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A atuação do grupo banco mundial no desenvolvimento mundial sob uma perspectiva brasileira

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA MARIA RAQUEL DA SILVEIRA HOEPERS

A ATUAÇÃO DO GRUPO BANCO MUNDIAL NO DESENVOLVIMENTO MUNDIAL SOB UMA PERSPECTIVA BRASILEIRA

Florianópolis 2013

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MARIA RAQUEL DA SILVEIRA HOEPERS

A ATUAÇÃO DO GRUPO BANCO MUNDIAL NO DESENVOLVIMENTO MUNDIAL SOB UMA PERSPECTIVA BRASILEIRA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Relações Internacionais, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de bacharel.

Orientador: Prof. Larissa Miguel da Silveira, Msc.

Florianópolis 2013

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RESUMO

O presente trabalho objetiva verificar a importância do Grupo Banco Mundial no desenvolvimento mundial através de uma perspectiva brasileira. A metodologia utilizada para a elaboração do mesmo inclui a pesquisa exploratória com abordagem predominantemente qualitativa; no que tange à coleta de dados a pesquisa teve enfoque bibliográfico e documental. O trabalho irá abordar a atuação do Grupo Banco Mundial em relação à assistência dada por ele a países subdesenvolvidos e em desenvolvimento para a promoção do crescimento econômico sustentável. O Grupo vem adequando seu papel no cenário mundial, com uma atuação mais holística para melhor atender a demanda tanto financeira como de assessoria. Assim sendo, o trabalho irá expor a origem de cada uma das Organizações que compõem o Grupo Banco Mundial, bem como sua estrutura organizacional e seus instrumentos de financiamento externo. Tais empréstimos são de fundamental importância para que o Grupo alcance seu objetivo maior: o de erradicar a pobreza. Como meio de realizá-lo, essas Organizações financiam projetos em parceria com Governos, empresas públicas e privadas nos mais diversos setores. O Brasil, membro do Banco Mundial desde a sua criação em 1944, utiliza em média três bilhões de dólares anualmente em empréstimos financiados pela instituição. Muitos desses projetos foram classificados como inovadores e serviram de base para projetos semelhantes em outros países. Alguns desses projetos que se destacaram mundialmente serão explicitados no presente trabalho como meio de ilustrar a atuação do Grupo Banco Mundial no desenvolvimento mundial.

Palavras-chave: Grupo Banco Mundial. Desenvolvimento mundial. Financiamentos externos.

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ABSTRACT

This study aims to verify the importance of the World Bank Group in the world development through a Brazilian perspective. The methodology used for its elaboration includes the exploratory research with qualitative approach predominantly; regarding to data collection the research had a bibliographic and documentary focus. The paper will handle the World Bank Group performance concerning to the assistance gave by it to underdevelopment and in development countries in order to promote sustainable economic growth. The World Bank Group has been fitting his role in the global scene with a more holistic performance in order to better serve the financial and the advisory demand. Therefore, the paper will expose the origin of each World Bank Group Organization as well as their organizational structure and their external financing instruments. Such loans have fundamental importance to make the Group achieve its major aim: to eradicate poverty. In order to achieve it, these Organizations finance projects in association with governments and public and private companies in different sectors. Brazil is a World Bank member since its creation in 1944, and uses around three billion dollars every year in loans financed by the institution. Many of these projects were classified as innovative and became base to similar projects in other countries. Some of these projects that were highlighted worldwide will be exposed in the paper as a way to illustrate the World Bank Group action in the global development.

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LISTA DE SIGLAS ABC - Agência Brasileira de Cooperação

AID - Associação Internacional de Desenvolvimento AMGI - Agência Multilateral de Garantias de Investimentos

BIRD - Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento BJCI - Banco Japonês de Cooperação Internacional

BM - Banco Mundial

CAS - Country Assistance Strategy CDI - Comissão de Direito Internacional CFI - Corporação Financeira Internacional

CICDI - Centro Internacional para a Conciliação de Divergências em Investimentos CNAT - Comissão Nacional de Assistência Técnica

EPP - Estratégia de Parceria para Países EUA - Estados Unidos da América

FMI - Fundo Monetário Internacional GBM - Grupo Banco Mundial

KPMG - Klynveld, Pead, Marwick & Goerdeler OEA - Organização dos Estados Americanos OI - Organizações Internacionais

ONU - Organização das Nações Unidas

SEAIN - Secretaria de Assuntos Internacionais

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...9 1.1 OBJETIVOS ...10 1.1.1 Objetivo geral...10 1.1.2 Objetivos específicos...11 1.2 JUSTIFICATIVA ...11 1.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...12 1.4 ESTRUTURA DA PESQUISA ...13 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...15

2.1 A COOPERAÇÃO INTERNACIONAL PARA O DESENVOLVIMENTO ...15

2.1.1 Histórico e Importância da Cooperação Internacional...15

2.1.2 O Brasil e a Cooperação Internacional...21

2.2 AS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS...23

2.2.1 Origem...24

2.2.2 Definição, Características e Classificação...27

2.2.2.1 Definição...28 2.2.2.2 Características...29 2.2.2.3 Classificação ...30 2.2.3 Estrutura e Funcionamento ...31 2.2.3.1 Estrutura...31 2.2.3.2 Funcionamento...32

2.3 O BANCO MUNDIAL E O GRUPO BANCO MUNDIAL...34

2.3.1 Histórico do Banco Mundial ...34

2.3.2 A AMPLIAÇÃO DA ATUAÇÃO DO BANCO MUNDIAL – O SURGIMENTO DO GRUPO BANCO MUNDIAL ...37

2.3.3 INSTITUIÇÕES DO GRUPO BANCO MUNDIAL ...40

2.3.3.1 Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento ...40

2.3.3.2 Associação Internacional de Desenvolvimento ...42

2.3.3.3 Corporação Financeira Internacional...43

2.3.3.4 Centro Internacional para a Conciliação de Divergências em Investimentos.. ...44

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2.3.4 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL...46

2.3.5 FINANCIAMENTOS EXTERNOS DO GRUPO BANCO MUNDIAL ...50

3 ANÁLISE DE DADOS...53

3.1 O GRUPO BANCO MUNDIAL NO BRASIL...53

3.2 FINANCIAMENTOS EXTERNOS DO GRUPO BANCO MUNDIAL NO BRASIL...56

3.3 OS PROJETOS NO BRASIL...58

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...64

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1 INTRODUÇÃO

O fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) provocou mudanças drásticas no cenário internacional. A Europa encontrava-se destruída, segundo Donald Sommerville, ao final do conflito, somava-se em torno de 70 milhões de mortos. Em contrapartida, a economia norte-americana superava qualquer outra potência; tal fato fez com que os Estados Unidos da América (EUA) dominassem a economia mundial.

Durante esse período os países sentiram a necessidade uma organização internacional que garantisse a paz mundial. Para tanto, foi criada a Organização das Nações Unidas (ONU), a qual tinha como princípios a soberania dos Estados e a segurança coletiva. Contudo, isso não foi o suficiente, pois os Estados estavam preocupados com uma recessão em âmbito internacional, e consequente redução nas trocas comerciais entre eles, além de a Europa precisar se reconstruir economicamente. Foi então que, em 1944, os 44 países membros da ONU reuniram-se em uma Conferência em Bretton Woods nos EUA para estabelecer regras para as relações financeiras e comerciais entre Estados.

A Conferência de Bretton Woods foi o marco da reforma do sistema financeiro mundial com a criação de novos organismos financeiros internacionais. Dentre eles está o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), atualmente conhecido como Banco Mundial (BM).

Em um primeiro momento, o objetivo do Banco era reconstruir os países europeus devastados pela guerra. Atualmente, a instituição tem caráter estratégico no financiamento de projetos que por meio do desenvolvimento sustentável e do crescimento equitativo visam reduzir a pobreza e as desigualdades sociais de países subdesenvolvidos e em desenvolvimento.

O Grupo Banco Mundial (GBM) é constituído por cinco organismos, sendo eles: a Associação Internacional de Desenvolvimento (AID) – que atenta aos países mais pobres, a Corporação Financeira Internacional (CFI) – focado exclusivamente no setor privado, a Centro Internacional para a Conciliação de Divergências em Investimentos (CICDI) – responsável por questões litigiosas, a Agência Multilateral de Garantias de Investimentos (AMGI) – que promove investimentos estrangeiros diretos para países em desenvolvimento e o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) – que, através de empréstimos, fundos de investimentos

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e serviços de consultoria, objetiva reduzir a pobreza em países em desenvolvimento e países subdesenvolvidos que mereçam crédito.

O Brasil é membro do Banco desde sua instituição, na Conferência de Bretton Woods, e realiza, em média U$S 3 bilhões em financiamentos anualmente, segundo dados da própria instituição. Dentre esses projetos quatro foram eleitos, no ano de 2012, como inspiradores e serviram de modelo para outros países-membro.

Esses projetos são: (1) o Hospital do Subúrbio, também na Bahia que oferece serviço de qualidade à população de baixa renda, (2) Projeto Integrado de Gestão de Água e Saúde – que tem como objetivo aumentar o acesso a água e saneamento em 10 municípios baianos e, também, melhorar a qualidade do atendimento neonatal em 25 hospitais da Bahia, (3) as Escolas de Belo Horizonte, onde a prefeitura construiu e gerencia 32 escolas e jardins de infância com o auxilio do Grupo Banco Mundial e o Metrô de São Paulo (linha 4) – o qual contribuirá para o desenvolvimento urbano.

A parceria entre Governo e o Grupo Banco Mundial, através desses tipos de projetos, contribuem para que o País alcance níveis cada vez maiores de desenvolvimento econômico e bem-estar social. Sendo assim, o trabalho visa analisar a seguinte pergunta: Sob uma perspectiva brasileira, como se dá a atuação do Grupo Banco Mundial no desenvolvimento mundial?

1.1 OBJETIVOS

Partindo da pergunta problema do presente trabalho, pretende-se alcançar os objetivos elencados abaixo.

1.1.1 Objetivo geral

O trabalho de conclusão de curso tem o intuito de determinar a importância do Grupo Banco Mundial no desenvolvimento mundial através de uma perspectiva brasileira.

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1.1.2 Objetivos específicos

Para complementar o alcance do objetivo geral, foram traçados os seguintes objetivos específicos:

− Expor o histórico e a importância da cooperação internacional voltada para o desenvolvimento;

− Descrever brevemente os tópicos relevantes ao estudo das OI; − Apresentar o Grupo Banco Mundial, bem como seu histórico,

objetivos, órgãos e composição;

− Averiguar a relevância das ações do Grupo Banco Mundial para o desenvolvimento socioeconômico mundial;

− Identificar quais ações do Grupo Banco Mundial no Brasil serviram de exemplo para outros países;

1.2 JUSTIFICATIVA

O tema desenvolvimento ganhou maior destaque na agenda internacional durante o período pós Segunda Guerra, mais especificamente com a criação do Banco Mundial, em 1944. Naquele momento, a preocupação era acelerar a reconstrução dos países devastados pela guerra para evitar um novo desastre econômico como o ocorrido em 1929 (CAMPOS, 2005; GIANARIS, 1990; ROLFE; BURTLE, 1975).

A Conferência de Bretton Woods, em 1944, reestruturou o sistema financeiro internacional com a institucionalização do Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD) e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Tais organizações pretendiam ceder empréstimos a condições facilitadas, além de serviços não financeiros como assessoria técnica e intelectual.

Desde então, o cenário mundial está em constante transformação. Países antes considerados subdesenvolvidos estão se industrializando e mudando a qualidade de vida de sua população através de auxílios financeiros internacionais, alterando, assim seu status econômico.

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A pesquisa justifica-se pela relevância da atuação do Grupo Banco Mundial no financiamento de projetos nas mais diversas áreas objetivando o desenvolvimento econômico de países menos desenvolvidos, através da expansão equilibrada do comércio internacional e do balanço de pagamentos.

O autor do trabalho considera o tema de extrema importância para análises do cenário socioeconômico internacional ao longo dos anos, visto que a organização financeira escolhida como objeto de estudo teve grande participação na promoção de reformas econômicas e modernização do sistema financeiro mundial.

As transformações do cenário internacional feitas pelo Grupo Banco Mundial através do financiamento de projetos em diversos setores proporcionaram uma melhora na qualidade de vida de inúmeros cidadãos. Observar os efeitos causados por projetos que, indiretamente, atuam em causas sociais é de grande interesse do autor do trabalho.

Outro fator importante a ser considerado é a pequena base de dados disponibilizada pelos meios acadêmicos e outras publicações como artigos e livros sobre o assunto. A informação encontrada nos sites oficiais das Organizações que formam o Grupo Banco Mundial é fragmentada, além de ser difícil de localizar. O presente trabalho justifica-se, também, por ser mais uma fonte de pesquisa para futuros acadêmicos, uma vez que são limitadas as fontes que tratam sobre o tema.

1.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A metodologia utilizada na pesquisa, juntamente com a classificação do trabalho e a forma de coleta de dados será explicitada a seguir para uma melhor compreensão das variáveis do mesmo.

A pesquisa qualifica-se como básica, ou seja, aquela que tem por meta o conhecimento (CERVO; BERVIAN, 1996). Quanto aos objetivos, é considerada exploratória, e quanto à abordagem do problema é classificada como qualitativa. A pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental serão utilizadas como metodologia.

Sob um prisma filosófico, Minayo (1993, p. 23) descreve a pesquisa como:

[...] atividade básica das ciências na sua indagação e descoberta da realidade. É uma atitude e uma prática teórica de constante busca que define um processo intrinsecamente inacabado e permanente. É uma atividade de aproximação sucessiva da realidade que nunca se esgota, fazendo uma combinação particular entre teoria e dados.

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Para Malhotra (2001), a pesquisa exploratória consiste na busca por respostas para melhor compreensão de um problema ou de uma situação.

Segundo Maanen (1979), a abordagem qualitativa tem por objetivo reduzir a distância entre teoria e dados, expressando o sentido dos fenômenos do mundo social.

A metodologia de pesquisa bibliográfica, utilizada no presente projeto, se desenvolve a partir do conhecimento e análise das principais teorias existentes sobre um determinado tema ou problema que se pretende explicar, ou seja, o objeto da pesquisa (KÖCHE, 2008).

Para Neves (1996), a pesquisa documental é constituída pelo exame de materiais que ainda não receberam um tratamento analítico ou que podem ser reexaminados com vistas a uma interpretação nova ou complementar.

1.4 ESTRUTURA DA PESQUISA

A presente pesquisa irá estudar a ampliação da atuação do Grupo Banco Mundial no que diz respeito à assistência dada por ele a países subdesenvolvidos e em desenvolvimento para a promoção do crescimento econômico.

O Grupo Banco Mundial é, atualmente, um dos maiores financiadores de projetos com essa finalidade. A instituição oferece condições facilitadas a esses países para projetos em diversas áreas como: saúde, educação e infraestrutura.

No decorrer da pesquisa será abordada a importância dos projetos realizados no Brasil – através da parceria entre Governo, Grupo Banco Mundial e instituições privadas – para o desenvolvimento socioeconômico mundial.

O Capítulo 1 apresentará um panorama geral do trabalho de conclusão de curso: uma exposição do tema, os objetivos a serem alcançados com o trabalho, a importância do mesmo para a universidade e para a sociedade em geral, a metodologia utilizada e a estrutura do trabalho.

O Capítulo 2 abordará a cooperação internacional para o desenvolvimento, seu histórico e importância para o crescimento e desenvolvimento socioeconômico dos Estados. Também fará um breve histórico das organizações internacionais, apresentando sua definição, bem como as características e competências específicas que dizem respeito a esse tipo de organização. Além

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disso, o capítulo abrangerá a origem do Banco Mundial, com a Conferência de Bretton Woods em 1944, explicitando sua estrutura interna e suas formas de atuação. E também irá expor as organizações que compõem o Grupo Banco Mundial (GBM), da qual o Banco Mundial faz parte, seus campos de atuação, sua estrutura administrativa, suas origens, bem como a ampliação de sua atuação e seus instrumentos de financiamento externo.

O terceiro capítulo irá expor um breve histórico da relação Brasil-GBM, bem como os financiamentos feitos pelo Grupo no País, focando nos projetos recém-eleitos como inspiradores para outros países que buscam no Grupo Banco Mundial um meio para alcançar o desenvolvimento social e econômico.

As considerações finais, quarto e último capítulo, abarcam ideias decorridas durante a pesquisa, além de refletir sobre o papel do Grupo Banco Mundial na promoção do desenvolvimento mundial. Além disso, o capítulo irá expor os resultados obtidos e recomendações acerca do tema.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

No capítulo a seguir será tratado o tema da cooperação internacional para o desenvolvimento, fundamental para a compreensão do papel do Grupo Banco Mundial.

2.1 A COOPERAÇÃO INTERNACIONAL PARA O DESENVOLVIMENTO

Como visto no Capítulo I, o objetivo do presente trabalho é verificar a importância do Grupo Banco Mundial no desenvolvimento mundial através de uma perspectiva brasileira. Para poder atingir este objetivo, o autor analisará um dos elementos que auxiliam no desenvolvimento de alguns Estados: a cooperação internacional para o desenvolvimento.

2.1.1 Histórico e Importância da Cooperação Internacional

Ao longo dos últimos anos, o cenário mundial sofreu diversas transformações. Guerras mundiais, crises econômicas, catástrofes naturais vem alterando as políticas dos países. No entanto, alguns países são mais atingidos que outros nessas situações; geralmente, são esses países que possuem menos condições para recuperarem-se.

Nas palavras de Ramos (2006), a realidade da política internacional parece desenvolver-se em ciclos. Em alguns momentos há grande euforia onde a paz é o aspecto predominante; esses momentos geralmente são posteriores à conclusão de grandes conflitos internacionais e geram expectativas sobre a ocorrência de cooperação internacional e confiança nos arranjos institucionais que visam a manutenção da paz.

Desde o fim da Guerra Fria, o fenômeno da globalização vem marcando a conjuntura internacional e criando uma interdependência cada vez maior entre os países, os quais vêm ajustando sua política exterior para uma atuação mais integralista (CAMPOS, 2005 apud ABREU, 2008). É nesse momento que os países se veem em um cenário mundial interconectado onde as decisões de um país

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afetam outros países, assim, notou-se a necessidade da cooperação internacional (MEDEIROS, 2010).

Pode-se constatar então que a cooperação internacional encontra-se cada vez mais presente na pauta política dos Estados. A cooperação pode ser entendida como um processo de coordenação de políticas, onde a atuação dos atores é ajustada de forma a alcançar seus objetivos (KEOHANE, 1984 apud ABREU, 2008).

De acordo com Ayllón (2007, p. 40 apud MACIEL, 2009) a palavra cooperar significa “atuar conjuntamente com outros para conseguir o mesmo fim”. Para Medeiros (2010), a cooperação internacional é a interação voluntária entre nações com o objetivo de dar eficácia extraterritorial a medidas provenientes de outros Estados; pode ser vista como uma política de mútua ajuda internacional.

Já Osamura (2009) caracteriza a cooperação internacional como uma iniciativa de transformação de uma realidade socioeconômica visando ao progresso local e a possível resolução de um problema através do desenvolvimento de capacidades.

Quando Platão iniciou seus ensinamentos sobre política já se falava em cooperação como uma forma de evitar a guerra entre os gregos. Na verdade, tratava-se de uma forma de organização da sociedade da época. Em outros momentos históricos como a era medieval, a cooperação era responsável por divulgar o cristianismo e afastar os bárbaros (ABREU, 2008).

Desde o momento histórico em que surge o Estado Moderno, muitos autores – em resposta as constantes guerras intrinsecamente relacionadas a esse processo – escreveram sobre a paz como maneira de melhorar a relação entre os atores internacionais da época. Um desses autores era o abade Saint Pierre (1658-1743) o qual propôs uma união federativa para os países europeus no intuito de garantir a paz no continente. Com a assinatura do tratado de Utrech em 1713, a ideia de uma nova organização política entusiasmou o abade com a possibilidade de harmonia entre os governos (MACIEL, 2009).

Inspirados por autores como Saint Pierre, Normam Angell (1872-1967) em 1912 indicou que, pelo contexto internacional da época, a paz entre Estados deveria ser resultado da cooperação entre os mesmos e isso traria benefícios para todos ao contrario da lógica militar que acabaria com o relacionamento dos Estados e, consequentemente, prejudicaria o comercio internacional (MACIEL, 2009).

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Contudo, pode-se dizer que somente após os grandes conflitos mundiais ocorridos no início até meados do século XX foi possível transformar a cooperação internacional em ação propriamente dita (ABREU, 2008).

O fim da Primeira Guerra Mundial resultou na assinatura do tratado de Versalhes como forma de punir os países perdedores. A intenção era fazer com que os países resolvessem suas questões e litígios de maneira pacífica; essa ação resultou na criação da Liga das Nações em 1919. A Liga era responsável por promover uma estrutura de relações internacionais que desestimulassem um conflito bélico, no entanto a organização fracassou (MACIEL, 2009).

A necessidade de reconstrução dos países atingidos pelas Grandes Guerras fez com que os Estados se unissem na tentativa de estruturar a cooperação internacional, potencializando relações mais eficientes entre os Estados para, consequentemente, evitar um novo conflito. A experiência mais concreta aconteceu com a instituição da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1945. Contudo, foi a realização da Conferência de Bretton Woods (1944) que efetivou as primeiras políticas voltadas para a cooperação técnica internacional; o que significa dizer que foram feitas mudanças significativas nos sistemas produtivos dos países auxiliados (ABREU 2008; MACIEL, 2009).

O artigo primeiro da carta da ONU (CENTRO DE INFORMAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS NO BRASIL, 2013) reconhece a cooperação internacional como ferramenta para a promoção do desenvolvimento bem como coloca os direitos humanos como garantia da paz internacional. Além disso, nos artigos 55 e 56 do capítulo IX, são estabelecidos os princípios da cooperação técnica internacional solicitando que os membros cooperem mutuamente.

Desde o fim da Primeira Guerra Mundial estudos das relações internacionais surgiram como forma de explicar e analisar a realidade internacional da época. Muitos autores defendiam a ideia de interdependência entre os Estados – o que reforçava o conceito de cooperação internacional (MACIEL, 2009).

A conclusão das duas Grandes Guerras trouxe consigo uma nova conjuntura internacional. Maciel (2009) explica esse contexto por meio de quatro fatores. Primeiramente, havia a crescente tensão e disputa entre as duas grandes potências: Estados Unidos e União Soviética. Um segundo fator era a disseminação dessa tensão para os países do Terceiro Mundo. Outro aspecto era o processo de descolonização pós Guerra. O último fator era a conscientização da América Latina

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em relação à necessidade de eliminar problemas estruturais que impediam seu crescimento colocando como tema central nos debates multilaterais a cooperação internacional.

No período pós-guerra até meados da década de 70, o cenário mundial estava voltado para a reconstrução dos países devastados pelo conflito e para o progresso econômico dos países menos desenvolvidos. As teorias sobre o desenvolvimento e a cooperação internacional, nesse momento, eram influenciadas pela escola de pensamento denominada Modernização a qual preconizava que os países em desenvolvimento deveriam seguir o mesmo caminho traçado pelos países já industrializados (WERNA, 1995).

Nesse contexto, o Fordismo, apoiado pelo Estado, influenciou as políticas de desenvolvimento desses países uma vez que o modelo era caracterizado pela acumulação intensa, produção e consumo em massa (WERNA, 1995).

A cooperação foi o meio encontrado para reconstruir os países devastados pelas guerras e promover o crescimento socioeconômico em países menos desenvolvidos. Na verdade, o principal objetivo era conter o avanço socialista impedindo que os países mais fragilizados aderissem a esse sistema (ABREU, 2008).

Até o início da década de 50, a cooperação técnica estava totalmente voltada para a reconstrução dos países europeus que foram palco do conflito internacional. Como meio de atingir esse objetivo, foi criado pelos Estados Unidos o Plano Marshall o qual garantiu o envio de investimentos para esses países. Com o inicio da Guerra Fria e o aumento da tensão internacional, os investimentos feitos pelas organizações internacionais acabavam beneficiando os países desenvolvidos que controlavam as mesmas (MACIEL, 2009).

Os países neutros a esse novo conflito iniciaram o movimento dos países não alinhados, onde defendiam o desenvolvimento econômico como elemento indispensável para a criação do estado de bem-estar social das populações do Terceiro Mundo (MACIEL, 2009). Até então, as ações de cooperação internacional estavam voltadas para a manutenção da paz. A ideia de modernizar a economia dos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento através de auxilio técnico e financeiro fez com que surgissem as ações de cooperação internacional para o desenvolvimento (ABREU, 2008). A partir desse momento, ainda que tardiamente, o

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desenvolvimento tornou-se objetivo declarado da cooperação internacional (AMORIM, 1994 apud ABREU, 2008).

Quando o cenário internacional ainda encontrava-se dividido de maneira bipolar surgiram algumas ações contrárias a essa realidade. Um exemplo disso é o esboço de um mercado comum europeu. Além disso, alguns países mais frágeis economicamente exigiam a extinção do mundo bipolar com o intuito de promover o desenvolvimento (MACIEL, 2009).

Na década de 70 temas como meio ambiente, direitos humanos e redução da pobreza tornaram-se questões chave da cooperação internacional, e é nesse momento que as relações entre os Estados ficam mais estreitas. No entanto, a crise do petróleo faz com que o cenário internacional da época fosse substancialmente alterado. Na década de 80, soma-se aos efeitos da crise petrolífera, a crise da dívida externa que atinge, principalmente, os países subdesenvolvidos e em desenvolvimento (ABREU, 2008).

Na verdade, durante o período da Guerra Fria, o sistema internacional mostrou-se interdependente economicamente. Prova disso é a grande oferta de empréstimos destinados a países pobres provenientes de diversos organismos de crédito. Esse mesmo mercado financeiro que proporcionou avanço no desenvolvimento desses países provocou uma maior dependência e, consequentemente, a crise do endividamento (MACIEL, 2009).

O foco na redução da pobreza dá lugar à promoção da estabilidade macroeconômica. É quando o liberalismo econômico torna-se agressivo, criando um conjunto de programas de ajustes estruturais para reduzir os déficits dos países mais atingidos pela crise, dando prioridade as reformas das instituições econômicas (ABREU, 2008). Afonso e Fernandes (2004 apud ABREU, 2008), notam que esse período é marcado pelas características do Consenso de Washington, onde há a confiança nas forças do mercado e a redução da intervenção do Estado na economia.

Devido às sucessivas crises, a década de 80 é chamada de década perdida do desenvolvimento. As dificuldades econômicas e o protecionismo das grandes potências limitaram ainda mais o recebimento de ajuda financeira por parte dos países do hemisfério sul. Sendo assim, os recursos disponibilizados por organizações multilaterais eram destinados somente aos países com maiores

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índices de pobreza. Isso gerou um estreitamento na cooperação entre os países do sul como alternativa à promoção do desenvolvimento (MACIEL, 2009).

O fim da Guerra Fria, no início da década de 90, criou uma nova realidade geopolítica onde os países pertencentes à antiga União Soviética tornaram-se receptores da ajuda mundial proveniente da cooperação internacional (ABREU, 2008).

Já no início do século XXI, com a diversidade de realidades econômicas e sociais dos Estados o termo desenvolvimento passou a abranger uma visão holística, sob uma perspectiva multissetorial. Sendo assim, o desenvolvimento passa a ser medido pela melhora social e humana, e não mais pelo crescimento econômico exclusivamente. Além disso, a ONU, no decorrer da década de 90, propôs algumas mudanças no auxilio aos países mais pobres para que os mesmo alcançassem níveis de desenvolvimento humano mais satisfatórios (ABREU, 2008; MACIEL, 2009).

O economista Celso Furtado (2000 apud ABREU 2008) explica que o desenvolvimento pode ser entendido através da satisfação das necessidades humanas em razão do aumento da produtividade e consequente crescimento econômico.

Galán (1999 apud ABREU, 2008), define a cooperação internacional para o desenvolvimento como um conjunto de ações realizadas por atores públicos e privados voltadas a promoção do progresso econômico e social em países em desenvolvimento.

Abreu (2008), afirma que o objetivo maior da cooperação para o desenvolvimento deve ser a erradicação da pobreza e da exclusão social bem como o incremento permanente dos níveis de desenvolvimento político, econômico, social e cultural nos países do hemisfério sul.

Percebe-se que há um amadurecimento em relação à ideia de cooperação internacional no início deste século. Isso aconteceu, em grande parte, pelo surgimento e fortalecimento de países emergentes como Brasil, China e Índia, os quais possuem economias diversificadas e com grande capacidade produtiva (ABREU, 2008).

Resumindo, o debate sobre cooperação internacional desde quando ganhou força, com fim das Grandes Guerras, baseava-se na criação de políticas que objetivavam o crescimento econômico e a consolidação de instituições

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democráticas. Contudo, a partir dos anos 70, há o surgimento dos chamados países do Terceiro Mundo; tal fato altera a concepção sobre o tema do desenvolvimento, fazendo com que o mesmo incorpore não somente questões de crescimento econômico como também questões políticas e sociais (ABREU, 2008).

Para que a cooperação internacional fosse melhor orientada e estruturada, foi necessária a criação de Organizações específicas para esse fim. Esse processo foi iniciado a partir do momento em que os Estados Unidos surgem como potência hegemônica mundial, ele passa a orientar a sua política externa para a concretização da cooperação internacional através da institucionalização das Organizações Internacionais, principalmente as de vocação mundial, voltadas a área política, financeira e comercial (LEITÃO, 2007 apud ABREU, 2008), que serão vistas com mais profundidade no Capítulo 2.2.

2.1.2 O Brasil e a Cooperação Internacional

O Brasil incluiu a cooperação internacional em sua agenda há algumas décadas e, desde então, vê atuando como porta-voz dos países menos desenvolvidos estreitando sua relação com eles por meio da transferência de experiências em áreas específicas, onde o País tem êxito (ABREU, 2008).

Para tanto, o País criou inúmeras secretarias de assuntos internacionais que viabilizam novas formas de cooperação internacional. Dessa forma, outros atores não centrais podem envolver-se nas iniciativas de cooperação internacional (ABREU, 2008).

As negociações multilaterais vêm sendo tratadas como prioridade na estratégia global da política externa brasileira uma vez que sozinho o País não conseguirá alcançar seus objetivos e também não conseguirá projetar-se no cenário internacional (ABREU, 2008). Além dessa posição, o Brasil vem atribuindo considerável importância às Organizações Internacionais devido a sua capacidade limitada de exercer poder e influência (MIYAMOTO, 2000 apud ABREU, 2008).

A partir dos anos 90 essa atuação foi reforçada, pois o Brasil começou a criticar a desigualdade de poder dos Estados, o protecionismo do comercio internacional bem como passou a solicitar investimentos e transferência de tecnologia. Essa posição pode ser verificada na grande participação brasileira em foros globais e regionais (ABREU, 2008).

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Nas palavras de Lafer (1994, p. 27 apud ABREU, 2008), o apego à prática do diálogo e da cooperação traduz, simultaneamente, a vocação pluralista da sociedade brasileira, o sincretismo demográfico e cultural em sua formação histórica e as próprias disparidades regionais.

Essa postura permitiu ao Brasil uma maior visibilidade e legitimidade frente aos atores internacionais, fortalecendo as ações de política externa (ABREU, 2008).

Filho (2007, p. 47 apud MACIEL, 2009) descreve a atual política externa brasileira como sendo um grande esforço para o país atuar ativamente na criação e aplicação de novas regras bem como a construção de novas realidades de convivência.

O País tem agido de forma a promover o desenvolvimento econômico e social nas regiões mais pobres do planeta como Ásia, África e América Latina, sem desgastar sua relação com os países desenvolvidos (MACIEL, 2009).

A primeira iniciativa para implantação de um órgão que atuasse na coordenação da cooperação internacional deu-se em 1950 com a criação da Comissão Nacional de Assistência Técnica (CNAT) a qual era composta por diversos órgãos do Governo e tinha como finalidade estabelecer prioridades em relação à solicitação de ajuda externa feita por instituições brasileiras a qual seria proveniente de países industrializados com os quais o Brasil possuía acordos de transferência de tecnologia sob forma de cooperação (AGÊNCIA BRASILEIRA DE COOPERAÇÃO, 2013a).

Somente em 1987 com a criação da Associação Brasileira de Cooperação (ABC) houve um avanço em relação à unificação da função técnica com a política externa. Nesse sentido, introduziu-se um novo modelo de gestão da cooperação multilateral (AGÊNCIA BRASILEIRA DE COOPERAÇÃO, 2013a).

A ABC é responsável por coordenar, negociar, aprovar, acompanhar e avaliar programas e projetos de cooperação técnica internacional no País provenientes de parcerias com governos estrangeiros ou organismos internacionais. A ABC se orienta pela política externa do MRE e pelas prioridades nacionais de desenvolvimento definidas pelos planos e programas setoriais do Governo (AGÊNCIA BRASILEIRA DE COOPERAÇÃO, 2013b).

No Brasil, a cooperação internacional representa um mecanismo de promoção do desenvolvimento socioeconômico. Isso ocorre por meio de projetos de

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cooperação através do acesso a técnicas, tecnologia, conhecimento e experiências disponíveis somente em outros países (OSAMURA, 2009).

O estágio de desenvolvimento alcançado pelo Brasil o permite divulgar suas experiências para outros países interessados no processo como forma de retribuir o auxilio recebido. Essa cooperação tem o intuito de contribuir para o adensamento das relações do Brasil com outros países em desenvolvimento para a ampliação de seus intercâmbios, para a geração, disseminação e utilização dos conhecimentos técnicos, para a capacitação de recursos humanos e fortalecimento de suas instituições por meio do compartilhamento de políticas públicas bem sucedidas (AGÊNCIA BRASILEIRA DE COOPERAÇÃO, 2013c).

Conforme visto anteriormente, as Organizações Internacionais são entidades importantes para a promoção da cooperação internacional. Dentre as Organizações Internacionais voltadas à cooperação internacional para o desenvolvimento as principais são a ONU e suas agências especializadas como o Grupo Banco Mundial. Para melhor compreender o tema, o capítulo a seguir descreve as Organizações Internacionais, suas características, classificação, estrutura e funcionamento, bem como sua origem.

2.2 AS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS

Em um primeiro momento, as relações internacionais eram marcadas por acordos bilaterais pelo fato que o Direito Internacional alcançava apenas alguns poucos países europeus. A partir do momento em que houve uma multiplicação e diversificação de atores no sistema internacional, novos Estados começaram a surgir e com eles vieram as diferenças de poder, de culturas e de desenvolvimento econômico (OLIVEIRA, 2011).

Na ocasião em que os Estados se consagraram como forma fundamental de organização da sociedade internacional e estes passaram a objetivar a paz internacional é que se buscou fortalecer a existência de mecanismos e instituições internacionais responsáveis pela resolução de litígios entre tais Estados (MAZZUOLI, 2008; DIHN, 2003).

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2.2.1 Origem

No que tange a origem das Organizações Internacionais, as conferências de Estados iniciadas no século XVI tiveram grande participação. Todavia, essas conferências eram realizadas através do sistema ad hoc, ou seja, os Estados reuniam-se temporariamente para discutir um assunto específico e quando se chegava a um acordo a reunião era encerrada.

Esse sistema era bastante limitado e tornou-se ineficiente e inadequado por alguns motivos como: a cada novo problema era necessária a convocação de uma nova conferência, também não existiam normas que definissem as obrigações e deveres de cada Estado participante, além de as conferências estarem ligadas a questões políticas e serem usadas como plataformas para expor interesses estatais (AMERASINGHE, 2005 apud NETO 2007).

Assim sendo, Neto (2007) afirma que a origem das OI está associada ao período de paz que seguiu à queda de Napoleão (1815) até o início da Primeira Guerra Mundial (1914) quando surgiram conferências que tratavam de diversos assuntos, sendo alguns deles relacionados ao avanço tecnológico e cientifico que ocorria na época. Todavia, Dihn (2003) afirma que é equivocado dizer que a origem das OI data desse período, pois, na verdade, os organismos que surgiram nesse momento não eram institucionalizados, uma característica fundamental das Organizações Internacionais.

Em 1815, ao final das Guerras Napoleônicas, Rússia, Áustria e Prússia reuniram-se para formar a Santa Aliança, a qual defendia o direito de intervenção, inclusive armada, para combater governos revolucionários contrários à monarquia (ALEIXO, 1988). O intuito da reunião, segundo Araujo (2002), era estabelecer uma nova ordem baseada no princípio do equilíbrio europeu e tinha como alicerce de sua política o princípio da legitimidade, o qual defende a intervenção das potências quando e onde fosse necessário restaurar a ordem ferida (LESSA, 2005).

O tratado celebrado pela Santa Aliança estipulava, de acordo com o artigo 1 que seus signatários permaneceriam unidos pelos laços de compatriotas e se prestariam assistência e socorro para proteger a religião, a paz e a justiça (ARAUJO, 2002).

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A partir de então, iniciou-se a “era dos Congressos” que nada mais eram que reuniões entre as grandes potências da época para solucionar litígios por meio de consultas (SEITENFUS, 2008).

Tais reuniões eram de caráter voluntário e as decisões tomadas durante elas não eram obrigatórias. No entanto, esses encontros proporcionaram experiências multilaterais que, futuramente, originaram na Conferência de Haia (1899 e 1907) onde se tentou estabelecer conceitos comuns para a Organização Internacional. Em razão dos interesses comuns, alguns Estados convenceram-se de que seria mais fácil criar órgãos de caráter permanente a reunir-se de forma descontínua (SEITENFUS, 2008).

Durante esse período, os países das Américas reuniam-se periodicamente em forma de conferências. Esses eventos auxiliaram na criação da Organização dos Estados Americanos (OEA) alguns anos mais tarde, em 1948, bem como contribuíram para o desenvolvimento dos procedimentos adotados futuramente pelas Organizações Internacionais como a periodicidade das conferências que possibilitava a criação procedimentos formais e a criação de estruturas organizacionais permanentes (NETO, 2007).

O século XIX traz à tona a prática do multilateralismo, o qual impulsiona os Estados soberanos a começar a cooperar internacionalmente. Porém essas relações deveriam ser reguladas com o intuito de garantir a manutenção da paz através do equilíbrio de poder e do esforço permanente de conduzir os possíveis litígios por meio de soluções pacíficas. Tal cenário fez com que fosse criado o embrião das Organizações Internacionais (ARAUJO, 2002; CLAUDE apud HERZ, HOFFMANN, 2004).

Entre o final do século XIX e o início do século XX surgiram as primeiras organizações funcionais focadas em questões técnicas, entre elas: a União Telegráfica (1865), a União Postal Universal (1874), a União para a Proteção da Propriedade Intelectual (1883), a União das Ferrovias e a Organização Internacional do Trabalho (1919). Elas foram criadas em meio a transformações econômicas, tecnológicas e científicas para responder a necessidade de cooperação e normatização em diversas áreas como saúde, agricultura, estradas de ferro, entre outras (SEITENFUS, 2008; HERZ, HORFFMAN, 2004; ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 2013).

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A Primeira Guerra Mundial causou interrupção no período classificado como “Era das Convenções”. No entanto, houve pressão da sociedade internacional para a criação de instituições que evitassem ações militares e assegurassem meios pacíficos para a solução de litígios (NETO, 2007).

Esse cenário em transformação ocasionou em uma maior interdependência dos Estados e aonde foram surgindo novas necessidades que os próprios Estados não conseguiam suprir em âmbito nacional. As conferências e tratados internacionais mostravam-se insuficientes o que gerou uma cooperação internacional para a criação de entes de caráter permanente que seriam utilizados para realizar objetivos em comum (OLIVEIRA, 2011).

E é nesse contexto que é criada a Liga das Nações a primeira organização internacional universal que tinha a finalidade de ordenar as relações internacionais por meio de regras e princípios previamente definidos (HERZ, HOFFMANN, 2004).

O início do século XX trouxe profundas mudanças tanto para o cenário internacional como para a sociedade internacional que se tornava cada vez mais complexa. Com isso, observava-se a insuficiência do Estado frente a novos acontecimentos como o crash da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, e a impossibilidade de evitar a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Esse cenário fez com que a Liga das Nações não se tornasse bem sucedida, o que acabou por extingui-la. O malogro da Liga das Nações, chamada também por Sociedade das Nações, levantou a necessidade de uma maior cooperação internacional no intuito de prevenir novos conflitos internacionais (DIHN, 2003). Contudo, ao final da Segunda Guerra, os países vencedores elaboraram a Carta das Nações Unidas, a qual instaurou mais tarde a Organização das Nações Unidas (ONU) (NETO, 2007; ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS 2013a).

A ONU foi criada com a finalidade de promover a manutenção da paz e da segurança internacional além da garantir os direitos fundamentais do homem. Essa organização tornou-se o símbolo do cenário internacional da época, marcado pela afirmação da hegemonia norte-americana, pela desordem financeira, econômica e política, bem como o inicio da Guerra Fria (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS 2013a; HERZ, HOFFMANN, 2004; NETO, 2007).

Durante o Pós-Segunda Guerra, a economia mundial entra em uma fase de expansão, com aumento do comércio e dos investimentos estrangeiros diretos.

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Tais fenômenos são resultado, em grande parte, das regras estabelecidas durante a Conferência de Bretton Woods, em 1944, que culminou na criação do BIRD e do FMI. Contudo, tal crescimento econômico, especialmente nos países periféricos, agravou ainda mais as desigualdades estruturais (ALMEIDA, 2002).

Para tanto, foi necessária a criação de novas Organizações Internacionais que garantissem a paz mundial e reestruturasse a ordem econômica. Até então as Organizações Internacionais, no geral, possuíam caráter exclusivamente governamental. No então, devido às mudanças ocorridas no cenário mundial, as OI começaram a ampliar sua natureza (NETO, 2007).

A Organização das Nações Unidas, em 1949, criou a Comissão de Direito Internacional (CDI) a qual desde o início inclui o tema Direito dos Tratados como prioritário em sua agenda. Juntamente com o Congresso de Viena de 1969, a CDI transformou a história do Direito Internacional Público. Através dessas duas convenções tornou-se possível a codificação de regras referentes aos tratados acordados entre Estados (MAZZUOLI, 2008).

A História mostra que, apesar do aumento das desigualdades e tensões no cenário internacional, os Estados estão cada vez mais unidos para resolver questões e problemas comuns, além de estarem mais dispostos a cumprir com as obrigações e limitações impostas pelas OI (NETO, 2007).

Essa união aproxima os Estados acelerando a integração internacional. Esse processo objetiva o aumento das potencialidades de cada Estado no sistema internacional, criando uma nova identidade que envolve o sentido de comunidade (DEUTSCH apud MELLO, 2004).

As OI influenciam o meio em que estão inseridas. Mello (2004) destaca que elas aumentam as oportunidades dos Estados menos desenvolvidos, defendem o internacionalismo, criam meios para o controle e solução de litígios e exercem influência nas decisões dos Estados, protegem os direitos humanos e representam um canal de comunicação entre os Estados.

2.2.2 Definição, Características e Classificação

As Organizações Internacionais foram criadas para atender as necessidades que os Estados não conseguiram suprir sozinhos. Elas surgem através de um ato de vontade coletivo, onde é criado um tratado constitutivo o qual

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balizará as ações da mesma e lhe conferirá autonomia em relação a seus membros (NETO, 2007; YODA, 2005). Tais organizações são a forma mais institucionalizada de realizar a cooperação internacional (HERZ; HOFFMANN, 2004).

Os Estados, atores primários do sistema internacional, possuem elementos típicos que os caracterizam como pessoas do Direito Internacional com território, povo e soberania. São essas características que os diferem das Organizações Internacionais (NETO, 2007).

Por causa de sua soberania, nenhum Estado pode ser obrigado a participar de uma OI, esse é um ato estritamente voluntário. Ao mesmo tempo, isso não garante que o Estado seja aceito em uma Organização Internacional uma vez que os Estados que a criaram são responsáveis por criar as regras e regular o funcionamento da mesma, inclusive o processo de admissão de novos membros. O processo de admissão, nas palavras de Dinh (2003), varia de acordo com dois aspectos: a manutenção da cooperação entre os Estados membros e as finalidades da organização.

Há, também, a possibilidade de outros Estados não criadores da Organização participarem de uma OI sem tornarem-se membros. Nesse caso os participantes podem ser associados ou observadores. Os associados têm os mesmos direitos que os membros, exceto o poder de voto. Já os observadores são os Estados que não possuem personalidade jurídica no sistema internacional e, por isso, não são atores e consequentemente não podem celebrar tratados como o ato constitutivo de uma OI (DINH, 2003).

2.2.2.1 Definição

Não há uma definição formal para ilustrar o conceito de Organização Internacional, por essa razão recorre-se aos autores de Direito Internacional Público como Sereni (1959 apud MELLO, 2004, p. 601) que define OI como:

(...) associação voluntária de sujeitos de direito internacional constituída por atos internacionais e disciplinada nas relações entre as partes por normas de Direito Internacional, que se concretiza em um ente de caráter estável, munido de um ordenamento jurídico interno próprio e dotado de órgãos e institutos próprios, por meio dos quais realiza as finalidades comuns de seus membros mediante funções particulares e o exercício de poderes que lhe foram conferidos.

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Já Ricardo Seitenfus (2008, p. 27 e 28), conceitua Organização Internacional como:

(...) uma associação voluntária entre Estados, constituída através de um tratado que prevê um aparelhamento institucional permanente e uma personalidade jurídica distinta dos Estados que a compõem com o objetivo de buscar interesses comuns, através da cooperação entre seus.

Paul Reuter, um estudioso das Organizações Internacionais (OI), observa que o tema é heterogêneo, pois designa diversos entes com os mais variados objetivos. As OI são marcadas por desigualdades tanto quantitativas como alcance geográfico e orçamento como qualitativas uma vez que não tem uma finalidade em comum (REUTER apud REZEK, 2008).

2.2.2.2 Características

Nas palavras de Herz e Hoffmann (2004), as OI são, ao mesmo tempo, atores centrais do sistema internacional uma vez que elaboram políticas e projetos próprios, bem como mecanismos de cooperação entre Estados e outros atores. Além disso, as organizações internacionais possuem mecanismos que garantem o cumprimento das normas e regras criadas pelas mesmas.

Como já citado anteriormente as Organizações Internacionais são heterogêneas, mas com características em comum que as diferem de outros atores do sistema internacional. Silva (2005) considera OI uma associação voluntária de sujeitos de Direito Internacional, instituída por um ato internacional e com ordenamento jurídico interno próprio, além de órgãos próprios e sede própria, bem como deve possuir personalidade internacional e ser detentora de poderes próprios fixados pelo tratado que a criou.

Esse tratado é o instrumento jurídico utilizado pelas OI para balizar suas ações. Além disso, tais organizações possuem competência funcional, ou seja, outros sujeitos de Direito Internacional instituíram uma competência específica para que a OI cumpra com uma determinada função. Um último aspecto seria que as OI são sujeitos de Direito Internacional o que lhes confere direito e impõe obrigações (NETO, 2007).

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Além dessas características, segundo o Yearbook of International Organization, as Organizações Internacionais devem seguir alguns critérios: ter pelo menos três Estados com direito a voto, possuir estrutura formal e ter objetivo internacional (SILVA, 2005). As OI também gozam de privilégios e imunidades necessários ao seu funcionamento como isenção de impostos os quais são deferidos em acordos entre as mesmas e os Estados membros (MAZZUOLI, 2008; MELLO, 2004).

As OI são organizações dotadas de personalidade jurídica de direito internacional público assim como os Estados soberanos, principalmente porque ambos têm a competência para celebrar tratados (DUPUY apud REZEK, 2008).

Como as OI não possuem base territorial, um Estado membro da organização precisa ceder um local para instalação da mesma. Neto (2007) lembra, ainda, que essa situação pressupõe um tratado bilateral entre as partes: OI e Estado soberano.

2.2.2.3 Classificação

A classificação das Organizações Internacionais costuma variar conforme os autores pelo fato de que elas se apresentam em grande variedade e são extremamente heterogêneas (OLIVEIRA, 2011).

Para Velasco (1999 apud MELLO, 2004), elas classificam-se quanto a sua finalidade, a qual pode ser geral ou específica, sendo que as gerais são predominantemente políticas; quanto ao âmbito territorial dividem-se em universais, as quais não apresentam restrições para adesão de novos membros, e as regionais; quanto à natureza dos poderes exercidos são classificadas em intergovernamentais – quando os próprios Estados constituem os órgãos e tomam as decisões cabíveis a organização, e supranacionais – quando os órgãos atuam em nome próprio e os Estados cedem sua competência para que a OI atue com amplos poderes.

Já Schwarzenberger classifica as OI por meio de cinco critérios. O primeiro deles é a duração: ad hoc, provisórias e permanentes. O segundo é o caráter homogêneo ou heterogêneo que varia de acordo com os campos de atuação da organização. O terceiro é analisado através da amplitude da competência da OI: pessoal, geográfica, material e temporal. Já o quarto diz respeito à natureza dos poderes: instituição judicial, conciliatória, governamental, administrativa,

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coordenativa, pré-legislativa e legislativa; se uma organização possuir todos esses caracteres será considerada ampla, se não, será estrita. O último critério é o grau de integração da OI: internacionais ou supranacionais (SCHWARZENBERGER apud NETO, 2007).

2.2.3 Estrutura e Funcionamento

O ato constitutivo de uma OI torna-se a norma constitucional da organização e apresenta algumas características específicas como: não ter prazo de duração; a própria organização é responsável pela interpretação; o tratado tem primazia sobre outros tratados (MONACO apud MELLO, 2004). Esses tratados podem ser caracterizados como multilaterais, no entanto possuem aspectos próprios, o que significa dizer que eles dão origem a um ente de personalidade internacional própria com a finalidade de atender aos interesses comuns dos Estados membros (MELLO, 2004).

Segundo Neto (2007) é o tratado constitutivo de uma organização internacional que prevê a criação de organismos que compõe a estrutura organizacional da mesma de forma a atender as suas necessidades para alcance do objetivo. A carta constitutiva tem primazia em face de outros tratados retificados pelos Estados membros; é preciso distinguir o que veio antes e depois da instituição da Organização Internacional. Essa superioridade pretende excluir as possibilidades de revisão e alteração do tratado que culminou na criação da OI (DINH, 2003).

Além do ato constitutivo, as OI possuem estatutos internos que regulam o funcionamento dos órgãos que as compõem, ou seja, eles balizam o direito interno das Organizações. O estatuto não possui natureza jurídica e, por isso, não deve ser confundido como tratado (MAZZUOLI, 2008).

2.2.3.1 Estrutura

Quanto à estrutura institucional as OI se assemelham e, no geral, possuem quatro órgãos. Uma Assembleia – onde estão representados todos os membros – que se reúne anualmente para discutir questões gerais da organização, formada por todos os membros da organização e onde os mesmos têm voz e voto. Um Conselho – que é o órgão executivo – também representado por todos os

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membros da OI, com vocação política. Uma Comissão que é responsável por gerir a finalidade principal da organização. E, por último, uma Secretaria a qual é responsável pela parte administrativa da organização. O processo decisório das OI costuma variar de acordo com a natureza da organização. (YODA, 2005; REZEK, 2008; MELLO, 2004).

As OI possuem estatutos internos que regulam as relações e funções de seus órgãos. A estrutura interna de cada organização varia conforme sua finalidade e seus órgãos são definidos no tratado constitutivo da mesma, onde também é definido o modo de votação.

2.2.3.2 Funcionamento

No que diz respeito ao processo decisório de uma Organização Internacional, o mesmo varia dependendo de sua natureza. Os sistemas de votação podem ser unânime, dissidente, de voto ponderado e de maioria simples e qualificada. O primeiro caracteriza-se pela concordância de todos os Estados membros sobre a decisão tomada. Já o segundo diz respeito aos Estados que não aprovam uma decisão e a mesma deixa de ser aplicada a esses dissidentes. O terceiro é a separação do direito de igualdade, ou seja, alguns países possuem maior direito de voto que outros. O último divide-se em dois, o de maioria simples onde prevalece o voto de mais da metade dos Estados membros mais um e o de maioria qualificada em que deve haver 2/3 dos votos para valer a decisão (MAZZUOLI, 2008).

As Organizações Internacionais possuem certos poderes para atender às suas finalidades. Além disso, as OI possuem “poderes implícitos” admitidos pela jurisprudência e pela doutrina, fontes do Direito Internacional Público, desde que estejam vinculados ao funcionamento da organização. Ao exercerem tais poderes, as OI criam normas internacionais que podem ou não tem valor obrigatório. Os poderes podem ser listados em: concluir tratados, ter privilégios e imunidades, promover conferências internacionais, participar de arbitragem internacional, entre outros.

As OI também possuem direitos como o direito de convenção, ou seja, de acordar tratados em nome próprio, o direito de missão o qual representa a manutenção das relações com os demais sujeitos de Direito Internacional e,

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também, o direito de denúncia, que diz respeito ao direito que os Estados membros têm de se retirar da OI desde que essa hipótese já esteja prevista do tratado constitutivo (SILVA, 2005).

O não cumprimento das obrigações delegadas a estas Organizações gera consequências ao Estado membro que as provocou. As sanções cabíveis às OI são as mais diversas, entretanto, duas são as punições geralmente aplicadas: a suspensão dos direitos e a exclusão do Estado que violou gravemente as regras impostas no tratado constitutivo (MAZZUOLI, 2008).

No entanto, também pode ocorrer a retirada voluntária de um membro da OI. Os tratados que são passíveis desse processo admitem dois processos: o aviso prévio – o qual diz respeito ao tempo entre o pedido formal do Estado para retirar-se da Organização e a efetiva retirada, e a atualização de contas, ou seja, a regularização do compromisso financeiro do Estado com a entidade até o seu último dia de participação (MAZZUOLI, 2008).

Quanto ao financiamento das Organizações Internacionais, os Estados membros são os responsáveis por contribuir com parte de ser orçamento para o pagamento das despesas das mesmas. Os critérios de financiamento podem variar de acordo com os benefícios que o Estado adquire da Organização. Os Estados podem agrupar-se em classes e cada uma delas arca com uma parte ou há uma igualdade de contribuição. Pode, ainda, levar-se em conta o número de habitantes ou a capacidade de contribuição de cada Estado membro (MELLO, 2004).

As despesas podem ser divididas em fixas e flexíveis, sendo as fixas aquelas referentes aos gastos administrativos da OI, os quais garantem o funcionamento da mesma, e as flexíveis as despesas que são destinadas a programas específicos (SEITENFUS, 2008). A quantia é fixada por um órgão competente e instituída no tratado da organização. Os critérios para fixação das contribuições dos Estados variam conforme a finalidade da organização.

O desenvolvimento socioeconômico proporcionado pelas organizações internacionais anteriormente citadas é visto tanto positiva como negativamente. Dando continuidade ao tema da pesquisa, o autor, no capítulo seguinte, explanará a história e características particulares do Grupo Banco Mundial.

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2.3 O BANCO MUNDIAL E O GRUPO BANCO MUNDIAL

A criação do Banco Mundial transformou o sistema financeiro e econômico naquele momento. No entanto, o Banco foi adequando sua atuação para a realidade internacional de cada período até voltar suas atividades para o desenvolvimento socioeconômico como meio para erradicar a pobreza.

2.3.1 Histórico do Banco Mundial

Na década de 40, o mundo sofria as consequências de duas Grandes Guerras. Houve uma diminuição drástica de emprego, produção e, consequentemente, comércio. Tal situação causou desgaste no sistema capitalista vigente, o qual precisava, urgentemente, ser reconstruído a partir de uma política econômica internacional regulada por meio de regras (BARRETO, 2009).

Durante esse período havia certo receio de que os problemas vividos na década anterior, com o Crash da Bolsa de Nova Iorque em 1929, retornassem e a guerra seria apenas uma interrupção dessa situação (CARVALHO, 2004).

Foi então que, antes do final da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano começou a idealizar um novo sistema financeiro internacional. Para tanto, os EUA mantiveram negociações com o governo britânico, principalmente entre Harry Dexter White – assessor chefe do secretário do Tesouro norte americano – e John Maynard Keynes – assessor principal do tesouro britânico. Ambos elaboraram propostas para reestruturar a economia mundial, onde a criação de instituições multilaterais cooperadas economicamente evitaria novas guerras. Os focos eram: a estabilidade econômica através de práticas intervencionistas e a cooperação financeira internacional sustentada por regras e responsabilidades dos membros que aderissem a esses novos organismos (EICHENGREEN, 2000 apud PEREIRA, 2010).

De acordo com o departamento de História do governo americano, o meio encontrado para alcançar tais objetivos era o estabelecimento de taxas de câmbio fixas e a expansão do comércio internacional. Além disso, tais instituições garantiriam que os países não tomassem medidas protecionistas e voltassem a operar com taxas de câmbio flutuantes (US DEPARTMENT OF STATE: OFFICE OF HISTORIAN, 2013).

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Na época, os Estados Unidos eram a potência hegemônica mundial uma vez que a Europa encontrava-se destruída pela guerra; e era esse o ponto de divergência entre as propostas norte-americana e britânica. A Inglaterra pretendia fazer da sua moeda, a libra esterlina, como uma zona de interesses privilegiados, a qual os EUA participariam menos ativamente. No entanto, o país europeu encontrava-se endividado e necessitaria do financiamento norte-americano. Já os Estados Unidos, almejava transformar o dólar na moeda internacional o que afirmaria a influência global do poder político e financeiro norte-americano (AGLIETTA & MOATTI, 2002 apud PEREIRA, 2010).

Keynes focava o seu projeto em dois pontos: a concepção de um banco central internacional com uma moeda de reserva mundial que proporcionasse a estabilização financeira e crescimento econômico, e a criação de um fundo de reservas financiado pelo então banco central internacional para reconstruir os países destruídos pela guerra, e depois ampliados para a promoção do desenvolvimento econômico (PEREIRA, 2010).

A ideia central de Keynes era a criação de uma moeda escritural, presente nos livros do banco central internacional, onde seriam registradas as operações entre os bancos centrais dos países membros da instituição. Tal organismo centralizaria todos os pagamentos referentes ao comércio exterior, além de registrar todas as entradas e saídas de recursos estrangeiros (CARVALHO, 2004).

No entanto, foram as propostas de White que formaram a base do novo sistema financeiro internacional. A sua ideia era criar um banco e um fundo internacional para estabilizar a política econômica no pós-guerra (SILVA, 1999).

Horsefield (1969 apud MASON & ASHER, 1973) descreveu White como um pragmático que explorava a posição de força e influência que os Estados Unidos possuíam para negociar ajuda financeira internacional que o país poderia oferecer ao final da Segunda Guerra.

No documento apresentado em 1942, White expôs suas preocupações: prevenir a ruptura de câmbios estrangeiros e o colapso do sistema monetário e do sistema de crédito; assegurar a restauração do comércio internacional e suprir o grande volume de capital necessário para a reconstrução mundial (HORSEFIELD, 1969).

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O professor Fernando J. C. de Carvalho (2004), do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, considera que tal projeto possibilitou os países de atingirem níveis sustentados de prosperidade econômica nunca vistos antes. De outra parte, os países teriam que ceder a algumas decisões sobre suas políticas domésticas com o objetivo maior de alcançar a estabilidade macroeconômica.

Como meio de concretizar essas ideias, em 1944, os países aliados aos EUA na guerra foram convidados para a Conferência Monetária e Financeira das Nações Unidas em Bretton Woods – nos EUA, para discutir e aprovar as propostas desse novo sistema financeiro internacional (KAPUR et al., 1997 apud PEREIRA, 2010).

Os assuntos chave da reunião eram: como estabelecer um sistema estável de câmbio e como pagar pela reconstrução da economia dos países devastados pelas guerras mundiais que tiveram como palco a Europa (SCHIFFERS, 2008).

Durante a Conferência, o foco foi a elaboração do acordo que constituiria o Fundo Monetário Internacional. Contudo, percebeu-se ao longo das negociações, que seria necessário um fundo para a reconstrução, principalmente dos países europeus, pois esses não teriam condições de contribuir de maneira significativa com os organismos financeiros recém-criados (KAPUR et al., 1997 apud PEREIRA, 2010).

Assim sendo, Bretton Woods resultou na criação de instituições financeiras multilaterais, o FMI – que regularia o câmbio e concederia empréstimos em caso de déficit no balanço de pagamentos, e o BIRD – que, primeiramente, promoveria garantias e empréstimos para os países afetados pela guerra (WORLD BANK, 2013a).

O cenário mundial foi modificado no pós-guerra com o surgimento da bipolarização mundial: a Guerra Fria. Os EUA estavam pressionados pela ameaça comunista que se expandia mundialmente. O mundo passava, também, por um período de descolonização e alguns dos países periféricos passaram a ganhar importância nas questões diplomáticas. Porém a maioria desses países agora independentes e alguns países periféricos não se encaixavam nas políticas de crédito do FMI e do BIRD (HOBSBAWM, 1995; KAPUR et al., 1997 apud PEREIRA, 2010).

Referências

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