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1.1 Mecânica de partículas

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(1)

Cap´ıtulo 1

F´ısica Pr´

e-Einsteiniana – Revis˜

ao

Este cap´ıtulo apresenta uma revis˜ao de alguns aspectos da f´ısica pre-einsteiniana, relevantes para o

desenvolvimento da relatividade de Einstein. A primeira se¸c˜ao resume os pontos essenciais da mecˆanica

de part´ıculas,1desenvolvida principalmente por Galileu e Newton. A segunda se¸c˜ao traz uma discuss˜ao de

alguns aspectos da ´otica, com enfoque especial na propaga¸c˜ao da luz nos meios materiais em movimento e

na observa¸c˜ao do assim chamado “vento de ´eter”. A terceira se¸c˜ao lida, no mesmo esp´ırito, com fenˆomenos

eletromagn´eticos e a sua unifica¸c˜ao com fenˆomenos ´oticos na teoria de Maxwell.

1.1

Mecˆ

anica de part´ıculas

1.1.1

Relatividade galileana - Lei da in´

ercia

Galileu notou que a observa¸c˜ao de fenˆomenos mecˆanicos ocorrendo dentro de um navio em movimento

uniforme n˜ao permite perceber o movimento do navio: tudo acontece como num laborat´orio terrestre.

Generalizada, esta constata¸c˜ao leva `a afirma¸c˜ao da relatividade Galileana: as leis da mecˆanica s˜ao as

mesmas em todos os referenciais inerciais, ou seja, em todos os sistemas de referˆencia que est˜ao em

movimento retil´ıneo uniforme.

Galileu tamb´em observou que, na ausˆencia de influˆencia externa, um corpo mant´em o seu estado de

movimento, ou seja, a sua velocidade. Estabeleceu assim a lei da in´ercia. Influˆencias externas – for¸cas –

produzem modifica¸c˜oes de velocidade – acelera¸c˜oes.

1.1.2

Leis de Newton

A dinˆamica “cl´assica”de part´ıculas desenvolvida por Newton ´e usualmente apresentada na sua essˆencia

na forma de trˆes leis.

A primeira lei de Newton reafirma a lei da in´ercia. Ela serve para definir a classe de referenciais nos

quais as demais leis s˜ao v´alidas: s˜ao os referenciais inerciais mencionados acima, para os quais pode-se

adotar a seguinte defini¸c˜ao: um referencial inercial ´e um referencial no qual todas as part´ıculas livres

est˜ao em movimento retil´ıneo uniforme (ou em repouso).

A segunda lei de Newton,

~

f = m~a , (1.1)

afirma que a influˆencia – a for¸ca – exercida por outras part´ıculas sobre uma part´ıcula dada resulta

numa acelera¸c˜ao que ´e inversamente proporcional `a massa da part´ıcula, quantidade esta que caracteriza

portanto a in´ercia, ou “resistˆencia `a acelera¸c˜ao”, da part´ıcula.

A massa de uma part´ıcula ´e uma quantidade conservada (independente do tempo) e invariante

(in-dependente do referencial). ´E tamb´em uma grandeza simplesmente aditiva: a massa total de um sistema

composto ´e igual `a soma das massas dos constituintes.

1A palavra “part´ıcula”no presente contexto refere-se a um ponto geomˆetrico dotado de massa, possivelmente o centro

de massa de um corpo extenso.

(2)

A terceira lei de Newton afirma que se, num dado instante, uma part´ıcula A aplica sobre outra part´ıcula

B uma for¸ca ~fBA, ent˜ao a part´ıcula B por sua vez aplica sobre a part´ıcula A, no mesmo instante, uma

for¸ca ~fAB de mesmo m´odulo e dire¸c˜ao, mas de sentido oposto,

~

fAB= − ~fBA . (1.2)

Diz-se que tais for¸cas constituem um par a¸c˜ao-rea¸c˜ao.

1.1.3

Quantidades conservadas

O trabalho realizado por uma for¸ca ~f no movimento de uma part´ıcula da posi¸c˜ao ~rI at´e a posi¸c˜ao ~rF,

seguindo o caminho C, ´e definido como

W =

Z ~rF

~rI

[ ~f · d~r ]C . (1.3)

Se ~f for a for¸ca resultante atuando sobre a part´ıcula, segue desta defini¸c˜ao e da equa¸c˜ao fundamental

de movimento (1.1) que W = KF − KI , (1.4) onde K = mu 2 2 , (1.5)

sendo ~u a velocidade. A quantidade K ´e a energia cin´etica, e o resultado (1.4) ´e conhecido como teorema

trabalho-energia.

As for¸cas conservativas s˜ao aquelas para as quais o trabalho ´e independente do caminho seguido,

dependendo ent˜ao apenas dos pontos iniciais e finais escolhidos. Neste caso, pode-se associar `a for¸ca uma

energia potencial, definida como

U (~r) = − Z ~r ~ r0 ~ f · d~r0 , (1.6)

onde ~r0 ´e um ponto de referˆencia escolhido arbitrariamente.

Quando somente for¸cas conservativas realizam trabalho, o resultado (1.4) pode ser re-escrito na forma

da lei de conserva¸c˜ao da energia mecˆanica:

K + U ≡ E conservada . (1.7)

Em especial, para um sistema isolado2 no qual as for¸cas internas s˜ao conservativas,3 a conserva¸ao

da energia mecˆanica total4

¯ E =X i Ki+ X i<j Uij , (1.8)

onde Ki ´e a energia cin´etica da part´ıcula i e Uij a energia potencial associada `a for¸ca interna entre as

part´ıculas i e j.

Na ausˆencia de for¸cas externas, outras quantidades conservadas podem ser identificadas utilizando-se

a terceira lei de Newton. Sem necessidade de outra condi¸c˜ao, esta lei leva `a conserva¸c˜ao do momentum

linear total, dado por

~¯p =X

i

mi~ui , (1.9)

onde mi ´e a massa da part´ıcula i e ~ui a sua velocidade. Caso as for¸cas internas, al´em de satisfazer a

condi¸c˜ao (1.2), forem for¸cas de contato ou for¸cas centrais,5 a terceira lei tamb´em implica na conserva¸c˜ao

do momentum angular total de um sistema isolado, dado por ~¯l= X

i

~ri× mi~ui , (1.10)

2Por “sistema isolado”, entende-se um sistema sobre o qual n˜ao atua nenhuma for¸ca externa.

3For¸cas de contato permanente ou coes˜ao, que n˜ao contribuem para o trabalho resultante, podem tamb´em estar presentes. 4Neste texto, uma barra acima de um s´ımbolo representando uma quantidade f´ısica associada a um sistema indica uma

soma sobre os componentes do sistema.

(3)

1.1. MEC ˆANICA DE PART´ICULAS 3

onde ~ri ´e o vetor posi¸c˜ao da part´ıcula i.

Por ser insuficiente para garantir a conserva¸c˜ao do momentum angular total, a condi¸c˜ao (1.2) ´e algumas

vezes chamada “terceira lei fraca”. Acompanhada das condi¸c˜oes adicionais necess´arias para garantir essa

conserva¸c˜ao, ela se torna ent˜ao a “terceira lei forte”.

Vale frisar que, na perspectiva moderna da dinˆamica de part´ıculas e campos, as leis de conserva¸c˜ao

est˜ao associadas `as transforma¸c˜oes de simetria. A conserva¸c˜ao da energia est´a associada `a invariˆancia

frente `as transla¸c˜oes no tempo. A conserva¸c˜ao do momentum linear est´a associada `a invariˆancia frente

`

as transla¸c˜oes no espa¸co e a conserva¸c˜ao do momentum angular est´a associada `a invariˆancia frente `as

rota¸c˜oes no espa¸co. Assim, estas leis de conserva¸c˜ao s˜ao conseq¨uˆencias das propriedades fundamentais

de homogeneidade do tempo e de homgeneidade e isotropia do espa¸co. Qualquer teoria fundamental que

incorpore estas propriedades deve portanto levar `a conserva¸c˜ao das quantidades em quest˜ao. Caso uma

delas n˜ao seja conservada por um dado modelo mecˆanico, esta n˜ao-conserva¸c˜ao ser´a ent˜ao atribuida `a

sua transferˆencia para graus de liberdade n˜ao contemplados pelo modelo. Por exemplo, uma for¸ca n˜

ao-conservativa indicar´a a possibilidade de transforma¸c˜ao de parte da energia mecˆanica em outras formas

de energia (calor, energia el´etrica, etc.) ou vice-versa. Semelhantemente, uma for¸ca que n˜ao satisfa¸ca

a terceira fraca e/ou a terceira lei forte poder´a estar presente num modelo mecˆanico caso houver no

sistema f´ısico modelado transferˆencia de momentum angular e/ou linear mecˆanicos em outras formas,

por exemplo momenta carregados por campos.

1.1.4

Tempo e espa¸

co

O desenvolvimento da cinem´atica – e mais ainda da dinˆamica – implica na especifica¸c˜ao dos conceitos de

tempo e espa¸co.

Para Newton, o tempo era uniforme, universal, absoluto e – pelo menos conceitualmente –

inde-pendente da ocorrˆencia de qualquer fenˆomeno. Por “universal”, entende-se que o mesmo tempo rege a

evolu¸c˜ao de todos os processos f´ısicos, sejam eles de natureza mecˆanica, ´otica, el´etrica, ou outra. Por

“absoluto”, entende-se que o mesmo tempo especifica a evolu¸c˜ao, independentemente do referencial

uti-lizado.

De acordo com a teoria cl´assica, o espa¸co no qual se desenrolam os processos f´ısicos satisfaz os axiomas

da Geometria Euclidiana.

A transforma¸c˜ao de Galileu relaciona as coordenadas de uma part´ıcula, medidas em dois referenciais

inerciais. Sejam S e S0 os dois referenciais, cujos eixos supomos paralelos. Supomos tamb´em6 que as

origens dos dois referenciais coincidem em t = 0. Seja ~v a velocidade da origem O0 de S0 em rela¸c˜ao `a

origem O de S e ~r, ~r0 os vetores posi¸c˜ao da part´ıcula P em S e S0, respectivamente. Temos ent˜ao

~

r0= ~r − ~v t . (1.11)

J´a que o tempo ´e absoluto (t0 = t), a derivada temporal desta transforma¸c˜ao leva imediatamente `a

combina¸c˜ao vetorial das velocidades,7

~

u0= ~u − ~v . (1.12)

Como os dois referenciais inerciais est˜ao em movimento relativo uniforme, a derivada temporal de (1.12)

fornece simplesmente

~a0= ~a , (1.13)

ou seja, a acelera¸c˜ao ´e invariante numa mudan¸ca de referencial inercial. A invariˆancia Galileana est´a

ent˜ao garantida pela invariˆancia da for¸ca.

Embora experimentos de mecˆanica permitam observar apenas movimentos relativos de transla¸c˜ao, o

mesmo n˜ao ´e verdade para movimentos de rota¸c˜ao. Como ilustra¸c˜ao, consideramos um balde de ´agua

colocado sobre uma mesa girat´oria de oleiro. Inicialmente a mesa, o balde e a ´agua est˜ao em repouso

na olaria. N˜ao h´a movimento da ´agua em rela¸c˜ao ao balde e a superf´ıcie da ´agua ´e horizontal. O oleiro

comunica `a mesa um movimento r´apido de rota¸c˜ao. Em raz˜ao da sua viscosidade, a ´agua entra em

movimento tamb´em e ap´os algum tempo balde e ´agua giram com a mesma velocidade angular. Neste

6A transforma¸ao mais geral pode ser facilmente obtida combinando a transforma¸ao com rota¸oes e transla¸oes 7Denotamos por ~u = d~r

dt a velocidade de uma part´ıcula num referencial dado, reservando a letra ~v para a velocidade

(4)

O ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... ... ... ... ... ... ... O 0 ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... ... ... ... ... ... ... P ... ... ... ... ... ... ... .... . ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ~ vt ~r ~r0

Figura 1.1: Ilustra¸c˜ao da transforma¸c˜ao de Galileu

momento, como na situa¸c˜ao inicial, n˜ao h´a movimento relativo interno no sistema constituido pela ´agua

e o balde. Por´em, a superf´ıcie da ´agua n˜ao ´e mais horizontal e esta observa¸c˜ao permite distinguir

“internamente”as duas situa¸c˜oes. Para Newton, este exemplo demonstra a necessidade da existˆencia de

um espa¸co absoluto. Movimentos de rota¸c˜ao, assim como outros movimentos acelerados em rela¸c˜ao a este

espa¸co, s˜ao distingu´ıveis do repouso pelos efeitos inerciais que eles induzem, tal como a deforma¸c˜ao da

superf´ıcie da ´agua no exemplo do balde.

...... ...... ...... ... ...... ...... ...... .... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... .... ...... ...... ...... ... ... ... ...... ...... ...... ...... ... ... ... ... ...... ...... ... ... ... ... ............ ... ...... ... ...... ... ... .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... ...... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... (a) ...... ...... ...... ... ...... ...... ...... .... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... .... ...... ...... ...... ... ... ... ...... ...... ...... ...... ... ... ... ... ...... ...... ... ... ... ... ............ ... ...... ... ...... ... ... .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... ...... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...... (b) ...... ...... ...... ... ...... ...... ...... .... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... .... ... ... ... ... .. ... ...... .. ... ...... ... ...... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...... ...... ......... ... .. ... ... ... ... ... ... ... ... ...... ... ... ... ... ... ... ...... ... ... . ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...... ...... ...... ... ... . ... ...... ......... ... ... ... ... ...... ... ... .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... ...... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... . ... . . (c) Figura 1.2: O balde de Newton

Ernst Mach argumentou que os efeitos inerciais poderiam ser atribuidos ao movimento do sistema

considerado em rela¸c˜ao ao resto do universo, assim dispensando o conceito de espa¸co absoluto e afirmando

o car´ater relativo de todos os movimentos.

1.2

Otica

´

A primeira ´otica razoavelmente completa foi desenvolvida por Descartes, que imaginava a propaga¸c˜ao da

luz como a transmiss˜ao de uma press˜ao entre part´ıculas vizinhas preenchendo o espa¸co. J´a para Hooke, a

luz era uma vibra¸c˜ao se propagando num “´eter”homogˆeneo. Outros pesquisadores, entre os quais Newton,

preferiam interpretar a luz em termos de corp´usculos propagando-se em alta velocidade a partir da fonte.

A vis˜ao ondulat´oria foi geralmente considerada correta a partir das experiˆencias de Young, no come¸co

do s´eculo XIX. Estudos dos fenˆomenos de polariza¸c˜ao permitiram estabelecer o car´ater transversal das

ondas luminosas, embora era dif´ıcil explicar a ausˆencia de vibra¸c˜oes longitudinais do ´eter.

Discutimos a seguir algumas observa¸c˜oes e experiˆencias de ´otica e as suas interpreta¸c˜oes

pre-einstei-nianas.

1.2.1

Velocidade da luz

As primeiras determina¸c˜oes da velocidade da luz foram baseadas em observa¸c˜oes astronˆomicas. R¨omer,

em 1676, utilizou as eclipses dos satelites de J´upiter. Quando a Terra est´a se afastando de J´upiter, o

(5)

1.2. OTICA´ 5

eclipses sucessivas tamb´em aumenta. O efeito oposto ocorre quando a Terra est´a se aproximando de

J´upiter.

O per´ıodo do movimento orbital de J´upiter em torno do Sol ´e de mais de 11 anos. Portanto, para uma

primeira estimativa, podemos desprezar o deslocamento de J´upiter na sua ´orbita durante uma revolu¸c˜ao

da Terra em torno do Sol.

Seja T o per´ıodo de movimento do satelite em torno de J´upiter. Utilizamos um ´ındice n para contar

as eclipses observadas durante um ano, come¸cando a contagem (n = 0) quando a distˆancia entre J´upiter

e a Terra ´e m´ınima. Sejam Ln e Ln+1 as distˆancias entre J´upiter e a Terra nos instantes tn e tn+1 de

observa¸c˜ao de duas eclipses sucessivas [veja a figura (1.3)]. Temos

tn+1− tn= T +

Ln+1− Ln

c , (1.14)

onde c ´e a velocidade de propaga¸c˜ao da luz. Seja N+ o n´umero de eclipses observadas at´e que a Terra

alcance a posi¸c˜ao de maior afastamento em rela¸c˜ao a J´upiter, e t+ o instante de observa¸c˜ao da eclipse

n´umero N+ (pr´oximo a meio ano). Ent˜ao,

t+= N+−1 X n=0 (tn+1− tn) = N+T + LN+− L0 c = N+T + D c , (1.15)

onde D ´e o diˆametro da ´orbita da Terra. Obviamente, para o meio ano durante o qual a Terra aproxima-se

de J´upiter, obtemos analogamente

t−= N−T −

D

c . (1.16)

Como t++ t− = 1 ano e N++ N− ≡ N ´e o n´umero de eclipses por ano terrestre, podemos deduzir

das observa¸c˜oes o per´ıodo T = 1 ano/N . Da medida de t+, podemos ent˜ao obter o retarde t+− N+T

acumulado no meio ano de afastamento da Terra em rela¸c˜ao a J´upiter. O valor obtido ´e cerca de

17 minutos ou 103segundos. Como o diˆametro da ´orbita da Terra ´e aproximadamente 3 108km, obtemos

de (1.15)

c = 3 10

8km

103s = 3 10

8m/s . (1.17)

Obviamente, um valor mais preciso pode ser obtido com um tratamento mais elaborado.

...

...

...

...

...

...

...

...

...

...

...

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...

...

...

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... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... .... .... .... .... .... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ........ ... ... ... .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ... ... .. .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ... ...... ... ... .. .. .. .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ... ...... ... ... .. .. .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... ...... ... ... ... .. .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ... ... ... ... .. .. .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ... ...... ... ... ... .. .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... ... ... .. .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... ......... .. .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... ......... .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ... ... ... .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... ... .... .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... ......... ......... ......... ... . . . . . . . . . . . . . . ... . . . . . . . . . . ... ......... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... .... ... ... ... ... .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... . ... ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. .. .. ... ... ... ... ... ... ... ...... ... ...... ... ...... ...... ...... ... ... ... ... .. .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... ... ... .. .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... ......... .. .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... ......... .. .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ... ......... .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ... ... ... .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... ... .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... ... .. .... .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... ......... ......... ... ... ......... ... . . . . . . . . . . . . . . ... . . . . . . . . . . . ... ... ... ... ... .... ... ... ... .. .. .. .. .. .. .. .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... . ... ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. .. ... ... ... ... ...... ...... ......... ... .... .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... ......... ......... ... ............. ......... ......... ... .............. ... . . . . . . . . . . . . . ... . . . . . . . . . . . . ................................ .... .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... ... ... .. . . . . . . . . . . . . . . ... ........................ ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...... .. ...... ... Ln Ln+1 Sol Terra Jupiter e seu satelite

Figura 1.3: Determina˜ao da velocidade da luz pela observa¸c˜ao das eclipses de um satelite de J´upiter. A

figura mostra a posi¸c˜ao da Terra nos come¸cos de duas eclipses sucessivas (entrada do satelite na sombra

(6)

1.2.2

Aberra¸

ao estelar

Observa¸c˜oes e interpreta¸c˜ao

Em 1728, Bradley notou que a posi¸c˜ao aparente de uma estrela, observada diaramente no mesmo hor´ario,

descreve no decorrer do ano uma pequena elipse no ceu.

Este efeito est´a presente mesmo para estrelas muito distantes e n˜ao deve ser confundido com a paralaxe,

que permite determinar as distˆancias em que encontram-se as estrelas mais pr´oximas.

Para uma estrela cuja posi¸c˜ao real no ceu est´a na dire¸c˜ao perpendicular ao plano da ´orbita terrestre,

o movimento aparente ´e circular. Dito de outra maneira, para observar tal estrela, sempre na mesma

hora do dia, devemos girar o nosso telesc´opio de maneira que o seu eixo varra no ano a superf´ıcie de um

cone. Bradley mostrou que o meio-ˆangulo δ de abertura deste cone ´e independente da estrela particular

observada e vale 20, 5”.

A aberra¸c˜ao possui uma explica¸c˜ao elementar na teoria corpuscular da luz, como consequˆencia da lei

de combina¸c˜ao das velocidades. Essencialmente a mesma explica¸c˜ao ´e v´alida na aproxima¸c˜ao geom´etrica

da teoria ondulat´oria.

Sejam ~vLS a velocidade da luz em rela¸c˜ao `a estrela emissora, ~vT S a velocidade da Terra em rela¸c˜ao `a

estrela, e ~vLT a velocidade da luz em rela¸c˜ao `a Terra. Ent˜ao,

~

vLT = ~vLS− ~vT S. (1.18)

Se denotarmos por θ o ˆangulo de observa¸c˜ao, medido em rela¸c˜ao `a ecl´ıptica, e por δ o ˆangulo de aberra¸c˜ao

[veja a Fig. 1.4], a lei dos senos fornece

sin δ =vT S vLS sin θ . (1.19) ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... .... ... . −~vT S ~vLS ~vLT δ θ ϕ

Figura 1.4: An´alise da aberra¸c˜ao pela combina¸c˜ao das velocidades.

Se supormos a estrela “fixa”(em rela¸c˜ao ao Sol), podemos identificar ~vT S com a velocidade da Terra

no seu movimento em torno do Sol, ou seja vT S' 30 km/s. Para observar durante um ano uma estrela

cuja posi¸c˜ao angular verdadeira ´e perpendicular `a orbita terrestre [ϕ = 90o e portanto sin θ = cos δ],

precisaremos girar o nosso telesc´opio de maneira que ele descreva um cone de meia-abertura dada por

tan δ = vT S

vLS

. (1.20)

Com o valor de δ mencionado acima, obtem-se vLS = 3, 04 108m/s, compat´ıvel com a velocidade da

luz medida por R¨omer.

A mesma an´alise pode ser feita numa vis˜ao ondulat´oria, bastando substituir vLS pela velocidade de

propaga¸c˜ao da luz no ´eter vLE≡ c, e supor que o Sol est´a em repouso no ´eter. Ent˜ao, vT Spode tamb´em

ser substituida por vT E, a velocidade da Terra em rela¸c˜ao ao ´eter, e o resultado (1.20) ´e substituido por

tan δ = vT E

(7)

1.2. OTICA´ 7

´

E f´acil convencer-se de que a velocidade de propaga¸c˜ao da luz relevante para a explica¸c˜ao da aberra¸c˜ao

´e na verdade a velocidade da luz no telesc´opio. O argumento est´a ilustrado na Fig. 1.5, que se refere ao

caso ϕ = 90o. ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... .. .. . ... ... ... ... .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . .... .... .... .... .... .... .... .... .... .... .... . .... .... .... .... .... .... .... .... .... .... .... .... .... .... .... . . . . . . ... ... ... ... ... .... ... ... ... . ... ... ... ... .... ... ... ... .. ... ... ... ... ... ... ... δ L h ∆x ~vT E

Figura 1.5: An´alise da aberra¸c˜ao pela propaga¸c˜ao da luz no telesc´opio.

Sendo L o comprimento do telesc´opio e vLE a velocidade da luz no ´eter que preenche o mesmo, o

tempo ∆t que a luz leva para ir da entrada do telesc´opio at´e o fundo ´e dado por

∆t = h

vLE

=L cos δ

vLE

. (1.22)

Para que o feixe chegue ao fundo do telesc´opio, o mesmo deve deslocar-se de ∆x = L sin δ durante o este

intervalo, ou seja ∆t = ∆x vT E =L sin δ vT E . (1.23)

Igualando estas duas express˜oes, reobtem-se o resultado anterior.

Efeito do meio de propaga¸c˜ao: experimento de Airy

Embora a luz se propaga na ausˆencia de mat´eria, supostamente no hipot´etico ´eter, a sua propaga¸c˜ao –

valor e dire¸c˜ao da velocidade – ´e afetada pela presen¸ca de mat´eria. Em outras palavras: a mat´eria influi

nas propriedades do ´eter. Surge ent˜ao inevitavelmente a quest˜ao da influˆencia do movimento da mat´eria

sobre o ´eter.

Arrago j´a tinha apontado que o movimento das lentes de um telesc´opio em rela¸c˜ao ao ´eter poderia

influenciar a propaga¸c˜ao da luz nas mesmas e exigir uma refocaliza¸c˜ao do instrumento na observa¸c˜ao de

uma estrela no decorrer do ano. Por´em, nenhum efeito deste tipo era observado.

Pelo mesmo argumento, era de se esperar que a aberra¸c˜ao observada fosse diferente caso o tubo do

telesc´opio fosse preenchido por um meio material transparente, tal como vidro ou ´agua. Este experimento

foi realizado em 1871 por Airy.

Lembramos que, de acordo com a ´otica cl´assica, se denotarmos por c a velocidade (acima denotada

vLE) da luz se propagando no ´eter “vazio”,8 ent˜ao a velocidade da luz propagando-se numa regi˜ao

do espa¸co enchida por um meio material de ´ındice de refra¸c˜ao n ´e c/n. Vale lembrar que o meio de

propaga¸c˜ao ´e o ´eter, n˜ao o meio material. Se o meio material estiver en repouso no referencial do ´eter

vazio, a velocidade de propaga¸c˜ao ´e c/n neste referencial. Mas se o meio material estiver em movimento

em rela¸c˜ao ao ´eter vazio, o referencial do ´eter “preenchido”pela mat´eria pode ser diferente do referencial

(8)

do ´eter vazio, pois o ´eter pode ser arrastado, parcial ou totalmente, pela mat´eria. Assim, a quest˜ao do

arraste do ´eter pelo meio material em movimento ´e incontorn´avel na ´otica cl´assica.

Consideraremos sucessivemente as implica¸c˜oes para o experimento de Airy das duas suposi¸c˜oes

ex-tremas poss´ıveis a respeito desta quest˜ao.

a) Nenhum arraste do ´eter

Neste caso, denotando por ˆv0

LE a dire¸c˜ao de propaga¸c˜ao da luz no meio material, temos dentro do

mesmo ~ vLE= c n ˆ v0 LE (1.24) e ~vLT = ~vLE− ~vT E = c nvˆ 0 LE− ~vT E . (1.25)

Devido `a difra¸c˜ao na entrada do telesc´opio, a dire¸c˜ao de propaga¸c˜ao ˆv0

LEdifere em geral da dire¸c˜ao

ˆ

vLE no espa¸co intersideral. Este efeito deve ser levado em conta na an´alise da aberra¸c˜ao, como

mostrado na Fig. 1.6(b). A lei dos senos fornece

sin δ0 vT E =sin(π/2 − δ) c/n = cos δ c/n .

J´a a lei de Snell fornece

sin δ = n sin δ0 . (1.26)

Combinando estas duas equa¸c˜oes, obtemos

tan δ = n2vT E

c . (1.27)

Comparando a aberra¸c˜ao (1.27) prevista para o telesc´opio cheio com a aberra¸c˜ao (1.21) calculada

para o telesc´opio vazio, teriamos ent˜ao

tan δcheio= n2tan δvazio, (1.28)

ou seja, a aberra¸c˜ao seria maior no caso de um telesc´opio cheio de vidro ou ´agua (n > 1).

b) Arraste total do ´eter

Neste caso, ´e f´acil convencer-se de que n˜ao haveria aberra¸c˜ao, pois uma vez dentro do telesc´opio,

o feixe de luz seria arrastado lateralmente [veja a Fig. 1.6(c)9], acompanhando o movimento do

telesc´opio. Portanto, para que a luz chegue ao fundo do telesc´opio, este deveria ser orientado

verticalmente. Tamb´em n˜ao haveria difra¸c˜ao, j´a que a luz incidiria perpendicularmente `a superf´ıcie

do meio. A hip´otese de arraste total, que foi defendida principalmente por Stokes, obviamente traz

s´erios problemas conceituais. Certamente n˜ao poderia ter validade para um meio pouco denso como

o ar, j´a que a aberra¸c˜ao ´e um fato observado.

Ao realizar o experimento, Airy descobriu que a aberra¸c˜ao n˜ao ´e modificada pelo preenchimento do

telesc´opio por um meio material, ou seja

tan δcheio= tan δvazio. (1.29)

Este resultado ´e intermedi´ario em rela¸c˜ao `as expectativas baseadas nas hip´oteses extremas que acabamos

de considerar. Ele indica portanto que o ´eter ´e parcialmente arrastado pelo meio material.

1.2.3

ormula de Fresnel

Uma f´ormula que especifica o quanto o ´eter ´e arrastado por um meio material em movimento foi proposta

por Fresnel na base de argumentos um tanto especulativos. Subsequentemente, esta f´ormula revelou-se

capaz de explicar os fen´omenos observados. Seguiremos aqui o caminho contr´ario. Utilizaremos o

resul-tado nulo do experimento de Airy para estabelecer empiricamente a f´ormula. Discutiremos brevemente a

interpreta¸c˜ao da mesma em termos de uma modifica¸c˜ao da densidade de ´eter devida `a presen¸ca do meio.

Mais importantemente, descreveremos nas pr´oximas se¸c˜oes dois outros experimentos que corroboram a

dita f´ormula.

9Nesta figura, ~v0

(9)

1.2. OTICA´ 9 ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... .. ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .... .... .... .... . δ cˆvLE cˆvLE −~vT E ~ vLT (a) ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... . ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... .. ... . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . .... .... .... .... . δ δ0 cˆvLE c nvˆ0LE −~vT E ~ vLT (b) ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... . ... .. ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...... ...... ......... ... ... ... ... .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . cˆvLE ~ v0 LE −~vT E c nˆvLT (c) ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... . ... .. ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... .. ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .... .... .... .... . δ δ0 cˆvLE c nvˆLE0 ~vE0 E=−(1−κ)~vT E ~vLT (d)

Figura 1.6: Diagramas de composi¸c˜ao das velocidades para o experimento de Airy: (a) telesc´opio vazio;

(b) telesc´opio cheio, nenhum arraste do ´eter; (c) idem, arraste total; (d) idem, arraste parcial: seguindo

Fresnel, o coeficiente κ foi escolhido de maneira a obter a mesma aberra¸c˜ao de que no caso (a).

Arraste parcial

Seja ~vM E a velocidade de um meio material M em rela¸c˜ao ao ´eter vazio E. Denotamos por E0 o ´eter

no meio material. Por suposi¸c˜ao, este ´eter ´e parcialmente arrastado pelo meio, na dire¸c˜ao de movimento

deste. A velocidade do ´eter arrastado E0 em rela¸c˜ao ao ´eter vazio E pode ser escrita na forma

~

vE0E= κ~vM E , (1.30)

com κ um n´umero entre 0 e 1 que denominamos coeficiente de arraste.

Sendo n o ´ındice de refra¸c˜ao do meio, a velocidade, medida em rela¸c˜ao ao ´eter arrastado, da luz

propagando-se no meio material em movimento ´e

~vLE0 =

c

nvˆLE0 . (1.31)

onde ˆvLE0 ´e a dire¸c˜ao da velocidade da luz em rela¸c˜ao ao ´eter arrastado. A velocidade da luz em rela¸c˜ao

ao ´eter vazio ´e ent˜ao

~vLE = ~vLE0+ ~vE0E=

c

nvˆLE0+ κ ~vM E . (1.32)

A velocidade da luz no meio material, medida em rela¸c˜ao ao mesmo, ´e portanto

~

vLM = ~vLE− ~vM E =

c

nvˆLE0− (1 − κ) ~vM E . (1.33)

Determina¸c˜ao do coeficiente de arraste

A aplica¸c˜ao da f´ormula de arraste parcial (1.32) `a an´alise da aberra¸c˜ao est´a ilustrada na Fig. 1.6. A lei

dos senos d´a agora

sin δ0 (1 − κ) vT E = sin(π/2 − δ) c/n = cos δ c/n ,

e combinando esta equa¸c˜ao com a lei de Snell, obtem-se

tan δ = (1 − κ) n2vT E

c , (1.34)

ou

(10)

Para reproduzir o resultado de Airy, precisamos escolher

κ = 1 − 1

n2 , (1.36)

que vem a ser a hip´otese de Fresnel para o coeficiente de arraste do ´eter por um meio material em

movimento.

Embora a f´ormula de Fresnel seja essencialmente ad hoc, ele sugeriu interpret´a-la com indicando um

aumento da “densidade de ´eter”no meio material. Especificamente, ele postulou que a densidade de ´eter

num meio material ´e proporcional ao quadrado do ´ındice de refra¸c˜ao. Ou seja, sendo ρ a densidade do

´

eter vazio e ρ0 a densidade do ´eter na presen¸ca de mat´eria, temos

ρ0 = n2ρ (1.37)

e a densidade de “excesso de ´eter”´e (n2− 1)ρ. Fresnel supus ainda que somente este excesso ´e arrastado,

com velocidade igual `a velocidade v do meio. Ent˜ao o “centro de massa do ´eter”´e arrastado com velocidade

vE0E=

ρ × 0 + (n2− 1)ρ × v

n2ρ = (1 −

1

n2)v .

Uma interpreta¸c˜ao um tanto diferente foi proposta mais tarde por Stokes. Ele tamb´em postulava a

rela¸c˜ao (1.37), mas para ele, todo o ´eter dentro do meio movia-se com velocidade vE0Ee havia “conserva¸c˜ao

do ´eter”, de maneira que a equa¸c˜ao de continuidade (para o ´eter), escrita no referencial do meio, dava

ρv = ρ0(v − vE0E) = n2ρ(v − vE0E) ,

o que leva tamb´em `a express˜ao de Fresnel para vE0E.

Como veremos, a relatividade restrita fornece uma explica¸c˜ao puramente cinem´atica da f´ormula de

Fresnel, dispensando inteiramente o ´eter.

Como a f´ormula de Fresnel foi essencialmente montada para reproduzir o resultado do experimento de

Airy, ´e importante verificar que ela ´e capaz de reproduzir tamb´em os resultados de outros experimentos.

Dois exemplos s˜ao discutidos abaixo.

1.2.4

Experimento de Hoeck (1868)

Um feixe de luz monocrom´atica ´e dividido em duas componentes que descrevem em sentidos opostos um

percurso retˆangulo e s˜ao ent˜ao recombinadas para formar uma figura de interferˆencia. Sobre um dos

lados do retˆangulo, orientado paralelamente ao movimento da Terra, h´a um trecho constituido por um

tubo de comprimento, L cheio de ´agua. O experimento consiste em observar o deslocamento da figura

de interfer˜encia induzido por uma rota¸c˜ao de 180o do aparato.

Para a an´alise da diferen¸ca de tempos de percurso, precisamos considerar somente o trecho percorrido

na ´agua e o trecho correspondente sobre o lado oposto do retˆangulo. Supomos que a velocidade da Terra

em rela¸c˜ao ao ´eter est´a orientada para a direita na Fig. 1.7. Usando de novo a rela¸c˜ao (1.32), temos para

o tempo de percurso da componente 1:

t1= L c + v + L c/n + κv − v , e para a componente 2: t2= L c − v + L c/n − κv + v . A diferen¸ca ´e δt = t1− t2= − 2Lv c2− v2 + 2(1 − κ)Lv (c/n)2− (1 − κ)2v2 ' − 2Lv c2 [1 − (1 − κ)n 2] ,

onde termos de ordem (v/c)2 foram desprezados. Quando o aparato ´e girado de 180o, os papeis das

componentes 1 e 2 s˜ao trocados, de maneira que a diferen¸ca de tempo de percurso passa a ser −δt. Isto

produz um delocamento da figura de interfer˜encia (em por¸c˜ao de franja) de

(11)

1.2. OTICA´ 11 ... ... ... . ... ... ... ... .. ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... . ... ... ... L 1 2 ´ agua F D ~v

Figura 1.7: Esquema do experimento de Hoeck.

Nenhum deslocamento da figura de interferˆencia foi observado por Hoeck, o que implica em δt = 0 e

portanto

κ = 1 − 1

n2 ,

confirmando a hip´otese de Fresnel.

1.2.5

Experimento de Fizeau (1851)

Este experimento estuda a propaga¸c˜ao da luz na ´agua em movimento no labor´atorio. Um feixe monocrom´atico

´e dividido em duas componentes, uma das quais percorre uma distˆancia 2L na ´agua em movimento com

velocidade v no sentido da propaga¸c˜ao, ao passo que a outra componente percorre a mesma distˆancia 2L

na ´agua em movimento com a mesma velocidade v, mas no sentido oposto ao da luz. [veja a Fig. 1.8] As

duas componentes s˜ao ent˜ao recombinadas e compara-se as figuras de interferˆencia obtidas com a ´agua

em movimento e parada. ...... ...... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...... ...... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... . .... ... ... ... . ... ...... ...... ... ...... ...... ... ... ... ...... ...... ... ... ...... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... . L F D

Figura 1.8: Esquema do experimento de Fizeau.

Utilizando a rela¸c˜ao (1.32), a diferen¸ca entre os tempos de percurso dos dois caminhos ´oticos ´e

∆t = 2L( 1 c/n − κv − 1 c/n + κv) = 4Lκv (c/n)2− κ2v2 ' 4Lκvn2 c2 ,

(12)

pelo movimento da ´agua ´e ent˜ao (em fra¸c˜ao de franja): ∆Φ = ν∆t = c λ∆t = 4n 2L λ v cκ . (1.38)

Fizeau utilizou luz de comprimento de onda λ ' 5, 3 10−7m e canos de comprimento L ' 1, 5 m, o que

d´a L/λ ' 2, 8 106. A velocidade da ´agua era v ' 7 m/s, de maneira que v/c ' 2, 3 10−8. Com n ' 1, 33

e portanto (usando a f´ormula de Fresnel) κ ' 0, 435, obtem-se

∆Φ ' 4 × 1, 77 × 2, 8 106× 2, 3 10−8× 0, 435 ' 0, 20 .

O valor observado por Fizeau foi

∆Φobs' 0, 23 ,

o que ele considerou “quase igual”ao valor calculado.

1.2.6

Experimento de Michelson e Morley (1887)

A discuss˜ao acima mostra que os fenˆomenos ´oticos observados num referencial em movimento com

ve-locidade v em rela¸c˜ao ao ´eter podem ser explicados, na ordem v/c, supondo que o meio de propaga¸c˜ao

´

e o ´eter e usando a lei usual de combina¸c˜ao vetorial das velocidades. Isto inclui propaga¸c˜ao num meio

material, desde que seja levado em conta o arraste do ´eter seguindo a prescri¸c˜ao de Fresnel.

O experimento de Michelson e Morley mostrou que isto n˜ao ´e verdade para efeitos de ordem (v/c)2.

... ... ... . ... ... ......... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... .. ... ... ... ... ... ... .. ... ... ... .. ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... . ... . ... ... ... ... ... ... ... ... L L0 F D A B C ~ v ... .. ... .. ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ... .. ... ... . . . . . . . . . . . . . . .... .... .... .... .... .. .... .... .... .... .... . ....... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... v tAC v tCA c tAC c tCA L0 (a) (b) AI AF CR

Figura 1.9: Experimento de Michelson e Morley; (a): esquema do aparato; (b) diagrama para o c´alculo

do tempo de propaga¸c˜ao na dire¸c˜ao transversal.

Um feixe de luz monocrom´atica ´e dividido em duas componentes que se propagam em dire¸c˜oes

per-pendiculares, uma das quais coincide com a dire¸c˜ao do movimento da Terra. As componentes do feixe

s˜ao refletidas por espelhos e propagam-se de volta at´e o ponto de separa¸c˜ao inicial, onde se recombinam

para formar uma figura de interferˆencia [veja a Fig. 1.9(a)]. Gira-se o aparato de maneira a inverter os

papeis do bra¸co paralelo e do bra¸co perpendicular `a Terra. Observa-se o deslocamento da figura de

inter-ferˆencia induzido por esta rota¸c˜ao. Calcularemos os tempos de percurso, supondo que a luz propaga-se

com velocidade c em rela¸c˜ao ao ´eter, no qual a Terra est´a em movimento com velocidade v. O tempo de

propaga¸c˜ao do ponto de separa¸c˜ao A at´e o espelho B ´e dado por

c tAB= L + v tAB → tAB =

L

(13)

1.3. TEORIA ELETROMAGN ´ETICA 13

Semelhantemente, o tempo de propaga¸c˜ao de volta do espelho B at´e o ponto A ´e dado por

c tBA= L − v tBA→ tBA=

L

c + v .

Somando, o tempo de percurso, ida e volta, do bra¸co do interferˆometro paralelo ao movimento da Terra

´e

tABA=

2Lc

c2− v2 .

A Fig. 1.9(b) ilustra a situa¸c˜ao pertinente para o c´alculo do tempo de percurso ao longo do bra¸co

perpendicular `a linha de movimento da Terra. AI representa a posi¸c˜ao (em rela¸c˜ao ao ´eter) da lˆamina de

separa¸c˜ao no instante da separa¸c˜ao, AF a posi¸c˜ao da lˆamina no instante da reuni˜ao, e CR a posi¸c˜ao do

espelho C no instante da reflex˜ao. Pelo teorema de Pit´agoras

(c tAC)2= (v tAC)2+ L02 , e portanto tACA= 2tAC = 2L0 √ c2− v2 .

A diferen¸ca de tempo de propaga¸c˜ao ´e

δt = tABA− tACA= 2 cp1 − (v/c)2( L p1 − (v/c)2 − L 0) , (1.39)

Quando o aparato ´e girado por 90o, os papeis dos bra¸cos invertem-se, o que obviamente leva `a diferen¸ca

de tempos de propaga¸c˜ao

δt0= t0ABA− t0ACA= 2

cp1 − (v/c)2(L −

L0

p1 − (v/c)2) . (1.40)

O deslocamento da figura de interferˆencia ´e ent˜ao dado por

∆Φ = ν(δt0− δt) = ν 2 cp1 − (v/c)2(L + L 0)(1 − 1 p1 − (v/c)2) ' −c λ L + L0 c ( v c) 2 ' −L + L 0 λ ( v c) 2, (1.41) em fra¸c˜ao de franja.

Michelson e Morley utilizaram luz de comprimento de onda λ ' 5, 9 10−7m e os bra¸cos do

inter-ferˆometro tinham 11 m de comprimento. Isto leva a (L + L0)/λ ' 3, 7 107. Como v/c ' 10−4, esperava-se

ent˜ao

∆Φ ' −0, 37 .

Apesar de o aparato possuir precis˜ao suficiente para observar um deslocamento no m´ınimo 20 vezes

menor de que isto, nenhum deslocamento foi observado.

1.3

Teoria eletromagn´

etica

1.3.1

At´

e 1870

A¸c˜ao a distˆancia

• Teorias inspiradas pela teoria da gravita¸c˜ao de Newton.

• For¸ca eletromagn´etica deriva de um potencial instantˆaneo (vetorial).

(14)

Propaga¸c˜ao de campos no ´eter

• Teorias inspiradas pela mecˆanica dos meios cont´ınuos.

• Teoria de James Clerck Maxwell (1873), interpretada por ele como descrevendo tens˜oes

propagando-se num hipot´etico meio diel´etrico.

• As equa¸c˜oes de Maxwell prev´em a propaga¸c˜ao de ondas eletromagn´eticas, cuja velocidade ´e dada em

termos das unidades el´etricas e magn´eticas. [Previs˜ao te´orica de Hermann von Helmholtz, verificada

experimentalmente por Hertz (1888)].

• A velocidade das ondas eletromagn´eticas ´e numericamente muito pr´oxima da conhecida

veloci-dade da luz no v´acuo, o que leva `a interpreta¸c˜ao da luz como um fenˆomeno eletromagn´etico e `a

identifica¸c˜ao do meio diel´etrico de Maxwell com o ´eter, meio hipot´etico de propaga¸c˜ao das ondas

luminosas.

1.3.2

Eletromagnetismo em meios materiais em movimento

Interpreta¸c˜ao de Hertz das equa¸c˜oes de Maxwell

• Num meio material em repouso – presumivelmente em rela¸c˜ao ao eter – os fenˆomenos

eletro-magn´eticos s˜ao supostos descritos pelas equa¸c˜oes de Maxwell envolvendo os campos ~E, ~D, ~B,

~

H, com termos de fontes, junto com as equa¸c˜oes constitutivas nas quais aparecem a constante

diel´etrica e a permeabilidade magn´etica do meio.

• Hertz generalizou as equa¸c˜oes, supondo-as v´alidas na mesma forma no referencial de repouso do

meio, mesmo se este estiver em movimento. Para dar consistˆencia matem´atica a esta suposi¸c˜ao,

interpretou as derivadas temporais que aparecem nas equa¸c˜oes como derivadas convectivas.

Lem-bramos que a derivada convectiva ´e dada, em termos das derivadas parciais temporal e espaciais

calculadas num referencial no qual a velocidade do meio ´e ~v, por

d

dt =

∂t + ~v · ∇ .

• Quando formuladas num referencial no qual o meio material est´a em movimento, as equa¸c˜oes do

eletromagnetismo conteriam portanto termos adicionais, que dependem da velocidade do meio. Este

termos implicariam em novos efeitos f´ısicos, um dos quais R¨ontgen alegou ter observado em 1888.

Esta observa¸c˜ao n˜ao foi confirmada por outro experimento, realizado em 1903 por Eichenwald, o

que levou a descartar a teoria de Hertz.

• A hip´otese de Hertz pode ser interpretada como equivalente a supor que o eter ´e inteiramente

arrastado por um meio material em movimento. Vale lembrar que havia evidˆencias contr´arias em

fenˆomenos ´oticos, que indicavam apenas um arraste parcial.

Teoria de Lorentz

• Lorentz desenvolveu uma interpreta¸c˜ao da teoria de Maxwell baseada nas ideias seguintes:

– Os campos eletromagn´eticos descrevem o estado do ´eter num dado ponto e instante.

– O estado do ´eter ´e afetado pela presen¸ca e pelo movimento da mat´eria.

Atrav´es de manipula¸c˜oes das equa¸c˜oes de Maxwell norteadas por estas ideias, ele chegou `as

con-clus˜oes seguintes:

(15)

1.3. TEORIA ELETROMAGN ´ETICA 15

– Um corpo material em movimento em rela¸c˜ao ao ´eter ´e contraido na dire¸c˜ao do movimento

por um fator

γ = 1

p1 − (v/c)2 . (1.42)

Notamos que isto pode explicar o resultado nulo do experimento de Michelson-Morley, pois

se L e L0 s˜ao os comprimentos em repouso (em rela¸c˜ao ao ´eter) dos bra¸cos do interferˆometro,

ent˜ao temos que substituir

L → Lp1 − (v/c)2

em (1.39) e

L0→ L0p1 − (v/c)2

em (1.40), o que leva obviamente a um resultado nulo no lugar de (1.41). Esta interpreta¸c˜ao

do resultado de Michelson e Morley tinha sido proposta independentemente pot FitzGerald;

por isto ´e a referida contra¸c˜ao ´e conhecida como contra¸c˜ao de FitzGerald-Lorentz.

– A partir dos resultados de Lorentz, Poincar´e demonstrou que a eletrodinˆamica ´e completamente

invariante frente a uma transforma¸c˜ao conjunta do tempo e do espa¸co, que ele nomeou

trans-forma¸c˜ao de Lorentz. [Como veremos, esta transforma¸c˜ao surge naturalmente na cinem´atica

(16)
(17)

Cap´ıtulo 2

Princ´ıpios da Relatividade Restrita

Neste cap´ıtulo, definimos a classe de sistemas de referˆencia – denominados referenciais inerciais – que

desempenham um papel central na formula¸c˜ao dos princ´ıpios da relatividade restrita. Enunciamos os

dois postulados que s˜ao comumente adotados como fundamentos da teoria. Demonstramos que a ado¸c˜ao

simultˆanea destes postulados requer uma modifica¸c˜ao profunda do conceito de tempo: o tempo absoluto

de Newton ´e substituido por um tempo relativo, que depende do referencial considerado. Discutimos em

seguida algumas propriedades b´asicas das transforma¸c˜oes de coordenadas entre referenciais inerciais. A

partir do segundo postulado, identificamos uma quantidade invariante frente a estas transforma¸c˜oes, o

invariante fundamental, que caracteriza a geometria do espa¸co-tempo da relatividade restrita.

2.1

Referenciais inerciais

2.1.1

Axiomas

Come¸caremos por enunciar um conjunto de suposi¸c˜oes a respeito dos referenciais inerciais e de

pro-priedades a eles atribuidas. Embora sejam bastante naturais, deve-se admitir que elas poderiam

even-tualmente revelar-se incompat´ıveis entre si ou com os postulados fundamentais. Al´em disto, mesmo

consistente, a teoria resultante poderia mostrar-se inadequada para a descri¸c˜ao dos fenˆomenos.

Eviden-temente, apenas atrav´es de experimentos poderemos estabelecer a validade da teoria.

• As rela¸c˜oes espaciais (distˆancias e dire¸c˜oes), medidas por r´eguas r´ıgidas em repouso, satisfazem os

axiomas da geometria Euclideana.

• Existe um tempo universal, no sentido de aplic´avel a todos os fenˆomenos. Podemos imaginar que

este tempo ´e medido por rel´ogios ideais, em repouo no referencial em quest˜ao. Vale notar que n˜ao

est´a atribuido ao tempo um car´ater absoluto. Ele pode depender do referencial considerado.

• Quando medidas em termos deste tempo e destas distˆancias e dire¸c˜oes, as velocidades de todas as

part´ıculas livres permanecem constantes em m´odulo e dire¸c˜ao.

• Para definir completamente um referencial inercial, ´e necess´ario escolher a origem do sistema de

coordenadas espaciais, as dire¸c˜oes e os sentidos dos eixos espaciais,1 a origem e o sentido do eixo

temporal. Evidentemente, para a especifica¸c˜ao de valores num´ericos, ainda ´e preciso definir as

escalas, ou seja, especificar as unidades.

• Em consequˆencia das propriedades enunciadas acima, podemos imaginar um referencial inercial como definido por uma rede de part´ıculas livres em repouso relativo. Podemos imaginar que sobre

cada uma destas part´ıculas est˜ao gravados os valores das suas coordenadas espaciais. Podemos

imaginar ainda que cada part´ıcula carrega um rel´ogio que indica o tempo universal associado ao

referencial em quest˜ao. Assim, poderemos considerar a determina¸c˜ao da posi¸c˜ao e do tempo de

1Afora aviso contr´ario, utilizaremos coordenadas cartesianas.

(18)

ocorrˆencia de um evento como uma opera¸c˜ao local, qual seja a leitura dos valores indicados pela

“part´ıcula-rel´ogio”mais pr´oxima.

• Um referencial em movimento retil´ıneo uniforme em rela¸c˜ao a um referencial inercial tamb´em ´e

inercial. Inversamente, um referencial em movimento acelerado em rela¸c˜ao a um referencial inercial

n˜ao ´e inercial. Assim os referenciais inerciais formam uma classe cujos membros est˜ao em movimento

relativo uniforme.

• Um referencial inercial ´e espacialmente homogˆeneo e isotr´opico, n˜ao somente nas suas propriedades

geom´etricas, mas tamb´em no que diz respeito aos resultados de qualquer experimento. Mais

explici-tamente, um experimento definido por uma transla¸c˜ao ou uma rota¸c˜ao de um experimento dado

produzir´a um resultado obtido, a partir do resultado do experimento dado, pela mesma transla¸c˜ao

ou rota¸c˜ao.

• Um referencial inercial ´e temporalmente homogˆeneo, ou seja experimentos idˆenticos realizados em

´

epocas diferentes produzem resultados idˆenticos.

A defini¸c˜ao de referencial inercial apresentada acima utiliza o conceito de “part´ıcula livre”. Na

mecˆanica de Newton, esta idealiza¸c˜ao seria aproximada por uma part´ıcula muito afastada de qualquer

outra, de maneira que as intera¸c˜oes, inclusive a for¸ca gravitacional, possam ser desprezadas. Na luz

da teoria da relatividade geral de Einstein, este conceito deve ser modificado, pois n˜ao ´e mais poss´ıvel

remover a gravita¸c˜ao, que passa a fazer parte da pr´opria estrutura do espa¸co-tempo. Assim, o conceito de

part´ıcula livre deve ser substituido pelo conceito de part´ıcula caindo livremente no campo gravitacional,

ou seja, submetida somente `a gravita¸c˜ao. Como a acelera¸c˜ao gravitacional ´e independente da massa, se

considerarmos part´ıculas caindo livremente numa regi˜ao do espa¸co-tempo suficientemente limitada para

que o campo gravitacional nela presente possa ser aproximado por um campo uniforme, estas part´ıculas

estar˜ao em movimento relativo uniforme. Assim, poderemos associar a este conjunto de part´ıculas uma

classe de referenciais inerciais, quais sejam, os referenciais acompanhando o movimento de queda livre das

part´ıculas naquela regi˜ao. Embora os referenciais inerciais possuam extens˜ao infinita, a sua relevˆancia

f´ısica ´e limitada `a regi˜ao em quest˜ao. Geometricamente, a relatividade restrita consiste na aproxima¸c˜ao

local do espa¸co-tempo curvo da relatividade geral por um espa¸co-tempo plano, cujos sistemas de

coorde-nadas s˜ao os referenciais inerciais.

2.2

Postulados fundamentais

Enunciamos a seguir os dois postulados que conjuntamente formam o alicerce da relatividade restrita.

2.2.1

Princ´ıpio de relatividade

Todas as leis da f´ısica s˜ao idˆenticas em todos os referenciais inerciais. Ou ainda, dois experimentos

idˆenticos realizados em referenciais inerciais diferentes produzem resultados id˜enticos.

Pode-se considerar que este postulado generaliza para toda a f´ısica o princ´ıpio Galileano de relatividade

que fundamenta a mecˆanica de Newton.

A rigor, este primeiro postulado j´a est´a impl´ıcito nos axiomas adotados acima para os referenciais

inerciais. Para demonstrar esta afirma¸c˜ao, consideremos um referencial S no qual est´a sendo realizado

um experimento E, e outro referencial S0o qual est´a sendo realizado um experimento E0, intrinsicamente

idˆentico a E. Primeiro, argumentamos que necessariamente existe um terceiro referencial S00 no qual

as velocidades de S e S0 s˜ao iguais e opostas. Para tanto, consideramos em S uma fam´ılia S00(α) de

referenciais em movimento colinear com S0, e tal que S00(0) est´a em repouso em S e S00(1) acompanha

S0. Ent˜ao, quando α varia de 0 a 1, o m´odulo da velocidade de S em rela¸c˜ao a S00(α) cresce a partir

de 0, enquanto que o m´odulo da velocidade de S0 em rela¸c˜ao a S00(α) decresce at´e 0. H´a portanto

necessariamente um valor de α para o qual estes m´odulos de velocidades s˜ao iguais. E facil ent˜´ ao

convencer-se de que ´e poss´ıvel, por transla¸c˜ao, rota¸c˜ao, e transla¸c˜ao temporal em S0, transformar o

experimento E0 num experimento que difere de E apenas por uma rota¸c˜ao de 180o em S00. Portanto,

pelos axiomas de homogeneidade e isotropia dos referenciais inerciais, os resultados de E e E0 devem ser

(19)

2.3. RELATIVIDADE DA SIMULTANEIDADE 19

2.2.2

Princ´ıpio de invariˆ

ancia da velocidade da luz

Existe um referencial inercial no qual a velocidade da luz no v´acuo ´e uma constante c, independente da

dire¸c˜ao de propaga¸c˜ao e das propriedades da fonte, inclusive da velocidade da mesma.

Considerado isoladamente, este postulado poderia ser interpretado como definindo o referencial do

´eter, que a vis˜ao pre-einsteiniana imaginava ser o meio de propaga¸c˜ao da luz. Por´em, aceito em conjun¸c˜ao

com o primeiro postulado, ele pode ser reformulado como:

a velocidade da luz no v´acuo ´e a mesma constante c em todos os referenciais inerciais.

Uma vez colocado nesta forma, fica claro que este postulado ´e incompat´ıvel com a lei Galileana (1.12)

de transforma¸c˜ao das velocidades e exige portanto uma revis˜ao profunda dos conceitos fundamentais de

tempo e de espa¸co.

O segundo postulado fornece um m´etodo pr´atico para a determina¸c˜ao, por um observador localizado

na origem de um referencial inercial, da posi¸c˜ao e do instante de ocorrˆencia de um evento. Basta o

observador medir os tempos de emiss˜ao e recep¸c˜ao de um pulso de luz refletido “pelo evento”, e observar

a dire¸c˜ao do pulso refletido. Este procedimento, conhecido como “m´etodo do radar”, ser´a discutido

adiante.

Embora a velocidade da luz desempenhe um papel destacado nos princ´ıpios assim apresentados, ´e

preciso enfatizar que a conceitualiza¸c˜ao da relatividade restrita n˜ao requer a existˆencia do fenˆomeno

particular chamado “luz”. O segundo postulado poderia ser substituido pela seguinte afirma¸c˜ao:

existe um limite finito para a velocidade de propaga¸c˜ao de qualquer sinal.

Do primeiro postulado, segue ent˜ao que o valor do limite em quest˜ao ´e independente do referencial inercial

considerado. N˜ao ´e necess´ario que exista um sinal f´ısico real que alcance este limite.

Tamb´em demonstraremos adiante que ´e poss´ıvel estabelecer as equa¸c˜oes de transforma¸c˜ao das

coor-denadas de posi¸c˜ao e tempo numa mudan¸ca de referencial inercial, apenas utilizando as propriedades

de grupo destas transfoma¸c˜oes. As transforma¸c˜oes admiss´ıveis dependem de um parˆametro que possui

dimens˜ao de velocidade, mas n˜ao precisa ser associado `a propaga¸c˜ao de um sinal.

2.3

Relatividade da simultaneidade

Uma conseq¨uˆencia direta da ado¸c˜ao conjunta dos dois postulados ´e a inexistˆencia de um tempo absoluto

e a relatividade da simultaneidade.

Para demonstrar este efeito, consideramos dois rel´ogios A e B, equidistantes de um observador O, em

rela¸c˜ao ao qual eles est˜ao em repouso. Consideramos ainda dois rel´ogios A0 e B0, em movimento sobre a

linha AB, com a mesma velocidade em rela¸c˜ao a O. Supomos tamb´em que A0 e B0 s˜ao equidistantes de

um observador O0, para o qual eles est˜ao em repouso. Supomos ainda que para o observador O, o rel´ogio

A0 coincide com o rel´ogio A no mesmo instante em que o rel´ogio B0 coincide com o rel´ogio B. Podemos

denotar por EA o evento descrito pela afirma¸c˜ao o rel´ogio A0 cruza o rel´ogio A, e semelhantemente por

EB o evento descrito pela afirma¸c˜ao o rel´ogio B0 cruza o rel´ogio B. A suposi¸c˜ao ´e ent˜ao que os eventos

EA e EB s˜ao simultˆaneos para o observador O. Demonstraremos que eles n˜ao s˜ao simultˆaneos para o

observador O0.

Para visualizar a situa¸c˜ao, utilizaremos um diagrama de espa¸co-tempo, no qual a posi¸c˜ao espacial

medida no referencial associado ao observador O ´e representada em abscissa e o tempo medido no mesmo

referencial ´e representado em ordenada. Como O, A e B est˜ao em repouso naquele referencial, as suas

linhas de mundo, ou seja, as linhas que representam as suas evolu¸c˜oes ao passar do tempo, s˜ao verticais.

J´a as linhas de mundo de O0, A0 e B0 est˜ao inclinadas (com mesma inclina¸c˜ao), j´a que estes corpos est˜ao

em movimento (com a mesma velocidade) no referencial utilizado para a representa¸c˜ao. Os eventos EA

e EB est˜ao representados no gr´afico pelos pontos de cruzamento das linhas de mundo de A e A0, e de B

e B0, respectivamente.

Podemos imaginar que os observadores O e O0 utilizam pulsos de luz para sincronizar os seus

respec-tivos rel´ogios. Se utilizarmos unidades tais que a velocidade da luz c seja igual a 1 (por exemplo, um

ano-luz por ano), todos os pulsos de luz ser˜ao representados no gr´afico por linhas retas inclinadas a 45o.

Indicamos por E0 no gr´afico o evento de emiss˜ao de pulsos de luz pelo observador O, pulsos estes que

alcan¸cam os rel´ogios A e B nos eventos EA e EB, respectivamente. Para sincronizar os seus rel´ogios,

(20)

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... .... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... .... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...... ...... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... A B A0 B0 O O0 EA EB EB0 EO EO0

Figura 2.1: Ilustra¸c˜ao da relatividade da simultaneidade.

por O na dire¸c˜ao de A passa por O0. Assim, o pulso mandado por O0 rumo a A0 acompanhar´a o pulso

mandado por O rumo a A, e estes pulsos ser˜ao recebidos por A e A0 no mesmo evento, qual seja EA.

Por´em, fica claro na figura que o pulso mandado por O0 rumo a B0 alcan¸car´a este rel´ogio, n˜ao no evento

EB, mas no evento EB0. Consequentemente, o observador O0 considerar´a como simultˆaneos os eventos

EA e EB0. Para ele, o evento EB ´e anterior ao evento EA. Assim fica demonstrada a relatividade da

simultaneidade.

2.4

Propriedades gerais da rela¸

ao entre referenciais inerciais

2.4.1

Linearidade da transforma¸

ao de coordenadas no espa¸

co-tempo

Um evento, considerado como um ponto no espa¸co-tempo, ´e especificado num referencial inercial S por

quatro coordenadas (ct, x, y, z), onde o fator c ´e introduzido para que todas as coordenadas possuam

a mesma dimens˜ao (comprimento). Outra nota¸c˜ao equivalente ´e (x0, x1, x2, x3), ou ainda {xµ}, com

µ = 0, 1, 2, 3.

O axioma de homogeidade dos referenciais inerciais requer que a transforma¸c˜ao das coordenadas de

um evento numa mudan¸ca de referencial inercial seja linear. Ou seja, se denotarmos2 por {xµ0} as

coordenadas do mesmo evento num segundo referencial S0, devemos ter

xµ0=

3 X µ=0

Λµµ0xµ+ aµ0, (2.1)

onde os coeficientes Λµµ0 e aµ s˜ao constantes.

Para demonstrar esta afirma¸c˜ao, consideramos um rel´ogio em movimento retil´ıneo uniforme no

ref-erencial S. Seja τ o tempo indicado pelo rel´ogio, tamb´em chamado tempo pr´oprio, pois caracteriza

2Aderimos `a conven¸ao que consiste em associar ao ´ındice o s´ımbolo que serve para diferenciar referenciais. Ou seja,

escrevemos xµ0 e n˜ao x, por exemplo. Deve ficar claro que, com esta conven¸ao, xµ0 para µ0= 2 ´e diferente de xµpara

(21)

2.5. O SEGUNDO POSTULADO E A DIST ˆANCIA INVARIANTE ENTRE EVENTOS 21

intrinsecamente o rel´ogio (e n˜ao deve ser confundido com o tempo t utilizado por um dado observador

in-ercial). A homogeneidade implica que a iguais incrementos dτ de tempo pr´oprio do rel´ogio correspondem

iguais incrementos dxµ das coordenadas, ou seja as quantidades dxµ

dτ s˜ao constantes e

d2xµ

dτ2 = 0 . (2.2)

Obviamente, o mesmo deve ser verdade em qualquer outro referencial, ou seja:

d2xµ0

dτ2 = 0 . (2.3)

Mas, pela regra da cadeia:

dxµ0 dτ = 3 X µ=0 ∂xµ0 ∂xµ dxµ dτ ; (2.4) d2xµ0 dτ2 = 3 X µ=0 ∂xµ0 ∂xµ d2xµ dτ2 + 3 X µ=0 3 X σ=0 ∂2xµ0 ∂xµ∂xσ dxµ dτ dxσ dτ . (2.5)

Para que (2.3) siga de (2.2), ´e necess´ario que o segundo termo de (2.5) seja identicamente nulo, ou seja

∂2xµ0

∂xµ∂xσ = 0 , (2.6)

e a transforma¸c˜ao de coordenadas ´e linear.

2.4.2

Reciprocidade da velocidade relativa

J´a argumentamos que, dados dois referenciais inerciais S e S0, necessariamente existe um terceiro

ref-erencial S00 no qual as velocidades de S e S0 s˜ao iguais e opostas. Uma manipula¸c˜ao realizada por um

observador em repouso em S para determinar a velocidade de S0 em rela¸c˜ao a ele, pode ser considerada

como um experimento em S00. Por rota¸c˜ao de 180o deste experimento, obtem-se uma poss´ıvel

manipu-la¸c˜ao realizada por um observador em repouso em S0 para determinar a velocidade de S em rela¸c˜ao a

ele. Mas, pela isotropia do referencial S00, estes dois experimentos devem fornecer o mesmo resultado.

Portanto, a velocidade de S em rela¸c˜ao a S0 deve ser igual, em valor absoluto, `a velocidade de S0 em

rela¸c˜ao a S.

Embora esta argui¸c˜ao possa parecer uma tanto pedante, vale lembrar que o segundo postulado

exigir´a uma modifica¸c˜ao profunda do conceito intuitivo de velocidade, de maneira que at´e afirma¸c˜oes

“´obvias”precisam ser justificadas.

2.5

O segundo postulado e a distˆ

ancia invariante entre eventos

Sejam P e Q os eventos de emiss˜ao e recep¸c˜ao de um pulso de luz, respectivamente. Sejam (ctP, xP, yP, zP)

e (ctQ, xQ, yQ, zQ) as coordenadas destes eventos num certo referencial S. J´a que o pulso propaga-se de

P at´e Q `a velocidade c, temos

c2(tQ− tP)2= (xQ− xP)2+ (yQ− yP)2+ (zQ− zP)2, (2.7)

ou, introduzindo nota¸c˜oes ∆t, ∆x, ... para diferen¸cas de coordenadas:

c2∆t2− ∆x2− ∆y2− ∆z2= 0 . (2.8)

Denotaremos por ∆s2 a express˜ao do lado esquerdo da equa¸c˜ao acima. Eventos de emiss˜ao e recep¸c˜ao

de um pulso de luz est˜ao portanto caracterizados pela condi¸c˜ao

Referências

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