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LEITURA ENQUANTO PRÁTICA DE CIDADANIA

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Academic year: 2021

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LEITURA ENQUANTO PRÁTICA DE CIDADANIA

Silvane Gema Mocellin Petrini (silmocellinpetrini@gmail.com) Resumo: O Fórum de Educação Para a Cidadania realizado no ano de 2008 destaca que é preciso se valer da educação para “formar um “ser humano livre”, responsável, autônomo e solidário...habilitando aos educandos terem posicionamentos esclarecidos e críticos relativamente às questões do mundo de hoje. O presente artigo se configura num relato de experiência, cuja ação docente utiliza leitura como prática de cidadania. A partir do texto de uma obra literária criou-se um projeto que implicou uma ação solidária realizada por educandos de uma turma de 3º Ano do Nível Fundamental, na comunidade em que a escola Barra do Forqueta está inserida, possibilitando que os mesmos fossem protagonistas da referida ação.

1. INTRODUÇÃO

Este trabalho apresenta uma ação docente pautada na leitura enquanto prática de cidadania. Inicialmente, de forma sucinta buscar-se-á conceituar leitura e cidadania e no decorrer do texto, apresentar de que forma a união de ambas foi possível em sala de aula.

A cidadania originou-se nas civilizações greco-ronanas e, por tratar-se de uma construção sócio-histórica, foi ampliando seu conceito inicial – cidadãos com direitos e deveres - incorporando a justiça social como prática de cidadania. Padilha e Souza destacam que a palavra cidadania deriva-se da palavra cidadão e

que no sentido etimológico a palavra cidadão deriva de civitas, que em latim significa cidade. Sendo assim, cidadania decorre da condição de cidadão.

Para Ximenes (2000, p.170) cidadão é o indivíduo no pleno gozo de seus direitos políticos e civis. De certa forma, ser cidadão é também relacionar-se com o mundo, dialogar, tornar-se autônomo, concebendo que cidadania está muito além de apenas direitos e deveres. É prática social assim como também o é a leitura. A leitura está intrinsecamente associada à cidadania uma vez que possibilita a formação desta através de construção de uma consciência crítica, desenvolvimento da autonomia e estabelecimento de relações entre o leitor e o mundo, atribuindo sentidos. Padilha e Souza fazem alusão ao ato de ler conceituando que:

Ler representa um fenômeno social, ou seja, o trabalho realizado por meio da leitura de texto é muito mais que codificação e decodificação de signos linguísticos, é um processo de construção de significado e atribuição de sentidos, é uma atividade que decorre do meio social por meio do processo histórico de humanização...ela é um instrumento para a formação da cidadania, pois é por meio da leitura que podemos

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criar cidadãos críticos, condição indubitavelmente indispensável para o exercício da cidadania.(PADILHA E SOUZA,2015 P.01)

A leitura possibilita ao leitor (re) conhecer o mundo e (re) conhecer-se nesse. Possibilita, outrossim, que nos tornemos cidadão críticos e nos dá suporte para que possamos intervir na comunidade, dando sentido a tudo que nos cerca. A prática da leitura nos permite que, muito mais que compreender um texto, reflitamos sobre ele e o incorporamos a nossas vivências, buscando produção de sentido.

2. LEITURA... POSSIBILITANDO AÇÕES SOLIDÁRIAS

No ano de 2017 a Escola Municipal de Ensino Fundamental Barra do Forqueta, pertencente à rede pública de ensino de Arroio do Meio/RS, buscando incentivar a leitura de seus educandos, participou do projeto criado por Laé de Souza, cuja proposta é “Ler é bom, experimente!” Tal projeto é direcionado a alunos de escolas públicas do Ensino Fundamental e Médio, tendo sua aprovação Ministério de Educação - MEC - desde o ano 2000.

O projeto consiste em doação de livros às escolas participantes, os quais são acompanhados de caderno de atividades, um formulário a ser preenchido pelo professor da turma e folhas que deverão ser escritas pelos alunos em forma de textos e enviadas ao referido autor como retorno daquilo que foi trabalhado a partir do livro doado.

O projeto “ler é bom, experimente!” foi desenvolvido junto à turma do 3º Ano na qual fui professora. A turma em questão era composta por 26 alunos, de idades entre 8 a 9 anos. O livro trabalhado foi “Sofia, ser solidário é dez!” cujo autor é Laé de Souza.

Em um primeiro momento foi feita a leitura do referido livro que versava sobre ações de solidariedade realizadas por crianças em diversos espaços, tais como, hospital e asilo. A turma gostou muito da história e começou a relacionar as ações que eram descritas no livro com as que ocorriam no seu cotidiano, citando exemplos de atitudes que demonstravam solidariedade. Eles também vivenciavam ações solidárias em suas vidas e queriam socializar com os colegas e professora.

Os relatos sobre a temática do livro trouxeram à sala de aula alguns questionamentos tais como, a definição de solidariedade e o universo onde ela acontece. Serão apenas os adultos solidários? Crianças podem ser solidárias? Doar algo que não utilizo e que está estragado é ação solidária? Enfim, as crianças decidiram que assim como Sofia, a personagem da história, queriam praticar ações solidárias, gostariam de poder ajudar alguém! Os educandos junto a seus familiares, como tema, elencaram ações solidárias a serem realizadas pela turma, bem como os destinatários possíveis para tais ações.

Em sala de aula socializaram suas ideias e através de votação decidiram que a turma doaria roupas à Liga Feminina de Combate ao Câncer a qual desenvolve seu trabalho no município de Arroio do Meio. Um impasse surgiu. A Liga não precisava de roupas e sim de medicamentos. Logo teve-se a ideia de doar dinheiro à Liga, a partir da venda de roupas doadas. Assim criou-se o Projeto “Pense no

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Próximo” o qual foi desenvolvido pela turma em questão entre os meses de abril a setembro do ano de 2017. Esse projeto consistiu na arrecadação de roupas junto à comunidade, tanto escolar quanto local, e venda das mesmas no espaço escolar.

Os educandos participaram tanto da divulgação do projeto e arrecadação das roupas, quanto na organização Brechó Solidário, venda das roupas e entrega do valor arrecadado às responsáveis pela Liga Feminina de Combate ao Câncer.

3. LEITURA E CIDADANIA: PRÁTICAS QUE SE COMPLEMENTAM

O Fórum de Educação para a Cidadania realizado no ano de 2008 além de manifestar-se em relação à educação, ressaltou a importância de se buscar uma formação que contemplasse o exercício da cidadania global. Entre seus objetivos destacam-se a promoção da cultura da responsabilidade individual e social e a recomendação de que se deve criar condições para a escola se assuma com espaço privilegiado de exercício de cidadania e, assim, mais consequentemente, de Educação na e para a Cidadania. Em relação à educação global este documento afirma que:

Uma educação preocupada em formar um ser humano livre, responsável, autônomo, solidário, sujeito de direitos, respeitador das outras pessoas e de suas ideias, aberto ao diálogo e à troca de opiniões, com um espírito crítico, democrático, pluralista, criativo e interventivo face à sociedade” (FÓRUM DE EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA, 2008, p.17)

O Projeto Pense no Próximo” com a realização do Brechó Solidário contribuiu para a formação na cidadania dos educandos desta comunidade escolar na medida em que esses foram protagonistas de suas ações. O diálogo e respeito ao próximo foram vivenciados no decorrer do projeto uma vez que as crianças se envolveram em todas as etapas deste. No decorrer do projeto os educandos precisaram argumentar, expor suas ideias, valorizar o conhecimento dos colegas e dialogar com a comunidade.

Outrossim, ao participar efetivamente desse projeto, tendo como marco inicial a leitura de um livro, foi possibilitado aos educandos perceberem a leitura como um suporte, um instrumento capaz de mobilizar, transformar, produzir sentido e fazer conexões com a experiência do outro e a sua experiência. Brito (2010) alude à importância da leitura enquanto produtora de sentido e construtora de indivíduos capazes de conviver em sociedade, atuando nas esferas políticas, culturais e econômicas, entre outras.

A experiência propiciada aos educandos por esta ação solidária foi fundamental para que se sentissem protagonistas do Projeto “Pense no Próximo”. Entre os materiais disponibilizados ao autor enquanto retorno daquilo que foi trabalhado a partir do livro, destacam-se as cartas escritas pelos educandos. Nelas as crianças puderam expressar suas impressões no que diz respeito ao livro e ao projeto que este gerou. Falaram da importância de ajudarem ao próximo e também de utilizarem a leitura para além da decodificação, dando sentido àquilo que é lido e praticando ações a partir disto, como pode-se evidenciar no excerto abaixo.

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Lemos seu livro “Sofia, ser solidário é dez” e não lemos só por ler. Lemos para fazer a diferença. Até fizemos um Brechó Solidário. Eu fiquei depois da aula, das cinco horas até oito horas para ajudar no Brechó e foi muito gratificante ajudar! Fiz a diferença! Gostei muito de doar e de comprar roupas doadas e sempre que eu tiver brinquedos e roupas doarei. G.D – 8 anos

A gente fez um brechó aqui na escola para juntar dinheiro e ajudar pessoas que tem câncer. Gostei muito de participar do brechó. Doar roupas me fez me sentir muito bem e aposto que as outras crianças também se sentiram assim. Fiquei feliz por ajudar a arrecadar dinheiro. Comprei uma roupa pra mim e outra para minha prima. Adoro ajudar outras pessoas para serem felizes assim como a gente é. Isso é meio novo pra mim, mas já me acostumei, ajudei a ser atendente no brechó, ajudei as pessoas a saberem os preços das roupas. M.H. – 8 anos.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este relato se propôs partilhar uma prática docente que busca aliar leitura e cidadania na formação e desenvolvimento dos educandos para uma vivência efetiva de ações solidárias. Os educandos podem ser estimulados desde cedo a pensar sobre suas contribuições possíveis para a vida comunitária, para o efetivo exercício da cidadania e valorização do outro.

Durante o desenvolvimento do Projeto “Pense no Próximo”, os educandos trabalharam questões como diálogo, respeito, empatia, solidariedade, entre outros. Deram significado à leitura e a relacionaram com suas vivências, constatando que são nas pequenas ações cotidianas que podemos contribuir para uma sociedade mais humana e solidária. São pequenos gestos que podem fazer a diferença na vida das pessoas que juntamente a nós compõem a sociedade.

A partir da leitura do livro “Sofia, ser Solidário Dez” os educandos, muito mais que dar sentido ao que o texto lhes apresentava, compreenderam que um texto é passível de muitos entendimentos e que o mesmo pode estar presente em nossa vida, tornando-nos efetivamente protagonistas de nossas ações cotidianas. A fala de uma aluna traduz o que se quer por hora dizer quando em sua carta endereçada ao referido autor diz “... Lemos seu livro “Sofia, ser solidário é dez” e não lemos só por

ler. Lemos para fazer a diferença...”. Pode-se inferir que para esta criança a leitura,

enquanto propulsora de uma ação solidária, configurou-se como prática de cidadania.

5. REFERÊNCIAS

BRITO, Azenath Clarissa Arcoverde Gomes de; LOPES, Maria Elisa. O PAPEL DA EDUCAÇÃO ESCOLAR PARA O EXERCÍCIO DA CIDADANIA. Primus Vitam Revista de Ciências e Humanidades. São Paulo, 2014. Acesso em 27.Abr. 2018.

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FÓRUM EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA (2008). Objetivos Estratégicos e Recomendações para um Plano de Ação de Educação e Formação para a Cidadania. Disponível em: www.oei.es/historico/noticias/IMG/pdf/forum-educacion-ciudadania.pdf Acesso em 27. Abr.218.

PADILHA, Gabriela Fagundes; SOUZA, Fernanda. LEITURA COMO PRÁTICA PARA A FORMAÇÃO DA CIDADANIA. 2015. Disponível em http://www.uniedu.sed.sc.gov.br/ wp-content/uploads/2016/02/Gabriela-Fagundes-Padilha.pdf

XIMENES, Sérgio. MINIDIIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA. 2.ed.rev.e ampl. São Paulo: Ediouro, 2000.

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