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1.4. Consolidação dos principais fatores apontados pela literatura que influenciam a

2.2.1. Reino Unido e Cambridge

2.2.1.2. Contexto externo à universidade de Cambridge

2.2.1.2.4. Parcerias e redes

Um marco no desenvolvimento das parcerias e redes em Cambridge foi a fundação, em 1960, da empresa de consultoria Cambridge Consultants. Tratou-se de uma iniciativa pioneira que tinha por objetivo viabilizar parcerias de pesquisa ou consultoria entre a indústria e a universidade. Fundada por ex-alunos da Engenharia Química, a empresa foi a primeira a propor a formalização e sistematização dos relacionamentos externos que muitos pesquisadores da universidade já possuíam. Além de sua importância pelo pioneirismo, a

Cambridge Consultants também colaborou, com seu sucesso, para a internacionalização de

Cambridge através do estabelecimento de um robusto setor de consultoria internacional na região (Garnsey & Heffernan, 2005; Minshall & Gill, 2011; Kirk & Cotton, 2012).

Há na região de Cambridge uma série de laboratórios com fortes vínculos com as universidades locais através de atividades de ensino e pesquisa. Suas fontes de financiamento são variadas: governo, ONGs, empresas ou o Medical Research Council do Reino Unido, dentre outros. Localizados em ambiente fértil para a inovação tecnológica, realizam pesquisa de ponta em parceria com as universidades e frequentemente geram spin-

outs.

Dentre as parcerias mais frequentes da universidade, destacam-se aquelas com a indústria e o governo. O Gráfico 2.6 apresenta, para o período de 2003 a 2016, as receitas da universidade de Cambridge com: (i) pesquisa colaborativa, (ii) prestação der serviços de pesquisa (pesquisa contratada), (iii) consultoria e (iv) comercialização de propriedade intelectual. Apesar das variações, observa-se que os ganhos obtidos através de pesquisa com indústria (colaborativa ou contratada) são sistematicamente maiores do que aqueles advindos da comercialização de propriedade intelectual e consultoria.

Além disso, observa-se que mesmo mais de dez anos após as mudanças governamentais que aumentaram o financiamento para transferência de tecnologia, sua receita continua sistematicamente inferior àquela obtida pela execução de pesquisa junto com, ou para, a indústria. Ou seja, se o objetivo do governo é que as universidades se tornem financeiramente mais autônomas e menos dependentes de recursos públicos, a comercialização de propriedade intelectual de fato não parece ser o caminho mais indicado.

Para uma análise mais aprofundada podemos observar também o Gráfico 2.7 e o Gráfico 2.8 que apresentam informações mais detalhadas sobre cada fonte de receita. No caso da pesquisa colaborativa, vê-se no Gráfico 2.7 que se trata de fontes eminentemente governamentais. Nos anos de 2003 e 2004 ainda havia aproximadamente um terço de aporte de outras instituições, categoria na qual encontram-se, dentre outros, empresas. Todavia, a partir de 2005 há uma queda brusca nessa categoria, acompanhada de um grande aumento no investimento feito pelo governo do Reino Unido (que quase quadruplica) e do governo da União Europeia (que duplica).

Gráfico 2.6 Receita da universidade de Cambridge com pesquisa colaborativa, pesquisa contratada, consultoria e comercialização de propriedade intelectual (2003-2016)

Fonte: Elaboração própria a partir da Higher education - business and community interaction survey (2002-03 a 2015-16)29

Gráfico 2.7 Faturamento anual da Universidade de Cambridge com pesquisa colaborativa por fonte dos recursos (2003-2016)

Fonte: Elaboração própria a partir da Higher education - business and community interaction survey (2002-03 a 2015-16). 29 http://www.hefce.ac.uk/ke/hebci/archive/ 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2015 2016 C om p os ão d a re ce it a an u al Comercialização de PI Consultoria Pesquisa contratada Pesquisa colaborativa £0 £20 £40 £60 £80 £100 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2015 2016

Faturamento anual (milhões)

A

n

o

Conselhos de pesquisa

Outros deptos governo Reino Unido Governo União Europeia

Já o Gráfico 2.8 mostra o faturamento anual das diferentes fontes de pesquisa contratada (contract research) da Universidade de Cambridge no período de 2003 a 2016. Nota-se que a vasta maioria dos recursos advém da interação com grandes empresas e há poucos casos de outros (governo, ONGs etc), além de uma queda brusca na quantidade de pesquisa contratada por pequenas empresas, que só apresenta sinais de recuperação em 2015.

Gráfico 2.8 Faturamento anual da Universidade de Cambridge com pesquisa contratada por fonte de recursos (2003 - 2016)

Fonte: Elaboração própria a partir da Higher education - business and community interaction survey (2002-03 a 2015-16).

Sabe-se ainda que, na vasta maioria dos casos, para que se concretizem os contratos de pesquisa contratada ou colaborativa, ou ainda de consultoria, bem como outras formas de interação e troca de conhecimento entre universidade e parceiros (indústria, governo, etc) é necessário que antes haja contato direto entre essas instituições. Ou seja, os mecanismos de engajamento entre universidade e parceiros potenciais são de grande importância e devem ser mais estimulados (Wilson, 2012). Nesse sentido, há na região uma série de iniciativas para fomentar tais interações. O Quadro 2.2 apresenta três que foram criadas pela própria universidade.

£0.0 £0.5 £1.0 £1.5 £2.0 £2.5 £3.0 £0 £5 £10 £15 £20 £25 £30 £35 £40 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018 P e q u e n a s e m é d ia s - M il h õ e s G r a n d e s, o u tr o s e t o ta l - M il h õ e s

Quadro 2.2 Iniciativas da Universidade de Cambridge para fomentar o engajamento entre a comunidade acadêmica e parceiros potenciais

Nome Descrição

Enterprise Tuesday Curso aberto à comunidade acadêmica e da região. Visa apresentar questões básicas dos temas de inovação e empreendedorismo. Palestrantes oriundos de indústria, governo, academia, spin-offs etc.

Cambridge University Enterprise Network (CUEN)

Portal da universidade para membros da comunidade acadêmica interessados em empreendedorismo e inovação. Reúne informações sobre as diversas iniciativas da universidade nessas áreas, tais como cursos, eventos de networking, apoio para abrir um negócio ou comercializar tecnologia.

Industry Engagement Forums

Eventos de um dia de duração em que acadêmicos (docentes, pesquisadores ou estudantes de pós-graduação) reúnem-se com representantes da indústria para identificar áreas de interesse comum. Promovidos pelo escritório de transferência de tecnologia da

universidade (Cambridge Enterprise).

Fonte: Elaboração própria.

Adicionalmente, a região conta com uma vasta gama de redes e eventos com o mesmo objetivo. Trata-se de iniciativas que não foram criadas pela universidade, mas contam com sua ativa participação. Sua listagem e breve descrição encontram-se no Quadro 2.3.

Quadro 2.3 Redes e eventos da região de Cambridge para fomentar o engajamento entre universidade e parceiros potenciais

Nome Descrição

Cambridge Network Associação que promove a interação entre academia e indústria para compartilhar ideias, estimular parcerias e projetos colaborativos. É o mais notório grupo de networking da região.

Business Leaders’ Network (BLN)

Rede que faz eventos para promover a interação,

investimento e discussão entre indivíduos de diversos clusters de inovação do Reino Unido.

Cambridge High-tech Association of Small Enterprises (CHASE)

Associação de start-ups e pequenas empresas de base tecnológica da região de Cambridge.

Cambridgeshire Chamber of Commerce

Organização que promove oportunidades de networking para empresas locais e simultaneamente representa seus interesses junto ao governo.

Connected Cambridge Parte de uma rede de comunidades empreendedoras pelo mundo que ter por objetivo compartilhar experiências.

Envirotech Rede de negócios específica para a área de energia e mercados ambientais.

vida, tem uma unidade em Cambridge e uma em Londres, que formam o maior cluster de ciências da vida e saúde da Europa.

Cambridge Tech Meetup Grupo de networking para quem trabalha com tecnologia na região de Cambridge.

CamCreative Grupo de networking para as áreas de design gráfico e de web, mídia, literatura, artes visuais e performáticas, multimídia e cultura em geral.

CamTechNet Grupo para reunir informação para profissionais trabalhando na área de tecnologia em Cambridge.

MakeSpace Laboratório de prototipagem aberto para empreendedores, indústria e demais pessoas e instituições que trabalham com inovação.

Cambridge Corporate Gateway

Encontro bianual que proporciona a empresa de todo o mundo a oportunidade de acessar o cluster de tecnologia da região e pesquisa da universidade.

Cambridge Technology Management Symposium

Simpósio anual que parte de práticas e pesquisa de ponta para abordar desafios nas áreas de tecnologia e gestão da

inovação.

OneNucleus Annual Conference

Conferência anual de ciências da vida de saúde. Maior evento do gênero da Europa.

Greater Cambridge Partnership (GCP) Conference

Evento anual que reúne a academia e os setores público e privado para discutir questões de política da região.

High Value Manufacture Conferences

Fóruns para discutir tópicos relacionados a manufatura de alto valor.

Silicon Valley Comes to Cambridge

Evento anual que reúne investidores e empreendedores do Vale do Silício e de Cambridge.

Technology Ventures Conference

Conferência anual que permite a interação de empreendedores, investidores e pesquisadores.

Fonte: Elaboração própria.

Finalmente, no que diz respeito à disponibilidade de capital, o histórico da região de Cambridge inicia-se em 1978, quando o banco britânico Barclays começa a realizar investimento em novas empresas. Todavia, em função das divergências entre o investimento bancário e as necessidades das empresas eminentemente tecnológicas da região, a partir do final da década de 1990, e sobretudo nos anos 2000, passam a ser criados e a se instalar na região, investidores especializados.

Atualmente Cambridge conta com oito fontes de venture capital e quatro de investimento anjo externas à universidade – além das várias iniciativas de financiamento da própria universidade, que serão abordadas no item 2.2.1.3.4 a seguir. Conforme se pode

observar no Quadro 2.4 e no Quadro 2.5, há grande variedade de fundos e também em suas áreas de atuação.

Quadro 2.4 Fontes de investimento anjo da região de Cambridge externas à universidade

Nome Área de atuação

Cambridge Angels Grupo de investidores anjo criado para investir e acelerar start-ups da região.

Cambridge Capital Group

Grupo de investidores anjo que investe em empresas de base tecnológica de todas as áreas.

Choir of angels Grupo informal de anjos que investe em áreas em que seus membros têm expertise para também aportar conhecimento.

Great Eastern Investment Forum

Rede de anjos. Às vezes trabalha em parceria com GEIF Ventures.

Fonte: Elaboração própria.

Quadro 2.5 Fontes de venture capital da região de Cambridge externas à universidade

Nome Área de atuação

Amadeus Capital Partners Comunicação, computação (hardware e software), mídia, e- commerce, medicina e energias limpas.

Avlar BioVentures Biotecnologia, ciências da vida, medicina e saúde.

Create Partners Todas.

DFJ Esprit Mídia, telecomunicações e saúde.

ET Capital Empresas de alto crescimento em todas as áreas.

GEIF Ventures Investe em estágios iniciais.

IQ Capital Semente, early stage e expansão para empresas de base tecnológica.

TTP Venture Managers Semente e early stage para empresas de base tecnológica.

Fonte: Elaboração própria.