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PERTURBAÇÕES GRAVITACIONAIS DE BRANAS NEGRAS ANTI-DE SITTER

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PROF´ISICA-Programa de P´os-Gradua¸c˜ao em F´ısica

A INTERPRETA ¸

C ˜

AO F´

ISICA DAS

PERTURBA ¸

C ˜

OES GRAVITACIONAIS DE BRANAS

NEGRAS ANTI-DE SITTER

DISSERTA ¸

C ˜

AO DE MESTRADO

Enesson dos Santos de Oliveira

Ilh´eus, BA, Brasil 2016

(2)

A INTERPRETA ¸

C ˜

AO F´

ISICA DAS PERTURBA ¸

C ˜

OES

GRAVITACIONAIS DE BRANAS NEGRAS

ANTI-DE SITTER

por

Enesson dos Santos de Oliveira

Disserta¸c˜

ao apresentada ao Programa de P´

os-Gradua¸c˜

ao

em F´ısica, ´

Area de concentra¸c˜

ao em F´ısica,

da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC, BA),

como requisito parcial para a obten¸c˜

ao do grau de

Mestre em F´ısica.

Orientador: Alex dos Santos Miranda

Ilh´

eus, BA, Brasil

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O48 Oliveira, Enesson dos Santos de.

A interpretação física das perturbações gravi- tacionais de branas negras anti-de Sitter / Enesson

dos Santos de Oliveira. – Ilhéus, BA: UESC, 2016. 99 f. : il.

Orientador: Alex dos Santos Miranda.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Esta- dual de Santa Cruz. Programa de Pós-Graduação em Física.

Inclui referências.

1. Buracos negros (Astronomia). 2. Colapso gravitacional. 3. Espaço e tempo. 4. Astronomia. I. Título.

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Agrade¸co a todos que, de alguma forma, estiveram presentes me apoiando ao longo de todo o trabalho, em especial:

– `a meu pai, Jos´e Romualdo, que dedicou grande parte de sua vida para que eu pudesse chegar at´e aqui;

– ao meu orientador, Alex Miranda, que durantes estes anos, al´em de ter sido um grande orientador, tamb´em foi um grande amigo;

– `a minha esposa, J´essica Cerqueira, que ao longo de todo o curso, sempre esteve ao meu lado nos momentos f´aceis e dif´ıceis. Apoiando-me em cada etapa. Obrigado por tudo “Jell”;

– ao ex-coordenador do colegiado, professor Arturo Samana, por estar sempre pronto a ajudar.

– `as secret´arias dos colegiados do PROF´ISICA e PROCIMM, Roberta Carvalho e Caroline Gresik, pelo excelente atendimento;

– Aos grandes amigos de todas as horas, Vitor Ferreira, Pedro Antˆonio, Alisson Pereira, Vagner Freitas, Leandro Oliveira, Sheldon Cardoso, Abra˜ao Amaral, Lucas ˆAntonio, ´Icaro Teixeira, Yasmin Alves e Gabriela Goldberg, por sempre estarem me motivando. Nunca vou esquecer das v´arias horas de estudos em grupo. Valeu galera;

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Disserta¸c˜ao de Mestrado

Programa de P´os-Gradua¸c˜ao em F´ısica Universidade Estadual de Santa Cruz

A INTERPRETA ¸C ˜AO F´ISICA DAS PERTURBA ¸C ˜OES GRAVITACIONAIS DE BRANAS NEGRAS ANTI-DE SITTER

Autor: Enesson dos Santos de Oliveira Orientador: Alex dos Santos Miranda Data e Local da Defesa: Ilh´eus, 19 de janeiro de 2016.

O estudo das perturba¸c˜oes de um buracos negro ´e uma ferramenta poderosa para a investiga¸c˜ao de propriedades b´asicas como a estabilidade do horizonte de eventos, o espa-lhamento e a produ¸c˜ao de ondas provenientes de um processo de colapso gravitacional. Por essa raz˜ao, desde o final da d´ecada de 50, foram realizados diversos trabalhos em teoria de perturba¸c˜oes de buracos negros; particularmente, em rela¸c˜ao `as solu¸c˜oes de Schwarzschild e Kerr. O significado f´ısico das perturba¸c˜oes de buracos negros esfericamente sim´etricos, por exemplo, est´a bem estabelecido na literatura: perturba¸c˜oes polares tipo-monopolo (l = 0) cor-respondem a um acr´escimo de massa do buraco negro, perturba¸c˜oes axiais tipo-dipolo (l = 1) induzem uma rota¸c˜ao lenta, e pertuba¸c˜oes com l ≥ 2 sempre levam `a produ¸c˜ao de ondas gravitacionais. Em contrapartida, quando se trata de perturba¸c˜oes de buracos negros com simetria plana (branas negras anti-de Sitter), ainda faltam estudos conclusivos que revelem o verdadeiro significado dessas perturba¸c˜oes. Em particular, ´e poss´ıvel destacar as perturba¸c˜oes polares com n´umero de onda nulo, onde alguns autores prop˜oem que esse tipo de perturba¸c˜ao acarreta apenas numa varia¸c˜ao do parˆametro de massa da brana negra, enquanto outros au-tores indicam a existˆencia de ondas gravitacionais associadas a este modo de perturba¸c˜ao. O presente trabalho tem como objetivo contribuir na resolu¸c˜ao dessa controv´ersia, elucidando o significado f´ısico das perturba¸c˜oes gravitacionais de branas negras anti-de Sitter a partir do c´alculo dos escalares de Weyl. Para o estudo das perturba¸c˜oes, utilizou-se o formalismo de gauge de Chandrasekhar e, para interpretar os escalares de Weyl, foi adotado o m´etodo de Szekeres, onde a interpreta¸c˜ao f´ısica de cada escalar ´e extra´ıda com base no efeito sobre o desvio geod´esico de part´ıculas teste vizinhas. Em especial, mostra-se aqui que a solu¸c˜ao para perturba¸c˜oes polares com n´umero de onda zero, de fato, admite a existˆencia de ondas gravitacionais propagando-se na dire¸c˜ao perpendicular `a superf´ıcie da brana negra.

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Disserta¸c˜ao de Mestrado Mestrado em F´ısica

Universidade Estadual de Santa Cruz

ON THE PHYSICAL INTERPRETATION OF GRAVITATIONAL PERTURBATIONS OF ANTI-DE SITTER BLACK BRANES

Author: Enesson dos Santos de Oliveira Adviser: Alex dos Santos Miranda Local and Date: Ilh´eus, january 19th, 2016.

The study of gravitational perturbations of black holes is a powerful tool to explore a series of basic properties as the stability of the event horizon, the scattering and production of gravitational waves in a process of gravitational collapse. For this reason, since the late 1950s, a lot of works were carried out to study the perturbation theory of black holes (specially for the Schwarzschild and Kerr solutions). The physical interpretation of gravitational perturbations of spherically symmetric black holes is now a well-established subject: polar perturbations of monopole type (l = 0) can only increase the mass of the black hole, axial perturbations of dipole type (l = 1) induce a slow rotation, and perturbations with l ≥ 2 always lead to gravitational wave production. However, in relation to perturbations of anti-de Sitter plane-symmetric black holes (anti-de Sitter black branes), there is still no conclusive study about the physical meaning of these perturbations. In particular, there is some controversy concerning the polar perturbation with a zero wavenumber. Some authors propose this kind of perturbation causes only a variation in the black-brane mass parameter, while other ones obtained evidence for the existence of gravitational waves associated to this mode. The present study aims to contribute to the resolution of this controversy by revealing the physical meaning of the gravitational perturbations of anti-de Sitter black branes. We use the Chandrasekhar gauge formalism to study the metric perturbations, and, to interpret the Weyl scalars, we adopt the Szekeres method, where the physical meaning of each scalar is obtained on basis of the geodesic deviation between neighboring test particles. Finally, it is shown here that polar perturbations with a zero wavenumber admit the existence of gravitational waves propagating in the direction perpendicular to the black-brane horizon surface.

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1 INTRODU ¸C ˜AO 10

2 RADIA ¸C ˜AO GRAVITACIONAL E O TENSOR DE CURVATURA 14

2.1 Uma formula¸c˜ao invariante da teoria da radia¸c˜ao gravitacional . . . 14

2.1.1 A natureza da frente de ondas gravitacionais . . . 15

2.1.2 Formas canˆonicas para o tensor de Riemann . . . 20

2.2 A interpreta¸c˜ao f´ısica dos escalares de Weyl . . . 26

2.2.1 A classifica¸c˜ao de Petrov e o compasso gravitacional . . . 27

2.2.2 O efeito das transforma¸c˜oes de Lorentz . . . 31

2.2.3 Aplica¸c˜oes . . . 33

3 A TEORIA DE PERTURBA ¸C ˜OES GRAVITACIONAIS 35 3.1 O espa¸co-tempo de fundo . . . 35

3.2 Perturba¸c˜oes m´etricas no formalismo de Chandrasekhar . . . 36

3.2.1 Pertuba¸c˜oes axiais . . . 38

3.2.2 Perturba¸c˜oes polares . . . 40

3.3 Perturba¸c˜oes via formalismo de Newman-Penrose . . . 42

3.3.1 Redu¸c˜ao das Equa¸c˜oes Linearizadas . . . 44

4 A INTERPRETA ¸C ˜AO F´ISICA DAS PERTURBA ¸C ˜OES 49 4.1 Perturba¸c˜oes gravitacionais com n´umero de onda zero . . . 49

4.1.1 Pertuba¸c˜oes axiais . . . 49

4.1.2 Perturba¸c˜oes polares . . . 51

4.2 Pertuba¸c˜oes de um espa¸co-tempo Petrov tipo D . . . 52

4.3 Interpreta¸c˜oes f´ısicas das perturba¸c˜oes . . . 55

4.3.1 Perturba¸c˜oes com n´umero de onda n˜ao-zero . . . 55

4.3.2 A interpreta¸c˜ao f´ısica das perturba¸c˜oes com n´umero de onda zero . . . 60

5 CONSIDERA ¸C ˜OES FINAIS 63 A Formas canˆonicas e a classifica¸c˜ao dos espa¸cos-tempos 65 A.1 O espa¸co de bivetores . . . 65

(10)

A.3 As formas canˆonicas do tensor de Riemann ||RAB|| . . . 70

A.3.1 Campos gravitacionais tipo I . . . 70

A.3.2 Campos gravitacionais tipo II . . . 73

A.3.3 Campos gravitacionais tipo III . . . 75

B Transforma¸c˜oes de t´etrada e a classifica¸c˜ao de Petrov 77 B.1 Transforma¸c˜oes de t´etrada . . . 77

B.2 A classifica¸c˜ao de Petrov . . . 79

B.3 A rela¸c˜ao entre formas canˆonicas e a classifica¸c˜ao de Petrov . . . 82

C A interpreta¸c˜ao geom´etrica dos escalares ´oticos 85 C.1 Os coeficientes de spin e o teorema de Sachs . . . 85

C.2 A interpreta¸c˜ao geom´etrica . . . 87 D C´alculo dos escalares de Weyl via formalismo de Newman-Penrose 93

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A teoria da relatividade geral, publicada em 1916 pelo f´ısico alem˜ao Albert Einstein, revolucionou completamente os conceitos de espa¸co, tempo e gravidade constru´ıdos ao longo dos s´eculos. Nela a descri¸c˜ao de fenˆomenos gravitacionais deixou de ser caracterizada como sendo o efeito de uma for¸ca e passou a ser realizada por interm´edio do conceito de um espa¸co-tempo curvo. Assim, part´ıculas interagem gravitacionalmente por meio de uma deforma¸c˜ao na estrutura geom´etrica do espa¸co-tempo. Nessa teoria, s˜ao as equa¸c˜oes de Einstein que descrevem o comportamento dos campos gravitacionais, relacionando o car´ater geom´etrico do espa¸co-tempo com o conte´udo de mat´eria, energia e momento nele contidos. Estas equa¸c˜oes possuem um termo denominado de constante cosmol´ogica, que pode assumir um valor positivo, negativo ou nulo. Para uma constante positiva se conclui que, em escalas cosmol´ogicas, a intera¸c˜ao gravitacional torna-se repulsiva. Neste caso, o espa¸co-tempo em quest˜ao recebe o nome de espa¸co-tempo de de Sitter. Por outro lado, para o caso de uma constante cosmol´ogica negativa, a intera¸c˜ao gravitacional em grandes escalas continua atrativa e o espa¸co-tempo ´e denominado de anti-de Sitter (AdS). Espa¸cos-tempos com constante cosmol´ogica nula tendem assintoticamente ao espa¸co-tempo plano de Minkowski.

Do ponto de vista da cosmologia, por muito tempo acreditou-se que o universo estava expandindo a uma taxa constante, o que favorecia uma constante cosmol´ogica nula para as equa¸c˜oes de Einstein. Por´em, a partir da an´alise de dados de explos˜oes de supernovas tipo Ia realizada em 1998, foi poss´ıvel constatar que o universo encontra-se numa fase de expans˜ao acelerada [1, 2]. Esta acelera¸c˜ao caracteriza um universo com constante cosmol´ogica positiva. Na mesma ´epoca, Maldacena [3] propˆos uma correspondˆencia entre a gravita¸c˜ao num espa¸co-tempo anti-de Sitter e uma Teoria de Campos Conforme (CFT) na fronteira desse espa¸co, a qual ficou conhecida como a correspondˆencia AdS/CFT. Desse modo, os espa¸cos-tempos com constante cosmol´ogica negativa, principalmente aqueles que cont´em buracos negros, assumi-ram um papel importante dentro dessa nova correspondˆencia.

Al´em da constante cosmol´ogica, espa¸cos-tempos podem ou n˜ao conter buracos negros. Na relatividade geral, buracos negros surgem como solu¸c˜oes exatas das equa¸c˜oes de campo de Einstein. Fisicamente, tal objeto nasce a partir do colapso gravitacional de uma estrela. Ao longo das ´ultimas d´ecadas variadas solu¸c˜oes de buracos negros foram estudadas, podendo ser citadas, por exemplo, as tradicionais solu¸c˜oes de Schwarzschild, Reissner-Nordstr¨om e Kerr. Estas solu¸c˜oes s˜ao bem conhecidas e bem descritas na literatura (ver, por exemplo, [4, 5]).

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No caso particular em que o espa¸co-tempo ´e assintoticamente anti-de Sitter, uma solu¸c˜ao de buraco negro com simetria plana pode ser obtida [6]. Estes buracos negros s˜ao tamb´em conhecidos como branas negras anti-de Sitter.

A teoria da relatividade geral prevˆe tamb´em que certos eventos, como o colapso gra-vitacional de uma estrela ou a coalescˆencia de um sistema bin´ario de estrelas de nˆeutrons ou buracos negros, s˜ao capazes de produzir ondas gravitacionais pass´ıveis de serem detectadas por um observador distante. Apesar de nenhum experimento, at´e agora, ter conseguido detectar de forma direta a existˆencia de radia¸c˜ao gravitacional, a teoria da relatividade geral ´e a teoria gravitacional mais aceita pela comunidade cientifica, uma vez que todos os experimentos e observa¸c˜oes realizados foram favor´aveis `a sua solidifica¸c˜ao.

Nos primeiros estudos sobre ondas gravitacionais, tais solu¸c˜oes das equa¸c˜oes de Einstein foram obtidas por meio de escolhas convenientes de um sistema de coordenadas ou pela imposi¸c˜ao de campos gravitacionais fracos. Estas imposi¸c˜oes obscureciam o real significado f´ısico da radia¸c˜ao gravitacional, uma vez que a existˆencia dessas ondas ´e independente de tais condi¸c˜oes. O primeiro trabalho que obteve sucesso numa descri¸c˜ao totalmente independente da escolha das coordenadas ou da exigˆencia de campo fraco para ondas gravitacionais foi apresentado por Pirani [7], com base no estudo das propriedades geom´etricas do tensor de Riemann. Uma abordagem alternativa, mas tamb´em totalmente covariante, foi realizada por Szekeres [8], o qual analisou o efeito sobre o desvio geod´esico que os escalares de Weyl do formalismo de Newman-Penrose [9] s˜ao capazes de gerar. Anos depois, Podolsk´y e ˇSarc [10] ampliaram o m´etodo de Szekeres para espa¸cos-tempos em d dimens˜oes.

Uma ferramenta importante no estudo das propriedades dos buracos negros ´e a teoria de perturba¸c˜oes gravitacionais, j´a que a partir dessa teoria pode-se, por exemplo, estudar a estabilidade do horizonte de eventos frente `as flutua¸c˜oes na m´etrica, bem como a produ¸c˜ao e o espalhamento de ondas gravitacionais por um buraco negro. Do ponto de vista da cor-respondˆencia AdS/CFT, um buraco negro no espa¸co-tempo AdS ´e equivalente a um estado de equil´ıbrio t´ermico na CFT, de tal forma que uma perturba¸c˜ao gravitacional deste buraco negro corresponde a uma flutua¸c˜ao no tensor energia-momento do estado t´ermico dual [11].

Existem dois m´etodos principais para estudar as perturba¸c˜oes gravitacionais de bura-cos negros. No primeiro caso, considera-se perturba¸c˜oes da m´etrica do espa¸co-tempo de fundo e, na sequˆencia, lineariza-se as equa¸c˜oes de Einstein para o espa¸co-tempo f´ısico. O segundo m´etodo ´e via lineariza¸c˜ao das equa¸c˜oes do formalismo de Newman-Penrose [9]. Em ambos os casos, uma das grandes dificuldades que se encontra no estudo das perturba¸c˜oes gravitaci-onais em relatividade geral ´e a obten¸c˜ao das vari´aveis f´ısicas em termos de quantidades que

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s˜ao invariantes por transforma¸c˜oes de gauge. A liberdade de gauge surge nessa teoria ao se identificar os eventos do espa¸co-tempo de fundo com o espa¸co-tempo perturbado. Por essa raz˜ao, costuma-se tratar as perturba¸c˜oes gravitacionais utilizando quantidades que dependem da escolha do gauge, explorando assim esta liberdade para simplificar o problema, e somente os resultados finais s˜ao escritos em termos de quantidades que s˜ao invariantes de gauge.

O primeiro trabalho a apresentar de forma clara e completa a teoria de perturba¸c˜oes gravitacionais foi publicado em 1974 por Stewart e Walker [12]. Por outro lado, os primeiros estudos sobre pertuba¸c˜oes de buracos negros foram apresentados por Regge e Wheeler [13] em 1957, os quais investigaram a estabilidade da singularidade de Schwarschild frente `as perturba¸c˜oes do tipo axial. O gauge usado por eles ficou conhecido ent˜ao como o gauge de Regge-Wheeler. Seguindo a mesma linha, Zerilli [14, 15] analisou a radia¸c˜ao gravitacional que surge quando estrelas caem num buraco negro de Schwarschild, e estendeu o estudo de Regge e Wheeler para perturba¸c˜oes polares. Mais tarde, Chandrasekhar [16] obteve as mes-mas equa¸c˜oes de Regge Wheeler e Zerilli para as perturba¸c˜oes gravitacionais de Schwarschild usando um gauge diferente, que atualmente ´e conhecido como o gauge diagonal de Chandra-sekhar. Adicionalmente, Teukolsky [17, 18] e Moncrief [19, 20] realizaram pesquisas envolve as perturba¸c˜oes dos buracos negros de Kerr e Reissner-Nordstr¨om, respectivamente, tamb´em com o principal objetivo de avaliar a estabilidade destas solu¸c˜oes. Posteriormente, Kodama, Ishibashi e Seto [21] desenvolveram um formalismo totalmente invariante de gauge para tratar as perturba¸c˜oes gravitacionais de espa¸cos-temos espacialmente sim´etricos em d dimens˜oes.

Dentro desse contexto, a an´alise das perturba¸c˜oes gravitacionais de buracos negros esfericamente sim´etricos encontra-se bem estabelecida na literatura. Por´em, quando se trata de perturba¸c˜oes de branas negras AdS, algumas quest˜oes ainda continuam em aberto. Um exemplo disso acontece com as pertuba¸c˜oes polares com n´umero de onda zero ao longo das dire¸c˜oes da brana. Kodama e Ishibashi [22], com base em argumentos de simetria, propuseram que estas perturba¸c˜oes levar˜ao apenas a uma mudan¸ca no parˆametro de massa da brana negra, assim como acontece no caso esf´erico. Por´em, num estudo mais detalhado a respeito dessas perturba¸c˜oes, Miranda e Zanchin [23] utilizaram o formalismo de gauge de Chandrasekhar e obtiveram ind´ıcios da existˆencia de uma solu¸c˜ao com ondas gravitacionais para este caso.

Motivados pela ausˆencia de um estudo conclusivo a respeito do tema, este trabalho tem por objetivo investigar o significado f´ısico das perturba¸c˜oes gravitacionais de branas ne-gras num espa¸co-tempo anti-de Sitter e, como consequˆencia disso, elucidar se realmente ondas gravitacionais s˜ao produzidas para o modo de perturba¸c˜ao polar com n´umero de onda zero. Para isto, ser˜ao calculadas as perturba¸c˜oes nos escalares de Weyl e, a partir do an´alise de

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Szekeres [8] da equa¸c˜ao do desvio geod´esico, ser´a extra´ıda a interpreta¸c˜ao f´ısica das perturba-¸c˜oes, independentemente do estado de movimento do observador. No estudo das perturba¸c˜oes ser´a utilizado o formalismo de gauge diagonal de Chandrasekhar.

A presente disserta¸c˜ao est´a dividida da seguinte forma: no cap´ıtulo 2 ´e revisado o trabalho de Pirani [7] sobre como que a informa¸c˜ao sobre a existˆencia de ondas gravitacionais se apresentam no tensor de Riemann, logo em seguida, o artigo publicado por Szekeres [8] sobre a interpreta¸c˜ao f´ısica dos escalares de Weyl usando a equa¸c˜ao do desvio geod´esico tamb´em ´e revisado.

No cap´ıtulo 3, apresenta-se a teoria de perturba¸c˜oes de branas negras AdS. Este ca-p´ıtulo est´a dividido em trˆes se¸c˜oes onde, na primeira se¸c˜ao, ´e apresentada a solu¸c˜ao para o espa¸co-tempo de fundo. Na se¸c˜ao seguinte, ´e estudada a teoria de perturba¸c˜oes via lineari-za¸c˜ao das equa¸c˜oes de Einstein e, na se¸c˜ao final, ´e discutido o m´etodo de lineariza¸c˜ao das equa¸c˜oes do formalismo de Newman-Penrose.

No cap´ıtulo 4, a primeira se¸c˜ao se destina a revisar a solu¸c˜ao obtida por Miranda e Zanchin [23] para as perturba¸c˜oes com n´umero de onda nulo. Na se¸c˜ao seguinte, s˜ao apre-sentadas as equa¸c˜oes que relacionam as v´arias perturba¸c˜oes nos escalares de Weyl com as do tensor de Weyl. Na ´ultima se¸c˜ao, as perturba¸c˜oes nos escalares para o espa¸co-tempo em ques-t˜ao s˜ao calculadas, e com base no tratamento realizado no cap´ıtulo 2, ´e finalmente extra´ıdo o significado f´ısico das perturba¸c˜oes das branas negras AdS. Em particular, ser´a verificado que realmente a solu¸c˜ao para modos com n´umero de onda zero representa uma solu¸c˜ao com ondas gravitacionais se propagando pelo espa¸co-tempo.

Ao longo de toda a disserta¸c˜ao, adota-se uma assinatura +2 para o tensor m´etrico e se utiliza um sistema de unidades geometrizadas em que c = G = 1.

(15)

CURVATURA

O presente cap´ıtulo apresenta um estudo de revis˜ao a respeito da interpreta¸c˜ao f´ısica do tensor de curvatura de Riemann. O cap´ıtulo est´a dividido em duas partes. Na primeira parte, a poss´ıvel presen¸ca de ondas gravitacionais no v´acuo ´e investigada a partir de um classifica¸c˜ao do tensor de Riemann em classes denominadas de formas canˆonicas [24]. Tal an´alise ´e feita de forma totalmente covariante, e baseia-se principalmente no trabalho realizado por Pirani [7] em 1957. Na segunda parte, a interpreta¸c˜ao f´ısica dos escalares de Weyl ´e revista com base na equa¸c˜ao do desvio geod´esico, conforme apresentada por Szekeres [8] num artigo publicado na d´ecada de 60. Neste trabalho, Szekeres introduziu uma nova forma de visualizar os efeitos do campo gravitacional por meio de um compasso gravitacional.

2.1 Uma formula¸c˜ao invariante da teoria da radia¸c˜ao gravitacional

Um formula¸c˜ao para a teoria de ondas gravitacionais independente do sistema de coor-denadas ou mesmo da imposi¸c˜ao de um campo gravitacional fraco foi elaborada originalmente por Pirani [7] atrav´es de uma s´erie de considera¸c˜oes a respeito do tensor de Riemann e do espa¸co-tempo de fundo. Fundamentalmente, Pirani considera que:

1. O tensor de Riemann deve caracterizar a presen¸ca de ondas gravitacionais;

2. No espa¸co vazio, ondas gravitacionais devem se propagar com a velocidade fundamental; 3. Uma frente de onda gravitacional se manifesta como uma descontinuidade no tensor de

Riemann no cruzamento de uma hipersuperf´ıcie tridimensional nula;

4. O tensor de Riemann determina o movimento de um observador que segue o campo gravitacional. Na presen¸ca de radia¸c˜ao gravitacional, este observador teria que viajar `a velocidade da luz para ser capaz de seguir o campo.

Os itens 1 e 2 s˜ao fundamentais para caracterizar as ondas gravitacionais. Os itens seguintes surgem basicamente como consequˆencia dos dois primeiros. Ser´a feita ent˜ao uma an´alise detalhada destes itens ao longo de toda a se¸c˜ao.

(16)

2.1.1 A natureza da frente de ondas gravitacionais

A natureza da frente de ondas gravitacionais pode ser investigada frente a admiss˜ao da existˆencia de descontinuidades no tensor de Riemann sobre uma hipersuperf´ıcie tridimensional nula. O c´alculo para se obter tais descontinuidades ´e baseado na condi¸c˜ao de continuidade de Lichnerowicz [25], a qual imp˜oe condi¸c˜oes sobre a m´etrica e suas derivadas de modo que as equa¸c˜oes de Einstein para o v´acuo (Gµν = 0) sejam ´unicas.

Lichnerowicz postula que o espa¸co-tempo pode ser dividido em regi˜oes de sobreposi¸c˜ao, sendo que em cada uma destas regi˜oes existe um sistema de coordenadas no qual:

(i) A m´etrica gµν ´e um tensor cont´ınuo;

(ii) As primeiras derivadas parciais da m´etrica, gµν,ρ, s˜ao todas cont´ınuas; (iii) As segundas derivadas de gµν s˜ao cont´ınuas por partes.

Numa das regi˜oes, Lichnerowicz adota um sistema de coordenadas no qual a superf´ıcie S, caracterizada por x0 = 0, ´e uma superf´ıcie de descontinuidade do campo gravitacional. Neste caso, pode-se adaptar o sistema de coordenadas de modo que gµν, gµν,ρ e gµν,ρσ s˜ao todos cont´ınuos sobre a superf´ıcie S, com a poss´ıvel acess˜ao de gµν,00. As componentes do tensor de curvatura de Riemann s˜ao dadas por

σµν = Γνσ,µρ − Γρ µσ,ν + Γ ρ µλΓ λ νσ − Γ ρ νλΓ λ µσ, (2.1)

onde os Γµνρ representam os s´ımbolos de Christoffel,

Γµνρ = 1 2g

ρσ(g

µσ,ν + gσν,µ− gµν,σ) . (2.2)

Observe que somente os dois primeiros termos em (2.1) poder˜ao levar a uma descontinuidade no tensor de Riemann, uma vez que s˜ao eles que carregam derivadas segundas da m´etrica.

Para tornar o estudo totalmente covariante ´e poss´ıvel fazer uso de coordenadas lo-calmente inerciais de modo a escrever, em um ponto P e na sua vizinhan¸ca, as grandezas tensoriais em termos da m´etrica do espa¸co-tempo plano de Minkowski. Como um segundo passo, constr´oi-se quantidades escalares por contra¸c˜ao dos tensores com os vetores da t´etrada coordenada (de Lorentz local) no ponto em quest˜ao. Uma vez obtidas tais fun¸c˜oes escalares, pode-se desconsiderar as coordenadas locais e estender o resultado para qualquer sistema de coordenadas.

(17)

Nesse sentido, de acordo com a an´alise de Lichnerowicz, considera-se uma t´etrada de base tal que, em qualquer ponto P sobre S, a m´etrica se reduz `a m´etrica do espa¸co-tempo de Minkowski em coordenadas retangulares, ds2 = η

µνdxµdxν, sendo

ηµν = diag(−1, 1, 1, 1). (2.3)

Entretanto, para estudar a possibilidade da existˆencia de radia¸c˜ao gravitacional, torna-se conveniente a introdu¸c˜ao de um par de coordenadas nulas, definidas por ξ = (1/√2)(x0− x1) e ζ = (1/√2)(x0+ x1), de modo que, na vizinhan¸ca de um ponto P sobre S, o elemento de linha assume a forma:

ds2 = −2dξdζ + (dx2)2+ (dx3)2. (2.4) Deste modo, ao inv´es de considerar uma descontinuidade sobre uma superf´ıcies em x0 = 0, considera-se que a descontinuidade ocorre em ξ = 0. Escolhendo 4 para denotar a descon-tinuidade em S, ent˜ao as condi¸c˜oes de continuidade de Lichnerowicz exigem que no ponto P , 4(gµν) = 0, 4(gµν,σ) = 4(∂gµν/∂ξ) = 4(∂gµν/∂ζ) = 0, 4(∂2g µν/∂ξ∂ζ) = 4(∂2gµν/∂ζ2) = 0, (2.5) ao passo que 4(∂2gµν/∂ξ2) = aµν, (2.6)

onde aµν s˜ao n´umeros quaisquer. Com base na defini¸c˜ao de Rρσµν e das condi¸c˜oes (2.5) e (2.6), ´e direto mostrar que os ´unicos a’s que contribuem para a descontinuidade no tensor de Riemann no v´acuo s˜ao:

−a22 = a33 = σ, a23= φ, (2.7)

onde σ e φ s˜ao arbitr´arios. Estas quantidades correspondem `as duas polariza¸c˜oes de ondas encontradas na teoria gravitacional linearizada. Todos os termos φ podem ser levados a zero se for realizada uma rota¸c˜ao de eixos em um ˆangulo (1/2)tg−1(φ/σ) sobre o plano-23.

Daqui em diante ser´a introduzida uma t´etrada1 de vetores ortonormais, e(a)µ, os quais

no ponto P se reduzem aos vetores tangentes da base coordenada, ∂µ. Neste formalismo, existe a vantagem de poder escrever gµν em termos da m´etrica do espa¸co-tempo plano da 1Utiliza-se aqui as letras iniciais do alfabeto latino a, b, c... entre parˆenteses para representar ´ındices da

t´etrada e letras gregas α, β, γ... para ´ındices tensoriais. As letras latinas i, j, k, ... continuar˜ao reservadas para ´ındices espaciais.

(18)

seguinte forma:

gµνe(a)µe

ν

(b) = η(a)(b). (2.8)

Al´em disso, definindo

e(a)µ≡ η(a)(b)

e(b)µ, (2.9)

´e f´acil verificar a partir destas duas equa¸c˜oes que

η(a)(b) e (a)µe(b)ν = gµν e e (a) µ e ν (a) = δ ν µ . (2.10)

Por simplicidade, ser´a tamb´em realizada a troca:

e(0)µ= −e

(0)µ= eµ. (2.11)

Em [26] ´e apresentada uma an´alise completa do formalismo de t´etrada.

A fim de simplificar a apresenta¸c˜ao dos resultados, ´e conveniente introduzir tamb´em um formalismo em 6 dimens˜oes na descri¸c˜ao do tensor de Riemann. Este espa¸co hexa-dimensional ´e mapeado no espa¸co-tempo quadri-dimensional de tal forma que um bivetor (dois-forma) em 4 dimens˜oes ser´a representado por um vetor (1-forma) em 6 dimens˜oes. As regras para este mapeamento seguem os seguintes crit´erios:

(a) Se H(a)(b) s˜ao as componentes f´ısicas de um tensor anti-sim´etrico Hµν com respeito a uma t´etrada num ponto P , este tensor ´e representado em 6 dimens˜oes por HA, com `a seguinte convers˜ao entre os ´ındices ab e A:

ab: 23 31 12 10 20 30

A: 1 2 3 4 5 6.

(2.12)

Neste caso, um conjunto par de ´ındices de t´etrada em 4 dimens˜oes se reduzir´a `a metade em 6 dimens˜oes. Por exemplo, o tensor de Riemann R(a)(b)(c)(d)se reduz `a forma sim´etrica

RAB com as devidas identifica¸c˜oes.

(b) Para que os processos de subida e descida de ´ındices nos espa¸cos quadri e hexa-dimen-sional sejam equivalentes, o tensor m´etrico em 6 dimens˜oes deve ser tal que

ηAB = diag(1, 1, 1, −1, −1, −1), (2.13)

(19)

Em qualquer evento sobre a hipersuperf´ıcie tridimensional nula S, pode-se calcular a descontinuidade no tensor de Riemann no v´acuo diretamente das equa¸c˜oes (2.1) e (2.7). Escrevendo este resultado em termos de RAB, obt´em-se

4RAB =               · · · · · −σ −φ · −φ σ · −φ σ · σ φ · · · · · −φ σ · σ φ · σ φ · φ −σ               , (2.14)

onde σ e φ s˜ao arbitr´arios. Vale ressaltar aqui que as quantidades que surgem em (2.7) s˜ao obtidas numa base coordenada composta de dois vetores nulos e dois vetores tipo-espa¸co. Por outro lado, a matriz 6 × 6 apresentada em (2.14) ´e resultado do mapeamento de um espa¸co quadri-dimensional gerado por uma t´etrada composta de trˆes vetores tipo-espa¸co e um vetor tipo-tempo. Dessa maneira, a matriz (2.14) ´e encontrada ap´os uma mudan¸ca de coordenadas e os elementos da matriz diferem apenas por um n´umero real multiplicativo daqueles apresentados em (2.7). No entanto, como σ e φ s˜ao arbitr´arios em ambos os casos, estas diferen¸cas s˜ao irrelevantes. Note tamb´em que os planos-23 coincidem nas duas situa¸c˜oes, de modo que a quantidade φ torna-se nula sob o efeito da mesma rota¸c˜ao de eixos apresentada anteriormente.

O efeito das descontinuidades (2.14) pode ser investigado a partir da equa¸c˜ao do desvio geod´esico D2Zµ dτ2 + R µ νρσu νZρuσ = 0, (2.15) onde Z = Zµ

µ representa o vetor que conecta duas part´ıculas teste vizinhas num campo gravitacional caracterizado pelo tensor de curvatura Rµνρσ. Nesta equa¸c˜ao, u = uµ∂µ = (dxµ/dτ )∂

µ´e a quadri-velocidade de uma das part´ıculas ao longo de uma curva geod´etica γ, e τ ´e o tempo pr´oprio dessa part´ıcula em sua trajet´oria. Na figura 2.1 ´e apresentado um desenho esquem´atico do efeito.

Se uma t´etrada for escolhida de modo que o vetor tipo-tempo eµ coincida com a quadri-velocidade uµ e os vetores tipo-espa¸co e µ

(i) sejam ortogonais `a u

µ e paralelamente transportados ao longo da curva γ, ent˜ao a equa¸c˜ao (2.15) pode ser reescrita como

d2X(i) dτ2 + K (i) (j)X (j) = 0, (2.16)

(20)

Figura 2.1: Desvio geod´esico. Adapta¸c˜ao de Carrol [4].

onde X(i) = Zµe (i)

µ s˜ao as componentes f´ısicas do vetor deslocamento, e K(i)

(j)= R (i)

(0)(j)(0) (2.17)

representam algumas das componentes f´ısicas do tensor de curvatura de Riemann. Uma an´alise da equa¸c˜ao (2.16) para a componente X(0)

leva `a conclus˜ao que esta componente tem uma dependˆencia linear com o tempo pr´oprio, uma vez que K(0)

(i) = 0.

Sempre ´e poss´ıvel escolher as condi¸c˜oes iniciais do problema de modo que X(0)

= 0, e esta escolha pode ser interpretada da seguinte forma: se dois observadores seguem suas respectivas geod´esicas, e estas geod´esicas s˜ao congruentes, ent˜ao os rel´ogios destes observadores est˜ao sincronizados se, e somente se, X(0) = 0.

No limite newtoniano, X(i)

representam as componentes do vetor posi¸c˜ao de uma das part´ıculas com respeito `a outra, e K(i)

(j) = ∂

2Φ/∂x(i)∂x(j), sendo Φ o potencial gravitacional

newtoniano. Neste caso, ao tomar o tra¸co de K(i)(j), obt´em-se:

K(i) (i)= ∂

2Φ/∂x(i)

∂x(i)

= ~∇2Φ = 4πρ, (2.18)

onde ρ ´e a densidade de massa da fonte do potencial gravitacional. Por outro lado, K(i) (i) =

R(i)

(0)(i)(0) = R(0)(0), de modo que

R(0)(0) = 4πρ. (2.19)

Ou seja, a componente R(0)(0) do tensor de Ricci est´a ligada `a densidade de massa da fonte.

(21)

(2.14), segue que frentes de ondas gravitacionais passando por pares de part´ıculas teste far˜ao com que estas sofram uma descontinuidade na acelera¸c˜ao relativa descrita por

4K(i) (j) =      0 0 0 0 −σ −φ 0 −φ σ      . (2.20)

Fica f´acil perceber de (2.20) que a descontinuidade na acelera¸c˜ao relativa depender´a de como as part´ıculas est˜ao posicionadas. Se as duas part´ıculas estiverem alinhadas ao longo da dire¸c˜ao da frente de onda (dire¸c˜ao 1), ent˜ao as part´ıculas n˜ao sentir˜ao descontinuidade na acelera¸c˜ao relativa. Este resultado expressa o car´ater transversal das ondas gravitacionais de modo totalmente invariante. Por outro lado, se as part´ıculas estiverem sobre o plano-23, o qual ´e perpendicular `a dire¸c˜ao de propaga¸c˜ao da frente de onda, ent˜ao as part´ıculas sofrer˜ao os efeitos da descontinuidade no tensor de curvatura. Em (2.20), σ e φ representam os dois tipos de estados de polariza¸c˜ao da radia¸c˜ao gravitacional bem conhecidos da teoria de aproxima¸c˜ao linearizada, por exemplo. Na figura 2.2 s˜ao representados esquematicamente estes efeitos.

(a)

(b)

Figura 2.2: O efeito das descontinuidades (a) σ e (b) φ. Adapta¸c˜ao da Ref. [4].

2.1.2 Formas canˆonicas para o tensor de Riemann

Nesta subse¸c˜ao ser´a explorada a representa¸c˜ao canˆonica do tensor de Riemann em quatro dimens˜oes, conforme apresentada por Pirani [7]. O objetivo aqui ´e desenvolver a ideia de um observador que segue o campo gravitacional. Como exemplo introdut´orio ser´a tomado o caso do campo eletromagn´etico. Para este caso, os autovetores associados com o campo s˜ao obtidos da equa¸c˜ao de autovalor

(22)

onde T ν

µ ´e o tensor energia-momento eletromagn´etico. Esta equa¸c˜ao estabelece que, em geral, vetores tipo-tempo, tipo-espa¸co e nulos podem existir. Por´em, no caso espec´ıfico de um campo nulo, n˜ao haver´a autovetores tipo-tempo; todos os autovetores ser˜ao tipo-espa¸co, com exce¸c˜ao do pr´oprio vetor nulo, e todos estar˜ao num espa¸co tridimensional tangente ao cone de luz ao longo da dire¸c˜ao do autovetor nulo.

A ideia de um observador que segue o campo eletromagn´etico ´e facilmente compre-endida se for considerado o vetor de Poynting Sρ. Em termos de componentes do tensor energia-momento, o vetor de Poynting num frame de Lorentz local ´e dado por Si = T0i. Este vetor pode ser escrito em forma covariante considerando novamente uma base cujo ve-tor eµ ´e identificado como a quadri-velocidade do observador e, na sequˆencia, escrevendo as componentes espaciais do tensor energia-momento como uma proje¸c˜ao ortogonal a esta quadri-velocidade. Sendo Pµ

ν = δµν + uµuν o projetor ortogonal `a uµ, ent˜ao o vetor de Poynting em forma covariante ´e dado por:

Sρ = (δµρ+ u µ

uρ)Tµνuν. (2.22)

´

E f´acil observar dessa equa¸c˜ao que

Sρuρ = 0, (2.23)

ou seja, Sρ´e um vetor tipo-espa¸co. Por outro lado, se nρ´e um vetor normal a uma superf´ıcie Σ, tal que nρ ´e perpendicular `a quadri-velocidade do observador, ent˜ao o fluxo de energia eletromagn´etica que cruza Σ ´e

Sρnρ= Tµνuµnν. (2.24)

Quando ´e dito que um observador segue o campo eletromagn´etico, isto significa que o fluxo de energia medido por ele sobre qualquer superf´ıcie Σ ´e zero. De acordo com (2.23) e (2.24), ´e poss´ıvel afirmar que tal condi¸c˜ao acontece somente se Sρ = 0, o que por (2.22) implica em

Tρνuν = −(Tµνuµuν)uρ. (2.25)

Portanto, uρ´e o autovetor de Tµν. Dessa maneira, est´a estabelecida a ideia de um observador seguindo o campo eletromagn´etico a partir do conhecimento do autovetor do tensor energia-momento. Como foi dito anteriormente, para o caso campo nulo, o que indica a presen¸ca de ondas eletromagn´eticas, n˜ao existir˜ao autovetores tipo-tempo, de modo que nenhum ob-servador com velocidade finita poder´a medir um fluxo de energia zero. Em outras palavras, para um campo nulo, este fluxo n˜ao pode ser eliminado por meio de uma transforma¸c˜ao de

(23)

Lorentz. Um campo ´e dito ser nulo se ele possui um autovetor nulo, ξµ, com autovalor zero,

Tµνξν = 0. (2.26)

Assim, somente se o observador fosse capaz de viajar `a velocidade da luz na dire¸c˜ao de ξµ, ele poderia medir um fluxo zero de energia.

A extens˜ao deste conceito para o caso gravitacional n˜ao ´e trivial, uma vez que, devido ao princ´ıpio de equivalˆencia, n˜ao existe um tensor energia-momento associado ao campo gra-vitacional. Por outro lado, ´e poss´ıvel utilizar a estrutura geom´etrica do tensor de Riemann para definir o an´alogo do conceito de um observador ‘seguindo o campo’ que acaba de ser discutido para o caso eletromagn´etico. Por´em, a extens˜ao n˜ao ´e direta, devido `as diferentes propriedades do tensor de Riemann em compara¸c˜ao com o tensor energia-momento eletro-magn´etico. Desse modo, a an´alise ser´a dividida em duas partes. Na primeira parte, ser˜ao definidos os autobivetores do tensor de Riemann. Em seguida, usando as formas canˆonicas para o tensor de Riemann, obtidas por Petrov [24] (ver apˆendice A), ser´a poss´ıvel escrever de forma expl´ıcita os autobivetores para o v´acuo. Geometricamente, os autobivetores correspon-dem a superf´ıcies bidimensionais ou a pares de superf´ıcies. As intersec¸c˜oes dessas superf´ıcies definem um determinado n´umero de quadri-vetores, os quais ser˜ao denominados de vetores principais de Riemann [7].

“Um observador que possui um vetor principal de Riemann tipo-tempo como quadri-velocidade ´e dito estar seguindo o campo gravitacional.”

Os autobivetores Pµν do tensor de Riemann s˜ao definidos pela equa¸c˜ao

RµνρσPρσ = λPµν, (2.27)

ou, usando o formalismo hexa-dimensional apresentado anteriormente,

RABPB = λPA. (2.28)

Petrov [24] mostrou que, por meio de uma escolha adequada da t´etrada em qualquer evento num espa¸co-tempo vazio, o tensor de Riemann se reduz a uma das trˆes formas canˆonicas listadas abaixo.

(24)

Tipo I: RAB =               α1 · · β1 · · · α2 · · β2 · · · α3 · · β3 β1 · · −α1 · · · β2 · · −α2 · · · β3 · · −α3               , (2.29) onde P3 kαk = 0 e P3 kβk = 0. Tipo II: RAB =               −2α · · −2β · · · α − σ · · β σ · · α + σ · σ β −2β · · 2α · · · β σ · −(α − σ) · · σ β · · −(α + σ)               . (2.30) Tipo III: RAB =               · σ · · · · σ · · · · −σ · · · · −σ · · · · · −σ · · · −σ −σ · · · −σ · · · ·               . (2.31)

Estas formas matriciais para RAB s˜ao obtidas, primeiramente, impondo limita¸c˜oes nas trans-forma¸c˜oes que podem ser realizadas sobre o tensor de Riemann no espa¸co de 6 dimens˜oes, a saber, impondo que as transforma¸c˜oes de Lorentz sejam reais. Al´em disso, considera-se as simetrias que a matriz RAB possui.

Os autobivetores de RAB, definidos por (2.28), podem ser obtidos das equa¸c˜oes (2.29)-(2.31). Eles s˜ao bivetores complexos escritos na forma

(25)

sendo SA∗ o vetor dual de Hodge de SA,

Sµν∗ = 1

2gµρgνσ ρστ πS

τ π, (2.33)

ou, utilizando a nota¸c˜ao hexa-dimensional,

SA∗ = 1 2gAB

BC

SC, (2.34)

onde µνρσ e AB ao os tensores de Levi-Civita, respectivamente, em quatro e seis dimens˜oes. Assim, cada autobivetor de RAB define, em geral, um par de superf´ıcies ortogonais. Considerando que estes bivetores estejam normalizados, pode-se escrevˆe-los explicitamente como segue abaixo.

Tipo I: Existem seis autobivetores independentes:

PA=    δ A 1 e δ4A, se β1 = 0, δ1A± iδ A 4 , se β1 6= 0; PA=    δ A 2 e δ5A, se β2 = 0, δ2A± iδ A 5 , se β2 6= 0; (2.35) PA=    δ A 3 e δ6A, se β3 = 0, δ3A± iδ A 6 , se β3 6= 0. Tipo II: Existem quatro autobivetores independentes:

Se β = 0,    PA = δ A 1 e PA = δ4A, PA = δ2A− δ A 6 e PA = δ3A+ δ5A; Se β 6= 0,    PA= δ A 1 ± iδ4A, δ A 2 − δ6A± i(δ3A+ δ5A). (2.36)

Tipo III: Existem dois autobivetores independentes:    PA= δ2A− δ A 6 , PA= δ A 3 + δ5A. (2.37)

Conforme definido anteriormente, os vetores principais de Riemann de cada um dos tipos da classifica¸c˜ao resultam da intersec¸c˜ao de dois planos gerados pela combina¸c˜ao dos autobivetores. Deste modo, se r(a) ´e um vetor principal de Riemann normalizado, segue que:

(26)

Tipo I: r(a) = δ (a) (0) , δ (a) (1) , δ (a) (2) , δ (a)

(3) . Neste caso, os vetores principais s˜ao justamente os

vetores da t´etrada base, sendo um vetor tipo-tempo e trˆes vetores tipo-espa¸co. Tipo II: r(a)= δ (a)

(0) − δ (a) (1) , δ (a) (2) , δ (a)

(3) . O primeiro vetor principal ´e nulo e os demais vetores

s˜ao todos tipo-espa¸co. Tipo III: r(a)= δ (a)

(0) − δ (a)

(1) . Existe somente um vetor principal de Riemann, o qual ´e nulo.

Dois dos trˆes tipos de tensores de Riemann possuem vetores principais nulos, e a existˆencia de tais tensores identifica a presen¸ca de ondas gravitacionais. Se fosse poss´ıvel para um observador viajar ao longo de uma dire¸c˜ao nula principal de Riemann, ent˜ao ele estaria ‘seguindo o campo’ e n˜ao detectaria a existˆencia de ondas gravitacionais. Segundo Pirani [7], “em qualquer evento no espa¸co-tempo vazio, a radia¸c˜ao gravitacional est´a presente se o tensor

de Riemann ´e do tipo II ou III, mas n˜ao se ele for do tipo I.”

Em princ´ıpio os σ’s em (2.14) e (2.30) s˜ao de naturezas distintas. No entanto, ao comparar as duas matrizes, percebe-se que os σ’s ocupam as mesmas posi¸c˜oes e possuem os mesmos sinais em ambos os casos. Esta correspondˆencia se deve de imediato `a escolha de ori-enta¸c˜ao de ambas as t´etradas, uma vez que nas duas a dire¸c˜ao-1 ´e a dire¸c˜ao de propaga¸c˜ao da radia¸c˜ao gravitacional. Portanto, a existˆencia de uma descontinuidade no tensor de Riemann pode ser realmente associada `a existˆencia de ondas gravitacionais.

Vale ainda ressaltar que estes resultados s˜ao totalmente independentes da base es-colhida, uma vez que, apesar de ter usado uma t´etrada espec´ıfica para colocar o tensor de Riemann em forma canˆonica, as conclus˜oes obtidas da an´alise anterior s˜ao independentes da escolha desta t´etrada.

As diferen¸cas entre os tipos I e II de espa¸cos-tempos podem ser investigadas a partir do movimento relativo entre part´ıculas livres que se movem com diferentes velocidades com respeito a uma t´etrada de vetores tipo-tempo apropriada. Por exemplo, se for considerado o efeito de um boost sobre K(i)

(j) dado pelas transforma¸c˜oes de t´etrada:

¯ e (0) µ = e (0) µcosh θ + e (1) µ senh θ; ¯ e (1) µ = e (0) µsenh θ + e (1) µcosh θ; (2.38) ¯ e (2) µ= e (2) µ; ¯e (3) µ= e (3) µ;

onde os vetores sem barra se referem a t´etrada na qual se obteve os tensores de Riemann nas formas canˆonicas (2.29) e (2.30). Para facilitar a compara¸c˜ao entre os resultados, se representar´a α2 = α − σ e α3 = α + σ para a forma canˆonica tipo I. Nestes caso, os resultados

(27)

obtidos s˜ao: Tipo I: K(2)(2) = −(α − σ), K¯(2)(2) = −(α − σ cosh 2θ), K(2)(3) = 0, K¯(2)(3) = 1 2(β1− β2)senh 2θ K(3)(3) = −(α + σ), K¯(3)(3) = −(α + σ cosh(2θ). (2.39) Tipo II: K(2)(2) = −(α − σ), K¯(2)(2) = −(α − σe −2θ), K(2)(3) = 0, K¯(2)(3) = 0 K(3)(3) = −(α + σ), K¯(3)(3) = −(α + σe −2θ). (2.40)

Novamente, os K’s com barra representam as componentes f´ısicas do tensor de Riemann na t´etrada ¯e (a)

µ. Nos resultados acima, foram omitidos os termos do tipo K1b por serem invariantes frente `a transforma¸c˜ao de Lorentz realizada.

A principal diferen¸ca entre os tipo I e II de tensores de Riemann ocorrem quando θ assume valores pequenos (θ = tgh−1v, onde v ´e a tri-velocidade relativa entre os observadores nas diferentes t´etradas). Nesse limite, para um tensor tipo I, a varia¸c˜ao de K22 e K33 em primeira ordem vai com θ2, o que caracteriza um efeito t´ıpico das transforma¸c˜oes de Lorentz na relatividade especial. Por outro lado, os mesmos K’s para o tipo II v˜ao com θ o que caracteriza um efeito n˜ao Lorentziano.

Por fim, quando θ assume valores muito altos, no tipo I os ¯K’s assumem valores muito altos, independentes do sinal de θ. Como consequˆencia, para o tipo I os ¯K’s possuem valor extremo apenas quando θ = 0. Em oposi¸c˜ao, para o tipo II, eles se aproxima assintoticamente de um valor extremo quando θ → ∞(v → 1), tal que a velocidade do observador se aproxima da velocidade da luz na dire¸c˜ao de propaga¸c˜ao da radia¸c˜ao.

[7]

2.2 A interpreta¸c˜ao f´ısica dos escalares de Weyl

Na se¸c˜ao anterior, mostrou-se de duas maneiras distintas como que se identifica a presen¸ca de radia¸c˜ao gravitacional com base no tensor de Riemann. A primeira maneira ´e usando a condi¸c˜ao de descontinuidade de Lichnerowicz onde ´e poss´ıvel concluir que as ondas gravitacionais surgem no tensor de Riemann como uma descontinuidade ao longo das dire¸c˜oes perpendiculares `a dire¸c˜ao de propaga¸c˜ao da radia¸c˜ao. A segunda forma ´e a partir das formas canˆonicas do tensor de Riemann, neste caso, a existˆencia vetores principais tipo-luz ligados `

(28)

Figura 2.3: Compasso gravitacional. Extra´ıda de Szekeres (1965)

trabalho realizado por Szekeres em 1965 [8], ser´a utilizada a equa¸c˜ao de desvio geod´esico juntamente com a classifica¸c˜ao de Petrov para extrair o significado f´ısico dos escalares de Weyl. No estudo do efeito do desvio geod´esico ser´a introduzido o conceito de compasso gravitacional.

2.2.1 A classifica¸c˜ao de Petrov e o compasso gravitacional

Para a presente an´alise, ser´a utilizada a equa¸c˜ao de desvio geod´esico (2.15): D2Zρ

dτ2 = R ρ

σµνu

σuνZµ, (2.41)

Como consequˆencia dessa equa¸c˜ao, o tensor sim´etrico Kµν = Rµρνσuρuσ representa o gradiente da ‘for¸ca gravitacional’ sobre um observador como discutido na se¸c˜ao anterior. Uma forma direta de interpretar fisicamente este tensor ´e considerando um tetraedro formado por um conjunto de molas que conectam trˆes part´ıculas testes entre si, e cada uma a um observador no centro do tetraedro como mostra a Figura 2.3. O observador neste problema se desloca ao longo de uma geod´esica onde o tempo pr´oprio ´e o parˆametro afim. A medida que ele` se desloca ao longo de sua geod´esica ´e poss´ıvel observar ent˜ao uma for¸ca atuando sobre o conjunto de molas. Uma vez que Kµν ´e uma matriz sim´etrica ent˜ao, ela possui apenas seis componentes linearmente independentes. Quando as for¸cas que atuam sobre as molas S12, S13 e S23s˜ao zero, ent˜ao as trˆes molas S1, S2, e S3 que conectam as part´ıculas testes ao observador est˜ao alinhadas ao longo dos eixos principais de Kµν. Assim, tem-se um mapa entre o campo gravitacional local e o que Szekeres [8] define como compasso gravitacional.

(29)

O tensor de Riemann em quatro dimens˜oes possui 20 componentes independentes. Em geral, este tensor pode ser decomposto em partes independentes da seguinte forma:

Rρσµν = Cρσµν+ gρ[µRν]σ+ Rρ[µgν]σ− 1

3Rgρ[µgν]σ (2.42) onde Cρσµν e Rµν s˜ao os tensores de Weyl e Ricci, respectivamente, e R = gµνRµν ´e o escalar de Ricci. Estes tensores, por sua vez, possuem 10 componentes independentes cada um. Na ausˆencia de mat´eria e num espa¸co-tempo com constante cosmol´ogica zero, Rµν = R = 0 e tensores de Riemann e Weyl se tornam idˆenticos. Substituindo (2.42) em (2.41), ´e poss´ıvel escrever a equa¸c˜ao de desvio geod´esico na forma:

D2Zρ dτ2 = C ρ σµνu σuνZµ+1 3(Rσνu σuν)Zρ 1 2S ρ µZ µ, (2.43) onde, Sρσ = PµρP ν σRµν− 1 3P µνR µνPρσ, Pµν = gµν+ uµuν. (2.44)

O primeiro termo em (2.43) representa a colabora¸c˜ao de um campo gravitacional livre, po-dendo ser pensado como um efeito de for¸cas de cisalhamento, uma vez que ele ´e um termo sim´etrico livre de tra¸co. O segundo termo, por sua vez, caracteriza a presen¸ca de mat´eria, co-laborando como uma componente de for¸ca ‘expansiva’ para as equa¸c˜oes do desvio e, o ´ultimo termo, representa um efeito de cisalhamento tamb´em causado pela presen¸ca de mat´eria.

Para investigar a contribui¸c˜ao do tensor de Weyl em (2.43), ´e conveniente introduzir uma base t´etrada de vetores nulos. A constru¸c˜ao dessa base pode ser feita a partir de uma base t´etrada onde e(0) ´e escolhido novamente de modo a coincidir com a quadri-velocidade

u do observador, ortogonal aos vetores tipo-espa¸co e(1) = s, e(2) e e(3). Neste caso, se pode

escrever: lµ= (uµ+ sµ), mµ = 1 2(e µ (2)+ ie µ (3)), nµ= 1 2(u µ− sµ), m¯µ = 1 2(e µ (2)− ie µ (3)). (2.45)

Estes vetores nulos obedecem as condi¸c˜oes de ‘ortogonalidade’:

mµm¯µ = −lµnµ = 1,

lµlµ= lµmµ= nµnµ= nµmµ= mµmµ = 0.

(2.46)

(30)

escrito como

gµν = −2l[µnν]+ 2m[µm¯ν] (2.47) Al´em disso, ´e poss´ıvel escrever um tensor de Weyl complexo [27] em termos de uma base de bivetores nulos {Wα} = {U , V , M }, descrita por:

Uµν = 2 ¯m[µnν],

Vµν = 2l[µmν], (2.48)

Mµν = 2n[µlν]+ 2 ¯m[µmν].

Todas as contra¸c˜oes deste bivetores s˜ao nulas com exce¸c˜ao de

UµνVµν = 2, MµνMµν = −4. (2.49)

Ao levar em considera¸c˜ao o fato que o tensor de Weyl ´e totalmente livre de tra¸co juntamente com suas propriedades de simetria sobre troca de ´ındices, se conclui que:

Cµνρσ + iCµνρσ∗ = 2Ψ0UµνUcd+ 2Ψ1(UµνMcd+ MµνUcd) + 2Ψ2(UµνVcd+ VµνUcd+ MµνMcd) + 2Ψ3(VµνMcd+ MµνVcd) + 2Ψ4VµνVcd,

(2.50)

onde Cµνρσ∗ = 12µνλCλρσ ´e o dual de Hodge de Cµνρσ. Os Ψ(N ) s˜ao escalares complexos

conhecidos na literatura por escalares de Weyl. ´E poss´ıvel verificar a partir de contra¸c˜oes de (2.50) com os vetores nulos da base t´etrada que:

Ψ0 = Cµνρσlµmνlρmσ, Ψ1 = Cµνρσlµnνlρmσ, Ψ2 = Cµνρσlµmνm¯ρnσ, Ψ3 = Cµνρσlµnνm¯ρnσ, Ψ4 = Cµνρσnµm¯νnρm¯σ. (2.51)

Estes cinco escalares complexos representam as dez componentes reais e independentes do tensor de Weyl.

Uma vez escolhida a base t´etrada nula, ´e poss´ıvel utilizar a classifica¸c˜ao de Petrov no formalismo de Newman-Penrose (ver apˆendice B para maiores detalhes) para orientar os eixos da t´etrada de modo a fazer v´arios dos escalares de Weyl serem zero e, consequentemente,

(31)

sim-plificar a equa¸c˜ao (2.50). Assim, considerando um espa¸co-tempo Petrov tipo N, caracterizado pela existˆencia de um vetor nulo lµque satisfaz a condi¸c˜ao C

µνρσlµ = 0. Se lµ for o vetor nulo definido em (2.45), chega-se a conclus˜ao que Ψ0 = Ψ1 = Ψ2 = Ψ3 = 0. Dessa forma, apenas Ψ4 diferente de zero. Este escalar pode ser feito real ao realizar uma rota¸c˜ao da t´etrada, tal que, mµ → emµ. Neste caso, a equa¸c˜ao de desvio geod´esico (2.41) se reduz a:

d2Zρ

dτ2 = Ψ4(e ρ

(2)e(2)σ − e(3)ρe(3)σ)Zσ. (2.52) Portanto, um observador que segue uma geod´esica com quadri-velocidade u sofrer´a uma acelera¸c˜ao relativa ao longo das dire¸c˜oes e(2) e e(3) que formam um plano perpendicular a

dire¸c˜ao s na qual a frente de onda se propaga. Como este efeito ´e totalmente independente da quadri-velocidade com que o observador se desloca, considera-se ent˜ao que campos Petrov tipo N caracterizam a existˆencia de ondas gravitacionais puramente transversais. Em (2.52) se utilizou apenas a parte real de (2.50) uma vez que as equa¸c˜oes do desvio carregam apenas componentes reais do tensor de Weyl.

Figura 2.4: O efeito dos escalares de Weyl: (a) Ψ4, (b) Ψ3, (c) Ψ2. Adapta¸c˜ao de Szekeres [8].

Para o Petrov tipo III, por sua vez, existe um vetor nulo lµ que satisfaz l

µl[λCµν]ρσ = 0. Escolhendo lµ novamente como sendo o apresentado pela equa¸c˜ao (2.41), obt´em-se que Ψ

0 = Ψ1 = Ψ2 = 0. Por´em, ainda existe um classe de observadores nos quais Ψ4 = 0 e Ψ3 ´e real. Para esta classe de observadores se tem que a acelera¸c˜ao relativa ´e dada por

D2Zρ

dτ2 = Ψ3(s ρe

(2)σ+ eρ(2)sσ)Z

σ. (2.53)

Como no caso anterior, a distribui¸c˜ao de for¸cas se d´a sobre um plano. Por´em, neste caso uma das dire¸c˜oes est´a ao longo da dire¸c˜ao de propaga¸c˜ao da frente de onda. Assim, Ψ3 ´e interpretado com uma componente longitudinal do campo gravitacional ao longo da dire¸c˜ao

(32)

. Para os observadores em que Ψ

4 6= 0 as ondas gravitacionais estar˜ao sobrepostas a esta componente longitudinal do campo.

As componentes Ψ0 e Ψ1 possuem as mesmas interpreta¸c˜oes f´ısicas que Ψ4 e Ψ3, res-pectivamente, mas com frentes de onda que se propagam na dire¸c˜ao −sµ.

Se, finalmente, for considerado um espa¸co-tempo Petrov tipo D, ent˜ao a orienta¸c˜ao dos eixos da t´etrada ser´a tal que Ψ0 = Ψ1 = Ψ3 = Ψ4 = 0. Neste caso, somente Ψ2 ´e n˜ao-zero. Para este caso, n˜ao se tem liberdade de fazer este termo real e, portanto as equa¸c˜oes do desvio geod´esico assumem a forma

D2Zρ dτ2 = 2Ψ (R) 2  sρsσ− 1 2 e ρ (2)e(2)σ+ e(3)ρe(3)σ   Zσ, (2.54) onde Ψ(R)

2 ´e a parte real de Ψ2. Esta distribui¸c˜ao de for¸ca causa uma distor¸c˜ao de uma distribui¸c˜ao esfericamente sim´etrica centrada no observador em um elipsoide onde, sµ´e o eixo principal. Este efeito ´e o mesmo que acontece com uma densidade de mat´eria sobre o efeito de uma atra¸c˜ao gravitacional que obedece uma lei do inverso do quadrado das distˆancias. Por este motivo, se reconhece este termo como sendo o termo Coulombiano do campo. A intensidade, neste caso, ´e dada diretamente por Ψ(R)

2 .

Para o Petrov tipo II se pode fazer Ψ0 = Ψ1 = Ψ4 = 0, tal que, poder´a ser visualizado um campo coulombiano juntamente com uma componente longitudinal sainte sobreposta. E, finalmente, para o caso algebricamente geral (Petrov I), os escalares Ψ0 e Ψ4 ser˜ao zero. Nesta classe de espa¸co surgem componentes de campos longitudinais sobrepostas ao campo coulombiano.

2.2.2 O efeito das transforma¸c˜oes de Lorentz

Nesta se¸c˜ao, ser´a apresentado como um observador pode usar um compasso gravitaci-onal para estabelecer o gradiente do campo gravitacigravitaci-onal no seu sistema de referˆencia. Para isto, ser´a feito uso das transforma¸c˜oes de Lorentz para relacionar os v´arios escalares de Weyl medidos por observadores que se movem com velocidades distintas. Nesse modo, ao considerar inicialmente o efeito de um boost capaz de gerar uma rota¸c˜ao sobre o plano formado pelos vetores (l, n), tem-se que

l0µ= (1 + v) (1 − v) 12 lµ n0µ= 1 − v 1 + v 12 nµ, m0µ= mµ. (2.55)

(33)

Esta transforma¸c˜ao corresponde a uma simples mudan¸ca de sistema de referˆencia entre ob-servados que se movem com uma tri-velocidade relativa de m´odulo v ao longo da dire¸c˜ao s. Assim, Ψ02 = 1 16CµνρσM 0µν M0ρσ = Ψ2, Ψ03 = −1 8CµνρσU 0µν M0ρσ = Ψ3  1 − v 1 + v 12 , Ψ04 = 1 4CµνρσU 0µν U0ρσ = Ψ4 (1 + v) (1 − v). (2.56)

Portanto, para um Petrov tipo N, um observador que aumenta sua velocidade experimentar´a uma diminui¸c˜ao na amplitude da onda por ele observada por um fator (1 − v)/(1 + v) e para um movimento no sentido contr´ario, se obt´em o resultado oposto e o observador medir´a um aumento na amplitude. O mesmo efeito acontece para o Petrov tipo III, por´em, por um fator [(1 − v)/(1 + v)]1/2. Al´em disso, Ψ

2 ´e invariante, isto ´e, o termo coulombiano n˜ao ´e afetado por esta transforma¸c˜ao. Em termos do compasso gravitacional, se pode dizer que a press˜ao sobre as molas ´e independente da velocidade radial do observador.

Considerando agora uma transforma¸c˜ao entre referenciais que se movem com uma velocidade relativa v ao longo da dire¸c˜ao e(2)µ. Neste caso

u0µ = (u

µ+ ve µ

(2))

1 − v2 . (2.57)

Se em seguida for realizada uma nova rota¸c˜ao, desta vez, sobre o plano (s, e(2)) permitindo

que lµaponte na dire¸c˜ao de s0µ, os vetores da t´etrada devem se transformar da seguinte forma

l0µ = lµp(1 − v2), m0µ = mµ+ lµ√v 2, n0µ = nµ√ 1 1 − v2 − (m µ+ ¯mµ) v p2(1 − v2)− l µ v2 2√1 − v2 (2.58)

Como no caso anterior, ao conhecer a transforma¸c˜ao dos vetores da base t´etrada ´e poss´ıvel conhecer como os v´arios escalares de Weyl se transformam. Em particular, considerando um

(34)

espa¸co-tempo Petrov tipo D, obt´em-se Ψ02 = Ψ2, Ψ03 = Ψ2 3v p2(1 − v2), Ψ04 = Ψ2 3v2 1 − v2 (2.59)

Portanto, quando v → 1, Ψ4 ´e a parte dominante; de modo que um observador passando rapidamente por uma fonte (pode ser uma estrela ou buraco negro, por exemplo) num espa¸co de Schwarschild com uma velocidade pr´oxima a da luz, o campo tomar´a a aparˆencia de uma onda gravitacional puramente transversal.

No v´acuo, portanto, o campo gravitacional pode ser completamente determinado por estas transforma¸c˜oes de Lorentz. O uso de dois diferentes compassos gravitacionais que se movem com velocidades distintas ao longo da dire¸c˜ao s permitir´a observar todas as com-ponentes do tensor de Weyl com exce¸c˜ao da parte imagin´aria de Ψ2. Somente ao usar um terceiro compasso se movendo ao longo de e(2)µ ser´a poss´ıvel determinar tal parte.

2.2.3 Aplica¸c˜oes

(a) Presen¸ca de um campo eletromagn´etico nulo:

Como uma aplica¸c˜ao, ser´a combinada radia¸c˜ao eletromagn´etica `a radia¸c˜ao gravitacio-nal. Deste modo, para o espa¸co-tempo vazio

Rµν = 4πTµν = Alµlν, lµlµ= 0, (2.60)

onde A ´e uma constante arbitr´aria. Se uµ ´e qualquer vetor tipo-tempo tal que lµ = uµ+ sν, ent˜ao Rµνuµuν = A 2, Sµν = A 2  sµsν− 1 3Pµν  . (2.61)

Neste caso, a partir da equa¸c˜ao (2.43) se conclui que um campo eletromagn´etico nulo contribui para a equa¸c˜ao de desvio geod´esico no v´acuo com um termo adicional

1 2A(e µ (2)e(2)ν+ e µ (3)e(3)ν)Z ν. (2.62)

Assim, o campo eletromagn´etico contribuir´a para o campo gravitacional com uma compo-nente transversal. Deste modo, se uma onda gravitacional est´a acompanhada de uma onda

(35)

eletromagn´etica, ent˜ao a dire¸c˜ao de polariza¸c˜ao da onda gravitacional n˜ao ser´a afetada, e somente o c´ırculo da acelera¸c˜ao desenvolver´a uma acentricidade.

(b) Ondas gravitacionais interagentes:

Suponha a existˆencia de duas ondas gravitacionais de tipo N se movendo ao longo das dire¸c˜oes l e n. Um observador num referencial dado por (2.45) observa estas ondas se moverem ao longo de dire¸c˜oes opostas sµe −sµ. Como as ondas n˜ao interagem, a for¸ca sentida pelo observador estar´a confinada ao plano (e(2), e(3)) e o campo resultante dever´a ser a soma

das amplitudes das duas ondas. Neste caso se espera que neste referencial

Cµνρσ∼ = 2Ψ0UµνUρσ+ 2Ψ4VµνVcd, (2.63)

onde Cµνρσ∼ = Cµνρσ + iCµνρσ∗ ´e o tensor de Weyl complexo. Substituindo esta express˜ao nas identidades de Biachi para o v´acuo (Cµ

νρσ;µ = 0) e, em seguida, contraindo o resultado com lνnρUσλ, obt´em-se

Ψ4lν;σm¯νlσ = Ψ4lν;σm¯νm¯σ. (2.64) Esta ´e a condi¸c˜ao que lµ ´e um vetor tangente a uma geod´esica livre de cisalhamento. Pelo teorema de Goldberg e Sachs [28] que diz que:

“Uma m´etrica para o v´acuo ´e algebricamente especial se, e somente se, ela admite uma congruˆencia de geod´esica nulas livres de cisalhamento.”

Conclui-se que quando ondas gravitacionais est˜ao se movendo em dire¸c˜oes nulas opostas tanto o vetor l quanto o vetor n dever˜ao ser vetores principais livres de cisalhamento. Por´em, da suposi¸c˜ao de n˜ao intera¸c˜ao imposta pela equa¸c˜ao (2.63) se conclui que apenas l satisfaz tal condi¸c˜ao. Tal contradi¸c˜ao significa que a suposi¸c˜ao de que as ondas n˜ao interagem ao se propagarem em sentidos opostas ´e falsa. As ondas gravitacionais s˜ao de natureza n˜ao linear, de modo que, ap´os se cruzarem suas caracter´ısticas iniciais dever˜ao ser alteradas.

(36)

3

A TEORIA DE PERTURBA ¸

C ˜

OES GRAVITACIONAIS

O presente cap´ıtulo tem por objetivo revisar a teoria de pertuba¸c˜oes gravitacionais de buracos negros planos-sim´etricos em espa¸cos-tempo assintoticamente anti-de Sitter. Para este fim, o cap´ıtulo foi subdividido em trˆes se¸c˜oes. Na primeira se¸c˜ao, as quantidades que caracterizam o espa¸co-tempo de fundo s˜ao apresentadas. Na se¸c˜ao seguinte, a teoria de perturba¸c˜oes via lineariza¸c˜ao das equa¸c˜oes de Einstein ´e descrita para o caso em que as perturba¸c˜oes s˜ao axissim´etricas. Esta classe de perturba¸c˜oes est˜ao associadas a uma escolha conveniente dos vetores da base t´etrada e n˜ao representa nenhuma perda de generalidade. Na ´ultima se¸c˜ao, as perturba¸c˜oes s˜ao descritas utilizando o formalismo de Newman-Penrose tamb´em linearizado. Este cap´ıtulo se baseia no trabalho de Miranda [29] que utiliza o m´etodo de perturba¸c˜oes desenvolvida por Chandrasekhar [26] para o estudo das pertuba¸c˜oes de branas negras anti-de Sitter.

3.1 O espa¸co-tempo de fundo

Quando o espa¸co-tempo ´e assintoticamente anti-de Sitter, uma solu¸c˜ao de buraco negro est´atica e com sim´etria plana pode ser extra´ıda [6]. Esta classe de buraco negro ´e chamada de brana negra anti-de Sitter. A solu¸c˜ao de branas negras pode ser escrita de forma geral como

ds2 = −f (r)dt2+ f−1(r)dr2+ r2(dϕ2+ dz2), (3.1) onde f (r) = r 2 `2 − 2M r . (3.2)

Na equa¸c˜ao (3.2), M representa um parˆametro de massa da brana negra e `2 = −3/Λ ´e conhecido como raio anti-de Sitter sendo Λ a constante cosmol´ogica negativa. Na literatura, f (r) ´e chamada de fun¸c˜ao horizonte e suas ra´ızes representam singularidades coordenadas na m´etrica (3.1). A ´unica raiz real dessa fun¸c˜ao representa a localiza¸c˜ao radial do horizontes de eventos do buraco negro (rh). Para o caso em quest˜ao, n˜ao ´e dif´ıcil verificar que o o horizonte de eventos esta localizado em

rh =

3

2M `2. (3.3)

(37)

O intuito deste trabalho ´e, portanto, investigar quais efeitos f´ısicos surgem frete a pequenas perturba¸c˜oes gravitacionais nesse espa¸co-tempo.

3.2 Perturba¸c˜oes m´etricas no formalismo de Chandrasekhar

Na teoria de perturba¸c˜oes gravitacionais, considera-se que o espa¸co-tempo de fundo de m´etrica ¯gµν ´e perturbado de tal maneira que a m´etrica do espa¸co-tempo f´ısico assume a forma gµν = ¯gµν + hµν. O tensor hµν representa uma perturba¸c˜ao de primeira ordem sobre o espa¸co-tempo de fundo. Al´em disso, esta teoria possui certas liberdades de gauge associadas as transforma¸c˜oes infinitesimais de coordenadas do tipo xµ → xµ+ ξµ, onde ξµ ´e um vetor de transforma¸c˜ao infinitesimal. Frente a esta transforma¸c˜ao, o tensor hµν muda da seguinte forma:

hµν → hµν− 2ξ(µ;ν). (3.4)

O tensor de Riemann, que caracteriza a curvatura do espa¸co-tempo, n˜ao ´e alterado por esta transforma¸c˜ao infinitesimal e, por isto, a equa¸c˜ao (3.4) ´e chamada de transforma¸c˜ao de gauge da teoria de perturba¸c˜oes gravitacionais. Desse modo, sempre ´e poss´ıvel escolher o vetor ξµ de maneira a reduzir o n´umero de componentes diferentes de zero de hµν, sem alterar o significado f´ısico das perturba¸c˜oes.

Para o estudo das pertuba¸c˜oes gravitacionais usando o formalismo de gauge de Chan-drasekhar, considera-se que o elemento de linha associado ao espa¸co-tempo f´ısico ´e dado por:

ds2 = −e2ν(dt)2+ e2ψ(dϕ − q2dx2− q3dx3− q0dt)2 + e2µ2(dx2)2+ e2µ3(dx3)2.

(3.5)

Esta m´etrica ´e capaz de acomodar todas as quantidades relevantes para o estudo das pertur-ba¸c˜oes m´etricas no gauge de Chandrasekhar [26]. Vale ressaltar que todas estas quantidades devem satisfazer as equa¸c˜oes de Einstein e condi¸c˜oes de contorno apropriadas. Note tamb´em que, para o espa¸co-tempo de fundo (3.1), as quantidades apresentadas em (3.5) assumem `a seguinte forma q0 = q2 = q3 = 0, e2ν = e−2µ2 = f (r) = r2 `2 − 2M r , e 2ψ = e2µ3 = r2, (3.6)

e, portanto, a m´etrica (3.5) tamb´em acomoda a solu¸c˜ao de branas negras n˜ao-perturbadas. Numa teoria de perturba¸c˜oes m´etricas de primeira ordem, todas as quantidades em (3.5) s˜ao perturbadas de forma linear. Assim, pode-se escrever as componentes n˜ao nulas de

(38)

hµν como htt= −2e2νδν, htϕ = r2δq0, hrr= 2e−2νδµ2, hrϕ = r2δq2, hzz = 2r2δµ3, hzϕ = r2δq3, hϕϕ= 2r2δψ. (3.7)

As demais componentes de hµν s˜ao feitas zero por uma escolha apropriada do gauge. Al´em disso, como no espa¸co-tempo de fundo q0 = q2 = q3 = 0, por simplicidade, ´e poss´ıvel renomear as quantidade em (3.7) de modo que δq0 = q0, δq2 = q2 e δq3 = q3.

As perturba¸c˜oes m´etricas q0, q2 e q3 possuem paridade ´ımpar frente `a troca de ϕ por −ϕ e por este motivo s˜ao chamadas de perturba¸c˜oes axiais (ou ´ımpares). Em contrapartida, as perturba¸c˜oes δν, δµ2, δµ3 e δψ representam perturba¸c˜oes pares frente `a invers˜ao anterior. Dessa forma, estas quantidades s˜ao chamadas de pertuba¸c˜oes polares (ou pares). Pertuba¸c˜oes polares e axiais s˜ao independentes entre si, de modo que ´e poss´ıvel estudar cada uma delas isoladamente. Do ponto de vista da teoria de grupos, estas duas classes de perturba¸c˜oes s˜ao representa¸c˜oes irredut´ıveis distintas frente ao grupo de transla¸c˜oes Euclidianas sobre o plano que cont´em a brana negra. Neste caso, as perturba¸c˜oes polares e axiais est˜ao ligadas aos setores escalar e vetorial da decomposi¸c˜ao das pertuba¸c˜oes, respectivamente.

As equa¸c˜oes para as perturba¸c˜oes m´etricas aqui descrita s˜ao obtidas por lineariza¸c˜ao das equa¸c˜oes de Einstein para a m´etrica (3.5) ap´os sua perturba¸c˜ao. O conjunto de equa¸c˜oes n˜ao nulas e independentes ´e apresentado a seguir:

1 2Q32,3− r 2e−2ν Q02,0 =  1 r + ν,2  δµ2,1+  1 r − ν,2  δν,1− (δν + δµ3),21 [δR(1)(2) = 0]; (3.8) Q23,2+ 2  1 r + ν,2  Q23− e−4νQ03,0= −2 1 r2e −2ν (δµ2+ δν),13 [δR(1)(3) = 0]; (3.9)  ∂r+  1 r − ν,2  (δψ + δµ3),0− 2 rδµ2,0 = −  1 r − ν,2  q0,1− q2,10+ 1 2Q20,1 [δR(0)(2) = 0]; (3.10) (δψ + δµ2),30= −q3,10+ 1 2Q30,1 [δR(0)(3) = 0]; (3.11) (δψ + δν,2),32−  1 r − ν,2  δν,3−  1 r + ν,2  δµ2,3 = −q2,31+ 1 2Q23,1 [δR(2)(3) = 0]; (3.12)

(39)

e−4ν∂t∂t−  1 r + ν,2 ∂r (δψ + δµ3) − 2 rδν,2− 1 r2e −2ν (δψ + δν),33+ 2 r  1 r + 2ν,2 δµ2 = 1 r2e −2ν [q3,13+ (δµ3+ δν),11] +  1 r + ν,2  q2,1− e−4νq0,10 [δG(2)(2) = 0]; (3.13) onde as componentes das perturba¸c˜oes acima foram projetas numa base tetrada apropriada [29] e as quantidades QA,B s˜ao definidas da seguinte maneira

QA,B = qA,B− qB,A (A, B = 0, 2, 3). (3.14)

As equa¸c˜oes (3.8)-(3.13) representam um conjunto acoplado de equa¸c˜oes para as per-turba¸c˜oes axiais e polares. Uma maneira de desacoplar esse sistema de equa¸c˜oes ´e limitar a an´alise somente ao conjunto de pertuba¸c˜oes que independem da coordenada ϕ. Para este caso, as equa¸c˜oes se separam em termos de quantidades puramente axiais

Q32,3− r2e−2νQ02,0= 0, Q23,2+ 2 1r + ν,2 Q23− e−4νQ03,0= 0    (3.15) e, puramente polares [∂r+ (r−1− ν,2)](δψ + δµ3),0− 2r−1δµ2,0 = 0, (δψ + δµ2),30 = 0, (δψ + δν,2),32− (r−1− ν,2)δν,3− (r−1+ ν,2)δµ2,3 = 0, [e−4ν∂t∂t− (r−1+ ν,2)∂r] (δψ + δµ3) − 2r−1δν,2 −r−2e−2ν(δψ + δν) ,33+ 2r−1(r−1+ 2δν,2)δµ2 = 0,                      (3.16)

permitindo um estudo independente de cada setor. Esta forma de estudar as perturba¸c˜oes, como foi dito, possui um gauge fixo de modo que perturba¸c˜oes polares se apresentam apenas na diagonal principal da matriz de perturba¸c˜ao. Por este motivo muitas vezes este m´etodo desenvolvido por Chandrasekhar ´e conhecido como: ‘O gauge diagonal de Chandrasekhar’

3.2.1 Pertuba¸c˜oes axiais

No estudo dessa classe de pertuba¸c˜oes, faz-se uso das equa¸c˜oes (3.15) para as quanti-dades q0, q2 e q3. Essas equa¸c˜oes podem ser reescritas da seguinte maneira

Referências

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