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2 - Estado da Questão, Objetivos e Metodologia

Apesar de já termos fundamentado, de uma forma genérica, a escolha do tema da nossa dissertação, no seguimento de trabalhos de investigação, realizados durante o 1.º ano do presente curso de mestrado, mas também pelos Seminários Internacionais de Falerística a que assistimos na Sociedade de Geografia de Lisboa, torna-se necessário respaldar a escolha dos study cases do Museu Nacional de Arte Antiga, mencionados no título da nossa dissertação.

Ao falarmos de Joalharia e Insígnias durante o período Barroco em Portugal, de imediato pensamos nos objetos pertencentes ao Tesouro Real do Palácio Nacional da Ajuda, no entanto, ao longo do 1.º ano do presente curso de mestrado, e nas referências bibliográficas já analisadas no âmbito da Joalharia, observamos, que a informação relativa a objetos falerísticos se encontra bastante dispersa e quase sempre integrada em estudos de joalharia generalistas.

Por conseguinte, decidimos eleger como objeto de estudo, um conjunto de peças (study case) de um acervo museológico específico, que nos permitisse agregar informação não só relativa à Ordem Monástico-Militar de Cristo, mas de igual modo à joalharia barroca.

A nossa escolha incidiu no Museu Nacional de Arte Antiga, que, de 23 de outubro de 2010 a 31 de dezembro de 2010, enquadrado no VI Encontro Europeu de Sociedades Falerísticas, o qual, realizado em Lisboa e comissariado pela Dr.ª Luísa Penalva e pelo Dr. Anísio Franco, integrou a exposição “Falerística nas coleções do MNAA”, onde se apresentava um grande conjunto de peças falerísticas do Museu.

Inicialmente apontamos a nossa investigação a objetos da Ordem de Cristo, Avis e Malta, demarcando o nosso universo de estudo. No entanto, à posteriori, e verificado o potencial do acervo falerístico do Museu Nacional de Arte Antiga relativamente à Ordem de Cristo, redirecionamos o nosso plano de trabalho e procedemos ao devido ajuste de conteúdos.

O facto de a coleção de joalharia se encontrar, à data do início da nossa investigação, em fase de reorganização e restauro, fez com que tivéssemos de solicitar,

22 de forma antecipada, permissão e acesso a documentação digitalizada. A celeridade de resposta por parte do MNAA, o rápido acesso às imagens e fichas de inventário, a sua autorização e inclusão das mesmas na dissertação, permitiu, desde logo mapear todas as existências do acervo relativas a esta temática, destacando as mais proeminentes e fiéis ao discurso estilístico do Barroco. A consulta de documentos arquivísticos comprovativos das aquisições feitas pelo MNAA e dos montantes envolvidos, permitiu-nos traçar a nossa metodologia de trabalho e cimentar o nosso estudo.

Desta feita, de um universo de aproximadamente quarenta e oito objetos falerísticos inseridos no âmbito das artes decorativas, procedemos à seleção de seis, referenciados como pertencentes à Ordem de Cristo, modelos esses relevantes e diferenciados, tratados como “casos de estudo”, que iremos analisar, tentando traçar as suas características mais marcantes, enunciando as suas diferentes tipologias visuais e variações.

O início da nossa investigação, ocupar-se-á com a realização de o percurso histórico da Falerística, para melhor se compreender a produção das condecorações ao longo dos séculos, analisando a sua evolução enquanto disciplina autónoma.

No que concerne ao estudo da Falerística, não podemos deixar de mencionar Humberto Nuno de Oliveira, José Vicente de Bragança, Olímpio de Melo e Paulo Estrela, cujas obras elencaremos na Bibliografia já analisada e que nos permitiram perceber o seu aparecimento e evolução enquanto disciplina e ciência autónoma.

São estes autores que nos irão permitir perceber as diferentes aceções da palavra Condecoração e o seu significado, no ramo de saber que é a Falerística, temática essa que achamos necessário aludir para alcançarmos todo o conceito que resulta, de grosso modo, no ato de agraciar, distinguir e decorar com adornos.

A consequente interdisciplinaridade entre a Falerística, a História e a História da Arte, permitem-nos analisar os objetos falerísticos e a evolução da sua produção, bem como aferir o seu valor patrimonial, a sua simbologia e os seus significados estéticos.

Percorrendo um caminho paralelo ao da História da Arte, desde o Império Romano, aquando do aparecimento dos primeiros objetos de adorno, de âmbito militar, a Falerística ganha a sua independência enquanto disciplina, com a reestruturação das Antigas Ordens

23 Militares e com o consequente aumento da sua produção artística, no entanto, é ao longo do período Barroco, séculos XVII, XVIII e posteriormente XIX, que a produção de joalharia de âmbito militar tem o seu apogeu.

A Ordem de Cristo (Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo), trata-se de uma instituição honorífica, monástico-militar criada pelo Rei D. Dinis no ano de 1319 e reconhecida pela bula Ad Ae exquibus do Papa João XXII (1249-1334), associada à Ordem do Templo aquando a necessidade de a reformar, adotando o mesmos hábitos e insígnia. Foi de vital importância na luta portuguesa contra os muçulmanos, durante os séculos XII e XIII, e ao longo da História, grandemente privilegiada pela Coroa Portuguesa.

Associada, a partir dos séculos XV e XVI ao Infante D. Henrique (1394-1460), que foi seu administrador e governador, e às viagens ultramarinas e consequentemente ao enaltecimento da Coroa Portuguesa na hegemonia dos mares e descobrimentos, a Cruz da Ordem de Cristo, começou por adornar os mastros das caravelas portuguesas, tornando-se um símbolo do império português e dos tornando-seus feitos.

O estudo da joalharia barroca, dentro ou fora do âmbito falerístico, analisa sociológica e economicamente uma sociedade em que o “ter e o parecer” refletem uma época opulenta e de aparato, onde os objetos decorativos desempenham uma função simbólica primordial, e é este um dos principais objetivos do nosso estudo.

A nossa dissertação, pretende de igual modo, ser um ensaio sobre a joalharia barroca, sob a perspetiva da Falerística, incorporando também a moda, sendo impossível dissociar a joia do traje e da perspetiva social que a mesma encerra.

Desta feita,outro grande intento, é o de realizar um estudo sobre joalharia que seja abrangente, por forma a compreender os diversos fatores que para ela contribuem, possibilitando que todos esses elementos sejam tidos em conta. No entanto, o grande propósito da nossa dissertação, é o de apresentar uma visão panorâmica da produção de objetos falerísticos no nosso país, durante o século XVII à centúria seguinte.

Apresentando novos dados e pertinentes reflexões que nos permitam aumentar o conhecimento existente sobre este género artístico em Portugal, para o período do Barroco.

24 Analisando a importância da falerística, e da joalharia barroca e a sua consequente cumplicidade com a moda e a simbologia, numa sociedade meticulosamente estratificada, temos como propósito de investigação e estudo, e no caso concreto, recorrendo à análise de study cases do acervo do Museu Nacional de Arte Antiga, que mais adiante enumeraremos, estabelecer não só a importância da Ordem de Cristo, mas também analisar traços estilísticos, efetuar comparações entre outros objetos, compreender possíveis inovações ou influências, o seu valor artístico e estético, a sua funcionalidade e o seu contributo para a História da Arte.

Académico fundador da Academia Falerística de Portugal e um dos maiores estudiosos no âmbito da ourivesaria e joalharia barroca em Portugal, Gonçalo de Vasconcelos e Sousa, dá especial atenção à análise de joalharia honorífica, conforme podemos ver nas suas inúmeras publicações, amplamente conhecidas no meio académico, e que elencamos na nossa bibliografia, sendo que já nos serviram de suporte, nos trabalhos anteriormente mencionados.

Não podemos esquecer de igual modo Leonor D’Orey, outrora conservadora das coleções de Ourivesaria e de Joalharia do Museu Nacional de Arte Antiga, que na sua obra Cinco Séculos de Joalharia, explora a joalharia do Museu Nacional de Arte Antiga, dando especial enfoque aos objetos de adorno “típicos” do barroco.

Outro académico que se destaca nos seus estudos sobre a Honra e o seu esplendor é António Filipe Pimentel, ex-diretor do MNAA, cujos textos fomos conhecendo ao longo desta nossa investigação.

Outros nomes a salientar, são os de Nuno Vassalo e Silva e Madalena Bráz Teixeira, que focam o seu estudo numa visão mais generalista da Ourivesaria e Joalharia barroca, na sua importância social e como meio de expressão de poder.

É, fundamentalmente com estes autores, que vamos compreender todo o percurso da joalharia barroca em Portugal, observando os exemplos falerísticos referidos por ambos e passiveis de ser enquadrados ao longo da nossa investigação.

Esperemos que a apresentação da nossa dissertação constitua um passo definitivo, não só para um estudo mais aprofundado dos objetos de falerística barroca, mas também, no sentido de criação e compilação de informação específica e exclusivamente dedicada a essa tipologia de Joalharia, de grande importância para a História da Arte.

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26 CAPÍTULO II – A FALERÍSTICA

1 - As origens da Falerística: a sua evolução enquanto disciplina