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Os fatores internos às universidades que influenciam na criação de spin-offs

1.3. Os fatores determinantes da criação de spin-offs

1.3.2. Os fatores internos às universidades que influenciam na criação de spin-offs

Há uma linha de estudos que se centra na análise dos fatores internos à universidade empreendedora e busca relacionar a quantidade de atividades de spin-offs com os recursos das universidades, tais como nível e natureza dos fundos utilizados para financiar a pesquisa; a estratégia, infraestrutura e sistemas de incentivo à transferência de tecnologia e à geração de spin-offs acadêmicas. Trata-se, portanto, do que Guerrero & Urbano (2010) categorizam como fatores formais: os recursos (humanos, físicos e financeiros), como o capital humano, a estrutura organizacional relacionada ao empreendedorismo e as medidas de apoio ao empreendedorismo, incluindo educação em empreendedorismo. Nesse corpo de literatura, são analisados, por exemplo, os papéis dos escritórios de transferência de tecnologia e estruturas de apoio no processo de criação de novas empresas; o impacto dos programas educacionais na orientação e desenvolvimento de habilidades e comportamentos dos estudantes em relação ao empreendedorismo, assim como os sistemas de recompensa.

A forma como os recursos são usados e organizados pode influenciar no desenvolvimento de spin-offs e no tipo e quantidade de empresas que poderão ser criadas. A opção por criar poucas empresas que tenham o potencial de se tornar empresas globais e gerar ganhos significativos de capital ou muitas empresas pequenas voltadas para a criação de empregos locais demanda um perfil totalmente diferente de alocação e gerenciamento de recursos por parte da universidade. Essa constatação leva a inferir que o tipo de spin-off que pode ser criada em uma universidade deve estar alinhada às capacidades e recursos disponíveis na instituição (Clarysse et al., 2005).

Neste caso, os acadêmicos são os recursos humanos mais importante tanto para a educação quanto para a geração de inovação por meio da pesquisa (Guerrero & Urbano, 2010). Vários fatores têm sido associados pela literatura ao pesquisador acadêmico que se envolve em atividades de empreendedorismo. Entre os principais estão: a quantidade de financiamento governamental para pesquisa recebida pelo pesquisador; a qualidade do acadêmico (mensurada pelo número de citações); participação em projetos de pesquisa financiados pela indústria, e o tamanho e a qualificação da equipe de pesquisadores liderada

pelo acadêmico (O’Shea et al., 2005; Powers e MacDougall, 2005). Há que se mencionar ainda os fatores subjetivos, tais como a motivação do acadêmico para empreender, sua inclinação para formar redes, experiências prévias em empreendedorismo, foco nas atividades de comercialização e planejamento e o nível de experiência do pesquisador na indústria (o que também gera um efeito positivo sobre a produção de patentes). Considera-se que os acadêmicos com experiência prévia em empreendedorismo já acumularam conhecimento tácito sobre o processo de comercialização de tecnologia e que a experiência no setor privado pode ter proporcionado o desenvolvimento de habilidades únicas relacionadas à tecnologia ou invenção que eles pretendem comercializar. A parceria com atores externos à universidade, por sua vez, pode colaborar para aumentar a produtividade tanto acadêmica quanto comercial dos pesquisadores (Marion et. al, 2015). Outro aspecto que pode contribuir para aumentar a produtividade comercial da universidade, e também está diretamente relacionada à disponibilidade de recursos humanos, é a educação empreendedora, já que se parte do princípio de que o pesquisador precisa de pessoas qualificadas para criar uma nova empresa e que esses recursos podem estar disponíveis na universidade se forem preparados para tal. Atividades educacionais focadas, por exemplo, em design de produto e desenvolvimento, prototipagem, tendências tecnológicas e criatividade podem capacitar pessoas para fazerem avançar a ideia original. Outro tópico essencial da educação empreendedora seria a análise de mercado, por exemplo (Nelson e Byers, 2015).

Em se tratando de recursos financeiros, a literatura destaca que a origem e a quantidade de recursos direcionados para a pesquisa são determinantes para a geração de spin-

offs, já que a pesquisa financiada com recursos privados tem maior probabilidade de ser

comercializada, enquanto que a pesquisa financiada com recursos oriundos da indústria é mais suscetível à transferência de tecnologia (O’Shea et. al. 2005; Powers e MacDougall, 2005). Por outro lado, vale notar que a natureza e área da pesquisa também influenciam na propensão a comercializar os resultados de pesquisa, já que, como destacam Nelson e Byers (2015), as áreas de ciências biológicas, ciências da computação e química são mais propensas à criação de spin-offs. A natureza e a área de pesquisa também determinam a quantidade de recursos físicos e financeiros e tipos de pessoas, de forma que a infraestrutura da universidade (ou mesmo a infraestrutura regional) pode não conseguir prover os recursos necessários para uma ampla gama de setores (Nelson e Byers, 2015).

No que diz respeito aos recursos físicos, a literatura observa a presença de incubadoras de empresas, fundamentais nos primeiros anos de existência das spin-offs, quando as relações entre pesquisadores e universidades são mais intensas, e também de

research parks (termo mais utilizado nos Estados Unidos) e science parks (termo mais

frequente na Europa) – sendo ambos associados às universidades8. Tanto a incubadora quanto os parques tecnológicos funcionam como "instituições ponte", tendo por função facilitar a difusão da pesquisa acadêmica para o setor privado. Nesse sentido, as conexões formais e informais dos atores do setor privado com os pesquisadores universitários, que são facilitadas pela proximidade física, são fatores que facilitam essa difusão, especialmente quando a inovação requer a aplicação de conhecimento e técnicas de fronteira, como observam Link e Scott (2015).

Já em se tratando de estrutura organizacional, é o escritório de transferência de tecnologia que serve como um intermediário entre os ofertantes de inovações (os acadêmicos) e aqueles que podem comercializar essas inovações (firmas, empreendedores e capitalistas de risco). O escritório de transferência de tecnologia facilita a transferência da propriedade intelectual produzida na universidade, seja por meio do licenciamento de tecnologia para firmas existentes ou pela criação de novas empresas, atividade que mais recentemente tem se estendido também aos estudantes, como visto anteriormente. Ao analisar a contribuição dos escritórios de transferência de tecnologia das universidades italianas para a criação de spin-

offs, Algieri et al. (2013), observaram que quanto mais anos de experiência tiver o escritório,

maior será a acumulação de conhecimento heterogêneo e melhores serão os resultados em termos de criação de spin-offs.

A criação de spin-offs sempre apareceu na literatura de empreendedorismo acadêmico como um dos indicadores de produtividade dos escritórios de transferência de tecnologia ou como parte do processo de transferência formal de propriedade intelectual da universidade (Rothaermel et al., 2007). Especialmente na última década, a contribuição dos escritórios de transferência de tecnologia na criação de spin-offs tem sido analisada de forma mais específica. Uma das questões apontadas pela literatura diz respeito ao desafio do escritório de transferência de tecnologia em intermediar conflitos entre os detentores da

8 De acordo com Link e Scott (2015), um research park é um aglomerado de organizações localizadas no campus universitário (ou perto dele) com o objetivo de beneficiar a base de conhecimento da universidade e das pesquisas em andamento.

invenção (cientistas universitários) e aqueles que podem potencialmente comercializá-la (firmas, capitalistas de risco e empreendedores). O escritório de transferência de tecnologia pode ser o elemento central na realização de contratos que equilibrem os ganhos entre pesquisadores, empreendedores, investidores e universidades, tendo em vista que a criação de uma spin-off pode gerar retornos financeiros muito mais elevados para a universidade do que o licenciamento de tecnologia (Siegel e Wright, 2015). Além da questão do balanceamento dos contratos, os escritórios de transferência de tecnologia devem, em tese, ter mais expertise que o cientista acadêmico na identificação de oportunidades e desenvolvimento de spin-offs, além de dispor de uma rede de contatos comerciais (Lockett et. al, 2005).

Por outro lado, há quem afirme, como Clarysse et. al. (2011), por exemplo, que o papel do escritório de transferência de tecnologia de incrementar as atividades empreendedoras dos acadêmicos é mais limitado do que se imagina, já que os resultados são apresentados em termos de transferência formal de tecnologia. Segundo o autor, há que se incluir aquelas empresas que não foram criadas a partir da transferência formal de tecnologia, tais como as resultantes do empreendedorismo estudantil. Nessas circunstâncias, cabe observar que as iniciativas de apoio e conscientização também se estenderam ao corpo discente, e vão desde a introdução de disciplinas relacionadas ao empreendedorismo até a organização de eventos para estimular novas iniciativas e proporcionar mentoria (Clarysse et al., 2009). Nesse sentido, alguns estudos recentes (Siegel e Wright, 2015a; Wrigth et al., 2017) apontam para a necessidade de se elucidar os fatores por trás da criação spin-offs por estudantes. Eles mencionam as iniciativas de promoção adotadas pelas universidades, mas afirmam que ainda não estão claros os motivadores deste tipo de empreendedorismo. A dificuldade em entender e mapear as redes de atores aos quais os estudantes podem ter se vinculado é uma das principais razões mencionadas por esta literatura mais recente.

Por fim, vale mencionar entre os fatores internos à universidade, os sistemas de recompensa, que podem ser monetários (bônus, uso de recursos corporativos e partilha de lucros) e não monetários (promoções e sistemas de reconhecimento). Os membros da universidade buscam informações sobre quais atividades são recompensadas pela instituição e direcionam seu comportamento para essas atividades, de forma que se as universidades querem fomentar atividades de empreendedorismo, elas devem implementar sistemas de recompensa também para realizações empreendedoras (além de pesquisa e ensino). Ou seja, quanto melhor o sistema de recompensa, maior a intenção dos pesquisadores de criar spin-