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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LINGUÍSTICOS GUARULHOS - SP

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI

INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LINGUÍSTICOS

GUARULHOS - SP

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2 SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 4

2 A LÍNGUA COMO OBJETO CIENTÍFICO ... 5

2.1 A língua como conteúdo de ensino ... 12

2.2 Subáreas da linguística ... 14

2.3 Linguística aplicada e linguística teórica ... 20

3 O QUE É LINGUAGEM? ... 24

3.1 Os estudos da linguagem ... 26

3.2 O campo de estudos linguísticos ... 28

4 OS CONCEITOS DE SISTEMA, NORMA, FALA, SINCRONIA E DIACRONIA ... 30

4.1 Relação entre fala e norma ... 33

4.2 Sincronia, diacronia e fator tempo ... 34

4.3 Variações da língua ... 35

4.4 Tipos de variação linguística ... 36

4.4.1 Variações diatópicas ... 36

4.4.2 Variações diacrônicas ... 37

4.4.3 Variações diastráticas ... 38

4.4.4 Variações diafásicas ... 39

4.5 Variação linguística e preconceito linguístico ... 39

5 GÍRIAS ... 40

5.1 Perspectiva social: surgimento e crescimento ... 42

6 NORMA ORAL, NORMA ESCRITA E FATORES DE UNIFICAÇÃO LINGUÍSTICA 46 6.1 A globalização e os fatores de unificação da Língua Portuguesa ... 46

6.2 Existe uma norma oral? Análise sincrodiacrônica da língua falada ... 49

6.3 Análise diacrônica da norma escrita ... 50

7 CONCEITOS DE SIGNO EM SAUSSURE E PEIRCE... 55

7.1 Conceito de signo: Saussure e Peirce ... 55

7.2 Tipos característicos de signo: ... 58

7.3 Características do signo em Saussure ... 59

7.3.1 Arbitrariedade ... 59

7.3.2 Linearidade do significante ... 59

(3)

3

7.3.3 Imutabilidade ... 60

7.3.4 Mutabilidade ... 60

7.4 Classificação dos signos em Peirce ... 61

7.4.1 Signos icônicos ... 61

7.4.2 Signos indiciais ... 63

7.5 Signos simbólicos ... 64

8 SEMÂNTICA ... 65

8.1 A semântica no passado ... 67

8.2 A semântica no presente ... 71

9 SEMÂNTICA COGNITIVA ... 74

9.1 Linguística cognitiva e semântica cognitiva ... 74

9.2 Linguística cognitiva e semântica cognitiva ... 76

9.3 O conceito de categorização e a teoria prototípica ... 77

9.4 O fenômeno da metáfora ... 80

10 SEMÂNTICA FORMAL: DIFERENTES ABORDAGENS ... 82

10.1 A semântica formal e o estudo do significado ... 82

10.2 Princípio da composicionalidade... 85

10.3 Recursividade na semântica formal ... 87

REFERÊNCIAS ... 92

(4)

4 1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro, quase improvável, um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil.

Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso.

A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

(5)

5 2 A LÍNGUA COMO OBJETO CIENTÍFICO

Na história dos estudos linguísticos (Neves, 2003, 2005), tem-se com os gregos, por volta do século V a.C., o início das primeiras análises sobre a natureza da linguagem, estas ainda de caráter filosófico. Na ocasião a língua era vista como expressão do pensamento e por isso toda atividade em torno da mesma centrava-se nas técnicas do discurso, da persuasão, enfim, na arte retórica. Construir enunciados sem defeitos e eficazes dizia respeito ao resultado que se obtinha com o uso das técnicas da retórica, especialmente na política.

Fonte de: www.linguisticadescomplicadaa.com

Em razão disso, estudar a língua era muito mais um exercício de compreensão de texto do que propriamente de análise da língua. Aos poucos, contudo, as pesquisas tomaram aspecto linguístico: o gênero das palavras, a diferença entre substantivo e verbo, a natureza do signo e a denominação. Mais tarde, porém, já durante o século IV a.C., surgiram questionamentos sobre os tempos verbais e o conceito de conjunção.

Lembramos ainda que o procedimento geral dos estudos gregos era o da definição e

classificação, o qual será posteriormente imitado nas gramáticas alexandrinas e

ocidentais, exercendo influência na metodologia de ensino da língua durante séculos

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6 mais tarde. Posteriormente, nos séculos III e II a.C., os estoicos começaram a analisar enunciados e, com isso, o estudo das conjunções passou a se destacar, embora com base apenas em seu valor lógico; estudava-se também o artigo e seu caráter articulador.

Na segunda metade do século II a.C. já se considerava o critério morfológico da flexão, bem como um quadro de categorias gramaticais para língua grega, que veio a se tornar o modelo para a organização das classes de palavras da gramática ocidental.

Nesse momento, ainda não havia espaço para o estudo da sintaxe, então deixada de lado com a finalidade de garantir o caráter puramente linguístico dos estudos.

Neves (2003, p.51) comenta que, condicionada por sua finalidade prática, a gramática elege para exame, em especial, a fonética e a morfologia, fixando-se nos fatos de manifestação depreensível, passíveis de organização em quadros concretos. Se considerada nesse estágio, a sintaxe teria fatalmente compromisso com a lógica, constituindo uma deriva das considerações filosóficas.

Portanto, a sintaxe é praticamente ignorada, não tendo lugar nessa nova disciplina, que, pelas condições de surgimento, só tem sentido se empírica. Em razão dessa recusa inicial ao estudo da sintaxe, sob pena de comprometer o caráter linguístico das investigações, é possível concluir que, já nessa época, havia a percepção de que algo nesse nível de análise estava fora do que era considerado o sistema da língua.

Ainda no século II d.C., teve início algumas pesquisas relacionadas a fenômenos sintáticos, com Apolônio Díscolo. Todavia, a sintaxe era vista como o conjunto de regras que regem a síntese dos elementos que constituem a língua (NEVES, 2003) e tinha seu escopo nos limites da oração (o que não deixou de significar certo avanço nas pesquisas).

Temos registros de que estudos gramaticais de uma língua diferente do grego, o latim clássico, foram iniciados em Roma, no século I d.C. Durante a Idade Média, receberam destaque as pesquisas em fonética de Donato, em que comparou o latim com o grego; e os estudos de Prisciano, que propôs uma definição de sintaxe do Ocidente: “a disposição que visa à obtenção de uma oração perfeita” (SILVA, 1996). As gramáticas desses autores foram usadas como manuais de ensino durante toda a Idade Média e os estudos gramaticais que se seguiram foram baseadas nessas obras.

Durante o Renascimento (séculos XV a XVIII) surgiram gramáticas das línguas

vernáculas (Gramática de la lengua castellana, de Antonio de Nebrija, 1492; Gramática

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7 da linguagem portuguesa, de Fernão de Oliveira, 1536; a gramática de João de Barros, 1540), mas fortemente inspiradas nas gramáticas clássicas de até então (AZEVEDO, 2001).

Durante os séculos XVII e XVIII, o Racionalismo reforçou a ligação entre a linguagem e o pensamento, considerando “abusos” ou “imperfeições” tudo o que não se adequasse a essa concepção de língua. Nessa época foram produzidas a Grammaire générale et raisonnée, de PortRoyal, e a Gramática filosófica da língua portuguesa, de Jeronymo Soares Barbosa (AZEVEDO, 2001).

Esse panorama histórico da língua enquanto objeto científico, até o século XVIII, através da constituição da disciplina gramatical, nos ajuda a compreender as razões de um ensino de língua arraigado na análise de sua estrutura, na concepção de língua como

“bom uso” e no apego à nomenclatura, uma vez que, como já dito, o mesmo procedimento das pesquisas serviria, posteriormente, ao ensino.

Fonte de: www.letronomia.com.br

Toda a pesquisa sobre a língua até a consolidação da Linguística como ciência foi

motivada pela observação e descrição de um modelo selecionado (considerado correto

pelos estudiosos) e no estabelecimento de paradigmas. Somente a partir do século XIX,

os estudos linguísticos começaram a se desvincular da tradição gramatical e a

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8 desenvolver metodologias próprias e mais específicas, encaminhando-se para a constituição da Linguística Moderna, embora o ensino da língua mantivesse sua referência na tradição gramatical.

Nessa época começaram a privilegiar a comparação das línguas com o objetivo de deduzir os princípios gerais de sua organização e encontrar um elemento comum que, pudesse explicar a natureza da linguagem. A gramática histórico-comparativa ocupou- se, essencialmente, da investigação das unidades lexicais, gramaticais e sonoras das línguas. Através do Estruturalismo, teve início o estudo sincrônico das línguas, contudo, ainda que esse movimento tenha significado certo rompimento com as concepções historicistas e logicistas da gramática tradicional (AZEVEDO, 2001, p.23), o foco ainda era a estrutura da língua, a partir do princípio de que todo significado se estabelecia pela oposição entre os elementos do sistema.

No campo da fonologia, suas contribuições são inquestionáveis e, na sintaxe, estabeleceu classes de palavras melhor definidas que as propostas pela gramática tradicional por meio das análises em constituintes imediatos e da formulação de regras sintagmáticas, que decompunham os enunciados com o objetivo de descrever a estrutura da oração. Tendo, entretanto, esse tipo de gramática se mostrado inadequado para explicar alguns fenômenos como a topicalização e a ambiguidade, por exemplo, um novo modelo de análise foi proposto pelo linguista americano Chomsky (1957; 1965), em meados do século XX; sua proposta, mais elaborada, tinha por objetivo dar conta de fenômenos dessa natureza, não explicados até então. Conforme Cervoni (1989), a grande crítica de Chomsky aos estruturalistas foi a não consideração, por parte destes, da criatividade como característica da linguagem.

A abordagem de Chomsky pretendia considerar aspectos subjetivos da linguagem, no entanto, mostrou-se também limitada por atribuí-los unicamente ao sistema e por assumir a linguagem como um módulo mental autônomo. Contudo, sua importância é indiscutível por ter colocado a sintaxe como elemento central nos estudos linguísticos, assumindo a frase como unidade fundamental da gramática e ampliando definitivamente o escopo das investigações.

Até essa ocasião, eram os níveis fonológico e morfológico que sobressaíam nas

pesquisas. Sua proposta de uma Gramática Gerativa (1957, 1965) estabelecia dois níveis

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9 de representação do enunciado: a estrutura profunda, ou EP (que determinaria a interpretação semântica dos enunciados, seu conteúdo, podendo ser manifestada

“superficialmente” de diferentes maneiras), e a estrutura superficial, ou ES (que determinaria a organização dos elementos e a forma fonética das sentenças), as quais se comunicavam por meio de regras transformacionais, podendo estas ser obrigatórias ou facultativas.

É possível afirmar que a grande limitação do projeto chomskyano está na própria concepção de língua/linguagem que o motivou: a língua como manifestação de uma capacidade inata, comum a todos os indivíduos (EP) e apenas exteriorizada de maneiras distintas (ES). Tentando descrever a competência linguística de um Falante/Ouvinte ideal, Chomsky (1957; 1965) abstraiu elementos como memória, intenção, contexto etc., e a língua continuou a ser encarada como um sistema fechado, determinado por regras imanentes, e independente de suas condições de uso. Por isso a teoria mostrou-se incompetente para explicar satisfatoriamente diversos fenômenos da língua, principalmente por não considerar a intervenção de fatores não linguísticos na organização dos elementos.

Fonte de: www.medium.com

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10 A sintaxe, que nessa ocasião se tornou objeto de estudo da ciência linguística é uma sintaxe autônoma, desvinculada dos sentidos (da semântica) e das intenções comunicativas (da pragmática). Ainda que seja, no gerativismo, o essencial da língua, é limitada a regras apreensíveis entre os elementos do sistema linguístico.

O interesse pelo conhecimento da língua com base apenas em sua estrutura morfossintática, mesmo trazendo grandes e importantes contribuições ao desenvolvimento da Linguística, em geral, e de disciplinas específicas, como o Processamento Automático de Línguas Naturais foi insuficiente para explicar seu funcionamento pragmático e discursivo, tornando-se inevitável a busca pela compreensão de elementos externos ao sistema linguístico, mas atuantes no seu uso (BARCELLOS, 2016).

Devido a natureza heterogênea da linguagem, diversos estudiosos começaram a investigar fatores extralinguísticos presentes no uso da língua e determinantes na sua organização. Todas, no entanto, tendo em comum a consideração do uso linguístico, ou seja, das condições de produção e recepção dos enunciados a orientação argumentativa dos enunciados marcada por conjunções (DUCROT, 1987); as ações produzidas por um enunciado por meio de diferentes forças ilocucionárias impregnadas a ele (AUSTIN, 1975, com a Teoria dos Atos de Fala); os fenômenos de ambiguidade e pressuposição, que trazem o não dito ao texto (GRICE, 1981; 1982); a coesão e a coerência textuais (Linguística Textual); aspectos históricos, sociais e ideológicos presentes nos enunciados (Análise do Discurso); experiências perceptivas e de conceptualização do mundo que interferem no uso na linguagem (Linguística Cognitiva); fatores sociais que interferem no uso da língua, como variação de idade, gênero, classe social, escolaridade (Sociolinguística), entre outros.

Esses estudos definem como campo de investigação um continuum que vai do

cotexto (que foca nas relações intratextuais, aspectos diretamente ligados à

materialidade linguística, mas que ultrapassam o nível da sentença) ao contexto (cuja

ênfase está nos aspectos que caracterizam as condições de produção/compreensão dos

enunciados e a influência que exercem em sua organização).

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11 Admite-se, porém, que a organização dos elementos da língua é motivada não apenas por características dos elementos linguísticos, mas também por fatores extralinguísticos, também constitutivos da natureza da linguagem, que interferem direta ou indiretamente em sua organização. A língua, vista como um sistema complexo, constantemente se adapta às situações de uso, o que é contrário à ideia de um sistema fechado e autônomo (SILVA, 1996).

Fonte de: www.ciberduvidas.iscte-iul.pt

A conclusão a que se chega é que, enquanto objeto científico, o estudo da língua

compreende um longo processo de descobertas, iniciado a partir da análise de sua

estrutura e consolidado em diversas teorias que se desenvolveram conforme as

situações de uso da língua e as necessidades do Falante. O mesmo, entretanto, não se

pode defender sobre a língua enquanto conteúdo de ensino. Segue algumas

considerações sobre isso.

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12 2.1 A língua como conteúdo de ensino

Segundo documentos históricos, até o século XIX, o ensino de língua materna era baseado unicamente na tradição gramatical iniciada com os gregos e propagada ao longo de todos esses séculos através das obras inspiradas nessa tradição. O pensamento dominante era de que o conhecimento da estrutura da língua (morfologia e sintaxe) garantiria o domínio das habilidades de produção e compreensão de textos, em todas as instâncias de comunicação, o mesmo procedimento das investigações linguísticas (ou seja, da língua enquanto objeto científico) era utilizado no ensino: descrição, observação de paradigmas e classificação.

Isso se deve em virtude do apego à nomenclatura gramatical no ensino da língua, além da consideração de apenas uma variante como correta: a variante culta. A partir daí se conclui que tanto a herança dos estudos clássicos quanto a concepção de que a língua estava pronta e deveria ser apropriada determinaram o ensino de língua materna tal como se faz tradicionalmente.

Quanto ao ensino de Língua Portuguesa no Brasil, temos a informação de que até a década de 1950 a escola não era acessível a todos, mas somente à elite, que já possuía certo domínio da norma culta padrão, uma vez que, desde muito cedo, adquiria o hábito de leitura, cabendo à escola o ensino da gramática normativa. Segundo Geraldi (1993, p.116), “os professores eram da elite ‘cultural’ e os alunos, da elite ‘social’; os alunos aprendiam, apesar das evidentes falhas didáticas”.

O Ministério da Educação e Cultura (MEC) corrigiu o problema da variação de nomenclatura utilizada pelos professores, ao reunir um grupo de gramáticos com a tarefa de compilar termos técnicos no campo da gramática, os quais deveriam ser empregados uniformemente em todo o país. A partir de então foi estabelecida a Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB), em 1959, cujo objetivo era unificar o tratamento à língua.

Conforme a NGB, a nomenclatura gramatical deveria ser bem fixada pelo aluno, a fim de que este assimilasse o conteúdo das aulas. Logo, o apego à nomenclatura herdado da tradição grego-latina foi ainda reforçado com a NGB.

Por conta disso, a língua enquanto conteúdo de ensino, permanece ligada à

abordagem tradicional e é, nas aulas de gramática, o estudo de um sistema fechado,

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13 exemplo de uso correto, cujo principal exercício continua sendo detectar os paradigmas e classificá-los, na esperança de que por meio dessa prática o aluno adquira seu domínio (BARCELLOS, 2016). Aos poucos, no entanto, a realidade do ensino revela um verdadeiro caos, levando muitos estudiosos, em consonância com as novas abordagens linguísticas, a atribuir sua principal causa ao ensino da gramática (que correspondia, então, ao ensino de língua).

Durante a década de 1980 diversos trabalhos acadêmicos foram produzidos questionando o ensino da gramática normativa, e começa a se manifestar no ensino de Língua Portuguesa o resultado das novas ciências linguísticas: Sociolinguística, Linguística Textual, Pragmática, Análise do Discurso, entre outras. Na década de 1990, mais precisamente no ano de 1997, foram definidos os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) pelo Ministério da Educação e Cultura, tendo em viista padronizar e orientar o ensino a partir de teorias mais modernas, por meio da abordagem da língua em todas as suas modalidades expressivas, sem privilegiar uma ou outra variante.

Passa a ser discutido então a questão do preconceito linguístico, sendo o ensino de gramática considerado um dos grandes aliados desse preconceito. Nesse momento, o foco do ensino passa a ser a produção e compreensão de textos a partir do estudo dos diversos gêneros textuais, dos mecanismos de coesão e coerência, das características do contexto de produção dos textos estudados. A gramática recebe fortes críticas, em razão de seu normativismo e pelo apego à nomenclatura. Ainda assim, não se propõe uma nova abordagem para o seu ensino, e o foco das aulas de Língua Portuguesa passa a ser atividades de leitura, produção e compreensão de textos.

É preciso observar, no entanto, que, migra-se de um extremo, o ensino da gramática por si mesma, desconsiderando-se o contexto, a outro, o trabalho com texto/contexto, não levando em consideração que o texto é construído também pela gramática. Contudo, o resultado das avaliações de desempenho linguístico dos alunos continua insatisfatório, mesmo com essas mudanças, como se pode constatar pelos dados oficiais do Enem.

Tendo todas essas considerações em vista, podemos afirmar que o problema

nunca esteve necessariamente no ensino da gramática, mas em como se deu esse

ensino, e qual era o objetivo pretendido com ele. Associar o histórico dos estudos

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14 científicos sobre a língua e as práticas utilizadas para seu ensino pode esclarecer muitos pressupostos equivocados sobre o ensino de gramática. Abordá-la separada do uso, com o objetivo de classificar os elementos linguísticos (como propõe a abordagem tradicional), de fato, não garante o desenvolvimento do aluno em termos de competência linguística.

Em contrapartida, no entanto, não se pode negar que a gramática de uma língua está na base de qualquer atividade de uso da linguagem. É importante, também, explicar que o termo “gramática” (com sentido amplo) está sendo usado em referência ao conjunto de elementos lexicais e propriedades sintáticas da língua, bem como às suas características estruturais e funcionais, e não à gramática normativa (prescrição de uma determinada variante da língua).

Ao considerar a gramática, a partir da interação entre os usuários, é procurar compreender de que maneira a organização dos elementos linguísticos reflete as intenções do Falante. Nesse sentido, o ensino da gramática é abordado aqui como uma ferramenta para resolver possíveis problemas de comunicação/uso da língua. Quando consideramos que os alunos demonstram grande dificuldade ao ler e escrever textos, atividades que compreendem a seleção e a concatenação de ideias, indivíduos, fatos e discursos, apresenta-se um novo olhar sobre a sintaxe, elemento este fundamental na arquitetura de um texto; especificamente, procura-se descrever e analisar algumas orações subordinadas do português em contextos reais de uso, com o intuito de demonstrar de maneira concreta a possibilidade de uma abordagem gramatical que seja diferente da tradicional (BARCELLOS, 2016).

2.2 Subáreas da linguística

A linguística é uma disciplina científica que estuda o funcionamento da linguagem e das línguas naturais em diferentes níveis e perspectivas. As linhas de investigação se tornaram subáreas dentro da linguística que atuam sob uma metodologia interdisciplinar.

As principais linhas de investigação na linguística contemporânea são: fonética, fonologia, morfologia, semântica, sintaxe, pragmática e estudos do discurso.

A fonética estuda os segmentos sonoros, privilegiando as características físicas e

fisiológicas, ou seja, os sons divisíveis que podem ser medidos fisicamente. Eles são

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15 chamados de fones, unidades mínimas que se organizam linearmente em variadas línguas. Esses fones ocorrem um após o outro, não podem ser pronunciados ao mesmo tempo.

A descrição desses sons é feita por meio de três dimensões: articulatória-motora, auditiva, perceptual e acústica. A primeira analisa as reações do aparelho fonador, a segunda lida com a percepção do ouvinte, e a terceira observa as propriedades físicas da onda sonora produzida pela passagem pelo aparelho articulador. Cada uma dessas dimensões apresenta um componente: frequência, amplitude e tempo.

Esses três componentes permitem a análise dos aspectos segmentais e suprassegmentais da fala. A fonologia lida com os aspectos segmentais e suprassegmentais dos sons da fala. Os aspectos segmentais são aqueles que podem ser detectados nos próprios sons. Esse é o caso do modo de articulação e dos articuladores que o produzem (ativo e passivo). Já os aspectos suprassegmentais não podem ser detectados nos sons. É necessário que eles estejam em um sintagma para que as propriedades sejam percebidas. É o caso do acento e do tom. Se na fonética o som é visto sob o ponto de vista físico, na fonologia, é visto sob o ponto de vista da semiótica. Nas palavras de Paulo Chagas de Souza e Raquel Santana (2003, p. 35) “[…]

os sons não são vistos apenas como sons em si mesmos, mas em termos das relações que estabelecem entre si e das relações que os unem ao plano do conteúdo”. Nas análises fonológicas se evidencia o caráter linguístico da pesquisa. Por exemplo, constata-se que:

[…] dois sons diferentes, mas materialmente semelhantes podem funcionar como se fossem o mesmo elemento ou como se fossem elementos diferentes. É o que Saussure tinha em mente quando elaborou o conceito de valor, que é algo relativo a cada sistema linguístico. O mesmo som encontrado em sistemas linguísticos distintos pode apresentar valores diferentes, dependendo de suas relações com os demais elementos existentes. Assim, o valor de um elemento não é apenas aquilo que é, mas também aquilo que ele não é, ou seja, a quais outros elementos ele é igual e de que outros elementos ele é diferente (SOUZA; SANTANA, 2003, p. 37).

A linguística estuda as formas das palavras por meio da morfologia. No século XIX,

investigou-se as raízes do indo-europeu para tentar encontrar a origem da linguagem.

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16 Porém, o que esse estudo permitiu foi, por meio do estudo comparativo entre línguas, a formulação de uma tipologia morfológica. As línguas poderiam ser de três tipos: isolantes (as palavras não podem ser segmentadas em partes menores), aglutinantes (as palavras combinam raízes e afixos) e flexionais (as raízes se combinam a elementos gramaticais, que indicam a função das palavras). Com o tempo, viu-se que as línguas não podem ser totalmente de um tipo, principalmente, com os estudos de línguas que não faziam parte do domínio indo-europeu. Constatou-se, também, que o critério sintático é a melhor opção para determinar a definição de palavra: “[…] o elemento mínimo que pode ocorrer livremente no enunciado ou pode sozinho constituir um enunciado” (PETTER, 2003, p.

62). Os critérios semântico e fonológico são considerados pela maioria dos linguistas como insuficientes, pois não determinam o que é uma palavra, por exemplo, nas línguas polissintéticas.

Nesse caso, entende-se por palavra uma sequência sonora que corresponde a uma resposta mínima a uma pergunta. Além disso, percebeu-se que há unidades mínimas com significado, chamadas de morfemas. Se o morfema é considerado a unidade mínima, é sinal de uma pesquisa relacionada ao estruturalismo, que buscava identificar os morfemas nas diferentes línguas. Nos estudos de morfologia, há dois campos: morfologia lexical e morfologia flexional. A primeira investiga os mecanismos de formação de palavras novas, e a segunda estuda os mecanismos de informações gramaticais. Já a sintaxe estuda o conhecimento inato do usuário da língua sobre a organização dos itens lexicais para formar itens lexicais complexos, sequências complexas e formações cada vez mais complexas até chegar ao nível da sentença. Essa competência linguística diz respeito também às combinações intermediárias: na formação de uma sentença, não há linearidade e sim hierarquia. Esmeralda Vailati Negrão e Ana Paula Scher Evani de Carvalho Viotti (2003, p. 82) afirmam:

Essa nossa competência também nos indica que uma sentença se constitui de

dois tipos de itens lexicais: de um lado, estão aqueles que fazem um tipo particular de

exigência e determinam os elementos que podem satisfazê-la; e, de outro, estão os itens

lexicais que satisfazem as exigências impostas pelos primeiros. Portanto, a finalidade dos

estudos de sintaxe é verificar como esse conhecimento linguístico pode ser usado na

análise das estruturas das sentenças de uma língua.

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17 Os estudos de sintaxe observam todos os itens lexicais de uma língua para organizá-los em grupos, de acordo com os comportamentos comuns. São as chamadas categorias gramaticais. Estudar a estrutura das sentenças é uma tarefa que envolve a ativação de um conhecimento que o usuário da língua já tem. Para tanto, é preciso enfatizar que a sentença surge da estruturação hierárquica entre categorias gramaticais.

A semântica, por sua vez, estuda sistematicamente o sentido das línguas naturais.

Que sentido é esse? Para começar, é importante lembrar da definição de signo: é a relação entre um significante e um significado, ou seja, de uma imagem acústica (de ordem fonológica) desse signo e de seu conceito (de ordem semântica). Pietroforte e Lopes (2003, p. 115) afirmam que:

Se as expressões das línguas humanas apontam para conceitos situados fora delas e concebidos como independentes desta ou daquela língua natural, isso quer dizer que tais conceitos são universais, logo imutáveis para todo e qualquer ser humano, pouco importando em que cultura este tenha nascido e sido criado.

Saussure e os estudiosos que compartilham de suas ideias postulam que a

linguagem está presente em todas as atividades humanas. Logo, ela pode ser a fonte de

inspiração, de sentido, e não as coisas. Eles tratam, dessa forma, do mundo de sentido

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18 construído pelo homem, por isso defendem que as línguas sejam estudadas a partir da forma como elas interpretam e categorizam o mundo material, atribuindo-lhe sentido. Isso significa que a semântica linguística, na atualidade, está mais voltada à retórica do que às questões filosóficas e mentais (o que é real, como o cérebro funciona, por exemplo).

Atualmente, valorizam-se também traços semânticos provenientes do contexto.

Fonte de: www.abstracta.pro.br

Nesse sentido, as acepções de dicionários não são rechaçadas e sim transformadas parcialmente, de acordo com a intersubjetividade do discurso. O desenvolvimento de várias semânticas (textual, semântica cognitiva, lexical, argumentativa, discursiva) revela que existem diferentes percepções do que é significado e que o estudo do sentido pode ser realizado sob diferentes fundamentos e perspectivas.

A pragmática estuda o uso da língua, isto é, refere-se à utilização prática da linguagem.

Suas pesquisas estão diretamente ligadas à dimensão chamada de enunciação (capacidade do falante de produzir enunciados). (FIORIN, 2003).

Isso significa que há fatos linguísticos que dependem da enunciação para que sejam entendidos. Esse é o caso de palavras utilizadas para marcar tempo e lugar, como

“agora”, “amanhã”, “eu”, “isto”: o sentido delas dependerá da situação de enunciação.

José Luiz Fiorin (2003, p. 163) afirma que há dois conjuntos em um texto: “[…] a

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19 enunciação enunciada, que é o conjunto de marcas, nele identificáveis, que remetem à instância de enunciação; o enunciado, que é a sequência enunciada desprovida de marcas de enunciação”. Além disso, há dois elementos essenciais para a enunciação: o tempo e o espaço, pois uma pessoa realiza um enunciado em um lugar e um momento.

Esse sujeito é, portanto, o ponto de referência. Entretanto, nem sempre a pessoa do discurso evidencia quem é esse sujeito.

É comum que os brasileiros misturem as flexões dos verbos conjugados na segunda e na terceira pessoa do singular, por exemplo, como em: “Tu encontrou aquele livro”, em vez de “Tu encontraste aquele livro”. Daí a importância da situação de enunciação. Ela especifica e determina quem são os participantes do ato de comunicação. Os estudos do discurso examinam a linguagem enquanto discurso, ou seja, observam a organização global do texto: as relações entre a enunciação e o discurso enunciado e entre o discurso enunciado e os fatores sócio históricos que o compõem. Portanto, a análise do discurso aproxima-se da semiótica, pois ambos analisam o texto (e não palavras ou frases) e buscam os sentidos do texto, isto é, o que constrói os sentidos desse texto. Nessa perspectiva:

[…] o texto se organiza e produz sentidos, como um objeto de significação, e também se constrói na relação com os demais objetos culturais, pois está inserido em uma sociedade, em um dado momento histórico e é determinado por formações ideológicas específicas, como um objeto de comunicação. Definido, dessa forma, por uma organização linguístico-discursiva e pelas determinações sócio históricas, e construído, portanto, por dois tipos de mecanismos e de procedimentos que muitas vezes se confundem e misturam, o texto, objeto da semiótica, pode ser tanto um texto linguístico, indiferentemente oral ou escrito, quanto um texto visual, olfativo ou gestual, ou, ainda, um texto em que se sincretizam diferentes expressões, como nos quadrinhos, nos filmes ou nas canções populares (BARROS, 2003, p. 188).

Em síntese, a linguística atua em diversos campos relacionados à linguagem.

Suas principais subáreas são, na realidade, oriundas das partes constituintes da língua.

Entretanto, de acordo com o enfoque dos estudos linguísticos, surgem diferentes áreas,

como a linguística aplicada.

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20 2.3 Linguística aplicada e linguística teórica

Em meados do século XX, a linguística passou a ser vista como ciência e, junto com esse destaque para a análise das questões relacionadas à língua, surgiram diferentes estudos que partiam da abstração do conhecimento linguístico. A linguística aplicada apareceu como uma dessas possibilidades, visando aplicar esse conhecimento linguístico em situações reais de uso da linguagem. (BARROS, 2003, p. 188).

O marco inicial da linguística aplicada foi o curso ministrado por Charles Fries e Robert Lado na Universidade de Michigan. O foco do curso era o ensino de línguas por meio da linguística contrastiva. O cenário histórico era propício a isso, pois, com a Segunda Guerra Mundial, foi necessário que falantes de diferentes línguas conseguissem se comunicar. Entretanto, nessa época, os métodos de ensino e aprendizagem de língua estrangeira foram questionados. As propostas da linguística aplicada passaram a ser ouvidas. Inicialmente era chamada de linguística aplicada ao ensino de línguas.

Nessa época, os estudos de linguística e de linguística aplicada foram subsidiados pelo interesse no treinamento linguístico para fins militares. De qualquer maneira, as pesquisas linguísticas foram conduzidas porque havia expectativas quanto a suas aplicações. Todavia, não se pode negar que esses investimentos contribuíram também com a linguística teórica. O linguista Noam Chomsky, inclusive, recebeu subsídios por organizações ligadas às questões de guerra.

Nos anos 1950, Chomsky apresentou a teoria linguística gerativo- transformacional, contra a qual a linguística aplicada se posicionou. A intenção era mostrar que o interesse primordial da linguística aplicada era a resolução de problemas linguísticos, por isso se focou na linguagem em uso. Contudo, esse posicionamento se apresentou na mesma época em que Chomsky se tornava mundialmente conhecido.

Ele analisava a língua em sua abstração e não no uso que dela fazem os falantes

de uma determinada comunidade linguística em situações reais de fala. Dessa forma,

passaram a predominar os estudos formalistas com base gerativista. Esse predomínio se

deve à aproximação da linguística aos estudos das ciências naturais, o que a tornou mais

científica. Além disso, havia uma ênfase na imanência da língua: o gerativismo propõe

representações para as estruturas das línguas chamadas de universais linguísticos. Elas

(21)

21 seriam características compartilhadas por todas as línguas do mundo e que constituiriam uma Gramática Universal, condição inata a todos os seres humanos.

Fonte de: vaidebolsa.com.br

O programa de Chomsky apresentava formalizações precisas e de abstração pura, o que proporcionou à linguística um caráter formal. O reconhecimento mundial desse programa levou os teóricos da língua que a tratavam como representação cultural a uma dificuldade de visibilidades. Aliás, muitos pesquisadores passaram a conceber esse tipo de estudo da língua como uma atividade menor de pesquisa. Mesmo assim, a linguística Aplicada permaneceu enfatizando os aspectos sociais de forma densa. Segundo Rajagopalan (2006, p. 157), “[…] a questão social não é uma preocupação da linguística teórica: mesmo quando a questão social é invocada, é como se o social entrasse como acréscimo a considerações já feitas sobre o indivíduo concebido ‘associalmente’”.

Coube à linguística aplicada tomar emprestadas, da linguística formal, teorias

abstratas prestigiadas para, com base nelas, propor alternativas de solução a questões

práticas de uso da linguagem. Portanto, como a linguística aplicada não criava teorias,

teria, apenas, de aplicar as teorias produzidas nos estudos formalistas. Nesse sentido,

Widdowson (1996, p. 125) afirma que a linguística aplicada é “[…] uma área de

(22)

22 investigação que procura estabelecer a relevância de estudos teóricos da linguagem para problemas cotidianos nos quais a linguagem está implícita”.

Enquanto Brumfit (1995, p. 27) diz que é uma “[…] investigação teórica e empírica de problemas reais nos quais a linguagem é uma questão central […]”. Por sua natureza prática, a linguística aplicada foi muita utilizada nas escolas, como uma forma de atender às demandas de revisão dos postulados de ensino da língua focados nas normas gramaticais. Além disso, o linguista aplicado se envolveu com questões relacionadas às políticas educacionais, à avaliação e à aquisição de uma segunda língua. Maingueneau (1996) afirma que a linguística aplicada tem três características principais:

1. responde a uma demanda social;

2. faz empréstimos a diferentes domínios científicos e técnicos;

3. é avaliada por seus resultados.

Evidencia-se, assim, que o foco da linguística aplicada estava relacionado a acessar os problemas de linguagem conforme eles ocorriam na realidade. Nas escolas, começou-se a enfatizar a investigação da produção textual, isto é, na análise da produção da linguagem em detrimento da análise do produto (a redação). Esse contexto favoreceu a ligação da linguística aplicada com outras áreas das ciências humanas, como a psicologia e a psicolinguística, principalmente. Entretanto, convocou também outros campos, e essa relação identificou a linguística aplicada como articuladora de diversos domínios do saber que estejam ligados à linguagem.

Esses avanços da linguística aplicada contribuíram para que ela fosse tratada como uma forma de refletir sobre o processo de ensino e aprendizagem de língua, avaliando, por exemplo, qual a melhor metodologia e estratégias de ensino. A partir de seus estudos, surgiram pesquisas sobre produção textual, material didático, bilinguismo, aprendizagem de segunda língua, interação verbal, avaliação e metodologia de ensino, análise do discurso pedagógico, socioconstrução da aprendizagem, compreensão e leitura. Como se vê, o foco das pesquisas do linguista aplicado passou a ser temas de relevância social. A finalidade passou a ser encontrar respostas teóricas que gerassem benefícios sociais.

Disso, surgiram investigações sobre as relações de poder na formação do sujeito

na linguagem e por meio dela. Os estudos linguísticos aplicados, portanto, focaram no

(23)

23 olhar crítico sobre a linguagem. Isso provocou uma responsabilidade a esses estudiosos:

a necessidade de criar um projeto político pedagógico que tentasse transformar uma sociedade estruturada de forma desigual. Houve, dessa forma, uma expansão da atuação da linguística aplicada, que passou a tratar de conscientização linguística, formas de aprendizagem de línguas a partir de interações dialógicas, aprendizagem baseada no contexto, entre outros.

Fonte de: www.catho.com.br

Desse modo, áreas dos estudos linguísticos (sociolinguística interacional, linguística textual, análise do discurso, entre outras) auxiliaram no estudo do caráter social, cultural e histórico do uso da língua. Evidencia-se, assim, que a redefinição do objeto de estudo da linguística aplicada extrapola o universo escolar e ocupa um espaço mais amplo na sociedade por focar nos usos da língua, considerando contextos diferentes e interações variadas. Moita Lopes (2006, p. 18) questiona:

Como é possível pensar que teorias linguísticas, independentemente das convicções dos teóricos, poderiam apresentar respostas para a problemática do ensinar e do aprender em sala de aula? Uma teoria linguística pode fornecer uma descrição mais acurada de um aspecto linguístico do que outra, mas ser completamente ineficiente do ponto de vista do ensinar e do aprender línguas.

(24)

24 Para esse estudioso, a linguística aplicada contemporânea seria capaz de interagir com outras áreas do conhecimento para relacionar teoria e prática, porque “[…] é inadequado construir teorias sem considerar as vozes daqueles que vivem as práticas sociais que queremos estudar; mesmo porque, no mundo de contingências e de mudanças velozes em que vivemos, a prática está adiante da teoria […]” (LOPES, 2006, p. 31).

Resumidamente, a linguística é concebida como ciência, porque tem um objeto de estudo estabelecido, que é a língua, e um método de estudo, que é histórico-comparativo.

É uma área que está presente em muitos outros campos relacionados à linguagem.

Conforme os enfoques dos estudos linguísticos, então, surgem diferentes áreas, como a linguística aplicada. Com a expansão dos princípios e das fronteiras, a linguística aplicada passou a se preocupar com as alternativas para problemas de linguagem a fim de que os seres humanos tivessem acesso a diferentes aspectos que envolvem suas vidas: políticos, econômicos, sociais e culturais.

3 O QUE É LINGUAGEM?

O título dessa seção é certamente provocativo, pois não existe resposta simples para a pergunta “o que é linguagem”? Para John Lyons (1987), em sua obra Linguagem e linguística: uma introdução, esse questionamento equivale a um outro “o que é a vida?

”, “cujas pressuposições circunscrevem e unificam as ciências biológicas” (p. 15).

Fonte de: www.thisismoney.co.uk

(25)

25 Por isso mesmo essa pergunta tem recebido múltiplas respostas, conforme os conhecimentos, crenças e ideologias dos estudiosos em cada época (cf. KRISTEVA, 1988). De modo geral, é bastante comum o emprego do termo linguagem para referir os diversos processos comunicativos.

É nessa direção que Sapir (1929, p. 8) define a linguagem como “um método puramente humano e não instintivo de se comunicarem ideias, emoções, desejos por meio de símbolos puramente produzidos”.

Essa definição, tal como apresentada, compreende os conceitos de linguagem escrita, linguagem corporal, linguagem da dança etc. Mas não são todos os estudiosos que observam a linguagem como instituição puramente humana. Numa proposta mais abrangente, o termo se aplica a qualquer processo de comunicação; assim, é possível conceber conceitos como “linguagem das abelhas”, “linguagem dos golfinhos” etc. Note- se que essa concepção de linguagem, que enfoca a comunicação e a interação, implica, em todo o caso, a ideia de que as línguas naturais, como, por exemplo, o português, o inglês ou o birmanês, constituem formas de linguagens.

No decurso da história, muitos outros conceitos foram associados a esse termo.

Podemos notar, por exemplo, que Schleicher, no século XIX, observou a linguagem como um organismo vivo; Humboldt a definiu como atividade humana. Sob outro enfoque, a linguagem pode ser concebida como resultado de uma atividade psíquica. Uma definição predominante na atualidade é a de linguagem como capacidade propriamente humana de falar e compreender uma língua.

Nessa concepção, conforme proposta no interior da teoria gerativa, a linguagem é

uma característica mental, inata à espécie humana. O que se enfoca, nesse caso, não é

sua função comunicativa ou interativa, mas seus aspectos estruturais. Com efeito, para

Chomsky (1980, p. 9), iniciador do modelo gerativo, importa descobrir, por meio dos

estudos da linguagem, “os princípios abstratos que governam sua estrutura e uso,

princípios universais por necessidade biológica e não por simples acidente histórico, e

que decorrem de características mentais da espécie humana”.

(26)

26

Fonte de: repositorio.unifesp.br

Podemos admitir várias outras definições para o termo linguagem; todavia, mais que estender a lista de conceitos, importa compreender que não existem, nesse caso, concepções certas e erradas, mas tão somente divergências de pontos de vista, de abordagens, de escopos teóricos que, em conjunto, constroem a história da Linguística.

3.1 Os estudos da linguagem

Sabemos que os estudos sobre a linguagem são remotos e envolvem reflexões de campos distintos: linguística, antropologia, sociologia, história etc. Todavia, não se pode dizer, ao certo, quando a linguagem se converteu em objeto de investigação e análise.

Efetivamente, conforme observa Mattoso Câmara (1975, p. 16), é pelo desenvolvimento da sociedade que se criam condições favoráveis à manifestação dos estudos da linguagem. Das múltiplas motivações para a definição desse campo de estudos, a invenção da escrita, pelo impacto dos fatores socioculturais e estruturais que lhes são inerentes, certamente constitui um fato especialmente relevante (CÂMARA JR., 1975).

Os primeiros estudos sobre a linguagem provavelmente nasceram com as

demarcações entre as diferentes classes sociais. Conforme propõe Mattoso, numa

(27)

27 sociedade desigual, os grupos socialmente privilegiados impõem seus usos linguísticos aos demais. Surgem, nesse contexto, os “estudos do certo e do errado”, ou seja, estudos normativo-descritivos que visam à conservação da linguagem supostamente “correta”

das classes superiores. De outra parte, os contatos culturais e linguísticos estimularam as comparações sistemáticas entre línguas distintas. Ademais, numa perspectiva ampla, os processos naturais de mudança linguística fomentaram, desde a antiguidade, os estudos filológicos da linguagem (CÂMARA JR., 1975).

Na antiguidade grega, o desenvolvimento do pensamento filosófico propiciou, ainda, o surgimento dos “estudos lógicos da linguagem”. Já no período evolucionista, os avanços científicos facilitaram o assentamento dos estudos biológicos da linguagem (CÂMARA JR., 1975).

Maior impacção decorre, por fim, da compreensão da linguagem como manifestação cultural e de sua observação como objeto de estudo histórico. Nessa direção, manifestam-se os estudos descritivos, que visam explicar a origem e desenvolvimento sócio-histórico da linguagem e/ ou sua real função na sociedade.

Figura – Linguagem. Fonte: Itabuna Centenaria, 2015.

Devemos notar que na análise de Mattoso Câmara Jr., somente os estudos

históricos e descritivos da linguagem constituem a essência da ciência linguística, porque

(28)

28 desenvolvem um método científico para focalização do objeto de estudo e, ainda, se voltam à explanação de seu funcionamento no contexto social e/ ou à explicação de sua origem ou desenvolvimento através do tempo (op. cit., 1975, p. 19- 20).

Observa-se que o ponto de vista de Mattoso, conforme propõe Cristina Altman (2009), é parcial e fortemente restritivo, já que deixa fora da linguística os traços de sua própria história, cooperando, assim, para a implantação, no Brasil, de uma disciplina descontínua, filiada unicamente a uma tradição europeia.

De fato, Mattoso Câmara Jr., tal como vários outros linguistas que o seguiram, situa a linguística (propriamente dita) na Europa do século XIX, introduzida especialmente pelos estudos histórico-comparativos dos neogramáticos e pelas iniciativas de Saussure, conforme veremos na próxima aula. Todavia, retomando as palavras de Robins (2004, p.

4):” a linguística europeia não teria alcançado a posição em que hoje está se não houvesse se enriquecido com as ideias dos trabalhos desenvolvidos fora da Europa [...]”.

3.2 O campo de estudos linguísticos

Apresentaremos alguns conceitos e pressupostos da Linguística com o fim de firmar as bases teóricas das discussões propostas em nosso curso. É importante observar, ainda, que alguns desses conceitos são retomados na formulação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs).

Levando em conta as diferentes culturas, várias são as motivações para o

desenvolvimento do campo de estudos linguísticos. Mesmo por isso, diversos estudiosos

enfatizam a impertinência de uma história da linguística estabelecida em ordem

(29)

29 cronológica. Na Índia Antiga, por exemplo, prevaleceu a preocupação com a compreensão correta dos textos religiosos dos “Vedas”, enquanto na Grécia, o estudo da linguagem se vincula às discussões filosóficas, apresentando-se como uma via possível para acessar o conhecimento da realidade.

Já no período helenístico, em Alexandria, o enfoque recaiu na análise dos diversos estágios da língua e nos traços distintivos do dialeto grego, com o fim de explanar os textos literários (CÂMARA JR., 1975, p. 26-27). É somente no século XVIII que os estudos da linguagem adquirem mais especificidade, pelo desenvolvimento da linguística histórico-comparativa:

No século XIX, tornaram-se mais precisos os métodos de análise dos estudos linguísticos. Assenta-se, definitivamente, o método comparativo, que consiste na análise e comparação entre diferentes línguas, com o fim de verificar suas (co) relações histórico- genéticas. Essas investigações permitiram a apreensão de características comuns a diversas línguas e/ ou famílias linguísticas.

No final do século XIX, um outro grupo de linguistas conhecidos como neogramáticos acrescentam outra novidade aos estudos da linguagem: eles criticam o descritivismo da linguística histórico-comparativa e se propõem a apreender, a partir de um conjunto de postulados teóricos, os princípios da mudança linguística (WEEDWOOD, 2002; FARACO, 2011; entre outros). Nesse momento se lançam as bases da linguística moderna.

No século XIX, tornaram-se mais precisos os métodos de análise dos estudos

linguísticos. Assenta-se, definitivamente, o método comparativo, que consiste na análise

e comparação entre diferentes línguas, com o fim de verificar suas (co) relações histórico-

genéticas. Essas investigações permitiram a apreensão de características comuns a

diversas línguas e/ ou famílias linguísticas.

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30 No final do século XIX, um outro grupo de linguistas, conhecidos como neogramáticos acrescentam outra novidade aos estudos da linguagem: eles criticam o descritivismo da linguística histórico-comparativa e se propõem a apreender, a partir de um conjunto de postulados teóricos, os princípios da mudança linguística (WEEDWOOD, 2002; FARACO, 2011; entre outros). Nesse momento se lançam as bases da linguística moderna.

4 OS CONCEITOS DE SISTEMA, NORMA, FALA, SINCRONIA E DIACRONIA

Vamos começar com um exemplo: Você conhece a tartaruga-gigante, também chamada de tartaruga-de-couro? Sabia que restam apenas aproximadamente 250 exemplares vivendo nos oceanos? Sim, ela é um dos animais ameaçados de extinção.

Bom, em relação a esse fato, podemos apenas nos contentar em saber que ela está em extinção, que restam poucos exemplares na natureza e propor ações de preservação.

Por outro lado, podemos nos interessar em saber o porquê desse animal estar em extinção, analisar a história da espécie ao longo dos anos, preocuparmo-nos com as causas que desencadearam o processo de extinção. São duas maneiras diferentes, porém válidas, de se analisar um acontecimento e mostra que estabelecer uma relação temporal com o fato linguístico? Essa e outras questões serão discutidas neste texto.

Agora você aprenderá os conceitos de sistema, norma, fala, sincronia e diacronia, bem como as relações percebidas entre eles.

Pensar os conceitos de sistema, língua e fala nos remete ao estruturalismo e

instiga a reflexão sobre em quais situações a normatização é pertinente. Ferdinand de

Saussure, ao expor sua abordagem à linguística nos cursos ministrados na Universidade

de Genebra, que vieram a compor a obra póstuma Curso de Linguística Geral, propunha

a analogia da língua com a música: “[...] a língua pode ser comparada a uma sinfonia,

cuja realidade independe da maneira por que é executada; os erros que podem cometer

os músicos que a executam não comprometem em nada tal realidade”. (SAUSSURE

apud BARBISAN, 1975, p.26.). Para o linguista, a língua é abstrata, assim como a

música, pois tem lugar no processo psíquico e constitui um sistema real de signos

linguísticos que independem da execução. Por execução, entende-se a fala, processo

(31)

31 fisiológico, secundário na perspectiva saussureana, que depende do falante. Observe o circuito da fala, proposto por Saussure:

A imagem ilustra a relação entre língua e fala na concepção de Saussure. Os conceitos e as imagens acústicas, desencadeadas por estímulos auditivos, são formadas no cérebro e, por isso, associadas à psique. Constituem, portanto, o conjunto de signos linguísticos que compõem a língua, objeto de estudos linguísticos. A língua é um construto social, independente do falante, uma vez que seu locus é a psique.

Consequentemente, os estímulos gerados no processo psíquico ativam o processo fisiológico da fala, conhecido por fonação que, por usa vez, servirá de estímulo acústico motivador do processo psíquico no ouvinte.

Mas afinal, o que levou Saussure a optar pela escolha da língua como objeto de estudos?

Segundo Barros, “A proposta de Saussure de ver na língua o objeto da Linguística decorre da constatação de que a linguagem é um aglomerado confuso de coisas que [...]

está a cavaleiro de diferentes domínios, tais como a Psicologia, a Antropologia, a

Gramática normativa, a Filologia, etc.” (BARROS, 2013, P.10.) e, por outro lado, “a língua

tem definição autônoma, é vista como sistema, é norma para todas as manifestações da

linguagem, portanto, pode ser estudada cientificamente”. (BARROS, 203, P.10). O

linguista escolhe a língua como objeto de estudo, justamente por ela não estar sujeita à

(32)

32 intervenção humana e por ser um construto social, compartilhado pela comunidade linguística de natureza, segundo ele, concreta, assimilada passivamente pelos sentidos.

Já a fala estaria condicionada à vontade do falante, tornando a utilização da língua apenas um simples acessório da linguagem. Para Saussure, a fala está subordinada à língua. (BARROS, 203, P.10).

Cabe salientar que a perspectiva saussureana não desconsidera a importância da fala, tampouco rechaça o seu estudo. O linguista reconhece a interdependência entre língua e fala e, inclusive, atribui à fala a evolução da língua. Entretanto, afirma não ser possível reunir ambas em um mesmo estudo, sugere que se tenha uma Linguística da língua (essencial) e uma Linguística da fala (secundária, mas não menos importante).

Agora, você pode perceber o porquê dos estruturalistas manterem seu foco nos

estudos de documentos escritos, pois a maneira de estudar um objeto que se forma no

processo psíquico do falante é através da escrita. Para os estruturalistas, a escrita

representa a língua, já que é executada conforme as normas convencionadas pela

comunidade linguística.

(33)

33 4.1 Relação entre fala e norma

Por norma, entende-se o conjunto de regras que orienta a utilização correta dos signos linguísticos que compõem determinada língua. No exemplo anterior, nem todas as falas obedecem à norma padrão da língua portuguesa, entretanto, elas não são consideradas erros pelos linguistas ou sociolinguistas, pois a fala não está sujeita às normas da língua.

A gramática normativa agrega as normas da língua, ou seja, ela não descreve a língua como realmente se evidencia, mas sim como deve ser materializada pelos falantes, constituída por um conjunto de sinais (as palavras) e por um conjunto de regras, de modo a realizar a combinação desses. (DUARTE, 2016, P.1.).

A norma padrão da língua portuguesa, que consta nas gramáticas, versa apenas sobre a língua escrita. Não só o fato de falar em desacordo com a norma, não se configura em um erro, como também cogitar aplicar as regras que constam na gramática em todos os contextos de fala pode ser inadequado. Por exemplo, qualquer pessoa em um jantar com amigos, poderá dizer “Por favor, me passa o arroz”! sem infringir norma alguma. Já se uma pessoa, no mesmo jantar disser “Por obséquio, queira me passar o arroz”. Ela estaria proferindo uma fala inadequada ao contexto informal de um jantar entre amigos, apesar da frase estar seguindo, perfeitamente, as regras gramaticais da língua portuguesa.

Na fala, o processo de adequação da linguagem representa a única norma a ser

seguida. O conjunto de regras prescritivas que constam na gramática, construto social

estabelecido, na maioria das vezes, pelas classes dominantes, não exerce domínio sobre

a fala.

(34)

34 4.2 Sincronia, diacronia e fator tempo

Existe racismo hoje no Brasil? As pessoas afrodescentes são discriminadas hoje no Brasil, por quê? Convido você a refletir sobre essas duas perguntas. Que resposta você daria para a primeira? E para a segunda? Pense um pouco...

Independente da resposta dada com base na sua reflexão, pense: para responder a primeira pergunta, você precisou relembrar suas aulas de história, lá da educação básica? Não, com certeza bastou você pensar na realidade atual, no ano de 2016, certo?

E, para responder a segunda, bastou olhar para hoje, avaliar somente a sociedade atual?

Não, com certeza você foi obrigado a lembrar da sua querida professora, ou do seu querido professor, de ensino fundamental. Precisou considerar o processo de colonização de nosso território, levou em consideração o terrível período da escravidão, considerou o desenvolvimento da economia com base na mão de obra negra, etc.

Retratar o porquê de um fenômeno, compreender sua essência, sempre requer uma análise temporal de vários fatores.

Para responder às perguntas, você utilizou dois processos de análise: a sincronia e a diacronia. Na sincronia, se estuda o hoje no contexto atual; já na diacronia, se estuda todo o processo de construção do contexto que acabou por gerar o hoje.

A língua é um sistema de signos. Todas as línguas do mundo sofrem transformações, e esse processo pode ser analisado tanto sincronicamente (em um período de tempo específico) como de forma diacrônica (processo que analisa a evolução linguística através dos tempos).

O processo da sincronia de mostra eficaz, principalmente, na análise da língua falada, pois está sofre variações linguísticas sistemáticas, perceptíveis em um intervalo de tempo específico. Segundo Tarallo (1986), pode-se observar:

 A língua falada é heterogênea e variável.

 A variabilidade da fala é passível de sistematização.

Por outro lado, se você desejar analisar as transformações da língua escrita,

regida pela gramática prescritiva, será necessário utilizar o processo diacrônico, pois

pode levar várias gerações até que uma transformação seja incorporada à gramática de

uma língua.

(35)

35 A análise diacrônica da fala é interessante para que você perceba como surgem alterações na língua falada em curtos espaços de tempo. Um exemplo interessante é observar as gírias que surgiram em determinadas épocas e compará-las com as atuais.

Quando dizemos que a língua portuguesa é oriunda do Latim, estamos nos referindo a uma análise diacrônica. De fato, como salienta Celso F. da Cunha, quando você traça a linearidade histórica de nossa “língua brasileira”, nota que ela provém da língua portuguesa, que por sua vez provém do latim, que se entronca na grade família das línguas indo-europeias. (CUNHA apud ASSUNÇÃO, 2016, P.1).

4.3 Variações da língua

A língua não é regida por normas fixas e imutáveis, muito pelo contrário: assim

como a sociedade é totalmente mutável, a língua pode transformar-se através do tempo

por causa de vários fatores vindos da própria sociedade. Se compararmos textos antigos

com atuais, perceberemos grandes mudanças no estilo e nas expressões. Com certeza

você já percebeu que, mesmo dentro de um mesmo país, existem várias maneiras de se

falar uma língua, no nosso caso, a Língua Portuguesa. As pessoas se comunicam de

formas diferentes e múltiplos fatores devem ser considerados, tais como a época, a

(36)

36 região geográfica, a idade, o ambiente e o status sociocultural dos falantes. Nós costumamos adequar o nosso modo de falar ao ambiente e ao nosso interlocutor e não falamos da mesma forma que escrevemos.

Fonte de:www.estudopratico.com.br

Segundo Antunes (2003), fazendo uma viagem pelas diferentes regiões brasileiras, descobriremos que diferentes linguajares norteiam a convivência dos falantes. Isso acontece em razão da classe social, faixa etária, aspectos da própria região, entre outros.

4.4 Tipos de variação linguística

As variações linguísticas ocorrem principalmente nos âmbitos geográficos, temporais e sociais.

4.4.1 Variações diatópicas

As variações diatópicas, também chamadas de variações regionais ou

geográficas, são variações que ocorrem de acordo com o local onde vivem os falantes,

sofrendo sua influência. Este tipo de variação ocorre porque diferentes regiões têm

diferentes culturas, com diferentes hábitos, modos e tradições, estabelecendo assim

diferentes estruturas linguísticas.

(37)

37 Exemplos de variações diatópicas

Diferentes palavras para os mesmos conceitos:

aipim, mandioca, macaxeira;

abóbora, jerimum, moranga;

sacolé, dindim, geladinho.

Diferentes sotaques, dialetos e falares:

dialeto caipira;

dialeto gaúcho;

dialeto baiano.

Reduções de palavras ou perdas de fonemas:

véio (velho);

muié (mulher);

cantá (cantar);

enxovar (enxoval).

4.4.2 Variações diacrônicas

Segundo Antunes (2003), as variações diacrônicas, também chamadas de variações históricas, são variações que ocorrem de acordo com as diferentes épocas vividas pelos falantes, sendo possível distinguir o português arcaico do português moderno, bem como diversas palavras que ficam em desuso.

Exemplos de variações diacrônicas Palavras que caíram em desuso:

vossemecê;

botica;

comprir.

(38)

38 Grafias que caíram em desuso:

flôr;

pharmácia;

seqüencia.

Vocabulário e expressões típicas de uma determinada faixa etária:

Você é um chato de galocha!

Ele é maior barbeiro.

Vai catar coquinho.

4.4.3 Variações diastráticas

As variações diastráticas, também chamadas de variações sociais, são variações que ocorrem de acordo com os hábitos e cultura de diferentes grupos sociais. Este tipo de variação ocorre porque diferentes grupos sociais possuem diferentes conhecimentos, modos de atuação e sistemas de comunicação, Antunes (2003).

Exemplos de variações diastráticas

Gírias próprias de um grupo com interesse comum, como os skatistas:

Prefiro freestyle.

O gringo tem um carrinho irado.

O silk do skate tá insano.

Jargões próprios de um grupo profissional, como os policiais e militares:

Ele deu sopa na crista.

Vamos na rota dele.

Não mexe com meu peixe.

(39)

39 4.4.4 Variações diafásicas

As variações diafásicas, também chamadas de variações situacionais, são variações que ocorrem de acordo com o contexto ou situação em que decorre o processo comunicativo. Há momentos em que é utilizado um registro formal e outros em que é utilizado um registro informal, Antunes (2003).

Exemplos de variações diafásicas

Linguagem informal, considerada menos prestigiada e culta, usada quando há familiaridade entre os interlocutores da comunicação ou em situações descontraídas.

Fala, garoto! Beleza?

Rola um cinema hoje?

Cadê Pedro? Cê viu ele?

Linguagem formal, considerada mais prestigiada e culta, usada quando não há familiaridade entre os interlocutores da comunicação ou em situações que requerem uma maior seriedade.

Bom dia! Tudo bom com você?

Querem ir ao cinema hoje?

Onde está Pedro? Você viu-o?

4.5 Variação linguística e preconceito linguístico

O preconceito linguístico surge porque nem todas as variações linguísticas

usufruem do mesmo prestígio. Algumas são consideradas superiores, mais corretas e

cultas e outras são consideradas menos cultas ou mesmo incorretas. Preconceito

linguístico ocorre sempre que uma determinada variedade é referida com um tom

pejorativo e depreciativo, estando associada a situações de deboche ou até de violência,

o que contribui para a exclusão social de diversos indivíduos e grupos. É urgente

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