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A gastronomia como propulsor do desenvolvimento turístico de lugares: estudo em três municípios missioneiros

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO RIO GRANDE DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM DESENVOLVIMENTO – GESTÃO EMPRESARIAL

A GASTRONOMIA COMO PROPULSOR DO DESENVOLVIMENTO

TURÍSTICO DE LUGARES: ESTUDO EM TRÊS

MUNICÍPIOS MISSIONEIROS

ALINE PRESTES ROQUE

Ijuí – RS 2017

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ALINE PRESTES ROQUE

A GASTRONOMIA COMO PROPULSOR DO DESENVOLVIMENTO

TURÍSTICO DE LUGARES: ESTUDO EM TRÊS

MUNICÍPIOS MISSIONEIROS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento, na linha de pesquisa: Gestão Empresarial da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento.

Profª Drª Lurdes Marlene Seide Froemming

Ijuí – RS 2017

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R195g Roque, Aline Prestes.

A gastronomia como propulsor do desenvolvimento turístico de lugares: estudo em três municípios missioneiros / Aline Prestes Roque. – Ijuí, 2017. –

116 f. : il. ; 29 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento.

“Orientadora: Lurdes Marlene Seide Froemming”.

1. Turismo. 2. Gastronomia. 3. Desenvolvimento. 4. Missões Jesuíticas. I. Froemming, Lurdes Marlene Seide. II. Título. III. Título: Estudo em três municípios missioneiros. CDU: 379.85 641.1 Catalogação na Publicação

Gislaine Nunes dos Santos CRB10/1845

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UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento – Mestrado

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação

A AGGAASSTTRROONNOOMMIIAACCOOMMOOPPRROOPPUULLSSOORRDDOODDEESSEENNVVOOLLVVIIMMEENNTTOO T TUURRÍÍSSTTIICCOODDEELLUUGGAARREESS::EESSTTUUDDOOEEMMTTRRÊÊSSMMUUNNIICCÍÍPPIIOOSS M MIISSSSIIOONNEEIIRROOSS elaborada por

ALINE PRESTES ROQUE

como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento

Banca Examinadora:

Prof.ª Dr.ª Lurdes Marlene Seide Froemming (UNIJUÍ): ______________________________

Prof.ª Dr.ª Luciana Maroñas Monks (IF-Farroupilha): ________________________________

Prof. Dr. Daniel Knebel Baggio (UNIJUÍ): ________________________________________

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus.

Aos meus queridos pais, Valmir Lamarque Roque e Maria Zenir Prestes Roque, que sempre me apoiaram nas minhas decisões, incentivaram-me e colaboraram com minha vida acadêmica.

Ao meu irmão Alisson Prestes Roque e a prima Elisiane Taborda por me escutar e auxiliar nos momentos difíceis.

A minha orientadora Lurdes Marlene Seide Froemming, pelo apoio incondicional e o esmero em transmitir seu conhecimento.

A Lara Taciana Biguelini Wagner e a Tânia Helena Biguelini Wagner, pelo carinho a e a hospedagem durante o período de aulas do mestrado.

A minha turma do mestrado, que estiveram sempre unidos, em todos os momentos, trocando conhecimentos e sentimentos. Obrigada pela amizade e incentivo.

Aos professores da banca avaliadora, pelas orientações e colaborações que tornam esta pesquisa mais completa.

A todas as pessoas que responderam às entrevistas, aos questionários, emprestaram materiais ou que, de alguma forma ou de outra, colaboraram com a realização desta pesquisa.

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“O impossível é tudo aquilo que não se tenta”. Nelson Mandela

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RESUMO

A presente dissertação tem como objetivo apresentar os resultados de pesquisa sobre cultura gastronômica da região missioneira nos municípios de São Borja, Santo Ângelo e São Miguel das Missões, e através dela propor alternativas de desenvolvimento do turismo local. Para tanto, se propôs pesquisa bibliográfica e de campo. A pesquisa foi desenvolvida pelo paradigma interpretativo e fenomenológico/hermenêutico, caracteriza-se como de cunho exploratório, aplicada e descritiva. Foram realizadas entrevistas com entidades públicas, privadas e historiadores identificados como sujeitos ligados à cultura missioneira histórica e a cultura gastronômica missioneira típica dos lugares. O estudo ainda, se caracteriza por apresentar método de pesquisa de levantamento ou survey por meio de um questionário estruturado. Os participantes da pesquisa foram os visitantes de pontos turísticos das cidades pesquisadas. O objetivo foi de identificar e apontar os desafios do turismo local e averiguar se existem estudos e ações sobre a gastronomia local. No decorrer são apresentados o referencial teórico utilizado fundamentando-se nos preceitos dos elementos de desenvolvimento local, turismo cultural, histórico de desenvolvimento da região missioneira, a gastronomia como patrimônio cultural da região missioneira, os jesuítas e a gastronomia e desenvolvimento de lugares por meio da riqueza gastronômica. A conclusão do estudo teve o objetivo norteador identificar e apontar os desafios enfrentados ao analisar as premissas da gastronomia aliada ao turismo, que se constitui em um produto que pode ser fonte de desenvolvimento econômico, cultural, social e ambiental nos municípios pesquisados.

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ABSTRACT

The present work proposes showing the results of research on the gastronomic culture of the Missões region in the municipalities of São Borja, Santo Ângelo and São Miguel das Missões, and through it proposes alternatives for the development of local tourism. For that, a bibliographical and field research was propound. The research was developed by the interpretative and phenomenological/hermeneutic paradigm, characterized as exploratory, applied and descriptive. Interviews were conducted with public and private entities and historians identified as subjects linked to the historical missionary culture and the distinctive gastronomic missionary culture. The study is also characterized by presenting survey methodology or survey using a structured questionnaire. The survey participants were the visitors to the sights of the cities surveyed. The objective is to identify and point out the challenges of local tourism and to ascertain if there are studies and actions on the local gastronomy. In the course, the theoretical framework used is presented, based on the precepts of the elements of local development, cultural tourism, historical development of the missionary region, gastronomy as cultural heritage of the missionary region, Jesuits and gastronomy and development of places through gastronomic richness. The goal of this study was to identify and point out the challenges faced in analyzing the premises of gastronomy allied to tourism, which is a product that can be a source of economic, cultural, social and environmental development in the municipalities researched.

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LISTA DE ABREVIATURAS

AAPASA – Associação dos Artistas Plásticos e Artesões de Santo Ângelo ACISB – Associação de Comércio e Indústria de São Borja

AMM – Associação dos Municípios das Missões

EMATER – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Governo do RS EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

IFFAR – Instituição Federal de Educação, Ciências e Tecnologia Farroupilha IFSUL – Instituto Federal da Fronteira Sul

IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional IRGA – Instituto Rio Grandense do Arroz

PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar

PRONATEC – Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego PUC – Pontifício Universidade Católica

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio as Micros e Pequenas Empresas SENAC - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SINDILOJAS – Sindicato dos Lojistas do Comércio SISTUR – Sistema de Gerenciamento do Turismo

UNESCO – Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura UNICRUZ – Universidade de Cruz Alta

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul UNIPAMPA – Universidade Federal do Pampa

UNISINOS – Universidade do Vale do Rio dos Sinos

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Modelo tríplice hélice ... 28

Figura 2: Pórtico de entrada de São Borja ... 55

Figura 3: Catedral Angelopolitana ... 58

Figura 4: Cruz Missioneira e Ruínas de São Miguel das Missões ... 61

Figura 5: Folder do 1º Festival de Cozinha Missioneira de São Borja ... 65

Figura 6: Folder do 2º Festival Internacional da Cozinha Missioneira de São Borja .. 68

Figura 7: Praça Pinheiro Machado e Catedral Angelopolitana ... 74

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Sujeitos da pesquisa ... 49

Quadro 2: Palestras e aulas shows apresentadas no evento ... 71

Quadro 3: Relação de temáticas apresentadas pelos grupos de GT’s ... 71

Quadro 4: Relação de palestras e mesas de debates apresentadas no evento ... 72

Quadro 5: Cardápio do jantar de finalização do 2º Festival Internacional da Cozinha Missioneira ... 73

Quadro 6: Pontos turísticos das cidades pesquisadas ... 83

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Razão da visita à cidade de São Borja ... 84

Gráfico 2: Razão da visita à cidade de Santo Ângelo ... 84

Gráfico 3: Razão da visita à cidade de São Miguel das Missões ... 85

Gráfico 4: Razões das visitas à região das Missões: São Borja ... 85

Gráfico 5: Razões da visita à região das Missões: Santo Ângelo ... 86

Gráfico 6: Razões da visita à região das Missões: São Miguel das Missões ... 86

Gráfico 7: Conhecimento da rota das Missões e rota do Rio Uruguai: São Borja ... 87

Gráfico 8: Conhecimento da rota das Missões e rota do Rio Uruguai: Santo Ângelo ... 87

Gráfico 9: Conhecimento da rota das Missões e rota do Rio Uruguai: São Miguel das Missões ... 88

Gráfico 10: Conceito de gastronomia de São Borja ... 88

Gráfico 11: Conceito de gastronomia de Santo Ângelo ... 89

Gráfico 12: Conceito de gastronomia de São Miguel das Missões ... 89

Gráfico 13: Entendimento de que a gastronomia é um vetor para o turismo na região das Missões: São Borja ... 90

Gráfico 14: Entendimento de que a gastronomia é um vetor para o turismo na região das Missões: Santo Ângelo ... 90

Gráfico 15: Entendimento de que a gastronomia é um vetor para o turismo na região das Missões: São Miguel das Missões ... 90

Gráfico 16: A visita aos locais propulsionou observar a gastronomia local?: São Borja ... 91

Gráfico 17: A visita aos locais propulsionou observar a gastronomia local?: Santo Ângelo ... 91

Gráfico 18: A visita aos locais propulsionou observar a gastronomia local?: São Miguel das Missões ... 92

Gráfico 19: Percepção dos fatores gastronômicos: São Borja ... 92

Gráfico 20: Percepção dos fatores gastronômicos: Santo Ângelo ... 93

Gráfico 21: Percepção dos fatores gastronômicos: São Miguel das Missões ... 93

Gráfico 22: Consideração da importância de propiciar o conhecimento da identidade cultural, a história, os costumes e os valores da região: São Borja ... 94

Gráfico 23: Consideração da importância de propiciar o conhecimento da identidade cultural, a história, os costumes e os valores da região: Santo Ângelo .... 94

Gráfico 24: Consideração da importância de propiciar o conhecimento da identidade cultural, a história, os costumes e os valores da região: São Miguel das Missões ... 95

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ... 15 1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO ... 18 1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA ... 18 1.2 PROBLEMAS DE PESQUISA ... 19 1.3 OBJETIVOS ... 21 1.3.1 Objetivo Geral ... 21 1.3.2 Objetivos Específicos ... 21 1.4 JUSTIFICATIVA ... 21 2 REFERENCIAL TEÓRICO ... 25 2.1 DESENVOLVIMENTO LOCAL ... 25

2.1.1 O Modelo da Tríplice Hélice no Desenvolvimento de Locais ... 26

2.2 TURISMO E CULTURA LOCAL ... 30

2.2.1 Gastronomia como Agente do Desenvolvimento Local ... 33

2.3 ANTECEDENTES DO DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO MISSIONEIRA ... 35

2.4 GASTRONOMIA COMO PATRIMÔNIO CULTURAL DA REGIÃO MISSIONEIRA ... 37

2.4.1 Os Jesuítas e a Gastronomia ... 40

2.5 DESENVOLVIMENTO DE LUGARES POR MEIO DA RIQUEZA GASTRONÔMICA ... 43 3 METODOLOGIA ... 46 3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA ... 46 3.2 UNIVERSO E AMOSTRA ... 48 3.3 INSTRUMENTO DA PESQUISA ... 50 3.4 COLETA DE DADOS ... 51

3.5 ANÁLISES E INTERPRETAÇÃO DE DADOS ... 52

4 A GASTRONOMIA E O DESENVOLVIMENTO DE LUGARES ... 54

4.1 OS MUNICÍPIOS E SUAS PERSPECTIVAS ... 54

4.1.1 O Primeiro dos Sete Povos das Missões: São Borja ... 54

4.1.2 Capital das Missões: Santo Ângelo ... 57

4.1.3 Patrimônio da Humanidade: São Miguel das Missões ... 60

4.2 INICIATIVAS PARA ALAVANCAR O TURISMO E A GASTRONOMIA MISSIONEIRA EM SÃO BORJA ... 64

4.2.1 1º Festival da Cozinha Missioneira ... 64

4.2.2 2º Festival da Cozinha Internacional Missioneira ... 67

4.3 INICIATIVAS PARA ALAVANCAR O TURISMO E A GASTRONOMIA MISSIONEIRA EM SANTO ÂNGELO ... 74

4.4 INICIATIVAS PARA ALAVANCAR O TURISMO E A GASTRONOMIA MISSIONEIRA EM SÃO MIGUEL DAS MISSÕES ... 76

4.5 A RELAÇÃO ENTRE A GASTRONOMIA DA REGIÃO MISSIONEIRA NO PONTO DE VISTA DE HISTORIADORES ... 79

4.5.1 Historiador I ... 80

4.5.2 Historiador II ... 81

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4.6 O TURISMO E A GASTRONOMIA NA VISÃO DOS VISITANTES DOS TRÊS

MUNICÍPIOS MISSIONEIROS ... 83

4.7 ANÁLISE NA ÓTICA DOS OBJETIVOS... 84

CONCLUSÃO ... 102

REFERÊNCIAS ... 105

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INTRODUÇÃO

O Rio Grande do Sul caracteriza-se por ser o estado mais meridional do país e possui um papel marcante na história brasileira. Assim como o Brasil, o povo gaúcho provém de uma miscigenação de várias etnias: indígenas, espanhóis, portugueses, alemães, italianos, africanos e asiáticos.

Antes da chegada dos europeus, existiam várias tribos indígenas que habitavam o estado. Os mais conhecidos e estudados são os guaranis que foram os precursores do hábito do chimarrão (LESSA, 1999). Esta tribo não dispensava uma cuia com água quente e um canudo de taquara, em que era sevada a erva, chamada de caa-i, que posteriormente, ficou conhecida como erva mate.

A cultura missioneira é recheada de bravuras, conquistas, religiosidade e lendas (PINTO, 2011). Ela também remete à “catequização” dos índios Guarani pelos jesuítas, a serviço da coroa espanhola, que deu origem a uma experiência única no mundo. Foi o processo Reducional ou das Missões Jesuítica, desenvolvido por padres jesuítas, que iniciou um dos primeiro núcleos urbanos do atual território missioneiro (MARQUETO et al., 2015).

Após 1682, além do retorno dos missioneiros para o lado esquerdo do rio Uruguai, também foi um período de grande desenvolvimento dos 30 povos missioneiros. Foi através do trabalho que chegaram ao apogeu: com seu modelo urbano, crescimento da população, as grandes manifestações artísticas através das esculturas, pintura, música e dança. Nesse período é que ocorreu o crescimento da agricultura, pecuária, ou seja, do conjunto da organização social e política (OLIVEIRA, 2011).

Os sete povos das Missões eram formados pelas Reduções de São Nicolau do Piratini, São Francisco de Borja, São Luiz Gonzaga, São Miguel Arcanjo, São Lourenço Mártir, São João Batista e Santo Ângelo Custódio.

Nesta pesquisa são destacados três municípios missioneiros: a) São Francisco de Borja, fundado em 1682, além do povo guarani esta redução também era formada por índios charruas. Hoje é uma das maiores cidades da região, com bons museus constituídos de um vasto conjunto de peças missioneiros. São Borja, vale ressaltar que é o berço de dois presidentes do país: Getúlio Vargas e João Goulart “missioneiros” que fizeram a história do Brasil; b) São Miguel Arcanjo,

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transmigrou em 1687 para o local onde hoje está o Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, conhecido como as Ruínas de São Miguel das Missões; c) Santo Ângelo Custodio, fundado em 1706, hoje o município de Santo Ângelo, pode ser visitada a sua Catedral Angelopolitana, no mesmo local da antiga redução, e também os seus museus. No ano 2007 Santo Ângelo, esteve em plena atividade em um levantamento arqueológico que mostrou uma série de elementos arquitetônicos do período reducional (OLIVEIRA, 2011).

Neste contexto das reduções Jesuíticas, entende-se que o desenvolvimento local não está necessariamente ligado apenas ao crescimento econômico, mas também se relaciona com a melhoria da qualidade de vida das pessoas e com a conservação do meio ambiente em que estão inseridas (BUARQUE, 1999). Sendo assim, cada região ou local apresenta características culturais diferentes e individuais, que interferem diretamente nas relações dos atores sociais com o meio ambiente e que regem o direcionamento dos seus processos de desenvolvimento, diferenciando-o dos demais locais.

Diante disso, a pesquisa que resulta nessa dissertação de mestrado, identifica que a cultura gastronômica de um local pode ser presença de desenvolvimento socioeconômico e cultural. O intuito deste estudo foi de verificar a propagação do turismo cultural por meio da gastronômica e a sua participação no processo de desenvolvimento dos municípios missioneiros, bem como obter a opinião dos turistas, entidades públicas e privadas sobre o tema proposto.

O trabalho encontra-se organizada em cinco partes: No primeiro capítulo apresenta a contextualização do estudo, que é composto pela apresentação e delimitação do tema, do problema, da justificativa e dos objetivos geral e específico.

No segundo capítulo encontra-se o referencial teórico, abordando o desenvolvimento local, turismo e cultural local, gastronomia como agente do desenvolvimento local, histórico do desenvolvimento da região missioneira, gastronomia como patrimônio cultural da região missioneira, Jesuítas e a gastronomia e por fim, desenvolvimento de lugares por meio da riqueza gastronômica, que possibilitaram o embasamento teórico para a pesquisa.

A metodologia aborda todos os procedimentos e caminhos percorridos para a realização e concretização desta pesquisa; encontram-se no capítulo três. No capítulo quatro, apresenta-se a análise dos resultados referentes ao estudo.

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A conclusão do estudo teve como objetivo norteador identificar e apontar os desafios enfrentados ao analisar as premissas da gastronomia aliada ao turismo, que se constituí em um produto que pode ser fonte de desenvolvimento econômico, cultural e social.

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1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO

Este capítulo versa sobre os aspectos relevantes para a realização desta pesquisa científica, que foi desenvolvida nos município de São Borja, Santo Ângelo e São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul, região turística considerada de grande valor histórico. A contextualização do estudo traz e apresentação do tema, o problema, a definição dos objetivos propostos e a justificativa.

1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA

No Sul da América Latina iniciou-se, no século XVII, um processo inovador de grande desenvolvimento, organizado em sistema de reduções Jesuíticas Guaranis, os chamados Sete Povos das Missões. A vida comunitária nesta época era desenvolvida em função da Praça Missioneira e tendo como centro a Igreja, que seguia os padrões estéticos do barroco, vigente no período. Por cerca de 150 anos, desenvolveu-se uma cultura cujos remanescentes reportam a materialidade de seus bens tangíveis, em alto grau de desenvolvimento na área da arquitetura e das artes, bem como na organização social e política das comunidades, a qual se tornou herança patrimonial (PINTO, 2012).

No século XXI se tem como entendimento de desenvolvimento as heranças patrimoniais, visualizadas não apenas pelos museus e prédios históricos, quais se inserem no desenvolvimento econômico-social, introduzidos nas relações cotidianas da sociedade, também os patrimônios intangíveis, como é o caso da gastronomia. A divulgação deste patrimônio aumenta o turismo cultural de um local, fato que indica a gastronomia como mais que arte culinária, mas um importante veículo da cultura popular e a forma de viver de cada região em determinada época (ARIZPE; NALDA, 2003).

Para que o turismo local se desenvolva no Brasil é necessário focar no desenvolvimento endógeno, enfatizando os aspectos sociais e culturais, estimulando o desenvolvimento local, sem abandonar o fator econômico conforme o autor Barreto, (2008) sugere.

Pesquisas tem buscado ampliar os estudos na área do turismo local, como também da gastronomia dentre elas destaca-se Cunha et. al., (2008) que se referem à matriz de insumo – produto no setor de turismo, avaliando os efeitos do

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crescimento do setor sobre a renda e empregos gerados. Ricci; Sant’Ana (2009) destacam o turismo cultural local através de arte, como o artesanato e estudos de Almeida (2004), sobre as reflexões do desenvolvimento local, apresentam as possibilidades de que o turismo pode ser promotor no efetivo desenvolvimento local ou regional, quais são decorrentes da cultura e de suas origens.

Nesse campo de investigação, a gastronomia pouco se destaca dentro das análises já realizadas no desenvolvimento turístico de lugares. A história da gastronomia como área científica, é insuficientemente estudada pela maioria dos pesquisadores, relacionada ao desenvolvimento. Apesar da pouca exploração que o mundo acadêmico tem reservado a alimentação e a arte culinária não podem ser considerados aspectos secundários na história das civilizações (FRANCO, 2001).

A dimensão social e cultural da gastronomia pode ser prescrita ao complexo emaranhado das políticas de patrimônio cultural. Assim, a forma que o turismo se utiliza desse patrimônio vem determinando para a gastronomia elementos que adquiram cada vez maior relevância para divulgar um lugar e para captar correntes turísticas (SCHÜLTER, 2003).

Nesta visão, o desenvolvimento patrimonial intangível a gastronomia tem como objetivo fazer com que as comunidades que residem em regiões históricas percebam a significante importância do bem patrimonial que possuem.

Desta forma, a herança cultural deixada pelas Reduções Jesuíticas, remetem à definição da própria identidade cultural do lugar, implica em distinguir os princípios e valores que marcam a identidade e as características da região missioneira, situada no noroeste e oeste do Estado do Rio Grande do Sul. Hall (1994) refere-se à herança como algo que pode ser conservado, aumentado e até mesmo usado. Neste sentido é um recurso que pode ser administrado e compartilhado.

Como as diversas áreas de estudo que proporcionam o desenvolvimento patrimonial, a gastronomia apresentada como cultura e ciência, vem contribuir de forma a fomentar o desenvolvimento turístico da região missioneira. A presente dissertação tem como tema: Gastronomia e Desenvolvimento Turístico.

1.2 PROBLEMAS DE PESQUISA

O Rio Grande do Sul caracteriza-se por ser o estado mais meridional do país e possui um papel marcante na sua história. O povo gaúcho provém de uma

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miscigenação de várias etnias: indígenas, espanhóis, portugueses, alemães, italianos, africanos, asiáticos e latinos americanos, o que tornam muito rico para estudos envolvendo questões etno-culturais.

A alimentação é um ritual, a gastronomia reflete as particularidades dessa miscigenação, e é uma necessidade física humana. Além desta função biológica de nutrição, também tem o papel simbólico visto como fonte econômica, social, política e cultural. Permite expandir e diversificar a oferta turística do lugar, preservando os costumes, hábitos de um povo e contribuindo para o desenvolvimento turístico (FRANCO, 2001; SHÜLTER, 2003).

Na região das Missões nos últimos anos, frente às mudanças nos hábitos, já se percebe ações voltadas para o desenvolvimento do turismo e a valorização dos bens intangíveis, tais como festas e manifestações artísticas. Sendo assim, tem se valorizado as relações e o modo de fazer enraizados no cotidiano da comunidade missioneira. Foram criados diversos produtos turísticos que visam potencializar a região através dos seus monumentos históricos, o artesanato e a gastronomia como atrativos ao desenvolvimento do turismo na região (PINTO, 2012).

Na concepção de Filho; Santos (2012) se não fosse o gargalo gerado pela insuficiente infraestrutura, pela burocracia estatal, pela falta de planejamento no território missioneiro, o contingente de turistas que visita as Missões Jesuítas poderia ser aumentado. Os mesmos autores ressaltam que o noroeste e o oeste do estado do Rio Grande do Sul são considerados regiões periféricas em relação aos grandes centros. Os 46 municípios que compõem a Rota das Missões1 e Rota do Rio Uruguai2 têm no turismo uma atividade econômica em nível nacional, porém com dificuldades aparentes de infraestrutura. Neste sentido, o melhoramento, a valorização e a preservação do patrimônio cultural, são fontes de fomento e de alternativa de desenvolvimento local (FILHO; SANTOS, 2012).

1

Rota das Missões: Santo Ângelo, São Borja, Bossoroca, Catuípe, Caibaté, Cerro Largo, Dezesseis de Novembro, Entre-Ijuís, Eugênio de Castro, Garruchos, Giruá, Guarani das Missões, Ijuí, Mato Queimado, Pirapó, Porto Xavier, Rolador, Roque Gonzales, Salvador das Missões, Santo Ângelo, Santo Antônio das Missões, São Borja, São Luiz Gonzaga, São Miguel das Missões, São Nicolau, São Paulo das Missões, São Pedro do Butiá, Sete de Setembro, Ubiretama, Vitória das Missões.

2

Rota do Rio Uruguai: Pórtico de Cândido Godói, Alecrim, Alegria, Boa Vista do Buricá, Campina das Missões, Cândido Godói, Doutor Maurício Cardoso, Horizontina, Independência, Nova Candelária, Novo Machado, Porto Lucena, Porto Mauá, Porto Vera Cruz, Santa Rosa, Santo Cristo, São José do Inhacorá, Senador Salgado Filho, Três de Maio, Tucunduva e Tuparendi.

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Diante do exposto, identifica-se que os municípios apresentados são corredor turístico local, e a presente pesquisa apresenta a pergunta: O turismo está sendo trabalhado como forma de desenvolvimento, procurando na gastronomia um fator propulsor?

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo Geral

Identificar a influência da gastronomia como agente cultural propulsor do desenvolvimento do turismo na região missioneira, contemplando os municípios de São Borja, Santo Ângelo e São Miguel das Missões.

1.3.2 Objetivos Específicos

a) Investigar a cultura gastronômica na região missioneira.

b) Dimensionar a influência jesuítica no patrimônio histórico cultural de São Borja, Santo Ângelo e São Miguel das Missões.

c) Identificar possíveis reflexos da alimentação jesuítica na gastronomia local. d) Propor alternativas de desenvolvimento de lugares com base na

gastronomia como propulsora turística.

1.4 JUSTIFICATIVA

A temática das Reduções Jesuíticas vem sendo estudada desde longa data em diferentes áreas do conhecimento – história, antropologia, arquitetura e urbanismo, sociologia, turismo, entre outros. Observa-se a magnitude do potencial da região das Missões, frente aos diversos ramos de estudo que podem ser objeto de pesquisa para esta dissertação de mestrado (PINTO, 2012).

Ao se analisar o patrimônio cultural da região das Missões, observa-se que existe uma grande divulgação da diversidade de bens patrimoniais materiais, como é o caso dos sítios arqueológicos, monumentos e estatuárias religiosas. Desta forma, chama-se atenção pelo fato da região missioneira, localizada no oeste e noroeste do

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Rio Grande do Sul, ser conhecida mundialmente apenas por seu patrimônio histórico cultural tangível, omitindo as heranças e o patrimônio culturais intangíveis.

Frente à importância da alimentação no meio social, observa-se a ascensão da cultura alimentar, através da gastronomia que de forma notória insere-se no cotidiano da sociedade do século XXI. Assim, observa-se que muitas comunidades da região missioneira baseiam o seu desenvolvimento socioeconômico, político e cultural nesta tendência do mercado, que conforme Henriques; Custódio (2010) busca-se na cultura na identidade gastronômica uma forma de promover o desenvolvimento local, através dos seus produtos e pratos típicos, dos hábitos alimentares e da cultura do seu povo. Como é o caso dos municípios missioneiros de São Borja, Santo Ângelo e São Miguel das Missões.

São Borja é um município da Região Sul do Brasil, localizado no estado do Rio Grande do Sul. Situa-se na fronteira oeste, sendo banhado pelo rio Uruguai, faz fronteira com o município de Santo Tomé, localizado na província de Corrientes, na Argentina. A lei estadual 13.041/2009 declarou oficialmente São Borja "Terra dos Presidentes", por ser município natal de dois ex-presidentes do Brasil: Getúlio Vargas e João Goulart, fato que confere forte apelo histórico ao município. Assim, observa-se que São Borja possui potencialidade para desenvolver o turismo local, principalmente por ser uma cidade que faz fronteira com a Argentina, e tem influência na economia dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO BORJA, 2015).

Santo Ângelo é o município missioneiro situado no noroeste do estado do Rio Grande do Sul, destaca-se como um centro de serviços públicos, por sediar órgãos importantes da esfera estadual e federal. Atualmente o principal símbolo do município é seu centro histórico, especialmente a Catedral Angelopolitana, reerguida a partir de 1929. O município tem como principal atrativo cultural seu patrimônio tangível (PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTO ÂNGELO, 2015).

São Miguel das Missões possuiu em sua área geográfica monumentos históricos considerados como Patrimônio da Humanidade, as ruínas ali existentes já foram palco de shows internacionais. Atualmente o município recebe muitos visitantes, interessados pelas ruínas e grande acervo histórico que o museu possui (PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO MIGUEL DAS MISSÕES, 2015).

A região missioneira é um espaço turístico onde inicialmente teve sua configuração de forma homogênea. Segundo Boullón (1991) a melhor forma de

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determinar um espaço turístico é analisando empiricamente a distribuição territorial dos atrativos, definindo agrupamentos e concentrações proeminentes. A região também pode assumir outras configurações, como um corredor, que engloba espaços em um mesmo país ou em países vizinhos, como o caso da região em estudo.

Diante ao exposto, identifica-se que nos municípios de São Borja, Santo Ângelo e São Miguel das Missões, existem diversas possibilidades de ações turísticas culturais, através do seu patrimônio intangível, como é o caso da gastronomia.

Em São Borja observam-se as potencialidades em exemplos como; implantação de curso técnico em Cozinha, Tecnólogo em Gastronomia e Gestão do Turismo pelo Instituto Federal Farroupilha (IFFar), o desenvolvimento das atividades de pesca no Rio Uruguai incentivados por entidades como a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Governo do RS - EMATER, a realização de eventos gastronômicos tradicionais como a Feira do Mel, Festa do Peixe, Jantar do Cordeiro, Jantar dos Cozinheiros, Mostra Gastronômica do IFFar, Fórum de Cozinha Internacional Missioneira, entre outros.

Em Santo Ângelo identificam-se ações como: a Mostra de Produtos Industrializados e o Festival Cidade das Tortas. E por fim, em São Miguel das Missões seu patrimônio tangível faz parte da economia do município, algumas ações já podem ser observadas em relação ao patrimônio intangível, como: implantação da Pousada das Missões e o Hotel Tenondé3, identificando-se a intenção de desenvolver o turisticamente o local.

Estas potencialidades econômicas constituem-se como importantes influências das heranças culturais, demonstrado a realizável implantação de estudos e abordagens sobre o processo histórico do desenvolvimento turístico, por meio da cultura gastronômica, vista como fonte de recursos que pode aumentar e diversificar e o leque de ofertas turísticas, focada nas relações culturais e sociais da comunidade missioneira.

Nesta perspectiva, o presente estudo justifica-se em virtude de o objeto ter sido elaborado como potencial cultural propulsor dos trabalhos turísticos realizados nos municípios. Relacionando a gastronomia com o desenvolvimento local, político e

3

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social, identificados na história das missões jesuíticas, apresentados pelas heranças alimentares deixadas por índios colonizadores e imigrantes da região.

A pesquisa se insere na área de conhecimento da pesquisadora, a qual trabalha como docente no IFFar com o curso Técnico em Cozinha/Tecnologia em Gastronomia e identifica-se com os municípios apresentados.

O elucidado tema busca com na pesquisa acadêmica ampliar as referências relacionadas com processos de desenvolvimento que seguem os mesmos propósitos da linha de pesquisa de Gestão Empresarial do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento da UNIJUÍ. Possibilitando, assim, o aprofundamento dos estudos relativos à cultura gastronômica, calcada na conservação dos hábitos e costumes de três municípios com capacidade de desenvolvimento turístico voltado ao resgate patrimonial intangível.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Neste capítulo, apresenta-se o embasamento teórico baseados nas abordagens de diferentes autores. Serão explanados os temas desenvolvimento local, turismo e cultura local, gastronomia como agente do desenvolvimento local, gastronomia como patrimônio cultural da região missioneira e por fim, desenvolvimento de lugares por meio da riqueza gastronômica.

2.1 DESENVOLVIMENTO LOCAL

O pensamento do mundo moderno tem suas raízes fortemente ligadas aos legados do passado. Schumpeter (1982) indica que o processo social, na realidade, é um todo indivisível. Um fato nunca é puro ou exclusivamente econômico. Sendo assim, o importante termo desenvolvimento está inseparavelmente ligado a todos os elementos de sua existência, tanto no fator econômico quanto social. Na visão de Sausen (2012), desenvolvimento ocupa o centro de uma constelação semântica incrivelmente poderosa.

Para Nunes (2010), o desenvolvimento é considerado como uma expansão ou avanço potencial, ou gradual, para um estado mais completo, maior ou melhor. A consideração de Singer (1982) é que se precisa ter noção de que o termo pode ser visto de duas formas: um como desenvolvimento econômico, que apresenta natureza quantitativa, e outro como desenvolvimento social, de caráter qualitativo. O primeiro conceito de desenvolvimento consiste em fonte de recursos gerados pelo homem, visando à obtenção de lucros na forma de dinheiro, e a segunda definição, caracteriza fatores como a qualidade de vida de uma determinada população.

Considerando os conceitos de Singer (1982) e de Santos; Rodriguez (2002), o desenvolvimento econômico é concebido como uma forma de promover melhores condições de vida para a população em geral e para os setores marginalizados em particular. Na ótica de Petitinga (2005), o aspecto econômico implica em aumento da renda e riqueza, além de condições dignas de trabalho. A partir do momento em que existe um trabalho digno e este trabalho gera riqueza, ele tende a contribuir para a melhoria das oportunidades sociais.

Assim, os desenvolvimentos econômicos e sociais, permitem uma melhoria substancial nas condições de vida e sustento da maioria das pessoas (SANTOS;

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RODRIGUEZ, 2002). Promove o aumento da produção em todos os ramos tocados pelas demandas de maior precisão econômicas e sociais. Basso (2012) explica que por se considerar o desenvolvimento um processo aberto e evolutivo as ações voltadas a potencializar a capacidade local para evoluir tornam-se mais importantes. O desenvolvimento de lugares pressupõe uma transformação consciente da realidade local, onde o modo de vida de um povo manifesta-se nos seus atos e seus artefatos (MARCONI; PRESOTTO, 2009).

Todavia, o pensamento de Buarque (1999) assinala que o desenvolvimento local não pode ser percebido apenas com uma visão de crescimento econômico, mas sim como fonte de melhoria para uma determinada realidade. Consequentemente, a melhoria da qualidade de vida dos atores envolvidos e das diferentes esferas do poder privado e público que se inter-relacionam e devem ter como objetivo formular estratégias para o benefício da comunidade em que estão inseridos.

Nota-se que como em todas as sociedades na região missioneira o desenvolvimento é um processo que contém dimensões culturais, expressas no comportamento das pessoas, nas explicações dos fatos, na afirmação de valores (FRANTZ, 2003).

A região missioneira utiliza-se do turismo como fonte de desenvolvimento local, os chamados sete povos das Missões contemplam sua cultura destacando as ruínas e marcas arquitetônicas, costumes e lendas da região. Porém, a região sofre com a falta de planejamento integrando as três esferas da tríplice hélice.

Sausen (2012, p. 251) argumenta que o desenvolvimento atual se refere à busca de bem-estar social, econômico, de realização humana e cultural satisfatória.

Significa ainda um meio para tentar remeter a sociedade a um nível de vida melhor, e para que isso ocorra faz-se necessário o uso razoável dos recursos da terra, preservando as espécies e seu respectivo hábitat natural. Desenvolvimento exige uma concepção mais ampla, pois abrange um conjunto de processos sociais, ambientais e econômicos de um local ou região.

Destarte, os modos de comportamento que compõem culturalmente qualquer sociedade representam generalizações de comportamento de todos ou de alguns como membros da sociedade (MARCONI; PRESOTTO, 2009). A região fronteira – oeste e noroeste do estado do Rio Grande do Sul demonstra suas diferenças

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culturais, repassada nos costumes e atrativos culturais utilizados como fonte de desenvolvimento local.

Na visão contemporânea sobre o tema desenvolvimento, Brum (2012) refere-se ao século XXI como oriundo desta nova compreensão, quais os municípios são vistos mais do que nunca como espaço do desenvolvimento, onde o desenvolvimento não é mais pensado “de cima para baixo”, ou do “maior para o menor”, com uma visão macro focada somente no país, mas sim, refletido através de um novo paradigma, voltados para as características e a realidade local de cada região, município, comunidade ou grupo social.

Boiser (2006) apresenta o conceito de desenvolvimento que assinala a ideia de crescimento econômico e a objetivo quantificável associado a conquistas materiais, porém o conceito passa a uma nova concepção, que o representa como processo e estado intangível, subjetivo e intersubjetivo.

Está mudança de conceito de desenvolvimento, no entendimento de Vendrusculo (2009, p. 26):

Deixa de ser visto somente pela modernidade e a tecnologia, mas passa a valorizar a possibilidade e a criação de novas compreensões de desenvolvimento. Fundamentadas na busca da sociedade por qualidade de vida, pelo respeito à diversidade cultural e pela procura de um sentido de pertença, bem como, por preocupações que envolvem as dimensões sociais, culturais, econômicas, entre outras.

Este novo desenvolvimento baseado na valorização e na preservação do patrimônio cultural e natural, tangível ou intangível, do que é tradicional do local, é uma tendência que está sendo seguida pela sociedade. A busca por uma identidade, por um sentimento de pertencimento da população a um local singular, que gera uma homogeneidade, diferenciando-o dos demais locais, passou a ser um aspecto mais valorizado (VENDRUSCULO, 2009).

Em suma, o desenvolvimento local é diferenciado de região para região, através de peculiaridades das dimensões sociais, culturais, políticas, econômicas e ambientais que distinguem um determinado local. Assim, grupos sociais criam e mantém amostras culturais através de relações dos sujeitos ou atores presentes na realidade vivenciada. Dentre estas amostras, encontram-se as manifestações gastronômicas, e o patrimônio intangível que podem ser entendidas como ampliação do ponto de vista econômico, político, social e cultural de uma sociedade. E,

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contudo, pode se tornar um vetor de desenvolvimento turístico cultural e social no ambiente em que estão inseridos.

2.1.1 O Modelo da Tríplice Hélice no desenvolvimento de locais

O modelo tríplice hélice criado por Henry Etzkowitz e Loet Leydesdorff em 1990, apresentado na figura 1, parte do suposto que o desenvolvimento local é impulsionado a partir de três vetores, tais como: econômico (governo), social (indústria) e cultural (pesquisas acadêmicas), os quais contemplam-se e interagem para alavancar o desenvolvimento de uma localidade (AZEREDO et al., 2010).

Figura 1: Modelo tríplice hélice

Fonte: Azeredo et al. (2010).

No modelo atualizado da Tríplice Hélice apresentado na figura 1, ocorre a interação entre todos os agentes, podendo haver até uma atuação de um agente na área do outro ou uma troca de funções entre estas três esferas. Neste ambiente é prevista a existência de uma infraestrutura de conhecimento com a sobreposição das esferas institucionais, com cada um podendo executar o papel do outro e com organizações híbridas emergindo nas interfaces. Os mesmos autores enfatizam que todos estes agentes envolvidos têm um objetivo em comum, sendo prezar pelas relações entre si, para alavancar o desenvolvimento local de um determinado território nos domínios econômicos, sociais e culturais (AZEREDO et al., 2010).

Além desses agentes presentes no modelo da Tríplice Hélice, quando se busca o entendimento das concepções sobre o desenvolvimento local, aparece, em seu contexto, o tema capital social ou humano, que está diretamente ligado a ele, que na concepção de Dotto et al., (2008), é definido como a capacidade da superioridade da confiança numa sociedade ou em algumas partes dela, e que

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normalmente é passado através de mecanismos culturais, como na gastronomia, religião, entre outras manifestações culturais que estão ligadas àquele determinado grupo, que conserva as relações sociais duráveis e estáveis entre si em uma dada sociedade.

A importância do capital social para as estratégias de desenvolvimento demonstra que as grandes potências não se tornaram grandes porque eram ricas em capital material, mas sim porque eram dotadas de um rico capital social e humano, confirmando esta assertiva. Essas relações sociais acabam por se tornar institucionalizadas, por derivarem de um acúmulo de práticas culturais e sociais que estão incorporadas na história das comunidades, grupos ou classes sociais (CASTILHOS, 2001).

Para Fischmann; Cunha (2003), a interação Universidade-Empresa (U-E) se torna cada vez mais importante no contexto econômico atual. As universidades buscam uma nova definição de seu papel na sociedade e as empresas novas alternativas de competitividade para garantir sua permanência no mercado. Para Marcovitch (1999), do mesmo modo que a universidade precisa encontrar a forma certa de relacionar-se com o setor produtivo, este deve saber como solicitar a colaboração da universidade. É necessária a intervenção de agentes que articulem melhor essa interface e valorizem a interdisciplinaridade.

O modelo Hélice Tríplice da Universidade-Indústria-Governo tenta capturar a dinâmica de comunicação e organização, introduzindo a noção de uma sobreposição de relações de troca que realimenta os arranjos institucionais. As instituições e suas relações fornece uma infraestrutura de conhecimento que carrega a base de conhecimento. Cada uma das hélices desenvolve internamente, mas também interagir em termos de trocas de bens e serviços, e em termos de suas funções. Papéis funcionais e institucionais podem ser negociados fora da base de conhecimento baseadas em expectativas, como no caso da ‘universidade empreendedora (ETZKOWITZ et. al., 2000, p. 314).

Na relação entre cooperação empresas, universidades e governos há uma série de fatores que precisam ser considerados: políticas governamentais, formas de contrato, cultura organizacional, vantagens e barreiras. Outras questões como o registro de patentes e transferência de tecnologia precisa ser melhor entendido entre as três hélices, principalmente, entre as universidades que são desenvolvedoras de

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tecnologia mas que precisam estabelecer relação com o setor produtivo para que suas criações produzam benefícios a sociedade (IPIRANGA et. al., 2010).

Porto, 2000 reconhece que barreiras precisam ser superadas e a valoração dos fatores facilitadores, podem criar um estimulo ao surgimento de novas relações. Com as ideias da universidade empreendedora em direcionar uma estratégia voltada à criação de um valor econômico e social sobre os conhecimentos criados, gera a expectativa de criação de um relacionamento com as empresas, esta definição trazida por Etzkowitz define o papel desta instituição que participa dentro da Hélice Tríplice.

2.2 TURISMO E CULTURA LOCAL

O turismo é um setor prestador de serviços, e tem o papel relevante na economia de lugares que o utilizam como ferramentas de desenvolvimento. Masina (2002) argumenta que os impactos econômicos positivos do turismo provocam um aumento da renda na economia do país receptivo, estimulando novos investimentos, gerando empregos diretos e indiretos.

O autor considera que além dos ganhos econômicos, o turismo bem planejado realça outros importantes aspectos socioculturais, como: melhor nível de escolaridade, qualificação da mão de obra e desenvolvimento de uma consciência da preservação ambiental e cultural.

É importante mencionar a ligação do turismo com os outros setores da sociedade o bem como a importância do fomento da atividade pelas políticas públicas, como suporte Barreto (2000, p. 45) infere que:

O fenômeno turístico, ou a atividade turística, como preferiu denominá-la, tem um aspecto social tão importante quanto o desenvolvimento econômico, isto é, a possibilidade de expansão do ser humano, seja pelo divertimento, seja pela possibilidade de conhecer novas culturas e enriquecer conhecimentos por meio de viagens. É uma atividade que deve ser fomentada por políticas públicas, não só como fonte de divisas, mas também como saudável prática de lazer.

A mesma autora explica que o turismo possui um aspecto social tão importante quanto o econômico, pois dá possibilidades de o ser humano se expandir, se divertir e conhecer novas culturas. A autora afirma ser uma atividade

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que merece atenção por parte do poder público por trazer divisas e lazer tanto para quem pratica como para quem recebe. O turismo pode ser considerado como o fenômeno social que consiste no deslocamento voluntário e temporário de indivíduos ou grupos de pessoas que, fundamentalmente por motivos de recreação, descanso, cultura ou saúde, saem do seu local de residência habitual para outro (BARRETO, 2000).

Boullón (1991) explica que a melhor forma de determinar um espaço turístico é analisando empiricamente a distribuição territorial dos atrativos, definindo agrupamentos e concentrações proeminentes. Neste sentido, o turismo cultural no contexto gastronômico possibilita aos turistas conhecer os costumes, tradições culinárias e a história do lugar visitado, através da exploração de suas tradições, muitas populações locais usam seus costumes como um atrativo turístico, propendendo atrair os turistas para suas localidades.

Martins (2003, p. 59) argumenta que o turismo como atividade cultural além de ser um importante instrumento de promoção social e de dinamização econômica, é também principalmente, uma atividade cultural:

Conhecer lugares, assistir à apresentação de manifestações artísticas, degustar pratos peculiares de cada região, compartilhar com nativos a experiência de uma feira local, é conhecer elementos que dizem respeito a pessoas e suas sensibilidades, suas normas e valores, suas emoções. É um exercício de se colocar por alguns momentos na condição do outro que experimenta aquilo que, aos turistas, é proporcionado fortuitamente.

O turismo gastronômico cultural, também contribui para o desenvolvimento das comunidades locais. Neste contexto, Figueiredo (2006) assevera que a concepção de desenvolvimento aí presente não se resume ao desenvolvimento econômico, abarcando também a melhoria de qualidade de vida dos atores sociais envolvidos.

Há múltiplos aspectos na cultura de cada povo que pode favorecer seu desenvolvimento econômico e social, bem explicados por Inglesias (apud KLIKSBERG, 2001, p. 107):

É preciso descobri-lo, potencializá-los, e apoiar-se neles, e fazer isto com seriedade significativa, rever a agenda do desenvolvimento de um modo que resulte, posteriormente, mais eficaz, porque tomará em conta potencialidades da realidade que são de sua essência e que, até agora, foram geralmente ignoradas.

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O turismo cultural corresponde a valores criados pelo homem como cultura, tradição e história. A identidade dos povos e, também, por consequência e até em razão do princípio de alteridade que lhe é inerente, a diversidade cultural. No turismo cultural, a motivação central corresponde à busca do conhecimento, busca essa que envolve satisfação da curiosidade, inclusive em relação ao patrimônio humano (IRVING; AZEVEDO, 2002).

O sistema social e cultural desenvolve uma hierarquia de valores para adaptarem-se as condições da sociedade, assim Beni (1998, p. 58) aloca que:

O turismo, como alternativa de lazer e tempo livre, o turismo deixa de ser atividade meramente utilitária, com todas as distorções provocadas por tal enfoque, passa a ser um espaço qualitativamente e superior, a partir do qual pode injetar renovada energia e informação aos sistemas social e cultural, para efeito de promover novas atitudes e realizações humanas.

O autor refere-se ao turismo como uma atividade complexa, vinculada ao movimento de pessoas. Caracteriza o turismo como gerador de um modelo denominado SISTUR que significa o sistema de gerenciamento do turismo, que é formado pelos ambientes econômico, social, ambiental e cultural. Isso significa que o turismo é uma atividade que ao ser desenvolvida interfere em determinado local, ou seja, o turismo é uma atividade que causa impacto em seu ambiente (BENI, 1998).

No entanto, para a atividade econômica acontecer, de fato, é importante que exista uma estrutura. Desta forma, ao planificar atividade turística é possível observar se existe planejamento, interferência de políticas públicas, atrativos turísticos, equipamentos turísticos e serviços turísticos (BENI, 1998). Assim, o desenvolvimento local não está necessariamente ligado apenas ao crescimento econômico, mas também se relaciona com o contexto social, a melhoria da qualidade de vida das pessoas e com o resgate cultural e a conservação do meio onde vivem.

Por fim, a cultura, a cultura gastronômica, o turismo e o desenvolvimento vêm juntos, ganhando o pertencimento das pessoas quanto ao local em que residem, permitindo o percurso do tempo e do espaço turístico, consentindo o acesso ao passado e o reconhecimento dos bens culturais no presente.

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2.2.1 Gastronomia como Agente do Desenvolvimento Local

A alimentação é um fator que acompanha o homem desde sua existência, e é responsável por importantes modificações na vida do ser humano. Com o avanço do conhecimento científico, o alimento, que antes era relacionado à subsistência e manutenção da espécie, passou a ser reconhecido como de importância nutricional. Tornou-se preciso adquirir, por meio dos alimentos, todos os nutrientes necessários, para a manutenção das diversas funções do corpo (FRANCO, 2006).

Assim, de todos os rituais, o da comida é o mais comum, já que se pratica em todos os lugares e é um fator de diferenciação social e cultural com base na forma de preparar e ingerir a comida, naquilo que se come, com quem e nos ciclos da alimentação diária (SCHÜLTER, 2003).

Pois, a alimentação está ligada aos vários setores de produção, abastecimento e consumo, ou seja, agricultura, pecuária, indústria alimentícia, mercado e feiras. Quando se analisa a alimentação sob o aspecto das tradições culturais sociais, religiosas e das preferências de paladares ligados ao alimento de determinada população, menciona-se a gastronomia.

Brillat-Savarin (1995) calcou suas pesquisas na alimentação como uma fonte de prazer através dos sentidos, principalmente do gosto, e, além disto, remeteu à ideia de que a alimentação pode diferenciar grupos, comunidades, regiões ou países. “A comida é um meio de expressão e afirmação de uma identidade nacional, regional, ou local, o ato de comer materializa os estados emocionais e as identidades sociais” (DA MOTTA, 1987, p. 22).

A cultura alimentar nas Américas está fortemente associada aos povos que trouxeram hábitos, necessidade, variedades de alimentos, tempero (SCHÜLTER, 2003). Na concepção de Martins (2003), a cozinha brasileira é o resultado das influências portuguesas, negra e indígena, mas também de outros imigrantes que aqui se instalam: italianos, alemães, japoneses, espanhóis, árabes, suíços e outros. A região das missões fronteira – oeste e noroeste do Rio Grande do Sul fazem parte desta miscelânea de sabores.

A gastronomia, para Franco (2006), é antes de tudo, cultura, expressão e arte de um povo. Nutre-se das tradições culinárias de todas as camadas sociais. É um grande caldeirão cultural onde se tem representados os elementos mais simples.

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A gastronomia induz a fazer do comer uma imensa fonte de satisfações, uma experiência sensorial total.

Sendo assim, a gastronomia como patrimônio local está sendo incorporada aos novos produtos turísticos orientados a determinados nichos de mercado, permitindo incorporar os agentes da própria comunidade na elaboração desses produtos, assistindo ao desenvolvimento sustentável da atividade (SCHÜLTER, 2003).

Os elementos intangíveis subjacentes como a gastronomia realocam a cultura e podem cooperar de múltiplas formas. A cultura deve ser avaliada como um processo de compreensão e transformação de lugares, no qual se estabelecem relações inerentes entre diferentes aspectos da vida humana e ao qual se incorporam normas econômicas, sociais, intelectuais, entre outros (OLIVEIRA; MARINHO, 2006).

A cultura é o âmbito básico, onde uma sociedade gera valores e os transmite de geração em geração (KLIKSBERG, 2001). Quando, uma sociedade se comprometer com a valorização de sua cultura e identidade, passando a reconhecer sua história coletiva como instrumento para o enfrentamento dos problemas compartilhados socialmente, a cultura será peça chave para se buscar alternativas que promovem o desenvolvimento local (OLIVEIRA; MARINHO, 2006). A identidade coletiva de um povo propicia novas possibilidades de desenvolvimento socioeconômico e cultural, principalmente nos casos de comunidade tradicional (OLIVEIRA; MARINHO, 2006).

Lévi-Strauss (apud MATTE, 2004, p. 62) refere-se à preservação das diversidades culturais:

Para preservar a diversidade das culturas não basta acalentar tradições locais, concedendo uma trégua aos tempos passados. O que deve ser salvo não é o conteúdo histórico que cada época lhe deu e que nenhuma sociedade seria capaz de perpetuar para além de si mesma. A atitude perante a diversidade de conteúdos e formas de expressões sociais é de prever, compreender e promover o que cada forma seja uma contribuição para a maior generosidade das outras.

Sendo assim, pode-se comparar aos eventos voltados à alimentação que surgiram como uma forma de atrair pessoas, e mover a sua atenção para os grandes atrativos que fazem do ato de se alimentar um lazer. De acordo com Gregson (2005, p. 49):

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Um evento com enfoque em uma cultura específica tem nos alimentos o complemento à retratação almejada. O festival gastronômico é um retrato momentâneo de uma localidade, povo e/ou região geográfica, preparado de maneira especial, com serviço cuidadoso e com oferta abundante de alimentos típicos e característicos da cultura retratada.

Os eventos possibilitam um dos principais atrativos de uma região, tanto para moradores locais quanto para visitantes, gerando momentos de lazer e descontração por parte de todos os envolvidos (VENDRUSCULO, 2009). Transmite também, informação sobre os participantes e sobre suas tradições culturais. Realizados ano após ano, geração após geração, os rituais traduzem mensagens, valores e sentimentos do momento. São atos sociais em que alguns participantes se sentem mais envolvidos do que outros (SCHÜLTER, 2003).

O desenvolvimento do turismo cultural através de eventos é estimulado em razão de sua capacidade de gerar receita e empregos no lugar em que se manifesta. A identidade também é expressa pelas pessoas através da gastronomia, que reflete suas preferências e aversões, identificações e discriminações, e, quando imigram, a levam consigo, reforçando seu sentido de pertencimento ao lugar de origem (BARRETO, 2008).

Sendo assim, a apresentação deste patrimônio intangível deve ser compreendida como necessidade de partir do conceito de instrumento de valorização e proteção de uma prática cultural, de forma que a gastronomia não pode ser vista como um conhecimento que se encerra no preparo de um prato, mas sim como algo que agrega, por trás daquele produto final, um universo simbólico que envolve conhecimentos, práticas e tradições, resgatando o legado das mais diversas culturas (SCHÜLTER, 2003).

2.3 ANTECEDENTES DO DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO MISSIONEIRA

Os jesuítas, a partir de 1609 atravessaram o Atlântico para vivenciar e participar das atividades dos índios guaranis, dentro dos princípios da fé cristã. Na margem esquerda do rio Uruguai, os padres Jesuítas foram os primeiros desbravadores da região das Missões e do Rio Grande do Sul. Com uma missa rezada no dia 03 de maio de 1626, o padre Roque Gonzáles fundava em solo

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gaúcho a primeira Redução Jesuítica, com o nome de “São Nicolau do Piratini’’, hoje reconhecida como “Primeira Querência do Rio Grande” (SCHIMIDT, 2015).

Os Sete Povos das Missões eram formados pelas Reduções de São Nicolau do Piratini, São Francisco de Borja, São Luiz Gonzaga, São Miguel Arcanjo, São Lourenco Mártir, São Joao Batista e Santo Ângelo Custodio e da indústria missioneira, pois em cada Redução se encontrava de 40 a 50 oficinas com fundições de aço e ferro, erva mate e muitos outros. Toda esta produção era vendida para Europa e nos países da América.

No Brasil permanecem remanescentes quatro ruinas: São Nicolau (no município de São Nicolau), São Lourenço Mártir (no município de São Luiz Gonzaga), São Miguel Arcanjo (no município de São Miguel das Missões) e São João Batista (no município de Entre-Ijuis). As reduções de Santo Ângelo, São Luiz Gonzaga e São Borja estão nos municípios de mesmo nome, e os restos arqueológicos estão sob as cidades modernas que ali se construiu.

São inúmeros documentos e artefatos que restaram desta época, no dia 06 de dezembro de 1983, as ruinas da redução de São Miguel Arcanjo foram declaradas pela UNESCO como Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, único localizado na região Sul do Brasil e que, em conjunto com as ruinas da Argentina, Paraguai, formam o conjunto dos 7 Patrimônios Mundiais Missioneiros (SCHIMIDT, 2015).

Após o término da civilização implantada pelas Reduções Jesuítas, teve início o novo modelo de sociedade e desenvolvimento econômico da região das Missões. Este padrão começou a ser formado com a abertura de muitas fontes pioneiras de colonizações. Com a chegada dos imigrantes europeus de diferentes etnias, especialmente alemães, italianos, russos e poloneses, que passaram a ocupar as terras públicas ainda não colonizadas, a partir do fim do século XIX.

A presença dos jesuítas foi fundamental para impulsionar uma nova etapa de crescimento para a região das Missões. Os padres jesuítas da Ordem voltaram ao Sul do Brasil em 1842, a partir de 1849, passaram a atuar nas novas colônias se tornando imprescindível na organização dos povoados, inclusive os missioneiros (OLIVEIRA, 2011).

Atualmente a economia da região das Missões está consolidada na agricultura familiar, na pecuária de médio e grande porte, com marcante expansão e mecanização das lavouras, além do fortalecimento das atividades industriais.

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A região Missioneira conta a Associação dos Municípios das Missões4 (AMM), tem em comum a história e disposição de luta pelo crescimento econômico e social da região missioneira. Criada em 28 de maio de 1967, esta entidade continua mantendo os mesmos princípios de seus idealizadores: atuar como alicerce na viabilização das reivindicações locais e regionais. Esse legado de luta vem dos fundadores dos municípios missioneiros que, com a ajuda dos padres Jesuítas, implantaram um modelo de desenvolvimento embasado na educação e na promoção da valorização humana (SCHIMIDT, 2015).

2.4 GASTRONOMIA COMO PATRIMÔNIO CULTURAL DA REGIÃO MISSIONEIRA

Os Jesuítas espanhóis concentraram um grande contingente de indígenas já convertidos na região noroeste do estado do Rio Grande do Sul, com a criação dos Sete Povos das Missões, os índios reunidos nesses aldeamentos não eram escravizados, como geralmente ocorria em outros lugares. Eles viviam do cultivo da terra, se valendo de técnicas agrícolas ensinadas pelos religiosos. Assim atingiram o auge de desenvolvimento para a época (DECKMANN, 2007).

O processo de povoamento da região missioneira descrito por Ramos (2006) teve em três fases de ocupação: primeira fase ocupação das etnias Guarani, Kaigang, Charrua; segunda fase marcada pelo domínio econômico e cultural de portugueses e espanhóis; terceira fase entrada de colonizadores alemães, italianos, russos e poloneses, entre outros. Contemplando as diversas etnias existentes na região missioneira, deixando legados na cultura local.

Observa-se que os resquícios do período reducional juntamente com os elementos culturais europeus são fatores que contribuíram para a construção de uma identidade regional da região noroeste e fronteira - oeste do Rio Grande do Sul. São Borja, Santo Ângelo, e São Miguel das Missões são municípios do estado que se destacam e são representados através de elementos materializados e simbolizados do Patrimônio Histórico e Cultural das Missões (PINTO, 2012).

4

Fazem parte da Associação dos Municípios das Missões: Bossoroca, Caibaté, Cerro Largo, Dezesseis de Novembro, Entre-Ijuís, Eugenio de Castro, Garruchos, Giruá, Guarani das Missões, Mato Queimado, Pirapó, porto Xavier, Rolador, Roque Gonzáles, Salvador das Missões, Santo Ângelo, Santo Antônio das Missões, São Borja, São Luiz Gonzaga, São Miguel das Missões, São Nicolau, São Paulo das Missões, São Pedro do Butiá, Sete de Setembro, Ubiretama e Vitoria das Missões.

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A região Missioneira é um espaço turístico, que se configura por sua história cultural. O Circuito Internacional Missioneiro foi criado em 1995, e tem o objetivo de desenvolver turisticamente o Brasil, Paraguay e Argentina e une os atrativos turísticos relacionados aos 30 Povos das Missões Jesuíticas - Guarani. São sete Patrimônios Culturais da Humanidade: Um no Brasil (São Miguel das Missões); quatro na Argentina (San Ignácio Mini, Santa Ana, Loreto e Santa Maria Maior) e dois no Paraguai (Trinidad e Jesus). Os municípios possuem características comparáveis e são localizados em uma região geográfica limitada, que podem vir a se fortalecer através da realização de ações em prol do desenvolvimento patrimonial local (GOMES, 2008). Apesar dos vários monumentos históricos existentes, e de seu patrimônio gastronômico cultural, os municípios que fazem parte do Circuito Internacional das Missões são pouco explorados.

Conforme Arizpe; Nalda (2003), o patrimônio envolve os produtos e as expressões do sentir, do pensar e do agir dos humanos, fatores esses que instigam a recordação de momentos históricos através da memória. Portanto, pode ser definindo como aquilo que, fornece à população nativa, a representação de um sentimento de pertencimento (PINTO, 2012).

Horta et al., (1999) afirmam que a Educação Patrimonial é um processo que deve ser permanente e sistemático, centrado no patrimônio cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento do indivíduo consigo mesmo e no coletivo.

A Constituição Federal de 1988 contempla artigo que trata dos aspectos patrimoniais, no que segue seu texto:

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I. As formas de expressão; II. Os modos de criar, fazer e viver; III. As criações científicas, artísticas e culturais e tecnológicas; IV. As obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V. Os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

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