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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS GUARULHOS SP

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS

GUARULHOS – SP

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO AOS PRINCÍPIOS GERAIS DA FONÉTICA ARTICULATÓRIA ... 3

2 RELAÇÃO ENTRE FONÉTICA E FONOLOGIA ... 8

3 CONCEITUAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DE FONÉTICA E FONOLOGIA ... 10

3.1 Fonética ... 18

3.2 - Fonologia ... 21

4 ANATOMIA E FISIOLOGIA DA FALA ... 24

4.1 Estruturas de Sustentação da Laringe ... 26

4.2 Estruturas Cartilaginosas da Laringe ... 29

5 CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO DOS SONS DA FALA ... 38

6.1 Consoantes ... 39

6 DESCRIÇÃO DOS SONS LINGUÍSTICOS ... 43

7 ALFABETO FONÉTICO INTERNACIONAL ... 46

7.1 Alfabeto Fonético da OTAN ... 48

7.2 Criação do alfabeto fonético ... 48

7.3 Funcionamento do alfabeto fonético ... 49

7.4 Utilização do alfabeto fonético internacional ... 50

7.5 Outros alfabetos fonéticos... 50

8 OS ELEMENTOS SUPRASSEGMENTAIS ... 51

8.1 Consoante ... 53

8.2 Vogais ... 54

9 AGRUPAMENTOS DE FONEMAS ... 56

10 ESTRUTURA DAS SÍLABAS ... 61

10.1 Classificação das palavras quanto ao número de sílabas ... 63

11 AS TRANSCRIÇÕES FONÉTICAS E FONOLÓGICOS DOS SONS LINGUÍSTICOS

... 65

(3)

12 INTRODUÇÃO ÀS PREMISSAS DA DESCRIÇÃO E ANÁLISE FONOLÓGICA .... 67

12.1 A importância da fonologia para o ensino de línguas ... 68

12.2 Processos Fonológicos Básicos ... 71

13 PRINCÍPIOS DE FONÉTICA E FONOLOGIA: SONS DA FALA, PROSÓDIA ... 74

14 PROPRIEDADES ARTICULATÓRIAS E ACÚSTICAS DOS SONS ... 76

15 NOÇÕES BÁSICAS DE FONOLOGIA ... 79

16 A ESTRUTURA FONOLÓGICA DO INGLÊS E DO PORTUGUÊS ... 83

17 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ... 89

.

(4)

1 INTRODUÇÃO AOS PRINCÍPIOS GERAIS DA FONÉTICA ARTICULATÓRIA

Fonte: www.radames.manosso.nom.br

A fonética apresenta os métodos para a descrição, classificação e transcrição dos sons da fala, principalmente aqueles sons utilizados na linguagem humana. Suas principais áreas de interesse são: Fonética Articulatória, Fonética Perceptiva e Fonética Acústica.

Fonética Articulatória:

É um ramo da fonética, em que estuda os sons utilizados na linguagem humana, onde a fisiologia e articulação na produção são aspectos a serem analisados, além de realizar a observação, descrição, classificação e transcrição dos sons produzidos na fala.

Fones e Articulação:

Há diversos sons na fala humana, cada um deles com suas características e movimentos articulatórios (fones ou segmentos). A distinção entre as consoantes e vogais acontece em nível de articulação e deve ser entendida a partir da liberação do fluxo de ar dos pulmões.

 Vogais: Sem obstrução da passagem do ar.

(5)

 Consoantes: Obstrução total ou parcial da passagem do ar.

Consoantes:

Âmbito profissional

Profissionalmente a comunicação linguística é de suma importância em muitos ramos, não apenas a comunicação em si mas a forma que as palavras são articuladas.

Essa forma de articular pode tornar um fone mais ou menos compreensível e consequentemente facilitar ou dificultar a compreensão da mensagem.

O aparelho fonador e a produção de fala:

Para que a produção da fala se dê com êxito em um ser humano é necessário que haja vibração das moléculas de ar, ou seja, é preciso que haja respiração.

Enquanto estamos falando, estamos controlando a saída de ar dos pulmões, pois somos dependentes dessa corrente de ar para que a fala aconteça.

Para que a fala ocorra é indispensável que as pregas vocais transformem aquela corrente em um som audível (caracterizada fonação), acarretando assim a vibração ou não das pregas.

Mecanismos de produção dos sons:

Os órgãos articuladores são aqueles envolvidos na produção da fala, podendo ser der descritos como ativo ou passivo.

 Ativo: partes do aparelho fonador que se movimentam para que a produção de um determinado som seja efetuada como língua (que se divide em ápice, lâmina e dorso), lábio e dentes inferiores, véu do palato (que fecha a cavidade nasal) e pelas pregas vocais que são as responsáveis pelo vozeamento.

 Passivo: abrangem todas as estruturas que, diferentemente das ativas, não se movem para a geração da fala. (lábio superior, dentes superiores, e palatos duro e mole).

Fonação:

A fonação é a capacidade das pregas vocais de transformar a corrente de ar

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em um som audível. Ocorrendo na laringe, através do movimento das pregas vocais.

Quando as pregas vocais estão separadas e a glote está aberta, realizam a produção de sons desvozeados traço [- sonoro]. Quando as pregas estão juntas, dificulta a passagem de ar e ocasiona a vibração das pregas, temos os sons vozeados traço[+sonoro]. Outra grande influenciadora da fonação é a posição da cartilagem aritenoidea, que acaba influenciando totalmente na posição das pregas vocais, no repouso ou no período de fala.

Para classificar as consoantes, as caracteristicas são:

I. Vozeamento.

II. Ponto de articulação III. Modo articulatório.

Relação à vibração ou não das pregas vocais, são elas:

 Surdas ou não-vozeadas: Produzidas sem a vibração das pregas vocais.

 Exemplos: pata, faca.

 Sonoras ou vozeadas: Produzidas com a vibração das pregas vocais.

 Exemplos: bode, zona.

A posição dos articuladores passivos e ativos quando produzem tais segmentos. os lugares de articulação são subdivididos em:

 Bilabial- Exemplos: nas plosivas /p/, /b/ e na nasal /m/.

 Labiodental - Exemplos: as fricativas /f/ e /v/.

 Dental- Exemplos: nas plosivas /t/ e /d/.

 Alveola- Exemplos: as fricativas /s/ e /z/, a nasal /n/ e a líquida /l/ e /r/.

 Alveolopalatal.

 Palatal- Exemplos: Velar- Exemplos: as plosivas /k/ e /g/ e a líquida /R/

Glotal

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Essa característica fonêmica está relacionada ao tipo de obstrução na corrente de ar que determinado fone acarreta, devido aos órgãos articuladores envolvidos no processo. São eles:

 Oclusivas- Fechamento total da glote, e o véu palatino fecha a cavidade nasal. São denominadas Plosivas;

 Fricativas- Os articuladores de fala se aproximam a ponto de ocorrer uma fricção na passagem do ar, sem obstrução total da cavidade oral;

Nasal – total obstrução da passagem de ar na cavidade oral, ocasionando no fluxo pela cavidade nasal;

 Tepe- Também denominada vibrante simples, ocorre quando o articulador ativo toca rapidamente o articulador passivo, ocorrendo uma obstrução da passagem de ar na boca;

 Vibrante Múltipla- É uma sequência de vibrações no mesmo ponto de articulação;

 Retroflexa- O ápice da língua é o articulador ativo, que vai ao encontro do palato duro que é passivo;

 Laterais- O articulador ativo se encontra com o passivo, obstruindo a corrente de ar na linha central do trato vocal;

 Africada- Esta classe na verdade é uma junção de uma plosiva com uma fricativa, que devem necessariamente ter o mesmo ponto de articulação;

I- Ponto de articulação:

II- Vozeamento III- Modo articulatório

Na atuação fonoaudiológica:

A fonoaudiologia é habilitada para tratar patologias que culminem em desvios

fonológicos ou fonéticos, onde os problemas com a articulação das palavras são

tratados na área da fonética. Respiração, fonação, ressonância e articulação são

elementos necessários para a produção da fala, eles funcionam em conjunto por tanto

o comprometimento de um fator altera o resultado final.

(8)

As alterações na fala têm origens diferentes, podendo ser elas neurológicas ou resultantes de alteração óssea, muscular ou cartilaginosa.

Fonte: www.empresarialmaster.com.br

Vogais

Estes sons devem ser produzidos de modo que o estreitamento da cavidade oral, devido à aproximação do corpo da língua e do palato não produza fricção.

Para identificação e descrição usam-se alguns parâmetros, como:

1. Altura da Língua

2. Avanço ou recuo da língua 3. Posição dos lábios

4. Vogais Nasais e Orais 5. Semivogais

Altura da Língua

 Altas;

 Médias-altas;

 Médias-baixas;

 Baixas;

Avanço ou recuo da língua

 Anteriores;

 Posteriores;

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 Centrais;

Posição dos lábios

 Arredondadas

 Não-arredondadas

Vogais Nasais e Orais

As vogais podem ser orais, pronunciadas na cavidade bucal apenas, ou nasais, pronunciadas também nas cavidades nasais.

 Orais: a, e, i, o, u.

 Nasais: ã (an/am), ẽ (en/em), ĩ (in/im), õ (on/om), ũ (un/um)

Semivogais

Apresentam menor proeminência acentual se comparadas às vogais que acompanham. Nesse caso, são representadas respectivamente pelos símbolos fonéticos j e w .

2 RELAÇÃO ENTRE FONÉTICA E FONOLOGIA

Fonte: www.portugues.uol.com.br

(10)

Como você deve ter observado, a linguagem humana se manifesta de várias formas. Podemos nos expressar por meio de gestos, como na língua de sinais conforme ilustrado na figura 1; por meio dos sons que emitimos ao falar e, ainda, por meio da escrita. Ao ler o poema E agora José? De Carlos Drummond de Andrade, você experienciou a linguagem se manifestando por meio da escrita.

Ao escutar ou cantar a canção, você utilizou a linguagem falada, seja quando fez uso do seu aparelho vocal para emitir sons ao cantar, seja quando utilizou seu aparelho auditivo para ouvir e perceber a mensagem. A linguagem falada se realiza por meio do canal vocal-auditivo, enquanto a linguagem de sinais utiliza um canal gestual-visual e a escrita, um canal visual gráfico.

Apesar da existência dessas várias formas de manifestação, a linguagem humana tem no canal vocal-auditivo a sua forma privilegiada de expressão, basta constatarmos que o ser humano primeira fala e só depois aprende, ou não, a escrever.

Uma comunidade só desenvolve a linguagem gestual quando seus membros são privados de audição e a escrita, embora tenha muito prestígio nas sociedades modernas, não existiu e nem existe em todas as sociedades humanas. Há muitas línguas no mundo que só apresentam a modalidade oral, são línguas sem escrita – línguas ágrafas. As línguas indígenas ainda hoje faladas no território brasileiro são exemplos disso. Na sua evolução, os seres humanos privilegiaram o canal vocal- auditivo para a comunicação talvez em decorrência das vantagens que ele apresenta em relação ao canal gestual-visual.

Comunicar-se por meio de sons, em vez de gestos, deixa o corpo livre para se empreender outras atividades no momento em que se fala e exige relativamente pouca energia física. Além disso, as mensagens podem ser enviadas e recebidas a uma certa distância, sem necessidade de os interlocutores se olharem. Assim a comunicação pode ocorrer no meio da escuridão ou numa floresta densa, por exemplo, (Aitchison).

A maior parte da literatura que trata de Fonética e Fonologia vem tentando fazer

uma distinção entre elas que não tem convencido aqueles que se aventuram nos

estudos sobre essas disciplinas da Linguística. Primeiramente, deve-se dizer que

tanto a Fonética quanto a Fonologia têm como objeto de estudo os sons da fala. Ou,

melhor dizendo, tanto a Fonética quanto a Fonologia investigam como os seres

humanos produzem e percebem os sons da fala. Em segundo lugar, deve-se observar

que é bastante difícil fazer Fonologia sem antes entender (ou fazer) fonética. É preciso

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então conhecer um pouco mais sobre o status de cada uma dessas disciplinas, sem tentar fazer uma distinção simplista de suas funções ou modos de ação. Podemos começar nossa reflexão lançando mão de uma discussão sobre Fonética e Fonologia que se tornou muito profícua entre os pesquisadores da área, apresentada por Clark e Yallop (1995).

3 CONCEITUAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DE FONÉTICA E FONOLOGIA

Fonte: www.diferenca.com

Introduzindo a Fonética e a Fonologia segundo essa reflexão, qualquer comunicação realizada através de línguas orais com sucesso, seja ela um simples cumprimento ou um elaborado discurso político, pressupõe alguns requisitos básicos com relação aos interlocutores: um funcionamento físico adequado do cérebro, dos pulmões, da laringe, do ouvido, dentre outros órgãos, responsáveis pela produção e audição (percepção) dos sons da fala. Além desses, deve haver o reconhecimento da pronúncia de cada um dos interlocutores, pois, mesmo que eles tivessem os órgãos da fala e da audição em perfeito estado, essa comunicação poderia não ter sucesso se um deles não compreendesse a língua falada pelo outro. Outro ponto importante a se considerar é a adequada interpretação das ondas sonoras (sons) emitidas pelo falante e captadas pelo ouvinte.

Dessa maneira, observamos logo de início que a fala pode ser descrita sob

diferentes aspectos, uns estão mais próximos do que vai se convencionar chamar de

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Fonética, outros mais próximos do que vai se convencionar chamar de Fonologia.

Podemos estudar a fala a partir da sua fisiologia, isto é, a partir dos órgãos que a produzem, tais como a língua, responsável pela articulação da maior parte dos sons da fala, e a laringe, responsável principalmente pela produção de “voz”, que leva à distinção entre sons vozeados (sonoros) e não vozeados (surdos), por exemplo.

Podemos também estudar a fala a partir dos sons gerados pelos órgãos, chamados de fonadores, com base nas propriedades sonoras (acústicas) transmitidas por esses sons.

Podemos ainda examinar a fala sob a ótica do ouvinte, ou seja, da análise e processamento da onda sonora quando acontece a percepção dos sons, dando sentido àquilo que foi ouvido. Todos esses aspectos são considerados pela Fonética.

A Fonética então é a área que estuda a produção de fala propriamente dita, e isso significa dizer que ela levará em consideração a variação linguística, a fisiologia dos indivíduos e as idiossincrasias relativas às características individuais dos falantes.

Dizemos que a Fonética Articulatória estuda o som do ponto de vista mais estritamente fisiológico. Se você colocar a mão espalmada sobre o pescoço e produzir um ‘s’, ouvirá o ruído desse som, mas não sentirá o pescoço vibrar. Mas se você produzir um ‘z’ e mantiver a mão no pescoço, ouvirá um ruído e também sentirá o pescoço vibrar. Essa vibração é realizada pelo que chamamos de pregas vocais (órgãos que se encontram no pescoço, mais propriamente na laringe). O som sem essa vibração é chamado de surdo ou não vozeado, e com essa vibração de sonoro ou vozeado. Então, algumas das tarefas da Fonética Articulatória são: (I) observar se, durante a produção de um som, houve ou não vibração de pregas vocais, definindo se ele foi realizado como sonoro ou surdo, e (II) descrever o movimento de língua dentro do trato vocal e o movimento dos demais órgãos responsáveis pela produção do som.

A Fonética Articulatória se encarrega de descrever a realização dos sons, levando em consideração os parâmetros fisiológicos dos nossos articuladores.

Vejamos como isso pode ser feito. Por exemplo, pronuncie a palavra ‘sagu’ e perceba

como é realizada a vogal ‘a’. Nessa produção, há a livre passagem do ar pelo trato

vocal – a boca. Experimente pronunciá-la tomando consciência dos movimentos da

língua, lábios e mandíbula. Não há nenhum impedimento ou bloqueio enquanto essa

vogal é realizada – o ar simplesmente sai por sua boca.

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Além disso, para a produção desse som, ou, mais tecnicamente, do fone [a], a língua deve estar abaixada e centralizada na boca, e a mandíbula também deve se abaixar. Esses movimentos, que a língua efetuou para a produção de [a], caracterizam essa vogal como baixa e central. Notamos ainda que os lábios estejam abertos.

Vamos agora refletir sobre os movimentos necessários para a produção do ‘u’ final da palavra ‘sagu’. Nesse caso, a parte posterior da língua (o dorso) deve fazer um movimento para cima e para trás, o que caracteriza essa vogal como alta e posterior (note que “posterior” aqui significa movimento “para trás”, indo dos lábios para o fundo da boca). Se você quiser perceber ainda mais como se modifica a configuração de língua e lábios para a produção de vogais distintas, pronuncie em voz alta a sequência [i, u].

Perceba que, para a produção de [i], você tem os lábios estirados e a língua anteriorizada. Quando você produz [u], o dorso da língua faz o movimento para trás e os lábios se prolongam, aproximando se. Faça isso com outras vogais e perceba quais modificações ocorrem. Já refletiu? Então, vamos voltar para a palavra ‘sagu’. Sua representação sonora será [saˈgu]; o símbolo [ˈ] identifica a sílaba tônica e deve precedê-la. Pronuncie desta vez a palavra ‘tala’. Observe como a pronúncia do primeiro ‘a’ é diferente da produção do segundo ‘a’ dessa mesma palavra. Essa diferença tem a ver com a proeminência dada ao primeiro ‘a’, que pertence a uma sílaba acentuada [a], parecendo nesse caso ter uma pronúncia mais “clara” do que a do segundo ‘a’.

Por conta disso, transcrevemos foneticamente a palavra ‘tala’ como [ˈtalɐ], indicando com símbolos diferentes os dois sons distintos de ‘a’. Note que colocamos novamente um pequeno sinal [ˈ] antes da sílaba acentuada – lembre-se que esse sinal marca justamente a maior proeminência dessa primeira sílaba, ou seja, a sílaba acentuada. Tomemos mais um caso que a palavra, na maioria das regiões do Brasil, é realizada como uma vogal, ou seja, é vocalizada. Por exemplo, as palavras ‘sal’ ou

‘bolsa’ são pronunciadas como [ˈsaw] e [ˈbowsɐ], respectivamente. (O símbolo [w] soa como o som do grafema). Mas poderíamos ter como pronúncia desse ‘l’ final das palavras o som [ɫ], produzido, por exemplo, em regiões do Rio Grande do Sul; essa produção, chamada de velarizada, soa como um ‘l’ realizado com a sensação de que a língua se volta para trás, e assim podemos produzir, por exemplo, [ˈsaɫ] e [ˈboɫsɐ].

A diferença entre essas pronúncias tem a ver com a sequência de movimentos

articulatórios relacionados à produção de laterais que explicitaremos mais adiante no

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capítulo “Fonética”. O que vimos nesses últimos parágrafos são exemplos de realização dos sons distintos, levando em consideração modificações que acontecem no trato vocal, ou seja, que são identificados a partir de uma descrição dos parâmetros fisiológicos dos nossos articuladores. Considerando os diferentes falares que encontramos no Brasil, certamente somos capazes de dizer se um indivíduo é nordestino ou carioca, além de sermos capazes de dizer rapidamente se determinado som produzido pertence ou não à nossa língua.

Essa capacidade que temos de discriminar falares como sendo de uma região e não, de outra, ou de identificar um som como sendo da nossa língua materna ou não, é objeto de pesquisa da Fonética Auditiva ou Perceptiva. Essa linha da Fonética tenta entender como os sons são tratados no aparelho auditivo e como são decodificados pelo nosso cérebro (ou pela nossa mente). Quando, por exemplo, os foneticistas (aqueles que pesquisam sobre Fonética) querem estudar mais a fundo as características dos sons da fala, eles gravam os informantes, e as gravações são analisadas fisicamente, ou seja, são analisadas as propriedades do sinal sonoro com o arcabouço teórico da Física.

Nesse caso, a produção sonora será investigada com o auxílio de equipamentos tecnológicos e vai ser avaliada a partir de parâmetros acústicos;

estamos assim adentrando a Fonética Acústica. Se tomarmos os mesmos exemplos

anteriores de pronúncia do ‘a’ ou a vocalização/velarização do ‘l’ poderá analisar

esses sons através de analisadores espectrais, usando recursos digitais. Poderemos

ainda visualizar esses sons a partir de seus pulsos glotais (da vibração das pregas

vocais) ou a partir das frequências de ressonância emitidas pelo trato oral geradas na

produção dos diferentes sons de ‘a’, como exemplifica a Figura.

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Fonte: www.infoescola.com

Figura 1: Sinal acústico da vogal [a] na palavra ‘pata’ ([ˈpatɐ]). No círculo, uma vibração das pregas vocais ou, mais tecnicamente, um pulso glotal, referente à vogal [a] da sílaba acentuada ([ˈpa]).

Toda essa informação tirada do sinal acústico nada mais é do que o registro do que foi falado e é fruto de um processo que começa com o ar saindo dos pulmões.

Tentando explicar de uma maneira bem simples: os sons da maioria das línguas naturais, como os dos portugueses brasileiros, nascem a partir do momento em que o ar sai dos pulmões; a contração dos pulmões gera a expulsão do fluxo de ar que faz vibrar as pregas vocais; esse fluxo de ar, passando pelas pregas vocais, excita o trato vocal que funciona como uma caixa ressoadora e amplifica as frequências naturais desse tubo (o trato vocal), gerando os sons que ouvimos.

O paulista, o sulista, os nordestinos falam de maneira distinta, mas isso não

implica impossibilidade de comunicação. Um bom exemplo para entendermos melhor

onde atua a Fonética e a Fonologia é o processo de palatização que ocorre na

produção das palavras ‘tia’ e ‘dia’. Vamos explicar melhor: se um carioca produzir as

palavras ‘tia’ e ‘tapa’, você irá perceber que o ‘t’ que inicia essas palavras é produzido

de uma forma particular. Diante de [i], esse ‘t’ terá um ruído, uma fricção, que não

ocorre quando o carioca produz o ‘t’ da palavra ‘tapa’. Diz-se, então, que para

diferenciar palavras no português (não são fonemas, portanto), já que [t]ia e [tS]ia têm

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o mesmo significado em PB. Como pudemos observar até agora, a Fonética está preocupada em descrever articulatoriamente, percentualmente ou acusticamente as produções que ocorrem de fato. Vimos também que as produções das palavras do português brasileiro exibem muitas variantes.

Além disso, notamos que, mesmo algumas vezes havendo muitas diferenças entre as produções, há compreensão entre os falantes. A Fonologia, no entanto, não está preocupada em descrever ou identificar as variantes no fluxo contínuo da fala.

Sua preocupação é tratar de sons que distinguem o significado das palavras, além de organizar, postular regras e entender como se dá a variação na realização efetiva dos sons. É claro que, para fazer isso, precisamos nos apoiar em algumas propostas teóricas e cada teoria pode explicar as variações de sua própria maneira.

Então, uma análise fonológica deve ter uma teoria subjacente. Porém, nem sempre uma única teoria dará conta de explicar todos os fenômenos de uma determinada língua. É consenso que a fala tem como principal objetivo o aporte de significado, mas, para que isso ocorra, ela deve se constituir em uma atividade sistematicamente organizada. O estudo dessa organização, que é dependente de cada língua, é considerado Fonologia. Assim, a Fonologia pode ser vista como a organização da fala de línguas específicas segundo os postulados de uma dada teoria. Logo, poderíamos dizer que uma descrição de como segmentos vocálicos (vogais) individuais podem ser produzidos e percebidos seria fornecida pela Fonética, já uma descrição das vogais ou do sistema vocálico do PB seria proporcionada pela Fonologia. Vamos a mais alguns exemplos do que se pode investigar sobre o português brasileiro nesses dois campos de estudo que se complementam mutuamente.

Antes de mais nada, é preciso relembrar que, quando falamos de vogais e consoantes, referimo-nos a sons e não a letras. Assim, palavras como ‘cassado’

[kaˈsadʊ] e ‘caçado’ [kaˈsadʊ] possuem foneticamente as mesmas consoantes e

vogais, apesar de serem grafadas com letras e grafemas diferentes. Por sua vez,

palavras como (o) ‘olho’ (substantivo) e (eu) ‘olho’ (verbo) ([ˈoʎʊ] e [ˈɔʎʊ],

respectivamente) apresentam foneticamente vogais diferentes, mesmo sendo

grafadas com letras iguais. E ainda, como já vimos, a diferença entre [z] e [s] está na

vibração ou não das pregas vocais, encontradas na laringe, como se percebe nas

palavras ‘caça’ [ˈkasɐ] e ‘casa’ [ˈkazɐ], respectivamente. Isso pode ser alargado para

a observação atenta de que, na grafia das palavras ‘mesmo’ [ˈmezmʊ] e ‘mescla’

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[ˈmɛsklɐ], a letra ‘s’ corresponde a dois sons diferentes, conforme pode ser observado nas respectivas transcrições fonéticas. Isso se deve à característica de vibração das pregas vocais (ou, mais tecnicamente, de vozeamento) da consoante que segue a letra ‘s’.

No primeiro caso, o da palavra ‘mesmo’, a consoante que a segue é [m] que é produzida com a vibração das pregas vocais (ou seja, ela é sonora ou, usando um termo da área de acústica, ela é vozeada) e, no segundo caso, o da palavra ‘mescla’, que tem na sequência o [k], ele é produzido sem a vibração das pregas vocais (é uma consoante surda ou não vozeada). Assim, no primeiro caso, da palavra ‘mesmo’, teremos [z] que assimilou a sonoridade do som [m] que o segue, e no segundo caso, da palavra ‘mescla’, temos [s], que é surdo, como o som [k] que o segue. Basta entendermos que palavras grafadas com o mesmo grafema, no caso, podem ter esse grafema sendo produzido de maneira distinta a partir de um processo natural da fala e assim adquirir valores fonéticos distintos.

No caso deste grafema, a “modificação” se deu por influência do som que o sucede: em ‘mesmo’, o se realizou como [z], ou seja, como sonoro, porque depois dele havia um [m] que se realiza com vibração das pregas vocais. O trato vocal já se antecipa e se configura para atender a demanda do [m] e o ‘s’ assimila o vozeamento.

Para um último exemplo, podemos verificar também, a partir de estudos apropriados desenvolvidos no âmbito da Fonética, que vogais diante das consoantes [d] e [g] são mais longas do que diante das consoantes [t] e [k], por exemplo, em palavras como

‘coda/gota’ ([ˈkɔdɐ]/ [ˈgotɐ], respectivamente). Aquelas que dizem respeito às medidas de duração de vogais diante de certas consoantes ou ao comportamento da laringe durante o vozeamento e as suas consequências acústicas são julgadas abordagens mais fonéticas do que fonológicas.

Por sua vez, aquelas que tentam identificar as características que distinguem as vogais do português brasileiro; classificar os sons como vozeados e não vozeados;

formular regras que têm por objetivo estabelecer padrões de vozeamento de

consoantes surdas diante de consoantes sonoras; ou ainda classificar os sons como

fonemas de uma determinada língua ou apenas variantes de um determinado fonema,

são julgadas abordagens mais fonológicas do que fonéticas. Você se lembra da

explicação dada para a modificação de [s] em [z] na palavra ‘mesmo’? A partir do

momento que entendemos que essa modificação é sistemática, ou seja, que todo som

[s] diante de um som vozeado se torna sonoro por um processo de assimilação de

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vozeamento, estamos montando uma regra, organizando o nosso conhecimento, e então estamos entrando nos domínios da Fonologia.

Por isso, a dificuldade de separar as duas disciplinas, que se imbricam e se justificam a todo momento. Parece que podemos considerar então que os foneticistas lidam com medidas precisas, amostragem do sinal de fala, estatísticas, enquanto os fonólogos lidam com a organização mental da linguagem, com as distinções sonoras concernentes a línguas em particular, identificando os sons que servem para distinguir uma palavra de outra, ou as regularidades de distribuição dos sons captadas a partir daquilo que o falante produz, ou ainda os princípios que determinam a pronúncia das palavras, frases e elocuções de uma língua. Outra tentativa de diferenciar Fonética e Fonologia estãorelacionadas à característica de universalidade concedida à Fonética, uma vez que ela trataria de aspectos mais gerais da produção dos sons da fala, enquanto a Fonologia trataria de aspectos mais específicos das línguas naturais em particular.

No entanto, essa tentativa cai por terra quando pensamos que mesmo a Fonologia tem procurado estabelecer notações e terminologias universais para descrever a organização sonora de várias línguas do mundo. E, mesmo sob um enfoque mais fonético, tem-se estudado articulatória e acusticamente segmentos de línguas específicas, não somente características gerais. Ainda outra maneira de diferenciar Fonética de Fonologia está relacionada ao fato de que estudiosos da Fonética analisam como se dá a articulação de um segmento (a Fonética Articulatória) ou que parâmetros acústicos caracterizam um determinado sinal de fala (a Fonética Acústica) ou ainda como esse sinal de fala é percebido pelos ouvintes (Fonética Perceptiva).

A Fonética é então empirista porque se apoia na experiência da fala, todavia, tanto a investigação de sistemas linguísticos quanto a investigação da organização mental da fala realizada pela Fonologia, também são baseadas na observação.

Devido à reflexão que acabamos de apresentar, vamos dizer que a separação que

faremos neste livro da Fonética e da Fonologia serve apenas como apoio didático para

uma apresentação mais clara de todos os aspectos envolvidos na construção de

significados sob esses dois olhares. Como adiantamos anteriormente, a língua que

será evidenciada pela Fonologia será o português brasileiro, e as características

fonéticas discutidas também serão referentes a essa língua.

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3.1 Fonética

Fonte: www.brasilescola.uol.com.br

Os sons vocais são, portanto, a base da nossa fala e compreendê-los é uma tarefa importante para os profissionais da linguagem. Assim, criou-se uma ciência para estudá-los: a Fonética, que você vai começar a estudar nesse curso. A Fonética é um dos campos de investigação da ciência da linguagem – a Linguística – que tem como objeto de estudo os sons da fala e como objetivo compreender de que forma esses sons são produzidos pelo aparelho fonador humano, as suas características físicas e como se dá a percepção desses sons pelo nosso aparelho auditivo.

Esse triplo objetivo faz surgir respectivamente três ramos de estudo da fonética:

a fonética articulatória, a fonética acústica e a fonética perceptiva ou auditiva. Essa divisão está diretamente relacionada com a natureza do ato comunicativo. Como já deve ser do seu conhecimento, qualquer ato de comunicação envolve, pelo menos, os seguintes elementos: a pessoa que fala (falante/ emissor/enunciador), a pessoa que ouve (ouvinte/receptor) a mensagem que ela transmite o código no qual a mensagem está cifrada (a língua) e o canal ou meio físico que leva a mensagem do falante até o ouvinte. Pois bem, pensando neste esquema de comunicação podemos ver que o estudo dos sons da fala pode ser feito focalizando algum elemento deste esquema.

São basicamente três os elementos focalizados: o emissor, o meio físico e o

receptor. Quando o som é estudado do ponto de vista do emissor, procura-se explicar

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como ele é produzido e as características que ele tem em decorrência da sua forma de produção.

É o que de faz em fonética articulatória – Área que se dedica ao estudo da anatomia e da fisiologia da produção da fala, ou seja, descreve e observa a forma como os sons da fala são articulados pelo aparelho fonador. Inclui alguns orgãos que são simultaneamente comuns ao aparelho respiratório e ao aparelho digestivo, e que são responsáveis pela articulação da fala humana. Sendo a maior parte dos sons das línguas, produzidos no momento da expiração. O ar sai dos pulmões percorre os brônquios, a traqueia e a laringe, até que encontra as cordas vocais na glote. Se essas membranas estiverem abertas, os sons articulados são surdos ou não vozeados, como a consoante (S) da palavra (chá).

Em seguida, o ar passa pela faringe e encontra outro órgão que influencia a produção sonora: o véu platino. Este órgão é responsável pela produção de sons nasais. Se for levantado, fecha a cavidade nasal, conduzindo o ar apenas pela produção de sons nasais. Se for levantado, fecha a cavidade nasal, conduzindo o ar apenas pela cavidade oral. Assim, se produzem os sons orais (p), (b), (k), etc, que constituem a maioria dos sons da fala. Se, pelo contrário, o véu palatino estiver baixado, o ar sai simultaneamente pelas cavidades oral e nasal, produzndo-se sons nasais, como as vogais nasais e as oclusivas nasais (m), (n) e (N).

Área da fonética que se dedica ao estudo dos processos de audição da fala humana e de procesamento das suas características pelo cérebro humano. Estuda também a anatomia e fisiologia do ouvido humano, a forma como são recebidas as ondas sonoras e como elas são conduzidas pelos neurônios ao cérebro, onde são finalmente processadas e reconhecidas. Quando o som é estudado do ponto de vista do receptor, procura-se explicar como os sons são percebidos pelo ouvido humano, é a fonética receptiva. Por último, quando estudamos o som levando em consideração o seu aspecto físico, estuda-se a onda sonora para explicar as características físicas dos sons da fala importantes e necessárias para o funcionamento da linguagem.

Área da fonética que se dedica às propriedades acústicas dos sons da fala,

analisando tipos de ondas sonoras que a compõem, a sua produçaõ e propagação,

os filtros que a modificam, ressoadores que a amplificam, etc. A fonética acústica

recorre a instrumentos de análise e de observação das características físicas dos

sons, análise essa que atualmente pode ser feita por ferramentas computacionais de

análise de sinais de fala. Este domínio da fonética estuda propriedades físicas como

(21)

as durações, os tipos de frequencias formantes, o tom, a intensidade com que são produzidos os sons, a amplitude das ondas e a energia.

Resumindo, a Fonética é a parte da Linguística que estuda os sons da fala.

Subdivide- -se em três ramos de estudo: fonética articulatória – estudo dos sons da fala do ponto de vista de sua produção pelo aparelho fonador; fonética auditiva ou perceptiva – estudo dos sons da fala do ponto de vista de sua percepção e fonética acústica – estudo das propriedades físicas dos sons da fala.

O termo ‘Fonética’ pode significar tanto o estudo de qualquer som produzido pelos seres humanos, quando o estudo da articulação, da acústica e da percepção dos sons utilizados em línguas específicas. No primeiro tipo de investigação, torna-se evidente a autonomia da Fonética em relação à Fonologia. No segundo tipo de investigação, porém, as relações entre as duas ciências se tornam patentes.

A Fonética é o estudo dos aspectos acústicos e fisiológicos dos sons efetivos (reais) dos atos de fala no que se refere à produção, articulação e variedades. Em outras palavras, a Fonética preocupa-se com os sons da fala em sua realização concreta. Quando um falante pronuncia a palavra 'dia', à Fonética interessa de que forma a consoante /d/ é pronunciada: /d/ /i/ /a/ ou /dj/ /i/ /a/.

Fonética se diferencia da Fonologia por considerar os sons independentes das oposições paradigmáticas e combinações sintagmáticas.

Observe no esquema:

1- Oposições paradigmáticas: aquelas cuja presença ou ausência implica em

mudança de sentido.

(22)

Combinações Sintagmáticas: arranjos e disposições lineares no contínuo sonoro. Troca na posição dos fonemas entre si. Ex: Roma, amor, mora, ramo.

3.2 - Fonologia

Fonte: www.mundoeducação.bol.uol.com.br

A Fonética, ao estudar os sons da fala, tem como objetivo descrever suas características articulatórias e acústicas, bem como compreender como estas características são percebidas pelo ouvido humano. A Fonética estuda, portanto, os sons da fala independente das funções que possam desempenhar nas línguas. Você aprendeu, por exemplo, que do ponto de vista articulatório o som [p] é uma consoante oclusiva, bilabial, desvozeada.

Essa caracterização do som [p] independe de se ele é um som da língua

inglesa, da língua portuguesa ou da língua alemã. A Fonologia, ao contrário da

Fonética, estuda os sons para compreender como eles se organizam em uma língua,

de modo particular, e nas línguas de modo geral. À Fonologia interessa saber que

função o som [p] desempenha na língua inglesa, na língua portuguesa, na língua

alemã ou em qualquer outra língua em que ele venha a ocorrer.

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Observe os exemplos abaixo:

No primeiro grupo de exemplo, temos a vogal [a] (baixa, central, oral) em 'cato e a vogal [ə] (média, central, nasal) em 'canto'. São vogais foneticamente diferentes e essa diferença fonética é suficiente para indicar a diferença de significado entre as duas palavras. Em outros termos, é a alternância entre essas duas vogais que nos leva a interpretar cada cadeia sonora como significando coisas diferentes. Compare, agora, a ocorrência de [a] e de [ə] na primeira sílaba da palavra 'camada’, no segundo grupo dos exemplos. Veja que no primeiro caso ocorre a vogal [ a ] e no segundo, ocorre a vogal [ ə]. Do ponto de vista fonético, são vogais diferentes comono segundo, ocorre a vogal [ ə] em 'cato' e 'canto', mas a diferença entre elas, no caso de 'camada', não cria diferença de significado.

Assim, podemos constatar que, dependendo do contexto em que ocorrem, vogais orais e vogais nasais têm um funcionamento diferente na língua portuguesa, funcionam em nossa. Nessa breve análise, vimos como dois sons, [ a ] e [ ə] língua e podemos expandir esse raciocínio para as línguas de modo geral entendendo que os sons funcionam de forma diferente de uma língua para outra. Isso significa que duas línguas podem ter os mesmos sons, mas ainda assim elas serão diferentes porque os sons funcionarão de forma diferente em cada uma delas e é isso que vai constituir a fonologia de cada uma.

A estrutura fonológica de uma língua é determinada pelo modo como os sons estão organizados, ou seja, como eles se combinam para formar as sílabas e as palavras e como eles funcionam para distinguir os significados.

Observe e analise os exemplos abaixo.

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Os sons [ t ] e [ tʃ ] fazem parte tanto do conjunto de sons da língua portuguesa quanto da língua inglesa. Contudo, o funcionamento deles é diferente em cada uma dessas línguas. Em inglês, eles são empregados para diferenciar o sentido das palavras (veja os exemplos acima), já em português, não. Em português [ 'tiɐ ] e [ 'tʃiɐ ] são formas diferentes de se pronunciar a mesma palavra em dialetos diferentes.

Podemos concluir que a Fonética descreve os sons da fala em termos de suas características físicas.

Tem, portanto, um caráter descritivo e baseia-se nos processos de produção e de percepção dos sons da fala. Já a Fonologia tem um caráter interpretativo, isto é, interpreta os resultados obtidos por meio da descrição fonética estudando a função que os sons desempenham nos sistemas sonoros das línguas. Tem por base, portanto, o valor dos sons em uma língua particular. Identificar os sons e estabelecer o sistema fonético de uma língua é objetivo de um estudo fonético. Fazer o levantamento dos sons que têm função opositiva e distintiva, estabelecendo o sistema fonológico de uma língua é o objetivo de um estudo fonológico.

Analisar fonologicamente uma língua é analisar os sons (segmentais e suprassegmentais) que a constituem para descobrir como eles se combinam para formar as sílabas, as unidades mínimas significativas (os morfemas) e, consequentemente, a palavra, bem como para explicitar de que forma esses sons são utilizados para distinguir o significado das palavras.

A Fonologia é o estudo dos Fonemas (os sons) de uma língua. Para a Fonologia, o fonema é uma unidade acústica que não é dotada de significado. Isso significa que osfonemas são os diferentes sons que produzimos para exprimir nossas ideias, sentimentos e emoções a partir da junção de unidades distintas. Essas unidades, juntas, formam as sílabas e as palavras.

A palavra 'Fonema' tem origem grega (fono = som + emas = unidades distintas) e representa as menoresunidadessonoras que formam as palavras. As palavras são a unidadebásicadainteraçãoverbal e são criadas pela junção de unidades menores: assílabaseossons,nafala, ou as sílabas e letras, na escrita.

Os fonemas são classificados em vogais, semivogais e consoantes. Essa

classificação existe em virtude dos diferentes tipos de sons produzidos pela corrente

de ar que sai dos nossos pulmões e é liberada, com ou sem obstáculos, pela boca

e/ou pelo nariz.

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4 ANATOMIA E FISIOLOGIA DA FALA

Fonte: www.slideshare.net

A anatomia humana é o campo da Biologia responsável por estudar a forma e a estrutura do organismo humano, bem como as suas partes. O nome anatomia origina-se do grego ana, que significa parte, e tomei, que significa cortar, ou seja, é a parte da Biologia que se preocupa com o isolamento de estruturas e seu estudo. A anatomia utiliza principalmente a técnica conhecida como dissecação, que se baseia na realização de cortes que permitem uma melhor visualização das estruturas do organismo. Essa prática é muito realizada atualmente nos cursos da área da saúde, tais como medicina, odontologia e fisioterapia.

A anatomia da laringe propriamente dita é composta por ossos, cartilagens,

músculos, membranas, ligamentos e mucosa. O conhecimento da anatomia e da

fisiologia do aparelho vocal é fundamental para o raciocínio clínico do terapeuta no

tocante à conduta terapêutica do sujeito. A Laringe está situada na extremidade

superior da traqueia e na região infra hioidea, logo abaixo da faringe. Está localizada

na linha média, sua estrutura é ímpar e formada por um arcabouço

musculocartilaginoso. Na parte anterior da laringe, facilmente palpável ao colocar os

(26)

dedos na linha mediana do pescoço tem-se a incisura tireóidea, onde estão localizadas posteriormente as pregas vocais.

As estruturas da laringe são derivadas do II, III, IV, V e VI arcos branquiais e cada arco branquial é composto pelos três folhetos embrionários: endoderma, mesoderma e ectoderma (Tucker, 1993 apud Behlau et. al, 2001) Sua formação está entre a 4ª e 10ª semana do desenvolvimento e é nesse período que a laringe está sujeita a sofrer alterações. É interessante ressaltar que nós não possuímos um aparelho próprio para a produção da voz. O aparelho fonador é constituído por órgãos do aparelho respiratório, como os pulmões, e por órgãos do aparelho digestivo, como a cavidade oral, a boca.

A seguir, encontramos uma representação do aparelho fonador:

Imagem I:

Fonte:www.letronomia.blogspot.com.br

No processo de produção da fala, o ar expelido pelos pulmões atravessa a

traqueia e encontra as cordas vocais na laringe. Caso as cordas vocais estejam

fechadas, haverá uma pressão exercida por esse ar regressivo (que sai dos pulmões)

e ocorre a vibração das cordas vocais. Mira Mateus (et al. 2005) nos adverte que em

algumas línguas ocorre a produção de sons feitos com o ar ingressivo, o que entra

(27)

nos pulmões. Esses sons são conhecidos como cliques (é como aquele som que produzimos, no português brasileiro, para demonstrarmos insatisfação com algo. Esse som é representado pela onomatopeia tsctsc. Se lembram?)

Bom, mas na maior parte das línguas os sons são produzidos justamente pela vibração efetuada nas cordas vocais pelo a regressivo. Essa vibração produz o som que conhecemos como voz. A partir desse ponto, o som produzido, sendo propagado através do ar, encontra-se com o trato vocal, a parte formada pela faringe, boca (trato oral) e pelas fossas nasais (trato nasal). Como cada pessoa possui uma anatomia diferente, um formato diferente para cada um desses órgãos e mesmo pela constituição das cordas vocais, cada um possui uma voz diferente da outra pessoa.

Observe abaixo uma imagem que retrata as cordas vocais:

Imagem II

Fonte:www.plus.google.com

As cordas, ou pregas vocais, são esses filamentos embranquecidos que, sendo flexíveis, podem se encontrar abertos ou fechados. Essa abertura ou fechamento das cordas vocais está estritamente relacionada à produção de sons surdos e sonoros.

4.1 Estruturas de Sustentação da Laringe

O osso hioideo é uma estrutura de sustentação da base da língua e a estrutura

de ligação de alguns músculos extrínsecos da laringe. Logo, o osso hioideo suspende

a laringe por meio desses músculos, no entanto, não é um osso integrante da armação

laríngea.

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Fonte: www.todamateria.com

Esse osso tem a forma da letra grega ípsilon minúscula (υ) parece com o nosso

“u” e não está ligado a qualquer outra estrutura óssea, na verdade, o osso hioideo mantém-se suspenso por um sistema de músculos e ligamentos, que fazem dele uma estrutura totalmente móvel.

As musculaturas da língua e do mento ligam-se ao osso hioideo por cima e pela frente, ao passo que os músculos e ligamentos pertencentes ao osso temporal aproximam-se do osso hioideo por cima e por trás. Já os músculos extrínsecos da laringe, da clavícula e do externo chegam ao osso hioideo por baixo.

Os músculos extrínsecos da laringe são os músculos esterno tireóideo, os músculos tiro hioideos e os músculo constritor inferior da faringe. O primeiro é responsável levar a cartilagem tireoide para baixo, o músculo tiro-hioideo aproxima a cartilagem tireoide do osso hioideo, já o músculo constritor inferior da faringe tem sua atividade principal durante a deglutição e na fala forma a cavidade de ressonância vocal.

Esse conjunto de músculos que suspendem o osso hioideo é denominado por

músculos supra-hioideos.

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Os músculos supra-hioideos são os músculos elevadores da laringe (o digástrico, o estilo-hioideo, o milo-hioideo, o gênio-hioideo, o hioglosso e o genioglosso). Os músculos hioglosso e o genioglosso são os músculos da língua e podem influenciar a laringe indiretamente.

Fonte: www.todamateria.com

Os músculos infra-hioideos localizam no pescoço, abaixo do osso hioideo. As funções desses músculos são abaixar o osso hioide e a laringe, além de fixar o osso hioide para que o músculo supra hioideos atuem abaixando a mandíbula. São conhecidos como "abaixadores indiretos" da mandíbula.

A função dos músculos supra hioideos são: o músculo estilo-hioideo eleva e

retrai o osso hioideo; o digastrico eleva o osso hioideo e abaixa a mandíbula; o

músculo milo-hioideo eleva e projeta o osso hioideo e a língua; já o músculo gênio-

hioideo puxa a língua e o hioideo para frente. Os músculos infra-hioideos são o

esterno-hioideo, o omo-hioideo e o esterno tireoideo.

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4.2 Estruturas Cartilaginosas da Laringe

Existem nove cartilagens laríngeas, sendo três cartilagens ímpares, uma cartilagem par principal e duas outras cartilagens acessórias.

Fonte: www.todamateria.com

As cartilagens ímpares são a tireoide, a cricóide e epiglote:

a) Tireoide: é a maior cartilagem da laringe, é única e tem a forma de um

livro aberto para trás, parece o formato de um escudo com duas lâminas

laterais, de forma quadrangular, e dois pares de cornos posteriores. O

limite superior externo encontra-se uma das lâminas, encontra-se uma

depressão conhecida como linha oblíqua, onde está inserido alguns

músculos laríngeos como o tíreo-hioideo, esterno-hioideo e o músculo

constritor inferior da faringe. Essa proeminência laríngea é conhecida

vulgarmente como "pomo de Adão". O ângulo entre as duas lâminas é

diferente para cada sexo. Nos homens, o ângulo está por volta de 90º

enquanto que nas mulheres, o ângulo é maior, logo mais aberto, por volta

de 120º. Isso vai interferir na fisiologia vocal, pois ao mesmo tempo em

que influencia no tamanho das pregas vocais, contribui para definir a

frequência da vibração das pregas vocais.

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b) Cricoide: essa cartilagem tem um formato circular, parecido com um anel. A região anterior é mais estreita, já a região posterior é mais larga e mais elevada. Situa-se logo abaixo da tireoide, onde está ligada pela membrana crico-tireoidea e possui formato de anel, cujo engaste está voltado para trás. E está localizada logo acima do primeiro anel da traqueia.

Também existe uma variação entre os sexos no tocante ao formato da cartilagem, nos homens é ovoide e nas mulheres é circular.

Não se pode confirmar se a fenda posterior, comumente encontrada nas pregas vocais femininas, está relacionada com o formato circular da cartilagem cricoide nas mulheres.

c) Epiglote: é uma cartilagem única em forma de folha. Está localizada no orifício superior da laringe, fixa-se através de um ligamento na superfície medial da cartilagem tireóidea, na junção anterior de suas lâminas, o chamado pecíolo da epiglote.

A função da epiglote é proteger as vias aéreas inferiores durante a deglutição, por meio do abaixamento e do fechamento do adito laríngeo.

Durante a infância, essa cartilagem encontra-se mais fechada passando a ter uma configuração mais aberta na puberdade. Embora a epiglote movimenta-se bastante durante a fala, a cartilagem tem pouca participação na produção vocal propriamente dita.

As cartilagens pares são as aritenoideas e as acessórias, as corniculadas e as cuneiformes:

d) Aritenoideas: são duas pequenas cartilagens, uma para cada lado, em

forma de pirâmide triangular de grande eixo vertical, situa-se na margem

inclinada da cartilagem cricoide. As cartilagens aritenoideas são

responsáveis pela função fonatória e respiratória. Elas possuem uma forma

geométrica piramidal: um ápice, três faces verticais e uma horizontal. A base

de cada cartilagem aritenoidea tem três ângulos: na região mais anterior

está o processo vocal; o ângulo póstero-lateral projeta-se para fora da

laringe e recebe o nome de processo muscular (onde se insere diversos

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músculos que veremos adiante como o cricoaritenoideo posterior (CAP) e o cricoaritenoideo lateral (CAL)). O ligamento vocal, uma parte importante das pregas vocais, está inserido no processo vocal.

Fonte: www.todamateria.com

e) Corniculadas: é uma cartilagem acessória, do tipo elástico-brancas, e também denominadas de cartilagens de Santorini (nomenclatura antiga).

Estão localizadas nos ápices das cartilagens aritenóideas e lembra a forma de corno, por isso o nome de cartilagens corniculadas. No ser humano, elas são estruturas vestigiais.

f) Cuneiformes: antigamente era conhecida por cartilagens de Wrisberg. Elas

têm forma de cunha e são do tipo elásticas, e estão incrustadas nas pregas

ariepiglóticas. As cartilagens cuneiformes proporcionam a sustentação para

as pregas ariepiglóticas, provavelmente auxiliam na constrição supra glótica

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anteroposterior (o fechamento do adito da laringe pelo abaixamento da epiglote).

Distúrbios da linguagem são comuns na clínica neurológica de adultos devido à alta frequência de doenças vasculares cerebrais. A Unidade de Neurologia Clínica do Hospital Nossa Senhora das Graças fez um raro projeto de pesquisa na área de infartos cerebrais, que se presta até hoje para discussões sobre o sempre atual tópico da linguagem. Antes, é importante introduzir o conceito de lateralidade da função cerebral. O hemisfério cerebral dominante é localizado no lado oposto a aquele que o ser humano prefere para atividades motoras. Nas pessoas destras é o esquerdo.

Esse conceito é só parcialmente correto para as pessoas sinistras, já que a grande parte dessa são sinistra incompleta, e têm dominância também à esquerda.

Só naqueles que são completamente sinistros o hemisfério dominante será o direito, uma minoria. Este conceito de dominância cerebral é clássico, da época que considerava as funções verbais e de intelectualidade racional as mais importantes.

Além das ideias clássicas do século XIX, as disfunções neurológicas do hemisfério dominante eram de mais fácil entendimento para os médicos da época, como a linguagem. As lesões do hemisfério não dominante produzem dificuldade de localização no espaço, distúrbios de emoções ou musicalidade. Esta definição de dominância predomina até nossos dias por sua tradição. O hemisfério esquerdo é ainda considerado o dominante, mesmo nos tempos do MMA, do twitter e do funk.

Na porção inferior e posterior da caixa craniana está o cerebelo, envolvido com organização motora. Alterações de suas funções levam à falta de controle motor, como dificuldade na marcha, in-coordenação de membros superiores e inferiores, de língua, e da musculatura envolvida com a produção da palavra.

Alterações cerebelares levam a um distúrbio de articulação da palavra (disartria). Nestes casos, a organização intelectual está intacta, e clinicamente o que se nota é que o paciente “enrola a língua”. O caso típico é o bêbado. Junto com o cerebelo, na parte inferior e posterior da caixa craniana, está o tronco cerebral, por onde vão ao cérebro e voltam dele para o resto do organismo fibras nervosas carregando todo tipo de informação e função.

Devido à grande convergência de fibras para uma estrutura de pequenas

dimensões como o tronco cerebral, qualquer lesão provoca uma sintomatologia

exuberante. Um infarto de tronco cerebral frequentemente leva o paciente a óbito, ou

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deixa sequelas, em geral são grandes, como paralisia de um ou ambos os lados do corpo, alterações importantes de fonação, de deglutição, de respiração, de movimentos oculares e faciais. Lesões no tronco cerebral produzem disartria, por dificuldade na articulação da palavra.

O nome tronco cerebral foi dado devido à semelhança que esta estrutura tem com vegetais, como árvores. O tronco cerebral é por onde circulam fibras que vão ou vêm dos hemisférios cerebrais. Existem dois hemisférios cerebrais, o direito e o esquerdo. Cada hemisfério cerebral é dividido em lobos frontal, temporal, parietal e occipital. Os lobos occipitais controlam processos visuais. O lobo occipital esquerdo

“enxerga” o campo visual direito, composto por um hemi-campo nasal do olho esquerdo e um hemi-campo temporal do olho direito.

Fonte: www.anatomiadocorpo.com

O lobo occipital direito controla o campo visual esquerdo, de maneira análoga.

Os lobos parietais têm função mais complexa. Na sua porção posterior, perto do lobo

occipital, estão áreas associativas, que controlam e integram processos visuais,

auditivos, sensoriais e de linguagem. Na sua porção mais anterior os lobos parietais

controlam a sensibilidade provinda de todo o organismo. O lobo parietal esquerdo

controla a sensibilidade do hemi-corpo direito e o direito do hemi-corpo esquerdo.

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Os lobos frontais também têm função complexa. Seus polos anteriores controlam o nível de consciência, tanto em qualidade como em quantidade. As diferenças de comportamento provocadas por lesões dos lobos frontais direito e esquerdo são de difícil separação clínica. Nas suas porções posteriores existem as áreas motoras, vizinhas às áreas sensitivas dos lobos parietais. Como com as outras funções já descritas, a área motora do lobo frontal esquerdo controla o hemi-corpo direito e a do lobo frontal direito o hemi-corpo esquerdo.

Na porção mais inferior da área motora do lobo frontal esquerdo fica o controle da musculatura envolvida em deglutição e fonação (língua, boca, faringe e laringe).

Esta parte é envolvida com a articulação da fala, de maneira semelhante a regiões do tronco cerebral. Lesões aí localizadas provocarão disartria, ou seja, distúrbios de articulação da palavra falada.

Os lobos temporais têm contiguidade anatômica com os frontais, parietais e occipitais. As funções do lobo temporal esquerdo são mais conhecidas do que as do direito, por serem mais óbvias ao exame clínico. O lobo temporal esquerdo congrega audição (percepção de sons de qualquer tipo, inclusive palavra falada) e o processamento necessário para o entendimento da palavra falada ou escrita. O lobo temporal direito parece ter uma função importante na compreensão de sons musicais, além de também ter uma função auditiva.

Toda esta exposição sobre funções controladas por áreas cerebrais se relaciona ao córtex, o manto de células que cobre os hemisférios. Por baixo dele está a substância branca, composta de fibras que levam informações das células corticais e outras localizadas por entre a substância branca, nos chamados gânglios de base, que atuam como estações de transmissão e processamento de dados do córtex para o tronco cerebral e vice-versa. Também localizados abaixo do córtex, acima do tronco, vizinhas aos gânglios da base, e imersas na substância branca estão as estruturas que compõe o chamado sistema límbico, que coordena comportamentos e emoções.

A fisiologia não obedece a padrões anatômicos como os já descritos. A

recepção da linguagem envolve audição de sons, transformação destes em padrões

característicos de linguagem (palavra falada) ou visualização de caracteres e sua

posterior caracterização em termos de linguagem (palavra escrita). O lobo occipital

processa informações visuais e o temporal processa informações auditivas e ambas

convergem para uma área de associação localizada entre os lobos temporal, occipital

e parietal esquerdo. Estas informações são passadas através do fascículo arcuado

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para a região de expressão de palavra na porção mais inferior da área motora no córtex frontal esquerdo.

Lesões restritas ao lobo temporal produzirão uma afasia (distúrbio de fala) receptiva, ou seja, de recepção de palavra. Estes pacientes têm capacidade de entender o que a eles é dito. Quando perguntamos a uma pessoa com tal tipo de distúrbio, por exemplo, que dia é hoje, a pessoa pode responder que ontem comprou um cachorro, da raça poodle, que é muito lindo, que tem três anos de idade, que as crianças adoram o cachorro, etc., etc., etc.

Além da dificuldade para entender palavra falada, estes pacientes têm a característica de falar excessivamente. O ritmo da palavra, a composição das frases, e a articulação de cada palavra são corretas. Se ouvirmos uma dessas verborreias, sem termos conhecimento de que foi perguntado ao paciente, teremos a impressão de que nada de errado há com ele.

Se a lesão se restringe a região frontal de expressão da palavra, o paciente terá uma afasia expressiva. Esta pode ser extrema, de maneira que o paciente não consiga produzir nenhum tipo de som. Pode ser menos severa, e o paciente produzirá sons ininteligíveis. Ou ainda menos severa quando o paciente produzirá palavras mal pronunciadas. Nesses casos pode haver confusão com disartria. O distúrbio da fala mais comum é misto, ou seja, nota-se um distúrbio tanto de recepção como de expressão.

Isto porque o fascículo arcuado corre desde o córtex temporal (área receptiva), através da substância branca do lobo parietal, até o córtex da porção inferior da área motora do lobo frontal (área expressiva). Por sua extensão, é incomum que o fascículo arcuado não seja lesado em tais pacientes. Os métodos de investigação para localizar alterações morfológicas da estrutura cerebral são a tomografia computadorizada ou a ressonância magnética.

O primeiro para urgências, e o segundo para detalhes, quando o paciente pode

ficar calmo durante longos períodos. As doenças cerebrovasculares isquêmicas, onde

há obstrução de artérias cerebrais, levam à necrose (morte) do tecido cerebral no

território irrigado por este vaso. O cérebro é suprido por duas circulações, a anterior e

a posterior. A circulação anterior é feita através das artérias carótidas direita e

esquerda, que correm da aorta torácica, através do pescoço e adentram a caixa

craniana por trás do ângulo da mandíbula. Logo após entrar no crânio cada artéria

carótida se divide em artérias cerebrais, anterior e média.

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A artéria cerebral anterior irriga a porção mais medial dos lobos frontal e parietal. A artéria cerebral média, de calibre bem maior, irriga a porção lateral e inferior do lobo frontal, a porção lateral e posterior do lobo parietal, e o lobo temporal na sua quase toda totalidade. A circulação posterior é feita através das artérias vertebrais, que, deixando a aorta torácica, correm por entre a coluna vertebral cervical e adentram a caixa craniana pelo forame occipital. Logo a seguir as duas artérias vertebrais se unem para formar a artéria basilar, que se situa anteriormente ao tronco cerebral e suprem, além deste, o cerebelo.

Quando chega ao topo do tronco cerebral a artéria basilar se divide em duas artérias cerebrais, posteriores, que suprem os lobos occipitais. Entre 1982 e 1985 cerca de 350 pacientes entraram neste Protocolo de Estudos em doenças cerebrais vasculares isquêmicas. Um estudo semelhante a este só veio a ser replicado no Brasil no século XXI, 30 anos depois, utilizando hospitais em dois estados ao mesmo tempo, e, mesmo assim, com falhas metodológicas significantes.

Em média um paciente a cada três dias era admitido na Unidade de Neurologia Clínica com um quadro de falta de vascularização cerebral. Esta pode ser transitória e reversível (ataque isquêmico transitório), ou definitiva (infarto cerebral). Em 1983, com o objetivo de apresentar dados no Congresso Pan-americano de Neurologia, em Buenos Aires, dados iniciais em 119 casos coletados até a época foram estudados de maneira estatística. Dos 119 pacientes, 71 foram do sexo masculino mostrando uma predominância de em torno de 60% dos casos para este sexo. Estes valores estão de acordo com estudos em outros países, demonstrando que o sexo feminino é menos predisposto a doenças vasculares cerebrais isquêmicas.

A média de idade dos 119 pacientes foi de 59.5 anos, com desvio padrão de 35 anos. Novamente estes resultados corroboram dados de estudos internacionais, mostrando que é na década dos 50 e 60 anos que ocorrem a maioria dos infartos cerebrais. O grande desvio padrão, no entanto, mostra que esta patologia pode na verdade ocorrer em qualquer idade, estando incluídos na casuística crianças de menos de 10 e pacientes acima de 80 anos de idade.

Somente 13% dos pacientes apresentaram isquemia cerebral reversível, sendo

que nos outros casos os infartos ocorreram produzindo sequelas de maior ou menor

severidade. De especial interesse é o fato de que o território da artéria cerebral média

esquerda foi atingido em 35% dos casos, enquanto que o território da cerebral média

direita foi atingido em 17%, o das artérias cerebrais anteriores e posteriores

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conjuntamente em 12%, o da artéria basilar em 7,5%. Áreas de múltiplas artérias foram lesadas em 29% dos casos. Chegamos então à triste conclusão de que em mais de 1/3 dos casos foi atingido o território nobre do hemisfério cerebral esquerdo, aquele irrigado pela artéria cerebral média, que inclui as áreas de recepção e expressão da palavra, além do fascículo arcuado, que conduz informações entre as duas áreas.

Desta maneira grande parte (mais de 1/3) dos pacientes com infartos cerebrais têm algum déficit de linguagem após a instalação desta doença. Partindo de que esta é a doença que mais comumente leva um paciente a ser internado em um serviço de neurologia clínica, vemos a importância extrema desses resultados, mostrando que doenças cérebro vasculares afetam de maneira importante a linguagem do ser humano.

Dos 119 casos estudados, 15% foram a óbito, 6% permaneceram incapacitados no leito com algum grau de afasia, 13% conseguiram deixar o leito, porém permaneceram dependentes de familiares para funções básicas (alimentação, troca de roupa, necessidades básicas) e 23% se tornaram independentes, porém tinham algum déficit. 43% dos pacientes retornaram as suas atividades normais após o evento vascular. Deve ser enfatizado que estes resultados são muito bons quando comparados a hospitais onde não haja um serviço de neurologia ativo e bem preparado do ponto de vista tecnológico.

Por exemplo, sem tomografia axial computadorizada não é possível utilizar tratamento anticoagulante, que melhora em muito o prognóstico destas doenças. De maneira que é de se esperar um número ainda maior de pacientes com sequelas graves, frequentemente da linguagem, em hospitais menos estruturados. A recuperação do déficit verbal produzido por infarto cerebral ocorre como aquela de outros déficits neurológicos. O paciente que tem como resultado de seu infarto uma afasia receptiva, expressiva ou mista, notará uma melhora expressiva com o passar do tempo.

A maior melhora ocorre nas semanas imediatamente após o evento vascular.

Posteriormente, a melhora é muito mais lenta e o paciente atinge um “plateau”, após

o que não há mais progresso. É por este motivo que um tratamento agressivo na fase

aguda do evento vascular é recomendado. Mais recomendado ainda é que a classe

médica e a população em geral reconheçam que déficits transitórios de função

cerebral são da maior importância porque ocorrem antes de um infarto cerebral

definitivo. Infelizmente, isso não ocorre.

Referências

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