoante-vogal (C-V-C-V-) o que faz com que na palavra “prato” do português seja pronunciado e escrito assim: paràtò em xichangana. O mesmo acontece com: tamborì (tambor), pirimò (primo), garàdè (grade), etc.

As palavras como hàhànè (tia), muyakelànè (vizinho), nsilà (lixo) também são pouco usadas nestas últimas décadas e são substituídas por titiyà, vizinyù e lixù respectivamente emprestadas do português. A presença do prefixo ku- nos verbos kupassara, kuvhota, kubatizarà e kugozara se justifica pela marcação do infinitivo dos verbos na língua xichangana. Os radicais desses verbos serão passar- , vhot-, batizar- e gozar-. O “a” final em todos os verbos se chama ‘vogal final’.

Aqui temos exemplos da integração dos verbos no xichangana. As mudanças começam assim, de forma simples, discreta e depois ganham forma e consolidam provocando o fenômeno da desneologização.

Empréstimos de palavras do português para o changana

Empréstimo da preposição “leswakù” (para). Segundo Cunha e Cintra a preposição

“para” na LP tráz noção de movimento onde há “tendência para o limite, finalidade, direção, perspectiva. Distingue-se de a por comportar um traço significativo que implica maior destaque do ponto de partida com predominância da idéia de direção sobre a do término do movimento”

Na língua xichangana, “para” significa leswakù. Com o contato entre o xichangana e o português, criaram-se interferências que resultaram no desuso da preposição leswakù que foi substituída por “pàrà”. Por exemplo: “Estude muito para que tenha sucesso.” Corresponde em xichangana a Dondza ngopfu leswakù u ta hùmelela. Mas agora as pessoas falam assim: dondza ngopfu pàrà u ta humelela.

O “pàrà” hoje é mais frequente entre os falantes do changana.

Mudança do verbo “poder”. É frequente ouvir nos falantes de xichangana, o emprego do verbo poder, exclusivamente nas frases interrogativas.

(1) Podi ni teka pawu? (Posso levar pão?)

(2) Podi ni famba nayè? (Posso ir com ele?)

(3) Mina na teka bòmù. Podi? (Eu levo o limão. Posso?)

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118 │ InterDISCIPLINARY Journal of Portuguese Diaspora Studies Vol. 8 (2019)

Este podi vem claramente do verbo poder na forma imperativa (posso?) do português. Não é flexionado como verbo em xichangana, mas, sim, é uma partícula que inicia a interrogação. Serve para introduzir uma frase interrogativa ou um questionamento.

Mudança de substantivo “sèkwà” (pato). Observemos a frase seguinte: Teka a patù ledzì (ou lerhi)! que significa “Leva este pato” no português. Repare que a palavra patù utilizada na frase em xichangana tem o seu sinônimo nessa língua. O “pato”

em xichangana chama-se sèkwà, mas os falantes já não usam essa palavra, preferindo assim empréstimo de palavra do português. A frase deveria ficar assim: Teka a sèkwà ledzì. Mesmo os idosos utilizam a palavra sèkwà raramente.

Esse exemplo da palavra sèkwa extraída do Dicionário changana-português (Sitoe 207) mostra como os empréstimos do português enriquecem as línguas bantu moçambicanas. A vinda de palavra do português para as línguas bantu moçambicanas é um processo normal que ocorre em todas as línguas em uso.

Mudança da preposição “kuyatlasà” (até). Precisamos deixar claro que kuyatlasà (ou kuyafika) corresponde à preposição até em português. É uma preposição formada a partir do prefixo ku - que faz réplica nos verbos y- e tlas - , isto é, ku y a (ir) + ku tlas a (chegar). Fica fácil compreender esse fenômeno se pensarmos em xichangana porque se pensarmos em português não faz sentido porque

*irchegar não pode ser preposição. Vejamos os exemplos a seguir:

Ex.1: Hina hi ta famba kuyatlasa Maputo (Nós iremos até Maputo)

Ex.2: Langusela m’pfula kusukela ka nweti ya dzivamisoko kuyatlasa ka mawuwani (Aguarde a chuva desde o mês de abril até julho)

A preposição kuyatlasa é usada para indicar a distância (Ex.1) e o tempo (Ex.2). Hoje, os falantes mais jovens do xichangana já não usam essa palavra, mas sim a palavra emprestada do português até. Vejamos a frase: Hina hi ta famba atè Maputo (Nós iremos até Maputo). A preferência pelo empréstimo vindo português se justifica pelo prestigio que o português e pelo estilo. Trata-se de um empréstimo de luxo, uma vez que existe a palavra correspondente em xichangana, mas os falantes integraram a palavra estrangeira até, fenômeno que enriquece e nem prejudica a língua.

Que fique clara a ideia de que o uso da preposição apresentada no parágrafo anterior é diferente do uso nos casos do verbo ir no infinitivo+infinitivo= fim ou objetivo (intenção) como por exemplo: ku ya twa (ir ouvir), ku ya tsema (ir cortar), ku ya vona (ir ver), ku ya phasa (ir pescar), ku ya lhota (ir caçar), ku ya hinguela (ir ouvir) que também ocorrem nesta língua. O importante é pensar em xichangana e descrever sem fazer comparações (nem traduções) a partir de línguas europeias.

Mudança de substantivo “xivhimbò” (tampa). Às vezes, o desconhecimento do léxico

da língua xichangana, faz com que os falantes recorram ao léxico do português

(15)

para completar suas frases/ideias. Um exemplo mais comum é o da palavra xivhimbò. Só os mais idosos é que conhecem esta palavra. Jovens e adultos com menos de 45 anos nas nossas pesquisas mostraram desconhecimento desta palavra: Bhèkà tampa leyò! (põe essa tampa) ao invés de Bhèka xivhimbò lexò!

Acontece o mesmo fenômeno com as palavras: sòlèsòlè (camarão), cokolovondzò (ser insignificante), rìfèndze (desleixo) e muitas outras.

Mudança do adjetivo “kahlè” (bom). Os falantes de xichangana tendem a emprestar o adjetivo “bom” da LP. Então a frase se forma assim: Swi bom! Ao invés de swi kàhlè do xichangana mais “puro”, que significa “É bom”. As palavras do xichangana leswaku vs para, xivhimbò vs tampa, sekwà vs patu são variantes da mesma língua porque são duas formas diferentes que permitem dizer “a mesma coisa”. Os jovens e os adultos escolarizados são criativos, escolhem empréstimos de português na sua fala enquanto os idosos não têm alternativas devido ao seu nível de escolaridade.

O aportuguesamento dos sobrenomes e o parentesco dos vatchangana 13 Mudança Fonética e Ortográfica dos Sobrenomes no xichangana

Segundo fontes orais, uma das causas fundamentais da mudança dos sobrenomes é a dificuldade que os portugueses tinham em escrever em xichangana. Os grupos consonânticos bv, bz,dl, dz, gq, hl, n’, n’q, ny, pf, ps, sv, tl, ts, vh, xj, zv são frequentes no xichangana e não existem na LP. Ao registar os nomes dos cidadãos nos cartórios e nos registos notariais tiveram que inventar outra escrita bem diferente que provocou mudanças nos sobrenomes. Para melhor compreendermos esta questão, observemos o quadro abaixo:

Quadro IV: Mudanças de sobrenomes Nome original Nome atual Observação

Màwùndlànà 14 Monjane Sobrenome e nome da etnia

Màzvàyà 15 Mabjaia Sobrenome e nome da etnia

Mànyìsà 16 Manhiça Sobrenome, nome da etnia e de distrito

Matsòlò 17 Matola Sobrenome e nome da etnia e de cidade

Nwàmbà 18 Moamba Sobrenome e nome da etnia e de cidade

Mbowànè 19 Boane Sobrenome e nome da etnia e de distrito

O quadro IV, mostra as mudanças que ocorreram nos sobrenomes dos povos do grupo bantu espalhados no sul de Moçambique. Reparemos como o sobrenome

“Matsòlo” mudou ortográfica e foneticamente ao longo dos tempos. Quase que já não se ouve falantes a pronunciar “Matsòlo”, mas sim “Matola”. O nome matsòlo significa “joelhos” em português, pois tsòlo é singular de matsòlo. O nome identifica o espaço, o ambiente. Outro exemplo apresentado no quadro acima é màwùndlànà que significa ‘aquele que cuida’. Provem do verbo ku wùndla que significa ‘criar’.

A primeira padronização das LB em Moçambique teve lugar em 1989. No

entanto, a escrita chegou com os portugueses por volta de 1900 e assim os

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sobrenomes ficaram “adulterados” na sua forma escrita, influenciando a oral também. Imaginemos o quão foi difícil registrar esses apelidos changanas nos cartórios e registros notariais. Essa dificuldade obrigou a alteração ortográfica de muitos apelidos até hoje. Vejamos alguns nomes de regiões, como é o caso de Manyìsà (região onde vivem pessoas com apelido Manyìsà) e hoje se escreve “Manhiça”. A organização tradicional dos changanas era baseada por tribos. As pessoas viviam organizados com base nas relações de parentesco (sobretudo por indicação do sobrenome), mas essa organização se desfez logo após a independência.

Labov adverte que a “língua é uma forma de comportamento social” (257).

Se os pais falantes de xichangana usam a palavra patu ao invés da palavra sèkwa, por exemplo, os seus filhos usarão patu e não conhecerão a palavra sèkwa. Quer dizer, se os pais (adultos) preferem a palavra “tampa” no lugar da palavra xivhimbò, as crianças não conhecerão nem utilizarão esta palavra. Este comportamento acelera a mudança. A LP falada em Moçambique também tem recebido unidades lexicais vindas do xichangana. É o caso de: dumba-nengue (mercado informal), matapa (prato feito de folhas de mandioqueira), txova (carroça de mão) e capulana (pano colorido usado por mulheres para amarrar na cintura, para embalar o bêbê ou para fazer roupas).

Relação de parentesco

Na cultura dos vachangana, o irmão do pai chama-se bàvhà (pai). Quer dizer, o tio e pai devem ser chamados “pais”. Mas o irmão da mãe é chamado málumè e corresponde a “tio” no português. Na verdade, “tio” na etnia xichangana é irmão da mãe somente. Assim, não existe tio da parte do pai, pois este é pai. Muitos falantes do xichangana utilizam a palavra portuguesa tiyú (empréstimo do português-tio) para designar tanto irmão do pai como para o da mãe.

Um outro embaraço referente à cultura é relativo ao termo de parentesco referente a “primo”. Os filhos do tio paterno são chamados “irmãos” (vamakwèrù) no xichangana. Por não existir uma designação própria para distinguir “irmão”

(do mesmo pai) do “primo” emprestou-se a palavra pirimù (primo). Assim, é mais usual ouvir a palavra pirimù (plural vapirimù) nos falantes jovens e adultos da etnia xichangana atualmente.

Considerações finais

A variação e a mudança das línguas ao longo do tempo e o seu eventual desdobramento em novas línguas são fenômenos linguísticos recorrentes na nossa sociedade. Em sociedades onde a tradição escrita é quase inexistente, muitas vezes se recorre a fontes orais. Mas fontes orais não conservam a língua tal como as fontes escritas.

As línguas são dinâmicas e tendem variar tendo em conta as condições

sociais, políticas em cada sociedade. Falantes jovens tendem a incorporar unidades

lexicais vindas do português para o xichangana, muitas vezes impulsionados pelo

prestígio que o português tem, primeiro por ser língua oficial de Moçambique e

segundo, por ser a língua materna da maioria dos jovens que moram nas zonas

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urbanas e suburbanas. Vejamos alguns exemplos: prisorì (professor), xikolò (escola), mezà (mesa), bandetchà (bandeija), bombà (bomba). Falantes com mais de 60 anos tendem a conservar o léxico do xichangana enquanto que jovens e adultos procuram inovar com a importação de termos do português.

Para além dos empréstimos do português, o xichangana tem empréstimos vindos de outras línguas. Podemos citar exemplos de buluku, do afrikaans broek (calças); tafula, do afrikaans tafel (mesa); do inglês khiya, do inglês key=chave;

basikeni, do inglês bicycle-bicicleta; thawula, do inglês towel=toalha, mubedu, do inglês bed=cama). Ngunga e Simbine (2012) na “Gramática descritiva da língua changana”

apresentam vários casos de mudanças do xichangana a nível morfológico, sintático e fonético e ortográfico.

O xichangana falado na África do Sul também recebe influências do inglês, do português e de outras línguas faladas naquele país. A situação de multilinguismo em Moçambique é tão vasta de tal forma que política e o planejamento linguístico ainda resistem em reconhecer as LB como oficiais. É de louvar a coragem e o desafio que a África do Sul, a Tanzânia, o Quênia, o Lesoto, a Uganda outros países africanos tiveram ao reconhecer a importância das línguas africanas através da oficialização.

Tal como apontam Couto & Couto e Sapir, o meio ambiente desempenha um papel importante na formação lexical de uma língua. Muitas palavras estão intimamente ligadas aos contextos socioculturais e ambientais em que os falantes estão envolvidos. Fica clara a ideia de que os estrangeirismos ou empréstimos também são influenciados pelo ambiente. As palavras matapa, cacana, xiguinya referem-se a pratos confeccionados no grupo tsonga. São palavras que foram integradas na língua portuguesa. Se formos a comparar o xichangana de Moçambique e o xichangana da África do Sul, observaremos que são variantes de uma mesma língua. Os meios ambientes e os usos moldam as formas léxico- semânticos dos dois espaços geográficos. Fica clara a ideia de que as características gramaticais serão iguais diferenciando-se nas escolhas e usos das unidades léxico-semânticos.

Muitos significados (que são meramente linguísticos) estão intimamente ligados à cultura. Câmara Jr. define a cultura como o conjunto de tudo o que o homem criou (no mundo físico e biológico) na base das suas faculdades humanas.

Sendo assim, Câmara Jr. advoga que a língua é resultado da cultura. Enquanto, no português designamos a mesinha que fica na ‘sala de estar’ como “mesinha do centro” os franceses chamam de “mesa baixa” (table basse). Este exemplo, ilustra como para um mesmo objeto a atribuição do nome se liga à forma como a cultura.

Enquanto no português do Brasil, a primeira refeição do dia se chama “café da manhã” (mesmo que não haja café, talvez um suco e bolo apenas) em Portugal se chama “pequeno-almoço” e em Angola e Moçambique se chama “matabicho”. O uso dessas palavras, em cada um dos lugares geográficos, resulta da concepção do mundo ligada à cultura.

A língua possui regras que a princípio devem ser respeitados pelos falantes

para que haja intercompreensão. Portanto, o português de Moçambique carrega

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122 │ InterDISCIPLINARY Journal of Portuguese Diaspora Studies Vol. 8 (2019)

essa identidade da moçambicanidade que passa pela adaptação ou ainda incorporação de empréstimos de outras línguas que estão em contato com o português. Dados do Recenseamento populacional realizado em 2017 revelam como as línguas africanas resistem face à imposição da política linguística que instituiu o português como a única língua oficial do país. O português continua sendo língua dominante e hegemônica nas áreas urbanas, devido ao privilégio atribuído pela constituição da República de Moçambique. Se a educação é a base de desenvolvimento de qualquer nação, precisamos refletir sobre como integrar as diversas línguas bantu moçambicanos no ensino para que não sejam marginalizadas O português é tão importante para a pátria moçambicana quanto as línguas autoctones do grupo bantu. O importante seria incluí-las no ensino especialmente nas primeiras séries de ensino fundamental e médio por forma a que não haja ruptura brusca da saída de língua bantu para a língua oficial. Quando se proíbe o uso de línguas bantu nas escolas, está se criando um contrapeso além de intolerância linguística.

Notas

1 Agradecimentos especiais à Profa. Dra. Rosane de Andrade Berlinck pela sábia e profunda orientação da minha tese do doutoramento defendida com êxito em 2013. Agradecimentos ao CNPq pela bolsa concedida aos estudantes africanos em especial aos de Moçambique, da qual fui contemplado.

2 Grifo do autor.

3 Planejamento Linguístico é a “… implementação das decisões sobre a língua através de estratégias (políticas), como as políticas educacionais, com vistas a influenciar o comportamento dos sujeitos em relação à aquisição e uso dos códigos linguísticos…” (Cooper, ctd. in Severo 452).

4 Província de Nampula (variantes: emakhuwa, enahara, esaaka, esankaci, emarevoni, elomwe); Cabo Delgado (variantes: emeetto, essanka); Niassa (variantes: exirima, emakhuwa, emeetti); Zambézia (variantes: emakhuwa, elomwe, emarevoni). (Ngunga e Faquir 71–72).

5 Há controvérsias quanto à grafia do nome “xichangana”. Alguns linguistas escrevem “xangan”,

“changana”, outros “chichangana” ou “xangana”. Mesmo com a padronização das LB prevalece a dificuldade. Por opção, neste trabalho utilizaremos a grafia “xichangana” com “xi” seguindo os argumentos do Sitoe (309) que defende que “no proto-bantu os membros de certas classes naturais podiam ser incluídos numa mesma classe nominal com base no fator semântico, havendo assim as classes dos seres humanos (classes 1 e 2, mu/va), das plantas (classes 3 e 4, mu/mi), dos nomes de línguas, de usos e costumes (classe 7 e 8, xi/svi), de animais (classe 9 e 10, yi[n]/ti[n]), dos locativos (classes 16, 17 e 18, ha, ku e mu), etc.”

6 Províncias de Manica, Sofala, Tete e Zambézia (variantes: sena tonga, sena caia, sena bangwe, sena pondzo, sena gombe e sena gorongozi) (Ngunga e Faquir 120–121).

7 Os prefixos mu- e va- são prefixos para marca de singular e plural.

8 Exemplos de Ngunga e Faquir (228).

9 Pesquisa feita em 3 escolas primárias do 1º grau (ensino fundamental, o contexto brasileiro) da cidade de Maputo de 2008 a 2009 (Escola Primária do 1º grau de Maxaquene, 3 de Fevereiro e Alto-Maé).

10 Política linguística “… prática de caráter estatal-legislativo, debruçando-se, por exemplo, sobre a oficialização de línguas, a escolha de alfabeto para a representação gráfica de uma língua, a hierarquização formal das línguas (línguas de trabalho, oficiais, nacionais, por exemplo), entre outros” (Severo 451); as políticas linguísticas são decisões políticas (Calvet, As políticas linguísticas 11).

11 Falada na província de Manica por cerca de 1,7% (Ngunga, Introdução à linguística bantu) e partes da República do Zimbabwe.

12 A este fenômeno, Neves deu o nome de estrangeirismo e defende que estes se destinam ao “uso

exclusivo da forma original; a concorrência entre a forma original, inalterada graficamente, e uma

forma com grafia aportuguesada; concorrência entre a forma original, inalterada graficamente, e uma

forma traduzida ou equivalente em português; e uso exclusivo de forma aportuguesada/portuguesa

(19)

de palavras originadas de palavra estrangeira, com desaparecimento total da forma gráfica original”

(249–266).

13 Vatchangana é um termo usado para designar a etnia ou grupos populacionais falantes da língua xichangana.

14 Tradução literal: aquele que cria, aquele que tem hábito de criar outro ser (seja criança, jovem ou adulto). Provem do verbo ku wundla (criar).

15 Sem tradução literal segundo as pesquisas.

16 Tradução literal: apele que junta unidade separadas. Vem do verbo ku manyisa (juntar, apertar).

17 Tradução literal: aquele que respeita o outro. Que se coloca de joelho perante o outro em sinal de respeito. Provem do substantivo joelho (tsòlò).

18 Tradução literal: proveniente do substantivo “caleira” (nwamba).

19 Tradução literal: proveniente da planta comestível chamada mbòwa (abóbora).

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Alexandre António Timbane é professor de sociolinguística e Introdução à linguística bantu na Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), Campus dos Malês, Bahia, Brasil. Pós-Doutor em Estudos Ortográficos pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho-UNESP (2015), Pós-Doutor em Linguística Forense pela Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC (2014), Doutor em Linguística e Língua Portuguesa (2013) pela UNESP, Mestre em Linguística e Literatura moçambicana (2009) pela Universidade Eduardo Mondlane. É membro do Grupo de pesquisa “África-Brasil: produção de conhecimento, sociedade civil, desenvolvimento e cidadania global”.

Rosane de Andrade Berlinck é professora assistente da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Faculdade de Ciências e Letras, Araraquara. Tem experiência na área de Linguística, com ênfase em Sociolinguística e Lingüística Histórica, atuando nos seguintes temas:

português brasileiro, morfologia verbal, morfossintaxe (concordância), sintaxe (ordem, predicação,

(21)

complementação), variação e mudança lingüísticas, correlações entre gênero textual, estilo, norma(s)

e variação/mudança linguística. É mestra em Lingüística pela Universidade Estadual de Campinas

(1988), doutora em Lingüística, pela Katholieke Universiteit Leuven - Bélgica (1995) e pós-

doutorada no Sociolinguistics Laboratory, da University of Ottawa, Canadá.

Referências

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