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Unicamp e Cambridge : fatores internos e externos às universidades que influenciam o empreendedorismo acadêmico

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Geociências

BEATRIZ ANDRADE FLORENCE MARTELLI

UNICAMP E CAMBRIDGE: FATORES INTERNOS E EXTERNOS ÀS

UNIVERSIDADES QUE INFLUENCIAM O EMPREENDEDORISMO ACADÊMICO

CAMPINAS 2019

(2)

BEATRIZ ANDRADE FLORENCE MARTELLI

UNICAMP E CAMBRIDGE: FATORES INTERNOS E EXTERNOS ÀS

UNIVERSIDADES QUE INFLUENCIAM O EMPREENDEDORISMO ACADÊMICO

DISSERTAÇÃO APRESENTADA AO INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRA EM POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

ORIENTADOR: PROF. DR. SÉRGIO ROBLES REIS DE QUEIROZ

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL

DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA

BEATRIZ ANDRADE FLORENCE MARTELLI E

ORIENTADA PELO PROF. DR. SERGIO ROBLES REIS DE QUEIROZ.

CAMPINAS 2019

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Marta dos Santos - CRB 8/5892

Martelli, Beatriz Andrade Florence,

M361u MarUnicamp e Cambridge : fatores internos e externos às universidades que influenciam o empreendedorismo acadêmico / Beatriz Andrade Florence Martelli. – Campinas, SP : [s.n.], 2019.

MarOrientador: Sérgio Robles Reis de Queiroz.

MarDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências.

Mar1. Empreendedorismo. 2. Universidades e faculdades. 3. Transferência de tecnologia. 4. Spin-outs acadêmico. 5. Empresas - Inovações tecnológicas. I. Queiroz, Sérgio Robles Reis de, 1956-. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Geociências. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Unicamp and Cambridge : internal and external factors to the university that influence academic entrepreneurship

Palavras-chave em inglês: Entrepreneurship

Universities and colleges Technology transfer Academic spin-outs

Business enterprises - Technological innovations

Área de concentração: Política Científica e Tecnológica Titulação: Mestra em Política Científica e Tecnológica Banca examinadora:

Sérgio Robles Reis de Queiroz [Orientador] Bruno Brandão Fischer

Mariana Nunciaroni Zanatta Inglez Data de defesa: 24-05-2019

Programa de Pós-Graduação: Política Científica e Tecnológica

Identificação e informações acadêmicas do(a) aluno(a) - ORCID do autor: https://orcid.org/0000-0003-4517-0372 - Currículo Lattes do autor: http://lattes.cnpq.br/5710817778053610

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AUTORA: Beatriz Andrade Florence Martelli

UNICAMP E CAMBRIDGE: FATORES INTERNOS E EXTERNOS ÀS

UNIVERSIDADES QUE INFLUENCIAM O EMPREENDEDORISMO ACADÊMICO

ORIENTADOR: Prof. Dr. Sérgio Robles Reis De Queiroz

Aprovado em: 24 / 05 / 2019

EXAMINADORES:

Prof. Dr. Sérgio Robles Reis De Queiroz - Presidente Prof. Dr. Bruno Brandão Fischer

Dra. Mariana Nunciaroni Zanatta Inglez

A Ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros, encontra-se disponível no SIGA - Sistema de Fluxo de Dissertação e na Secretaria de Pós-graduação do IG.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais Marcos e Helena, pela presença constante e apoio incondicional aos meus estudos. Ao meu marido André, pelo carinho e compreensão, e à pequena Sara, por trazer leveza aos nossos dias.

Também agradeço meu orientador, Sergio Queiroz, pela atenção e paciência ao longo do processo de elaboração dessa dissertação.

À amiga Daniela Pinheiro, pela fé inabalável na minha capacidade de escrever essa dissertação.

Agradeço aos professores e colegas do DPCT pelas discussões e trocas de conhecimento; aos funcionários do departamento pelo apoio e ao professor Roberto Lotufo, pelo estímulo para fazer o mestrado.

Agradeço também o professor Bruno Fischer e a Mariana Zanatta, cujas contribuições tanto no exame de qualificação quanto na defesa foram essenciais para o resultado final dessa dissertação.

Por fim, agradeço ao apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001, pela bolsa concedida.

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RESUMO

Este trabalho visa investigar através de dois estudos de caso os fatores internos e externos às universidades que influenciam o empreendedorismo acadêmico. Os casos estudados são: Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no Brasil. A região no entorno da cidade de Cambridge é um ecossistema empreendedor bastante ativo e é tida como um dos principais clusters de alta tecnologia do mundo. Já a região de Campinas é considerada um polo de alta tecnologia e é associada ao desenvolvimento econômico baseado em ciência, tecnologia, inovação e empreendedorismo. A partir do referencial teórico, foram selecionados dois itens para orientar o estudo dos fatores que influenciam o empreendedorismo acadêmico no entorno das universidades em questão: seus contextos interno e externo. Analisaram-se para ambas as universidades tanto a atividade empreendedora em si quanto o contexto em que ela ocorre. A isso juntaram-se os resultados de um levantamento quantitativo não exaustivo de empresas oriundas de ambas instituições para buscar-se entender seu perfil e traçar semelhanças e diferenças entre os fatores e resultados estudados. O trabalho conclui que nem todas as diferenças entre os dois ecossistemas apresentados são desmedidas. Há sim resultados em que há grandes diferenças entre Cambridge e Unicamp, mas há também aqueles em que há diferenças menores, e ainda vários em que se observa semelhanças, e uma análise detalhada dos contextos interno e externo às universidades nos ajuda a fundamentar a explicação para a existência de tais convergências. Destacam-se os paralelos importantes no surgimento e desenvolvimento do marco legal de inovação de ambas as regiões e também um adensamento a partir da década de 1990, em ambos os casos, de iniciativas internas e externas às universidades para estimular e viabilizar a exploração comercial de sua propriedade intelectual e o empreendedorismo acadêmico.

Palavras-chave: empreendedorismo acadêmico, spin-off universitária, empreendedorismo intensivo

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ABSTRACT

This work analyses, through two case studies, factors internal and external to the university that influence academic entrepreneurship. The case studies concern the University of Cambridge (United Kingdom) and Campinas State University (Brazil). The Cambridge area is a very active entrepreneurship ecosystem and is one of the world’s most important high technology clusters. Campinas in turn is a high technology hub linked to economic development based on science, technology, innovation and entrepreneurship. Based on the theoretical framework, two factors were selected to guide the study of the elements that influence academic entrepreneurship around universities: internal and external context. For the two universities analysis covered both entrepreneurial activity itself and the context in which it takes place. In order to better understand the outcomes and outline similarities and differences in the case studies, the results of a qualitative non-comprehensive mapping of companies emerging from both universities were also part of the analysis. The research concluded that not all differences between the two studied ecosystems are excessive. In some results, there are considerable disparities between Cambridge and Unicamp, however there are some for which the contrast is much smaller, and also several for which there are similarities. A detailed assessment of the universities’ internal and external contexts is crucial to substantiate the explanation for such similarities. Highlights include important parallels in the emergence and development of innovation law in both regions and the increase after the 1990s, in both cases, of initiatives inside and outside the universities to foster and enable intellectual property licencing and academic entrepreneurship.

Keywords: academic entrepreneurship, university spin-off, knowledge intensive entrepreneursip,

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 2.1 - Mapa da cidade de Cambridge e localização dos principais parques ... 58

Gráfico 2.1 Empresas criadas por ano na região de Cambridge ... 51 Gráfico 2.2 Universidade de Cambridge: Empresas criadas por ano e eventos importantes no marco legal de inovação, na universidade e em seu entorno (1963-2016) ... 53 Gráfico 2.3 Quantidade de empresas criadas por ano e de alunos matriculados em graduação e em pós-graduação na Universidade de Cambridge (1994-2016) ... 54 Gráfico 2.4 quantidade de colaboradores empregados nas empresas da região de Cambridge ... 55 Gráfico 2.5 Criação de escritórios de transferência de tecnologia em universidades no Reino Unido (~1984-2002) ... 64 Gráfico 2.6 Receita da universidade de Cambridge com pesquisa colaborativa, pesquisa contratada, consultoria e comercialização de propriedade intelectual (2003-2016) ... 67 Gráfico 2.7 Faturamento anual da Universidade de Cambridge com pesquisa colaborativa por fonte dos recursos (2003-2016) ... 67 Gráfico 2.8 Faturamento anual da Universidade de Cambridge com pesquisa contratada por fonte de recursos (2003 - 2016) ... 68 Gráfico 2.9 Quantidade de licenças assinadas por ano em Cambridge (2007-2016) ... 74 Gráfico 2.10 Contratos de consultoria assinados por ano e sua respectiva receita (2007-2016) ... 75 Gráfico 2.11 Quantidade de empresas criadas por ano na região da Unicamp ... 82 Gráfico 2.12 Unicamp: Empresas criadas por ano e eventos importantes no marco legal de inovação, na universidade e em seu entorno (1960-2016) ... 83 Gráfico 2.13 Número de empresas criadas por ano, de alunos matriculados em graduação e em pós-graduação na Unicamp (1994-2016)... 84 Gráfico 2.14 Quantidade de colaboradores empregados nas empresas da região da Unicamp 84 Gráfico 2.15 Criação anual de núcleos de inovação tecnológica em Instituições Científicas e Tecnológicas no Brasil (2007-2016) ... 93

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Gráfico 2.16 Relacionamento de grupos de pesquisa da Unicamp com empresas (2002-2016)

... 96

Gráfico 2.17 Quantidade e valor dos convênios de pesquisa colaborativa da Unicamp (2003-2016) ... 97

Gráfico 2.18 Contratos de transferência da Unicamp de tecnologia assinados e vigentes (2003-2016) ... 103

Gráfico 2.19 Grandes áreas dos grupos de pesquisa da Unicamp ... 105

Gráfico 3.1 Setores de atividade das empresas oriundas da Universidade de Cambridge ... 111

Gráfico 3.2 Setores de atividade das empresas oriundas da Unicamp ... 112

Gráfico 3.3 Quantidade de empresas oriundas de Cambridge e da Unicamp criadas por ano (1963-2016) ... 115

Gráfico 3.4 Quantidade de empresas criadas por ano, de alunos matriculados na pós-graduação na Unicamp e em Cambridge (1994-2016, tendência) ... 119

Gráfico 3.5 Quantidade de licenças de transferência de tecnologia assinadas por ano na Universidade de Cambridge e na Unicamp ... 123

Gráfico 3.6 Porcentagem de alunos estrangeiros de graduação e pós-graduação na universidade de Cambridge e na Unicamp (2007-2016) ... 125 Gráfico 3.7 Patentes depositadas por ano pela Unicamp e pela Universidade de Cambridge 126

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1.1 Consolidação dos fatores que influenciam a criação de spin-offs ... 47 Quadro 2.1 Principais órgãos governamentais de apoio à inovação no Reino Unido ... 61 Quadro 2.2 Iniciativas da Universidade de Cambridge para fomentar o engajamento entre a comunidade acadêmica e parceiros potenciais ... 69 Quadro 2.3 Redes e eventos da região de Cambridge para fomentar o engajamento entre universidade e parceiros potenciais ... 69 Quadro 2.4 Fontes de investimento anjo da região de Cambridge externas à universidade .... 71 Quadro 2.5 Fontes de venture capital da região de Cambridge externas à universidade ... 71 Quadro 2.6 Iniciativas de estímulo ao empreendedorismo acadêmico na Universidade de Cambridge ... 76 Quadro 2.7 Principais órgãos governamentais de apoio à inovação no Brasil ... 91 Quadro 2.8 Iniciativas no entorno da Unicamp para fomentar o engajamento entre a comunidade acadêmica e parceiros potenciais ... 98 Quadro 2.9 Fonte de investimento da região da Unicamp externa à universidade ... 98 Quadro 2.10 Iniciativas da universidade para fomentar o empreendedorismo acadêmico .... 103 Quadro 2.11 Principais semelhanças e diferenças entre resultados de empreendedorismo acadêmico e entre fatores internos e externos às duas universidades estudadas ... 107

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BLN - Business Leaders’ Network

BNDE - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico BTG - British Technology Group

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CHASE - Cambridge High-tech Association of Small Enterprises

Ciatec - Companhia de Desenvolvimento do Polo de Alta Tecnologia de Campinas CIESP – Centro das Indústrias do Estado de São Paulo – Campinas

CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Codetec - Companhia de Desenvolvimento Tecnológico

CPqD - Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações CT - Centro de Tecnologia

CTAE - Centro Técnico-Econômico de Assessoria Empresarial CUEN - Cambridge University Enterprise Network

CT&I – Ciência, Tecnologia e Inovação

DIUS - Department for innovation, universities and skills EDISTEC - Escritório de Difusão e Serviços Tecnológicos

ENACTI - Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação ETT – Escritório de Transferência de Tecnologia

EUA – Estados Unidos da América FAP – Fundação de Amparo à Pesquisa

FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

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FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos

FNDCT - Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico GCP - Greater Cambridge Partnership

HEFCE - Higher Education Funding Council for England HEIF - Higher Education Innovation Fund

ICT - Instituição de Ciência e Tecnologia IGC - Índice Geral de Cursos

Incamp - Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp IPO - Intellectual Property Office

LNBio - Laboratório Nacional de Biociências LNLS - Laboratório nacional de Luz Síncrotron MCT - Ministério da Ciência e Tecnologia

MCTI - Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação MIT - Massachusetts Institute of Technology

MPS - Max Planck Society

NIT – Núcleo de Inovação Tecnológica

NRDC - National Research Development Corporation ONG – Organização não-governamental

OSCIP - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público PACTI - Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação PADCT - Programa de Desenvolvimento Científico e Tecnológico PAPPE - Programa de Apoio à Pesquisa em Empresas

PI – Propriedade Intelectual

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P&D – Pesquisa e Desenvolvimento

PPDI - Plano Preliminar de Desenvolvimento Integrado SCI - Science Citation Index

Softex - Associação para a Promoção da Excelência do Software Brasileiro SPTec - Sistema Paulista de Parques Tecnológicos

STEM – Science, Tecnhnology Engineering and Mathematics Telebras - Telecomunicações Brasileiras S.A.

TIC - Tecnologia da Informação e Comunicação TSB - Technology Strategy Board

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 17

CAPITULO 1 Construção de um marco de referência a partir da literatura dos fatores que influenciam o empreendedorismo acadêmico ... 25

1.1. Introdução ... 25

1.2. Empreendedorismo acadêmico: origens, escopo atual e evolução do debate ... 26

1.3. Os fatores determinantes da criação de spin-offs ... 29

1.3.1. Fatores relacionados ao contexto externo à universidade ... 31

1.3.2. Os fatores internos às universidades que influenciam na criação de spin-offs .. 35

1.3.3. Os fatores relacionados ao contexto sociocultural da universidade ... 39

1.3.4. Indivíduos nas atividades de empreendedorismo ... 42

1.4. Consolidação dos principais fatores apontados pela literatura que influenciam a criação de spin-offs ... 46

CAPITULO 2 Universidade de Cambridge e Unicamp: perfil da atividade empreendedora, contextos interno e externo às universidades e seu impacto no empreendedorismo acadêmico ... 48

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2.2. Estudos de caso das regiões de Cambridge e Campinas: resultados de empreendedorismo acadêmico e fatores internos e externos às universidades que

impulsionam a criação de empresas ... 49

2.2.1. Reino Unido e Cambridge ... 49

2.2.1.1. Empreendedorismo acadêmico na região de Cambridge ... 49

2.2.1.2. Contexto externo à universidade de Cambridge ... 56

2.2.1.2.1. Localização... 56

2.2.1.2.2. Contextualização do marco legal de inovação no Reino Unido... 59

2.2.1.2.3. Transferência de tecnologia: iniciativas e posicionamento do governo e das universidades no Reino Unido ... 62

2.2.1.2.4. Parcerias e redes ... 65

2.2.1.3. Contexto interno ... 71

2.2.1.3.1. Política de propriedade intelectual da universidade de Cambridge ... 73

2.2.1.3.2. Escritório de transferência de tecnologia ... 73

2.2.1.3.3. Transferência de tecnologia e consultoria na universidade de Cambridge . 74 2.2.1.3.4. Iniciativas e características da universidade que fomentam o empreendedorismo acadêmico ... 75

2.2.2. Brasil e Campinas ... 80

2.2.2.1. Empreendedorismo acadêmico na região da Unicamp ... 80

2.2.2.2. Contexto externo à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) ... 85

2.2.2.2.1. Localização... 85

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2.2.2.2.3. Transferência de tecnologia no Brasil ... 92

2.2.2.2.4. Parcerias e redes ... 94

2.2.2.3. Contexto interno ... 99

2.2.2.3.1. Política de propriedade intelectual da Unicamp ... 100

2.2.2.3.1. Escritório de transferência de tecnologia ... 100

2.2.2.3.2. Transferência de tecnologia e consultoria na Unicamp ... 102

2.2.2.3.4. Iniciativas e características da universidade que fomentam o empreendedorismo acadêmico ... 103

2.3. Apresentação dos resultados: semelhanças e diferenças entre os casos estudados . 106 CAPITULO 3 Discussão dos resultados: semelhanças e diferenças entre o empreendedorismo acadêmico na região da universidade de Cambridge e na da Unicamp ... 109

3.1. Introdução ... 109

3.2. Semelhanças entre os casos estudados ... 110

3.2.1. Semelhanças de resultado ... 110

3.2.2. Semelhanças de contexto ... 118

3.3. Diferenças entre os casos estudados ... 121

3.3.1. Diferenças de resultado ... 121

3.3.2. Diferenças de contexto ... 125

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 131

(17)

INTRODUÇÃO

Há importantes diferenças entre as universidades de Cambridge e Unicamp: enquanto a primeira tem mais de 800 anos, 107 prêmios Nobel e 8 medalhas Fields, a segunda foi fundada há pouco mais de cinco décadas e nenhum membro de sua comunidade acadêmica foi agraciado com tais prêmios. A Unicamp ocupa a posição 401 no World University

Rankings 2019 e a posição 182 no QS World University Rankings® 2018. Por sua vez,

Cambridge figura em segundo lugar no World University Rankings 2019, em terceiro no

Academic Ranking of World Universities 2018 e em quinto lugar no QS World University Rankings® 2018, além de ter entre seus ex-alunos nomes como Isaac Newton, Charles

Darwin, Francis Bacon, Stephen Hawking e John Milton.

Todavia, apesar das evidentes diferenças, a análise dessa dissertação revela mais semelhanças entre as duas universidades em questão do que se poderia esperar a priori. Estudamos os contextos interno e externo de ambas com o intuito de identificar os fatores que estimulam ou incentivam o empreendedorismo acadêmico – ou seja, o processo de criação de empresas oriundas das universidade. Nesse percurso, encontramos não só semelhanças mais superficiais, como também paralelos importantes no surgimento e desenvolvimento do marco legal de inovação de ambas as regiões – isto é, na configuração do arcabouço institucional para estimular o empreendedorismo acadêmico e ampliar a transferência de conhecimento das universidades. Além disso, no que diz respeito ao empreendedorismo acadêmico, ou seja, as empresas oriundas de ambas universidades, notamos também uma série de semelhanças.

O tema empreendedorismo acadêmico vem ganhando fôlego nas últimas duas décadas. O crescimento no volume de estudos publicados sobre o assunto coincide com o crescimento da atividade de empreendedorismo nas universidades ao redor do mundo, especialmente a partir dos anos 20001. As iniciativas de promoção do empreendedorismo acadêmico vêm se disseminando rapidamente por universidades de todo o mundo e incorporando novos atores, novas formas de comercialização de tecnologia e transferência de

1 A primeira edição especial focada em empreendedorismo acadêmico foi publicada pelo Journal of Technology Transfer em 2001, o que indica que se trata de um campo de pesquisa bastante novo e aberto, além de sujeito a questionamentos (Rothaermel et. al., 2007), haja vista que um número considerável de estudos ainda questiona a incorporação da terceira missão pelas universidades.

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conhecimento, para além daquela que envolve somente o pesquisador universitário e a transferência formal de tecnologia2 (Siegel & Wright, 2015a).

A institucionalização da ideia de universidade empreendedora, porém ocorre duas décadas antes – mais precisamente em 1980 com a implementação do Bayh-Dole Act3 nos Estados Unidos. A partir desse marco se consolida ao redor do mundo a ideia de uma universidade que acumula, além das atividades de ensino e pesquisa, iniciativas relacionadas à comercialização da sua propriedade intelectual e de apoio à atividade empreendedora. As universidades norte-americanas responderam ao Bayh-Dole Act mudando suas políticas internas de patenteamento, estabelecendo procedimentos administrativos e escritórios de transferência de tecnologia para patentear e comercializar os resultados de suas pesquisas (Etzkowitz, 2002). Vários países europeus e asiáticos adotaram arcabouços legais similares, fazendo com que o movimento de formalização da gestão da propriedade intelectual se propagasse entre as universidades ao redor do mundo (Grimaldi, 2011), mudando consideravelmente o status do empreendedorismo acadêmico tanto no contexto interno quanto no contexto externo às universidades.

Com a institucionalização da universidade empreendedora ao longo dos anos 1980 e 1990, e a consequente propagação das iniciativas de apoio ao empreendedorismo nas universidades, emergiu, em um primeiro momento, o debate sobre a influência dos novos papéis a serem desempenhados pela universidade sobre seus papéis tradicionais de ensino e pesquisa. Por um lado, defendia-se que o empreendedorismo acadêmico poderia gerar benefício para as universidades, tais como um maior acesso às estruturas de pesquisa e

know-how da indústria, além do financiamento de pesquisa pelas empresas e do intercâmbio de

profissionais, por exemplo (Grimaldi et al., 2011). Por outro lado, havia a preocupação de que o desenvolvimento de pesquisa para fins comerciais poderia descaracterizar a função essencial

2 Por transferência formal de tecnologia, nesse caso, entende-se o licenciamento para terceiros de uma tecnologia patenteada pela universidade.

3

Legislação federal dos EUA que uniformizou a política de propriedade intelectual no país e possibilitou que pequenas empresas e instituições sem fins lucrativos, incluindo universidades, detivessem a titularidade de invenções realizadas através de programas federais de financiamento à pesquisa. Foi muito importante para encorajar as universidades a engajar-se em transferência de tecnologia. As principais críticas ao Bayh-Dole Act dizem respeito ao possível desvio das funções das universidades (ensino e pesquisa) e ao fato de que levariam os contribuintes a um pagamento em duplicidade (financiando a pesquisa e depois pagando direitos de propriedade intelectual).

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da pesquisa feita pela universidade - que engloba também o ensino e a interação entre professor e aluno decorrente dessas atividades (Clark, 1995).

Quando as universidades estabeleceram seus primeiros escritórios de transferência de tecnologia nas décadas de 1980 e 1990, os esforços estavam essencialmente voltados para as atividades diretamente relacionadas à transferência formal de tecnologia: patenteamento e licenciamento. Iniciativas relacionadas à criação de novas empresas eram raras, já que se acreditava que poderiam desviar os esforços dos acordos de licenciamento de patentes potencialmente mais lucrativos. Também havia poucos cursos e programas sobre empreendedorismo. A facilitação à criação de start-ups se tornou parte efetiva do empreendedorismo acadêmico quando percebeu-se que se tratava de outro caminho possível para a transferência de tecnologia e a geração de receita para as universidades, de forma que, em um primeiro momento, as iniciativas nesse sentido estavam quase que integralmente vinculadas à transferência das invenções dos cientistas dos laboratórios para as start-ups, por meio do licenciamento formal de patentes universitárias (Siegel e Wright, 2015a).

Todavia, desde a implementação do Bayh-Dole Act nos Estados Unidos nos anos 1980, e da consequente consolidação da ideia de universidade empreendedora, o escopo do empreendedorismo acadêmico, assim como as iniciativas e atividades a ele relacionadas, vem se ampliando de forma bastante significativa. Atualmente, o empreendedorismo acadêmico abrange as atividades de patenteamento, licenciamento, parceria universidade-empresa, desenvolvimento econômico e regional e a criação direta e indireta de novas empresas – muitas empresas que se originam nas universidades resultam de relações informais de transferência de conhecimento e tecnologia e outras formas de interação que envolvem uma gama muito mais ampla de atores do que apenas o pesquisador e o investidor (Rothaermel, 2007; Grimaldi et. al., 2011; Siegel e Wright, 2015).

Nesse novo contexto, de propagação das iniciativas de empreendedorismo nas universidades ao redor do mundo, os estudos sobre a universidade empreendedora passaram a abordar tanto os elementos internos que podem impactar na comercialização da propriedade intelectual – tais como o modelo organizacional adotado pelas universidades, as características e papéis do corpo acadêmico e a natureza da tecnologia a ser comercializada, por exemplo – como os elemento externos, tais como o arcabouço institucional, a indústria no entorno e as condições sociais regionais, na tentativa de explicar porque algumas universidades são mais empreendedoras do que outras ou ainda quais são as principais barreiras ao empreendedorismo universitário. Os escritórios de transferência de tecnologia

(20)

também passaram a ganhar destaque nos estudos sobre empreendedorismo acadêmico, uma vez que são vistos como o canal de interação entre a universidade e a indústria.

No atual cenário de crescimento no volume de estudos publicados sobre empreendedorismo acadêmico, vários deles têm voltado seus esforços para identificar o que leva algumas universidades a serem mais empreendedoras do que outras. Esses estudos apontam tanto para os aspectos internos às universidades, quanto para as questões institucionais externas à universidade e a estrutura industrial da região, por exemplo. Todavia, ainda há questões que precisam ser melhor exploradas por essa literatura. Uma delas é a ampliação do conceito de empreendedorismo acadêmico, isto é, a incorporação das atividades de transferência de tecnologia e criação de novas empresas que ocorrem a partir de relações informais com a universidade e não por meio da comercialização de propriedade intelectual (Siegel & Wright, 2015a). Nesse sentido, é recomendável que sejam incluídos na análise, por exemplo, o empreendedorismo estudantil e todas as empresas que são criadas a partir de algum relacionamento com a universidade, que não seja necessariamente via exploração comercial de propriedade intelectual.

Ou seja, apesar da ampliação considerável do número de estudos relacionados ao empreendedorismo acadêmico nos anos recentes, e também do escopo de sua análise, a literatura ainda não evoluiu a ponto de incluir todas essas novas dimensões e iniciativas relacionadas ao empreendedorismo acadêmico. A literatura recente ainda está predominantemente focada nas transferências formais de tecnologia, que envolvem patentes e licenciamentos via escritório de transferência de tecnologia e a participação de inventores. E, apesar da proliferação recente de iniciativas que vão além dos cursos de empreendedorismo e das competições de planos de negócio, tais como os diversos programas de aprendizado experimental para que os estudantes empreendam e do número crescente de spin-offs4 criadas por estudantes, não há, por exemplo, um framework que ajude a entender os fatores que apoiam o empreendedorismo estudantil. Isto é, há que se entender melhor a heterogeneidade do empreendedorismo acadêmico, assim como o contexto em que ele ocorre.

Isto posto, o objetivo dessa dissertação é identificar quais são os fatores internos e externos às universidades que influenciam o empreendedorismo acadêmico nos dois casos

4

Seguindo a linha proposta por O’Shea et al (2007), essa dissertação considera que para obter uma compreensão sistêmica da atividade de criação de spin-offs é preciso integrar quatro dimensões do empreendedorismo acadêmico: características dos indivíduos, política e estrutural organizacional, cultura organizacional e ambiente externo. A literatura frequentemente usa apenas um desses fatores por vez para definir a atividade de criação de spin-offs, mas aqui consideramos o conjunto das quatro. Nesse contexto, utilizamos spin-off e empreendedorismo acadêmico como sinônimos.

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estudados (Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e Universidade Estadual de Campinas, no Brasil). Analisamos (i) os fatores internos e externos de cada universidade que podem influenciar na criação de spin-offs, (ii) os resultados quantitativos de empreendedorismo acadêmico de ambas universidades, e (iii) as semelhanças e diferenças entre os fatores e resultados estudados.

A região no entorno da cidade de Cambridge é um ecossistema empreendedor bastante ativo e é tida como um dos principais clusters de alta tecnologia do mundo. Todavia, até a década de 1970 havia, de ambas as partes, muita resistência contra o relacionamento entre universidade e empresa e, consequentemente, pouquíssimos casos de interação. Atualmente, além de uma miríade de empresas intensivas em tecnologia, a região abriga três universidades, 19 parques científicos e comerciais, 6 incubadoras, 10 fundos de venture capital, 4 grupos de investidores anjo, um de investimento semente, um fundo de prova de conceito e diversos centros de pesquisa e desenvolvimento (das universidades, de empresas de vários portes e do governo), dentre outros. No início, havia na região essencialmente empresas de engenharia e computação, porém hoje há maior concentração nas áreas de tecnologia da informação e comunicação (TIC) e biotecnologia.

Já a região de Campinas é considerada um polo de alta tecnologia e é associada ao desenvolvimento econômico baseado em ciência, tecnologia, inovação e empreendedorismo (Lemos, 2011). A Universidade Estadual de Campinas foi fundada em 1966 e desde o início manteve laços estreitos com o setor produtivo. Dentre os principais elementos desse cluster de tecnologia estão a Unicamp, cinco parques científicos e tecnológicos, duas aceleradoras de empresas e duas incubadoras, além de uma rede de relacionamento de empreendedores oriundos da Unicamp. Há também na região vinte e dois centros de pesquisa, públicos e privados, atuando nas áreas de tecnologia da informação e comunicação, desenvolvimento agrícola e agronegócio, biomedicina, física, química, engenharia de materiais, e biologia molecular, dentre outras.

Os estudos de caso dividem-se em duas partes: analisamos tanto a atividade empreendedora em si quanto o contexto em que ocorre. Partimos da divisão proposta por O’Shea et al. (2007b) de quatro grupos de fatores que podem influenciar conjuntamente na quantidade de spin-offs criadas em uma universidade e selecionamos dois para nossa análise: os fatores internos e os externos à universidade. O levantamento de dados para os outros dois fatores (contexto sociocultural e características pessoais) trazia consigo dois desafios metodológicos: não só requer acesso a fontes primárias, como também se trata de um

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conjunto de informações de caráter eminentemente subjetivo. Diante disso, optamos por delimitar nossa análise no campo dos dados secundários e objetivos.

Assim, realizamos o levantamento de dados em fontes secundárias dos fatores internos e externos às duas universidades estudadas que influenciam a criação de spin-offs e a atividade empreendedora no âmbito acadêmico. Para fatores externos estudamos: localização da universidade, marco legal de inovação e transferência de tecnologia no país e parcerias e redes, e para fatores internos: política de propriedade intelectual da universidade, escritório de transferência de tecnologia ou núcleo de inovação tecnológica5, transferência de tecnologia na universidade e iniciativas de fomento ao empreendedorismo acadêmico.

Uma vez estabelecido um esboço do cenário dentro e no entorno de ambas as universidades e registrados os respectivos fatores que podem influenciar a criação de

spin-offs, partimos para a segunda etapa dos estudos de caso que foi uma busca não-exaustiva de

empresas oriundas de ambas universidades com o objetivo de traçar seu perfil. Para tanto, analisamos variáveis como ano de fundação, quantidade de funcionários, setor de atuação, internacionalização e quantidade de empresas vendidas, por exemplo – no total listamos 16 variáveis sobre quase 1500 empresas (foram 961 para Cambridge, fundadas entre 1965 e 2017 e 488 para a Unicamp, fundadas entre 1963 e 2017).

A análise dos dados levantados revela semelhanças e diferenças entre os contextos e atividade de empreendedorismo acadêmico no entorno de cada universidade. As convergências iniciam-se em pontos mais simples e persistem nas questões mais complexas, como por exemplo a configuração do arcabouço institucional para estimular o empreendedorismo acadêmico e ampliar a transferência de conhecimento das universidades. No que diz respeito às empresas há também semelhanças importantes.

Em ambos os casos, se observa um adensamento a partir da década de 1990 de iniciativas internas e externas às universidades para estimular e viabilizar a exploração comercial de propriedade intelectual da universidade e o empreendedorismo acadêmico, bem como de uma série de ações governamentais em âmbito estadual ou federal implementadas no mesmo período. Esse movimento de adensamento coincide com a transição vivida em maior ou menor grau pelas universidades de todo o mundo a partir da década de 1980 e que as levou

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Nessa dissertação consideraremos Escritório de Transferência de Tecnologia (ETT) e Núcleo de Inovação tecnológica (NIT) como sinônimos.

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a rever suas missões e atividades de modo a melhor atender as demandas da sociedade e contribuir para o desenvolvimento socioeconômico, sobretudo através da transferência direta ou indireta de tecnologia e conhecimento (através de licenciamentos ou spin-offs) (Zanatta et al, 2016). Além disso, destaca-se também o fenômeno global que ocorre a partir do final dos anos 1990 quando se observa um aumento no interesse em empresas de tecnologia em função dos altos retornos de investimentos norte-americanos na área.

A dissertação está estruturada em três capítulos, além dessa Introdução e as Considerações Finais. O Capítulo 1 se propõe a construir, a partir da revisão da literatura, um marco de referência dos fatores que influenciam o empreendedorismo acadêmico e contribuem para explicar porque algumas universidades são mais bem-sucedidas do que outras na criação de spin-offs. Iniciamos com uma apresentação das origens, escopo atual e evolução do debate sobre o empreendedorismo acadêmico, e a seguir identificamos e apresentamos quatro fatores que influenciam a criação de spin-offs e a atividade empreendedora no âmbito acadêmico de acordo com O’Shea et al (2007b): (i) contexto interno à universidade, (ii) contexto externo à universidade, (iii) contexto sociocultural da universidade e (iv) características pessoais dos indivíduos. O Capítulo 1 encerra-se com a apresentação de um quadro analítico que busca consolidar esses fatores.

O Capítulo 2 apresenta as semelhanças e diferenças nos dados relativos aos dois casos de empreendedorismo acadêmico estudados nessa dissertação: a região da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e a da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no Brasil. O estudo está dividido em duas partes: (i) apresentação dos resultados do levantamento quantitativo sobre empreendedorismo acadêmico no entorno de ambas universidades; e (ii) apresentação dos fatores que influenciam a atividade empreendedora da região. Dos quatro fatores que, de acordo com a literatura, influenciam a criação de spin-offs e a atividade empreendedora no âmbito acadêmico, selecionamos dois para os estudos de caso: contexto interno à universidade (política de propriedade intelectual da universidade, escritório de transferência de tecnologia ou núcleo de inovação tecnológica6, transferência de tecnologia na universidade e iniciativas de fomento ao empreendedorismo acadêmico) e contexto externo (localização, marco legal de inovação e transferência de tecnologia no país e parcerias e redes). O Capítulo 2 encerra-se com a apresentação de um quadro analítico que busca

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Nessa dissertação consideraremos como sinônimos Escritório de Transferência de Tecnologia (ETT) e Núcleo de Inovação tecnológica (NIT).

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consolidar as semelhanças e diferenças de contexto e de resultado empreendedor entre os casos estudados.

Por sua vez o Capítulo 3 apresenta a discussão dos resultados dos dois estudos de caso apresentados no capítulo anterior – perfil da atividade empreendedora em cada uma das regiões e contextos interno e externo às universidades – e seu impacto no empreendedorismo acadêmico. A análise dos dados levantados revela semelhanças e diferenças tanto entre os contextos interno e externo quanto entre os resultados de empreendedorismo acadêmico no entorno de cada umas das universidades. A discussão desse capítulo busca destacar aonde as semelhanças e as diferenças são mais acentuadas e aonde são mais moderadas, bem como quais fatores parecem ser os principais responsáveis pelas convergências e divergências encontradas entre os dois casos estudados. Destacamos o papel do contexto na explicação das semelhanças e diferenças de resultados, ainda que, naturalmente, não tenhamos elementos para afirmar que essas especificidades de contexto são as únicas determinantes dos resultados encontrados. Reconhecemos a existência de outros fatores também pertinentes para a explicação das semelhanças e diferenças encontradas, que todavia estão fora do escopo do presente trabalho, como por exemplo o contexto sociocultural da universidade e características pessoais dos indivíduos (apresentados em âmbito teórico no Capítulo 1).

Por fim, as Considerações Finais mostram que as diferenças entre os dois ecossistemas apresentados não são tão grandes. Há sim resultados em que as diferenças entre Cambridge e Unicamp são consideráveis, mas há também aqueles em que as diferenças são menores, e ainda vários em que se observa semelhanças, e uma análise detalhada dos contextos interno e externo às universidades nos ajuda a fundamentar a explicação para a existência de tais similitudes.

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CAPÍTULO 1.

1. Construção de um marco de referência a partir da literatura dos fatores que influenciam o empreendedorismo acadêmico

1.1. Introdução

Este capítulo visa apresentar, a partir da revisão da literatura sobre empreendedorismo acadêmico, os fatores que influenciam este tipo de atividade e contribuem para explicar porque algumas universidades são mais bem-sucedidas do que outras na criação de spin-offs. A revisão da literatura sobre empreendedorismo acadêmico revela um conjunto de estudos com focos específicos. Parte dos estudos concentra-se em abordar a influência da configuração organizacional sobre o surgimento de spin-offs. Uma outra parte busca identificar os recursos da universidade que se relacionam com as atividades de empreendedorismo, tais como recursos humanos, volume e origem do orçamento para financiamento das atividades de pesquisa e presença de incubadoras tecnológicas e escritórios de transferência de tecnologia. Outro conjunto de estudos foca no indivíduo, considerando, dentre outros, fatores como personalidade e motivações. Outros ainda buscam explicar o surgimento de spin-offs em termos do contexto sócio cultural da universidade, tendo em vista que a criação de spin-offs é um reflexo do comportamento institucional, sendo, portanto, influenciada pela cultura da universidade e pelas recompensas por ela oferecidas. E há ainda os estudos que explicam a criação de spin-offs em termos da influência do ambiente externo, enfatizando, nesse caso, o impacto dos fatores econômicos mais amplos sobre as universidades, tais como a infraestrutura de conhecimento da região, a estrutura industrial ou ainda a legislação de propriedade intelectual.

Nesse sentido, O’Shea et al. (2007b) sugerem quatro grupo de fatores que podem influenciar conjuntamente na quantidade de spin-offs criadas em uma universidade: (i) as características do entorno da universidade, tais como a infraestrutura regional que impacta na atividade de spin-off, como ressaltam os estudos que abordam o contexto externo à universidade; (ii) o contexto social mais amplo no qual a universidade está inserida, incluindo barreiras, como destacado pelos estudos focados no contexto cultural e institucional; (iii) os recursos e as capacidades das universidades, que compreendem tanto o capital humano, quanto os recursos comerciais e financeiros e as atividades institucionais, como destacam os

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estudos que focam nas questões organizacionais e, por fim, (iv) as características e percepções dos indivíduos que se engajam em atividades empreendedoras dentro das universidade.

O presente capítulo dedica-se a detalhar cada um desses grupos de fatores, mas não sem antes apresentar as origens e a evolução do debate sobre o empreendedorismo acadêmico. Sendo assim, o capítulo está organizado em três seções, além desta introdução. Uma primeira que contextualiza o debate, a segunda que detalha os fatores que influenciam a criação de spin-offs e uma terceira que busca consolidar esses fatores com o auxílio de um quadro analítico.

1.2. Empreendedorismo acadêmico: origens, escopo atual e evolução do debate

As origens do empreendedorismo acadêmico remontam às iniciativas internas e externas à universidade com o objetivo de fortalecer a relação universidade-empresa, como demonstra a história do MIT (Massachusetts Institute of Technology, nos EUA). A trajetória do instituto é marcada, desde o início, pela proximidade com a indústria, tanto com firmas já existentes como com novas empresas criadas a partir das atividades de pesquisa e consultoria dos seus professores. Na tentativa de balancear as atividades acadêmicas tradicionais de ensino e pesquisa e o relacionamento com a indústria, o MIT abre ao longo da sua trajetória uma série de precedentes no que diz respeito à criação e à gestão da propriedade intelectual da universidade, bem como à cooperação universidade-empresa, ainda na primeira metade do século XX, que posteriormente inspiram o conteúdo do Bayh-Dole Act nos anos 1980 (Etzkowitz, 2002).

É com a implementação do Bayh-Dole Act que se institucionaliza, tanto nos Estados Unidos quanto ao redor do mundo, a ideia de universidade empreendedora, que acumula, além das atividades de ensino e pesquisa, iniciativas relacionadas à comercialização da sua propriedade intelectual e de apoio à atividade empreendedora. As universidades norte-americanas responderam ao Bayh-Dole Act mudando suas políticas internas de patenteamento, estabelecendo procedimentos administrativos e escritórios de transferência de tecnologia para patentear e comercializar os resultados das suas pesquisas (Etzkowitz, 2002). Vários países europeus e asiáticos adotaram arcabouços legais similares, fazendo com que o movimento de formalização da gestão da propriedade intelectual se propagasse por universidades ao redor do mundo (Grimaldi, 2011), mudando consideravelmente o status do empreendedorismo acadêmico tanto no contexto interno quanto no contexto externo às universidades.

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Com a institucionalização da universidade empreendedora ao longo dos anos 1980 e 1990, e a consequente propagação das iniciativas de apoio ao empreendedorismo nas universidades, emergiu, em um primeiro momento, o debate sobre a influência dos novos papéis a serem desempenhados pela universidade sobre seus papéis tradicionais de ensino e pesquisa. Por um lado, defendia-se que o empreendedorismo acadêmico poderia gerar benefício para as universidades, tais como maior acesso às estruturas de pesquisa e know-how da indústria, como ocorreu no MIT, além de financiamento de pesquisa por empresas e intercâmbio de profissionais, por exemplo (Grimaldi et al., 2011). Por outro lado, havia a preocupação de que o desenvolvimento de pesquisa para fins comerciais poderia descaracterizar a função essencial da pesquisa feita pela universidade - que engloba também o ensino e a interação entre professor e aluno decorrente dessas atividades (Clark, 1995).

Todavia, desde a implementação do Bayh-Dole Act nos Estados Unidos nos anos 1980, e a consolidação da ideia da universidade empreendedora, o escopo do empreendedorismo acadêmico, assim como as iniciativas e atividades a ele relacionadas, se ampliaram de forma bastante significativa. Atualmente, o empreendedorismo acadêmico abrange as atividades de patenteamento, licenciamento, criação direta e indireta de novas empresas, parceria universidade-empresa e também o desenvolvimento econômico e regional (Rothaermel et al, 2007; Grimaldi et. al., 2011; Siegel e Wright, 2015). Essa ampliação de escopo reflete a necessidade colocada pelas políticas de desenvolvimento de que as universidades tenham uma contribuição mais ampla para a sociedade. Quando as universidades estabeleceram seus primeiros escritórios de transferência de tecnologia nas décadas de 1980 e 1990, os esforços estavam essencialmente voltados para as atividades diretamente relacionadas à transferência de tecnologia: patenteamento e licenciamento. Iniciativas relacionadas à criação de novas empresas eram raras, já que se pensava que poderiam desviar os esforços dos acordos de licenciamento de patentes potencialmente mais lucrativos (os ‘blockblusters’). Também havia poucos cursos e programas sobre empreendedorismo. A facilitação à criação de start-ups se tornou parte efetiva do empreendedorismo acadêmico quando se percebeu que era outro caminho possível para a transferência de tecnologia e a geração de receita para as universidades, de forma que, em um primeiro momento, as iniciativas nesse sentido estavam quase que integralmente vinculadas à transferência das invenções dos cientistas dos laboratórios para as start-ups, por meio do licenciamento formal de patentes universitárias (Siegel e Wright, 2015a).

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Nesse novo contexto, de propagação das iniciativas de empreendedorismo nas universidades ao redor do mundo, os estudos sobre universidade empreendedora passaram a abordar tanto os elementos internos que podem impactar na comercialização da propriedade intelectual, tais como o modelo organizacional adotado pelas universidades, as características e papéis do corpo acadêmico e a natureza da tecnologia a ser comercializada, por exemplo, como fatores externos, tais como o arcabouço institucional, a indústria no entorno e as condições sociais regionais, na tentativa de explicar porque algumas universidades são mais empreendedoras do que outras ou quais são as principais barreiras ao empreendedorismo universitário. Os escritórios de transferência de tecnologia também passaram a ganhar destaque nos estudos de empreendedorismo acadêmico, porque são vistos como o canal de interação entre a universidade e a indústria. E, para um corpo específico de literatura, a universidade empreendedora é vista como uma função da produtividade do seu escritório de transferência de tecnologia. A organização e o gerenciamento desses escritórios, assim como elementos externos tais como os recursos da universidade e da região onde ela está localizada, o nível de apoio formal à P&D, entre outros, são apontados por este corpo de literatura como impactantes da produtividade desses escritórios. Um outro tema bastante explorado são as interações (“networking activities”) entre os diversos atores do ecossistema empreendedor e a universidade.

Porém, sabe-se que atualmente o empreendedorismo acadêmico vai muito além do licenciamento formal de propriedade intelectual da universidade, e que muitas empresas que se originam nas universidades resultam de relações informais de transferência de conhecimento e tecnologia e outras formas de interação que envolvem uma gama muito mais ampla de atores do que apenas o pesquisador e o investidor. Siegel e Wright (2015a, p. 54) destacam os principais fatores que levaram à ampliação do escopo do empreendedorismo acadêmico, especialmente na última década: a criação de espaços específicos para a apoiar a transferência de tecnologia e o empreendedorismo; o crescimento significativo de cursos e programas de empreendedorismo oferecidos pelas universidades; a implementação de centros de empreendedorismo; o crescimento do número de empreendedores externos presentes nas universidades para estimular a criação de start-ups; o rápido crescimento do apoio aos alunos e ex-alunos englobando vários aspectos do ecossistema empreendedor e incluindo fundos de comercialização e competições de planos e modelos de negócio. Dessa forma, as universidades também incorporaram os aspectos mais indiretos do empreendedorismo acadêmico, tais como empreendimentos sociais e start-ups comerciais criadas por alunos e

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ex-alunos, bem como a transferência de conhecimento da universidade para empresas locais já existentes. E, consequentemente, também foram desenvolvidas novas formas de apoio às atividades de empreendedorismo acadêmico que abrangem não somente a transferência formal de tecnologia, mas também mecanismos não tradicionais de incentivo, tais como os programas de aceleração, espaços flexíveis para prototipagem e criação de novos negócios, redes colaborativas com a indústria e ex-alunos, mobilidade do corpo docente e novas formas de incubadoras público-privadas (Zucker e Darby, 2002; Grimaldi et. al, 2011; Siegel e Wrigth, 2015; Wright et al., 2017). As competições de plano e modelo de negócio, por exemplo, proliferaram-se de tal maneira nos últimos quinze anos, que agora há até mesmo competições internacionais envolvendo várias instituições acadêmicas. Também aumentaram consideravelmente os esforços de busca por novas oportunidades de comercialização de resultados de pesquisa feitos pelos escritórios de transferência de tecnologia, principalmente por meio do monitoramento constante das atividades de pesquisa realizadas nos laboratórios das universidades (Siegel et al., 2007; Grimaldi et al., 2011).

Todavia, apesar da ampliação considerável do número de estudos relacionados ao empreendedorismo acadêmico, e também do escopo de análise, a literatura ainda não evoluiu a ponto de incluir todas essas novas dimensões e iniciativas relacionadas ao empreendedorismo acadêmico. Pelo contrário, a literatura recente ainda está predominantemente focada nas transferências formais de tecnologia, que envolvem patentes e licenciamentos via escritório de transferência de tecnologia e com a participação de inventores. E, apesar da proliferação recente de iniciativas que vão além dos cursos de empreendedorismo e das competições de planos de negócio, tais como os diversos programas de aprendizado experimental para que os estudantes empreendam e do número crescente de

spin-offs criadas por estudantes, não há, por exemplo, um framework que ajude a entender o

ecossistema que apoia o empreendedorismo estudantil (Wrigth et al., 2017).

1.3. Os fatores determinantes da criação de spin-offs

Apesar de o foco do presente trabalho ser na quantidade de spin-offs criadas, não desconhecemos a relevância da análise da qualidade de tais empresas. Nesse sentido, Guzman & Stern (2016) destacam a importância da análise qualitativa do empreendedorismo e do desempenho dos ecossistemas para se compreender de maneira pormenorizada o impacto do empreendedorismo no progresso econômico e social. Nessa dissertação não temos a pretensão de esgotar essa discussão, mas apenas de propor uma análise dos resultados de

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empreendedorismo acadêmico usando como proxy a quantidade de spin-offs criadas no entorno das duas universidades estudadas.

Em se tratando especificamente da criação de spin-offs – o corpo da literatura no qual se insere essa dissertação – os estudos visam, sobretudo, identificar os fatores de sucesso por trás do processo de criação dessas empresas, seja pela perspectiva da universidade seja pela de seus fundadores – além das principais barreiras à formação e crescimento de novas empresas, (Rothaermel et al., 2007). A revisão dessa literatura revela um conjunto de estudos com focos específicos. Parte deles concentra-se em abordar a influência da configuração organizacional sobre o surgimento de spin-offs. Por recursos da universidade, entende-se a quantidade e origem do orçamento para financiamento das atividades de pesquisa, presença de incubadoras tecnológicas e escritórios de transferência de tecnologia (Radosevich (1995), Blumenthal et al. (1996), Roberts & Malone (1996), Zucker et al. (1998b), Debackere (2000), Hague & Oakley (2000), Meseri & Maital (2001), Carlsson and Fridh (2002), Davenport et al. (2002), DiGregorio & Shane (2003), Siegel et al. (2003), Degroof & Roberts (2004), Clarysse et al. (2005), Lockett & Wright (2005), Markman et al. (2005), O’Shea et al. (2005), Powers & McDougall (2005), Lenoir & Gianella (2006), Stuart & Ding (2006)). Outra parte dos estudos focam no indivíduo, considerando personalidade, motivações para empreender etc (Roberts (1991), Zucker et al. (1998a), Audretsch (2000)). Outros ainda buscam explicar o surgimento de spin-offs em termos de desenvolvimento sociocultural, tendo em vista que a criação de spin-offs é um reflexo do comportamento institucional, sendo, portanto, influenciada pela cultura da universidade e pelas recompensas por ela proporcionadas (Louis et al. (1989), Ndonzuau et al. (2002), Thursby & Kemp (2002), DiGregorio and Shane (2003), Kenney & Goe (2004), Link and Siegel (2005), Stuart and Ding (2006), George et al. (2006), Kirby (2006), Djokovic & Souitaris (2007), O’Shea at al. (2007)). Há ainda os estudos que explicam a criação de spin-offs em termos da influência do ambiente externo, enfatizando, nesse caso, o impacto dos fatores econômicos mais amplos sobre as universidades, tais como acesso a capital de risco, infraestrutura de conhecimento da região, estrutura industrial e legislação de patentes (Florida & Kenney (1988), Saxenian (1994), Wallmark (1997), Kenney (2000), Sorenson & Stuart (2001), Colyvas et al. (2002), DiGregorio and Shane (2003), Feldman & Francis (2003), Goldfarb & Henrekson (2003), Feldman & Desrocher (2004), Shane (2004b), Wright et al. (2004), Sampat (2006), Wright et al. (2006), O’Shea et al. (2007). Por fim, há os estudos que buscam medir o impacto econômico da atividade de

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universitárias (Dahlstrand (1997), Mustar (1997), Shane & Stuart (2002), Nerkar & Shane (2003), Degroof & Roberts (2004), Druilhe & Garnsey (2004), Vohora et al. (2004), Shane (2004a), Ensley & Hmieleski (2005), Mustar et al. (2006), Vanaelst et al. (2006)). Já na última década, essas abordagens permanecem em destaque, mas há uma clara preocupação nos estudos mais recentes em integrá-las, isto é, tratar os vários determinantes de forma relacionada, considerando que os determinantes da criação de spin-offs são múltiplos e atuam de forma concomitante.

Nesse sentido, o estudo de O’Shea et al. (2007b) é pioneiro em sugerir que quatro grupo de fatores podem influenciar conjuntamente na quantidade de spin-offs criadas em uma universidade. São eles: (i) as características e percepções dos indivíduos que se engajam em atividades empreendedoras dentro das universidades; (ii) os recursos e as capacidades das universidades, que compreendem tanto o capital humano, quanto os recursos comerciais e financeiros e as atividades institucionais, como destacam os estudos que focam na questão organizacional; (iii) o contexto social mais amplo no qual a universidade está inserida, incluindo barreiras, como destacado pelos estudos focados no contexto cultural e institucional; e, por fim, (iv) as características do entorno da universidade, como a infraestrutura regional que impacta a atividade de spin-off, como ressaltam os estudos que abordam o contexto externo à universidade. As quatro subseções a seguir visam detalhar, a partir da revisão da literatura, cada um desses grupos de fatores. A última seção consolida esses fatores com o intuito de orientar as análises posteriores.

Para aprofundar a descrição dos quatro fatores que influenciam a criação de

spin-offs nas universidades segundo O’Shea et al. (2007b), nos apoiaremos sobretudo nos

trabalhos de: Shane (2004a), Lockett et. al (2005), Siegel et al. (2004 e 2007), O'Shea et. al (2005 e 2007a), Clarysse et al. (2005, 2009 e 2011), Bercovitz e Feldman (2008), Grimaldi et. al (2011), Siegel e Wrigth (2015 e 2015a) e Wright et al. (2017).

1.3.1. Fatores relacionados ao contexto externo à universidade

O processo empreendedor não pode ser estudado sem que se dê atenção ao contexto em que ocorre, tanto em nível regional quanto nacional, e a natureza multinível do empreendedorismo acadêmico torna ainda mais necessário esse entendimento.

Um dos mais destacados fatores externos à universidade de estímulo à criação de

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exemplo por excelência da importância da existência de um marco legal de inovação para o sucesso do empreendedorismo acadêmico. A entrada em vigor do Bayh-Dole Act, em 1980, que determinava que os direitos de propriedade intelectual passavam a pertencer às universidades ou centros de pesquisa, teve efeitos positivos sobre a geração de spin-offs universitárias (Shane, 2004a). Na sequência da aprovação do Bayh-Dole Act, o governo federal passou mais outras quatro leis7, que juntas contribuíram para criar um ambiente favorável às colaborações entre universidade e indústria e à transferência de tecnologia. Ao atribuir as invenções às universidades - ao invés de aos inventores individuais - o Bayh-Dole

Act causou um aumento exponencial nas atividades de patenteamento e licenciamento,

geralmente acompanhadas da criação de escritórios de transferência de tecnologia. Inversamente, uma série de estudos, sobretudo na Europa, indicam que políticas que atribuem invenções aos inventores inibem a criação de spin-offs ou mesmo chegam a criar uma postura anti-empreendedora no corpo docente e na administração da universidade, que nesse cenário não se beneficiam da atividade empreendedora dos acadêmicos (Hsu et al, 2015,O'Shea et. al, 2007b).

Universidades fazem parcerias, participam de redes, desenvolvem estratégias e configurações institucionais para viabilizar o relacionamento com entidades externas (governo, indústria etc) de modo a potencializar a exploração do conhecimento nelas produzido. Em sua análise qualitativa baseada em entrevistas, Guerrero e Urbano (2010) indicam a presença de uma correlação positiva significativa entre fatores internos à universidade e fatores ambientais e seus papeis de ensino e pesquisa. Dentre os fatores ambientais que influenciam os empreendimentos acadêmicos, além do já mencionado papel da universidade no contexto tecnológico e empresarial, destacam-se a disponibilidade de capital de risco, que não só financia como também orienta a operação de novos negócios; a localização em um cluster de alta tecnologia, que facilita o acesso a redes de contatos e a conhecimento especializado; e a criação de legislação específica ou outros mecanismos governamentais que favoreçam a criação de spin-offs (Guerrero e Urbano, 2010; Dodgson e Staggs, 2012; Hsu et al, 2015).

7 Stevenson–Wydler Technology Innovation Act, National Cooperative Research Act, Federal Technology Transfer Act, e Technology Transfer Improvement and Advancement Act.

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Um aprofundamento no tema aponta que pode haver mais fatores que viabilizam e estimulam a criação de spin-offs oriundas da universidade. O estudo de caso do

Massachusetts Institute of Technology (MIT) de O'Shea et. al (2007a) elenca uma série de

fatores, que são potencializados por sinergias entre si, o que resulta em um processo

path-dependent e de difícil replicação. Destaca-se nesse caso o papel crucial do contexto regional

em que a universidade está inserida, que deve ser favorável à atividade empreendedora. Alguns desses fatores podem ser replicados, mas outros, não. A história, por exemplo, não pode ser criada – a missão da universidade, seus principais parceiros e fontes de recursos ao longo do tempo etc. A influência da geografia também é fixa, ao menos no curto prazo. Nesse aspecto, nota-se que o entorno do MIT funciona como uma "incubadora virtual" para empresas nascentes: há venture capital para financiar e orientar novos empreendedores, um conjunto de hospitais em que se pode conduzir testes clínicos de novas tecnologias, além de uma série de prestadores de serviços habituados a trabalhar com start-ups, tais como contadores e agentes imobiliários (O'Shea et. al, 2007a).

A proximidade, física e em termos de relacionamento, da universidade com fontes externas de recursos (sobretudo a indústria) alavanca o financiamento à pesquisa e aumenta significativamente sua propensão à atividade de empreendedorismo acadêmico, além de viabilizar o acesso a informações de mercado, que podem ajudar a direcionar a atividade empreendedora. No caso do MIT, nota-se que a proximidade com empresas de capital de risco também é importante não só pela razão mais evidente de financiar novos negócios, como também pelo fato de que membros do escritório de transferência de tecnologia da universidade discutem com esses investidores sobre novas tecnologias e pesquisas em andamento que apresentam potencial para se tornar novas empresas (O'Shea et. al 2007a).

A localização da universidade cria um círculo virtuoso: a maioria dos estudos empíricos aponta que as contribuições das universidades para o desenvolvimento econômico regional são geograficamente concentradas. Assim, se a universidade se encontra em uma localidade com concentração relativamente alta de empresas de base tecnológica, institutos de pesquisa e ambiente favorável à atividade empreendedora, o conhecimento e inovação nela gerados transbordam e beneficiam seu entorno, que por sua vez aumenta a demanda por tecnologia da universidade. Da mesma maneira, a localização impacta na capacidade da universidade de explorar comercialmente sua tecnologia, uma vez que para tanto depende de uma série de serviços especializados, tais como advogados, investidores e consultores, que se adensam no seu entorno conforme aumenta o volume de transferência de tecnologia. Ou seja,

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o fato de uma universidade estar inserida em um ambiente com relativa concentração de empresas intensivas em conhecimento, centros de pesquisa e indústria, tem impacto positivo em seus resultados de empreendedorismo acadêmico (Hsu et al, 2015).

Características do ambiente econômico e social no entorno da universidade também podem estimular a criação de spin-offs. Dentre eles destacam-se as oportunidades oferecidas pelo setor industrial local e a infraestrutura, bem como o contexto empreendedor e de negócios. Se essa infraestrutura empreendedora de uma região é fraca, a criação de

spin-offs é prejudicada. O estudo de caso conduzido por Algieri et al (2013) na Itália, aponta que o

fator de maior relevância são as atividades em cooperação com a indústria.

Ainda no que diz respeito ao impacto das características socioeconômicas de cada localidade, o estudo de caso conduzido por Davey et al (2016) em quatro países europeus (Reino Unido, Alemanha, Espanha e Polônia), reitera como essa faceta do contexto regional desempenha um papel relevante na extensão do empreendedorismo acadêmico. Destaca-se como as regiões europeias têm diferentes níveis de desenvolvimento econômico e histórias e culturas únicas, o que necessita ser levado em consideração durante a elaboração de políticas. Isso se reflete na importância relativa dos fatores impulsionadores e barreiras estudados pelos autores, que revela-se maior nos países mais desenvolvidos (Alemanha e Reino Unido) e menor nos menos desenvolvidos (Espanha e Polônia), sugerindo que esses últimos têm desafios próprios – que não são capturados pelos fatores impulsionadores e barreiras selecionados – e precisam adaptar estratégias e mecanismos aos seus contextos específicos e não somente imitar estratégias, mecanismos, estruturas e atividades implementadas nos países desenvolvidos.

Um fator externo à universidade que tem destaque especial no estímulo ao empreendedorismo acadêmico é a colaboração em pesquisa e desenvolvimento tecnológico com a indústria (Algieri et al, 2011). A universidade pode facilitar isso agindo ativamente para remover barreiras internas a essa colaboração. Essa atividade tem diversos desdobramentos positivos dentre os quais destacam-se aumentar o financiamento e melhorar a infraestrutura de pesquisa da universidade (Davey et al, 2016), e colaboram para aumentar o capital social de empreendedores potenciais.

No que diz respeito ao capital social, de acordo com o levantamento de Aldridge e Audretsch (2011), dos fatores que caracterizam pesquisadores empreendedores, ele é o de maior impacto na decisão de empreender. O capital social consiste em canais de troca de conhecimento que permitem aos acadêmicos conhecer o mercado, e, portanto, os ajudam

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