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Análise Crítica do Discurso, com vertente sócio cognitiva

No documento DOUTORADO EM LÍNGUA PORTGUESA SÃO PAULO 2015 (páginas 112-118)

FUNDAMENTOS PARA UMA DA CATERIZAÇÃO DOS GÊNEROS CRÔNICA E ARTIGO PUBLICADOS EM JORNAL

3.3 A Linguística Crítica e a Análise Crítica do Discurso

3.3.2 A Análise Crítica do Discurso (ACD)

3.3.2.2 Análise Crítica do Discurso, com vertente sócio cognitiva

Van Dijk (1997), postula a Análise Crítica do Discurso, a partir de três categorias analíticas, a saber: Sociedade, Cognição e Discurso. O autor afirma que “a ACD objetiva propor um ‘modo’ ou uma ‘perspectiva’ diferente de teorização, análise e aplicação ao longo dos campos” (van DIJK, 2008, p.114). Para o autor há uma ligação direta entre a sociedade (no que tange poder e dominação) e discurso e, para compreendê-los, é necessário considerar uma interface cognitiva (cf. van Dijk 2008a).

O autor assevera que a situação social determina as estruturas do discurso, caso contrário os indivíduos em determinadas situações sociais análogas, utilizariam ou falariam a mesma coisa, o que não ocorre. Assim, a interface cognitiva explica porque pessoas produzem textos diferentes em situações semelhantes, o que van Dijk chama de individual variation (van DIJK, 2006, p. 162).

Para van Dijk (1997, 2006, 2008) há uma inter-relação entre Sociedade- Cognição-Discurso na medida em que uma se define pela outra. A Sociedade é compreendida como um conjunto de grupos sociais e um grupo social é entendido como a reunião de pessoas com os mesmo objetivos, interesses e propósitos. Estes guiam o ponto de vista que é projetado para observar os eventos no mundo, de forma a representá-los mentalmente. As representações mentais são formas de conhecimentos; sendo assim, cada grupo social pode ser definido pelos seus conhecimentos grupais, que são conflitantes com os conhecimentos sociais de outros grupos sociais.

99 A Cognição é o conjunto de representações mentais, que são formas de conhecimento. Cada representação mental decorre da projeção do ponto de vista social para focalizar o mundo, de forma a construir o observado em um determinado estado de “coisas”.

As Cognições Sociais diferem-se de um grupo social para outro, uma vez que as formas de conhecimento, pois os pontos de vista projetados são diferentes; dessa forma há um constante conflito intergrupal. Todavia, os discursos institucionalizados e públicos (instituições empresa, família, igreja, Estado, Estado em empresa) constroem formas de conhecimento que são extra grupais, criando-se assim um senso comum nas cognições sociais. As cognições sociais tanto grupais, quanto extra grupais compõem o Marco das cognições Sociais de uma comunidade.

O discurso é visto como uma das práticas sociais que constroem todas as formas de cognição. Os discursos podem ser tanto institucionais e públicos, quanto eventos discursivos particulares.

Segundo Van Dijk (2003), todas as formas de conhecimento envolvem dimensões cognitivas, sociais e discursivas. Na dimensão cognitiva, todas as formas de conhecimento são vistas como crença, ou seja, conhecimentos avaliativos, pois, por serem formas de representações mentais, não se sujeitam ao critério de verdade/falsidade. Logo, afirma van Dijk, todas as formas de conhecimento sociais são crenças e estas guiam as formas de conhecimento individuais.

Em se tratando de crenças, na dimensão social da interação sócio- comunicativa dos discursos, as formas de conhecimento são construções que pretendem ter o valor de verdade e do real, portanto verossímeis. Estas são definidas pelo social, principalmente em termos de concordância, compartilhamento ou critérios sociais.

Ao postular a categoria Cognição e propor que todas as formas de conhecimentos são construídas no e pelo discurso, van Dijk recorre à teoria de memória de armazéns de Athinkson (1975) que diferencia as memórias de curto, médio e longo prazo. A memória de curto prazo é sensorial e quantitativa, controlada por uma unidade designada schunk. Todas as vezes

100 que esse controle é lotado e não esvaziado a informação entrada pela memória sensorial de curto prazo é descartada.

A memória de médio prazo armazena a informação processada por um certo período de tempo, de forma a reformular o resultado do processamento até se construir um sentido global. A partir daí, o sentido global é armazenado na memória de longo prazo.

A memória de longo prazo é dividida em dois grandes armazéns: o social e o individual. O armazém social, também designado memória semântica, é composto por uma série de sistema de conhecimentos, construídos a partir do que é vivido e experienciado socialmente. Esses sistemas, de forma genérica, são: o sistema linguístico (conhecimentos sociais de línguas ou de outros sistemas semióticos que constroem os textos-produtos) o sistema enciclopédico que armazena o conjunto de conhecimentos de mundo; e o sistema interacional que armazena os conhecimentos relativos às práticas sociais entre elas a discursiva, tais como, atos de fala, esquemas contextuais discursivos, regras conversacionais e gêneros textuais.

A memória de longo prazo individual armazena as formas de conhecimentos construídas a partir de experiências pessoais, embora estas sejam guiadas pelas sociais. A memória de trabalho processa a informação, transformando as expressões materializadas em sentidos de forma recorrente, pois tanto expande n-tuplo de sentidos uma expressão, quanto resume construindo sentidos mais globais. Sendo assim, explicita implícitos e faz inferências, recorrendo a conhecimentos armazenados na memória de longo prazo.

Todos os sistemas de conhecimentos são importantes para serem ativados durante o processamento da informação.

Van Dijk, em seus estudos a respeito dos tipos textuais, designa-os por superestruturas, definindo-os como esquemas textuais vazios, formados por categorias e regras hierárquicas de ordenação.

Enquanto analista crítico do discurso van Dijk não se preocupou, ainda, em apresentar uma teoria dos gêneros textuais. Estes foram tratados por ele enquanto linguista textual, por tipos textuais.

101 Por postular a inter-relação das categorias analíticas Sociedade, Cognição e Discurso, van Dijk trata a ideologia como formas plurais de conhecimentos avaliativos, impostos pelo poder com o objetivo de discriminar grupos sociais minoritários.

Silveira (2000), diferencia cultura de ideologia. Ambas são crenças, já que se definem como formas de avaliação social. A Cultura é transmitida de geração para geração e esses valores guiam o comportamento das pessoas, em sociedade, de forma a construir hábitos, costumes e comemorações, entre outras manifestações sociais. A Ideologia compreende valores que nascem da cultura e que são selecionados, modificados e impostos pelo poder, através de discursos institucionalizados públicos.

Segundo Silveira (1998), os conhecimentos culturais decorrem de formas de representações daquilo que é experienciado e vivido socialmente em um determinado momento histórico. Como a cultura é transmitida de geração para geração, suas formas de representação têm raízes históricas, mas elas são dinâmicas, já que, a cada época, cada geração apresenta modificações, decorrentes da resolução de problemas novos. A dinâmica ideológica decorre da mudança de interesses das classes de Poder.

Como cada grupo social tem um Marco de Cognição Social, para Silveira (1998), há uma unidade imaginária, nacional que é extragrupal, transmitida pelos discursos públicos institucionais; contudo as culturas são plurais e são pontos de partida para a construção das ideologias pelas classes de Poder.

Para van Djik (1997), todos os discursos públicos institucionalizados são definidos por três categorias, a saber: Poder, Controle e Acesso.

O poder agrupa um conjunto de participantes que tem por função tomar decisões e suas ações estão voltadas para garantir que suas decisões sejam respeitadas.

O Controle reúne um conjunto de participantes que têm por função executar as decisões do Poder e suas ações estão voltadas para a seleção das informações as suas expressões semióticas ou em língua.

O Acesso é definido por um grupo de participantes que têm por função conduzir os textos para circular socialmente entre as pessoas que compõem o

102 público. Suas ações estão direcionadas à formatação, diagramação e aos locais onde os textos-produtos serão circulados.

No caso tratado, desta tese, o discurso jornalístico apresenta-se por: a categoria Poder com os participantes donos da empresa-jornal; a categoria Controle por participantes tais como: o pauteiro, os repórteres, os redatores, o redator-chefe; a categoria Acesso pelos diagramadores, a distribuição das manchetes e textos completos no veículo jornal; a divisão dos cadernos e a sua distribuição em textos; pesquisadores de opinião pública e locais em que se vendem os jornais.

Em síntese, para a Análise do Discurso com enfoque crítico, o discurso é uma prática sócio-interacional sendo que a interação compreende as relações interpessoais, intersociais, interinstitucionais, pois a interação implica a dinâmica de formas de conhecimento que constroem o novo, a partir do velho, e projeta, pelo imaginário, as imagens representativas do futuro. Nesse sentido, as formas de conhecimentos construídas no e pelo discurso, principalmente os públicos e institucionalizados, constroem o domínio da mente dos interlocutores, a partir de um lugar retórico da argumentação. Logo, as pessoas acreditam que têm suas próprias opiniões, embora estas sejam guiadas pelos discursos públicos. São essas formas de dominação que uma análise crítica do discurso objetiva denunciar.

Desse modo, a língua não pode ser estudada por ela mesma, sem se levar em conta o extralinguístico, isto é, não se pode analisar a instância linguística sem a instância ideológica sobre a qual ela se articula e nem deixar de considerar o contexto, no qual está inserida.

Segundo Queiroz (2006), ao proceder à análise do discurso tele jornalístico, o discurso não transmite a informação bruta e direta, verifica-se que há a construção de um fato que, de certa forma, reforça os sentidos de evidência, representando-se, discursivamente, como opinião pública.

Assim, pode-se constatar que, na mídia jornalística, têm-se diferentes focalizações de um mesmo fato, o que permite pensar na textualização da notícia enquanto espaço de (re)atualização em que o texto final é uma unidade aparente no espaço simbólico, que é retórico. Em outros termos, com o capitalismo, a mídia também trabalha em busca de produzir uma sociedade de

103 consumo do seu produto – a notícia - através do jornal; para tanto procura impor-se sobre outras discursividades, a fim de construir a opinião pública do leitor.

A ACD contribui para mostrar como se estrutura discursivamente o social e como o discurso é, ao mesmo tempo, portador de normas que determinam como o indivíduo deve viver em coletividade e as possíveis estratégias que lhe permitem acredita que é singular. Por buscar denunciar o domínio da mente das pessoas pelo discurso, a ACD preocupa-se com os discursos públicos institucionalizados, embora também dê atenção a eventos discursivos particulares, pois os discursos institucionalizados guiam o individual, mas os eventos discursivos particulares modificam o social.

Segundo van Dijk (1997), o discurso jornalístico é caracterizado pela notícia e o exercício do poder limita as opções para ação, por três elementos: Discurso, Ação e Cognição (intenção, propósito, motivação). A intenção, propósito e motivação estão inseridos no discurso, através da ação do redator na escolha lexical, a fim de atingir seu objetivo.

Para van Dijk (2000), na interação sócio-comunicativa, o controle da mente dos leitores e os atos que derivam desse controle podem estar baseados em formas sutis e indiretas, em relação à construção do verbal. As categorias semânticas da notícia (cf. Guimarães, 1999) são: o Inusitado e o Atual. E, dessa forma, o fato noticioso é construído estrategicamente de forma a focalizar uma circunstância desconhecida pelos leitores e, por ser atual, ele é obrigado a acreditar no que está sendo informado.

O veículo jornal é diário; dessa forma, dia a dia os participantes do contexto discursivo jornalístico vão construindo o fato jornalístico desde seu início, acompanham o seu desenrolar e o seu fim com a mesma ideologia. A enunciação da notícia é controlada, de forma a se selecionar subjetivemas ideológicos para o controle da mente dos leitores. Dessa forma, o público-leitor do jornal acredita que são sujeitos da opinião, embora esta seja constituída pela ideologia do jornal-empresa. Alcança-se, assim, um consenso entre os participantes. O termo hegemonia é frequentemente usado para se referir ao poder social: o poder hegemônico faz as pessoas agirem como se lhes fosse

104 natural, normal ou, simplesmente, consensual o que lhes é imposto no e pelo discurso.

Logo, ao se enunciar, um texto adquire uma forma de representação em língua. Esta é construída pelas intenções, objetivos e propósitos do enunciador. Dessa forma, ele seleciona as unidades lexicais e as regras gramáticas para o que quer enunciar de forma explícita. Assim, observa-se que há uma subjetividade oculta em qualquer texto enunciado e as marcas de subjetividade, deixadas pelo enunciador, dão orientação para os interlocutores processarem a informação, num determinado modelo de situação.

No documento DOUTORADO EM LÍNGUA PORTGUESA SÃO PAULO 2015 (páginas 112-118)