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As autoras respondem
The authors reply
In icialm en te, gostaríam os de agradecer aos editores da revista pela oportunidade de trazer ao debate um tem a que tem ocupado a pauta das discussões de saúde não só no meio acadê-mico, mas também na grande imprensa – a dis-cussão sobre a m elhor utilização dos escassos recursos dispon íveis n a sociedade, ou ain da a busca da eqüidade n a utilização desses recur-sos. Gostaríamos também de agradecer aos de-batedores, cuja experiência e profundo conhe-cim en to sobre o tem a possibilitaram , a partir de sua contribuição, a reflexão sobre os conceitos e posicion am en conceitos apresen tados e a am -pliação do debate em função dessas novas pers-pectivas sobre o assunto.
Optam os, en tão, por cen trar n ossos co-mentários sobre a discussão da capacidade das políticas pú blicas de fin an ciam en to da saú de em prom over a eqüidade, discutindo a habili-dade m etodológica da construção de políticas de financiam ento da saúde que utilizem crité-rios técnicos que busquem aumentar a eqüida-de na distribuição eqüida-de recursos entre os entes fe-derados.
No en tan to, an tes de en trarm os n esta dis-cu ssão sen tim os a n ecessidade de colocar al-guns limites da análise, especialmente em rela-ção ao entendim ento do conceito de eqüidade que estam os trabalhando aqui. Podem os
afir-mar, sem receio, que a maioria dos autores con-sidera in iqüidade apen as as desigualdades resultantes de fatores externos ao controle do in -divíduo, ou seja, aquelas desigualdades social-m ente detersocial-m inadas. Não podesocial-m os dizer que as desigualdades resultantes das escolhas indi-viduais são não eqüitativas. Também podemos afirmar que a busca da eqüidade através da dis-tribuição de recursos deve ser feita pela discri-minação positiva em favor dos desfavorecidos.
Mas, ficamos ainda com o problema em re-lação às diferentes possibilidades de m ensura-ção da eqü idade n as políticas sociais, ou m e-lhor, as dificuldades e as possibilidades de men-suração de eqüidade. É com um , para m edir as desigu aldades, en con trarm os n os estu dos da área de saúde coletiva indicadores sobre os per-fis demográficos, mas estes apenas mostram as diferenças determinadas pelas variações bioló-gicas naturais. Temos também os perfis epide-m iológicos, epide-m as sabeepide-m os que as in forepide-m ações são pouco confiáveis, especialmente as de mor-bidade, e não podemos trabalhar com as infor-m ações de infor-m ortalidade, pois estas n ão repre-sentam as necessidades de assistência à saúde, um a vez que n ão expressam todas as doen ças que o indivíduo pode ter ao longo da sua vida, e o uso repetido de taxas de mortalidade para a distribu ição de recu rso pode vir a prem iar a falta de eficiên cia. Por fim , tem os o perfil so-cioeconômico; neste caso, alguns dos indicado-res parecem m ostrar algum a relação com as condições de saúde. Por exemplo, existe relação entre o nível de educação e o estado de saúde, e o percen tual de habitações ligadas n a rede de saneam ento básico é um dos m elhores indica-dores das con dições de saúde. No en tan to, o PIB
per capita
pode ser um indicador fraco em caso de alta concentração de renda.O exercício de m edir as desigualdades se deve à necessidade de intervir na realidade no sentido de propiciar melhores condições de de-senvolvim ento e prom oção de um a sociedade m ais justa. Vianna (2002) salienta que a aferi-ção de desigualdades entre diferentes unidades de análise é de três tipos: a) m edidas relativas baseadas na construção de razões de risco en tre uma das categorias e a categoria de referên -cia (Risco Relativo); b) medidas relativas e ab-solu tas de diferen ça de risco en tre cada u m a das categorias e a categoria de referência (Risco Atribuível e Risco Atribuível Populacional); c) índices de concentração, distribuição ou simi-laridade, assemelhados ao coeficiente de Gini e à Curva de Lorenz. Neste estudo, utilizamos ín-Graham H & Kelly MP 2004. Health inequalities: concepts,
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dices de concentração, especificamente, a Cur-va de Lorenz, que é a representação gráfica da distribuição socioecon ôm ica de determ in ado atributo X.
O Ín dice de Desen volvim en to H um an o (IDH) procura dar a dim ensão do desenvolvi-m ento hudesenvolvi-m ano para alédesenvolvi-m da renda
per capita.
Foi criado para m edir o n ível de desen volvi-m en to hu volvi-m an o dos países a partir de in dica-dores de educação, longevidade e renda. A partir da m edida do IDH , desenvolvese o acom -panham ento do Desenvolvim ento H um ano; é calcu lado o IDM-M – Ín dice de Desen volvi-m en to H uvolvi-m an o Mun icipal, e utilizavolvi-m -se as m esm as dim en sões: educação, lon gevidade e renda, mas com alguns indicadores diferentes, qu e perm item calcu lar as con dições em n ú -cleos menores.Utilizamos essas medidas de desigualdades para a avaliação da eficácia da política da Mu-nicipalização Solidária da Saúde, pois se apre-sen tam com o valiosas n a avaliação da capaci-dade redistribu tiva de políticas de fin an cia-mento e, mesmo com algumas dificuldades na qu alidade das in form ações (su b-registros ou inexistência de dados), podem orientar a toma-da de decisão dos gestores na procura toma-da eqüi-dade em saúde.
Os resultados demonstraram que foi obtida uma desigualdade na distribuição de recursos, e essa desigualdade atendeu aos critérios pro-postos pela política do MSS que foi de privile-giar os municípios de menor porte. A hipótese qu e ju stifica esta escolha para a política é de qu e são os pequ en os m u n icípios os qu e m ais precisam de recursos para aten der às n ecessi-dades de saúde de sua população. E, de acordo com esta hipótese, a metodologia de distribui-ção proposta pela política de Municipalizadistribui-ção Solidária da Saúde foi bem sucedida em garan -tir a eqüidade.