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1.3. Os fatores determinantes da criação de spin-offs

1.3.3. Os fatores relacionados ao contexto sociocultural da universidade

Todavia, não há como ignorar o ambiente institucional, considerando que o contexto pode estimular ou restringir o engajamento dos pesquisadores nas atividades de empreendedorismo (Bercovitz e Feldman, 2008; Huyghe e Knockaert, 2015). Partindo da abordagem institucionalista – para a qual as instituições podem moldar os objetivos e crenças dos atores –, Huyghe e Knockaert (2015), destacam que as características das universidades influenciam no quanto os pesquisadores podem desejar ou não se engajar em atividades empreendedoras. A partir de uma pesquisa da qual participaram 437 pesquisadores de seis universidades suecas e alemãs, e que teve como foco investigar o papel do clima e da cultura organizacional, os autores apresentam evidências de que o contexto das universidades pode sim moldar as intenções dos pesquisadores em se engajarem na criação de spin-offs e patenteamento dos resultados das suas pesquisas. Quanto mais as universidades enfatizam o empreendedorismo acadêmico em suas missões, em comparação às atividades de pesquisa e ensino, maiores serão as intenções dos cientistas de se engajar na criação de spin-offs e na proteção de propriedade intelectual. Por outro lado, as mudanças de contexto dependem do desejo dos indivíduos de adotar novas regas, rotinas e comportamentos. Sendo assim, se os indivíduos não estiverem dispostos a aceitar mudanças e aumentar o engajamento nas iniciativas de criação de spin-offs, não basta que a universidade mude sua estrutura organizacional de forma a promover o empreendedorismo (Bercovitz e Feldeman, 2008).

Nesse sentido, conforme explicam Monge et al (2011) os principais determinantes institucionais da criação de spin-offs acadêmicas são: a missão da universidade, sua cultura, história e tradição. Quanto mais esses fatores estão direcionados à criação de empresas ou à colaboração com a indústria, maior a propensão de a criação de spin-offs ser escolhida como mecanismo de comercialização dos resultados de pesquisa. Em contrapartida, a estratégia de

publish or perish, a relação ambígua dos pesquisadores com o dinheiro e a natureza

desinteressada da pesquisa acadêmica frequentemente são forças contrárias que dificultam qualquer tipo de criação de spin-offs ou até mesmo a transferência de tecnologia por outras vias (O'Shea et al, 2007b, Monge et al, 2011).

Guerrero e Urbano (2011) sugerem que o modelo conceitual de uma universidade empreendedora é composto por fatores ambientais e internos. Ainda de acordo com a abordagem institucionalista, os autores propõem uma divisão dos fatores ambientais em formais (estrutura de governança e organização empreendedora, medidas de apoio ao empreendedorismo, e educação empreendedora) e informais (atitudes da comunidade

universitária em relação ao empreendedorismo, metodologias de ensino de empreendedorismo, sistema de incentivos e empreendedores modelo). Os fatores internos, por sua vez, são divididos em recursos (humanos, financeiros, físicos e comercia) e competências (status, prestígio, redes e alianças, e localização), de acordo com a visão baseada em recursos9.

Uma análise estatística de dados de 50 universidades espanholas revelou que os fatores ambientais são condicionados de forma mais significativa por fatores informais, ou seja, os fatores mais críticos para determinar o nível de atividade empreendedora das universidades estão relacionados a uma atitude positiva dos pesquisadores e estudantes acerca do tema empreendedorismo. Dito de outra forma, os fatores ambientais, se comparados aos fatores internos, geram uma contribuição maior para as missões das universidades empreendedoras (Guerrero e Urbano, 2011).

Em seu estudo de caso do MIT, O'Shea et al (2007a) explicam que a literatura que se dedica a explicar a criação de spin-offs divide-se em quatro principais vertentes: características pessoais do indivíduo empreendedor, características estruturais e recursos das universidades, normas sociais e comportamento institucional, e finalmente, o impacto nos acadêmicos de forças sociais, econômicas e organizacionais. No que diz respeito à terceira vertente, que argumenta que universidades cuja cultura apoia atividades de comercialização terão maiores níveis de criação de spin-offs e transferência de tecnologia, os dados do estudo de caso sugerem que a presença dos seguintes fatores podem ser significativos para explicar o sucesso do MIT: a excelência em pesquisa (sobretudo interdisciplinar); redes formais e informais entre governo, indústria e academia; estrutura organizacional (sobretudo escritório de transferência de tecnologia e programas de empreendedorismo); firme compromisso com a exploração da pesquisa (políticas claras e aplicadas de maneira consistente no apoio à formação de start-ups10 por acadêmicos); escritório de transferência de tecnologia dotado de funcionários com treinamento técnico e experiência na indústria; tradição e histórico de comercialização de tecnologias radicais via start-ups; atitude positiva dos acadêmicos em

9 Do inglês: Resource Based View (RBV).

10 Ainda que haja diferenças conceituais entre start-up e spin-off, nessa dissertação consideramos que ambas são sinônimos para empresas resultantes da atividade de empreendedorismo acadêmico. Atualmente, o empreendedorismo acadêmico abrange as atividades de patenteamento, licenciamento, criação direta e indireta de novas empresas, parceria universidade-empresa e também o desenvolvimento econômico e regional (Rothaermel et al, 2007; Grimaldi et. al., 2011; Siegel e Wright, 2015).

relação à comercialização de tecnologias e a criação de empresas e tradição de financiamento industrial e militar da pesquisa.

Além desses fatores, observa-se um processo sistêmico, a partir do qual os efeitos de aprendizado de sucessos prévios determinam parcialmente as atividades atuais de spin-off. O estudo de caso do MIT aponta que a missão original da universidade, o comprometimento de indivíduos-chave com a atividade de comercialização e o sucesso na criação de spin-offs e transferência de tecnologia juntos contribuíram para construir uma cultura que hoje impulsiona a atividade empreendedora (O'Shea et al, 2007a).

Huyghe e Knockaert (2015) abordam a organização como instituição e situam a pesquisa em uma corrente específica da teoria institucional, chamada de “novo institucionalismo”. Nessa abordagem teórica, as instituições são instrumentais em moldar os objetivos e crenças dos atores, que por sua vez, afetam forças motivacionais e comportamentos. Sendo assim, os autores argumentam que o contexto institucional no qual os pesquisadores estão inseridos pode estimular ou restringir o engajamento em atividades de empreendedorismo. Os autores sugerem que as características das universidades, em termos de cultura organizacional e clima organizacional, influenciam a extensão das atividades empreendedoras pretendidas pelos pesquisadores. O estudo traz evidências de que as universidades podem moldar as intenções dos pesquisadores de se engajarem na criação de

spin-offs, patenteamento e interação com a indústria, ao oferecerem um ambiente institucional

que promova o empreendedorismo acadêmico. Quanto mais as universidades enfatizam o empreendedorismo acadêmico em suas missões em comparação às missões tradicionais de pesquisa e ensino, maiores serão as intenções dos cientistas de se engajarem na criação de

spin-offs e propriedade intelectual. Outros aspectos que se destacam são a presença de

modelos de empreendedores11 que levam ao fortalecimento das intenções por parte dos pesquisadores em imitar o mesmo mecanismo de comercialização, e melhores sistemas de recompensa, que impactam significativamente a intenção dos pesquisadores de criar spin-offs, patentear ou licenciar.

Instituições que ainda não têm uma base cultural favorável à atividade empreendedora devem tomar iniciativas práticas e criar mecanismo abrangentes, que tornem claro que existe apoio institucional ao empreendedorismo. Por exemplo, normas departamentais, receptividade do escritório de transferência de tecnologia, participação

adequada dos pesquisadores nas receitas de transferência de tecnologia (sejam elas royalties ou equity) ou políticas de licença favoráveis, para que os acadêmicos possam se afastar da universidade por um período de tempo para empreender (Siegel et al, 2004, O'Shea et al, 2007b, Hsu et. al, 2015).