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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS INSTITUTO DE HISTÓRIA DA ARTE

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INSTITUTO DE HISTÓRIA DA ARTE

A PRESENÇA DA ORDEM DE CRISTO NA JOALHARIA HONORÍFICA BARROCA PORTUGUESA.

STUDY CASES DO ACERVO DO MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA.

Ana Alexandra Pereira Veríssimo

Dissertação de Mestrado em História da Arte e Património.

2019/2020

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS

INSTITUTO DE HISTÓRIA DA ARTE

A PRESENÇA DA ORDEM DE CRISTO NA JOALHARIA HONORÍFICA BARROCA PORTUGUESA.

STUDY CASES DO ACERVO DO MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA.

Ana Alexandra Pereira Veríssimo

Dissertação orientada pela Professora Doutora Teresa Leonor Magalhães Vale, especialmente elaborada para a obtenção do grau de Mestre em História da Arte e Património.

2019/2020

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4 A presente dissertação segue o novo Acordo Ortográfico.

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Ao meu filho e aos meus Pais.

À memória do meu Avô.

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“Tão velha como o próprio homem, a joia transporta consigo, do fundo dos tempos, conteúdos de autoridade, prestígio, riqueza ou distinção social, que são inerentes à raridade ou ao valor das matérias de que por via de regra se compõe.”

António Filipe Pimentel

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Agradecimentos

A dissertação que agora se apresenta, resulta de um trajeto nem sempre linear e que foi sendo construído através de um grande apoio e estímulo.

Cumpre-me manifestar o meu reconhecimento, à Professora Doutora Teresa Leonor Magalhães do Vale, orientadora da dissertação. A ela dirigimos o nosso profundo agradecimento, por todo o estímulo, rigor científico e metodológico, partilha de sabedoria, paciência e incondicional acompanhamento em todas as fases desta investigação.

Um agradecimento muito especial é devido à Dr.ª Luísa Penalva, conservadora das Coleções de Ourivesaria e Joalharia do Museu Nacional de Arte Antiga, ao seu colaborador Dr. André Afonso, e ainda ao Dr. Luís Montalvão, responsável pela Biblioteca e Arquivo do mesmo Museu, que muito gentilmente cederam toda a documentação analisada e imagens que, com a devida autorização, aqui se apresenta.

Uma palavra de agradecimento é igualmente devida ao Professor Doutor Gonçalo Vasconcelos e Sousa, pela troca de ideias e constante partilha de conhecimento; à Professora Doutora Ana Cristina Martins, afiliada do Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Faculdade Nova de Lisboa e Presidente da Academia Portuguesa de Ex-Libris e da Secção de Arqueologia da Sociedade de Geografia de Lisboa, e ao Doutor Vítor Escudero, da Academia Nacional de Belas Artes e da Real Academia de Belas Artes de Santa Isabel de Hungria (Sevilha), pela sua amizade e constante incentivo.

Ao Professor Miguel Cabral de Moncada e à Cabral Moncada Leilões, agradeço a ajuda prestada e a disponibilidade na cedência de imagens e sua publicação. De igual modo, agradeço à Leiloeira Palácio do Correio Velho, pela cedência de imagens e respetiva autorização da sua publicação.

Aos meus queridos amigos, Marta Pereira, Ricardo Silva, Sílvia Antunes e Raquel Cheganças.

Ao meu filho Miguel, pelo seu amor, carinho e paciência.

Aos meus Pais, pelo seu apoio e amor incondicional.

Um bem-haja a todos!

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Resumo

O estudo que em seguida se apresenta, propõe-se desenvolver uma reflexão sobre a importância das Ordens Monástico Militares, mais concretamente a da Ordem de Cristo, na produção de elementos de Falerística (Condecorações/Insígnias) na Joalharia Barroca Portuguesa, abordando-a no âmbito de um contexto socioeconómico e cultural.

Os objetos falerísticos, são pensados a partir da sua dimensão comunicante, suportes de mensagens e inscrições sociais, que se, por um lado, os tornam comunicadores por excelência, das mensagens não verbais, por outro, conferem ao corpo como à joia um estatuto especial dentro da realidade social do homem ocidental.

Essa dimensão comunicante será aprofundada, procurando explorar a temática do adorno, enquanto objeto de joalharia, no âmbito das artes decorativas, mas em particular da joia e a sua relação com o corpo, tanto numa perspetiva individual, da relação com o ser interior, como na relação com o exterior, com o outro e com o meio.

A joia como objeto de uso, portadora de símbolos e de significados, objeto de desejo, de contemplação e marcador de uma identidade desde tempos ancestrais. Mas também a joia como objeto que se projeta e que se constrói, no sentido de estar associada ao estatuto social, a uma linguagem hermética e simbólica, mas também, a uma nova exploração de formas e materiais, caraterísticos de uma época.

Palavras Chave: condecoração, insígnia, mérito, simbologia, moda.

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Abstract

The purpose of this study is to determine the importance of the Military Monastic Orders, more precisely the Order of Christ, in the production of phalleristic elements (decorations/insignias) within the Portuguese Baroque Jewelry. It will be considered within a socioeconomic and cultural context.

Phalleristic objects emerge from a communicative dimension, they are message carriers and social status identifiers, which reveal them both as communicators of nonverbal messages and as symbols of status within the social reality of the western man.

This communicative dimension will be broaden exploring its role as adornment, as a jewelry object, within the scope of decorative arts. The jewel is studied not only by investigating its relationship with the body, from an individual perspective, but also from its relationship with the inner being, and with the outside world, the other and its background.

Jewelry has been used as a bearer of symbols and meanings, object of desire, contemplation and marker of an identity since ancient times. But it is also an object which projects and constructs itself as marker of social status, providing a hermetic and symbolic language, exploring forms and materials, characteristic of an era.

Key Words: decoration, insignia, merit, symbology, fashion.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

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11 (…) = Palavras omitidas na transcrição

AAVV = Autores vários Act. = Ativo em

ADF = Arquivo de Documentação Fotográfica Cf. = Conferir

Cit. = Citado por

cm = Centímetro (medida de comprimento) CML = Cabral Moncada Leilões

Coord.= Coordenação Cx. = Caixa.

Dir. = Direção Doc. = Documento.

DGPC = Direcção-Geral do Património Cultural Ed. = Editor, Edição

Fig. = Figura

g. = Gramas (medida de peso)

Idem = o mesmo autor, ou mesma fonte literária ou documental.

Inv. = Inventário Lv. = Livro.

MNAA = Museu Nacional de Arte Antiga.

MNSR = Museu Nacional Soares dos Reis N.º = Número

Op. Cit. = Obra citada p(p). = Página(s)

PCV = Palácio Correio Velho Proc.º = Processo

S.D. = Sem data S/P = Sem página

Vide = Imperativo do verbo latino - vê Vol. = Volume

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ÍNDICE

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13 Página

Agradecimentos 7

Resumo 8

Lista de Abreviaturas 11

Índice 13 - 14

Índice de Anexos 16 - 17

CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO

1 - Conteúdos prévios 19 - 20

2 – Estado da Questão, Objetivos e Metodologia 21 - 24

CAPÍTULO II – A FALERÍSTICA

1 - As origens da Falerística: a sua evolução enquanto disciplina independente 26 - 31 2 - A importância das Ordens Monástico-Militares em Portugal 32 - 39

2.1 - A Ordem de Cristo 40 - 47

CAPÍTULO III - A JOALHARIA BARROCA PORTUGUESA

1 - O Barroco nacional: contexto histórico 49 - 52

1.1 - Influências internacionais, a moda e a arte 53 - 55

2 - O esplendor da Corte Portuguesa: a joalharia 56 - 62

2.1 - A joia e a sua construção simbólica: o corpo e a moda como meios de suporte 63 - 67 CAPÍTULO IV - STUDY CASES DO MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA

1 - Análise decorativa e estilística 69 - 70

1.1 - Datação e produção 71

1.2 - Elementos decorativos e articulados 71 - 73

1.3 - Autores e origem das encomendas 73 - 74

1.4 - Materiais, técnicas utilizadas e dimensões 75 - 77

1.5 - Função dos objetos 78 - 79

1.6 - Incorporação e estado de conservação 79 - 80

1.7 - A Insígnia, INV. N.º 878JOA/MNAA 81

2 - Breves considerações: o colecionismo de joias honoríficas 82 - 85

3 - A importância do retrato: fontes iconográficas 86 - 91

CAPÍTULO V - CONSIDERAÇÕES FINAIS 93 - 96

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14 BIBLIOGRAFIA

1 - Bibliografia 99 - 107

2 – Webgrafia 108 - 109

ANEXOS

1 – Fichas de Inventário 111 - 120

2 - Figuras 121 - 132

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ÍNDICE DE ANEXOS

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Página 1 – FICHAS DE INVENTÁRIO

Ficha n.º 1 - Insígnia da Ordem de Cristo, Museu Nacional de Arte Antiga Inv. N.º 66JOA. 111 - 112 Ficha n.º 2 - Insígnia da Ordem de Cristo, Museu Nacional de Arte Antiga Inv. N.º 719JOA. 113 - 114 Ficha n.º 3 - Insígnia da Ordem de Cristo, Museu Nacional de Arte Antiga Inv. N.º 770JOA. 115 Ficha n.º 4 - Insígnia da Ordem de Cristo, Museu Nacional de Arte Antiga Inv. N.º 775JOA. 116 - 117 Ficha n.º 5 - Insígnia da Ordem de Cristo, Museu Nacional de Arte Antiga Inv. N.º 878JOA. 118 Ficha n.º 6 - Insígnia da Ordem de Cristo, Museu Nacional de Arte Antiga Inv. N.º 904JOA. 119 - 120

2 – FIGURAS

Figura 1 e 2. Insígnia da Ordem de Cristo, Inv. 66JOA, MNAA. Vista geral e tardoz. ©

DGPC/ADF, Giorgio Bordino, 1991. 121

Figura 3 e 4. Insígnia da Ordem de Cristo, Inv. 719JOA, MNAA. Vista geral e tardoz. ©

DGPC/ADF, Giorgio Bordino, 1991. 122

Figura 5 e 6. Insígnia da Ordem de Cristo, Inv. 770JOA, MNAA. Vista geral e tardoz. ©

DGPC/ADF, Giorgio Bordino, 1991. 123

Figura 7 e 8. Insígnia da Ordem de Cristo, Inv. 775JOA, MNAA. Vista geral e tardoz. ©

DGPC/ADF, Giorgio Bordino, 1991. 124

Figura 9 e 10. Insígnia da Ordem de Cristo, Inv. 878JOA, MNAA. Vista geral e tardoz. ©

DGPC/ADF, Giorgio Bordino, 1991. 125

Figura 11 e 12. Insígnia da Ordem de Cristo, Inv. 904JOA, MNAA. Vista geral e tardoz. ©

DGPC/ADF, Giorgio Bordino, 1991. 126

Figura 13. Insígnia da Ordem de Cristo, Coleção D. Manuel de Souza e Holstein Beck, Conde da Póvoa (1932-2011), Leiloeira Palácio do Correio Velho, Leilão 284, Lote 69, 19 e 20 de junho de 2012. Vista geral. © Palácio do Correio Velho - Leilões e Antiguidades, S.A., 2012.

127 Figura 14. Insígnia da Ordem de Cristo, Coleção D. Manuel de Souza e Holstein Beck, Conde

da Póvoa (1932-2011), Leiloeira Palácio do Correio Velho, Leilão 284, Lote 97, 19 e 20 de junho de 2012. Vista geral. © Palácio do Correio Velho - Leilões e Antiguidades, S.A., 2012.

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17 Figura 15. Insígnia da Ordem de Cristo, Lote 100, Coleção D. Manuel de Souza e Holstein Beck, Conde da Póvoa (1932-2011), Leiloeira Palácio do Correio Velho, Leilão 284, Lote 100, 19 e 20 de junho de 2012. Vista geral. © Palácio do Correio Velho - Leilões e Antiguidades, S.A., 2012.

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Figura 16. Insígnia da Ordem de Cristo, Coleção D. Manuel de Souza e Holstein Beck, Conde da Póvoa (1932-2011), Leiloeira Palácio do Correio Velho, Leilão 284, Lote 103, 19 e 20 de junho de 2012. Vista geral. © Palácio do Correio Velho - Leilões e Antiguidades, S.A., 2012.

128 Figura 17. Insígnia da Ordem de Cristo, Cabral Moncada Leilões, Leilão 184, Lote 290, 12 de

dezembro de 2016. Vista geral. © Cabral Moncada Leilões / Vasco Cunha Monteiro. 129 Figura 18. Insígnia da Ordem de Cristo, Cabral Moncada Leilões, Leilão 189, Lote 839, 26 de

setembro de 2017. Vista geral. © Cabral Moncada Leilões / Vasco Cunha Monteiro. 129 Figura 19. Insígnia da Ordem de Cristo, Cabral Moncada Leilões, Leilão 195, Lote 529, 25 de

setembro de 2018. Vista geral. © Cabral Moncada Leilões / Vasco Cunha Monteiro. 130 Figura 20. Pintura, Retrato Miniatura. Retrato de Cavaleiro da Ordem de Cristo, Inv. 59Min,

MNAA. Vista geral. Autor desconhecido, século XVIII, cobre pintado a têmpera. Dimensões com moldura: 8,5x7,5x0,8 cm. Reserva. Casa Forte, gaveta III. Incorporado em 1915, através de doação. Oferta dos Amigos do MNAA. © DGPC/ADF, MNAA.

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Figura 21. Pintura, Retrato Miniatura. Retrato de Homem com a Ordem de Cristo, Inv. 126Min, MNAA. Vista geral. Autor desconhecido, século XVIII. Marfim pintado a têmpera, com moldura de bronze recortado, relevado e inciso. Dimensões com moldura: 12,5x7,7x1,7 cm.

Reserva. Casa Forte, gaveta VI. Incorporado em 1932, através de compra. © DGPC/ADF, MNAA.

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Figura 22. Pintura, Retrato Miniatura. Retrato de Senhor com Insígnia da Ordem de Cristo, Inv. 150Min, MNAA. Vista geral. Autor desconhecido, século XVIII, cobre pintado a óleo.

Dimensões: 8,7x7,2 cm. Reserva. Casa Forte, gaveta VII. Incorporado em 1934, através de compra. © DGPC/ADF, MNAA.

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CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO

1 – Considerações prévias

Aquando do registo do tema da nossa dissertação, foi o mesmo indicado como: A importância das Ordens Militares e da Falerística na Joalharia Barroca Portuguesa.

Study cases do acervo do Museu Nacional de Arte Antiga. No entanto, e como a investigação não é estanque, considerámos que fazia todo o sentido, e tendo em conta a potencialidade do acervo Falerístico do Museu Nacional de Arte Antiga, alterá-lo para: A presença da Ordem de Cristo na Joalharia Honorifica Barroca Portuguesa. Study cases do acervo do Museu Nacional de Arte Antiga.

A escolha do tema, surge no seguimento de trabalhos de investigação, realizados durante o 1.º ano do presente curso de mestrado, para os Seminários de Estudos das Artes Decorativas, Estudos da Arte do Maneirismo e Barroco e Peritagem de Obras de Arte.

É de salientar que esses mesmos trabalhos, foram fortemente influenciados pelos Seminários Internacionais de Falerística a que assistimos na Sociedade de Geografia de Lisboa, coorganizados pela Secção de Genealogia, Heráldica e Falerística e pela Secção de Estudos do Património, cuja temática nos apaixonou desde início.

Escolhido o tema da nossa dissertação, importou demarcar o seu alcance e definir a sua organização, que se efetua em quatro capítulos principais.

Um primeiro capítulo, corresponde à Introdução, nele definiremos os aspetos da organização e metodologia da nossa dissertação.

Optámos por subdividir o segundo capítulo em duas partes, correspondendo a primeira a uma breve síntese da origem e evolução da Falerística, analisando os motivos e fundamentos do seu aparecimento no Império Romano, a iconografia e os materiais usados. A segunda é consagrada à importância das Antigas Ordens Monástico-Militares, concretamente a Ordem de Cristo, não só pelo conjunto de peças existentes no acervo do Museu Nacional de Arte Antiga, que estudaremos, mas também pelo facto de ser a Ordem detentora de maior relevância no Antigo Regime.

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20 Um terceiro capítulo, dedicado à Joalharia Barroca Portuguesa, dividido em dois subcapítulos. O primeiro, composto por uma breve contextualização da Joalharia, no âmbito internacional, suas manifestações e influências, não só na arte como na moda. O segundo subcapítulo, direcionado ao esplendor da Corte Portuguesa, no que concerne à moda, joias e sua construção simbólica, e toda a produção esplendorosa e fantasiosa.

Neste cenário ostensivo, será nossa intenção destacar não só a extraordinária produção de peças de joalharia, aprimoramento de novas técnicas e conceções, audacioso vocabulário decorativo, fruto das influências europeias (francesas e italianas), mas de igual modo, a importância o papel da Família Real e da Nobreza que a rodeia.

No quarto capítulo, procederemos à descrição e análise detalhada dos objetos em estudo, recorrendo à observação dos mesmos, fichas de inventário, documentos auxiliares ao estudo de absoluta importância, e demais documentos que nos permitam obter o percurso das peças até à sua integração no acervo do Museu Nacional de Arte Antiga.

Efetuaremos também um breve apontamento sobre o colecionismo de joias honoríficas, enunciando a sua importância no próprio mercado de arte.

Finalizamos este capítulo, com um subcapítulo dedicado à importância do retrato, como fonte iconográfica primordial para a compreensão da produção de joalharia honorífica da época.

Será no último capítulo, dedicado às considerações finais, que demonstraremos as conclusões alcançadas, recuperando e realçando as ideias síntese, que emergiram ao longo de todo o nosso discurso. Nessas reflexões finais, procuraremos elencar tudo o que de novo emergiu na nossa investigação e o seu contributo no âmbito da História da Arte.

Terminaremos a nossa dissertação, com a indicação de todas as referências bibliográficas e webgrafia, consultadas ao longo da nossa investigação e estudo, bem como, com um anexo de imagens, que compõem o nosso study case e um anexo documental, ambos relacionados com a temática exposta.

Importa de igual modo referir, que iremos utilizar na redação da nossa dissertação, alguns textos de trabalhos de investigação, da nossa autoria, realizados durante o 1.º ano do presente curso de mestrado, resultantes de pesquisas já realizadas e de conclusões iniciais, devidamente aprofundadas e que serviram de motivação para a dissertação.

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2 - Estado da Questão, Objetivos e Metodologia

Apesar de já termos fundamentado, de uma forma genérica, a escolha do tema da nossa dissertação, no seguimento de trabalhos de investigação, realizados durante o 1.º ano do presente curso de mestrado, mas também pelos Seminários Internacionais de Falerística a que assistimos na Sociedade de Geografia de Lisboa, torna-se necessário respaldar a escolha dos study cases do Museu Nacional de Arte Antiga, mencionados no título da nossa dissertação.

Ao falarmos de Joalharia e Insígnias durante o período Barroco em Portugal, de imediato pensamos nos objetos pertencentes ao Tesouro Real do Palácio Nacional da Ajuda, no entanto, ao longo do 1.º ano do presente curso de mestrado, e nas referências bibliográficas já analisadas no âmbito da Joalharia, observamos, que a informação relativa a objetos falerísticos se encontra bastante dispersa e quase sempre integrada em estudos de joalharia generalistas.

Por conseguinte, decidimos eleger como objeto de estudo, um conjunto de peças (study case) de um acervo museológico específico, que nos permitisse agregar informação não só relativa à Ordem Monástico-Militar de Cristo, mas de igual modo à joalharia barroca.

A nossa escolha incidiu no Museu Nacional de Arte Antiga, que, de 23 de outubro de 2010 a 31 de dezembro de 2010, enquadrado no VI Encontro Europeu de Sociedades Falerísticas, o qual, realizado em Lisboa e comissariado pela Dr.ª Luísa Penalva e pelo Dr. Anísio Franco, integrou a exposição “Falerística nas coleções do MNAA”, onde se apresentava um grande conjunto de peças falerísticas do Museu.

Inicialmente apontamos a nossa investigação a objetos da Ordem de Cristo, Avis e Malta, demarcando o nosso universo de estudo. No entanto, à posteriori, e verificado o potencial do acervo falerístico do Museu Nacional de Arte Antiga relativamente à Ordem de Cristo, redirecionamos o nosso plano de trabalho e procedemos ao devido ajuste de conteúdos.

O facto de a coleção de joalharia se encontrar, à data do início da nossa investigação, em fase de reorganização e restauro, fez com que tivéssemos de solicitar,

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22 de forma antecipada, permissão e acesso a documentação digitalizada. A celeridade de resposta por parte do MNAA, o rápido acesso às imagens e fichas de inventário, a sua autorização e inclusão das mesmas na dissertação, permitiu, desde logo mapear todas as existências do acervo relativas a esta temática, destacando as mais proeminentes e fiéis ao discurso estilístico do Barroco. A consulta de documentos arquivísticos comprovativos das aquisições feitas pelo MNAA e dos montantes envolvidos, permitiu-nos traçar a nossa metodologia de trabalho e cimentar o nosso estudo.

Desta feita, de um universo de aproximadamente quarenta e oito objetos falerísticos inseridos no âmbito das artes decorativas, procedemos à seleção de seis, referenciados como pertencentes à Ordem de Cristo, modelos esses relevantes e diferenciados, tratados como “casos de estudo”, que iremos analisar, tentando traçar as suas características mais marcantes, enunciando as suas diferentes tipologias visuais e variações.

O início da nossa investigação, ocupar-se-á com a realização de o percurso histórico da Falerística, para melhor se compreender a produção das condecorações ao longo dos séculos, analisando a sua evolução enquanto disciplina autónoma.

No que concerne ao estudo da Falerística, não podemos deixar de mencionar Humberto Nuno de Oliveira, José Vicente de Bragança, Olímpio de Melo e Paulo Estrela, cujas obras elencaremos na Bibliografia já analisada e que nos permitiram perceber o seu aparecimento e evolução enquanto disciplina e ciência autónoma.

São estes autores que nos irão permitir perceber as diferentes aceções da palavra Condecoração e o seu significado, no ramo de saber que é a Falerística, temática essa que achamos necessário aludir para alcançarmos todo o conceito que resulta, de grosso modo, no ato de agraciar, distinguir e decorar com adornos.

A consequente interdisciplinaridade entre a Falerística, a História e a História da Arte, permitem-nos analisar os objetos falerísticos e a evolução da sua produção, bem como aferir o seu valor patrimonial, a sua simbologia e os seus significados estéticos.

Percorrendo um caminho paralelo ao da História da Arte, desde o Império Romano, aquando do aparecimento dos primeiros objetos de adorno, de âmbito militar, a Falerística ganha a sua independência enquanto disciplina, com a reestruturação das Antigas Ordens

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23 Militares e com o consequente aumento da sua produção artística, no entanto, é ao longo do período Barroco, séculos XVII, XVIII e posteriormente XIX, que a produção de joalharia de âmbito militar tem o seu apogeu.

A Ordem de Cristo (Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo), trata-se de uma instituição honorífica, monástico-militar criada pelo Rei D. Dinis no ano de 1319 e reconhecida pela bula Ad Ae exquibus do Papa João XXII (1249-1334), associada à Ordem do Templo aquando a necessidade de a reformar, adotando o mesmos hábitos e insígnia. Foi de vital importância na luta portuguesa contra os muçulmanos, durante os séculos XII e XIII, e ao longo da História, grandemente privilegiada pela Coroa Portuguesa.

Associada, a partir dos séculos XV e XVI ao Infante D. Henrique (1394-1460), que foi seu administrador e governador, e às viagens ultramarinas e consequentemente ao enaltecimento da Coroa Portuguesa na hegemonia dos mares e descobrimentos, a Cruz da Ordem de Cristo, começou por adornar os mastros das caravelas portuguesas, tornando- se um símbolo do império português e dos seus feitos.

O estudo da joalharia barroca, dentro ou fora do âmbito falerístico, analisa sociológica e economicamente uma sociedade em que o “ter e o parecer” refletem uma época opulenta e de aparato, onde os objetos decorativos desempenham uma função simbólica primordial, e é este um dos principais objetivos do nosso estudo.

A nossa dissertação, pretende de igual modo, ser um ensaio sobre a joalharia barroca, sob a perspetiva da Falerística, incorporando também a moda, sendo impossível dissociar a joia do traje e da perspetiva social que a mesma encerra.

Desta feita,outro grande intento, é o de realizar um estudo sobre joalharia que seja abrangente, por forma a compreender os diversos fatores que para ela contribuem, possibilitando que todos esses elementos sejam tidos em conta. No entanto, o grande propósito da nossa dissertação, é o de apresentar uma visão panorâmica da produção de objetos falerísticos no nosso país, durante o século XVII à centúria seguinte.

Apresentando novos dados e pertinentes reflexões que nos permitam aumentar o conhecimento existente sobre este género artístico em Portugal, para o período do Barroco.

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24 Analisando a importância da falerística, e da joalharia barroca e a sua consequente cumplicidade com a moda e a simbologia, numa sociedade meticulosamente estratificada, temos como propósito de investigação e estudo, e no caso concreto, recorrendo à análise de study cases do acervo do Museu Nacional de Arte Antiga, que mais adiante enumeraremos, estabelecer não só a importância da Ordem de Cristo, mas também analisar traços estilísticos, efetuar comparações entre outros objetos, compreender possíveis inovações ou influências, o seu valor artístico e estético, a sua funcionalidade e o seu contributo para a História da Arte.

Académico fundador da Academia Falerística de Portugal e um dos maiores estudiosos no âmbito da ourivesaria e joalharia barroca em Portugal, Gonçalo de Vasconcelos e Sousa, dá especial atenção à análise de joalharia honorífica, conforme podemos ver nas suas inúmeras publicações, amplamente conhecidas no meio académico, e que elencamos na nossa bibliografia, sendo que já nos serviram de suporte, nos trabalhos anteriormente mencionados.

Não podemos esquecer de igual modo Leonor D’Orey, outrora conservadora das coleções de Ourivesaria e de Joalharia do Museu Nacional de Arte Antiga, que na sua obra Cinco Séculos de Joalharia, explora a joalharia do Museu Nacional de Arte Antiga, dando especial enfoque aos objetos de adorno “típicos” do barroco.

Outro académico que se destaca nos seus estudos sobre a Honra e o seu esplendor é António Filipe Pimentel, ex-diretor do MNAA, cujos textos fomos conhecendo ao longo desta nossa investigação.

Outros nomes a salientar, são os de Nuno Vassalo e Silva e Madalena Bráz Teixeira, que focam o seu estudo numa visão mais generalista da Ourivesaria e Joalharia barroca, na sua importância social e como meio de expressão de poder.

É, fundamentalmente com estes autores, que vamos compreender todo o percurso da joalharia barroca em Portugal, observando os exemplos falerísticos referidos por ambos e passiveis de ser enquadrados ao longo da nossa investigação.

Esperemos que a apresentação da nossa dissertação constitua um passo definitivo, não só para um estudo mais aprofundado dos objetos de falerística barroca, mas também, no sentido de criação e compilação de informação específica e exclusivamente dedicada a essa tipologia de Joalharia, de grande importância para a História da Arte.

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26 CAPÍTULO II – A FALERÍSTICA

1 - As origens da Falerística: a sua evolução enquanto disciplina independente

O crescimento, estabilidade e expansão do Império Romano, dependeu sempre do esforço e sucesso contínuo das suas tropas. As suas qualidades de resistência e temperança, organização e treino de exceção, fizeram com que o Exército Romano tivesse um sucesso grandioso e fosse mencionado e referenciado ao longo dos séculos pela sua excelência.

A todo e qualquer soldado eram incutidos valores de lealdade e disciplina, e é com base nesses valores que surgem as primeiras referências às decorações militares, dona militaria (presentes militares)1. Desde o seu aparecimento no início da República Romana no século VI e até aos finais do período Bizantino, a forma de recompensar os militares os presentes militares foi evoluindo.

Essa necessidade de recompensar esforços militares, atos heroicos e outros feitos relevantes, fez com que houvesse uma necessidade de criar um sistema complexo de decorações funcionais. Esses “prémios”, atribuídos às Legiões e aos Centuriões, começaram a obedecer a uma estratificação, consoante o posto que o militar ocupava e consoante o ato heroico praticado.

Tais distinções romanas surgem, desde logo, muito bem definidas, “A phalera is a small disc, commonly of metal though sometimes of glass or paste, decorated to a greater or lesser degree, which was used in ancient world for a variety of different purposes.” 2

1 Cf. MAXFIELD, Valerie A., The Military Decorations in Roman Army, University of California Press,

Berkeley e Los Angeles, 1981, p. 14. Disponível em:

https://books.google.pt/books?id=Nuex2PW7QR0C&printsec=frontcover&hl=pt-

PT&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false. Acedido a 12 de novembro de 2018.

2 Cf. MAXFIELD, Valerie A., op. cit., p. 91.

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27 Os elementos iconográficos e a sua complexidade, bem como a nobreza dos materiais usados, permitem-nos analisar a valorização e reconhecimento do militar:

“Some appear to be completely plain flat discs, though it is highly unlikely that they were actually quite so stark. In some cases the appearance may be due to inferior workmanship and in others, where the sculpture is otherwise competently executed (…) Rosettes, lion- heads, bird-heads, heads of gods, goddesses and spirits of the underworld are common motifs.”3

“The size of these bronze plates varies between a maximum of 115mm diameter and a minimum os 86mm. (…) All of the literary allussions to phalerae imply or state that they were made of precious metals, silver or gold. Indeed originally they probably were, but the substitution of plated bronze for the pure metals is hardly surprising.”4

O ato de agraciamento a militares, isto é, a atribuição das primeiras condecorações, terá tido a sua origem com Lúcio Tarquínio Prisco (616 a 579 A.C.), o Antigo, quinto rei de Roma, que condecorou as suas legiões com as primeiras Phalerae5, constituindo um suporte ideológico fundamental no enaltecimento do valor dos militares, bem como do seu status social.

A tradição de recompensar serviços e atos históricos, perpetuada ao longo dos séculos, tornou-se inexoravelmente fundamental para o alicerçar da Falerística enquanto disciplina autónoma e independente da Numismática, encerrando em si, o conceito lato das condecorações e consequentemente das insígnias.

A reflexão teórica de autores como Attila Pandula, Kristian Turnwald e Oldrich Plic6, precursora de debates e análises críticas, permitiu em 1937 a definição do conceito de Falerística.

3 Cf. MAXFIELD, Valerie A., op. cit., p. 92.

4 Cf. MAXFIELD, Valerie A., op. cit., p. 95.

5Vide, Lucius Tarquinius Priscus. Disponível em:

https://en.wikipedia.org/wiki/Lucius_Tarquinius_Priscus. Acedido a 10 de novembro de 2018.

6 Cf. BRAGANÇA, José Vicente de, “A Falerística”, Academia de Falerística de Portugal, 2016, p. 2.

Disponível em: https://www.academia.edu/30053392/A_Faler%C3%ADstica. Acedido a 04 de fevereiro de 2020.

(28)

28 Após esta análise pragmática e sendo a Falerística, a ciência que se dedica ao estudo e classificação das condecorações7, torna-se de igual modo necessário, definir o conceito de condecoração. Mas como é que podemos definir uma condecoração? De um dicionário generalista consta a seguinte definição: insígnia de ordem honorífica ou militar.8 Oriunda da palavra em latim condecorare, encontramos a seguinte definição: decorar com adornos.9

A palavra condecorar, pode ser usada em três aceções diferentes. Numa primeira, que se verifica aquando da atribuição de uma distinção honorífica, feita pelo Estado (ou órgãos competentes), como recompensa de méritos e serviços. Numa segunda, em que o termo é associado a uma ordem ou corporação, e é identificado pela simbologia que lhe é inerente. E numa terceira aceção, em que se refere simplesmente ao ato de agraciar. 10

A Falerística, no que concerne à condecoração, poderá ser definida, em sentido amplo, como qualquer peça portável, em princípio metálica, que simboliza determinadas honras ou, preeminências, inerentes a uma distinção honorífica.11

Os “desenhos” das condecorações, as insígnias, apresentam um certo número de condicionantes, abrangendo preocupações práticas, circunstâncias históricas, perspetivas culturais, que conjuntamente com a diversidade de materiais usados, potenciaram o reforço da sua autonomia junto a disciplinas como a Medalhística e a já referida Numismática.

De forma coesa e consistente, as condecorações consagram-se em objetos decorativos, emblemáticos e portáveis, de utilidade e exposição social, dotados de simbologia estética específica, e narrativa visual que permitem o seu reconhecimento.

Muito semelhante à Heráldica, a Falerística faz-se usar de regras específicas, com princípios base para a criação de objetos: simplicidade do desenho, simbolismo (das

7 Idem, pp. 3-4.

8 Vide, Dicionário Priberam. Disponível em: https://dicionario.priberam.org. Acedido a 10 de novembro de 2018.

9 Cf. BRAGANÇA, José Vicente de, op. cit., p. 3.

10 Idem, pp. 3-4.

11 BRAGANÇA, José, ESTRELA, Paulo, OLIVEIRA, Nuno (coord.), The Great War in Phaleristics - I International Colloquium – Proceedings, Lisboa, Academia de Falerística de Portugal, 2014, cit. por BRAGANÇA, Op. cit., p. 3.

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29 imagens e cores), limitação do uso de cores (cores básicas que não se devem sobrepor), originalidade (representações únicas e que se destaquem).

No que concerne às cores, encontramos duas, denominadas por metais12 e cinco outras, com a seguinte simbologia:

- Metal Ouro: como símbolo de nobreza, poder e riqueza;

- Metal Prata (branco): simbolizando a pureza, firmeza e obediência;

- Cor vermelha: com a simbologia de fortaleza e vitória;

- Cor azul: usada para simbolizar a caridade, beleza, lealdade e justiça;

- Cor verde: como símbolo de esperança, fé, bons serviços prestados e liberdade.

- Cor purpura: como símbolo da justiça, grandeza e sabedoria;

- Cor preta: simbolizando a prudência, temor e cuidados humanos.

Relativamente aos materiais, encontramos uma referência pertinente, que muito explica o uso de certos materiais nos objetos de joalharia falerística, ao longo do século XVIII: “Com o final da Guerra da Independência e a chegada do ouro e pedras do Brasil, assistiu-se a um progressivo enriquecimento das insígnias das Ordens, que foram sendo mais ricas e fantasiadas ao longo do século XVIII, ao sabor da imaginação dos ourives e da fortuna dos novos agraciados.”13

Convém mencionar, que as reformas de D. Maria I, e o seu desejo de acabar com o abuso das ostentações honoríficas, fez com que a falerística procurasse novas soluções para os materiais usados, que se queriam com aparência nobre e rica. Sem sombra de dúvida que a Rainha Maria I foi responsável por uma grande mudança no que toca à Falerística portuguesa, tendo convertido as três principais Ordens Militares e Religiosas em Ordens de Mérito, a 10 de junho de 1789. No entanto, os Cavaleiros portugueses ainda tinham de professar certos votos menores, como é o caso da temperança e da fidelidade conjugal14.

12 Vide, Heráldica Portuguesa. https://www.armorial.net/armorial/esmaltes.shtml. Acedido a 11 de novembro de 2018.

13 ESTRELA, Paulo Jorge, Ordens e Condecorações Portuguesas 1793-1824, Lisboa, Tribuna da História, 2008, p. 10.

14 Cf. TRIGUEIROS, António e TAMMAN, Gustav, The Three Portuguese Military Orders of Knighthood, Nova Jersey, OMSA Medal Notes Edition, 1997, p. 3. Disponível em:

https://www.academia.edu/32009292/TAMMANN_Gustav_A._TRIGUEIROS_Antonio_Miguel_-

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30 A soberana foi também responsável de introduzir as Grandes Cruzes como sendo a classe mais alta das três comendas: Grande Cruzes, Comandantes e Cavaleiros.

No entanto, a tradição do uso de Cruzes em Portugal remonta às antigas Ordens Militares Medievais tendo estas evoluído para as Ordens de Cavalaria e Mérito, sendo atualmente apenas Ordens Honoríficas. Estas ordens traduzem-se em Condecorações e Medalhas Militares e Civis, sendo as mais altas honras dadas pelo Governo Português.

Serão estas Condecorações e Medalhas os principais objetos de estudo da Falerística15. São assim três, as principais Ordens honoríficas existentes em Portugal, e que passamos agora a apresentar.

A primeira, mais reconhecida e importante Ordem portuguesa é a Ordem de Cristo.

Com origem direta na conhecida Ordem Militar de Nosso Senhor Jesus Cristo, esta nobre e antiga ordem religiosa foi instituída em 1319, pelo Rei D. Dinis, tendo sido responsável pela sucessão da Ordem dos Cavaleiros Templários16, Ordem estabelecida em Portugal com o intuito de reconquistar o território aos muçulmanos. Em adição a Ordem de Cristo teve um papel muito importante nos descobrimentos, nomeadamente no que toca à envangelização das terras que iam sendo conquistadas.

Até à reforma das Ordens levada a cabo pela Rainha D. Maria I, todos os monarcas portugueses eram retratados usando a Insígnia da Ordem de Cristo. A secularização da ordem dá-se em 1834, tendo sido extinta em 1910 com o fim da monarquia e o início da República. No entanto, esta foi novamente restabelecida, em 1918, como sendo, então, a principal ordem de honra portuguesa, atribuída tanto a cidadãos nacionais como cidadãos estrangeiros17.

Esta ordem é facilmente identificável pela simplicidade do seu distintivo: uma cruz latina, pátea, dita “Cruz de Cristo”, de vermelho, perfilada de ouro, carregada de uma cruz latina de branco18.

_The_Three_Portugese_Military_Orders_of_Knighthood_-_A_Guide_for_Collectors_1997_. Acedido a 18 de fevereiro de 2020.

15 Cf. FRANCO, Anísio, PENALVA, Luísa, (coord.), Exposição Falerística nas colecções do MNAA, Lisboa, MNAA, 2019, p. 2.

16 Cf. TRIGUEIROS, António e TAMMAN, Gustav, op. cit., p. 4.

17 Idem, p. 4.

18 Cf. FRANCO, Anísio, PENALVA, Luísa, (coord.), op. cit., p. 2.

(31)

31 A segunda ordem honorífica portuguesa é a Ordem de Avis, concedida exclusivamente a Oficias da Instituição Militar, sendo esta honra concedida desde a reforma de 1789, levada a cabo pela Rainha D. Maria I. A sua origem remonta à antiga Ordem militar de S. Bento de Aviz, um dos braços da antiga ordem militar do Reino de Castella, a Ordem de Calatrava.19

Atualmente, o seu distintivo é bastante simples, fazendo jus às suas simples origens medievais, onde apenas era uma cruz bordada nos mantos dos seus cavaleiros- monges: uma cruz florida, de verde, perfilada de ouro.

Por fim apresenta-se a Ordem de Santiago da Espada. Com origem também nas ordens monásticas-militares, nomeadamente, na Ordem de Santiago, do Reino de Leão, que representou um importante papel na Reconquista da Península Ibérica. À semelhança das duas ordens anteriormente apresentadas, esta também passou pela reforma levada a cabo por D. Maria I em 1789, tendo sido extinta em 1910 e recuperada em 1918.

O seu distintivo tem como base a cruz em forma de espada, vermelha e perfilada de ouro, onde se pode ler a legenda a ouro “Ciências, Artes e Letras, sobre um listel de branco, revelando as áreas que esta ordem de honra agracia.

19 Cf. TRIGUEIROS, António e TAMMAN, Gustav, op. cit., p. 7.

(32)

32

2 - A importância das Ordens Monástico-Militares em Portugal

“As Ordens Monástico-Militares são os organismos guerreiros de carácter permanente da Idade Média, cuja existência em Portugal se prolongou pela Idade Moderna, ainda com características semelhantes às que lhes foram doadas a quando da sua fundação.

Foram criadas para combater os inimigos da Fé, parecendo que foi a já existência de instituições semelhantes entre os árabes que levou os cristãos a fundá-las. Tendo tido origem na Palestina, rapidamente se desenvolveram na Península Hispânica, onde se tornavam em extremo necessárias. Constituíam a guarda fiel, a cobertura vigilante das fronteiras, quer nos períodos de paz, sempre aparente, quer na acesa guerra.” 20

Neste ponto urge, então, falar da história das Ordens Monástico-Militares em Portugal, mas também explicar um pouco a história destas e os motivos do seu aparecimento e desenvolvimento no mundo.

Durante a Idade Média, foram várias as novas ordens religiosas que se desenvolveram no Médio Oriente, mais precisamente na Palestina, assim como em toda a Europa Latina, onde Portugal se incluía, para a defesa de terras cristãs, não com as típicas armas monásticas, onde se incluíam a oração e o jejum, mas sim com espada e lança. Posteriormente, conhecidas como Ordens Militares, desenvolveram-se, juntamente com os caritativos e os mendigos como um importante subconjunto da vida religiosa da época.

As Ordens Monástico-Militares fundadas, a partir do século XII, tinham como principal objetivo a luta contra os muçulmanos e a defesa de lugares santos do

20 CARDOSO, Avelino Barbieri de Figueiredo Baptista, As Ordens Monástico-Militares em Portugal, (Separata de Infantaria), Lisboa, 1958, p. 3.

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33 Cristianismo, de protegerem e assistirem as populações e os peregrinos, e também de colonizarem as terras que eram conquistadas aos islâmicos21.

Constituídas por monges guerreiros, numa dicotomia entre a oração e a guerra, dois polos aparentemente opostos, estas Ordens encontraram uma ponte entre a luta e a defesa dos preceitos religiosos. À luz do pacifismo inerente ao cristianismo, da prevalência dos movimentos de paz contemporâneos e das proibições canônicas contra derramamento de sangue ou mesmo o porte de armas por parte do clero, a gênese dessa variante da vida religiosa é um assunto fascinante.

Uma nova forma de vivência surgia, na qual o monge se convertia em cavaleiro.

No entanto, há que reconhecer que, para defender o Cristianismo, era impossível aos membros da Ordem alhearem-se de forma absoluta do mundo que o rodeava, usando a sua condição de soldado ao serviço dos ideais de expansão cristã e da defesa da fé. Todos os militares de fé viviam sobre a observância das chamadas “Regras”, que determinavam a sua conduta diária, sendo sujeitos a um grande número de restrições que definiam o seu modus vivendi. 22.

A teoria de uma guerra justa surgiu bastante antes do próprio Cristianismo, havendo desde cedo uma preocupação de encontrar a moralidade nas armas, como forma de justificar o uso da violência. No final do século XI, a criação das Ordens Religiosas- Militares atingiu o seu auge, tendo como referência a ideia das Cruzadas e os militantes ao serviço de Cristo no combate ao Islão, que radicou desde sempre, no direito de ocupação de territórios, cristianizando-os em nome da fé, recorrendo ao poder da guerra e das armas. Em novembro de 1095, durante o Concílio de Clermont-Ferrand, o Papa Urbano II (1042-1099), incitou os cristãos a uma guerra santa, convocando-os a empreenderem campanhas militares contra os muçulmanos, por forma a expulsá-los de Jerusalém. Deste modo, foi a própria Santa Sé que se assumiu como responsável por organizar e direcionar estas expedições, tendo, em 1096, os guerreiros cristãos chegados a Constantinopla e conseguido entrar no Oriente23.

21 Cf. DEMURGER, Alain, Chevaliers du Christ, Les ordres religieux-militaires au Moyen-Âge, XI-XVI, Paris, Seuil, 2002, pp. 27.

22 Idem, p. 28.

23 Cf. RAMOS, Luis Garcia-Guijarro, “Reforma eclesiástica y renovación espiritual”, in ALVAREZ PALENZUELA, Vicente Angél, (coord.), História Universal de la Edad Media, Barcelona, Ariel, 2002, pp. 437-442.

(34)

34 É apenas no Concílio de Clermont-Ferrand que a noção de Cruzada é finalmente formalizada, no entanto o seu princípio já estava perfeitamente enraizado na sociedade cristã da altura, estando associado a uma prática espiritual de sacrifício e de risco, que a

“regra” ajudava a materializar, bem como a ideia de que o cristão lutava por um mundo melhor e consequentemente contra a ameaça islâmica. Estava assim subjacente, a ideia da necessidade de um combate efetivo e não apenas uma ação contemplativa, tão típica dos monges. Há que ter em consideração a base do ideário da altura, conferindo às Cruzadas, fundamento moral, ideológico e também jurídico, sempre com o intuito de consolidar o Cristianismo e combater o Islão, sendo que para tal foram vários os reis e príncipes cristãos que se envolveram nestas empreitadas.

O ato de matar os inimigos de Cristo não era encarado como sendo um pecado, indo mesmo contra a um dos principais mandamentos cristãos, sendo perfeitamente justificado pela necessidade de eliminar a ameaça islâmica, e considerado até meritório.

Ao mesmo tempo, as Cruzadas assumiram o carácter de uma peregrinação especial, sendo que, ao participar nestas expedições militares, os peregrinos poderiam receber uma indulgência ou ainda a remissão de penitências temporais associadas aos seus pecados24.

À medida que as Cruzadas iam eliminado a ameaça islâmica e que, imbuídos de confiança e de amor a Cristo, o número de peregrinos na Terra Santa ia aumentando, a Igreja sentia-se na obrigação de promover a sua proteção. Apesar da Primeira Cruzada ter eliminado de forma temporária a ameaça do controlo muçulmano da Terra Santa, essa área propriamente dita permaneceu relativamente desprotegida, uma vez que maioria dos cavaleiros voltou para as suas terras de origem após o término das campanhas militares e a população de colonos cristãos a Jerusalém, e ao longo da costa palestiniana do mediterrâneo a área ser insuficiente para fornecer proteção adequada aos peregrinos25.

Foi no ano de 1120, que um grupo de cavaleiros, liderados por Hugh de Pavens (1070-1136), tomou a decisão de criar uma vocação, uma ordem religiosa, mas também militar, para proteger os peregrinos que faziam o seu caminho para visitar não só a Terra Santa, como outros lugares sagrados. Nascia assim, a famosa Ordem do Templo, com

24 Cf. AYALA MARTÍNEZ, Carlos de, Las Ordenes Militares hispânicas en la Edad Media (siglos XII- XV), Madrid, Marcial Pons, 2003, pp. 19-20.

25 Cf. BUMKE, Joachim, “The Concept of Knighthood in the Middle Ages”, AMS Studies in the Middle Ages, N.º 2, Nova York, AMS Press, 1982, p. 268.

(35)

35 residência na cidade de Jerusalém, tendo ficado conhecidos como Templários, nome que deriva do facto de estes residirem numa área de Jerusalém que se acreditava ficar perto do antigo Templo de Salomão26.

Podemos considerar que a Ordem do Templo, fundada por volta de 1119, foi, então, o protótipo das Ordens Religiosas Militares, para proteção dos peregrinos na Terra Santa.

A pedido de Hugh de Pyens, Bernardo de Claraval escreveu um elogio dos templários, o Liber ad milites templi de laude novae militiae (Em Louvor da Nova Ordem), onde justificava a ideia de criação de uma ordem religiosa militar, demonstrando a possibilidade de conciliar e unir a prática militar com a prática religiosa, sendo que este novo tipo de cavaleiro cristão era, na prática um novo tipo de monasticismo27.

Hugh de Payens instituiu os Templários tendo o objetivo de criar um exército de soldados-monges, cujos deveres militares eram guiados por elementos marcadamente espirituais e cristãos, encarnando, deste modo, os mais altos ideais de uma cavalaria cristã, composto por militantes que haviam professado votos de castidade e de obediência, seguindo a sua vida espiritual de acordo com os mais profundos cânones cristãos28.

O movimento dos Templários evoluiu, aparentemente, da espiritualidade e da ideologia associada às Cruzadas. Já mencionado anteriormente, a jornada dos cruzados era vista como uma nova peregrinação, como um processo de penitência, onde estavam presentes aspetos como a oração, o jejum, a mortificação e a abnegação, elementos estes que foram incorporados à espiritualidade dos templários29.

Estabeleceu-se, deste modo, a Regra Templária, que acabou por ser desenvolvida para orientar o estilo de vida dos seus membros, incluindo elementos da Regra Beneditina com aspetos particulares da espiritualidade e prática cisterciense30.

Nesta nova Regra muita influência teve o já referido Bernard de Claraval, um adepto convicto dos Templários, que empreendeu todos os esforços na criação de uma nova ordem de monges guerreiros. A influência desta personagem no desenvolvimento

26 Cf. LICENCE, Tom, “The Military Orders as Monastic Orders”, in AAVV, Crusades. Society for the Study of the Crusades and the Latin East Journal, Vol. 5, Aldershot, Ashgate Publishing, 2006, p. 42.

Disponível em: https://www.academia.edu/2202690/_The_Military_Orders_as_Monastic_Orders.

Acedido a 15 de fevereiro de 2020.

27 Idem, pp. 42-43.

28 Cf. RICHARDSON, Helen, A Brief History of the Knights Templar, Londres, Running Press, 2014, p.

93.

29 Idem, p. 93.

30 Cf. RICHARDSON, Helen, op. cit., p. 94.

(36)

36 tanto da Ordem como da Regra não deve ser subestimada, sendo que este já tinha visionado a ideia de guerreiros religiosos com a criação da Ordem Cisterciense, tendo passado essa ideia a Hugh de Pavens, e seus irmãos31.

É apenas em 1139, pela mão do Papa Inocêncio II (1081-1143) e da sua bula Omne Datum Optimum, que a regra e a ordem dos Templários foi, efetivamente, aprovada, respondendo, diretamente ao Papa, fugindo, ao controlo dos Bispos. Através desta bula, estes cavaleiros estavam isentos da legislação local, podendo passar livremente através das fronteiras nacionais, não sendo obrigados a pagar qualquer tipo de imposto, ou sujeitos a qualquer tipo de autoridade, exceto, e como já foi referido, à autoridade Papal.

Uma explicação para tal situação seria a necessidade de angariação de grandes somas de dinheiro para que fosse possível a criação de uma rede muito para lá das fronteiras nacionais, ou seja, um modo que o próprio Papa encontrou em assegurar que os Cavaleiros tivessem os recursos suficientes para alcançar esse objetivo. Apesar do voto de pobreza incluído na Regra dos Templários, a Ordem começou a adquirir terras e a juntar várias somas de dinheiro, tornando-se cada vez mais poderosa32.

Dentro da hierarquia da Ordem dos Templários, apenas os cavaleiros professavam votos permanentes, a sua importância dentro da ordem era constituída por vários níveis de importância nos quais se destacavam os cavaleiros de nascimento nobre, sargentos não nobres, capelães (clérigos) que não podiam lutar com armas, e, abaixo destes todos, os seus servos33.

Em 1146, época da Segunda Cruzada, os Templários cimentaram a sua posição como importantes cavaleiros religiosos, cujo compromisso era de proteger, de forma permanente os mais lugares santos34. Estes continuaram a sua atuação na Terra Santa até meados de 1291, altura em que a cidade de Acre, principal porto de entrada na Palestina, caiu nas mãos dos muçulmanos. No entanto, só em 1321 é que estes acabaram por ser suprimidos, por ordem do Papa Clemente V (1264-1314).35

31 Cf. WOJTOWICZ, Robert, The Original Rule of the Knights Templar: A Translation with Introduction, Dissertação de Mestrado em Arte Medieval, Western Michigan University, Kalamazzoo, 1991, p. 6.

32 Cf. AYALA MARTÍNEZ, Carlos de, Las Órdenes Militares en la Edad Media, Madrid, Arco Libros, 1998, p. 32

33 Cf. RICHARDSON, Helen, op. cit., p. 81.

34 Cf. AYALA MARTÍNEZ, Carlos de, Las Órdenes Militares en la Edad Media, (…), p. 41.

35 Idem, p. 42.

(37)

37 O que começou por ser um caminho de misericórdia e ajuda ao próximo, perdeu-se junto com as conquistas e consequentes saques, fazendo com que os cavaleiros começassem a perder de vista alguns dos seus princípios fundadores. O constante acumular de riquezas, fez com que os Templários tivessem um significativo envolvimento com a banca, e não é por isso de estranhar, que as suas sedes fossem fortificações maciças.

Na verdade, a sua riqueza pode ter sido a sua ruína. Apesar da tentativa dos Templários se fundirem com os Cavaleiros Hospitaleiros, após o fim das Cruzadas, os seus ativos foram confiscados por Filipe IV de França, e os seus líderes executados como hereges, após a sua recusa em lhe fornecer empréstimos36.

Desta ação, os Templários deixaram de ser reconhecidos em quase todo o mundo cristão da época, exceções feitas para a Escócia, para onde se acredita terem fugido e também para Portugal, países que nunca deixaram de reconhecer a ordem37.

Em grande parte, o fenomenal crescimento da Ordem dos Templários, contribuiu para o aparecimento de outras Ordens, devido, em grande parte, à grande influência que era atribuída aos monges militares. Uma dessas ordens foi a Ordem de Malta ou dos Cavaleiros Hospitalários (oficialmente conhecida por Ordem Soberana e Militar Hospitalária de São João de Jerusalém), que deve o seu nome ao cuidado prestado aos doentes e aos peregrinos, tendo assumido uma parte da responsabilidade pela defesa militar da Terra Santa38.

Os Cavaleiros Hospitalários, também conhecidos como Cavaleiros de São João têm a sua origem numa irmandade que servia os peregrinos pobres ou doentes da cidade de Jerusalém, tendo começado o seu trabalho cerca de vinte e cinco anos antes da Primeira Cruzada, num mosteiro beneditino, perto do Santo Sepulcro, onde tanto os monges como os Cavaleiros de São João, seguiam a Regra Beneditina39.

Depois da Primeira Cruzada, os Cavaleiros de São João receberam várias terras na zona do Levante, zona situada na costa oriental do Mediterrâneo, entre a Grécia Ocidental e o Egito Ocidental, que incluía rotas importantes de peregrinação, tendo estabelecido

36 Idem.

37 Cf. DESMOND, Seward, The Monks of War: The Military Religious Orders, Hamden, Archon Books, 1972, p. 118.

38 Cf. RILEY-SMITH, Jonathan, The Knights of St. John in Jerusalem and Cyprus, Londres, Macmillan, 1967, p. 21.

39 Cf. RILEY-SMITH, Jonathan, op. cit., p. 30.

(38)

38 nessas terras várias casas. Além destas localizações, também tinham representações em várias cidades portuárias de Itália e do sul de França, de onde os peregrinos partiam normalmente40.

Em 1113, os Cavaleiros de São João receberam um alvará papal, atribuído por Pascoal II, estabelecendo-os como uma ordem única, a ser supervisionada pelo seu próprio mestre e à semelhança dos Templários, responsável apenas perante ele.

Inicialmente com um carácter caritativo e sem pretensões militares, dedicavam-se apenas à esmola e ao cuidado dos peregrinos, em 1123, e devido à falta de escassez de cavaleiros cristãos na Terra Santa, acrescentaram à sua missão o elemento militar, protegendo e servindo os peregrinos e também prestando assistência militar à nobreza local contra os ataques islâmicos41.

A partir do ano de 1130, tendo os Cavaleiros da Ordem de São João iniciado a construção e a defesa de castelos fortificados em toda a Terra Santa, começaram a assemelhar-se ao modelo da Ordem dos Templários, com divisões de serviço para clérigos, cavaleiros, sargentos e servos. E tal como os Templários, os Cavaleiros de São João eram vistos como religiosos que faziam votos de castidade, pobreza e obediência, seguindo, sempre que possível, a rotina diária de um mosteiro. Esta ordem trouxe uma novidade relativamente aos Templários, admitindo, pela primeira vez, mulheres, que tinham aposentos separados dos monges42.

Em 1141 mudaram a sua sede para um castelo situado num planalto alto situado no que hoje é a Síria, tendo sido obrigados a retirarem-se de Jerusalém no ano de 1187. Com a queda da já referida cidade de Acre, e principal porto palestiniano, e com a destruição dos últimos reinos cristãos na Terra Santa, a Ordem estabeleceu-se em Chipre e mais tarde, em 1398 na Grécia, mais precisamente em Rodes. Esta ordem dura até aos dias de hoje, tendo uma função caritativa e de solidariedade social43.

Após a criação destas duas Ordens, que marcaram a origem das Ordens Monástico- Militares, várias ordens religiosas militares foram fundadas na Península Ibérica, com o mesmo propósito, o de travar a expansão muçulmana no território ibérico.

40 Cf. RILEY-SMITH, Jonathan, op. cit., p. 51.

41 Cf. RILEY-SMITH, Jonathan, op. cit., p. 117.

42 Cf. RILEY-SMITH, Jonathan, op. cit., p. 24.

43 Cf. RILEY-SMITH, Jonathan, op. cit., p. 294.

(39)

39 Resumidamente, as ordens hispânicas foram modeladas segundo a imagem dos Templários e dos Cavaleiros de São João e refletiam muito claramente a influência de São Bernardo.

A primeira das ordens peninsulares, Calatrava, fundada em 1158, estava diretamente afiliada à Ordem de Cister e era de fato um braço militar dessa ordem. Os cavaleiros Leoneses de Alcântara, a Ordem Portuguesa de Aviz, e os cavaleiros Aragoneses de Montesa eram filiados de Calatrava e, portanto, de Cister.

A Ordem Portuguesa de Cristo, embora não estando sob a dependência de Calatrava, adotou os seus costumes. Assim, todas as grandes ordens Ibéricas, com exceção dos cavaleiros de São Jorge (de Santiago de Compostela), que seguiam a Regra de Santo Agostinho, pertenciam à observância cisterciense44.

Para Portugal estas Ordens tiveram uma especial importância, sendo que estas se confundem com a própria história do país, nomeadamente na fundação da monarquia e recuperação territorial. Aos monges-guerreiros das ordens portuguesas coube o dever de disputar lutas sangrentas e constantes durante a dinastia afonsina, na defesa dos habitantes do território e libertação do poder dos muçulmanos das terras que estes tinham conquistado, lutando tanto por mar como por terra, de acordo com o que se pode ler em várias Bulas Papais45.

As Ordens Militares Religiosas, em Portugal, sempre se constituíram como um instrumento ao serviço do poder, fomentando e estreitando vínculos e alianças, baseadas em dependência e lealdade, devendo unir os súbitos ao seu monarca e favorecendo a paz e a estabilidade públicas. Ao mesmo tempo, estas ordens contribuíram para desenvolver a estratificação social, servindo, deste modo a orientação ao nível disciplinar, característico do pensamento da Idade Média46.

44 Cf. AYALA MARTÍNEZ, Carlos de, Las Órdenes Militares en la Edad Media, (…), p. 41.

45 Cf. COIMBRA, Álvaro da Veiga, “Ordens Militares de Cavalaria em Portugal”, Revista de História da Universidade de São Paulo, Vol. 26, N.º 53, São Paulo, 1963, p. 21-33. Disponível em:

http://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/121849/118696. Acedido a 27 de fevereiro de 2020.

46 Cf. PIMENTEL, António Filipe, As Ordens Militares em Portugal e no Sul da Europa, Lisboa, Edições

Colibri, 1997, p. 476. Disponível em:

https://eg.uc.pt/bitstream/10316/85036/1/As%20ordens%20militares.pdf. Acedido a 08 de janeiro de 2020.

(40)

40

2.1 - A Ordem de Cristo

Antes de abordarmos a importância da Ordem de Cristo em Portugal, temos indubitavelmente de falar na Ordem Militar que a antecedeu e deu origem, e que se consagrou como fundamental para a perceção das Ordens Militares como instrumentos de poder.

A Ordem Militar do Templo, fundada em França, no ano de 1118, no contexto da realização do Concílio de Naplus, foi uma das mais conhecidas ordens militares da Europa Cristã medieval, criada para proteger os movimentos de peregrinação aos Lugares Santos do Cristianismo no médio oriente sob ascendência crescente do poderio de confissão islâmica.47

Nascidos na dependência dos Cónegos do Santo Sepulcro, rapidamente se autonomizaram com a liderança do seu primeiro Grão-Mestre, Huges de Payns (1070- 1136), distinguindo-se dos demais pelo manto branco, onde assentava uma cruz latina vermelha.

Os Templários, associaram à sua consagração religiosa pela profissão dos conselhos evangélicos de Pobreza, Castidade e Obediência, o compromisso de entregar a sua vida em favor da proteção dos peregrinos e da defesa da Cristandade contra a ameaça do poder islâmico que afrontava os cristãos. 48

A Ordem do Templo entra em Portugal entre 1125 e 1127, juntamente com outras ordens militares como a de Santiago, a de Calatrava, a do Hospital e a de Avis, com o propósito de cooperar com os exércitos reais e auxiliar os reis e senhores da Cristandade nas cruzadas contra os infiéis e acima de tudo, na reconquista dos territórios de antigo domínio cristão, entretanto conquistados pelos muçulmanos.

Funcionando como uma espécie de tropa de elite bem treinada e altamente motivada, a sua participação em batalha era determinante, motivo pelo qual os seus

47Vide, Ordem de Cristo e o Convento de Tomar. Disponível em:

https://digitarq.arquivos.pt/details?id=4251169. Acedido a 07 de janeiro de 2020.

48 Cf. CARDOSO, Avelino Barbieri de Figueiredo Baptista, op. cit., p. 4. Ordem de Cristo e o Convento de Tomar. Disponível em: https://digitarq.arquivos.pt/details?id=4251169. Acedido a 07 de janeiro de 2020.

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41 serviços foram ao longo dos anos largamente recompensados com a atribuição de bens, nomeadamente terras, castelos e outras regalias, que as tornaram poderosas e influentes49. Em 1127, a Ordem do Templo recebe de D. Teresa de Leão a sua primeira propriedade no Minho, à qual se somaram muitas outras de norte a sul do território Português, com especial incidência entre o Mondego e o Tejo. No ano de 1160, a Ordem do Templo fixa- se em Tomar e em 1164, D. Gualdim Pais, Grã-Mestre da Ordem funda o Convento de Tomar. Face a todo o auxílio prestado à Coroa Portuguesa e a todos os privilégios concedidos, depressa a Ordem dos Templários se tornou abastada e poderosa, obtendo em 1158, por exortação papal, imunidade e proteção real para todos os elementos da Ordem. 50

Findos os combates em Jerusalém e tendo sido a Palestina reconquistada aos muçulmanos, os Templários recolheram à Europa. Apesar dos estados da Península Ibérica terem sido uma exceção, muitos países testemunharam o abuso de poder dos elementos da Ordem e as suas ostentações, não obstante destes terem sido sempre caridosos com os mais pobres e financiadores dos monarcas que rodeavam.51

Em 1308, liderado por Filipe IV (o Belo) (1268-1314), com conivência do Papa Clemente V (1264-1314), deu-se início ao processo “anti-templário”, com o objetivo de ficar com a riqueza cumulada pela Ordem, considera-la culpada de desvios e demais faltas graves e deste modo extinguindo-a. Fortemente endividado com a Ordem, o monarca francês obteve do Papa a ordem de prisão dos Templários e em março de 1312, com a bula Ad Providum, a sua extinção, anexação e transferência dos significativos bens desta Ordem para a posse da Ordem do Hospital, e a condenação das suas mais importantes lideranças, que culmina com a morte na fogueira do seu último Grão-Mestre, Jacques de Molay (1244-1314), em 131452.

Consciente do relevante serviço que os Templários tinham e continuavam a prestar na defesa e povoamento do território português, D. Dinis não ficou agradado com a perseguição, mas viu-se obrigado a obedecer ao Papa, visto tratar-se de uma Ordem

49 Vide, Ordem de Cristo e o Convento de Tomar. Disponível em:

https://digitarq.arquivos.pt/details?id=4251169. Acedido a 07 de janeiro de 2020.

50 Cf. CARDOSO, Avelino Barbieri de Figueiredo Baptista, op. cit., pp. 6-7.

51 Cf. CARDOSO, Avelino Barbieri de Figueiredo Baptista, op. cit., pp. 6-7.

52 Cf. CARDOSO, Avelino Barbieri de Figueiredo Baptista, op. cit., p. 11.

Referências

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