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1.4. Consolidação dos principais fatores apontados pela literatura que influenciam a

2.2.2. Brasil e Campinas

2.2.2.2. Contexto externo à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

2.2.2.2.2. Contextualização do marco legal de inovação no Brasil

Entre as décadas de 1950 e 1990, a política de ciência e tecnologia brasileira embasava-se em uma visão linear da inovação. Só a partir de meados da década de 1990 é que as políticas assumem concepções sistêmicas do processo de inovação (Balbachevsky, 2011).

A criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em 1950 marca a institucionalização da política científica brasileira. No mesmo período, o governo buscava a expansão industrial do Brasil e nesse contexto, tanto ciência quanto recursos humanos qualificados são considerados fundamentais para o desenvolvimento nacional - e, portanto, prioritários (Morel, 1979).

As duas décadas seguintes viram a criação de outros atores importantes desse cenário: fundação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) em 1952, com o objetivo de expandir e consolidar a pós-graduação strictu sensu no país; do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) em 1952, para atuar em financiamento e investimento de longo prazo; da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) em 1960, para apoiar a pesquisa científica e tecnológica no Estado de São Paulo, com orçamento anual maior do que todas as fundações similares de outros estados45; da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) em 1967, para oferecer financiamento reembolsável e não reembolsável a empresas e instituições de pesquisa; e do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) em 1969, para financiar e integrar a ciência e tecnologia com a política de desenvolvimento nacional; dentre outros.

Em 1983 houve a primeira grande iniciativa de interação entre governo e mercado na área de ciência e tecnologia: a assinatura de um acordo entre o governo brasileiro e o Banco Mundial para instituir as bases do Programa de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PADCT). Na década de 1980 as agências de fomento foram escolhidas como principal instrumento de política, e nesse contexto, em 1985, foi criado o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) (Pacheco e Corder, 2009). A partir da metade da década observa-se um aumento do estímulo ao empreendedorismo inovador no país, com o aumento da quantidade de parques e incubadoras (Plonski, 2015b).

Em 1991 destaca-se a criação da Lei de Informática (Lei nº. 8.248/91), que concedeu incentivos fiscais para empresas do setor de tecnologia que tenham por prática investir em Pesquisa e Desenvolvimento. Os incentivos fiscais consistem em redução do IPI em produtos incentivados. Em contrapartida, as empresas devem investir no mínimo 5% do seu faturamento bruto anual no mercado interno.

A segunda metade da década de 1990 é marcada por uma série de reformas importantes nas políticas nacionais de ciência, tecnologia e inovação que tinham por objetivo eliminar a histórica desarticulação entre as políticas nacional, industrial e de desenvolvimento econômico no Brasil (Pacheco e Corder, 2009).

Os anos 2000, por sua vez, foram significativos para o sistema de ciência e inovação no Brasil. Houve crescente participação internacional da ciência brasileira, conforme demonstra a taxa anual média de quase 10% de aumento nas publicações Science Citation Index (SCI) por habitante. Além disso, a inovação passou a ser percebida como desafio nacional.

Em 2004 foi promulgada a Lei de Inovação (lei nº. 10.973/04) que trata do estímulo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica. A lei regulamenta as relações entre universidade e empresas, incentiva estas a investirem em inovação e vislumbra um modo de desenvolvimento que permite aliar a produção científica à atividade industrial. A Lei de Inovação tornou obrigatório que toda Instituição de Ciência e Tecnologia no Brasil tenha um Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) (próprio ou em associação com outra ICT). No início dos anos 2000, antes de sua promulgação, apenas 5% das ICTs do Brasil tinham NITs implementados, em 2012 já eram 34% (Torkomian, 2012) e em 2015 essa quantidade chega a 68% (MCTI, 2015). As funções mínimas de um NIT são "zelar pela

manutenção política institucional de estímulo à proteção das criações, licenciamento, inovação e transferência de tecnologia, além de negociar e gerir os acordos de TT oriundos

da ICT" (BRASIL, 2016).

No ano seguinte, em 2005, é implementada a Lei do Bem (lei n.º 11.196/05), que regula incentivos fiscais de estímulo a atividades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico nas empresas. Juntamente com os fundos setoriais e o arcabouço legal de propriedade intelectual, dentre outras iniciativas, essas leis configuram o conjunto de medidas adotadas pelo governo para viabilizar a inovação em território nacional (Cassiolato e Lastres, 2005).

Em 2008 é sancionada a Lei de Inovação do Estado de São Paulo (lei complementar nº. 1.049/08). Tratou-se do quinto estado brasileiro a criar sua própria lei de inovação. A lei instituiu o Sistema Paulista de Inovação Tecnológica, para promover o desenvolvimento do estado por meio da inovação tecnológica, além de estabelecer medidas de incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica. Destaca-se, no âmbito do fomento ao empreendedorismo acadêmico, que essa lei passou a autorizar pesquisadores a “licenciar-

se do cargo efetivo ou emprego público que ocupam para constituir empresa de base tecnológica ou colaborar com empresa cujos objetivos envolvam a aplicação de inovação tecnológica que tenha por base criação de sua autoria” (lei complementar nº. 1.049/08,

capítulo IV, artigo 13). Outra possibilidade é que os pesquisadores públicos prestem

“consultoria técnico-científica aos setores da produção (lei complementar nº. 1.049/08,

capítulo IV, artigo 14)”, possibilitando assim que mesmo aqueles que não queiram empreender diretamente, possam ajudar no desenvolvimento de novos negócios oriundos de pesquisa da universidade.

Ainda nos anos 2000 destacam-se duas iniciativas que articulam diferentes esferas de governo para financiar atividades de pesquisa e desenvolvimento: o Plano de Ação em CT&I (PACTI) 2007-2010, que associava competências dos governos federal, estaduais e municipais para impulsionar o desenvolvimento e fortalecimento da ciência, tecnologia e inovação no país; e o Programa de Apoio à Pesquisa em Empresas (PAPPE), iniciativa do MCTI, lançada em 2006 pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) em parceria com Fundações de Amparo à Pesquisa estaduais para financiar pesquisa e desenvolvimento de produtos ou processos inovadores realizada por pesquisadores em parceria com empresas de base tecnológica.

Na década corrente observa-se o fortalecimento da institucionalização da inovação no Brasil, marcada por (i) lançamento da Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI), em 2011 e implementada em articulação com a política industrial, que destaca a importância da ciência, tecnologia e inovação como eixo estruturante do desenvolvimento do país; (ii) acréscimo da Inovação ao nome do Ministério da Ciência e Tecnologia em 2011 (atual Ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações) e finalmente (iii) aprovação em 2014 da Emenda Constitucional nº85/15, que inclui o Sistema Nacional de CT&I na Constituição Federal (Plonski, 2015a).

O Quadro 2.7 a seguir apresenta o ano de criação e objetivo das principais instituições que marcaram ou apoiaram o avanço do marco legal de inovação no Brasil.

Quadro 2.7 Principais órgãos governamentais de apoio à inovação no Brasil

Ano de

fundação Nome Objetivo

1950

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (CNPq)

Incentivar a pesquisa e institucionalizar a política científica no país.

1952

Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)

Expandir e consolidar a pós-graduação no país.

1952

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico

(BNDE)

Financiar e investimento de longo prazo.

1960

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

(FAPESP)

Apoiar a pesquisa no estado de São Paulo.

1967

Financiadora de Estudos e

Projetos (FINEP) Financiar C&T.

1969

Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (FNDCT)

Financiar e integrar C&T e política de desenvolvimento nacional.

1983

Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (PADCT)

Criado por uma parceria entre governo federal e Banco Mundial para financiar a C&T no

país. 1985

Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT)

Fundação do Ministério da Ciência e Tecnologia (atual Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações).

2004 Lei de Inovação

Regulamentar relação entre universidade e empresa, institui obrigatoriedade de NITs em

institutos de pesquisa e universidades. 2005 Lei do Bem Regula incentivos fiscais de estímulo à P&D. 2006

Programa de Apoio à pesquisa em Empresas (PAPPE)

Iniciativa do MCTI lançada pela FINEP em parceria com FAPs para financiar

desenvolvimentos inovadores 2007-2010 Plano de ação em Ciência,

Tecnologia e Inovação (PACTI)

Impulsionar desenvolvimento e fortalecimento da CT&I nos âmbitos federal, estadual e

municipal. 2011

Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação

(ENACTI)

Destacar a importância da CT&I como eixo estruturante do desenvolvimento do país. 2014 Emenda Constitucional 85/15 Incluir o Sistema Nacional de CT&I na

Constituição Federal.