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DOUTORADO EM LÍNGUA PORTGUESA SÃO PAULO 2015

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(1)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

MILTON GABRIEL JUNIOR

A caracterização da crônica publicada em jornal

DOUTORADO EM LÍNGUA PORTGUESA

SÃO PAULO

(2)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

MILTON GABRIEL JUNIOR

A caracterização da crônica publicada em jornal

DOUTORADO EM LÍNGUA PORTGUESA

SÃO PAULO

2015

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Banca Examinadora

(4)

Dedico esta tese aos meus queridos pais Milton e Franceia, que me trouxeram com todo o amor e carinho a este mundo, dedicaram, cuidaram e doaram incondicionalmente seu sangue e suor em forma de amor e trabalho por mim.

(5)
(6)

AGRADECIMENTOS

Não poderia deixar de dizer algumas palavras àqueles que contribuíram cada qual a sua maneira para que eu obtivesse êxito em minhas escolhas.

À Deus, o grande arquiteto do universo, criador de maravilhas extraordinárias em toda sua complexidade como cérebro humano e a capacidade de nos transformarmos pelo conhecimento.

Às minhas irmãs Lílian e Yara que sempre elevaram minha autoestima, me apoiaram e incentivaram a trilhar o caminho correto.

Àos meus amigos e irmãos de profissão Sonia Maria A. Tinem, Ivo Antonio Vernaglia, João Batista Junior pelo apoio, incentivo e muitas vezes por fazerem meu dever.

À CAPES pela viabilização do processo de pesquisa, através de seu financiamento. À Banca examinadora pela disponibilidade e contribuições dadas, elas foram de grande valia para reflexões no tocante o percurso seguido e também de norte para as modificações necessárias.

À professora Dra Irenilde Pereira dos Santos, especialmente, sua leitura e sugestões claras, assertivas, diretas tão importantes para o enriquecimento da pesquisa.

À professora Dra Ana Rosa Ferreira Dias, em especial, por sua leitura e contribuições enriquecedoras que me levou a reformular a organização deste trabalho.

A todos os amigos que não nominei por falta de espaço ou falha na memória, mas foram responsáveis direta ou indiretamente para uma conquista tão nobre e grandiosa. Aos adversários por proporcionarem o incentivo necessário e a vontade de triunfar a cada não conseguirá proferido.

(7)

GABRIEL JUNIOR, Milton.

A caracterização da crônica publicada em jornal.

290 f.

Tese (doutorado). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Esta tese está situada na Linguística Textual-Discursiva e complementada com fundamentos da Análise Crítica do Discurso, com vertente sócio-cognitiva, além de bases da Nova retórica para o estudo do gênero como ação social, pela vertente norte-americana. Tem-se por objetivo geral contribuir com os estudos das crônicas brasileiras e por objetivos específicos: 1. Verificar em que medida os textos opinativos, publicados nas colunas dos jornais Folha de S. Paulo e O Estado S. Paulo podem ser caracterizados como gênero textuais-discursivos. Justifica-se o tema selecionado, uma vez que há diversos materiais, elaborados por jornalistas, na área da comunicação social que tratam do gênero e o tratamento dado têm uma perspectiva enunciativa, não foca a caracterização textual-discursiva dos textos jornalísticos publicados no espaço denominado coluna. Esta tese parte da premissa que toda modificação social, produz uma modificação no discurso e vice versa. A investigação realizada seguiu os seguintes procedimentos metodológicos: 1. Procedimento teórico-analítico, a partir de contextos, sequências textuais e incrustações das sequências em uma sequência mais hierárquica. 2. Seleção do material de análise foram selecionados textos a partir de 1890 até os dias atuais, publicadas nos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. 3. A escolha de uma data aleatória, 08 de janeiro, em cada década a partir de 30 apresentando as mudanças sociais brasileiras, ocorrida em diferentes momentos históricos. 4. Demonstrar a não publicação de crônicas durante alguns anos devido a questões políticas nos diferentes regimes que fizeram um controle muito acirrado sobre determinadas publicações e a não publicação na data selecionada devido a não circulação do jornal por motivos trabalhistas. Os resultados obtidos indicam que no

espaço “coluna” publicam-se os gêneros textuais-discursivos crônica, subdivididas em: crônicas de notícias e crônicas do cotidiano, e artigo.

(8)

Abstract: This thesis is based on the principle of the Linguistics Textual - Discursive and complemented with the foundations of Critical Discourse Analysis with socio- cognitive aspect, and the New Rhetoric bases for the study of gender as social action, by the American shed. This thesis also reports a research that its main objective is to contribute to studies of Brazilian chronic and there are two objectives: 1. to ascertain the extent to which the opinion columns published in the columns of newspapers Folha de S. Paulo and O Estado S. Paulo can be characterized as textual genre - discursive. It is appropriate to the selected theme since there are several materials, prepared by journalists in the area of media that deal with gender and the treatment have a stated perspective, does not focus on the textual - discursive characterization of newspaper articles published in space called column. This thesis assumes that all social change produces a change in discourse and vice versa. The investigation involved the following instruments: 1. Theoretical and analytical procedure, from contexts, textual sequences and scale of the sequences in a more hierarchical sequence. 2. Selecting the analysis of material were selected texts from 1890 to the present day, published in the newspaper O Estado de S. Paulo and Folha de S. Paulo. 3. The choice of a random date, 08 January in each decade from 30 presenting Brazilian social changes that took place in different historical moments. 4. To demonstrate the non-publication of chronic for some years due to political issues in the various regimes that have made a very tight controls on certain publications and the failure to publish the selected date due to non- newspaper circulation by labor reasons. The results indicate that in space “column” are published the text - genres chronic, subdivided into news chronic and chronic every day, and article.

(9)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 01

CAPÍTULO 1

APRESENTAÇÃO DA TESE 07

1.1 A mídia nacional: um breve histórico e o aparecimento da crônica

nacional 07

1.1.1 Um breve histórico da imprensa nacional 08

1.1.2 O posicionamento ideológico da imprensa Nacional e suas

mudanças devido ao momento histórico-social 12

1.1.3 As mudanças histórico-social na imprensa: o nascimento do artigo

e da coluna na imprensa nacional 14

1.1.4 As questões político-sociais influenciam a mídia nacional e a hibridização dos gêneros artigo e crônica em coluna 18 1.2 Caracterizações literárias e jornalísticas do texto-crônica 24

1.2.1 A crônica jornalística 25

1.2.2 A crônica literária 33

1.2.3 A conceituação do gênero crônica por profissionais do jornal 42

1.3 Tese defendida 43

CAPÍTULO 2

OS GÊNEROS DOS TEXTOS PUBLICADOS EM JORNAL, SEGUNDO OS

JORNALISTAS 50

2.1 A caracterização dos gêneros textuais, segundo estudiosos

jornalistas 50

2.1.1 O Editorial 60

2.1.2 O Comentário 62

2.1.3 O Artigo 64

2.1.4 A Resenha ou crítica 66

2.1.5 A Coluna 68

2.1.6 A Crônica 70

2.2 A caracterização dos gêneros textuais opinativos publicados em

espaço reservado, conforme os autores 72

CAPÍTULO 3

FUNDAMENTOS PARA UMA DA CATERIZAÇÃO DOS GÊNEROS

CRÔNICA E ARTIGO PUBLICADOS EM JORNAL 78

3.1 A Linguística Textual 79

3.2 Análise do Discurso de linha francesa (AD), Bakhtin e o círculo

Bakhtiniano: a questão do gênero 82

3.3 A Linguística Crítica e a Análise Crítica do Discurso 91

3.3.1 A Linguística Crítica 91

3.3.2 A Análise Crítica do Discurso (ACD) 94

(10)

3.3.2.2 Análise Crítica do Discurso, com vertente sócio cognitiva 98

3.4 A Linguística Textual-Discursiva 104

3.4.1 As sequências e períodos como unidades composicionais 109

3.4.1.1 A sequência narrativa 109

3.4.1.2 A sequência descritiva ou expositiva 110

3.4.1.3 A sequência argumentativa 112

3.4.1.4 A sequência explicativa 115

3.4.1.5 A sequência dialogal 116

3.4.2 As incrustações sequenciais 117

3.5 A visão social para a caracterização do gênero 117

3.6 A teoria dos contextos, pela visão sócio-cognitiva 123

3.6.1 Conceituando o contexto 124

3.6.2 Os modelos mentais 125

CAPÍTULO 4

A CARACTERIZAÇÃO DA CRÔNICA DO JORNAL 132

4.1 Texto narrativo, não organizado pelo gênero crônica 134

4.1.1 brincando com o presépio 135

4.1.2 O burrinho central 135

4.1.3 clube de xadrez 136

4.1.4 a prosa com autor 136

4.1.5 A avaliação em textos narrativos 136

4.1.5.1 a narrativa do presépio 137

4.1.5.2 a narrativa do burrinho central 137

4.1.5.3 a narrativa do clube de xadrez 137

4.1.5.4 a narrativa prosa com autor 137

4.2 Gênero crônica, no final do século XIX 138

4.2.1 Os contextos 140

4.2.1.1 O contexto cognitivo 140

4.2.1.2 O contexto discursivo 141

4.2.1.3 Contexto de Linguagem 142

4.2.2 O gênero crônica do jornal e a incrustação das sequências 142

4.2.2.1 A sequência argumentativa 142

4.2.2.2 Sequências narrativas 144

4.2.2.3 A sequência dialogal 146

(11)

4.3 Texto 03 “Variações sobre ”Tradições Populares” de Roger Bastide

148

4.3.1 Os contextos 151

4.3.1.1 O contexto cognitivo 152

4.3.1.2 O contexto discursivo 153

4.3.1.3 O contexto de linguagem 153

4.3.2 O gênero crônica do jornal e a incrustação das sequências 154

4.3.2.1 A sequência argumentativa 154

4.3.2.2 Sequências narrativas 156

4.3.2.4 Sequências explicativas 158

4.4 Texto 04 “Campanha de silêncio” de Luís Martins 158

4.4.1 Os contextos 160

4.4.1.1 O contexto cognitivo 160

4.4.1.2 O contexto discursivo 160

4.4.1.3 Contexto de Linguagem 161

4.4.2 O gênero crônica do jornal e a incrustação das sequências 161

4.4.2.1 A sequência argumentativa 162

4.4.2.2 Sequências narrativas 163

4.4.2.3 A sequência dialogal 165

4.4.2.4 Sequências explicativas 165

4.5 Texto 05 “Por um punhado de dólares” de Augusto Nunes 166

4.5.1 Os contextos 168

4.5.1.1 O contexto cognitivo 168

4.5.1.2 O contexto discursivo 169

4.5.1.3 Contexto de linguagem 170

4.5.2 O gênero crônica do jornal e a incrustação das sequências 171

4.5.2.1 A sequência argumentativa 171

4.5.2.2 Sequências narrativas 173

4.5.2.3 Sequências explicativas 175

4.6 Texto 06 “A prova do angu” de Luís Fernando Verissimo 177

4.6.1 Os contextos 178

4.6.1.1 O contexto cognitivo 178

(12)

4.6.1.3 Contexto de linguagem 179 4.6.2 O gênero crônica do jornal e a incrustação das sequências 180

4.6.2.1 A sequência argumentativa 180

4.6.2.2 Sequências narrativas 182

4.6.2.3 Sequências explicativas 184

4.7 Texto 07 “Como as festas nos devoram” de Roberto Damatta 185

4.7.1 Os contextos 188

4.7.1.1 O contexto cognitivo 188

4.7.1.2 O contexto discursivo 188

4.7.1.3 Contexto de linguagem 189

4.7.2 O gênero crônica do jornal e a incrustação das sequências 190

4.7.2.1 A sequência argumentativa 190

4.7.2.2 Sequências narrativas 192

4.7.2.3 Sequências explicativas 193

C A P Í T U L O 5

A CARACTERIZAÇÃO DOS ARTIGOS DE JORNAL 197

5 “No reino das dúvidas” - de Jânio de Freitas 198

5.1 Os contextos 200

5.1.1 O contexto cognitivo 200

5.1.2 O contexto discursivo 201

5.1.3 Contexto de linguagem 202

5.1.4 O gênero artigo do jornal e a incrustação das sequências 202

5.1.4.1 As sequências argumentativas 203

5.1.4.2 Sequências narrativas 204

5.1.4.3 Sequências explicativas 206

5.2 Texto 9 “Se cercar, os Estados Unidos viram hospício” 207

5.2.1 Os contextos 208

5.2.1.1 O contexto cognitivo 208

5.2.1.2 O contexto discursivo 208

5.2.1.3 Contexto de Linguagem 209

5.2.3 O gênero artigo do jornal e a incrustação das sequências 209

5.2.3.1 A sequência argumentativa 210

5.2.3.2 Sequências narrativas 211

5.2.3.3 Sequências explicativas 213

5.3 Texto 10 “Inflação do dólar: quem dá mais?” 214

(13)

5.3.1.1 O contexto cognitivo 216

5.3.1.2 O contexto discursivo 216

5.3.1.3 Contexto de linguagem 217

5.3.2 O gênero artigo do jornal e a incrustação das sequências 217

5.3.2.1 A sequência argumentativa 218

5.3.2.2 Sequências narrativas 219

5.3.2.3 Sequências explicativas 220

5.4 Texto 11 “Um tango para Messi” 221

5.4.1 Os contextos 222

5.4.1.1 O contexto cognitivo 223

5.4.1.2 O contexto discursivo 224

5.4.1.3 Contexto de Linguagem 224

5.4.2 O gênero artigo do jornal e a incrustação das sequências 224

5.4.2.1 A sequência argumentativa 225

5.4.2.2 Sequências narrativas 227

5.4.2.3 A sequência dialogal 228

5.4.2.4 Sequências explicativas 229

5.5 Texto 12 “De mau jeito 230

5.5.1 Os contextos 231

5.5.1.1 O contexto cognitivo 232

5.5.1.2 O contexto discursivo 232

5.5.1.3 Contexto de Linguagem 233

5.5.2 O gênero artigo do jornal e a incrustação das sequências 233

5.5.2.1 A sequência argumentativa 233

5.5.2.2 Sequências narrativas 236

5.5.2.3 A sequência dialogal 238

5.5.2.4 Sequências explicativas 238

CONSIDERAÇÕES FINAIS 240

(14)

ANEXO 15 ANEXO 16 ANEXO 17 ANEXO 18

(15)

1 Introdução

Esta tese está situada na Linguística Textual-Discursiva e vinculada à linha de pesquisa Texto e Discurso: variedade oral e escrita do Programa de Estudos Pós- Graduados em Língua Portuguesa da PUC/SP.

Tem-se por tema a caracterização textual-discursiva do gênero crônica de jornal, confrontada com a caracterização textual-discursiva do gênero artigo de jornal.

O problema consiste na generalização de textos opinativos assinados, publicados em jornal no espaço coluna.

A pesquisa realizada está fundamentada em princípios da Linguística Textual-Discursiva e complementada com fundamentos da Análise Crítica do Discurso, com vertente sócio-cognitiva, além de bases da Nova retórica para o estudo do gênero como ação social, pela vertente norte-americana, tendo como principais autores, Carolyn Miller e Charles Bazerman, que propõem

compreender os gêneros como “ações retóricas tipificadas, baseadas numa

situação retórica recorrente” (MILLER, 2009, p. 17).

Tem-se por objetivo geral contribuir com os estudos das crônicas brasileiras.

São objetivos específicos:

1- Verificar em que medida os textos opinativos, publicados nas colunas dos jornais Folha de S. Paulo e O Estado S. Paulo podem ser caracterizados como gênero textuais-discursivos.

Justifica-se o tema selecionado, pois, embora haja diversos materiais na área da comunicação social que tratam do gênero, por jornalistas, os tratamentos dados têm uma perspectiva enunciativa, não focalizando a caracterização textual-discursiva dos textos jornalísticos, publicados no espaço reservado, em cada caderno do jornal, e denominado coluna. Anteriormente, esses textos formam denominados “artigo”, “crônica”, “feature”, “crítica”,

(16)

2 Esta tese tem por ponto de partida que toda modificação social, produz uma modificação no discurso e vice-versa. Segundo Thompson (1995, 2014), a indústria da comunicação nasceu na atividade de produção, transmissão e recepção do significado das formas simbólicas, tornando-se o que ele caracterizou como poder cultural ou simbólico, uma vez que a mídia expressa-se sobre si e o mundo por meio de formas simbólicas. As ações simbólicas provocam reações, liberam respostas, decisões e induzem a pontos de vista, demonstrando que as mudanças sociais levaram a mudanças institucionais e ao desenvolvimento da mídia.

No histórico do jornal brasileiro, a crônica sempre esteve presente e, como texto opinativo, foi-se modificando em decorrência das mudanças sociais brasileiras.

Defende-se que a crônica do jornal diferencia–se dos artigos do jornal, apesar de:

 Ambos serem textos opinativos;

 Possuírem a mesma formatação em colunas e suas organizações textuais terem uma circunstância construída por pontos de partida e fato(s) para opinarem sobre algo do mundo;

 Serem publicados nele, no espaço denominado coluna, nos diferentes cadernos dos jornais paulistanos.

A crônica produz uma avaliação das cognições sociais, construídas a partir do vivido e experienciado em sociedade; esses conhecimentos são investidos de valores culturais e ideológicos. Já o artigo de jornal é caracterizado pela avaliação de notícias publicadas em jornal.

(17)

3 No Brasil, com o capitalismo ocorre a fusão de jornais vespertinos e noturnos na criação de um único jornal matutino. Com as vendas do jornal, foi necessário instaurar-se uma política de circulação do produto jornal. Progressivamente a empresa-jornal passa a dirigir seus produtos, estabelecendo-se assim uma prática social jornalística que, por ser institucional, é organizada pelas categorias Poder, Controle e Acesso (cf. van Dijk, 1997).

A partir da década de sessenta, ocorre uma mudança na clientela das escolas brasileiras que anteriormente era elitista; agora torna-se popular. Com isso, a taxa de analfabetismo foi diminuída o que amplia progressivamente o número de leitores de jornal, sendo agora menos eruditos que os anteriores.

Durante as mudanças políticas, os governos ditatoriais impuseram a censura para a publicação de notícias do jornal. Sendo assim, os textos publicados em jornal foram modificados. Esta tese trata da caracterização da crônica do jornal, situando-a em diferentes momentos históricos a fim de apresentar as suas modificações.

A investigação realizada seguiu os seguintes procedimentos metodológicos:

 Seleção do material de análise - foram selecionadas crônicas a partir de 1890 até os dias atuais, publicadas nos jornais O Estado de S. Paulo, Folha da Manhã que, posteriormente, será a Folha de S. Paulo. Foram selecionados também artigos de jornal, publicados na área reservada à coluna, a partir da década de 80.

 O critério de seleção foi a mudança social brasileira, ocorrida em momentos históricos diferentes; quando o momento histórico é maior foi selecionada uma crônica para cada década em data aleatória – 08 de janeiro.

(18)

4 trabalhista não autorizava as empresas operarem aos domingos, dessa forma, não houve a circulação de jornais às segundas feiras.  As análises efetuadas seguiram o procedimento teórico-analítico, a

partir de contextos, sequências textuais e incrustações das sequências em uma sequência mais hierárquica.

Ao realizar pesquisas bibliográficas na área da Comunicação Social e do Jornalismo, procurou-se apresentar um panorama dos diversos estudos quanto à classificação e categorização dos gêneros jornalísticos no Brasil, a partir da década de 30, momento em que, novamente, publicam-se crônicas nos jornais. Dessa forma, procurou-se verificar como as mudanças sociais afetaram e influenciaram as mudanças discursivas ocorridas nos gêneros jornalísticos.

Tem-se por ponto de partida que toda mudança social produz uma mudança no discurso, uma vez que o uso da linguagem é ideológico, ou seja, são formas de significações/construções da realidade (mundo físico, relações sociais e identidades sociais) construídas nas diversas práticas discursivas.

Segundo Fairclough (2001, 2008, p. 117), “as ideologias embutidas nas

práticas discursivas são muito eficazes quando se tornam naturalizadas e atingem o status de ‘senso comum’”, como adquiriu o discurso jornalístico ao se afirmar e buscar conservar-se como espaço social estruturado que procura transmitir os acontecimentos do dia a dia, isto é, procura conservar o estado atual –a construção discursiva ‘fiel’ do real.

Fairclough (2001, 2008) afirma que o discurso é um modo de ação em que as pessoas possam agir sobre o mundo e sobre os outros; além de uma forma de representação moldada pela estrutura social. Os eventos discursivos irão variar de grupo social para grupo social (Cognições Sociais), contudo os eventos discursivos são os responsáveis pela constituição de todas as dimensões da estrutura social, responsável pela normatização na interação.

(19)

5 como também relações, identidades e instituições [...] (FAIRCLOUGH, 2001, 2008, p.91)

Pode-se afirmar, com isso, que o discurso é uma prática social, uma vez que não apenas é uma representação do mundo, e sim uma construção significativa do mundo, constituindo e construindo o mundo em significado.

Entende-se que o discurso jornalístico define-se por um macroato de fala, o qual tem por objetivo a construção da opinião do público leitor, através de estratégias discursivas que buscam ativar conhecimentos do Marco de Cognição Social dos diferentes grupos sociais, pela adesão ao ponto de vista do produtor e da empresa-jornal.

Esta tese é composta por cinco capítulos:

CAPÍTULO I APRESENTAÇÃO da TESE

Reúne as diferentes definições do gênero crônica propostas pela Teoria Literária, críticos literários e pelos próprios jornalistas, seguidas de um breve histórico do jornal brasileiro. Apresenta, a seguir, a caracterização da crônica do jornal, proposta por esta tese, como um gênero textual-discursivo, modificado em crônica do cotidiano e crônica de notícia e confrontado com o artigo de jornal publicado no espaço designado coluna.

CAPÍTULO II - Os gêneros dos textos publicados em jornal, segundo os jornalistas

(20)

6 CAPÍTULO III - Fundamentos Para Uma Da Caracterização Dos Gêneros Crônica E Artigo Publicados Em Jornal

Este capítulo está composto pelos fundamentos teóricos da Linguística Textual e da Linguística Discursiva, para, após, tratar da Linguística Textual-Discursiva. Apresenta, ainda, as bases sociais para a caracterização do gênero textual-discursivo crônica e artigo publicados em jornal.

CAPÍTULO IV - A CARACTERIZAÇÃO DA CRÔNICA DO JORNAL

Este capítulo, a título de exemplificação, situa sete textos-crônicas publicados em jornal com os resultados obtidos de suas análises. No final, diferencia a crônica do cotidiano da crônica de notícias.

CAPÍTULO V - A CARACTERIZAÇÃO DOS ARTIGOS DE JORNAL

(21)

7

CAPÍTULO I

Apresentação da tese

Este capítulo apresenta um conjunto de caracterizações do texto-crônica, publicado em jornais e uma caracterização textual-discursiva desse texto que é a tese defendida, nesta publicação. Para tanto, apresenta-se, inicialmente, um breve histórico do jornal com objetivo de inter-relacionar as mudanças ocorridas na sociedade brasileira com mudanças ocorridas no discurso jornalístico, de forma a situar diferentes gêneros textuais que são generalizados, hoje, como colunas. Tais textos abrangem o artigo, feature, comentário e a crônica.

1.1 A mídia nacional: um breve histórico e o aparecimento da crônica nacional

Segundo Bazerman (2009), os gêneros textuais são formas tipificadas de uso discursivo da língua, em uma determinada sociedade e em um determinado momento histórico. Essas formas são desmembradas de formas anteriores, pois os gêneros nunca surgem em um grau zero, mas em um veio histórico, cultural e interativo dentro de instituições e atividades pré-existentes.

(22)

8 serão as reações das pessoas, pois tais padrões sociais se reforçam mutuamente. Esses padrões são memorizados e armazenados em longo prazo por aquelas pessoas que os usam, para se interacionar com as demais que formam a mesma comunidade, e por essa razão, podem ser vistos como esquemas mentais sociais.

Ao criar formas tipificadas ou gêneros, as pessoas são levadas a tipificar também, em um determinado momento história, situações discursivas nas quais se encontram.

1.1.1 um breve histórico da imprensa nacional

A Imprensa Nacional nasceu por decreto do príncipe regente D. João, em 13 de maio de 1808, com o nome de Impressão Régia. Esta também foi uma excelente editora, publicando dezenas de livros de grande valor cultural, cuja qualidade do material não deixava a desejar a nenhuma tipografia europeia. Segundo Borba de Moraes, “muito raramente, na verdade, a tipografia atingiu

um padrão tão alto de elegância e beleza, sendo as produções impressas comparáveis e dignas dos grandes renovadores da tipografia, os Didot, os

Bodoni” (MORAES, 1979, p. 122)

Em 10 de setembro de 1808, surgiu o primeiro jornal impresso no país, a Gazeta do Rio de Janeiro, publicado pela Impressão Régia. O jornal estruturava-se em duas seções: a noticiosa e a de avisos.

Na seção noticiosa, expressava-se a fala do redator, incluía artigos escolhidos de diversos jornais europeus, apresentava cartas de militares e políticos de relevância no período, inseria informações burocráticas (como o balancete financeiro da Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro), noticiava o cotidiano da realeza: das graças do monarca para seus súditos civis e militares como a distribuição de títulos de nobreza, às diversas festividades do calendário real e as peças de teatro.

(23)

9 notícias marítimas, as saídas de correio, as vendas de livros e periódicos, mapas, vendas de escravos e imóveis, leilões etc.

Como já apontado, a Gazeta do Rio de Janeiro, em suas publicações, delineava a relação existente entre a imprensa e a sociedade joanina do Rio de Janeiro, no início do século XIX, conforme afirma John Armitage que, aos 21 anos, se empregou na casa Philips, Wood & Cia que o enviou ao Brasil onde obteve acesso a documentos públicos e outras fontes originais, possibilitando-o a escrever sua obra História do Brasil, publicada em 1836.

...por meio dela só se informava ao público, com toda fidelidade, do estado de saúde de todos os príncipes da Europa e, de quando em quando, as suas páginas eram ilustradas com alguns documentos de ofício (...) A julgar-se do Brasil pelo seu único periódico, devia ser considerado um paraíso terrestre, onde nunca se tinha expressado nenhum queixume. (ARMITAGE, APUD, SODRÉ, Nelson Werneck, 1966, p. 23)

A primeira Junta Diretora do jornal foi composta por três homens ilustrados de estrita confiança de D. João VI, são eles: José Bernardes de Castro, Marianno José Pereira da Fonseca e José da Silva Lisboa. Os primeiros administradores possuíam cargos públicos e tinham, antes de tudo, uma função fiscalizadora. Dessa forma, os textos do redator direcionavam-se quase que exclusivamente para as notícias da vida monárquica e da Corte: a linha editorial do jornal era voltada para os fatos políticos e culturais da monarquia e o jornal jamais noticiava os fatos que ameaçassem a estabilidade do Império Português ou não retratassem a imagem que a monarquia desejava veicular.

(24)

10 Com as transformações econômicas, sociais e políticas ocorridas no Brasil, levou a pequenas alterações da imprensa. Em 1821, a Corte portuguesa, diminui as restrições à imprensa, surgindo uma imprensa política. No período do Segundo Reinado de D. Pedro, os jornais passaram a desenvolver-se gradualmente e a sua ampliação foi inevitável, porque surgiram novas e diferentes publicações por todo o território brasileiro, principalmente nas maiores cidades do reino.

Os jornais passaram a ser de propriedade privada, como forma de sobrevivência da empresa, consequentemente com a expansão que ocorria naquele momento, houve o incremento do jornalismo nacional, levando ao estímulo e busca de maior profissionalismo, material e maquinários modernos.

Nesse contexto, ocorre o aparecimento da crônica nacional, isto é, ela se afasta da sua função social - relato cronológico e crônica histórica ao se associar à imprensa e ao jornal, tornando-se folhetim, como nos explica João Roberto Faria (1995) no prefácio de Crônicas Escolhidas de José de Alencar:

Naqueles tempos, a crônica chamava-se folhetim e não tinha as características que tem hoje. Era um texto mais longo, publicado geralmente aos domingos no rodapé da primeira página do jornal, e seu primeiro objetivo era comentar e passar em revista os principais fatos da semana, fossem eles alegres ou tristes, sérios ou banais, econômicos ou políticos, sociais ou culturais. O resultado, para dar um exemplo, é que num único folhetim podiam estar, lado a lado, notícias sobre a guerra da Criméia, uma apreciação do espetáculo lírico que acabara de estrear, críticas às especulações na Bolsa e a descrição de um baile no Cassino.

O folhetim fazia parte da estrutura dos jornais, era informativo, trazia fatos da vida cotidiana, daquele momento histórico social. A crônica, inicialmente, participa do folhetim que é direcionado à diversão do leitor, como exemplo as crônicas machadianas e de outros autores. Esses textos eram produzidos por literatos com estilo literário, em variedade padrão gramatical normativa, com estilo mais coloquial, porque seu objetivo era um texto diletantístico.

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11 poder cafeicultor, entre outras. Assim, houve, também, mudança no auditório dos leitores de jornal. Sendo assim, os textos jornalísticos deixam de ser voltados apenas para a elite social e passam a atender também as necessidades de informação da classe média e média baixa.

Inicia-se o jornalismo opinativo que abriu espaço para o texto-crônica ganhar importância no jornal. E no percurso histórico das décadas seguintes muitos autores literários passam a escrever crônicas, indo de José de Alencar, Machado de Assis até Rubem Braga, Luís Fernando Veríssimo, Carlos Drummond de Andrade, entre outros. Tudo isso fez com que a crônica se desenvolvesse no Brasil de forma extremamente significativa e se alicerçasse enquanto gênero menor, segundo a crítica literária.

E dessa forma a Crônica cursou um longo percurso até se firmar como

gênero literário. Ainda que dado como um “gênero menor”, conforme afirma

Antônio Cândido:

A ‘crônica’ não é um ‘gênero maior’. Não se imagina

uma literatura feita de grandes cronistas, que lhe dessem o brilho universal dos grandes romancistas, dramaturgos e poetas. Nem se pensaria em atribuir o Prêmio Nobel a um cronista, por melhor que fosse. Portanto, parece mesmo que a crônica é um

gênero menor. “Graças a Deus”, — seria o caso de dizer, porque sendo assim ela fica perto de nós. (CÂNDIDO, 1981, p. 5).

Nesse contexto, a imprensa consolida-se no cenário político, as publicações e os jornais passaram a tratar de questões políticas, econômicas, culturais e da diversão popular em todas as suas publicações, procurando fazer uma análise do momento em que se encontrava o Brasil. Assim, surgem os

“pasquins”, a publicação panfletária de caráter crítico e satírico, que, aliados a

outros jornais, transmitiam novas ideologias à população, responsáveis por insuflar revoltas e novas formas de compreender o mundo.

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12 responsáveis por suprir o noticiário nacional e internacional. Sendo assim, as empresas-jornais começam a fazer pesquisa de mercado para conhecer seu público leitor, e dependendo dele, passaram a adaptar e modificar o fazer-jornal.

1.1.2 O posicionamento ideológico da imprensa Nacional e suas mudanças devido ao momento histórico-social

A Imprensa Nacional foi, também, pioneira na área editorial. O primeiro impresso que saiu de um dos seus prelos foi um livreto de 27 páginas, exatamente no dia de sua criação: 13 de maio de 1808, data de aniversário de D. João. O título do livro é "Relação dos Despachos Publicados na Corte pelo Expediente da Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, no Faustosíssimo Dia dos Anos de S. A. R. o Príncipe Regente N.S.".

Do nascimento até o amadurecimento da imprensa brasileira, que se estendeu até a Proclamação da Independência, ela estava submetida ao controle da corte portuguesa e visava publicar dados, notícias que eram do interesse desta, uma vez que junto a Real Officina Typographica ou lmprensa Nacional fora publicado o primeiro periódico em território nacional - Correio Braziliense e demais obras supervisionadas por uma tríplice administração composta por um militar, um clérigo e um funcionário régio.

As funções da Impressão Régia foram bem delimitadas no decreto real de 13 de maio de 1808, conforme demonstra Camargo (1993): tendo por função imprimir exclusivamente todos os papéis ministeriais e diplomáticos do real serviço, incluindo, aí, não só os documentos da Secretaria de Negócios Estrangeiros e da Guerra, mas de todas as outras repartições, imprimir obras de particulares e produzir e fazer circular o primeiro jornal institucional do Brasil, a Gazeta do Rio de Janeiro.

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13 específicos. Dessa forma, a imprensa chega ao seu auge, volta-se para as diversas classes surgidas devido aos fatores políticos e econômicos, sobretudo a classe proletária emergente naquele contexto.

A partir da revolução de 1930 e a ascensão de Getúlio Vargas à presidência, são promovidas políticas de caráter populista e inicia-se uma nova fase de controle pelo Estado junto à imprensa. Assim, a imprensa passou a sofrer forte censura com a criação de órgãos de repressão política. O país viveu em estado de sítio, até 1937, e o controle do Estado fez-se presente em todas as instâncias sociais.

Devido à institucionalização do regime ditatorial, em 1937, a repressão à imprensa tornou-se mais direta e intensa, momento em que novos jornais foram proibidos de circular e as liberdades civis não eram respeitadas. Em 1939, o governo cria o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Esse órgão era responsável por coordenar a censura ao jornalismo, controlando e manipulando a opinião pública. Nesse período, a crônica deixa de circular, pois é um texto opinativo dos valores e ideologias da sociedade, podendo ser utilizado como ferramenta de ação contra o governo.

No passar dos anos, Vargas não contava com o apoio da imprensa escrita e falada de circulação no país. Ela o atacava violentamente, suas propostas políticas, econômicas e sociais eram rechaçadas pelos jornais de grande circulação. Essa recusa, por parte da grande imprensa, em apoiar a volta de Vargas estava referenciada principalmente ao período do Estado Novo, momento em que se criou uma representação negativa do ditador entre intelectuais e jornalistas. Os jornalistas recordavam-se, em suas publicações, que a Constituição de 1937 abolira a liberdade de expressão e do pensamento, além de que todos os meios de comunicação se encontravam submetidos à censura.

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14 Após a morte de Getúlio Vargas, com a eleição de Juscelino Kubistchek e mais tarde de Jânio Quadros, ocorre um período de tranquilidade, além de maior liberdade para imprensa nacional, até 1964, momento em que ocorreu o golpe militar, iniciando então o período de ditadura. A imprensa, que apoiou, em um primeiro momento, essa ditadura, passou a revelar-se contra ela, vivendo um período de perseguições, censura e exílios que perdurou até 1974, no governo de Ernesto Geisel. Foi com o governo Geisel que o país passou por um processo controlado de abertura política, definida como lenta, gradual e segura, ocasionando, em 1976, o fim da autocensura.

1.1.3 As mudanças histórico-social na imprensa: o nascimento do artigo e da coluna na imprensa nacional.

O avanço das influências americanas sobre o jornalismo latino-americano, e principalmente no Brasil, iniciou na década de 20, já que todas as notícias internacionais eram oriundas das agências americanas. Na década de 30, ocorre uma maior aproximação dos Estados Unidos, seja no campo econômico e político, seja no da imprensa. Durante a década de 30, a imprensa norte americana era vista como o melhor espelho do mundo.

Foi durante a década de 40, que a imprensa brasileira se vê obrigada a reformular o fazer-jornal. O jornalismo americano sofre modificação para atender aos anseios de seus leitores para conhecer o autor da opinião jornalística. Sendo assim, vários textos jornalísticos passam a ser assinados, tais como: o artigo de fundo, denominado editorial em nossos diários, como também essay e comment, denominados ensaios e comentário, atualmente classificados no Manual da Folha de S. Paulo como Feature e artigo/crônica. Os textos produzidos nos jornais americanos, e absorvidos pela imprensa nacional brasileira, procuravam apresentar um texto mais leve, com um comentário rápido, ligeiro e sobretudo com a autoria identificada.

Durante as décadas de 40 e 50, fez-se presente, na imprensa nacional, a

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15 desvalorizado pelos nossos jornais – o colunismo social. Sua estreia, como colunista, ocorreu em 1951, no jornal Vanguarda, Sued passou a publicar uma coluna diária, no espaço denominado de “Zum-Zum”.

No espaço destinado a Sued, eram publicados os acontecimentos e fofocas da alta sociedade, ao escrever de forma franca, pessoal e, em alguns momentos, até agressivo por meio de notas curtas, diretas, mesclava informações sobre a vida mundana e notícias sobre a política e a economia. Ele não se preocupava com a norma culta, utilizava um linguajar todo próprio para criticar ou elogiar modismos e personalidades. Sua coluna ganhou notoriedade, passando a ser publicada nas revistas e jornais Manchete, no Diário Carioca, na Gazeta de Notícias, no Diário da Noite, no O Globo, chegando à televisão, no programa Fantástico. Para muitos, Ibraim Sued é o pai do colunismo social no Brasil e chega a conquistar o espaço de meia página de jornal, levando o estilo objetivo, leve e bem-humorado ao colunismo, dando notoriedade a essa seção.

Dessa forma, a coluna surgiu e se expandiu nos jornais brasileiros, a partir dos anos 1950. Atualmente em todos os jornais e revistas nacionais encontramos a classificação coluna; elas cresceram muito em prestígio, tamanho e quantidade. Hoje, os colunistas são os autores mais badalados, de maior prestígio do jornal, a atração a mais que um veículo oferece ao seu leitor.

Ao assumir a presidência da República, em 31 de janeiro de 1956, Juscelino solicitou ao Congresso a abolição do estado de sítio, no que seria logo atendido. Para imprimir um cunho ainda mais democrático à sua gestão, também aboliu, no dia seguinte, a censura à imprensa. O governo de Juscelino foi marcado por grandes problemas econômicos e políticos junto ao cenário interno e externo, como represália ao pouco interesse demonstrado pelos EUA em empreender um programa de assistência ao Brasil. Juscelino manifestou-se publicamente pelo reatamento das relações comerciais com a União Soviética e outros países socialistas.

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16 notícias e ideários norte-americanos desencadearam uma campanha de descrédito contra a economia e o governo brasileiro.

Jânio Quadros e João Goulart foram empossados em 31 de janeiro de 1961. No início do seu governo, Jânio tomou uma série de pequenas medidas que ficaram famosas pela busca em criar uma imagem de inovação dos costumes e saneamento moral: reviu regalias do funcionalismo público e reduziu vantagens dos militares. No campo econômico, procurou promover uma reforma cambial, que atendesse aos interesses do setor exportador e dos credores internacionais, punindo fortemente os grupos nacionais.

Essa inovadora política externa de Jânio também provocou algumas resistências nos meios militares. Por outro lado, as duras medidas internas, que visavam combater a inflação, que fora crescente durante o governo JK e estava em altos índices após a inauguração de Brasília, bem como as que visavam reorganizar a economia, desagradavam também à esquerda. Jânio reprimia os movimentos esquerdistas, pelos quais não tinha simpatia alguma, muitos deles eram liderados por João Goulart, seu vice presidente. Sua política de austeridade, baseada principalmente no congelamento de salários, restrição ao crédito e combate à especulação, desagradava inúmeros setores influentes da sociedade, tanto os considerados da direita, quanto os da esquerda.

O presidente Jânio Quadros apresentava contradições no seu discurso, populista, conseguindo desagradar a oposição e a situação. Tais contradições manifestavam-se, igualmente, nas decisões políticas: Jânio se declarava anticomunista e populista, embora controlasse sindicatos, reprimisse protestos de camponeses e ordenasse a prisão de estudantes rebeldes; além disso, ele condecorou o líder revolucionário Che Guevara com a maior distinção concedida pelo país, a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul.

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17 Dentre esses setores, houve auxilio da imprensa, que estava alinhada aos Estados Unidos e defendia que o Brasil deveria seguir o ideário norte-americano, sendo assim, a governabilidade e permanência na presidência da república de Jânio Quadros tornou-se insustentável.

A renúncia de Jânio Quadros levou João Goulart à presidência da república. Todavia, era voz corrente no Congresso Nacional que não dessem posse ao vice presidente; as causas eram variadas, tais como: Jango teria incentivado várias greves nacionais, ter fama de esquerdista e ter viajado à China em missão diplomática. O projeto de estabelecer relações com as nações do bloco socialista deflagrou uma grave crise política, que eclodiria no movimento político-militar, depondo o governo Goulart em 31 de março de 1964.

Durante o governo de João Goulart (1961-1964), a imprensa foi um dos principais focos na divulgação do fantasma comunista, tornando-se uma das principais justificativas para a deposição do presidente. Ao mesmo tempo, divulgava a existência de um caos administrativo, alardeava a imperiosa necessidade do restabelecimento da ordem, através da intervenção militar.

Pode-se dizer que a imprensa, naquele momento, pautava-se por um comportamento partidário e, dessa forma, refletia os interesses ideológicos dos partidos políticos compostos por empresários, militares e pessoas da alta sociedade. Grande parte dos jornais, tais como, Correio da Manhã, Jornal do Brasil, Última Hora, A Noite, Correio Brasiliense e Zero Hora, manifestaram-se contra o veto dos ministros militares pretendentes em impedir Goulart de assumir a presidência; mas jornais como o O Estado de S. Paulo e O Globo defendiam o veto dos ministros militares a não deixarem Goulart assumir a presidência da república. O jornal O Estado de S. Paulo, em suas publicações, manifestava-se, enfaticamente e fervorosamente contra Goulart, convocando as Forças Armadas a impedir que "as forças subversivas" chegassem ao poder.

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18 Devido à radicalização política, no governo Goulart, marcado por greves, movimentos insurgentes dos baixos escalões das Forças Armadas e os altos índices de inflação, ocorreu o apoio da mídia e outros setores da sociedade, de forma a propiciar o esfacelamento do governo Goulart. Sendo assim, a imprensa colocou-se a favor dos grupos políticos e movimentos opositores ao governo Goulart. Poucos jornais ficaram ao lado do presidente, destacando-se entre eles a Última Hora, jornal que tinha grande penetração no meio sindical e estudantil, e o Diário Carioca. Enquanto jornais como: o Jornal do Brasil, o Diário de Notícias, o Correio da Manhã, intensificavam as críticas contra Goulart.

A oscilação de apoio indica, nesse momento, uma da imprensa sem censura.

Após a derrubada de Goulart e início da Ditadura Militar, foi implementada a censura aos meios de comunicação. Como resultado iniciou-se a perseguição às lideranças políticas, sindicais e intelectuais. Alguns jornais, como o próprio Correio da Manhã, começaram, imediatamente, a distanciar-se dos novos detentores do poder e a denunciar as arbitrariedades cometidas pelos militares.

1.1.4 As questões político-sociais influenciam a mídia nacional e a hibridização dos gêneros artigo e crônica em coluna.

Durante o período de ditatura militar, com a censura, os jornais paulistanos publicavam crônicas, atualmente reconhecidas como gênero literário, pois extrapolam a efemeridade do jornal para a produção de livros literários. Nessa mesma época, os jornais publicam também artigos assinados que são textos opinativos a respeito de temas distantes do governo militar, tais como, artes e esportes.

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19 Manhã, que abrange os jornais Folha da Tarde, Folha de S. Paulo, tornando-se instrumento de apoio e propaganda do Estado autoritário.

Nos estudos realizados por Kushnir, constatou-se que havia ex-jornalistas trabalhando tanto para o governo, quanto para o jornal Folha da Tarde como também havia muitos policiais (tiras) que escreviam para o e no jornal. A publicação desse grupo levou-os a serem os legalizadores e legitimadores das torturas, das mortes ocorridas nos porões dos DOI-CODIs de São Paulo. Nas pesquisas de Kushnir, apesar de centrar-se na empresa do Grupo Folha, constatou que, em muitos jornais e veículos de comunicação, também ocorreu a contratação de policiais-jornalistas.

O Jornal do Brasil produziu uma circular de cinco páginas denominada

“Instruções para o controle de qualidade e problemas políticos”, criada com o objetivo de “instituir na equipe um (…) Controle de Qualidade (…) sob o ponto

de vista político”. A Rede Globo contratou José Leite Ottati, ex-funcionário do

Departamento de Polícia Federal, para realizar a censura interna e evitar prejuízos por conta da proibição de telenovelas. Esse esquema foi adotado pela Editora Abril e outros veículos de comunicação.

Para Kushnir (2001), a censura na imprensa não é algo recente ou apenas nos anos de ditadura militar. Ela ocorre com a Real Mesa Censória, na Colônia, e perdura pelos nossos 514 anos. Houve arroubos de liberdade e democracia tanto na República brasileira como na imprensa nacional; todavia,

ainda há um departamento de censura “travestido na ideia da moral de bons costumes”, ou seja, carregado da ideologia do poder.

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20 Como diz Jânio de Freitas, em artigo de 1998, sobre os 30 anos do AI-5, os arquivos, hoje, possuem um manancial maravilhoso. Se você voltar aos arquivos e pesquisar o que aquelas pessoas publicaram àquela época, e o que elas dizem hoje sobre o que publicaram àquela época, há uma

sincronia.” (KUSHNIR, B. DITADURA MILITAR: A

grande imprensa não afrontou, 2014. São Paulo: Revista Forum Semanal. Entrevista concedida a Anna Beatriz Anjos)

Dessa forma, pode-se verificar que os jornais nacionais tiveram muitas mudanças e influências no seu discurso, ora adotando uma política editorial mais próxima a ideais políticos-partidários, defendendo um posicionamento a favor ou contra o regime político vigente, ora adotaram uma política editorial mais alternativa. Após o fim do regime ditatorial, gradualmente, a imprensa nacional obteve maior liberdade de expressão, o que ocasionou uma maior concentração dos meios de comunicação nas mãos dos pequenos grupos.

Com a abertura política, a redemocratização dos últimos vinte anos fez com que o modelo de mídia, híbrido, desenvolve-se, mesclando entretenimento e informação. Dessa forma, o jornal fortaleceu-se como veículo de comunicação de massa, conquista cada vez mais espaço em diferentes grupos e camadas sociais e passa a produzir materiais simbólicos, responsáveis por influenciar fortemente as massas sociais.

Um exemplo da forte influência exercida pelos meios de comunicação e de sua capacidade de criar uma nova visão do mundo foi a campanha presidencial de Fernando Collor de Mello, eleito em 1989, com amplo apoio do pequeno e seleto grupo detentores das empresas midiáticas, como também foram eles os responsáveis, anos depois, em provocar, por meio de inúmeras e sucessivas denúncias o processo de impeachment, levando à renúncia do, então, presidente Fernando Collor de Mello.

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grupo Folha empreende uma “revolução gerencial”1, ao iniciar uma nova

política editorial e profissional para a redação.

O Projeto Folha estabeleceu regras de conduta e escrita, como também delimitou as bases doutrinárias do grupo e implementou novos métodos de edição associados aos avanços tecnológicos. Assim, gerou um ‘novo’ fazer jornalístico, que foi adotado por grande parte da imprensa nacional.

A Folha estabeleceu padrões que foram combatidos e depois seguidos por concorrentes.

Como toda revolução, criou novas formas de trabalhar adotadas depois por boa parte da imprensa nacional, provocou simpatias e ódios e deixou "feridos", mas fez da Folha o jornal de maior circulação do país. Se a preocupação com apartidarismo e profissionalismo já vinha sendo exposta desde o começo da década de 80, foi em 1984, com a publicação do primeiro Projeto Editorial, que se adotou radicalmente a opção de administrar a Redação como uma empresa industrial moderna.

Era preciso fazer um jornalismo crítico, pluralista, apartidário e moderno, dizia o texto de 84, e isso deve ser feito com "intransigência técnica".

Pensado, discutido e publicado quando se esgotava o confronto oposição-situação, com o fim do regime militar, refletia a posição da empresa de que a preocupação com a ideologia política deveria ceder lugar à formulação de uma ideologia jornalística, cristalizada no Projeto Editorial.

Mudanças gráficas como a organização do noticiário em cadernos temáticos, introduzida em 1991

Metas e normas

O que provocou surpresa e às vezes revolta nas mudanças propostas pelo Projeto Folha em 1984 não foram os postulados editoriais, mas o fato de o jornal se assumir abertamente como produto, sujeito portanto às leis de mercado, e a ênfase dada a questões técnicas e procedimentos, como metas, normas e mecanismos de controle.

(COLEÇÃO FOLHA ONLINE 80 ANOS - o projeto em vigor e as versões anteriores podem ser lidos

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no site http://www.uol.com.br/

fsp/brasil/fc170805.htm, acesso em 13/05/2014)

Foi durante a ditadura militar que as empresas-jornais deixaram de publicar os jornais vespertinos ou noturnos, para unificar uma única publicação matutina ocorrendo o implemento dos Cadernos e Suplementos, que tratam de assuntos específicos, devido à forte repressão e controle por parte do governo militar, fez surgir a publicação de artigos, ensaios, críticas literárias e crônicas nos jornais paulistanos, levando a uma hibridização dos gêneros crônicas e artigos.

O que levou a classificação da crônica como o espaço heterogêneo, onde convive o pequeno ensaio, o conto, o poema em prosa, tendo como resultante a sua identidade única no mundo. Essa combinação de gêneros é responsável por dar características primordiais da crônica brasileira, contudo deve-se salientar que nessa mistura de assuntos e gêneros, cria-se um gênero específico.

Já o artigo, para a Comunicação Social, é um texto eminentemente opinativo, publicado em seção destacada do conteúdo noticioso, para demonstrar que trata-se de material não jornalístico. Ao passar dos anos, o artigo foi classificado como um texto produzido por especialistas, intelectuais, autoridades para escrever artigos sobre temas específicos do noticiário; enquanto surgiu uma nova classificação - a coluna-, que se caracteriza por ser um espaço permanente reservado para textos do mesmo autor, apesar de as colunas serem textos opinativos escritos por literatos, músicos, jornalistas, psicólogos, etc., os estudiosos da Comunicação Social afirmam que somente jornalistas são produtores de colunas, classificando como jornalistas todos os colaboradores remunerados pela empresa-jornal.

Atualmente, os jornais paulistanos possuem colunas em todos os seus cadernos e os autores de crônicas, comentários e ensaios todos são articulistas, já que produzem um texto avaliativo sobre algo no mundo, bem como possuem as características de serem um texto assinado; publicado com regularidade; tratam de temas variados; contém uma opinião de forma explicita; liberdade para escrever de forma pessoal, livre.

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23 Inusitado/Atual, ou seja, notícia é tudo aquilo que é inesperado ou que represente o afastamento da vida cotidiana, do esperado. É a busca em fornecer a comoção, emoção ou surpresa ao público.

Ao Demonstrar o percurso histórico do discurso jornalístico nacional e sobretudo como ele adequou-se ao momento histórico-social que se insere, pode-se identificar que o discurso jornalístico nacional utilizou-se de diferentes estratégias e influências, dependendo do contexto histórico-social para adequar-se à situação histórica da produção do jornal.

Sendo assim, é interessante observar que, com a mudança do público leitor e a mudança social, com o fim da censura, os jornais passam a ser organizados por cadernos cada um destes é lido dependendo do interesse do leitor. Dessa forma, os jornais pesquisados reservam um espaço em cada caderno para a publicação de um texto opinativo, assinado. Os autores publicam em dias determinados da semana, e cada um deles é especializado em determinados temas.

O Projeto Folha possibilitou e promoveu abertura para uma série de textos e gêneros produzidos por especialistas ou como afirma Swales (1990), o texto é categorizado conforme o elemento retórico de maior destaque no processo comunicativo, por isso os gêneros possuem um valor sociocultural, uma vez que atendem a necessidades sociais dos grupos sociais que o produzem.

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24 1.2 Caracterizações literárias e jornalísticas do texto-crônica

Os textos publicados em jornal são objeto de estudo tanto de jornalistas, quanto da crítica literária.

Para Bender e Laurito (1993), a crônica é como um grande “guarda

-chuva”, onde cabem muitos tipos de texto.

Vamos englobar tudo que não é nitidamente catalogável e que saiu primeiramente em revista ou jornal, de curto fôlego, em linguagem coloquial, sem pretensões, próxima do leitor, falando de assuntos de seu interesse, ou do cronista (que acaba convencendo o leitor de que é de seu interesse também), na categoria de crônica. (BENDER & LAURITO, 1993, p. 51)

Os estudos conceituaram a crônica, a princípio, como um breve relato dos eventos sócio-histórico, uma organização cronológica dos acontecimentos; com o passar do tempo, as mudanças sociais, ideológicas, culturais transformaram-na em um texto transformaram-narrativo-opitransformaram-nativo, onde muitos discursos se manifestam e se centram no autor, no seu estilo, no seu modo de ver o mundo. Todavia esses conceitos são limitadores da amplitude de significados que a crônica possui, uma vez que ela rompe com as dicotomias estéticas tanto da literatura quanto do jornalismo.

A crônica ganha autonomia no instante em que passa a conceber valores conotativos aos fatos tratados, não se detendo ou se preocupando com a cronologia e sim com a focalização, com a expressão dos fatos analisados, “o

historiador escreve os fatos buscando lhe uma explicação, enquanto o cronista que o percebeu, se limitava a narrá-los [...] deixando toda explicação na sombra da divindade, com seus desígnios insondáveis.” (ASSIS, 1985, p. 546)

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25 1.2.1 A crônica jornalística

Por volta de 1640, inicia-se a escrita panfletária, cuja principal fonte de informação são os diários particulares. Estes eram redigidos pelo ponto de vista do diarista, apresentando uma documentação a respeito da realidade social da época, de forma a registrar o vivido, espelhando-se nele, a fim de tratar dos principais problemas de administração interna e de todo o jogo das organizações sociais. Nessa época, as crônicas publicadas no jornal, escritas com a visão planfetária da literatura, demonstram uma incontestável familiaridade do cronista com questões de ordem social, política, econômica, presentes na época em que vive.

Com Manuel Severim de Faria (1583 -1655), aparece a obra Notícias de Portugal, em 1655. Suas Notícias, caracterizadas como crônicas, incluem estudos de numismática, de genealogia dos nobres, de histórias da organização militar nacional e até memoriais de cardeais, além de remédios para cura dos problemas desse povo.

A palavra crono encontra-se em nossa língua como radical de muitos termos, que etimologicamente se ligam ao sentido original, associada, a origem da palavra grega chronos, que significa “tempo”, dando origem ao vocábulo

crônica.

No Dicionário etimológico, de Antenor Nascentes, a palavra crônico é dada como originária do grego chronikós (relativo ao tempo), recebida pelo latim chronicus.

No DICIONÁRIO LATINO PORTUGUÊS, Francisco Torrinha (1982), temos o seguinte significado para:

chronicus. a, um. Adj. Chronica , örum. n. pl. crônica, narrativa de fatos segundo o decorrer do tempo.

No NOVO DICIONÁRIO AURÉLIO da LÍNGUA PORTUGUESA, Aurélio Buarque Holanda Ferreira (1986, 2009), temos o seguinte significado para:

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26 pessoal, e que tem como tema fatos ou idéias da atualidade, de teor artístico, político, esportivo, etc, ou simplesmente relativos à vida cotidiana...

No MÍNI HOUAISS DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA, Antônio Houaiss (2008), temos o seguinte significado para:

crônica s.f. 1. registro de fatos históricos em ordem cronológica 2 pequeno texto ger. Baseado em fatos do cotidiano 3 seção ou coluna de jornal sobre tema especializado.

E mesmo que se localize em outros dicionários, variantes do étimo de crônica, nenhuma dessas variantes deixa de radicar-se no sentido original de cronos (tempo).

O termo crônica deriva das variantes chronica, cronicão e cronicon, dos reinos medievais, os quais procuravam certificar os acontecimentos e as linhagens das famílias europeias. Com o surgimento do pensamento Humanista em Portugal, século XVI, os reis portugueses aperceberam-se da necessidade de construir o conhecimento para as gerações futuras. Com o monarca D. João I, tem-se a primeira exaltação ao livro, isto é, a transmissão do conhecimento aos seus descendentes por meio do estudo oficial do reino de Portugal, assegurando às gerações futuras o relato dos antepassados, seus feitos heróicos para a formação do grande reinado portucalense.

Esses estudos formaram os cronicões, que passam a fazer parte da vida da nobreza como legitimador de sua linhagem nobre. Os sucessores de D. João solicitam mais estudos e obras que auxiliassem resolver as dificuldades administrativas no governo ou que contribuíssem a formação de uma identidade nacional. Por exemplo, D. Duarte, 1419, encomenda a crônica dos reis de Portugal que objetivava conhecer “as estorias dos Reys que

antygamente em portugal forom esso meesmo os grandes feytos e altos do muy uertoso E de grades uertudes El Rey meu Senhor e padre2 (...)” (BRANCAAMP FREIRE, 1915).

A crônica tem suas raízes na Historiografia e está ligada às narrativas pessoais de tipo memorialista. Ocorre porém uma modificação, na Península Ibérica, em relação ao restante da Europa, uma vez que as crônicas ibéricas

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27 apresentam uma ampla narrativa cuja temática aborda a história nacional da Espanha, reunidas em A crônica Geral de Espanha, de 1344.

Em Portugal, empreende-se um amplo projeto para a criação da identidade nacional, através dos relatos das crônicas mouras, dos feitos lendários no reinado de Afonso Henriques e seus sucessores. Nesse momento transitório do pensamento medieval, denominado Humanismo, nota-se a valorização do conhecimento, da leitura e escrita que passam das mãos do clero para as da nobreza, homens não ligados à Igreja assumem postos oficiais como o de Guardião-Mor das escrituras da Torre do Tombo.

Assim, a produção historiográfica, os documentos oficiais administrativos do reino, passaram a ser produzidos por funcionários ligados aos ideários da nobreza. Esses homens de saber estavam mais próximos do povo, faziam parte dele, detendo uma enorme variedade temática, que lhes possibilitava incluir em seus registros opiniões e assertivas, a partir de suas experiências.

Nas primeiras acepções, a crônica tem o papel de certificar os acontecimentos e as linhagens das famílias nobres de Portugal, tendo como princípio primordial registrar os fatos reais ao longo da evolução no tempo. Tal medida, facilmente, pode ser verificada nas crônicas medievais portuguesas, pois estas visavam apresentar sequências de fatos organizados, na ordem temporal de sua ocorrência original.

Com o projeto da corte portuguesa de criar uma identidade própria, desvinculada do reino da Espanha, surgiu o cargo de cronista oficial do reino de Portugal, ocupado por Fernão Lopes, depois por Eanes de Zurara e Ruy de Pina. Eles buscaram desenvolver um trabalho de compilação de situações e temas relacionados, principalmente, ao paço real e aos caminhos e descaminhos da expansão ultramarina do reino de Portugal, a partir do século XIV.

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28 autor os textos literários eram, de forma geral, escritos em latim e o português era apenas utilizado na oralidade.

Ao redigir em língua portuguesa, a escrita, inicialmente, baseou-se na língua oral, por isso as frases são curtas e redigidas em estilo coloquial, sem o rebuscamento próprio do uso literário; sem utilização de figuras de linguagem e de estilo. A proximidade da língua falada com a escrita pode ser demonstrada pelas próprias intervenções do cronista medieval que interpela, frequentemente, o seu ouvinte, na medida em que o texto-crônica era destinado à leitura em público.

O vocábulo cronista adquiriu um significado diferente do historiador, já que o historiador era quem redigia as histórias do reinado, enquanto o cronista era quem as ordenava cronologicamente. E Fernão Lopes deu uma nova orientação para crônica, embora sua obra, seja, também resultado da compilação de textos da História houve uma inovação a de assegurar suas convicções, devido o seu trabalho de pesquisa e investigação capacitando-o fazer escolhas mais seguras dos acontecimentos no momento em que não havia documentos comprobatrórios.

Como guarda-mor da Torre do Tombo, Fernão Lopes teve acesso aos arquivos do Estado, possibilitando-o a transcrever, resumir e interpretar correspondências diplomáticas, disposições legais e outros documentos que foram enriquecidos por ele, uma vez que buscava informações e documentações junto aos cartórios das igrejas e até mesmo nas lápides de sepulturas. Todo esse material de pesquisa possibilitou-lhe fazer a crítica e a correção de textos de História e de memórias escritas.

Dessa forma, fez uma revisão sistemática de todos os relatos que havia compilado em suas pesquisas, de forma a apontar as contradições e inverossimilhanças existentes; no momento em que lhe faltava documentos, ele se decidia por aquilo que julgava mais provável.

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29 história por fragmentos de vida e de hábitos da sociedade, em uma visão de conjunto.

As crônicas de Fernão Lopes falavam da corte e de sua vida íntima, casamentos, amores, intrigas e perfídias palacianas; destacam-se também no seu trabalho a inserção do povo, os comícios, os movimentos populares, etc. Em seus trabalhos o cronista apresenta uma massa anônima, implementando um ponto de vista nacional, de forma analítica e crítica, porque exalta ou condena as ações e atitudes da sociedade contemporânea.

Nesse sentido, a crônica de Fernão Lopes sai da tradição medieval (pôr em crônica - ordenar cronologicamente textos compilados) para humanizar, isto é, integrar os interesses humanos e a “realidade” do mundo que o circunda.

Gomes Eanes de Azurara ocupou o cargo de cronista oficial da corte, após Fernão Lopes; sua orientação e a sua mentalidade são diferentes das de seu antecessor: para ele a finalidade da história é perpetuar a glória dos que praticam grandes feitos, a fim de que os seus descendentes pudessem receber recompensas régias. Por esse motivo, a crônica de Azurara dá relevo aos fatos individuais, contudo despreza a ação anônima e coletiva do povo e está imbuído de uma concepção cavalheiresca que abandona o sentimento nacional de Fernão Lopes.

Do ponto de vista histórico, crônica efetivamente siginifica narração de fatos, de forma cronológica, como documento para a posteridade. A produção dos cronistas foi legitimada pela literatura [...] É desta maneira que Hernani Cidade registra a obra de Azurara no conjunto da literatura portuguesa, chamando-o de “primeiro cronista das conquistas

de além-mar” (MELO J. d., 2003c, p. 149)

Referências

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