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Gragoatá. n o semestre 2006 ISSN

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Academic year: 2021

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GraGoatá

ISSN 1413-9073

Gragoatá Niterói n. 21 p. 1-400 2. sem. 2006

n. 154 p. 1-140 2. sem. 2003

n. 21

2

o

semestre 2006

Política Editorial

a revista Gragoatá tem como objetivo a divulgação nacional e internacional de ensaios inéditos, de traduções de ensaios e resenhas de obras que representem contribuições relevantes tanto para reflexão teórica mais ampla quanto para a análise de questões, procedimentos e métodos específicos nas áreas de Língua e Literatura.

(2)

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É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Editora.

APOIO PROPP/CAPES / CNPq UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

G737 Gragoatá. Publicação do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal Fluminense.— n. 1 (jul./dez. 1996) - . — Niterói : EdUFF, 1996 – v.17 : il. ; 26 cm.

Semestral ISSN 1413-9073.

1. Literatura. 2. Lingüística.I. Universidade Federal Fluminense. Programa de Pós-Graduação em Letras.

CDD 800

Roberto de Souza Salles Antônio José dos Santos Peçanha Humberto Machado Fernandes Mauro Romero Leal Passos

Mariângela Oliveira (UFF) – Presidente Lívia de Freitas Reis (UFF)

Eneida Maria de Souza (UFMG) Solange Vereza (UFF)

Silvio Renato Jorge (UFF) José Luiz Fiorin (USP) Leila Bárbara (PUC-SP) Lucia Helena (UFF) Eurídice Figueiredo (UFF) Regina Zilberman (PUC-RS) Laura Padilha (UFF) Jussara Abraçado (UFF)

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Sumário

n.21 2º semestre 2006

Apresentação ... 5 ARTIGOS

Ordenação dos advérbios qualitativos em –mente no

português escrito no Brasil nos séculos XVIII e XIX ...11 Mário Eduardo Martelotta

A estrutura argumental das construções deverbais em -dor ..27 Nubiacira Fernandes de Oliveira

Correlações função-forma em dois períodos do século XX: indícios de especialização funcional ...43 Maria Alice Tavares

Gramaticalização de conjunções coordenativas: a história de uma conclusiva ...59 Sanderléia Roberta Longhin-Thomazi

Conjunções lexicais e gramaticais: o caso de por causa de...73 Maria da Conceição Auxiliadora de Paiva e Maria Luiza Braga

Mudança no sistema verbal do português: as variantes do futuro do pretérito e a questão da gramaticalização ...87 Ana Lúcia dos Prazeres Costa

Transitividade verbal: uma análise funcional das

manifestações discursivas do verbo fazer ...101 Célia Maria Medeiros Barbosa da Silva

Estrutura argumentale valência: a relação gramatical objeto direto ...115 Maria Angélica Furtado da Cunha

“Restrições de ilhas” revisitadas: uma abordagem

funcionalista à luz da noção de “unidade de informação” ...133 Maria Beatriz Nascimento Decat

Gramaticalização e dessentencialização de construções com predicados de atitude proposicional ... 147 Sebastião Carlos Leite Gonçalves

A gradação tipológica das construções de voz ... 167 Roberto Gomes Camacho

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espontânea em português ...191 Maria Elizabeth Fonseca Saraiva

Aspectos semântico-cognitivos da intensificação ...201 José Romerito Silva

Usos morfológicos: os processos marginais de formação de palavras em português ...219 Carlos Alexandre Gonçalves

Usos do verbo ficar no português do Brasil: classificação e análise ...243 Ida Rebelo e Paulo Osório

O uso do modo subjuntivo em orações relativas e

completivas no português afro-brasileiro ...269 Vívian Meira

O papel da mesclagem conceptual na construção do

significado do angulador um tipo de ...289 Angelina Aparecida de Pina

Aquisição lingüística sob a ótica dos modelos

multirepresentacionais ...303 Christina Abreu Gomes, Aline Rodrigues Benayon e Márcia Cristina Pontes Vieira

A construção da referência e do sentido: uma atividade

sociocognitiva e interativa ...319 Cláudia Roncarati e Sílvia Regina Neves da Silva

Identité sociale et identité discursive, le fondement de la compétence communicationnelle ...339 Patrick Charaudeau

Representação e intervenção: produção da subjetividade na linguagem ...355 Décio Rocha

Um ethos para Hércules: considerações sobre a produção dos sentidos no tratamento editorial de textos ...373 Luciana Salazar Salgado

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apresentação

o tema deste número 21 da revista Gragoatá, usos lin-güísticos, contempla reflexões acerca das seguintes questões: continuidade, variabilidade e mudança dos usos lingüísticos; derivação e estabilidade de sentido e de forma na língua; a ex-pressão lingüística como história e como atualização; o passado e o presente no continuum das línguas; as relações entre língua, sociedade e sujeito; e relações interpessoais, tais como: negocia-ção, polidez e conflito.

Buscando adequar-se à natureza do tema a que se dedica, a Gragoatá 21, no que diz respeito à ordenação dos artigos que reúne, apresenta-se organizada em forma de um continuum: os trabalhos voltados para o estudo de unidades lingüísticas me-nores ou de fenômenos mais específicos antecedem aqueles que se detêm na investigação de unidades maiores ou de fenômenos de caráter mais abrangente.

De acordo com tal disposição, o primeiro artigo, de autoria de Mário Eduardo Martelotta, trata da ordem dos advérbios qualitativos em –mente, nos séculos XVIII e XIX. analisando a ordenação que caracteriza tais advérbios em cartas escritas no Brasil da época, Martelotta se propõe a demonstrar o gradual desaparecimento da tendência, já detectada em fases anteriores da evolução do português, ao posicionamento desses advérbios antes do verbo.

No artigo seguinte, de Nubiacira Fernandes de Oliveira, o centro de interesse é a estrutura argumental de construções deverbais com o sufixo –dor. Em seu trabalho, a autora busca examinar os processos de interação entre propriedades morfos-sintáticas, semânticas e pragmáticas, visando ao estabelecimento de traços gerais de interpretação caracterizadores de tais constru-ções. Para tanto, investiga a relação entre o sufixo e a estrutura temática das bases com as quais o sufixo ocorre, focalizando, em particular, as seguintes questões: (1) em que medida a estrutura argumental da construção deverbal corresponde à estrutura argumental da base? (2) como o caso agente se manifesta nas construções derivadas em -dor?

Partindo da constatação de que, como resultado de seus processos de gramaticalização, os conectores e, aí e então pos-suem funções sobrepostas no português brasileiro, Maria Alice Tavares, à luz do suporte teórico da lingüística funcional, estuda os padrões de correlação entre e, aí e então e três dessas funções: seqüenciação textual, seqüenciação temporal e introdução de efeito. tavares analisa dados oriundos de As vinhas da ira, romance escrito por John Steinbeck em 1939 (cuja tradução brasileira,

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datada de 1940, apresenta marcas do dialeto usado nos anos trinta pelas classes populares do estado do rio Grande do Sul) e de 48 entrevistas provenientes do Banco de Dados VARSUL, que foram coletadas ao longo da última década do século XX. a partir dos resultados encontrados, tavares chega às seguin-tes conclusões: (1) e, aí e então intercalam-se na codificação da seqüenciação textual, da seqüenciação temporal e da introdu-ção de efeito na primeira e na segunda metade do século XX; e (2) houve mudanças nos padrões de correlação função-forma, uma vez que, na década de trinta, aí e então são muito menos utilizados para codificar algumas das funções em tela do que na década de noventa.

Aspectos relativos à gramaticalização de conjunções co-ordenativas constituem o foco de atenção do artigo escrito por Sanderléia Roberta Longhin-Thomazi. Apoiando-se no pressu-posto de que fatores de ordem cognitiva e pragmática interagem para a criação de novos itens gramaticais, a autora adota uma concepção de coordenação fundamentada em critérios semânti-co-funcionais e busca reconstruir o percurso histórico-evolutivo da conjunção conclusiva logo, com base em fontes históricas do português.

Maria Luiza Braga e Maria da Conceição Paiva discutem, em seu trabalho, os empregos de por causa (de) que, no discurso oral, buscando identificar as equivalências e diferenças que apresentam os usos dessa locução conjuntiva em relação à con-junção prototípica porque e ao sintagma preposicional por causa de no discurso oral. através de uma análise comparativa de algumas propriedades sintáticas e semântico-discursivas dessas três construções causais, as autoras destacam as restrições ao uso da conjunção perifrástica por causa (de) que e a pertinência de distingui-la da conjunção inteiramente gramaticalizada por-que, apresentando evidências favoráveis à conclusão de que o processo de gramaticalização de uma locução conjuntiva opera inicialmente no nível representacional.

Pesquisas recentes têm abordado a gramaticalização do verbo ir/movimento em verbo auxiliar. O estudo realizado por Ana Lúcia dos Prazeres Costa intenta mostrar: (1) que este au-xiliar não ocorre somente na expressão do futuro, mas também em variação com o futuro do pretérito; (2) que o uso da perí-frase verbal com ir tem se tornado mais freqüente; (3) que, até a primeira metade do século XX, este auxiliar concorria com outro, haver de, no contexto de variação considerado. Visando à realização de um estudo de mudança em tempo real de longa duração, o material objeto de análise foi extraído de amostra constituída por peças teatrais.

No artigo de Célia Maria Medeiros Barbosa da Silva, cumprem-se os seguintes objetivos: analisar a transitividade do

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rar o desencontro entre o conceito de transitividade puramente teórico, trabalhado pela gramática tradicional,e aquele que, no âmbito da lingüística funcional contemporânea, refere-se ao ato discursivo/comunicativo do falante. São também discutidas, com base nos resultados encontrados na análise dos dados, diversifi-cadas possibilidades de se analisar a transitividade a partir da manifestação discursiva do verbo.

Maria Angélica Furtado da Cunha focaliza, em seu texto, a relação gramatical objeto direto sob a perspectiva funcionalista do estudo da língua. analisa os aspectos sintáticos, semânticos e pragmáticos relacionados ao objeto direto, tomando as pro-priedades sintáticas como derivadas de propro-priedades semânti-cas e sintátisemânti-cas do verbo a que o objeto direto está relacionado. os dados empíricos submetidos à análise correspondem a oito narrativas conversacionais extraídas do Corpus Discurso & Gra-mática: a língua falada e escrita na cidade do Natal. . Com base nos resultados obtidos, a autora propõe um tratamento gra-diente da relação gramatical em estudo, através de uma escala que ordenaria os objetos diretos de acordo com o seu grau de prototipicidade.

O artigo de autoria de Maria Beatriz Nascimento Decat apresenta uma análise de cunho funcionalista das estruturas de “ilhas” (denominação oriunda da teoria gerativista), objetivando demonstrar que as restrições estabelecidas por tais ilhas, em re-lação à ocorrência de constituintes em determinados lugares da estrutura, devem-se ao fato de elas constituírem, funcionalmente, “unidades de informação”, não permitindo, portanto, a extração ou movimento de constituintes para fora de seus limites.

recorrendo a dois tipos de construção com predicados matrizes (parecer e achar/crer), diferentes no estatuto argumen-tal da completiva (sujeito ou complemento, respectivamente) e semelhantes na codificação das atitudes subjetivas do falante (evidencial/modal epistêmico), Sebastião Carlos Leite Gon-çalves mostra, em seu artigo, a tendência a gramaticalização e dessentencialização dessas construções que, segundo evidências encontradas, desvinculam-se de suas orações encaixadas e reca-tegorizam-se como satélites atitudinais. Essa alteração sintática, observa o autor, afeta a construção complexa, que passa de bi-clausal para monobi-clausal.

Roberto Gomes Camacho ocupa-se, em seu artigo, da caracterização tipológica da passiva. Nesse sentido, desenvolve análise pautada em dados extraídos do corpus compartilhado do Projeto de Gramática do Português Falado, que consiste numa amostragem do material coletado pelo Projeto da Norma Urbana Culta (NURC)/Brasil, gravados com informantes cultos procedentes de Recife, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Baseando-se na noção givoniana _ segundo a qual a

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mul-tifuncionalidade da voz verbal envolve três domínios funcionais: atribuição de um tópico, impessoalização e detransitivização _, Camacho estabelece como principal interesse de seu trabalho o de fornecer, com base nos referidos domínios, uma caracteriza-ção escalar e não discreta para as diferentes construções de voz disponíveis na gramática do português.

O artigo de autoria de Maria Elizabeth Fonseca Saraiva examina e quantifica o grau de transitividade (segundo a acepção de tHoMPSoN & HoPPEr, 2001) de enunciados ressoantes, isto é, enunciados proferidos por interlocutores diferentes em que se estabelece uma relação de mapeamento tanto estrutural quanto lexical. A análise é norteada por princípios da abordagem funcionalista, em seu modelo norte-americano, e os dados ana-lisados foram extraídos de conversações espontâneas que fazem parte do banco de dados do Grupo de Estudos Funcionalistas da Linguagem (GREF).

José Romerito Silva estuda os processos de intensificação, no que diz respeito aos seus aspectos semântico-cognitivos. Para tanto, busca subsídios teóricos da Semântica Cognitiva, segundo a qual a linguagem codifica os esquemas cognitivos estruturados a partir de nossa experiência com a realidade. Essa codificação, propõe o autor, reflete combinações metafóricas existentes entre domínios de natureza mais “concreta”, adquiridos a partir do modo como conceptualizamos nossa relação com o mundo, e outros de natureza mais abstrata. A análise e os resultados en-contrados têm como suporte dados extraídos do Corpus Discurso & Gramática, constituído de textos orais e escritos, e de textos avulsos coletados, principalmente, de jornais e revistas.

Carlos Alexandre Gonçalves, no artigo “Usos morfológicos: os processos marginais de formação de palavras em português”, abre uma série de trabalhos que, a partir de perspectivas teórica e metodológica diversas, abordam a rica e complexa questão dos usos lingüísticos. Em seu texto, com base na morfologia prosódica, Gonçalves circunscreve o foco de análise aos proces-sos não-concatenativos de formação de palavras do português brasileiro. Para tanto, o autor propõe que tais operações mor-fonológicas sejam distribuídas em três grupos de fenômenos: afixação não-linear (reduplicação), encurtamento (truncamento e hipocorização) e fusão (mesclagem lexical e siglagem).

No texto seguinte, Ida Rebelo e Paulo Osório apresentam e analisam distintos usos do verbo ficar na norma brasileira do português contemporâneo. os autores, partindo dos postulados da gramática funcional de Dik e das variadas acepções de ficar articuladas na comunidade lingüística do Brasil, levantam, descrevem, classificam e interpretam esses usos, levando em consideração os moldes de predicado e os definidores semânticos envolvidos nessas articulações. Em análise pautada em parâme-tros semântico e funcional-pragmático, Rebelo e Osório traçam

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verbal mutacional.

Em “o uso do modo subjuntivo em orações relativas e com-pletivas no português afro-brasileiro”, Vívian Meira investiga, com base no suporte teórico-metodológico da sociolingüística variacionista, a expressão do subjuntivo em construções oracio-nais complexas de quatro comunidades rurais afro-brasileiras do interior da Bahia. Em sua pesquisa, diferentemente dos re-sultados obtidos sobre o estudo desse modo verbal no português urbano do Brasil, Meira observa que o subjuntivo ganha espaço em relação ao indicativo, revelando um processo de aquisição que passa, necessariamente, por fatores de ordem morfológica e semântica. Tal condição faz com que a autora confirme a realidade bipolarizada do português brasileiro, fruto de duas trajetórias históricas diversas – a urbana e a rural, com suas específicas realidades lingüísticas.

Angelina Aparecida de Pina, com base na lingüística cog-nitiva e na teoria dos espaços mentais, trata do papel da mescla-gem conceptual desempenhada na construção do significado do angulador do português um tipo de. a autora analisa sentenças articuladas por esse angulador, chegando à conclusão de que o significado de um tipo de depende da mesclagem conceptual que a construção incita: um mapeamento entre um espaço input (entidade) e um outro espaço input (categoria / membro mais prototípico de uma categoria), um espaço genérico, uma projeção parcial para o espaço mescla (a entidade, a categoria / membro mais prototípico de uma categoria e algumas propriedades partilhadas) e uma estrutura emergente (categoria flexível / hiperonímia).

No artigo “Aquisição lingüística sob a ótica dos modelos multirepresentacionais”, Christina Abreu Gomes, Aline Ro-drigues Benayon e Márcia Cristina Pontes Vieira apresentam os resultados de três pesquisas que focalizam a aquisição da variação estruturada de padrões fonológicos por crianças do Rio de Janeiro, tendo os modelos baseados no uso como referencial teórico. Nessa abordagem, as autoras assumem que a variação sociolingüística é representacional, não uma regra, conforme a tradição dos estudos sociolingüísticos, e é parte do conhecimento lingüístico do falante, que deve ser adquirido. Abreu, Benayon e Vieira propõem que distribuições de freqüência das variantes ob-servadas na produção das crianças por faixa etária sejam vistas como reflexos da maneira como as variantes são armazenadas e adquiridas, defendendo ainda que gradualidade e efeitos de freqüência permeiam o processo de aquisição lingüística.

No artigo seguinte, Cláudia Roncarati e Sílvia Regina Ne-ves da Silva ampliam o foco de abordagem dos usos lingüísticos, ao tratarem da noção de cadeia referencial na progressão textual e da questão dos usos referenciais e atributivos no processo de

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construção do objeto-de-discurso. Em “A construção da referên-cia e do sentido: uma atividade sociocognitiva e interativa”, as autoras adotam enfoque metateórico, pautando-se na teoria da referenciação de base sócio-cognitiva interativa, para identificar cadeias referenciais na progressão de três textos de gêneros diversos, na demonstração de que a construção da referência e seus mecanismos de articulação é traço constitutivo de todos os objetos-de-discurso.

os usos discursivos, na perspectiva dos sujeitos comuni-cantes e interpretantes, são também objeto de investigação de Patrick Charaudeau em “Identité sociale et indetité discursive, le fondement de la compétence communicationnelle”. Aqui o autor destaca a complexidade de que se reveste a questão da identidade, tanto a social quanto a discursiva, que resulta do entrecruzamento de uma série de fatores ou motivações. A par da diversidade apontada, Charaudeau destaca a tensão entre o caráter multifacetado da identidade e a tentativa de fazê-la una e essencial.

A complexidade e a subjetividade dos usos lingüísticos é abordada por Décio rocha no artigo “representação e interven-ção: produção de subjetividade na linguagem”. o autor, a partir do conceito de cenografia de Maingueneau, analisa declarações concedidas pelo presidente Bush imediatamente após o 11 de setembro de 2001. Com base no duplo papel da linguagem – re-presentação e intervenção, rocha levanta, descreve e interpreta as marcas lingüísticas do discurso presidencial norte-americano em sua articulação relacional entre o sujeito e o mundo, proble-matizando ainda as conexões entre identidade e alteridade.

No último artigo, “Um ethos para Hércules – considera-ções sobre a produção dos sentidos no tratamento editorial de textos”, Luciana Salazar Salgado aborda o tema dos usos lin-güísticos numa feição distinta dos demais. A autora, com base em Maingueneau, discute a questão da autoria e seu processo de constituição, analisando excertos de tratamento editorial de uma versão dos Doze Trabalhos de Hércules, nos quais alterações sutis da cenografia discursiva alteram o ethos que dela participa, matizando o mito. Salgado enfatiza que, para a reflexão sobre a produção editorial e para uma prática de edição proveitosa, é necessário compreender a maneira pela qual os diferentes atores envolvidos com a publicação dão sentido aos textos que transmitem, imprimem e lêem.

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ordenação dos advérbios qualitativos

em –mente no português escrito no

Brasil nos séculos XVIII e XIX

Mario Eduardo Martelotta

Recebido 20, jun. 2006/Aprovado 15, ago. 2006

Resumo

Este trabalho consiste em uma análise da ordena-ção que caracteriza os advérbios qualitativos em

-mente, em cartas escritas no Brasil nos séculos

XVIII e XIX. O objetivo é demonstrar o gradual desaparecimento, que se dá do século XVIII para o século XIX, da tendência que esses advérbios possuem de se colocar antes do verbo, já detectada em fases anteriores da evolução do português. Palavras-chave: advérbio, ordenação, gramati-calização, mudança lingüística.

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O objetivo do presente trabalho é fazer uma análise das tendências de ordenação dos advérbios qualitativos1 derivados em -mente em textos escritos nos séculos XVIII e XIX. Busca-se observar, sobretudo, os advérbios referentes a verbos, já que os qualitativos em -mente que modificam adjetivos, particípios e outros advérbios não apresentam mudanças em suas tendências de ordenação no período de tempo analisado.

Para que se tenha uma noção mais precisa dos objetivos deste trabalho, é importante ressaltar que, embora o foco esteja nos séculos XVIII e XIX, o que se busca aqui é observar um pro-cesso de mudança mais amplo. Em outras palavras, esta pesquisa é parte de uma análise mais geral, que observa a mudança nas tendências de ordenação dos advérbios qualitativos do latim ao português atual (MORAES PINTO, 2002; MARTELOTTA; BAR-BOSA; LEITÃO, 2002; MARTELOTTA, 2004; MARTELOTTA; PROCESSY, 2006).

Em Martelotta e Processy (2006), observa-se um levanta-mento de ocorrência de advérbios qualitativos, temporais e es-paciais em textos do latim clássico. Os resultados dessa pesquisa apontam para o fato de que, no latim clássico, os advérbios, de um modo geral, tendem fortemente a ocorrer antes do verbo,2 tendência já mencionada em Marouzeau (1949) para os qualita-tivos bem e mal e os intensificadores muito e pouco.

Analisando textos escritos em língua portuguesa, Marte-lotta (2004) apresenta uma comparação entre as tendências de ordenação dos advérbios qualitativos bem e mal nas fases arcai-ca e atual, que demonstrou arcai-característiarcai-cas distintas para esses dois períodos da evolução de nossa língua. Esses advérbios, na fase arcaica, podem aparecer não apenas depois do verbo, como ocorre atualmente, mas também antes do verbo. o mesmo ocorre com advérbios qualitativos em -mente, como se observa nos exemplos abaixo:

(1) [...] nos daram com a graça de nosso senhor deus e de nosa senhora santa marya grande auantajem pêra bem e folgadamente desenbargarmos [...] (DIAS, 1982)

(2) Creo uerdadeyrame~ te que Jhesu Christo he uerdadeyro

Deus [...] (MALER, 1956)

Nota-se que, no exemplo (1), o advérbio folgadamente apa-rece antes do verbo (desenbargarmos) e, no exemplo (2), depois do verbo (creo). Entretanto é nas cláusulas com altos graus de gramaticalização3 que se encontra a grande maioria das ocor-rências pré-verbais de qualitativos no português arcaico:

(3) [...] que Deus faça dyno pera por uos dignamente orar [...] (DIAS, 1982)

Os textos do português atual, diferentemente, demonstra-ram uma propensão, que se manifesta quase categoricamente, de esses advérbios4 ocorrerem após o verbo, em cláusulas gramati-calizadas (reduzidas de infinitivo) ou não. Eis um exemplo: 1 Estamos aqui

chaman-do de qualitativos os vo-cábulos tradicionalmen-te classificados como advérbios de modo. 2 Essa tendência se man-tém mesmo em casos em que a frase não termina com o verbo.

3 De acordo com Hopper e traugott (2003) as cláu-sulas hipotáticas (tradi-cionalmente chamadas de adverbiais) e as su-bordinadas, sobretudo as reduzidas, apresen-tam níveis maiores de gramaticalização. 4 Essa propensão se ma-nifesta mais fortemente com os advérbios qua-litativos bem e mal do que com os terminados em -mente, que parecem ter mais mobilidade na cláusula. Isso, provavel-mente, se dá pelo fato de

bem e mal serem

monos-sílabos, tendendoa se fixar junto aos verbos a que se referem, chegan-do, em alguns casos, a se tornarem prefixos (bendizer, maldizer).

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(4) As festas de família, os aniversários, os batizados, os ca-samentos, as doenças e a morte estreitam calorosamente os laços. (BOFF, 1998)

No que se refere ao século XIX, Martelotta e Vlček (2006), em uma pesquisa sobre os advérbios qualitativos em -mente em cartas de leitores e de redatores, escritas em três fases, ou períodos de tempo, do século XIX, apontaram uma tendência de as ocorrências pré-verbais desses advérbios desaparecem gradualmente com o passar do tempo. Na primeira fase (de 1808 a 1840), há mais ocorrências de posições pré-verbais do que na segunda (1841 a 1870), que, por sua vez, apresenta maior tendên-cia à pré-posição do que a terceira (1871 a 1900). Isso aponta para uma mudança, no século XIX, da ordenação desses advérbios em direção à pós-posição, característica desses elementos no português atual.

Nesse sentido, trabalha-se aqui com a hipótese de que há uma trajetória de mudança gradual a partir do latim, segundo a qual os advérbios qualitativos passam progressivamente da posição pré-verbal para a pós-verbal. Essa mudança se inicia nas cláusulas menos gramaticalizadas5 e vai passando, em seguida, para as mais gramaticalizadas.

a posição pré-verbal latina começa a desaparecer nas cláu-sulas justapostas ou coordenadas, ficando ainda perceptível, do português arcaico ao português do século XIX, nas cláusulas hipotáticas e subordinadas, sobretudo, na formas reduzidas, que apresentam maiores graus de encaixamento ou gramaticalização. Isso ocorre porque as mais gramaticalizadas apresentam graus maiores de cristalização e, conseqüentemente, graus maiores de pressuposicionalidade (GIVÓN, 1979). Com o tempo, essa tendência vai desaparecendo também nas cláusulas encaixadas e o século XIX parece ser o período em que essa mudança se efetivou.

Com base nesses dados, este trabalho partiu das seguintes hipóteses:

a) Serão encontradas mais ocorrências de qualitativos em -mente em posição pré-verbal no século XVIII do que no século XIX, já que a mudança nas tendências de ordena-ção desses elementos se dá de modo gradual.

b) as ocorrências de qualitativos em -mente em posição pré-verbal tenderão a aparecer em cláusulas com graus maio-res de gramaticalização em ambos os séculos analisados. Na base dessa hipótese, está a proposta de Givón (1979), segundo a qual essas cláusulas são mais conservadoras em termos de ordenação, o que significa que elas tendem a preservar a antiga colocação pré-verbal latina.

c) a distribuição das ocorrências pré-verbais se apresentará de modo diferente nos dois séculos analisados. A tendên-cia é o desaparecimento dessas ocorrêntendên-cias em cláusulas 5 Entre as menos

gra-maticalizadas estão as cláusulas justapostas e coordenadas, que Ho-pper e traugott (1993) caracterizam como ca-sos de parataxe.

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menos gramaticalizadas durante século XIX, já que essas cláusulas são afetadas inicialmente pela mudança. Isso significa que o século XVIII tenderá a exibir mais quali-tativos em -mente pré-verbais em cláusulas justapostas e coordenadas do que o século XIX.

d) os qualitativos em -mente tenderão a aparecer próximos ao verbo. Subjacente a essa hipótese está o subprincípio icônico da proximidade (GIVON, 1990), que propõe uma relação entre proximidade semântica e proximidade sin-tática. Segundo esse subprincípio, entidades que estão próximas funcionalmente, conceptualmente ou cogni-tivamente ocorrerão próximas no nível da codificação. ou seja, os qualitativos, que indicam o modo como se dá a ação verbal, interferindo substancialmente em seu sentido, tendem a ocorrer próximos ao verbo.

Metodologia

Este trabalho visa a apontar as tendências de ordenação dos advérbios qualitativos em -mente em textos escritos nos sé-culos XVIII e XIX. Para que um trabalho comparativo entre estes dois séculos pudesse ser feito, foram analisadas as ocorrências destes advérbios em cartas escritas no Rio de Janeiro nos dois períodos.

o material analisado do séc. XVIII é constituído de cartas oficiais e de comércio, bem como de documentos particulares e cartas comuns; pertencentes ao acervo do PHPB-RJ (BARBOSA; LOPES, 2003). Foram também analisadas duas cartas de adminis-tração pública, representações oficiais do Rio de Janeiro, obtidas no corpus do Museu da Língua Portuguesa - Estação da Luz.6 Embora as ocorrências de qualitativos em -mente, nesses textos, seja muito reduzida, será feita uma leitura das tendências gerais de ordenação neste século.

Os textos do séc. XIX englobam, na medida do possível, documentos de natureza semelhante aos do século XIX: cartas oficiais e cartas escritas no Rio de Janeiro. Foram também obser-vadas cartas pessoais, como as cartas a Rui Barbosa, bem como cartas de leitores e redatores publicadas em jornais cariocas. Todo o material referente a este período foi obtido a partir do corpus do PHPB-RJ (BARBOSA; LOPES, 2003).

Buscou-se observar as ocorrências dos advérbios com base em duas variáveis: posição na cláusula e grau de gramaticalização da cláusula. A partir de agora será feita uma exposição acerca dessas variáveis, começando pelas posições na cláusula:

Posições pré-verbais a) advérbio + Verbo (aV)

(5) ... porem nossa consciencia tranquilla nos affiança de | não termos offendido o melindre, e nosso correspondente | 6 D i s p o n í v e l e m :

<http://estacaodaluz. org.br >.

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a quem cordialmente respeitamos. (PHPB - Carta de Redator no 8, 1a Fase)

Posições pós-verbais a) Verbo + advérbio (aV):

(6) O futuro te espera grandioso: - prepara-te dignamente para êle. (séc. XVIII, Carta a Rui Barbosa, no 217.1.(2))

b) Verbo + X7 + advérbio (VXa)

(7) ... atiram-se sedentes de sangue como | féras, sobre a pobre victima que desprevenida | assistia ao espetaculo impu-nemente, de que elles | proprios se tinham tornado actores na noite de | 13 do corrente: e o povo ainda teve de sujar as | mãos, medindo n’aquella occasião, a sua força | com a espada de um sicario. (PHPB - Carta de Leitor no 6, 3a Fase)

além dessas posições, encontramos alguns casos em que o advérbio se relaciona a em locuções verbais (ex:

hão de judiciosa-mente convir, deve surprehender inteiramente). Foram encontrados casos em que o advérbio ocorre ao final e no meio da locução. Por apresentar características sintáticas distintas, optou-se por não levar em conta esses dados na análise quantitativa.

Grau de gramaticalização das cláusulas

De acordo com Hopper e traugott (2003), os períodos complexos baseiam-se em uma trajetória com três pontos de aglomeração, como se segue:

1 - Parataxe ou independência relativa, exceto como restrin-gida pela pragmática de fazer sentido e relevância. 2 - Hipotaxe ou interdependência, em que há um núcleo e

uma ou mais cláusulas que não podem ficar sozinhas e que são, por conseguinte, relativamente dependentes. Entretanto elas não se incluem completamente em qual-quer constituinte do núcleo.8

3 - Subordinação, ou, em sua forma extrema, encaixamento; em outras palavras, dependência completa, em que uma margem está completamente incluída no núcleo.

Esses pontos de aglomeração podem ser caracterizados pela seguinte trajetória de gramaticalização em direção a es-truturas mais encaixadas, ou, em outras palavras, mais grama-ticalizadas:

parataxe > hipotaxe > subordinação

-dependente +dependente +dependente

-encaixada -encaixada +encaixada

Isso significa que as cláusulas subordinadas são mais gra-maticalizadas do que as hipotáticas, por apresentarem níveis maiores de dependência e encaixamento. Do mesmo modo, 7 X é qualquer elemento

lingüístico que ocorra entre o advérbio e o ver-bo, como um elemento de natureza argumental ou outro advérbio. 8 as hipotáticas incluem as tradicionalmente cha-madas subordinadas adverbiais e adjetivas explicativas.

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as cláusulas hipotáticas são mais gramaticalizadas do que as paratáticas.

No que se refere às cláusulas reduzidas, partiremos, com Givón (1990), da proposta de que a redução da subordinada reflete graus maiores de integração. O autor propõe ainda que a existência de diferentes graus de encaixamento ou integração entre a cláusula principal e sua subordinada com função de obje-to relaciona-se ao conceiobje-to de iconicidade, mais especificamente ao subprincípio da proximidade. Segundo essa proposta, há um isomorfismo entre a semântica e a sintaxe da complementação verbal, no sentido de que os graus de integração sintática entre as cláusulas não refletem aspectos arbitrários, sendo, ao contrá-rio, a expressão gramatical dos níveis de vinculação semântica entre o evento expresso pela cláusula principal e o expresso pela subordinada.

Givón (1990) propõe os seguintes princípios de iconicidade para a sintaxe da complementação:

a) Quanto mais integrados são dois eventos, mais integra-dos são os verbos que os exprimem. Uma das principais manifestações da vinculação semântica é o nível de controle do sujeito da principal sobre o sujeito da subor-dinada: em João fez Maria sair, por exemplo, o controle do sujeito da principal sobre o da subordinada é maior do que em João pediu que Maria saísse, em que não há garantia de que Maria, de fato, tenha saído.

b) Quanto mais integrados são dois eventos, menor a proba-bilidade de eles serem separados por um subordinador, ou mesmo por uma pausa física.

c) Dada uma hierarquia de graus de agentividade, AG > DAT > ACC > OUTROS, quanto mais integrados são os dois eventos, menos agentivo será o sujeito da cláusula complemento.

d) Dada uma hierarquia de graus de finitude (em oposição a graus de nominalidade), da forma verbal, os mais in-tegrados são os casos que apresentam o verbo da subor-dinada com características mais nominais e com menos morfologia verbal.

Gramaticalização e estrutura sintática

De acordo com Givón (1979), a maior liberdade e variedade de elementos significativos tende a ocorrer na cláusula principal, declarativa, afirmativa, ativa. Por outro lado, tanto no que se refere a itens lexicais quanto a construções sintáticas, a distribuição dos elementos significativos, em todos os outros tipos de cláusula, é sempre mais restrita.

Isso ocorre em função do fenômeno da pressuposição dis-cursiva, ou seja, o grau de pressuposicionalidade no qual uma sentença é usada. Esse fenômeno está relacionado ao nível de

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dificuldade que o falante acha que o ouvinte terá em determinar uma única referência para um referente no discurso. E, segundo Givón (1979), a cláusula principal, declarativa, afirmativa, ativa apre-senta a complexidade pressuposicional mais baixa no discurso, se comparada a todos as outras variantes sintáticas.

Givón (1979) apresenta várias propriedades formais dessas variantes sintáticas, em relação ao seu grau de pressuposicio-nalidade:

1- Variantes mais pressuposicionais exibem maior comple-xidade sintática.

2- Variantes mais pressuposicionais apresentam maiores restrições distribucionais do que os padrões neutros. 3- Variantes mais pressuposicionais são gramaticalizadas

mais tarde por crianças, ou pelo menos sua sintaxe é adquirida mais tarde do que as variantes menos pressu-posicionais.

4- Variantes mais pressuposicionais freqüentemente ten-dem a exibir grande conservadorismo sintático, mais comumente na área da mudança de ordenação.

5- a cláusula principal declarativa, afirmativa, ativa, neutra e menos pressuposicional é também a mais freqüente no discurso.

Dentre essas propriedades, são especialmente interessantes para este trabalho as de número 1, 2 e 4, já que se propõe aqui que as cláusulas gramaticalizadas, e, portanto, mais restritas distribucionalmente e mais complexas sintaticamente, tendem a ser mais conservadoras, apresentando as tendências de distri-buição dos advérbios em -mente mais antigas.

As pressuposições discursivas das construções sintáticas a noção de pressuposição é entendida aqui como um con-junto de informações que estão fora da sentença e que são assu-midas pelo falante como evidentes ou indiscutíveis. Em outras palavras, aquilo que é pressuposto tende a refletir conhecimentos compartilhados, crenças comuns ou conhecimento presumido como conhecido.

Seguindo Givón (1979), esta pesquisa não adota a distinção entre pressuposição lógica e pressuposição pragmática, já que parte do princípio de que todo fenômeno pressuposicional nas línguas naturais é pragmático. Nas palavras de Givón (1979), o fenômeno da pressuposição, tem a ver com: “as hipóteses que o falante assume acerca da habilidade do ouvinte de identificar unificadamente (‘estabelecer uma única referência para’) um argumento-referente.” (p. 50)

Nesse sentido, Givón (1979) apresenta as variantes sintá-ticas que se caracterizam por maior grau de pressuposiciona-lidade:

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rela-tivas, clivadas, pseudo-clivadas e perguntas QU. 2. Cláusulas encaixadas.

3. Outros atos de fala. Imperativo, interrogativo e negativo. 4. Construções envolvendo graus de

definitude-topica-lidade dos argumentos. Mudança de tópico, passiva, pronomes anafóricos, etc.

De acordo com o autor, essas construções apresentam or-denação mais conservadora dos elementos argumentais. Mas esse raciocínio pode ser estendido para as características de ordenação de elementos adverbiais. De fato, como já foi mencio-nado, o nível de encaixamento ou gramaticalização da cláusula tem influência sobre as tendências de ordenação de advérbios qualitativos.

O português arcaico caracteriza-se por uma variação na colocação dos advérbios, ou seja, apresenta advérbios qualitativos nas posições pré e pós-verbais em todos os tipos de cláusulas, apresentando uma pequena predominância de anteposição nas cláusulas mais gramaticalizadas. Por outro lado, textos de épocas posteriores à fase arcaica – pelo menos até o século XIX - apresentam cada vez menos anteposições de advérbios, que vão ficando cada vez mais restritas a cláusulas com altos graus de gramaticalização. Isso sugere que, de fato, esses parâmetros de pressuposicionalidade podem ajudar a descrever mudanças no comportamento diacrônico desses elementos, no que diz respeito à sua ordenação.

Análise dos dados referentes ao século XVIII

A análise dos dados será feita separadamente. Primeiro serão observados os textos do século XVIII e, em seguida os do século XIX. A tabela abaixo apresenta a distribuição das ocor-rências dos qualitativos em -mente pelas diferentes posições ob-servadas, sempre levando em conta o grau de gramaticalização das cláusulas que contêm essas ocorrências:

XVIII -gramatical. +Gramatical.

Hipotaxe Hipot. rel. Subordinação Subord. rel Nr Nr r Nr Nr total aV 2 2 5 1 - 3 13 Va 4 - 2 2 2 - 10 VXa - - 1 3 1 - 5 total 6 2 8 6 3 3 28

Tabela 1: Ocorrência de advérbios no séc. XVIII

Cabe registrar logo de início a quantidade extremamente pequena de dados de ocorrências dos advérbios em estudo. Isso, obviamente, impede qualquer conclusão mais definitiva acerca de suas tendências de ordenação nos textos observados

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durante o século XVIII. Entretanto, é possível observar algumas regularidades interessantes, sobretudo quando se comparam esses resultados com outras pesquisas referentes à ordenação de qualitativos, feitas com base em outros corpora e em outros estágios da evolução do português (SILVA E SILVA, 2001; Mo-RAES PINTO, 2002; MARTELOTTA; BARBOSA; LEITÃO, 2002; MARTELOTTA, 2004; MARTELOTTA; VLČEK, 2006).

Era de se esperar, por exemplo, uma predominância não muito acentuada das posições pós-verbais. De fato, a tabela apre-senta 15 ocorrências (distribuídas por Va e VXa), ou 53,6% do total 28 advérbios. Essa tendência já se manifesta desde a fase arcaica do português, como observam trabalhos desenvolvidos não apenas acerca da ordenação de qualitativos em -mente, mas também sobre os qualitativos bem e mal, que demonstram não ser incomum a ocorrência de qualitativos pré-verbais no português arcaico (MORAES PINTO, 2002; MARTELOTTA, 2004). Esses tra-balhos também registram que, no português atual, a pós-posição dos advérbios qualitativos é praticamente categórica.

Por outro lado, 13 ocorrências pré-verbais (46,4% do total) constituem uma quantidade bastante significativa, se comparada aos resultados do século XIX, que serão apresentados adiante.9 Isso é importante, porque pode apontar para o fato de que, até o século XVIII, era mais forte a inclinação que os qualitativos apresentavam de ocorrer antes do verbo, reforçando os resulta-dos obtiresulta-dos em Martelotta e Vlček (2006), segundo os quais essa tendência começa a enfraquecer no início do século XIX e acaba por desaparecer na virada para o século XX.10

outro resultado interessante se apresenta quando se relacionam as posições dos advérbios com o grau de gramati-calização da cláusula em que ele ocorre. Do total de 13 casos de advérbios pré-verbais, 11, ou 84,6% ocorreram em cláusulas mais gramaticalizadas (hipotáticas e subordinadas). Isso aponta para a tendência já detectada no português arcaico, segundo a qual a anteposição do advérbio em relação ao verbo, caracterís-tica do latim, se mantém em cláusulas com graus mais altos de gramaticalização, que são mais conservadoras em termos de ordenação (GIVÓN, 1979).

É claro que se pode alegar que esse resultado perde signi-ficância, quando se leva em conta o fato de que há também mais casos de ocorrência pós-verbal em cláusulas com altos graus de gramaticalização (11, ou 73,3% do total de 16 ocorrências de posições pós-verbais Va e VaX). Em outras palavras, pode-se concluir que essa diferença se dá simplesmente pelo fato de que existem mais cláusulas com altos níveis de gramaticalização nesses textos e que, somente por isso, os números referentes aos advérbios pré-verbais são mais altos nessas cláusulas.

Contra essa análise, podem se apresentados dois tipos de argumentos. o primeiro pondera que, comparando-se a distri-9 apenas 21,6% do total

de advérbios no século XIX ocorreu em posição pré-verbal.

10 No português con-temporâneo, ainda po-dem ser encontradas algumas raras ocorrên-cias de qualitativos pré-verbais em construções cristalizadas ou em tex-tos altamente conserva-dores. Esses casos não refletem a tendência atual de ordenação des-ses advérbios.

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buição das posições pré e pós-verbais pelos tipos de cláusulas, percebe-se uma superioridade na percentagem da posição pré-verbal nas cláusulas gramaticalizadas: 84,6% das ocorrências na posição aV, contra 73,3% de ocorrências distribuídas pelas posições pós-verbais Va e VXa. ou seja, a ordenação pré-verbal parece ser numericamente mais significativa do que a pós-verbal em cláusulas com altos graus de gramaticalização.

o segundo argumento, que também visa a atenuar as limi-tações referentes à pequena quantidade de dados, se relaciona ao fato de que outros trabalhos de natureza histórica, referentes à ordenação de qualitativos, demonstraram essa tendência das ocorrências pré-verbais para as cláusulas mais gramaticalizadas. Essa tendência se dá, como já foi mencionado, pelo fato de que essas cláusulas, mais conservadoras em termos de ordenação, mantêm mais fortemente a ordenação pré-verbal, tipicamente latina.

resta apenas comentar o predomínio da posição pós-verbal VA sobre a VXA, fato que não pode deixar de ser relacionado à não ocorrência de uma posição pré-verbal aXV, que é muito comum, por exemplo, na fase arcaica do português (MARTE-LOTTA, 2004). Parece haver uma forte tendência de os advérbios qualitativos ocorrerem imediatamente próximos ao verbo, ao contrário dos temporais e dos locativos, por exemplo, que apre-sentam uma mobilidade maior na cláusula.

Martelotta (2004) atribui isso ao subprincípio icônico da proximidade (GIVON, 1990), que propõe uma relação entre proximidade semântica e proximidade sintática. Segundo esse subprincípio, entidades que estão próximas funcionalmente, conceptualmente ou cognitivamente ocorrerão próximas no nível da codificação, isto é, temporal e espacialmente. Ou seja, os qualitativos, que indicam o modo como se dá a ação verbal, interferindo substancialmente em seu sentido, tendem a ocorrer próximos ao verbo, ao passo que os temporais e os locativos, que nada dizem acerca da natureza da ação e se limitam a localizá-la no tempo ou no espaço, podem se afastar do verbo.11

Análise dos dados referentes ao século XIX

Foi encontrado um número bem maior de dados no século XIX em função de dois fatos distintos. O primeiro – e menos importante – refere-se à maior quantidade de material do século XIX disponível para análise. O segundo – e mais interessante – é conseqüente de haver menos quantidade de advérbios qualita-tivos em -mente no século XVIII do que no XIX.

Para se ter uma idéia dessa diferença quantitativa entre os dois séculos analisados, é interessante observar que foram encontradas 28 ocorrências de advérbios qualitativos em -mente nos textos do século XVIII, que, juntos, apresentam um total de 21.512 palavras. Isso significa um percentual de 0,13% desses 11 Isso, é claro, não se

limita aos qualitativos. o mesmo subprincípio pode atuar, por exem-plo, de modo a impelir um advérbio locativo a se posicionar próximo a um verbo de movi-mento.

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advérbios em relação ao total de palavras que compõem o corpus referente a esse século. Por outro lado, ocorreram 88 qualitati-vos em -mente nos textos do século XIX, que, ao todo, reúnem a quantidade de 42.281 palavras, o que dá um percentual de 0,21% desses advérbios em relação ao total de palavras que compõem o corpus. Nota-se, então, uma superioridade numérica de usos de qualitativos em -mente no século XIX.

Isso pode remeter a uma maior produtividade desses advérbios no século XIX, e deixa a curiosidade de observar, ao longo dos anos, a quantidade de advérbios em -mente com outros valores, distintos do valor qualitativo, como o valor mo-dalizador, por exemplo. Fica também o interesse em observar a produtividade dos qualitativos em -mente, nas fases anteriores do português. Seria possível afirmar que os advérbios em -mente se tornariam progressivamente mais produtivos ao longo dos anos? Tendo essa formação de advérbios se concretizado no latim vulgar (CÂMARA JR., 1976), ou seja, constituindo um processo de gramaticalização relativamente recente, essa hipótese não seria inteiramente absurda.

as ocorrências de qualitativos em -mente no século XIX, relacionadas às variáveis posição na sentença e grau de gramatica-lização da cláusula, podem ser vistas na tabela abaixo:

XIX -gramatical. +Gramatical.

Hipotaxe Hipot. rel. Subordinação Subord. rel r Nr r Nr r Nr r Nr total aV 1 1 4 1 3 2 1 1 5 19 Va 20 4 10 3 1 10 10 - 7 65 VXa 1 - - - 2 - 1 - - 4 total 22 5 14 4 6 12 12 1 12 88

tabela 2: ocorrência de advérbios no séc. XVIII

No caso do século XIX, há uma quantidade maior de ocor-rências de qualitativos em -mente, embora essas 88 ocorocor-rências estejam longe de constituir a quantidade necessária para se che-gar a conclusões mais precisas. Como foi mencionado na análise das ocorrências do século XVIII, acredita-se ser possível, apesar dos poucos dados, observar regularidades interessantes, que se tornam significativas, quando comparadas com tendências detectadas em outras pesquisas referentes à ordenação de qua-litativos, feitas com base em outros corpora e em outros estágios da evolução do português.

assim como aconteceu com o século XVIII, era de se espe-rar que o século XIX apresentasse uma relativa predominância das posições pós-verbais. Isso de fato ocorreu: a tabela apresenta 69 ocorrências nessa posição, ou 78,4% do total 88 advérbios. Esses dados refletem a tendência, já mencionada anteriormente, que vem se delineando desde a fase arcaica do português

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(MO-RAES PINTO, 2002; MARTELOTTA, 2004). Mas, é importante registrar aqui que a quantidade de advérbios nessa posição cresceu de 53,6% no século XVIII para 78,4% no XIX: isso reflete um enfraquecimento da propensão desses advérbios para as posições pré-verbais no século XIX.

Por outro lado, a tabela apresenta 19 ocorrências pré-ver-bais (21,6% do total de 88 dados), o que é significativo, uma vez que houve um decréscimo, em termos percentuais, de ocorrên-cias pré-verbais do século XVIII para o XIX (de 46,4% para 21,6%). Isso, como foi dito anteriormente, pode apontar para o fato de que, até o século XVIII, ainda era relativamente forte a vocação dos qualitativos para a ocorrerem antes o verbo, reforçando os resultados obtidos em Martelotta e Vlček (2006) para o século XIX.

outro resultado interessante se apresenta quando se re-lacionam as posições dos advérbios com o grau de gramatica-lização da cláusula em que ele ocorre. Do total de 19 casos de advérbios pré-verbais, 18, ou 95% ocorreram em cláusulas mais gramaticalizadas (hipotáticas e subordinadas). Cabe ressaltar aqui o aumento percentual que ocorreu em relação aos 84,6% encontrados de anteposições em cláusulas mais gramaticali-zadas no século XVIII. Mais uma vez se evidencia a mudança desses advérbios para as posições pós-verbais, já que eles ficam praticamente restritos às cláusulas com alto grau de gramatica-lização, mais conservadoras em termos de ordenação.

Comparando o resultado acima, referente à posição pré-verbal, com a distribuição das posições pós-verbais pelos diferen-tes graus de gramaticalização das cláusulas, percebe-se a maior tendência das ocorrências pré-verbais para as cláusulas com níveis mais latos de gramaticalização: 18 ou 95% contra 48 ocor-rências (de Va e VXa), ou 69,6% do total de casos de advérbios pós-verbais, apareceram em cláusulas mais gramaticalizadas. Mais uma vez nota-se uma distribuição maior – agora no século XIX – das ocorrências pós-verbais pelos tipos de cláusulas.

Com relação à proximidade do advérbio qualitativo em relação ao verbo, nota-se, também nos dados do século XIX, a forte predominância da posição VA, com 65 casos, que represen-tam 94,2% do total de 69 ocorrências de qualitativos em posição pós-verbal, contra apenas 4 casos de VXA, ou 5,8% do total. Por hipótese, entra em ação, nesses casos, o subprincípio icônico da proximidade, que, como já foi mencionado na análise referente ao século XVIII, prevê que entidades que estão próximas funcio-nalmente, conceptualmente ou cognitivamente ocorrerão pró-ximas no nível da codificação, isto é, temporal e espacialmente. assim, os advérbios qualitativos, indicadores do modo como se dá a ação verbal, interferindo substancialmente em seu sentido, tendem a ocorrer próximos ao verbo.

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Conclusão

Foram muito poucos os dados encontrados nos corpora ana-lisados, em função do fato de que, de um modo geral, advérbios qualitativos são, de fato, pouco usados no discurso escrito – as-sim como no falado. Isso, obviamente, impede que se chegue a conclusões mais definitivas acerca das tendências de ordenação dos qualitativos em -mente nos textos observados. Entretanto, é possível vislumbrar, entre esses poucos dados, algumas regu-laridades interessantes, sobretudo quando essas reguregu-laridades são localizadas dentro de um processo de mudança mais geral, observado em outras pesquisas referentes à ordenação de qua-litativos, feitas com base em outros corpora e em outros estágios da evolução do português.

Como foi dito anteriormente, embora este trabalho focalize os séculos XVIII e XIX, busca-se aqui observar um processo de mudança mais amplo, que compreende o período de tempo en-tre o latim e o português atual. Durante esse período de tempo, ocorreu uma trajetória de mudança gradual, através da qual os advérbios qualitativos passam progressivamente da posição pré-verbal para a pós-verbal. tudo indica que essa mudança se inicia nas cláusulas menos gramaticalizadas e vai passando, em seguida, para as mais gramaticalizadas, que são mais con-servadoras, por apresentarem graus maiores de cristalização e, conseqüentemente, graus maiores de pressuposicionalidade (GIVÓN, 1979).

Os poucos dados coletados nos textos dos XVIII e XIX, que estão no meio desse processo, ratificaram essa hipótese. Nos dois séculos observados foi encontrada, por exemplo, uma quantidade maior de ocorrências pré-verbais do que é comum nos português atual, em que a pós-posição é praticamente cate-górica. além disso, nota-se que o século XVIII apresentou mais essas ocorrências do que o XIX, o que aponta para essa mudança gradual.

Outro resultado interessante pode ser visto no fato de que as ocorrências de qualitativos em -mente em posição pré-verbal tenderão a aparecer em cláusulas com graus maiores de grama-ticalização em ambos os séculos analisados. Isso era esperado com base na proposta de Givón (1979), segundo a qual essas cláusulas são mais conservadoras em termos de ordenação, o que significa que elas tendem a preservar a antiga colocação pré-verbal latina.

Cabe ressaltar também o aumento percentual do século XVIII para o XIX das ocorrências pré-verbais em cláusulas gra-maticalizadas. Isso evidencia a mudança desses advérbios para as posições pós-verbais, já que a anteposição fica praticamente restrita, no século XIX, às cláusulas com alto grau de gramati-calização, mais conservadoras em termos de ordenação.

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resta apenas comentar o predomínio, nos dois períodos de tempo analisados, da posição pós-verbal Va sobre a VXa, assim como a inexistência da posição AXV, detectada no por-tuguês arcaico (MARTELOTTA, 2004). Isso, por hipótese, está relacionado ao subprincípio icônico da proximidade (GIVON, 1990), que propõe uma relação entre proximidade semântica e proximidade sintática. Segundo esse subprincípio, entidades que estão próximas funcionalmente, conceptualmente ou cogni-tivamente ocorrerão próximas no nível da codificação. Ou seja, os qualitativos, que indicam o modo como se dá a ação verbal, interferindo substancialmente em seu sentido, tendem a ocorrer próximos ao verbo.

Abstract

This paper consists of an analysis of the word or-der change that characterizes the uses of manner adverbs formed with the suffix -mente in letters written in Brazil in the 18th century and in the 19th century. The analysis aims to show, within this period of time, the gradual disappearance of the tendency of these adverbs of occurring in pre-verbal positions, which had already been detected in the early historical evolution of Portuguese. Keywords: adverb, word order, grammaticali-zation, linguistic change.

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a estrutura argumental das

construções deverbais em -dor

Nubiacira Fernandes de Oliveira

Recebido 25, jun. 2006/Aprovado 28, ago. 2006

Resumo

análise da estrutura argumental de construções deverbais com o sufixo -dor, com o objetivo de depreender em que medida o caso ‘Agente’ nelas se manifesta, considerando a interação entre as propriedades morfossintáticas, semânticas e prag-máticas dessas formações derivadas. Assume-se como pressuposto que há um paralelismo entre a categorização conceptual e a categorização lingüís-tica. A análise se baseia na utilização concreta da língua pelo falante.

Palavras-chave: construções deverbais; estrutu-ra argumental; agentividade.

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1. Introdução

Este trabalho, inserido no domínio da lingüística funcional norte-americana, segue a linha de investigação que vem sendo desenvolvida por Givón, Hopper, Thompson, Bybee, Goldberg, Du Bois, entre outros. Apresenta resultados preliminares de uma pesquisa, cujo objetivo é examinar os processos de interação entre propriedades morfossintáticas, semânticas e pragmáticas, visando ao estabelecimento de traços gerais de interpretação caracterizadores da estrutura argumental de construções dever-bais com o sufixo –dor. Examinando a relação entre o sufixo e a estrutura temática das bases com as quais ele ocorre, focaliza, em particular, as seguintes questões: (1) em que medida a estrutura argumental da construção deverbal corresponde à estrutura argumental da base? e (2) como o caso Agente se manifesta nas construções derivadas em -dor? A principal fonte de pesquisa empírica é o Corpus Discurso & Gramática: a língua falada escrita na cidade do Natal (FURTADO DA CUNHA, 1998), constituído de textos falados e escritos de tipos diversos: narrativa expe-riencial, narrativa recontada, descrição de local, relato de proce-dimento e relato de opinião. Dados adicionais foram coletados da Revista VEJA - anos 2004-2006. A análise se processa à luz do conceito de Estrutura Argumental (DU BOIS, 2003) e das noções de Transitividade (HOPPER; THOMPSON, 1980) e de categorização prototípica, tal como proposta por Taylor (1995). Nesse modelo, as análises lingüísticas se baseiam na utilização concreta da língua pelo falante e assume-se como pressuposto que há um paralelismo entre a categorização conceptual e a categorização lingüística.

2. Sobre o conceito de estrutura argumental

A noção de Estrutura Argumental provém da filosofia, em que era concebida, de acordo com Frege, como um instrumento para a formulação do ‘pensamento puro’, usado precisamente para descrever os significados proposicionais em termos lógicos. Os lingüistas se apropriaram do conceito para seus propósitos e, em vista de seu interesse intrínseco pela linguagem, o ponto focal é a relação da estrutura argumental com a organização da expressão lingüística.

Em princípio, a noção de estrutura argumental diz respeito às relações semântico-gramaticais que se estabelecem entre um predicado – tradicionalmente o Verbo – e seus complementos ou argumentos – o Sujeito e o Objeto. Mais recentemente, a comple-xidade da estrutura argumental vem sendo posta em evidência em vários modelos da teoria lingüística.

Segundo Du Bois (2003, p. 17), a estrutura argumental implica uma estrutura organizacional que estabelece relações combinatórias entre elementos, em pelo menos duas dimensões

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paralelas – a gramatical e a semântica. Ao longo das dimensões combinatórias, gramaticalmente, os nomes se relacionam aos verbos, desempenhando funções como sujeito, objeto, etc. e, se-manticamente (e/ou conceptualmente), entidades conceituais se relacionam a eventos conceituais, assumindo papéis como agente, paciente, etc. Entre esses dois níveis, há um mapeamento siste-mático entre o conjunto das relações semânticas (ou temáticas) co-presentes e o conjunto das relações gramaticais co-presentes. o processo (ou princípios) de mapeamento tem sido caracteri-zado de modo variável como alinhamento, ligação, seleção de argumento, etc.

os tipos de orações básicas (compostas de um predicado) de uma língua como o português, por exemplo, são conside-rados como construções de estrutura argumental, nas quais o verbo, tomado como elemento central ou predicador, mantém uma relação abstrata (relação valencial) com os termos que dele dependem – seus argumentos. Em outras palavras, o verbo tem a capacidade de abrir determinados lugares na oração e de se-lecionar os argumentos para preenchê-los. Assim, por exemplo, tomando-se uma oração básica como Pedro feriu José, diz-se que temos um predicado de dois lugares. o verbo ferir – núcleo do predicado ou predicador – seleciona obrigatoriamente dois argu-mentos SNs: Pedro e José. trata-se de uma construção transitiva prototípica, que descreve um evento no qual um agente exerce uma ação que afeta um paciente. O agente é realizado no papel de sujeito transitivo (A), expresso na posição pré-verbal pelo SN – Pedro, e o paciente é realizado no papel de objeto direto (O), na posição pós-verbal, expresso pelo SN José.

Do ponto de vista semântico, o evento transitivo prototí-pico é definido pelas propriedades do agente, do paciente e do verbo envolvidos na oração que codifica esse evento. Em prin-cípio, a delimitação das propriedades desses três elementos é uma questão de grau. Do ponto de vista sintático, as orações – e verbos – que têm um objeto direto são, em geral, consideradas transitivas; as que não o têm são intransitivas. Segundo Givón (2001), embora as caracterizações semânticas e sintáticas da transitividade pareçam independentes, elas normalmente se sobrepõem: a maioria das orações que são semanticamente transitivas também são sintaticamente transitivas. Desse modo, se uma oração codifica um evento semanticamente transitivo, o agente e o paciente do evento são, via de regra, respectiva-mente, o sujeito e o objeto direto dessa oração. Na prática, essa sobreposição não é, contudo, categórica, devido à possibilidade de elipse. No nível semântico, um dos argumentos nucleares de comer, por exemplo, diz respeito à substância colocada na boca e engolida: não é possível pensar em comer sem pensar em algo que é comido. Mas, é perfeitamente normal dizer Ele tem comido, sem mencionar o que é consumido (ausência do objeto). Por outro

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lado, certos aspectos, tais como a chamada dimensão afetamento, pertencem à transitividade semântica e não à sintática. assim, numa oração como João correu cinco milhas, a presença de um objeto direto (cinco milhas) não implica que o SN sujeito (João) é CAUSA + afetamento; nem a ausência de um objeto direto implica que o sujeito é CAUSA – afetamento, como se pode ver no exemplo, Mário escreve para ‘O Times’, em que não há objeto direto, porém há afetamento, pois, pode-se dizer que O Times é, de algum modo, enriquecido pela contribuição de Mário.

Numa referência a Levin e Rappaport Hovav (1995), Du Bois (2003) chama atenção para o fato de que, se o papel semântico de um argumento (agente, paciente, etc.) é, em parte, determinado pelo significado do verbo que o seleciona e se argumentos que dão suporte a certos papéis semânticos regularmente se associam a expressões sintáticas particulares, essa regularidade de associa-ção reforçaria a idéia de que o significado do verbo é um fator na determinação da estrutura sintática das orações. Estudiosos da estrutura argumental e da gramática de construção, entre eles o próprio Du Bois e Goldberg (1995), questionam parcialmente essa idéia com base no conceito de construção. Segundo Goldberg, as orações básicas de uma língua, como o inglês, por exemplo, são instâncias de construções, entendidas como correspondências de forma e significado que existem independentemente dos verbos particulares. ou seja, uma construção carrega em si mesma um significado independente das palavras que a compõem. A des-peito de sua importância, uma discussão detalhada sobre esse ponto ultrapassa os limites do presente trabalho.

A propósito da relação entre verbos e nomes de ‘atividade’, a pesquisa morfológica confirma a existência de SNs que exibem uma estrutura de predicado similar à de um SV: o núcleo do SN (o Nome) determina argumentos, do mesmo modo que o núcleo do SV (o Verbo) o faz. Além disso, a própria categorização dos argumentos em externo (sujeito) e interno(s) (complemento(s)) é mantida nesse paralelismo. Comparem-se, por exemplo, as construções em (1) abaixo:

(1) a. O MLST invadiu o parlamento brasileiro. b. A invasão do parlamento brasileiro pelo MLST. o verbo invadir, em (1) a, exige a presença de um argumen-to externo (sujeiargumen-to), representado na oração pelo SN O MLST, e um argumento externo (complemento - objeto direto), repre-sentado pelo SN o parlamento brasileiro. De modo semelhante, na construção (1) b, o nome invasão determina a presença de um argumento interno (correspondente ao complemento - objeto direto), que se manifesta através do SP do parlamento brasileiro, e de um argumento externo (correspondente ao sujeito), expresso através do SP pelo MLST. Com efeito, SNs tais como ‘A invasão’ teriam o estatuto de construções de estrutura argumental, assim como o SV. Citando Demonte (1985), Neves (1996) lembra que,

Referências

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