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Microcrédito: análise do padrão sócio-econômico e inserção social dos empreendedores financiados – um estudo da experiência do CEAPE / Salvador e região metropolitana (2000 – 2007)

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FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS

VANESSA SANTOS

MICROCRÉDITO: ANÁLISE DO PADRÃO SÓCIO-ECONÔMICO E INSERÇÃO SOCIAL DOS EMPREENDEDORES FINANCIADOS – UM ESTUDO DA EXPERIÊNCIA DO CEAPE/SALVADOR E REGIÃO METROPOLITANA

(2000 – 2007)

SALVADOR 2009

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VANESSA SANTOS

MICROCRÉDITO: ANÁLISE DO PADRÃO SÓCIO-ECONÔMICO E INSERÇÃO SOCIAL DOS EMPREENDEDORES FINANCIADOS – UM ESTUDO DA EXPERIÊNCIA DO CEAPE/SALVADOR E REGIÃO METROPOLITANA

(2000 – 2007)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado no curso de graduação de Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Ciências Econômicas.

Orientador: Prof. Dr. Henrique Tomé da Costa Mata

SALVADOR 2009

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Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Santos, Vanessa

S237 Microcrédito: análise do padrão sócio-econômico e inserção social dos empreendedores financiados – um estudo da experiência do CEAPE / Salvador e região metropolitana (2000 – 2007) / Vanessa Santos. – Salvador, 2009.

78 f. Il.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Economia) – Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade Federal da Bahia.

Orientador: Prof. Dr. Henrique Tomé da Costa Mata.

1. Microcrédito. 2. Pequeno empreendedor. 3. Pequenas e médias empresas. 4. Microfinanças. I. Mata, Henrique

Tomé da Costa. II. Título.

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VANESSA SANTOS

MICROCRÉDITO: ANÁLISE DO PADRÃO SÓCIO-ECONÔMICO E INSERÇÃO SOCIAL DOS EMPREENDEDORES FINANCIADOS – UM ESTUDO DA EXPERIÊNCIA DO CEAPE/SALVADOR E REGIÃO METROPOLITANA (2000 – 2007)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado no curso de graduação de Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Ciências Econômicas.

Aprovada em dezembro de 2009. Banca Examinadora

Orientador: ____________________________________ Prof. Dr. Henrique Tomé da Costa Mata Faculdade de Economia da UFBA

Orientador: ____________________________________ Prof. Mestre Raymundo José Garrido Faculdade de Economia da UFBA

Orientador: ____________________________________ Prof. Mestre Lielson Coelho

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A minha avó, mãe, tias, irmãos, namorado e primos pelo carinho, amor e compreensão.

Aos familiares e amigos pelo apoio e incentivos em todos os momentos.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente ao Deus todo poderoso por guiar os meus passos e estar sempre a meu lado em todos os momentos da minha vida, como o da realização deste trabalho.

A meus familiares, pelo carinho e dedicação, principalmente à minha avó Maria pela dedicação, amor e cuidado que sempre me prestou. A minha mãe Vanilza, irmãos Arley e Leandro e tias Renilda e Fátima pelo carinho, respeito e compreensão, tendo em vista a minha ausência em muitos momentos pelo tempo dedicado aos estudos – amo todos vocês. A Flávio, companheiro de todos os momentos que, com muito amor e carinho tem me incentivado e tornado a minha vida repleta de felicidade.

A meus queridos amigos que sempre estiveram alegrando o meu coração e fazendo florir o meu jardim, nos momentos mais difíceis, em especial a Aliane que há 15 anos, vem sendo a minha companheira fiel de estudos, incentivando-me a ser persistente e confiante, visando o alcance dos meus objetivos e Cirlene que, com sua serenidade, tranqüilizou-me com palavras doces nos momentos de incertezas.

Agradeço a todos os companheiros de curso que por muitas vezes incentivaram-me nos momentos de desânimo. Aos colegas de trabalho que, de alguma forma, contribuíram e/ou contribuem para o andamento da minha graduação.

Ao Ceape/BA pelo incentivo aos meus estudos, flexibilidade para que eu pudesse manter a freqüência às aulas e disponibilização de informações para este trabalho. A Corsini pela contribuição por meio da sua dissertação de pós-graduação. Cristiano e Jerfeson, pelo apoio e informações prestadas.

A meus admirados professores pela experiência e conhecimento transmitidos com muita dedicação, em especial Celeste Philigret, Luiz Filgueiras, Raymundo Garrido e Lielson Coelho pela acessibilidade, paciência e compreensão. Ao Professor Doutor Henrique Tomé da Costa Mata, pela atenção, paciência, flexibilidade e importantes orientações e contribuições para este trabalho.

Enfim, agradeço a todas as pessoas que, ao passarem por minha vida, contribuíram de alguma forma para a minha evolução acadêmica, profissional e pessoal. Obrigada a todos.

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“O microcrédito está definitivamente inserido nas políticas públicas de desenvolvimento econômico e social. Cada agente, cada gerente de agência deve ser um educador, facilitar a vida de quem o procura para empreender. O povo que vai atrás do microcrédito é bom pagador. O único patrimônio que o pobre tem é o nome a zelar [...]”.

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RESUMO

A partir da pesquisa da experiência vivenciada pelo Centro de Apoio aos Pequenos Empreendimentos (CEAPE/Ba) na concessão de microcrédito e capacitação de pequenos empreendedores em cidades baianas, desenvolve-se um estudo sobre a relação entre o microcrédito e a inserção socioeconômica dos empreendedores financiados. O objetivo deste estudo é contribuir para a compreensão das características dos clientes financiados e dos efeitos socioeconômicos da ação do microcrédito sobre os empreendedores e suas respectivas atividades comerciais financiadas, buscando evidências da sua contribuição na melhoria das condições de vida destes, através do fortalecimento dos seus pequenos negócios. Dessa forma, é de grande importância estudar de que maneira o microcrédito tem influenciado no processo de desenvolvimento dos empreendedores financiados e na geração de emprego e renda. Para tanto, foram utilizados dados obtidos no sistema operacional da organização (infocred), relacionados com aspectos sociais dos clientes liberados no período de 2000 a 2007, bem como aspectos ligados aos seus empreendimentos, na busca da percepção destes sobre os resultados obtidos pelos mesmos, através da aquisição do microcrédito. A pesquisa constatou que o microcrédito contribui para a melhoria das condições materiais de vida dos comerciantes financiados, por conta da aplicação correta dos recursos nas atividades produtivas financiadas, aliada com o espírito empreendedor do comerciante bem como com a capacitação técnica deste.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Organograma do Sistema CEAPE...27

Gráfico 1 – Valores liberados (R$ 1) - (2000-2007)...46

Gráfico 2 – Créditos liberados (por unidade) – (2000-2007)...46

Gráfico 3 – Média de valor liberado por crédito (R$1) – (2000-2007)...47

Gráfico 4 – Evolução do cliente 4, segundo o valor financiado e a renda auferida pelo seu empreendimento (2000-2007)...50

Gráfico 5 – Evolução do cliente 7, segundo o valor financiado e a renda auferida pelo seu empreendimento (2000-2007)...51

Gráfico 6 – Evolução do cliente 8, segundo o valor financiado e a renda auferida pelo seu empreendimento (2000-2007)...52

Gráfico 7 – Evolução do cliente 10, segundo o valor financiado e a renda auferida pelo seu empreendimento (2000-2007)...52

Gráfico 8 – Evolução do cliente 11, segundo o valor financiado e a renda auferida pelo seu empreendimento (2000-2007)...53

Gráfico 9 – Evolução do cliente 15, segundo o valor financiado e a renda auferida pelo seu empreendimento (2000-2007)...54

Gráfico 10 – Evolução do cliente 16, segundo o valor financiado e a renda auferida pelo seu empreendimento (2000-2007)...55

Gráfico 11 – Evolução do cliente 23, segundo o valor financiado e a renda auferida pelo seu empreendimento (2000-2007)...56

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Distribuição geográfica dos créditos liberados pelo

CEAPE/Salvador (jan/2000-dez/2007)...36 Tabela 2 – Distribuição etária dos clientes financiados pelo

CEAPE/Salvador (jan/2000-dez/2007)...37 Tabela 3 – Distribuição segundo o gênero dos clientes financiados pelo

CEAPE/Salvador (jan/2000-dez/2007)...39 Tabela 4 – Distribuição etária x sexo dos clientes financiados pelo

CEAPE/Salvador (jan/2000-dez/2007)...39 Tabela 5 – Distribuição segundo a escolaridade dos clientes financiados pelo

CEAPE/Salvador (jan/2000-dez/2007)...40 Tabela 6 – Distribuição etária x sexo x escolaridade dos clientes financiados pelo

CEAPE/Salvador (jan/2000-dez/2007)...40 Tabela 7 – Distribuição segundo o setor das atividades financiadas pelo

CEAPE/Salvador (jan/2000-dez/2007)...42 Tabela 8 – Distribuição segundo o ramo das atividades financiadas pelo

CEAPE/Salvador (jan/2000-dez/2007)...43 Tabela 9 – Distribuição segundo a constituição dos empreendimentos financiados

pelo CEAPE/Salvador (jan/2000-dez/2007)...44 Tabela 10 – Distribuição anual dos valores e número de créditos liberados pelo

CEAPE/Salvador (jan/2000-dez/2007)...45 Tabela 11 – Distribuição segundo a evolução dos clientes com oito ou mais

ciclos de financiamentos fornecidos pelo CEAPE/Salvador

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 11

2 REFERENCIAL TEÓRICO 14 2. 1 CONCEITO E DEFINIÇÃO DO MICROCRÉDITO 14

2.1.1 Aspectos históricos 15

2.1.2 Concepção e caracterização do Microcrédito 17 2.1.3 Emergência e evolução de programas de Microcrédito no Brasil 19

2.1.4 Metodologia 21

2.1.4.1 Fontes de coleta e tratamento de dados 22

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES 23

3.1 ASPECTOS INSTITUCIONAIS E ORGANIZACIONAIS DO CEAPE 23

3.1.1 Bases legais de funcionamento 23

3.1.2 Breve histórico 24

3.1.3 Estrutura da organização 27

3.1.4 Missão, visão e objetivos institucionais 29

3.1.5 Estudo do Microcrédito da organização 30

3.1.5.1 Crédito para capital de giro 31

3.1.5.2 Crédito para investimento 33

3.2 ASPECTOS SÓCIO-ECONÔMICOS E FINANCEIROS

DOS CLIENTES E DOS EMPREENDIMENTOS FINANCIADOS 35

3.2.1 Análise do padrão de localização dos créditos financiados pelo

CEAPE/Salvador 36

3.2.2 Análise da distribuição etária dos clientes financiados pelo

CEAPE/Salvador 37

3.2.3 Análise dos clientes financiados pelo CEAPE/Salvador

por gênero 38

3.2.4 Análise do nível de escolaridade dos clientes financiados pelo

CEAPE/Salvador 39

3.2.5 Análise do setor e ramo das atividades financiadas pelo

CEAPE/Salvador 41

3.2.6 Análise da constituição das atividades financiadas pelo

CEAPE/Salvador 43

3.2.7 Análise da distribuição anual dos valores e números de créditos

liberados pelo CEAPE/Salvador 44

3.2.8 Análise da evolução dos clientes com oito ou mais ciclos de

financiamentos fornecidos pelo CEAPE/Salvador 47

3.2.9 Análise da base de dados da dissertação de

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 64

REFERÊNCIAS 66

APÊNDICES 69

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1 INTRODUÇÃO

O debate acerca do setor informal da economia brasileira, formada por pequenos empreendimentos, tem se tornado cada vez mais freqüente tanto nos centros acadêmicos quanto na própria mídia, principalmente por conta do crescimento do desemprego estrutural nos últimos vinte anos. Dessa forma, o setor informal aparece como importante meio de sobrevivência para milhões de pessoas excluídas, por diversos motivos, do setor formal da economia. A organização empresarial desses empreendedores é limitada ou quase inexistente, gerando uma grande diversidade de atividades produtivas localizadas principalmente na periferia das grandes cidades. Essa falta de organização, muitas vezes, dificulta ou até mesmo inviabiliza a articulação na defesa de interesses comuns e criação de vias próprias para a representação política para, dessa forma, defender condições adequadas ao desenvolvimento das suas atividades comerciais. Assim, o funcionamento dos pequenos empreendimentos visa a sobrevivência de forma, geralmente, precária, mostrando-se intensivos na utilização do fator de produção trabalho, principalmente da mão de obra familiar.

O apoio financeiro a esse setor informal da economia, sob a forma de microcrédito, tem sido considerado como uma possibilidade de redução da pobreza. No Brasil, o microcrédito vem apoiando pessoas de baixa renda que exercem atividades produtivas no comércio, na produção ou na prestação de serviços e que, na maioria das vezes, proporciona a ocupação e sobrevivência dessa parcela da população. Essa população de baixa renda sempre foi excluída do sistema financeiro tradicional e mesmo com a intervenção pública o resultado não é eficiente. Diante disso, o microcrédito tem por finalidade o financiamento de pequenos empreendimentos da economia informal urbana1, na esperança de fomentar atividades produtivas para a geração de ocupação, de emprego e de renda, favorecendo, principalmente, empreendedores mais pobres. Assim, os programas de microcrédito acabam atuando como uma política de ajuste ao capitalismo, ao incorporar, à funcionalidade do mercado formal, milhões de pessoas excluídas das possibilidades de produção e de consumo, objetivando também suprir as falhas do sistema financeiro nacional e do mercado informal.

1 Na economia rural já existem linhas de créditos especificas para o desenvolvimento de atividades rurais, como

(14)

Diante desse panorama e do principal objetivo do microcrédito – contribuir para a redução da pobreza pelo acesso ao crédito (para consumo e/ou produção), recorrendo às estratégias descentralizadas de financiamento, utilizando meios para atingir o público alvo e garantir a renda e a qualidade de vida da população -, torna-se interessante estudar de que forma o microcrédito tem participado como promotor e cooperador do processo de desenvolvimento dos empreendedores financiados, principalmente no setor informal da economia.

Este trabalho monográfico tem como objetivo geral fazer um estudo das características de empreendedores e de seus respectivos empreendimentos financiados, buscando evidências da contribuição efetiva do microcrédito na melhoria de suas condições de vida e desenvolvimento da atividade comercial, bem como sobre a inserção social destes na comunidade a que pertencem. O objeto de pesquisa se cingirá à área de Salvador e Região Metropolitana no período de 2000 a 2007, possibilitando a coleta dos dados necessários à pesquisa, uma vez que alguns estudos do próprio Centro de Apoio aos Pequenos Empreendimentos (CEAPE/Ba) compreendem expressiva parte desse período (2000 a 2005), além do que os dados mais recentes estão disponíveis no sistema da organização. O objetivo é captar de forma mais adequada e sólida o fenômeno objeto do estudo.

Nesses termos, o tema proposto para o estudo é: “Microcrédito: Análise do padrão sócio-econômico e inserção social dos empreendedores financiados – um estudo da experiência do CEAPE/Salvador e região metropolitana (2000 – 2007)”. Assim, é necessário verificar se o microcrédito está atingindo o seu objetivo primordial que é a redução da pobreza e a melhoria da qualidade de vida dos pequenos empreendedores ou se, diferentemente, não passa de um empréstimo comum com interesses exclusivamente financeiros.

O estudo sobre essa temática pode ser justificado pela sua importância, tanto para as organizações promotoras do microcrédito quanto para os beneficiados direta ou indiretamente (clientes e comunidade em geral). Além disso, é de grande valor para o desenvolvimento pessoal e profissional da pesquisadora, em função da experiência que esta vem acumulando na área de microcrédito há mais de 9 anos, trabalhando na área de concessão de microcrédito

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desde o ano de 2000 e, nos últimos 6 anos, integrando a equipe de trabalho do CEAPE/Ba - organização com uma experiência de 15 anos na concessão de microcrédito, considerada como maior e mais antiga rede de organizações de microcrédito existente no Brasil. O microcrédito hoje concedido por diversas instituições, surge sobretudo com a missão de auxiliar o desenvolvimento das atividades comerciais pertencentes ao setor informal da economia, além de configurar uma oportunidade que o pequeno comerciante tem para desenvolver sua atividade e gerar emprego e renda. Nesse caso, surge o interesse em pesquisar sobre os impactos sociais do microcrédito sobre os empreendedores, suas famílias, comunidades e empreendimentos financiados.

A formulação inicial do objeto temático foi feita a partir da análise de textos sobre o Microcrédito, apresentados pelo CEAPE/Ba, além da experiência e familiaridade com o assunto que, por sua vez, incentivaram a pesquisadora a avançar na busca de respostas aos questionamentos correntes sobre o tema. Com relação ao assunto, dentro da análise, mostrou-se esmostrou-sencial à contribuição da dismostrou-sertação de pós-graduação elaborada por José Nélio Monteiro Corsini2, que devido à experiência com o microcrédito, realizou uma abordagem atual a respeito do tema.

O principal questionamento a ser discutido no tema proposto que dará condições para caracterizar o objeto é: Pode-se afirmar que o microcrédito colabora para a melhoria nas condições de vida e inserção social dos empreendedores financiados, se diferenciado das linhas de créditos tradicionais, as quais possuem interesses exclusivamente financeiros? A partir do referencial teórico trabalhado até o momento, houve condições para a elaboração da seguinte hipótese: No que diz respeito aos impactos do microcrédito sobre os empreendedores financiados e sobre a sociedade como um todo, acredita-se, inicialmente, que o microcrédito, com sua metodologia aplicada e aliado com a capacitação dos pequenos empreendedores contribui para a melhoria das condições materiais de vida e sociabilidade dos comerciantes financiados, além de contribuir para o enfrentamento da pobreza, conforme demonstrar-se-á no curso deste texto.

2 Direitor Executivo do CEAPE/Ba e presidente do DISOP Nacional (Instituição de Cooperação Belgo-Brasileira

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Além desta introdução, o presente trabalho é constituído de quatro capítulos: 2. Metodologia; 3. Referencial teórico; 4. Resultados e discussões; 5. Considerações finais. O segundo capítulo indicará os procedimentos metodológicos realizados para a construção do trabalho monográfico. O terceiro capítulo aponta o histórico, principais características e experiências do Microcrédito na sociedade brasileira. O quarto capítulo é consagrado a uma análise do papel do CEAPE/Ba expondo seu histórico, aspectos institucionais e as características do microcrédito concedido pela instituição, além de avançar no sentido de caracterizar os clientes e empreendimentos financiados, as facilidades e dificuldades para a obtenção do microcrédito, além dos impactos do microcrédito sobre os empreendedores financiados. O trabalho é finalizado com uma síntese das lições aprendidas e recomendações de continuação deste trabalho.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 CONCEITO E DEFINIÇÃO DO MICROCRÉDITO

Ultimamente, o termo microcrédito vem sendo incorporado por diversos segmentos políticos, econômicos e sociais, além de se tornar bastante popular por conta da exposição feita pelos diversos meios de comunicação. Contudo, essa popularização vem, em alguns casos, distorcendo o real significado e objetivo do microcrédito.

Em sua origem, o microcrédito é definido como um crédito de pequeno valor concedido à proprietários de pequenos empreendimentos (majoritariamente de baixa renda) que, na sua

maioria, utilizam a atividade comercial de forma produtiva como meio de subsistência.

A importância atribuída ao microcrédito que é concedido a empreendedores para o fortalecimento de pequenos empreendimentos é relativamente recente no Brasil e no mundo. Em suas origens, o microcrédito teve uma forte motivação social e ganhou destaque na agenda das políticas de combate a pobreza nos últimos 20 anos.

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Sendo assim, no sentido abordado neste trabalho, o microcrédito, destina-se ao financiamento de pequenos empreendimentos da economia informal urbana, na busca de estimular atividades produtivas visando à geração de ocupação, emprego e renda, favorecendo, principalmente, as famílias de empreendedores mais pobres, geralmente, residentes de bairros carentes.

2.1.1 Aspectos históricos

No século XIX surgiram na Europa as primeiras iniciativas de crédito popular (cooperativas de crédito, caixas populares, bancos comunitários e outros mais), com o objetivo de possibilitar o acesso de segmentos pobres da população (camponeses, operários, artesão e outros). Na Alemanha, por exemplo, foram organizadas cooperativas nas quais cada sócio procurava aceitar pessoas comprometidas que tivessem a responsabilidade necessária para participar do empreendimento e honrar seus débitos. A organização era realizada por meio da autogestação, financiava investimentos produtivos e era administrada pelos sócios de forma participativa. Essas cooperativas foram denominadas “Banco do Povo”, chegando a uma quantidade de 1.002 no país no ano de 1912, com 641 mil associados. A partir de tais iniciativas, observou-se um desenvolvimento e expansão da economia solidária para vários países da Europa no século passado (SINGER, 2002, p. 62-65). Além disso, é importante salientar que as experiências brasileiras relacionadas ao microcrédito são consideradas como ponto de partida para a expansão dessa forma diferenciada de crédito pela América Latina, Caribe e outros continentes.

Todavia, o maior marco referencial na história do microcrédito e o que mais contribuiu para a sua atual formatação foi o Grammen Bank, de Bangladesh. Criado em 1976, o Grammen Bank teve origem em uma iniciativa pessoal do seu fundador, o professor de economia Muhammad Yunus3 que, com recursos próprios e ajuda de seus alunos, iniciou a concessão experimental de créditos a pessoas pobres, para ser utilizado em atividades produtivas.

3 O bengalês Muhammad Yunus foi anunciado em outubro de 2008 como o ganhador do Prêmio Nobel da Paz

junto com seu banco, o Grameen. O economista é conhecido como "o banqueiro dos pobres" e considerado o grande mentor do microcrédito destinado aos desfavorecidos de Bangladesh. Professor de economia, Yunus começou a combater a pobreza após uma mortífera fome que assolou seu país. Em 1976, fundou um pequeno banco que se propunha a oferecer acesso ao crédito aos mais pobres.

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A experiência teve sucesso, permitindo que as atividades do Grammen Bank fossem se expandindo através da capitalização própria e da captação de doações e investimentos externos. Esse crescimento levou o Grammen Bank a tornar-se, em alguns anos, a maior instituição financeira de Bangladesh, sendo também o maior modelo referencial para a disseminação do microcrédito no mundo, inclusive no Brasil. Sobre a experiência do Grammen Bank Corsini (CORSINI, 2007, p. 63) afirma:

A experiência do Grameen Bank, iniciada com um empréstimo pessoal de Yunus a 27 artesãs que faziam artesanato, usando bambu como matéria-prima, atende na atualidade a 7,2 milhões de clientes, sendo 97% desse total, mulheres. Ela está presente em 78 mil aldeias do país, tendo uma carteira ativa equivalente a US$ 674 milhões. (GRAMEEN, 2007).

Referindo-se à sua experiência com o Grameen, afirmou Yunus (2001, p.9) que esta lhe forneceu uma fé inabalável na criatividade dos seres humanos, fazendo-o concluir que eles não nascem para padecerem de fome e miséria.

Inspirado na experiência do GrammenBank e de outras iniciativas pioneiras, como o Bank Rakyat da Indonésia, o microcrédito, durante as décadas de 1980 e 1990 espalhou-se por países da Ásia, África e América Latina, sendo a Acción International, no último caso, o responsável pela disseminação do microcrédito e sua adaptação às condições latino-americanas, tendo participado da construção das mais importantes instituições de microcrédito existentes na região, como BancoSol da Bolívia e o Sistema CEAPE no Brasil.

A Acción Internacional foi a primeira organização de microcrédito para a população pobre. Sua experiência foi iniciada em Recife no ano de 1973. Apenas na última década, emprestou o montante de UR$ 12,3 bilhões. Além disso, a Acción foi responsável pelo desenvolvimento da metodologia do grupo solidário, utilizada em grande escala na América Latina e no Caribe, inclusive pelas organizações brasileiras. Inicialmente, atuou com entidades sem fins lucrativos

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e atualmente focaliza as suas parcerias com organizações financeiras reguladas pelas autoridades monetárias dos respectivos países.

2.1.2 Concepções e características do Microcrédito

Configuram-se como microcrédito operações de créditos de pequeno valor, realizadas por programas especializados, destinadas ao fortalecimento de iniciativas produtivas, geralmente da economia informal urbana. Na maioria das vezes, são destinadas ao atendimento das necessidades de capital de giro ou pequenos investimentos para desenvolver atividades de comércio, fabricação ou prestação de serviços. Nessas operações são exigidos poucos documentos (Carteira de identidade, CPF e comprovante atual de residência), os prazos variam de um a seis meses (na maioria das vezes), as operações pagas são renovadas de forma rotativa com valores crescentes, conforme a necessidade e capacidade de pagamento dos empreendimentos.

O microcrédito é concedido, geralmente, através da metodologia do grupo solidário, onde um grupo formado por comerciantes amigos, estabelecidos em uma determinada comunidade, se junta para adquirir o microcrédito através do aval recíproco (um é avalista do outro). Dessa forma, os comerciantes ficam livres da apresentação de garantias reais, substituídas pela garantia pessoal do grupo solidário.

Ao contrário do sistema financeiro tradicional, o microcrédito apresenta agilidade e exigências simplificadas. O serviço é prestado de forma personalizada, por meio de visitas aos clientes, antes e após a concessão do microcrédito, proporcionando aos tomadores do crédito orientação técnica, importante para o desenvolvimento de suas atividades comerciais. Os valores emprestados variam na faixa de R$ 100,00 a R$ 10.000,00 a depender de fatores tais como as condições individuais de cada empreendedor, produtos financeiros oferecidos aos clientes e políticas das organizações promotoras.

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Os programas de microcrédito financiam atividades produtivas da economia informal urbana, principalmente da população mais pobre, proporcionando o resgate da cidadania de homens e mulheres que criam e mantêm, na maioria das vezes, sua própria ocupação e emprego. Contudo, visto sob a ótica do mercado, o microcrédito também significa uma ampliação de negócios para as grandes empresas que passam a obter um aumento do seu mercado consumidor por conta da inserção de um contingente de população antes considerada como não consumidores.

Segundo o CEAPE (2003) o microcrédito distingui-se do crédito convencional, pois:

 Não é concedido apenas por instituições financeiras convencionais, mas também por cooperativas, associações, Organizações Não-Governamentais (ONGs) e instituições especializadas em microcrédito, como no caso brasileiro, as Sociedades de Crédito ao Microempreendedor (SCMs) e as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público de microcrédito (OSCIPs), além de programas de governo específicos;

 Adota metodologias específicas diferentes das práticas bancárias tradicionais, na análise, liberação, acompanhamento e cobrança dos créditos;

 Utiliza formas de garantias alternativas (como o aval solidário), que abstraem a apresentação de garantias reais, facilitando, desta forma, o acesso ao crédito pelos microempreendedores;

 Busca reduzir o custo de transação para o cliente através de: a) localização de pontos de atendimento na proximidade espacial da clientela; b) simplificação e desburocratização dos procedimentos de crédito; e c) grande agilidade na análise e liberação do crédito; e

 Tem como objetivo fundamental a melhoria da situação social e econômica dos clientes e suas famílias e das comunidades onde atua.

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2.1.3 Emergência e evolução de programas de Microcrédito no Brasil

O microcrédito surge no Brasil através da UNO4, apoiada pela Acción International. Essa parceria possibilitou a experiência pioneira de desenvolvimento de pequenos empreendimentos, promovendo capacitação e financiamentos para atividades produtivas em Recife e em Salvador. Surge então a possibilidade de uma alternativa de apoio financeiro aos pequenos empreendedores, por meio da metodologia do grupo solidário desenvolvida pela Acción International em parceria com organizações não governamentais da América Latina e do Caribe. Em depoimento prestado para Corsini no ano de 2007, para constar em sua dissertação, sobre o surgimento do microcrédito, Valdir Dantas5 (apud CORSINI, 2007, p. 62) afirma:

A primeira experiência de microcrédito para o setor informal urbano se deu no Brasil, em Recife e Salvador, através de uma parceria entre a Acción International, à época conhecida como AITEC, e entidades empresariais de Pernambuco e da Bahia. A Acción International é uma ONG estadunidense que, até então, (início da década de 70) trabalhava na América Latina com Programas de “Desenvolvimento Comunitário”, utilizando a figura de “trabalhadores sociais” residentes em cada país. O residente no Brasil identificou que a maior contribuição para o desenvolvimento comunitário no Brasil seria incentivar o fortalecimento dos pequenos negócios informais visando melhorar renda e criar novos postos de trabalho. Em 1973, por iniciativa e com assistência técnica da Acción International, e com a participação de entidades empresariais e bancos de Pernambuco e da Bahia, foi criada a União Nordestina de Assistência a Pequenas Organizações, que ficou conhecida como Programa UNO. A UNO era uma associação civil sem fins lucrativos, que nasceu especializada em crédito e capacitação. Trabalhava com crédito individual e com a garantia de um “aval moral”.

Na ausência de bancos para financiar os pequenos empreendimentos, as instituições sem fins lucrativos, incentivadas pela cooperação internacional, organizaram os seus programas de microcrédito. Tais instituições optaram pelo microcrédito na esperança de realizar empréstimos de recursos financeiros e de serem reembolsadas em prazo pré-determinado, proporcionando a continuidade dos projetos.

4 União Nordestina de Assistência a Pequenas Organizações (UNO) - Entidade criada em 1973, com o objetivo

de apoiar micro e pequenos empreendimentos da região Nordeste através de financiamento, capacitação gerencial, apoio à comercialização e estímulo a formação de cooperativas e associações de microprodutores

5 Valdi de Araujo Dantas é sociólogo e especialista em microcrédito. Foi técnico da UNO-Pernambuco,

posteriormente consultor da Acción International que implantou programas de microcrédito na Colômbia e no Brasil, estruturando no final da década de 1980 a Rede Ceape. O residente da Acción, citado por Dantas, chama-se Bruce Tippett e corresponde aos atuais cooperantes estrangeiros que trabalham no país.

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Sendo assim, a experiência real faz com que seja superada a idéia equivocada que o pobre não pode pagar e precisa de ajuda (doação). Os programas de microcrédito espalhados pelo mundo apontam que o pobre é um bom pagador, quando lhe são oferecidas oportunidades, capacitação e recursos metodológicos adequados disponibilizados por tais programas.

Na década de 1980, cita-se como marco da trajetória brasileira do microcrédito, a constituição progressiva da rede (atual sistema) CEAPE a partir da criação em 1987 do “Centro Ana Terra”, atual CEAPE/RS. A partir da década de 1990, o microcrédito de expande no Brasil, principalmente, por conta da estabilização monetária (1994), possibilitando o aumento da demanda por crédito; ampliação do leque institucional envolvido com o microcrédito como instituições do poder público das três esferas (a partir de 1995); construção gradativa de um marco jurídico-legal de regulação da atuação dos setores de microcrédito no Brasil , além de outros. (CEAPE, 2003).

Numa fase posterior à entrada em cena dos organismos internacionais, o setor público passou a estimular o financiamento a pequenos empreendimentos da economia informal urbana. Foram assim estruturados os “Bancos do Povo”, apoiados por governos municipais ou estaduais, tal como a Instituição Comunitária de Crédito (Portosol) e a “Comunidade Solidária” liderada pala antropóloga Ruth Cardoso. Em 1996, o governo federal lançou o Programa de Crédito Produtivo Popular, implementado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). No ano seguinte, em 1997, o Banco do Nordeste do Brasil, assessorado pela Acción International, estruturou o Programa de Microcrédito do Banco do Nordeste (Crediamigo), sendo hoje o maior programa público, de responsabilidade do governo federal, nas Américas.

Momentos de grande valor com relação às políticas públicas do governo federal no Brasil devem ser lembrados. Um desses momentos foi iniciado em 1999, quando o governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso regulamentou as atividades de concessão de microcréditos, reforçando a aplicação de recursos do BNDES para o repasse, sob a forma de empréstimos, às organizações executoras dos programas, legalmente constituídas como ONG. Outro momento importante ocorreu em 2003, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva

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adotou novas medidas visando ampliar a oferta de serviços financeiros à população de baixa renda. O governo criou, dentre outras instituições e dispositivos:

 O Banco Popular do Brasil, como subsidiária do Banco do Brasil S.A;

 A obrigação dos bancos comerciais de aplicar 2% dos depósitos à vista em operações de pequenos valores; e

 A permissão para a abertura de contas simplificadas e o funcionamento de cooperativas de crédito de livre associação (ALVES; SOARES, 2006, p. 74-75).

Nos últimos anos, o microcrédito vem se expandindo e ocupando lugar importante no sistema financeiro brasileiro. Por conta disso, em 25 de abril de 2005 foi editada uma lei (Lei Federal nº. 11.110) a qual caracteriza o microcrédito, tornando-se base legal do Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado (PNMPO), coordenado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (TEM). (BRASIL, 2005).

Sendo assim, devido à cooperação internacional e às entidades sem fins lucrativos, o microcrédito expande-se cada vez mais no seio da sociedade brasileira. Ao longo dos anos foi se formando uma comunidade interessada na área do microcrédito, composta por representantes de importantes segmentos sociais que se destacam nas respectivas organizações promotoras do microcrédito, nos organismos de promoção, na participação do poder público, nas empresas prestadoras de serviços e nos profissionais especializados em consultoria e treinamento.

2.1.4 Metodologia

O objeto temático foi formulado, inicialmente, a partir da análise de vários textos sobre o Microcrédito, dentre estes os apresentados pelo Ceape/Ba. Além disso, a pesquisadora, na

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busca de respostas aos questionamentos da problemática trabalhada no presente estudo, se sentiu motivada a abordar essa temática pela sua experiência e familiaridade com o assunto. As contribuições de vários autores ajudaram na formulação do processo que procura estabelecer os vínculos do microcrédito com a inserção social dos empreendimentos financiados. Dentre essas, mostrou-se essencial à contribuição da dissertação de pós-graduação elaborada por José Nélio Monteiro Corsini, além das elaborações de Paul Singer, Muhammad Yunus, Henry Jacklen e Valdi Dantas, fundamentais para o entendimento das particularidades teóricas do microcrédito.

2.1.4.1 Fontes de coleta e tratamento de dados

O estudo foi baseado em dados estatísticos (secundários) disponíveis no sistema operacional do CEAPE/Ba. Esses dados foram coletados através dos técnicos em crédito por meio de visitas aos empreendimentos financiados. No intuito de responder ao problema formulado, foram feitas a organização e seleção do referencial teórico mais adequado (incluindo a busca por novos trabalhos relacionados com o tema, de modo a reunir razões e contra-razões, vantagens e desvantagens do objeto da hipótese formulada), a coleta dos dados necessários (evolução do empreendedor após o financiamento levando em consideração: lucratividade, renda, evolução do crédito, evolução de aspectos sociais e outros mais) e a análise de tais dados inferindo interpretações sólidas, relacionando-os entre si para, por fim, passar para o processo de teorização e construção do trabalho propriamente dito. Esses dados foram obtidos através do sistema interno-operacional do CEAPE/Salvador, o Infocred que, por sua vez, é alimentado pelos técnicos em crédito através de informações obtidas nas visitas de análise dos empreendimentos a serem financiados.

A pesquisa avança no sentido de elaborar hipóteses, coletar dados por método científico e, conforme cita Salomon (1991), “procurar inferir interpretações”. Em outras palavras, a pesquisa dar-se-á predominantemente no campo empírico, de forma que serão coletadas informações acerca das variáveis do problema e depois ela prosseguirá para o campo da teorização, com o objetivo de explicar os fatos e estabelecer relações.

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Os dados utilizados foram obtidos através das seguintes fontes: Ceape/Ba, DISOP Nacional, BNDES.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 ASPECTOS INSTITUCIONAIS E ORGANIZACIONAIS DO CEAPE 3.1.1 Bases legais de funcionamento

O CEAPE/BA é uma pessoa jurídica de direito privado, regida por estatuto social consoante a legislação vigente, registrada no cartório de registro de pessoas jurídicas da Comarca de Feira de Santana. A instituição tem como base legal a Lei Federal nº. 9.790, de 23 de março de 1999, que “dispõe sobre a qualificação de pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, institui o Termo de Parceria e dá outras providências”. (BRASIL, 2009b).

Dessa forma, a organização deve conter em seus estatutos a na estrutura administrativa os requisitos exigidos por lei. Seus objetivos sociais devem estar vinculados com as finalidades previstas. A instituição tem a possibilidade assegurada de experimentação, não lucrativa, de novos modelos sócio-produtivos e de sistemas alternativos de produção, comércio, emprego e crédito.

O CEAPE é qualificado como uma OSCIP pelo Ministério da Justiça. Pode operar programa de microcréditos sem a vinculação com o Sistema Financeiro Nacional, regulado pelo Banco Central do Brasil. A Lei Federal nº. 9.790, além de conceder permissão para a instituição operar o microcrédito, dispõe sobre a possibilidade de firmar o Termo de Parceria (Art. 9º, Cap.II) com os organismos do poder público. Além disso, a organização submete-se ao Novo Código Civil Brasileiro, Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, especialmente aos artigos 43 a 51, que dizem respeito à estrutura e à funcionalidade das organizações sem fins lucrativos. (BRASIL, 2009b)

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3.1.2 Breve histórico

Maior e mais antiga rede de organizações de microcrédito existente no Brasil, o CEAPE (Centro de Apoio aos Pequenos Empreendimento) é coordenado pelo CEAPE Nacional, sendo integrado por 11 CEAPEs estaduais, localizados nos estados a seguir: Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Maranhão, Pará e Goiás.

O processo de formação do Sistema CEAPE inicia-se em 1987 com a constituição do CEAPE – RS, então denominado de “Centro Ana Terra”. Essa instituição nasceu de um projeto piloto promovido em 1986 pelo UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) em parceria com a Acción International, por meio do projeto “Apoio a Atividades Econômicas Informais de Mulheres e Famílias de Baixa Renda” realizado em três áreas periféricas de Porto Alegre/RS – Ilha da Pintada, Beco do Adelar e Campo da Tuca, onde foi adotada a metodologia do Grupo Solidário pela primeira vez no Brasil. O UNICEF exercia um papel de liderança, apoio financeiro e participação direta no acompanhamento e desenvolvimento do projeto. Devido à parceria com instituições locais, foram criadas condições para que, em janeiro de 1987, o projeto viesse a se institucionalizar como uma entidade civil sem fins lucrativos.

Desde a sua fundação, o CEAPE – RS teve como foco o apoio a pequenos empreendimentos geridos por pessoas de baixa renda, por meio de crédito e capacitação, tendo sido responsável pela introdução no Brasil de elementos atualmente predominantes nos programas de microcrédito existentes no país, com, por exemplo, a utilização de grupos solidários como forma de garantia aos empréstimos (Aval Solidário).

A consolidação do CEAPE – RS estimulou a continuidade da parceria entre o UNICEF e a Acción, que estenderam a experiência para outros estados, prioritariamente para os do Nordeste. O principal fator desta expansão foi à criação da FENAPE (Federação Nacional de Apoio aos Pequenos Empreendimentos), atual CEAPE Nacional, em agosto de 1990. Os

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CEAPE’s, criados desde então, passaram a contar com assistência técnica e a coordenação da FENAPE, articulada com o apoio técnico do UNICEF e do BID (Banco Internacional de Desenvolvimento). Tal assistência mostrou-se de fundamental importância para a consolidação dos CEAPE’s e para a continuidade da expansão do Sistema, que, entre 1992 e 1999, ampliou-se para mais dez Unidades da Federação.

Com exceção do Estado da Bahia, onde já existia o Banco da Mulher, em todos os outros estados onde foi implantado, o CEAPE foi a primeira ONG de microfinanças. Na Bahia, o primeiro CEAPE foi implantado há 15 anos, mais precisamente em novembro de 1994, na cidade de Feira de Santana. A unidade de Feira hoje é a Matriz do programa no Estado, e coordena outros postos localizados nas cidades de Alagoinhas, Camaçari, Salvador e Santo Antonio de Jesus.

O fundo rotativo de crédito inicial para a concessão do microcrédito foi obtido de doações do UNICEF, da Legião Brasileira de Assistência (LBA) e de um empréstimo obtido do Centro Ecumênico de Apoio ao Desenvolvimento (CEADE) – organização que estimula o desenvolvimento de projetos para a inclusão social de segmentos menos favorecidos da sociedade, atuando sob a forma de parcerias com instituições brasileiras e internacionais). Posteriormente foram captados recursos do DISOP (Entidade de cooperação internacional da Bélgica), uma ONG sediada em Bruxelas, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social ( BNDES) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

O DISOP prestou grande apoio para a expansão da instituição com a abertura dos postos de serviços localizados em Alagoinhas, no ano de 1998, e em Salvador, no final do ano de 1999. Os pontos de atendimento de Camaçari e de Santo Antonio de Jesus foram estruturados mais tarde com o apoio do Sebrae Nacional.

A auto-sustentação financeira do Sistema CEAPE visa garantir a expansão e a consolidação do programa, além da garantir os serviços que devem ser prestados aos atuais e futuros

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clientes. Sendo assim, é de suma importância a geração e a expansão de receitas próprias para o desenvolvimento sustentável da organização.

A expressiva expansão do microcrédito no Brasil tem favorecido o crescimento e consolidação do Sistema CEAPE, através do aumento do número de clientes, do valor das carteiras de crédito e, em conseqüência, do nível de auto-sustentação de quase todos os CEAPE’s. Contudo, tal expansão trouxe consigo novos desafios, pois, além de um expressivo aumento da concorrência – tanto na disputa pelo cliente quanto na busca por fontes de recursos -, cresceram as exigências quanto à qualidade da tecnologia de crédito e dos instrumentos técnico-gerenciais, em área como recursos humanos, sistemas de informação, monitoramento e outros.

Dessa forma, visando atingir eficientemente os seus principais objetivos, o Sistema CEAPE tem implementado nos últimos anos um processo de reestruturação interna e de redefinição das suas estratégias de ação, tais como:

 A redefinição do Modelo Organizacional expressa no novo Estatuto Social e no novo Regime Interno do CEAPE Nacional;

 O desenvolvimento de instrumentos técnicos de suporte ao gerenciamento da organização, como o sistema de informações gerenciais – InfoCred, além da elaboração de um plano de marketing e a consolidação de referenciais técnicos e metodológicos; e

 A adoção de concepções e práticas mais abrangentes no âmbito das relações institucionais na busca de uma participação ativa na articulação orgânica do setor de microcrédito e no planejamento de políticas públicas para o setor.

Sendo assim, o Sistema CEAPE tem buscado corresponder aos desafios criados pelo novo cenário do microcrédito no Brasil, mantendo-se, ao mesmo tempo, coerente com os princípios éticos e sociais relevantes desde a sua formação.

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3.1.3 Estrutura organizacional

O Sistema CEAPE foi extinto no início do ano de 2008. Desde então, cada CEAPE estadual dispõe de uma atuação autônoma e individualizada. Porém, como o objeto de estudo foi limitado ao período de 2000 – 2007, todos os dados trabalhados compreendem tal período. Sendo assim, trabalharemos com

as características do sistema em questão. O CEAPE é formado pelo CEAPE Nacional e pelos

CEAPEs estaduais. Conforme a concepção organizacional adotada, o CEAPE Nacional se constitui como um organismo de coordenação e integração do Sistema.

Essa visão organizacional está expressa no organograma – figura 1:

Figura 1 - Organograma do Sistema CEAPE Fonte: CEAPE, 2003 CONSELHO DE REPRESENTANTES CONSELHO DIRETOR CONSELHO FISCAL Secretaria Executiva Escritório Brasília C E A P E B A C E A P E E S C E A P E G O C E A P E M A C E A P E P A C E A P E P B C E A P E P E C E A P E P I C E A P E R N C E A P E R S C E A P E S E

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 Conselho de Representantes – é o principal órgão deliberativo do CEAPE Nacional, sendo integrado pelos presidentes dos CEAPEs Estaduais ou seus substitutos legais;

 Conselho Diretor – é composto pelo Presidente, 1º Vice-Presidente, 1º Tesoureiro e Diretor de Relações Institucionais. O 2º Vice-Presidente e o 2º Tesoureiro são membros suplentes do Conselho Diretor;

 Conselho Fiscal – é composto por 3 membros titulares e 3 suplentes, eleitos pelo Conselho de Representantes dentre os representantes indicados pelos CEAPEs Estaduais;

 Secretaria Executiva – é formada pelo Secretário, por um Técnico I e por um Técnico II; e

 Colegiado de Diretores – constitui um órgão consultivo cuja função é apoiar tecnicamente o Conselho Diretor. Ele é formado pelos Diretores Executivos dos CEAPEs.

A estrutura organizacional da instituição está constituída em instância maior representada pela Assembléia Geral que é formada pelo Conselho Diretor (constituído por sete membros: presidente, vice-presidente, tesoureiro e suplente de tesoureiro, secretário e diretor de relações institucionais), encarregado de deliberar e gerir a implementação das políticas institucionais criadas; o Conselho Fiscal (composto por seis membros), responsável pela fiscalização da gestão administrativa e financeira da instituição e a Diretoria Executiva (formada pela equipe técnica), que executa as ações operacionais da entidade.

Os conselheiros são vinculados a entidades participantes da constituição da entidade, e seus membros são colaboradores e líderes da instituição, que contribuem de acordo com suas possibilidades e responsabilidades. A Diretoria Executiva é composta por uma equipe técnica operacional, responsável pela implementação das políticas e diretrizes aprovadas pelo Conselho Diretor.

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O quadro profissional do CEAPE/BA é formado basicamente por profissionais ou por estudantes universitários das áreas de economia, de ciências contábeis ou de administração de empresas. Esses profissionais são contratados com base em uma política própria de recursos humanos, e atuam nos cinco postos de serviços, localizados nas cidades de Feira de Santana (matriz), Alagoinhas, Salvador, Camaçari e Santo Antonio de Jesus.

O Posto de Serviço localizado em Salvador (CEAPE/Salvador), conta com profissionais experientes na área de microcrédito distribuídos da seguinte forma: 1 Gerente Técnico de Posto, 2 Técnicos em Crédito, 1 Estagiário da área técnica e 1 Assistente Administrativa-financeira. A sua área de atuação compreende a grande Salvador e uma parte da região metropolitana (Candeias, Lauro de Freitas e Simões Filho).

3.1.4 Missão, visão e objetivos institucionais

Conforme o Manual para operadoras de microcrédito do Sistema Ceape (2003, p. 11), a Missão da Instituição é a “Melhoria da qualidade de vida dos pequenos empreendedores, através da massificação do crédito orientado, em âmbito nacional, como estratégia de combate à pobreza”. A partir do ano de 2008, visando adaptar-se ao anseio da oferta de novos produtos, o CEAPE passou a definir enquanto sua missão: “Contribuir para o crescimento dos micro e pequenos negócios e melhoria da qualidade de vida dos empreendedores, através das microfinanças produtivas orientadas, como estratégia de desenvolvimento econômico e social”.

Tal missão é orientada por uma visão institucional que agrega os princípios fundamentais que norteiam a atuação das entidades do Sistema:

 Comprometer-se com o êxito empresarial do cliente;  Trabalhar com profissionalismo e ética;

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 Ser auto-sustentável operacional e financeiramente;  Adotar e seguir um modelo participativo de gestão; e

 Desenvolver parcerias com organizações públicas e privadas, nacionais e internacionais, para o cumprimento da sua missão.

A partir da Missão e da Visão Institucional, delimitam-se os Objetivos Institucionais do Sistema CEAPE:

 Fortalecer os pequenos empreendimentos;

 Melhorar as condições de vida dos pequenos empreendedores e de suas famílias;  Criar novas ocupações e fortalecer as existentes;

 Contribuir para a valorização e o reconhecimento do papel da mulher empreendedora no meio social, econômico e cultural; e

 Contribuir para o exercício da cidadania e para o desenvolvimento econômico e social do país.

3.1.5 Estudo do microcrédito da organização

O microcrédito pode assumir diversas formas (empréstimo, cartão de crédito, desconto antecipado de cheques e outros) e pode destinar-se a determinados segmentos específicos da clientela e a diferentes finalidades. Em geral, considera-se que cada uma dessas variantes do microcrédito consiste em um produto microfinanceiro específico. O microcrédito fornecido pelo CEAPE divide-se em dois tipos: Crédito para Capital de Giro e Crédito para Investimento.

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3.1.5.1 Crédito para Capital de Giro

Este tipo de crédito consiste em um empréstimo destinado ao financiamento de curto prazo das atividades econômicas. No caso dos clientes do microcrédito, o crédito para capital de giro é utilizado para a aquisição de mercadorias, insumos produtivos, instrumentos de trabalho e baixo valor, além do financiamento de outros custos correntes.

Com relação a condições de financiamento, os limites de crédito efetivamente praticados podem apresentar diferenças entre os diversos CEAPEs, dependendo de fatores como disponibilidade de recursos, perfil da clientela e outros. No geral, o limite máximo de crédito é de R$ 10.000,00 (dez mil reais) – no crédito individual – e de R$ 6.000,00 (seis mil reais) – no caso de participantes de grupo solidário. O valor do crédito é fixado levando em conta a análise da capacidade de pagamento de cada cliente.

O reembolso do empréstimo (capital e juros) será efetuado em parcelas quinzenais ou mensais de valor idêntico, a depender das características e ciclos operacionais de cada empreendimento, bom como a opção do cliente. Além disso, o prazo máximo para o pagamento dessa modalidade de empréstimo é de seis meses.

Os encargos financeiros cobrados pelos créditos incluem juros, taxas bancárias e outras taxas e tributos que incidam sobre as operações de crédito. As taxas de juros devem ser positivas, variáveis e reajustáveis de acordo com a política do Sistema e as indicações do mercado ou em concordância com o agente financiador. As taxas devem ser estabelecidas tendo em vista a cobertura dos itens a seguir:

 Manutenção do valor do Fundo Rotativo através da atualização monetária do período;

 Despesas financeiras e operacionais;  Provisão para inadimplência; e

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 Capitalização do Fundo Rotativo.

As garantias para o crédito para capital de giro variam conforme as modalidades de crédito: individual ou grupo solidário.

Crédito Individual – O crédito será garantido por um avalista indicado pelo cliente, que

deverá atender aos seguintes requisitos:

 Não ter seu nome negativado nos órgãos de proteção ao crédito;

 Possuir renda líquida mensal equivalente a 150% do valor da parcela mensal do empréstimo (ou da soma das parcelas quinzenais); e

 Não integrar a mesma unidade familiar que o cliente.

Caso a renda de um único avalista seja insuficiente, o cliente poderá indicar dois ou mais avalistas, cujo somatório das rendas atinja o valor necessário. Além disso, nos empréstimos individuais, também podem ser aceitas garantias reais, em caráter de garantias adicionais ao avalista ou mesmo em substituição. Tais garantias serão preferencialmente do ativo fixo da atividade econômica, cujo valor deve representar, nos casos de substituição do avalista, no mínimo 150% do montante do crédito. A avaliação e identificação de propriedade dos bens dados em garantia serão realizadas pelo corpo técnico dos CEAPEs.

Crédito Solidário – No caso do crédito ao grupo solidário (formado por três a cinco pessoas),

os créditos são garantidos através do aval recíproco de cada um dos integrantes do grupo em relação aos demais integrantes, sendo que, objetivando um melhor controle administrativo das operações por parte da instituição, em cada grupo solidário é escolhido um componente com perfil de liderança para ser o coordenador. Esse coordenador tem a responsabilidade de recolher as parcelas de cada componente do grupo a fim de efetuar o pagamento do boleto bancário no dia previsto. Contudo, estando o coordenador por algum motivo impossibilitado

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de exercer a sua função, qualquer componente do grupo está apto a assumir a responsabilidade.

A formação do grupo solidário deve considerar as seguintes condições:

 Os integrantes do grupo devem ser proprietários (ou co-proprietários) de empreendimentos diferentes;

 A diferença entre o valor do montante emprestado a cada integrante do grupo não poderá ser superior a 100% do valor do montante emprestado a outro componente do grupo;  Os integrantes dos grupos devem residir na mesma cidade;

 O grupo não poderá ser formado exclusivamente por parentes; e

 Não poderão participar do mesmo grupo pessoas de uma mesma unidade familiar.

Em ambos os casos, recomenda-se que, para créditos com valor superior a R$ 1.000,00, sejam exigidos, como forma adicional de garantia, cheques pré-datados no valor das parcelas. Também, é necessário que a atividade comercial esteja em funcionamento há pelo menos seis meses, tempo segundo o CEAPE, necessário para que o pequeno empreendedor obtenha algum conhecimento sobre a atividade que está operando.

3.1.5.2 Crédito para Investimento

Este tipo de crédito destina-se à aquisição de equipamentos, máquinas e ferramentas novas, recuperação de veículos utilitários, melhoria e ampliação de instalações do local de trabalho e pequenos investimentos.

Os critérios básicos de elegibilidade para acesso a esse produto são idênticos ao do crédito para capital de giro, sendo que no CEAPE/BA, só poderão adquirir o crédito para

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investimento, empreendedores que já sejam clientes da instituição por meio da modalidade de capital de giro e que apresentem um bom histórico creditício (principalmente os microempreendedores dos setores de produção e serviços).

O crédito não poderá ultrapassar o valor de R$ 10.000,00. Caso o cliente solicite simultânea ou complementarmente um crédito para capital de giro, o valor somado dos créditos não poderá ultrapassar esse limite (levando sempre em consideração a capacidade de pagamento do empreendimento). Além disso, deve-se observar que o valor do crédito concedido pelo CEAPE não poderá ultrapassar 80% do valor do investimento, de acordo com plano de aplicação do cliente.

O reembolso do empréstimo (capital e juros) será efetuado em parcelas mensais de valor idêntico. O prazo máximo para o pagamento dessa modalidade de empréstimo é de doze meses com até dois meses de carência, podendo ser cobrados juros a serem quitados na mesma periodicidade definida para o pagamento do principal.

Os encargos financeiros cobrados pelos créditos incluem juros, taxas bancárias e outras taxas e tributos que incidam sobre as operações de crédito. Os critérios para a fixação da taxa de juros são idênticos aos do crédito para capital de giro. Todavia, como essa modalidade de empréstimo possui um prazo maior de amortização, permitindo uma maior diluição das despesas operacionais, as taxas de juros são inferiores às cobradas pelo crédito para capital de giro.

Com relação às garantias, os créditos para investimento são garantidos complementarmente por:

 Aval individual, em condições idênticas as descritas para o crédito de giro; e  Garantias reais, na forma dos bens (máquinas, equipamentos e outros) adquiridos

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3.2 ASPECTOS SÓCIO-ECONÔMICOS E FINANCEIROS DOS CLIENTES E DOS EMPREENDIMENTOS FINANCIADOS

A pesquisa foi realizada com base em dados secundários6 das operações liberadas pelo CEAPE/Salvador no período de janeiro de 2000 a dezembro de 2007. Nesse período, foram realizadas 1945 operações (grupo solidário ou crédito individual) a 858 clientes distintos distribuídos nos diversos ramos oriundos dos setores: comércio, produção e prestação de serviços. Essas operações incluem contratos liberados, independentemente da quantidade de pessoas que faz parte do grupo solidário, sendo contabilizados para a presente análise apenas os coordenadores (858 clientes) dos grupos e os responsáveis pelo crédito individual e os dados financeiros e valores financiados dos respectivos clientes. O total de clientes financiados no período de 2000 a 2007, foi de 5.290 pessoas (contabilizando todos os componentes dos grupos solidários e créditos individuais).

Nesta seção é feita a análise e as devidas relações dos dados obtidos, selecionados conforme a temática pertinente ao objeto de estudo que, por sua vez, possam dar respostas à problemática do presente trabalho monográfico.

O crédito fornecido pelo CEAPE é dirigido a pequenos empreendedores que trabalhem por conta própria em atividades econômicas formais ou informais e que necessitem de capital de giro para investir em mercadoria ou matéria-prima, ou ainda para investimento em máquinas, reforma do estabelecimento comercial e outros.

No CEAPE/Salvador e região metropolitana, foco do estudo, apóiam-se setores de comércio (alimentos, bebidas, cereais, calçados, mercearias, mercadinhos, confecções, etc.), prestação de serviços (salão de beleza, serigrafia, refrigeração, etc.) e fabricação de produtos.

6 Os dados que basearam a pesquisa realizada foram obtidos através do banco de dados e sistema de informações

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Os empréstimos são liberados nas duas modalidades anteriormente explanadas: Grupo Solidário, que é a reunião de três a cinco donos de atividades comerciais que se conheçam e tenham confiança para se responsabilizarem solidariamente pelo valor emprestado, e o Crédito Individual, que necessita a apresentação de um avalista com renda comprovada e sem restrições cadastrais.

O requisito necessário para a obtenção do microcrédito fornecido pela Instituição é a maioridade civil, ou idade mínima de 18 anos, complementado por residência ou local de trabalho em áreas geográficas atendidas pelo CEAPE/Salvador, tempo mínimo de seis meses de funcionamento e boas referências comerciais. Além disso, a concessão do microcrédito leva em consideração as condições do empreendimento (capacidade, potencialidade e outros), avaliadas previamente, mediante visita ao empreendimento.

3.2.1 Análise do padrão de localização dos créditos financiados pelo CEAPE/Salvador

O CEAPE/Salvador realiza as suas atividades de atendimento aos clientes no microcrédito em Salvador, nas sub-regiões: periférica e central e em todo o entorno (Lauro de Freitas, Candeias e Simões Filho). De acordo com a pesquisa realizada, de um total de 1945 créditos liberados pelo Ceape/Salvador, durante o período de 2000 a 2007, a maioria ocorreu na região periférica da cidade do Salvador, com 1466 créditos realizados, o que corresponde aproximadamente 75% do total. Na Região Metropolitana, observou-se um total de 373 créditos liberados, perfazendo cerca de 19% dos financiamentos. Finalmente, na região central de Salvador, foram liberados 106 créditos (5,45%), conforme a tabela 1, abaixo.

(N) (%)

Periférica 1.466 75,37

Metropolitana 373 19,18

Central 106 5,45

Total 1.945 100,00

Fonte: elaboração a partir da base de dados do Ceape/Salvador, 2009

Zona de Atuação Créditos Liberados

Tabela 1 – Distribuição geográfica dos créditos liberados pelo Ceape/Salvador, jan/2000 - dez/2007

(39)

É importante ressaltar que somente a partir do ano de 2003 a Região Metropolitana começou a fazer parte da zona de atuação do CEAPE/Salvador. Os dados da Tabela 1 chamam a atenção para o fato de a maioria dos créditos liberados no período analisado estar concentrada na região periférica de Salvador. Esse fato que condiz com as características do público alvo do microcrédito, ou seja, pessoas sob o regime de economia informal, na sua maior parte composta de gente pobre, que se vale da atividade comercial como meio de sobrevivência e, na maioria das vezes, residentes de bairros carentes e periféricos. Esses dados apontam que as políticas públicas de microcrédito devem se orientar para aquelas regiões mais carentes do município, em vista de se localizar nessas regiões os piores índices socioeconômicos.

3.2.2 Análise da distribuição etária dos clientes financiados pelo CEAPE/Salvador

A distribuição etária das pessoas é uma variável socioeconômica relevante quando se pretende avaliar os efeitos de políticas de crédito. Dessa forma, a pesquisa também buscou informações sobre a faixa etária dos clientes financiados, conforme os dados constantes na Tabela 2.

Conforme os dados da referida Tabela 2, os clientes financiados no período de 2000 a 2007 foram classificados em quatro faixas etárias, sendo que a expressiva maioria destes têm idade superior a 30 anos e inferior a 61 anos (aproximadamente 81%), indicando uma média de idade da clientela estudada em torno de 45 anos, portanto uma clientela com idade

(N) (%) 18 a 30 anos 88 10,26 31 a 45 anos 349 40,68 46 a 60 anos 347 40,44 acima de 60 anos 74 8,62 Total 858 100,00

Fonte: elaboração a par tir da base de dados do Ceape/Salvador, 2009

Faixa Etária Clientes Financiados

Tabela 2 - Distr ibuição etária dos clientes financiados pelo Ceape/Salvador, jan/2000 - dez/2007

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relativamente elevada, quando se comparado com o setor formal da economia que é de aproximadamente 34 anos7.

A elevada média de idade dos clientes do microcrédito pode estar relacionada com significativas mudanças que ocorreram na economia brasileira nos últimos 30 anos. Tais transformações impulsionaram uma reestruturação produtiva com mudanças organizacionais e tecnológicas que, por sua vez, causaram uma precariedade nas relações de trabalho, elevando o exército industrial de reserva (tão importante para o capitalismo) e gerando uma crescente dificuldade na reabsorção das pessoas desempregadas no mercado de trabalho. Nesse panorama, surge a economia informal como alternativa de trabalho e sobrevivência para essas pessoas excluídas do mercado formal, muitas vezes, empreendedoras por necessidade.

3.2.3 Análise dos clientes financiados pelo CEAPE/Salvador por gênero

Tomando como base os clientes financiados no período, conforme a Tabela 3, a maioria dos clientes financiados pelo CEAPE era do sexo feminino (63,05%). É interessante notar que pesquisas internacionais confirmam o fato de a maioria dos empreendimentos informais serem dirigidos por mulheres motivadas pelas necessidades de criação de ocupação e renda. Conforme pesquisa realizada pela Global Entrepreneurship Monitor (GEM apud CORSINI, 2006, p. 108), o Brasil ocupa o sexto lugar no ranking mundial de empreendedorismo, motivado pelas necessidades de criação de ocupação e renda, sendo estas necessidades mais acentuadas nos empreendimentos dirigidos por mulheres. Muitas vezes, tais mulheres, por não estarem inclusas no mercado formal por falta de oportunidades ou para tomar conta de casa, filhos e assistir ao marido, buscam, no setor informal da economia, uma forma de auxilio ou até mesmo de manutenção das despesas do lar, criando, desta forma, certo grau de independência sócio - econômica.

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