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2.1 A caracterização dos gêneros textuais, segundo estudiosos jornalistas.

2.1.2 O Comentário

A década de 60 foi o momento em que a imprensa brasileira sofreu transformações, impulsionada pelos avanços tecnológicos e pela ideologia norte-americana, em expansão por toda América Latina, desde a década de 50. Dessa forma, a imprensa brasileira absorveu os padrões do fazer jornalístico dos norte-americanos, entre eles o Comentário.

Há muito tempo o comentário era cultivado no jornalismo norte-americano, onde se privilegiavam certas figuras de relevo (oriundas da própria profissão), cujo espaço cultivado permitiu que se convertessem em opinion-makers [...] Trata-se de um observador privilegiado, que tem condições para descobrir certas tramas que envolvem os acontecimentos e oferecê-las à compreensão do público[...] (MELO J. d., 2003c, p. 112)

Para os estudiosos da Comunicação, o Comentário surgiu como “novo” gênero, a fim de abordar assuntos de menor abrangência em comparação ao Editorial. Segundo (MELO, 2003c), o Comentário surgiu no momento em que a empresa-jornal adota um posicionamento mercantil. Assim, houve a necessidade de se abrir espaços para anúncios, pois eles garantiram o fluxo econômico da empresa-jornal, concomitantemente, ela se viu obrigada a abrir outros espaços, para garantir que a opinião fosse expressa, pois não era possível manter o monopólio opinativo do editorial, que garantia atendimento a um grupo seleto de leitores.

63 O Comentário tem por especificidade tratar de temas atuais, noticiados há pouco, onde se irá “explicar” as notícias pelo ponto de vista do comentarista, seu julgamento nem sempre é direto e assertivo, mas construído por um raciocínio argumentativo.

Segundo Castelli (1968), o Comentário é o gênero intermediário entre o Editorial e a Crônica, porque utiliza o método expositivo do Editorial, mas introduz a ironia e o humor da Crônica.

O consenso entre os estudiosos é de que o Comentário trata do atual, do imediato, ele possui uma técnica mais livre em relação ao Editorial e estrutura- se em duas partes: a síntese do fatos e argumentação sobre sua focalização dos acontecimentos, o que leva a declarar uma opinião.

O comentário ainda não teve o seu diagnóstico feito com precisão no jornalismo brasileiro. Historicamente ele surge na década de 50, principalmente com a expansão da televisão, e atinge um período de fulgor na primeira metade da década de 60. Mas como comentar é uma atividade jornalística que não pode prescindir de liberdade, no duplo sentido de expressar pontos de vista e de apreender o que ocorre no cenário dos acontecimentos, observa-se um declínio após o golpe de 1964 [...] O campo que se afigura livre para o comentário é dos esportes, não apenas pela coincidência da valorização do futebol como válvula de escape nacional, mas pela liberdade de atuação de que gozam os jornalistas esportivos para emitir conceitos e sugerir julgamentos. O comentário esportivo floresce [...] (MELO J. d., 2003c, pp. 117- 118)

Com a abertura do regime ditatorial, a partir da segunda metade da década de 70, e as inovações iniciadas pela empresa Folha de S. Paulo, são abertos espaços para comentar os acontecimentos, a partir de diferentes focalizações. Assim, surgem vários comentaristas, entre eles o comentarista econômico, tendo como maior nome Joelmir Betting.

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2.1.3 O Artigo

O termo artigo possui duas acepções, segundo Melo (1985), a de senso comum atribui-lhe o sentido de toda matéria publicada em jornal ou revista não tendo relevância a sua natureza4. Há também a significação dada pelos estudiosos da comunicação social, mais peculiar aos meios e instituições jornalísticas, que identificam o Artigo como um gênero específico e uma forma de expressão verbal, na qual um jornalísta desenvolve uma ideia e apresenta seu ponto de vista sobre o fato, isto é, sua opinião.

Texto jornalístico interpretativo ou opinativo, mais ou menos extenso, que desenvolve uma ideia ou comenta uma assunto a partir de uma determinada fundamentação. Geralmente assinado, o artigo difere do editorial por não apresentar enfaticamente, como este, um ‘receita’ para a questão em pauta, nem representar necessariamente a opinião da empresa jornalística. (RABAÇA e BARBOSA, 1970, p.25)

A concepção nacional de Artigo se aproxima da conceituação apresentada por Martín Vivaldi (1973) “escrito, de conteúdo amplo e variado, de forma diversa, na qual se intrepreta, julga ou explica um fato ou uma ideia atual [...] segundo a conveniência do articulista”. Dessa forma, para Vivaldi há dois elementos fundamentais para a produção do Artigo, são eles: atualidade e opinião.

O articulista possui liberdade temática, todavia ela deve tratar de fato atual, ater-se ao momento histórico vivenciado; bem como apresentar a sua focalização sobre o mundo ou o fato analisado de forma clara, explícita.

O Artigo tem por característica a periodicidade, ou seja, possui espaço e publicação diária, escrito por jornalistas, literatos, músico, professor,

4 Essa significação é utilizada pelo legislador brasileiro, quando faz diferença entre artigo assinado e não

assinado, questão de interesse ao aparelho judiciário e assim expressa na Lei de Imprensa. Vide: NABANTINO RAMOS, José. Dicionário enciclopédico do jornalismo – verbete artigo não assinado. São Paulo, IBRASA, 1970, p. 40-41.

65 pesquisador, políticos e outros convidados a escrever sobre assuntos da sua competência e familiaridade.

O Artigo sofre caracterizações diferenciadas em cada país ou região; por exemplo os norte-americanos incluem o gênero como comment; na Inglaterra, corresponde a formal essay; na Espanha, articulo, etc. Apesar de denominações diferenciadas todos possuem similitude ao apresentarem para esse tipo de texto as seguintes categorias: narrativa-opinativa e atualidade, construindo uma argumentação por meio dos conhecimentos do autor, que darão um julgamento sobre um determinado fato.

O Artigo e o Ensaio possuem as mesmas características. “A diferença entre ambos não reside apenas na extensão (o artigo é um ensaio curto e o ensaio é um artigo longo [...]” Melo (2003c, p. 123). A finalidade do Artigo/Ensaio tornou-se doutrinária ou científica, na imprensa brasileira, transmitindo novos conhecimentos de diferentes áreas de estudo. Segundo Melo (2003c), não é muito claro, nem fácil distinguir entre o artigo doutrinário ou científico, por não possuir um padrão organizacional de seu texto.

Martín Vivaldi (1973) afirma que a estrutura do Artigo é fixa e passa por três momentos distintos, denominados por ele de invenção, disposição e elocução: a invenção, para o autor, é momento em que se retira do mundo/ da vida/ do cotidiano o tema; a disposição dá-se no equilíbrio entre a ordem (organização mental do texto) e a inspiração e a elocução corresponde à organização textual, ao texto produto.

No jornal brasileiro, o articulista conquistou papel significativo e de grande relevância, pois contribuiu para dinamizar o jornal impresso, bem como a conquistar seguidores, ou seja, leitores devido às ideias e aos pontos de vista apresentados, criando ou apresentando aos leitores uma nova conjuntura sóciopolítica. Os articulistas passaram a produzir e formar opiniões, conforme eles foram conquistando leitores e transformando o fazer jornalístico mais ágil e direto.

Dessa forma, pode-se afirmar que o Artigo é um gênero jornalístico nascido para ser publicado em jornais e ocupar espaços pré-determinados, em seções ou colunas, destinadas à veiculação de opiniões. Os articulistas representam grupos sociais reconhecidos por sua atuação tais como:

66 empresários, políticos, músicos, sindicalistas, professores, áreas profissionais etc.; eles representam o pensamento do segmento social, ou comunidade discursiva, a que pertencem.

Atualmente, o gênero Artigo ultrapassou as páginas impressas e encontra-se no rádio e, principalmente, na televisão com Bob Fernandes, na Gazeta; Arnaldo Jabor, na Globo; José Nêumanne Pinto, no SBT. Eles produzem um texto onde apresentam os fatos relevantes da semana, analisando-os segundo sua opinião, apresentando argumentos que legitimam a sua conclusão.

Como pode-se verificar, o estudo sobre o gênero Artigo focalizou uma descrição organizacional, pela estrutura produtiva jornalística. Os estudiosos se basearam nas definições espanholas, inglesas, americanas, francesas e verificaram haver influências dessas classificações no fazer jornalístico em determinados momentos históricos.