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Escala gráfica : contribuições para a representação do projeto arquitetônico

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo

CARLOS EDUARDO COSTA E SILVA FONTENELLE

ESCALA GRÁFICA: CONTRIBUIÇÕES PARA A

REPRESENTAÇÃO DO PROJETO ARQUITETÔNICO

CAMPINAS 2018

(2)

CARLOS EDUARDO COSTA E SILVA FONTENELLE

ESCALA GRÁFICA: CONTRIBUIÇÕES PARA A

REPRESENTAÇÃO DO PROJETO ARQUITETÔNICO

Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, para obtenção do título de Mestre em Arquitetura, Tecnologia e Cidade, na área de Arquitetura, Tecnologia e Cidade.

Orientador: Prof. Dr. Daniel de Carvalho Moreira

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO ALUNO CARLOS EDUARDO COSTA E SILVA FONTENELLE E ORIENTADO PELO PROF. DR. DANIEL DE CARVALHO MOREIRA.

ASSINATURA DO ORIENTADOR

______________________________________

CAMPINAS 2018

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E

URBANISMO

ESCALA GRÁFICA: CONTRIBUIÇÕES PARA A

REPRESENTAÇÃO DO PROJETO ARQUITETÔNICO

Carlos Eduardo Costa e Silva Fontenelle

Dissertação de Mestrado aprovada pela Banca Examinadora, constituída por:

Prof. Dr. Daniel de Carvalho Moreira

Presidente e Orientador / UNICAMP

Profa. Dra. Doris Catharine Cornelie K Kowaltowski

UNICAMP

Prof. Dr. Wilson Florio

IA – UNICAMP / Universidade Presbiteriana Mackenzie

A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.

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Dedico este trabalho à minha família, em especial à minha avó Neise.

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AGRADECIMENTOS

À Deus por ser fonte de força e perseverança.

Ao Daniel por estar sempre pronto para ajudar. Obrigado pela oportunidade, imenso aprendizado e amizade.

À minha família pelo apoio incondicional e por não medir esforços para a minha educação.

À minha tia Regina pelo incentivo e amizade.

À minha avó Neise pelo apoio, carinho e vibração em qualquer projeto meu. À Maria por cuidar de mim desde sempre.

À Bel pela presença, suporte e carinho durante toda esta jornada. Obrigado por viver esse sonho comigo.

Aos amigos da Unicamp pelos momentos incríveis compartilhados.

À CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – pelo apoio financeiro.

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RESUMO

A presente pesquisa tem como tema central a aplicação da escala gráfica na representação do projeto arquitetônico. A investigação procura compreender como a utilização da escala gráfica insere-se na dinâmica de trabalho dos escritórios de arquitetura e como esse recurso contribui para a visualização e articulação dos diversos aspectos que compõem um projeto de arquitetura. Foram selecionados como estudos de caso três escritórios de arquitetura situados na cidade de Fortaleza, Ceará, assim como três projetos de suas respectivas autorias. Como estratégia metodológica foram realizadas duas sessões de estudos em cada um dos três escritórios selecionados. A primeira voltada para questões gerais ligadas à sua dinâmica de trabalho e aos meios de representação utilizados pelos projetistas. A segunda é voltada para o projeto de um edifício existente onde o arquiteto narrou verbalmente e através de desenho a evolução das principais decisões tomadas durante o processo de projeto e que levaram à definição do edifício. Essas entrevistas sobre projetos específicos tiveram como foco a alteração da escala gráfica, além da sua relação com os diversos enquadramentos do edifício e com o conteúdo do projeto expressos pelo desenho. As análises dos estudos evidenciaram a importância da representação gráfica nas reflexões, proposições e verificações das soluções de projeto. Nesse processo, a alteração da escala, juntamente com a mudança de meios e tipos de representação, mostrou-se fundamental para a articulação da complexidade de informações que compõem um projeto arquitetônico. Essa mudança na relação métrica entre o desenho e o edifício está sempre relacionada, de maneira dinâmica, à escolha de um nível de abstração e da inserção de mais ou menos conteúdo ao desenho. Torna-se fundamental o domínio integrado dessas variáveis para uma representação mais elucidativa das diversas situações que são analisadas durante a resolução do problema arquitetônico, além de proporcionar mais nitidez e controle ao projetista sobre suas proposições durante o processo de projeto.

Palavras-chave: Escalas; Representação gráfica; Projeto arquitetônico; Desenho

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ABSTRACT

This research focuses on the application of graphic scale in architectural design representation. It seeks to understand how the use of graphic scale fits the work dynamics of architectural offices and how such resource contributes to the visualization and articulation of the several aspects that constitute architectural design. Three architectural offices located in the city of Fortaleza, Ceará, as well as three projects of their respective authorship, were selected as case studies. As the methodological strategy, two investigation sessions were conducted in each office. The first session focused on general issues related to both the work dynamics and the representation means used by the designers. The second session focused on the design of an existing building where the architect narrated verbally and through drawing the evolution of the main decisions taken during the design process that led to the definition of the building. These interviews about specific projects focused on the graphic scale shifting, its relationship with the many building framings, and the design content expressed through drawings. Analyses evidenced graphic representation significance in the reflections, propositions and verifications of design solutions. In this process, the scale shifting, together with the change of representation means and types, proved to be essential to the articulation of the information that compose an architectural design. This change in the metric relationship between drawing and building is always dynamically related to the choice of a level of abstraction and to the insertion of content in the drawing. The domain of these variables is essential for a more effective representation of the various situations that are analyzed during the architectural problem solving, since it provides the designer with more clarity and control of his propositions during the design process.

Keyword: Graphic scale; Graphic representation; Architectural design; Architectural

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Detalhe Gúdea de Lagash - "L'Architecte au Plan" ... 25

Figura 2. Detalhe Gudea de Lagash - "L'Architecte à Ia Règle" ... 25

Figura 3. Planta de um edifício da babilônia baseado em uma retícula ... 26

Figura 4. Cúbito egípcio ... 26

Figura 5. Planta do hipogeu de Ramsés IV ... 27

Figura 6. Compasso romano – Acervo do British Museum ... 27

Figura 7. Compasso proporcional romano (2:1) – Acervo do British Museum ... 27

Figura 8. Planta de um templo – Tratado de arquitetura de Sebastiano Serlio ... 30

Figura 9. Desenho da “Fabrica del Magnifico Signore Cavaliere Trissino”, em Vicenza, presente no tratado L’Idea dell’architettura universale (1616) do arquiteto italiano Vincenzo Scamozzi ... 30

Figura 10. Planta-baixa da Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém. Desenho de Jacques Callot para o Tratado de Plantas e Imagens dos Edifícios Sagrados da Terra Santa (1620) de Bernardino Amico. ... 31

Figura 11. Indicação da escala na prancha da Unidade de Habitação de Marselha, Le Corbusier, 1946. ... 32

Figura 12. Alteração da escala dos desenhos ao longo da entrevista ... 48

Figura 13. Níveis de abstração por desenho de cada narrativa ... 50

Figura 14. Níveis de abstração dos desenhos de cada narrativa ordenados pela escala gráfica ... 51

Figura 15. Quantidade e proporção dos níveis de abstração por projeto ... 51

Figura 16. Aspectos de projeto e quantidade de tópicos em cada desenho da narrativa ... 52

Figura 17. Disposição das câmeras – Projeto 3 ... 53

Figura 18. Conceito de "Strong Idea" apresentado pelo Arquiteto A. ... 55

Figura 19. Diagrama síntese do processo de projeto do Escritório A. ... 57

Figura 20. Diagrama síntese do processo de projeto do Escritório B. ... 60

Figura 21. Diagrama síntese do processo de projeto do Escritório C. ... 63

Figura 22. Correspondência entre os dois modelos de processo de projeto apresentados. ... 66

(10)

Figura 23. Planta do pavimento tipo situado no terreno (D1 – Escala: 1/400) ... 73

Figura 24. Corte transversal da edificação e do entorno imediato (D2 – Escala: 1/150) ... 74

Figura 25. Fachada principal do edifício (D3 – Escala: 1/250) ... 75

Figura 26. Planta com a situação do edifício em relação à lagoa (D4 – Escala: 1/3.000) ... 76

Figura 27. Gráfico com a alteração da escala gráfica ao longo da narrativa – Projeto 1 ... 77

Figura 28. Gráfico com os tipos de desenho bidimensionais executados ao longo das mudanças de escala – Projeto 1 ... 78

Figura 29. Gráfico com os momentos onde o arquiteto estava desenhando ou apenas referenciando um desenho prévio – Projeto 1 ... 79

Figura 30. Níveis de abstração dos desenhos na ordem da narrativa – Projeto 1 .... 79

Figura 31. Níveis de abstração dos desenhos ordenados pela escala gráfica – Projeto 1 ... 80

Figura 32. Aspectos de projeto e quantidade de tópicos em cada desenho – Projeto 1 ... 81

Figura 33. Área disponível para construção do edifício (D1 – Escala: 1/1.000) ... 82

Figura 34. Opção de implantação descartada (D2 – Escala: 1/500) ... 83

Figura 35. Implantação definitiva com pavilhões paralelos (D3 – Escala: 1/500) ... 84

Figura 36. Implantação no terreno em corte (D4 – Escala: 1/370) ... 84

Figura 37. Planta do pavilhão (D5 – Escala: 1/350) ... 85

Figura 38. Viga em perfil "i" (D7 – Escala: 1/40) ... 85

Figura 39. Corte transversal pelos pavimentos superiores do pavilhão (D6 – Escala: 1/150) ... 86

Figura 40. Planta do térreo (D8 – Escala: 1/200) ... 86

Figura 41. Planta do 1º e do 2º pavimento (D9 – Escala: 1/200)... 87

Figura 42. Corte transversal por uma sala de aula (D10 – Escala: 1/130) ... 88

Figura 43. Vista do módulo do guarda-corpo (D12– Escala: 1/25) ... 88

Figura 44. Vista do guarda-corpo (D13 – Escala: 1/60) ... 89

Figura 45. D14: Planta da escada (D14 – Escala: 1/70) ... 89

Figura 46. Detalhe em corte da escada (D15 – Escala: 1/20) ... 90

(11)

Figura 48. Rampa em corte (D17 – Escala: 1/100) ... 91

Figura 49. Mobiliário ao redor da escada (D18 – Escala: 1/90) ... 91

Figura 50: Mobiliário das áreas de estar (D19 – Escala: 1/40) ... 92

Figura 51: Mobiliário das áreas de estar (D20 – Escala: 1/40) ... 92

Figura 52: Mesa e bancos em corte (D21 – Escala: 1/25) ... 93

Figura 53: Indicação das cobertas entre os pavilhões (D22 – Escala: 1/800) ... 93

Figura 54: Paginação da coberta entre os pavilhões (D23 – Escala: 1/100) ... 94

Figura 55. Corte parcial da coberta (D24 – Escala: 1/15) ... 94

Figura 56: Detalhe da fixação dos brises da coberta (D25 – Escala: 1/8) ... 95

Figura 57: Corte transversal ao edifício (D26 – Escala: 1/150) ... 95

Figura 58: Gráfico com a alteração da escala gráfica ao longo da narrativa – Projeto 2 ... 97

Figura 59: Gráfico com os tipos de desenho bidimensionais executados ao longo das mudanças de escala – Projeto 2 ... 97

Figura 60: Gráfico com os momentos onde o arquiteto estava desenhando ou apenas referenciando um desenho prévio – Projeto 2 ... 98

Figura 61: Níveis de abstração dos desenhos na ordem da narrativa – Projeto 2 .... 99

Figura 62: Níveis de abstração dos desenhos ordenados pela escala gráfica – Projeto 2 ... 99

Figura 63: Aspectos de projeto e quantidade de tópicos em cada desenho – Projeto 2 ... 100

Figura 64: Planta do terreno do campus (D1 – Escala: 1/9.000) ... 103

Figura 65: Fluxograma com a primeira proposta de implantação com os blocos separados (D2 – Escala: S/E) ... 104

Figura 66: Fluxograma com a implantação com a fusão de blocos (D3 – Escala: S/E) ... 104

Figura 67: Planta com o conceito de implantação proposto para o campus (D4 – Escala: 1/10.000) ... 104

Figura 68: Implantação do Bloco Administrativo (D6 – Escala: 1/5.200) ... 105

Figura 69: Planta com a diferença de permeabilidade entre o pórtico e o setor administrativo (D8 – Escala: 1/600) ... 106

(12)

Figura 71: Planta com a forma original e projeção da inflexão (D10 – Escala: 1/850)

... 106

Figura 72: Planta com a forma definitiva do bloco administrativo (D11 – Escala: 1/850) ... 106

Figura 73: Implantação e forma final do Bloco Administrativo (D12 – Escala: 1/3.500) ... 107

Figura 74: Rotação do Bloco Administrativo (D13 – Escala: S/E) ... 108

Figura 75: Planta-baixa com os limites do edifício e a projeção do pergolado (D14 – Escala: 1/1.100) ... 108

Figura 76: Perspectiva do pergolado sobre o jardim (D15 – Escala: S/E) ... 108

Figura 77: Planta-baixa do pavimento térreo (D16 – Escala: 1/500) ... 109

Figura 78: Planta-baixa do pavimento superior (D17 – Escala: 1/500) ... 109

Figura 79: Corte do setor administrativo (D19 – Escala: 1/380) ... 110

Figura 80: Corte do setor administrativo em uma escala maior (D20 – Escala: 1/160) ... 110

Figura 81: Fachada sul do setor administrativo (D21 – Escala: 1/250) ... 111

Figura 82: Perspectiva da fachada Sul (D22 – Escala: S/E) ... 111

Figura 83: Perspectiva da fachada Norte (D23 – Escala: S/E) ... 111

Figura 84: Planta-baixa setorial da recepção (D24 – Escala: 1/340) ... 112

Figura 85: Perspectiva interna da recepção (D25 – Escala: S/E)... 113

Figura 86: Gráfico com a alteração da escala gráfica ao longo da narrativa – Projeto 3 ... 114

Figura 87: Gráfico com os tipos de desenho bidimensionais executados ao longo das mudanças de escala – Projeto 3 ... 115

Figura 88: Gráfico com os momentos onde o arquiteto estava desenhando ou apenas referenciando um desenho prévio – Projeto 3 ... 116

Figura 89: Níveis de abstração dos desenhos na ordem da narrativa – Projeto 3 .. 117

Figura 90: Níveis de abstração dos desenhos ordenados pela escala gráfica – Projeto 3 ... 118

Figura 91: Aspectos de projeto e quantidade de tópicos em cada desenho – Projeto 3 ... 118

Figura 92: Comparação da alteração da escala das três narrativas ... 122

(13)

Figura 94: Quantidade e proporção dos níveis de abstração – comparação entre todos os projetos ... 124 Figura 95: Níveis de abstração dos desenhos ordenados pela escala gráfica – comparação entre todos os projetos ... 125 Figura 96: Intervalo de escalas compreendido por cada nível de abstração ... 126 Figura 97: Aspectos de projeto e quantidade de tópicos em cada desenho – comparação entre todos os projetos ... 127 Figura 98: Parâmetros da representação vinculados à escala gráfica ... 130

(14)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Relação entre escalas de percepção e escalas gráficas ... 38

Tabela 2. Nomenclatura utilizada para os escritórios e edifícios a serem estudados 43 Tabela 3. Nomenclatura utilizada para os arquitetos entrevistados ... 44

Tabela 4. Arquitetos entrevistados nas sessões sobre projetos específicos ... 45

Tabela 5. Tabela modelo para transcrição e segmentação das entrevistas ... 47

Tabela 6. Níveis de abstração do desenho arquitetônico ... 49

Tabela 7. Aspectos de projeto ... 52

(15)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 18

2 OBJETIVOS ... 22

3 A EVOLUÇÃO DA ESCALA GRÁFICA NO PROCESSO DE PROJETO... 24

3.1 A escala no ambiente digital ... 33

4 O PROCESSO DE PROJETO E A ESCALA ... 35

5 METODOLOGIA DA PESQUISA ... 40

5.1 Investigação sobre o processo de projeto ... 40

5.2 Método ... 43

5.2.1 Entrevistas gerais ... 44

5.2.2 Entrevista sobre um projeto específico ... 45

6 ENTREVISTAS SOBRE A DINÂMICA DOS ESCRITÓRIOS ... 54

6.1 Escritório A ... 54

6.2 Escritório B ... 58

6.3 Escritório C ... 61

6.4 Análise das entrevistas sobre a dinâmica dos escritórios ... 64

7 ENTREVISTAS SOBRE PROJETOS ESPECÍFICOS... 70

7.1 Projeto 1 - Escritório A ... 72

7.1.1 A narrativa ilustrada ... 72

7.1.2 A alteração da escala ... 77

7.1.3 Os níveis de abstração ... 79

7.1.4 Aspectos e tópicos de projeto ... 80

7.2 Projeto 2 - Escritório B ... 82

(16)

7.2.2 A alteração da escala ... 96

7.2.3 Os níveis de abstração ... 98

7.2.4 Aspectos e tópicos de projeto ... 100

7.3 Projeto 3 - Escritório C ... 102

7.3.1 A narrativa ilustrada ... 102

7.3.2 A alteração da escala ... 114

7.3.3 Os níveis de abstração ... 117

7.3.4 Aspectos e tópicos de projeto ... 118

7.4 Análise das entrevistas sobre projetos específicos ... 120

7.4.1 Alteração da escala gráfica ... 121

7.4.2 Os níveis de abstração ... 123

7.4.3 Aspectos e tópicos de projeto ... 126

8 CONCLUSÃO ... 129

9 REFERÊNCIAS ... 131

APÊNDICES ... 136

APÊNDICE A: ROTEIRO PARA AS ENTREVISTAS COM OS ESCRITÓRIOS ... 137

APÊNDICE B: ROTEIRO PARA AS ENTREVISTAS SOBRE OS PROJETOS ESPECÍFICOS ... 138

APÊNDICE C: NÍVEIS DE ABSTRAÇÃO, ASPECTOS E TÓPICOS DE PROJETO – PROJETO 1 (HOSPEDAGEM DE PACIENTES EM TRATAMENTO ONCOLÓGICO) ... 139

APÊNDICE D: NÍVEIS DE ABSTRAÇÃO, ASPECTOS E TÓPICOS DE PROJETO – PROJETO 2 (BLOCO DE SALAS DE AULA) ... 142

APÊNDICE E: NÍVEIS DE ABSTRAÇÃO, ASPECTOS E TÓPICOS DE PROJETO – PROJETO 3 (BLOCO ADMINISTRATIVO) ... 154

(17)

APÊNDICE F: ASPECTOS E TÓPICOS DE PROJETO IDENTIFICADOS NAS TRÊS

NARRATIVAS ... 164

ANEXOS ... 166

ANEXO A: CESSÃO DE DIREITOS ARQUITETO A - ENTREVISTA SOBRE A DINÂMICA DO ESCRITÓRIO ... 167

ANEXO B: CESSÃO DE DIREITOS ARQUITETO B1 - ENTREVISTA SOBRE A DINÂMICA DO ESCRITÓRIO ... 168

ANEXO C: CESSÃO DE DIREITOS ARQUITETO C1 - ENTREVISTA SOBRE A DINÂMICA DO ESCRITÓRIO ... 169

ANEXO D: CESSÃO DE DIREITOS ARQUITETO C2 - ENTREVISTA SOBRE A DINÂMICA DO ESCRITÓRIO ... 170

ANEXO E: CESSÃO DE DIREITOS ARQUITETO C3 - ENTREVISTA SOBRE A DINÂMICA DO ESCRITÓRIO ... 171

ANEXO F: CESSÃO DE DIREITOS ARQUITETO C4 – ENTREVISTA SOBRE A DINÂMICA DO ESCRITÓRIO ... 172

ANEXO G: CESSÃO DE DIREITOS ARQUITETO A – ENTREVISTA SOBRE PROJETO ESPECÍFICO ... 173

ANEXO H: CESSÃO DE DIREITOS ARQUITETO B1 – ENTREVISTA SOBRE PROJETO ESPECÍFICO ... 174

ANEXO I: CESSÃO DE DIREITOS ARQUITETO C1 – ENTREVISTA SOBRE PROJETO ESPECÍFICO ... 175

ANEXO J: DESENHOS ENTREVISTA SOBRE O PROJETO 1 ... 176

ANEXO L: DESENHOS ENTREVISTA SOBRE O PROJETO 2 ... 179

(18)

1 INTRODUÇÃO

CERTA VEZ, quando eu tinha seis anos, vi num livro sobre a Floresta Virgem, “Histórias Vividas”, uma imponente gravura. Representava ela uma jibóia que engolia uma fera. [...]

Dizia o livro: “As jibóias engolem, sem mastigar, a presa inteira. Em seguida, não podem mover-se e dormem os seis meses da digestão.”

Refleti muito então sobre as aventuras da selva, e fiz, com lápis de cor, o meu primeiro desenho. [...]

Mostrei minha obra-prima às pessoas grandes e perguntei se o meu desenho lhes fazia medo.

Responderam-me: “Por que é que um chapéu faria medo?”

Meu desenho não representava um chapéu. Representava uma jibóia digerindo um elefante. Desenhei então o interior da jibóia, a fim de que as pessoas grandes pudessem compreender. Elas têm sempre a necessidade de explicações. [...] (DE SAINT-EXUPÉRY, 1998 [1943], p.7-8)1.

Arquitetura deve ser uma dessas matérias que necessitam de muitas explicações. E a linguagem utilizada para a sua explicação, assim como para a sua resolução, é a representação gráfica. Um projeto arquitetônico não pode ser compreendido por completo apenas com esboços de sua aparência superficial, sua complexidade exige um comprometimento que explore o máximo de aspectos da futura edificação, sem deixar questões indefinidas para serem descobertas e solucionadas no futuro.

Contudo, a imaginação não está ausente do processo de projeto arquitetônico. Pelo contrário, é a interação dela com a representação que estimula as novas ideias e possibilita o desenvolvimento do projeto.

Uma vez que, em arquitetura, a representação gráfica é o meio utilizado para se referir à realidade, as informações expressas por ela devem possuir um nível de abstração compatível com o que se sabe sobre o problema e com os aspectos que devem ser analisados em um determinado momento da ação projetual (AKIN, 1982).

Devido ao tamanho excessivo de seus referentes, desenhos e maquetes de arquitetura geralmente são substituições em miniatura da realidade. Essa simplificação pode ser mais ou menos precisa, a depender do grau da redução entre a figura e o elemento que está sendo representado (COOPER, 1982).

1 Quando for pertinente identificar o ano da publicação original da referência bibliográfica, o ano do

(19)

A relação entre a dimensão da ilustração e o objeto real, seja de redução ou ampliação, é a propriedade que conhecemos por escala gráfica. Quanto maior for essa razão, mais detalhes sobre o edifício podem ser explicitados. Assim, durante o projeto, a escolha da escala gráfica deve levar em consideração tanto o tamanho do desenho quanto a quantidade de informação necessária para expor uma determinada ideia (CHING, 1998; CHING, 2011).

Segundo Castro (1995), a escala vai além de uma simples relação matemática e sua escolha implica em recortes que revelam diferenças qualitativas da realidade observada ou a ser projetada. A cada mudança de escala o nível de percepção do objeto muda e são reveladas “relações, fenômenos, fatos que em outro recorte não teriam a mesma visibilidade” (CASTRO, 1995, p.135).

Da mesma maneira que cada tipo de representação – planta-baixa, corte, fachada, perspectiva – é mais adequado para apresentar determinados aspectos do projeto (AKIN, 1986), toda escala gráfica tem “questionamentos, respostas e indecisões que são particulares de cada uma” (COOPER, 1982, p.196). Assim, a mudança de uma escala gráfica para outra pode revelar novas demandas para o edifício, pode proporcionar a visualização ideal para a resolução de um problema existente, bem como pode ser um artifício para ocultar elementos prescindíveis a determinados momentos do projeto.

Também deve-se observar que cada um desses diversos pontos de vista evidencia apenas uma parte da totalidade do objeto arquitetônico. Portanto, para que um edifício seja definido e expresso por completo, é necessária sua representação em diversas escalas que devem estar articuladas de maneira a manter a coerência do projeto final (CABRAL, 2006).

Vale lembrar que em arquitetura o termo “escala” tem vários significados, apesar de todos relacionarem a percepção de tamanho entre elementos distintos, sejam eles físicos ou abstratos (MOORE, ALLEN, 1976; ORR, 1985; CHING, 1998; CABRAL, 2006). Segundo Moore e Allen (1976, p.27), a escala é “um sistema de codificação elaborado e complexo” que compara simultaneamente certos elementos com outros, entre si, ou com o corpo humano. É esse instrumento de relatividade dimensional que confere coerência aos diversos sistemas que compõem um edifício (CABRAL, 2006).

(20)

Ou seja, um mesmo objeto arquitetônico é composto por vários tipos de escalas que o confrontam com as construções do entorno, com o corpo do observador e com os seus próprios componentes – colunas, janelas, andares, etc. As partes que o constituem também podem ser comparadas entre si, com outras, ou mesmo com a idealização de seu tamanho habitual. A percepção desse complexo conjunto de relações é o que dá significado à arquitetura e está presente desde o projeto até a experiência do espaço construído (ELLIOT, 1963; MOORE, ALLEN, 1976; ORR, 1985).

Durante a fase de projeto, a visualização dessas inúmeras escalas que compõem o edifício é mediada pela escala gráfica. Da mesma maneira que a questão que está sendo definida influencia na escala da representação, a mudança da escala gráfica resulta em uma redefinição nas relações que estão sendo analisadas.

É interessante observar a semelhança entre a natureza do processo de projeto, que aborda o problema arquitetônico a partir da organização de partes que irão conformar o todo (MAHFUZ, 1995), e a característica da sua linguagem – representação gráfica – que por intermédio da escala gráfica apresenta o edifício a partir de diversos recortes ou partes.

Assim, a capacidade de juízo estético e espacial durante o projeto depende de uma conformidade entre os aspectos que estão sendo analisados e a sua representação, seja através de desenhos ou de modelos físicos. Essa correspondência atribui uma importância singular para a escala gráfica, que é a responsável por esse filtro de informação.

Portanto, torna-se pertinente considerar a escala gráfica na investigação sobre a representação no projeto arquitetônico, uma vez que é essa relação dimensional que faz a mediação entre o mundo das ideias e a sua pré-visualização. Ela é a ferramenta que possibilita a expressão dos diversos níveis de abstração que caracterizam um projeto arquitetônico, desde questões gerais até detalhes específicos.

Além disso, a alteração da escala de representação é um importante instrumento de controle e estímulo do projeto. Esses diversos enquadramentos podem revelar questões importantes sobre a dinâmica de trabalho dos arquitetos e sobre a

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articulação entre as diversas decisões projetuais que foram tomadas ao longo do processo de projeto e que acabam por configurar o edifício quando materializado. A presente pesquisa tem como tema central a aplicação da escala gráfica na representação do projeto arquitetônico. A investigação procura compreender como a utilização da escala gráfica insere-se na dinâmica de trabalho dos escritórios de arquitetura e como esse recurso contribui para a visualização e articulação dos diversos aspectos que compõem um projeto de arquitetura.

Foram selecionados como estudos de caso três escritórios de arquitetura situados na cidade de Fortaleza, Ceará, assim como três projetos de suas respectivas autorias, todos construídos no Estado do Ceará.

Como estratégia metodológica foram realizadas duas sessões de estudos em cada um dos três escritórios selecionados. A primeira voltada para questões gerais ligadas à sua dinâmica de trabalho e aos meios de representação utilizados pelos projetistas. A segunda é voltada para o projeto de um edifício existente onde o arquiteto narrou verbalmente e através de desenho a evolução das principais decisões tomadas durante o processo de projeto e que levaram à definição do edifício.

Com esse procedimento espera-se obter um exame mais claro sobre as aplicações da escala gráfica na representação do projeto arquitetônico, uma vez que se considera esse recurso um filtro fundamental para a visualização e resolução dos complexos problemas de arquitetura.

(22)

2 OBJETIVOS

A pesquisa tem como objetivo principal explorar as potencialidades da escala gráfica como ferramenta de representação das várias decisões que são tomadas durante o processo de projeto e que acabam por definir o objeto arquitetônico.

Para que se chegue a uma resposta ao problema proposto, objetivos complementares são necessários. São eles:

• Discutir sobre o processo de projeto, a escala gráfica no desenho arquitetônico e os métodos de investigação do processo de projeto;

• A partir da revisão da literatura, propor um procedimento para observar a influência da escala gráfica no desenvolvimento do projeto arquitetônico; • Definir os escritórios de arquitetura e as obras já executadas a serem

estudadas;

• Realizar entrevistas e observações sobre a dinâmica geral de projeto e a utilização da representação gráfica nos escritórios selecionados;

• Transcrever, analisar e sintetizar em diagramas as entrevistas gerais;

• Realizar entrevistas sobre o processo de projeto dos edifícios selecionadas, onde o relato do projetista é acompanhado do registro gráfico, através de desenhos à mão;

• Transcrever as entrevistas sobre os edifícios e relacionar o relato oral com os desenhos;

• Identificar variáveis do desenho que contribuem para a representação das ideias de projeto através das várias escalas gráficas;

• Mapear a alteração da escala gráfica durante a entrevista,

• Identificar os diversos recortes do edifício (níveis de abstração) que cada desenho apresenta;

• Identificar o conteúdo citado durante a execução de cada desenho (tópicos de projeto) e classifica-los em grupos afins (aspectos de projeto);

• Verificar a interação entre as mudanças de escala, recortes do edifício e o conteúdo expresso nos desenhos apresentadas pelo arquiteto;

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• Avaliar as limitações da análise do processo de projeto a partir de um método retrospectivo.

A maneira como esses objetivos foram contemplados ao longo da pesquisa está delineada no Capítulo 5 que trata da metodologia da pesquisa.

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3 A EVOLUÇÃO DA ESCALA GRÁFICA NO PROCESSO DE

PROJETO

A evolução das técnicas de representação gráfica e das tecnologias construtivas impactam diretamente na produção da arquitetura ao longo da história. Assim, os processos necessários para a concepção e representação dos edifícios são cada vez mais complexos. Da mesma forma que é impraticável refletir sobre o projeto de um edifício desenhando-o em tamanho real, os meios disponíveis para a representação exigem uma redução natural (paredes de cavernas, placa de argila, pergaminho, papel).

Os primeiros projetistas utilizavam os materiais que estavam disponíveis na natureza para construir a partir de métodos pragmáticos de “tentativa e erro” e, com o tempo, essas técnicas construtivas foram se consolidando nas tradições das diferentes culturas. Posteriormente, diante de novas demandas mais elaboradas, fez-se necessário observar as edificações existentes para adaptá-las aos novos materiais e dimensões. Nesse processo analógico, a representação gráfica teve papel fundamental na verificação das decisões de projeto. O avanço no uso do desenho passa a despertar o interesse pelas suas possibilidades de ordenação que, através dos sistemas proporcionais e malhas racionais, estabelecem princípios reguladores para as dimensões do projeto (BROADBENT, 1984).

Assim, à medida que o aumento da complexidade das construções não permitia mais a utilização exclusiva de técnicas empíricas, in loco, e exigia a verificação prévia das soluções propostas, o desenho foi se consolidando como a ferramenta utilizada para o projeto.

Entretanto, para se tornarem viáveis, os desenhos deveriam apresentar dimensões menores do que as edificações que eles tentavam reproduzir antecipadamente. É por isso que a natureza analógica do projeto refere-se tanto à ligação entre a fonte de inspiração e o edifício a ser projetado, como também à relação dimensional entre a representação em desenho e o objeto a ser construído.

Indícios do uso da escala são muito antigos. Duas esculturas de Gudea (século XXII a.C.), governante da cidade de Lagash na Suméria, apontam que já na mesopotâmia

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da Idade do Bronze existiu tanto o desenho prévio aos edifícios quanto sua aferição através de réguas graduadas (OLIVEIRA, 2002).

A escultura conhecida como "L'Architecte au Plan" (Figura 1) mostra o governante sentado com um tablete de barro sobre as pernas, no qual pode-se observar uma planta-baixa desenhada com o mesmo sistema de projeções ortogonais utilizado hoje. Já o tablete que Gudea segura em "L'Architecte à Ia Règle" (Figura 2), apresenta dois instrumentos de desenho: um estilete para gravação e uma régua graduada.

Figura 1. Detalhe Gúdea de Lagash - "L'Architecte au Plan"

Fonte: Musée du Louvre / Philippe Fuzeau. Disponível em:

<http://art.rmngp.fr/fr/library/artworks/gudea- prince-de-lagash-dit-l-architecte-au-plan_diorite>. Acesso em: 29 ago. 2016.

Figura 2. Detalhe Gudea de Lagash - "L'Architecte à Ia Règle"

Fonte: Musée du Louvre / Les frères Chuzeville. Disponível em: <

http://art.rmngp.fr/fr/library/artworks/gudea-prince-de-lagash-dit-l-architecte-a-la-regle >.

Acesso em: 29 ago. 2016.

Essa graduação na régua de Gudea é uma indicação da utilização consciente da escala gráfica nos desenhos dos Sumérios, o que é confirmado pela coerência das proporções dos elementos dos desenhos (paredes, ambientes e aberturas). Entretanto, não é possível afirmar quais são o sistema e a unidade de medida utilizados.

Outro mecanismo utilizado para o controle das dimensões dos edifícios e de seus desenhos eram as retículas. Esse sistema de modulação pode ser identificado nos fragmentos da representação de um palácio da babilônia (Figura 3) que provavelmente tem como unidade de medida o “pé” ou o “cúbito”, unidade baseada na distância entre o cotovelo e o dedo médio. Nesse desenho, além da malha quadriculada, representada em escala, que serve de guia para o desenho e possibilita a aferição das dimensões do templo, são apresentadas cotas em escrita cuneiforme (OLIVEIRA, 2002).

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Figura 3. Planta de um edifício da babilônia baseado em uma retícula

Fonte: The British Museum. Disponível em:

<http://www.britishmuseum.org/research/collection_online/collection_object_details/collection_image_ gallery.aspx?assetId=471315001&objectId=342413&partId=1>. Acesso em: 29 ago. 2016.

Já os egípcios estabeleceram o cúbito, baseado no corpo do faraó, como a unidade de comprimento padrão para a região. A observação do bastão cúbito (Figura 4) mostra que essa unidade era dividida em vinte e oito partes (dedos) e os últimos quinze dedos ainda eram sucessivamente subdivididos de 2 até 16 partes iguais (MONNIER; PETIT; TARDY, 2016). Como o cúbito egípcio tem 0,523 metros, a menor unidade desse bastão tem o equivalente a 1,16 milímetros, o que proporciona uma precisão refinada ao seu sistema de medidas.

Figura 4. Cúbito egípcio

Fonte: Musée du Louvre / Christian Décamps. Disponível em: < http://www.louvre.fr/en/oeuvre-notices/cubit-rod-rule-maya-treasurer-tutankhamun >. Acesso em: 14 set. 2016.

Outras evidências do uso da escala no projeto egípcio ainda são apresentadas por Oliveira (2002). O desenho do hipogeu de Ramsés IV (Figura 5), única representação em papiro de uma planta de arquitetura egípcia que conhecemos, apresenta-se na escala de um dedo para vinte e oito cúbitos. Já a quadricula era utilizada tanto para auxiliar na transferência de um desenho menor para outro maior definitivo, como também servia de base para a composição das formas e espaços.

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Figura 5. Planta do hipogeu de Ramsés IV

Fonte: Fondazione Museo delle Antichità Egizie di Torino. Disponível em: < https://commons.wikimedia.org/wiki/File%3AKV2-Plan.jpg >. Acesso em: 01 dez. 2017.

Do período greco-romano sobreviveram poucos exemplares de desenhos. Entretanto, em seu tratado, “Os Dez Livros da Arquitetura” (POLLIO, 1914[séc. I a.C.]), Vitruvius

enfatiza a necessidade dos arquitetos dominarem tanto o desenho, para que possam rapidamente explicitar a aparência dos edifícios que propõem, como a geometria, que através do uso da régua e do compasso permite a execução das suas plantas baixas. A origem dos instrumentos de desenhos é tão antiga que Dickinson (1949) lembra que os Gregos atribuíam a invenção do compasso e outras ferramentas a Talos, que na mitologia grega era sobrinho do arquiteto Dédalo. O autor também atribui a Heron de Alexandria (séc. I d.C.) um dispositivo capaz de aumentar e diminuir o desenho, provavelmente o compasso proporcional fixo (com apenas uma proporção). No acervo do Museu Britânico são encontrados exemplares de compassos romanos em bronze, não só os utilizados para a simples transferência de medidas (Figura 6), mas também o proporcional na razão de 2:1 (Figura 7).

Figura 6. Compasso romano – Acervo do British Museum

Fonte: The British Museum. Disponível em: <http://www.britishmuseum.org/research/colle ction_online/collection_object_details.aspx?ob jectId=399646&partId=1&object=22991&page

=1>. Acesso em: 15 fev. 2017.

Figura 7. Compasso proporcional romano (2:1) – Acervo do British Museum

Fonte: The British Museum. Disponível em: <http://www.britishmuseum.org/research/collection _online/collection_object_details.aspx?objectId=39 9643&partId=1&searchText=COMPASSES&page

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A existência de compassos proporcionais sugere não só que os desenhos dos edifícios poderiam ser medidos por dedução, a partir de uma distância conhecida, como também que sua escala poderia ser alterada de acordo com as proporções dos compassos. Com isso, além da correspondência dimensional entre o edifício e sua representação, passamos a ter alterações entre representações do mesmo objeto. Uma das únicas testemunhas do desenho técnico romano, assim como do uso da escala, é a planta-baixa, em pedra, conhecida como Forma Urbis Roma. Esse desenho de grande dimensão, apesar de bastante fragmentado e com diversas partes faltando, apresenta-se na escala de 1 pé para cada 240 pés romanos (OLIVEIRA, 2002).

O período medieval não apresenta grandes mudanças com relação às técnicas (projeção ortogonal), ferramentas (esquadro, compasso) e suportes (papiro, madeira) na representação de arquitetura. Entretanto, não se pode deixar de pontuar a importância da introdução da fabricação de papel na Europa no século XII (DICKINSON, 1949).

As dimensões e escalas dos desenhos são influenciadas diretamente pelo tamanho dos suportes disponíveis. Para superar essa limitação, a Planta do Monastério de S. Gall, produzida no século IX d.C. com comprimento de 1,12m por 0,775m, apresenta-se em cinco folhas de pergaminho costuradas (THE PLAN OF ST. GALL, [s.d.]). Nesapresenta-se aspecto, a difusão do papel, além de tornar o suporte para o desenho arquitetônico mais acessível, amplia as possibilidades do uso da escala ao permitir desenhos com dimensões maiores.

Importantes considerações sobre a representação e a escala gráfica em arquitetura são registradas na carta atribuída a Rafael de Urbino e Baldassar Castiglione ao papa Leão X, datada do início do XVI e apresentada por Migliaccio (2010), na qual é introduzido o projeto de levantamento das ruínas da Roma Antiga. Segundo o documento, plantas, cortes e elevações são as representações mais pertinentes aos arquitetos, uma vez que possibilitam a verificação exata das medidas de uma edificação. Ao contrário do que acontece na perspectiva, onde tem-se a distorção das dimensões para simular a visão do olho humano, nos desenhos ortogonais todas as dimensões são reduzidas igualmente através de uma mesma escala gráfica. Como as

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elevações e os cortes são elaborados a partir do desenho em planta, todos os desenhos do projeto, ou levantamento, inevitavelmente vão estar na mesma escala gráfica. Dessa maneira, uma medida que não possa ser verificada em um desenho pode ser observada em outro (MIGLIACCIO, 2010).

No fim do século XVI, os avanços na matemática, navegação, astronomia, engenharia militar e topografia trouxeram implementações nas ferramentas de cálculo e desenho (HIGGOTT, 1990). Destaca-se o uso do compasso de proporções variáveis que, diferente do compasso de proporção fixa, pode ser usado para ampliar ou reduzir comprimentos em diferentes proporções a partir de um simples ajuste. Também destinado à manipulação das dimensões dos desenhos, o pantógrafo foi criado em 1603 pelo jesuíta Cristoph Scheiner e baseia-se em barras encaixadas de maneira a formarem paralelogramos articuláveis. Esse instrumento possibilita a cópia manual de desenhos em variadas proporções de ampliação e redução (DICKINSON, 1949). Apesar da utilização da escala no desenho arquitetônico, a sua indicação gráfica só começa a acontecer no início do Renascimento com a difusão do uso do papel e a separação do arquiteto do canteiro de obras (EMMONS, 2005), além da reprodução impressa de tratados e desenhos de arquitetura. Semelhante à escala gráfica dos desenhos atuais, era indicada por uma linha reta com divisões que correspondem a comprimentos reais na unidade de medida utilizada.

O tratado do arquiteto renascentista italiano Sebastiano Serlio (SERLIO, 1573) apresenta a indicação da escala gráfica dentro de alguns de seus desenhos, geralmente no eixo da planta (Figura 8). Além disso, os textos relativos a cada obra apresentam a unidade de medição, o valor dos comprimentos indicados na linha de escala, assim como a explicação de como utilizar esses segmentos para descobrir todas as outras medidas do desenho (EMMONS, 2005).

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Figura 8. Planta de um templo – Tratado de arquitetura de Sebastiano Serlio

Fonte: Serlio (1573).

Aos poucos a indicação da escala vai sendo aprimorada. O tratado de Vicenzo Scamozzi (SCAMOZZI, 1694), do início do século XVII, apresenta a indicação da escala tanto graficamente como em texto. O Desenho da “Fabrica del Magnifico Signore Cavaliere Trissino” (Figura 9) apresenta uma linha com cinco divisões, onde cada uma representa dez unidades e, logo abaixo, encontra-se a inscrição “Scala di Piedi Cinquenta”, escala de cinquenta pés.

Figura 9. Desenho da “Fabrica del Magnifico Signore Cavaliere Trissino”, em Vicenza, presente no tratado L’Idea dell’architettura universale (1616) do arquiteto italiano Vincenzo Scamozzi

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Já no tratado de Bernardino Amico, de 1620, observa-se um compasso aberto junto à representação da escala (Figura 10). Com isso, além da sua representação em desenho e em texto, procura-se fornecer uma explicação visual de como utilizar a escala e o compasso para medir o desenho.

Figura 10. Planta-baixa da Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém. Desenho de Jacques Callot para o Tratado de Plantas e Imagens dos Edifícios Sagrados da Terra Santa (1620) de

Bernardino Amico.

Fonte: The British Museum. Disponível em:

<http://www.britishmuseum.org/research/collection_online/collection_object_details/collection_image_ gallery.aspx?assetId=114174001&objectId=1586968&partId=1>. Acesso em: 17 fev. 2017.

À medida que o processo de projeto foi tornando-se mais intelectualizado e a representação gráfica ganhando mais importância como meio de reflexão e documentação, a escala consolidou-se como uma qualidade do desenho imprescindível para a comunicação em arquitetura.

Entretanto, um dos grandes problemas da utilização da escala era a variedade de unidades de medidas, já que eram baseadas em partes do corpo humano e podiam variar tanto geograficamente como no tempo (EMMONS, 2005). A adoção do sistema métrico como o Sistema Internacional de Unidades (S.I.), na década de 1960, procura superar essa falta de padronização de medidas.

Já no século XX, é cada vez mais comum a indicação da escala apenas em texto, uma vez que a utilização do escalímetro permite a medição direta no desenho, sem a necessidade de transferência de comprimentos com o compasso.

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Entretanto, as diversas formas de representar a escala continuam a conviver simultaneamente. A análise dos desenhos de Le Corbusier, disponíveis na coleção Avery/GSAPP Architectural Plans and Sections (Columbia University) da base de dados ARTstor, mostra a escala dos desenhos indicada de diferentes maneiras: escala gráfica, fração (ex.: 1/200), número decimal (ex.: 0,01 p.m), e correspondência entre unidades por extenso (e.x.: 2 cm por 1 m).

As plantas da Unidade de Habitação de Marselha, de Le Corbusier, apresentam a indicação da escala de três formas diferentes na mesma prancha: escala gráfica, fração e por extenso (Figura 11). Isso permite que as medidas do desenho sejam verificadas por diversos instrumentos de medição. Pode-se utilizar a transferência de comprimentos da escala gráfica para o desenho com um compasso, um escalímetro que possua a escala indicada na fração, ou mesmo uma régua comum de acordo com a equivalência de unidades descrita por extenso.

Figura 11. Indicação da escala na prancha da Unidade de Habitação de Marselha, Le Corbusier, 1946.

Fonte: ARTstor. Disponível em:

<http://library.artstor.org/library/secure/ViewImages?id=8CdEdFUgJjg1QEI8dzF8KBUuXX4qel9%2F& userId=hzBHczAl&zoomparams=&fs=true>. Acesso em: 20 fev. 2017.

Essa ênfase na representação da escala que pode ser entendida como uma preocupação didática também amplia as possibilidades de aferição do projeto. Essa particularidade vai ao encontro da busca de Le Corbusier por uma arquitetura funcionalista universal, que mais tarde ficaria conhecida como Estilo Internacional.

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3.1 A escala no ambiente digital

A noção de escala baseada na comparação entre a dimensão do desenho em um suporte físico e o edifício em tamanho real vem sofrendo mudanças com o avanço dos meios digitais para a representação de arquitetura. No ambiente virtual do desenho em computador, a relação entre representação e edifício torna-se mais variável e dinâmica. Ao longo do processo de projeto, os diversos níveis de detalhe possibilitados pela aproximação do zoom podem ser entendidos tanto como uma imagem virtual sem uma escala gráfica definida (CABRAL, 2006), uma representação da informação em tamanho real (EMMONS, 2005), ou uma visualização que possui todas as escalas simultaneamente (PIÑON, 2006).

A relação dimensional física só passa a existir com a impressão dos desenhos, seja para verificações ao longo do processo, ou para a documentação final do projeto. Entretanto, para a manutenção da coerência entre o tamanho do desenho e o seu conteúdo, é exigido do projetista a capacidade de antecipar a escala de impressão e a quantidade de informação gráfica que ela suporta.

A imprecisão dimensional dos desenhos disponibilizados em plataformas digitais (websites, por exemplo) levou à valorização da indicação gráfica da escala. Assim, mesmo que o redimensionamento aplicado ao conjunto desenho-escala leve a escalas inusitadas, pode-se deduzir as dimensões do projeto.

Aos poucos, a plataforma BIM (Building Information Modeling, ou Modelagem da Informação da Construção) vem consolidando-se como o novo paradigma para a elaboração de projetos de arquitetura. Essa tecnologia busca gerenciar a construção virtual de modelos tridimensionais em um ambiente parametrizado que integra todo o ciclo de vida das edificações (EASTMAN et al., 2014). No processo baseado em CAD (Desenho Auxiliado por Computador), assim como no desenho à mão, atua-se diretamente sobre a documentação (desenhos técnicos bidimensionais) do projeto, já no processo baseado em BIM, o objeto e produto do trabalho é o modelo virtual da edificação, sendo a documentação um subproduto dessa construção virtual.

Nesse contexto, emergem dois conceitos relacionados ao avanço do projeto de uma representação mais abstrata para uma mais bem definida: Level of Detail (Nível de Detalhe) e Level of Development (Nível de Desenvolvimento), ambos representados

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pela sigla LOD. O Nível de Detalhe diz respeito à quantidade de detalhe inserida em um elemento do modelo, já o Nível de Desenvolvimento é uma referência ao grau de confiabilidade que pode-se ter em um dado elemento do modelo, ou seja, o quanto essa informação foi pensada. Assim, o primeiro trata da incorporação de informações, já o segundo da confiança nos dados de saída do modelo (BIMForum, 2016).

Com o BIM, além da relação dimensional entre a representação da arquitetura e o edifício fornecida pela escala, o modelo virtual passa a ter um parâmetro relativo ao seu conteúdo, o LOD. A quantidade de informação de um desenho passa a não depender apenas da escala em que ele será impresso, mas do estágio de detalhamento e comprometimento dos elementos de um modelo BIM ao longo do processo de projeto. Assim como na escala, quanto maior o LOD, maior a proximidade do projeto com o edifício construído. A sistematização do LOD como a versão virtual da escala gráfica é fundamental para a adequação da representação de arquitetura às novas tecnologias de visualização de projetos, como a realidade virtual e a realidade aumentada.

Se em um primeiro momento a escala gráfica foi utilizada apenas para o controle dimensional das construções, com o avanço das técnicas de representação e o aumento da complexidade dos edifícios ela passou também a ser empregada para explorar a evolução do projeto arquitetônico em seus diversos níveis de detalhe. Diversas formas de representação da escala foram identificadas e variam tanto com o sistema de medidas em vigor no período, como de acordo com os instrumentos disponíveis para sua aferição. Independente da forma de projetar e da mídia de visualização, seja ela analógica ou digital, será sempre necessária uma variável que regule a proximidade da representação com o mundo real, ou seja, a nitidez com que o desenho revela o edifício.

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4 O PROCESSO DE PROJETO E A ESCALA

O processo que visa solucionar um determinado problema arquitetônico é composto por um conjunto de decisões parciais decorrentes de ciclos de atividades de análise, síntese e avaliação. Entretanto, o projeto de arquitetura é um processo eminentemente interativo e complexo, de modo que é sempre possível retornar a uma fase anterior e revisá-la. Também, não necessariamente, uma decisão começa pela análise do problema, de maneira que a ordem dessas atividades pode ser invertida. (JONES, 1971; MARKUS, 1971; BROADBENT, 1976; LAWSON, 2011 [2006]).

Essa sequência de decisões está presente desde a definição dos conceitos inicias que estruturam o projeto até o seu detalhamento construtivo. Todavia, nem sempre o processo caminha de abordagens mais genéricas para mais específicas, podendo haver variações entre projetos e projetistas. Assim, o objeto arquitetônico final é resultado de uma dinâmica projetual, em diversos níveis de detalhe, que pode não obedecer um fluxo rígido do geral para o particular (LAWSON, 2011 [2006]).

A comunicação entre as etapas de análise, síntese e avaliação, e entre as diversas decisões, ocorre principalmente por meio da representação gráfica. Essa troca de informações acontece sobretudo através de desenhos e modelos tridimensionais que tanto documentam como estimulam o processo de projeto. (ANDRADE; RUSCHEL; MOREIRA, 2011). Dessa maneira, a representação gráfica auxilia na visualização dos dados iniciais de uma situação, na proposição de uma solução para o problema e na verificação dessa proposta. Uma vez consolidada, essa decisão também é documentada graficamente, apesar de poder ser revista posteriormente.

O domínio das técnicas de representações e sua utilização oportuna são fundamentais para a comunicação entre as diversas atividades do processo de projeto. Essa habilidade está na “capacidade de manipulação das técnicas e na seleção das formas de representação que melhor contribuam para a compreensão do problema e para o desenvolvimento da solução de projeto” (ANDRADE; RUSCHEL; MOREIRA, 2011, p.98).

O uso de desenhos e modelos físicos em escalas gráficas compatíveis com as situações de projeto que estão sendo avaliadas influencia diretamente na visualização

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dos problemas e na estratégia de sua resolução. Assim, o controle do processo de concepção arquitetônica passa pela habilidade do projetista em identificar a escala de aproximação que é mais reveladora das questões de um determinado momento da ação projetual.

O processo de concepção arquitetônico é caracterizado por Quaroni (1987) como uma sequência contínua de proposições e avaliações entre os componentes da tríade vitruviana (funcionalidade, estética e aspectos construtivos), onde uma solução ligada a um parâmetro é sempre avaliada em relação aos outros dois. Essas verificações não acontecem necessariamente na mesma escala gráfica, podendo-se alterar para escalas maiores ou menores do que a reflexão inicial. Assim, o processo de projeto é caracterizado pela mudança contínua de escalas para verificar decisões anteriores, independente dos parâmetros que estejam sendo considerados (QUARONI, 1987). A manipulação consciente da escala mostra-se um instrumento fundamental para o amadurecimento e evolução do processo de projeto, é o que defende Rebella (2011). A alteração nesse atributo de relatividade dimensional estimula o processo de projeto na medida em que, a cada salto da escala na representação do objeto, novos pontos de vista são revelados. Esses novos olhares sobre a composição evidenciam novas informações e conflitos sobre o projeto, o que leva a avaliações que irão validar ou questionar o que está sendo proposto (REBELLA, 2011).

Essas alterações de escala ficam evidentes na pesquisa etnográfica desenvolvida por Yaneva (2005) junto ao escritório Office for Metropolitan Architecture (OMA). Ao investigar como os arquitetos desenvolvem suas ideias durante a concepção de um edifício, a antropóloga acompanhou a equipe responsável por um projeto ao longo das discussões e manipulações de maquetes físicas em diversas escalas. Nesse processo, as mudanças de escala dos modelos físicos foram fundamentais para estimular as discussões e aprofundar o conhecimento sobre o edifício que estava sendo projetado. Os projetistas alternavam entre maquetes com poucos detalhes e outras com mais detalhes, constituindo um circuito onde modelos pequenos e grandes informavam-se simultaneamente. A cada ciclo mais definições sobre o objeto de concepção foram obtidas (YANEVA, 2005).

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Dessa maneira, torna-se fundamental para o processo de projeto a convivência de várias escalas simultaneamente, na medida em que cada uma revela um determinado ponto de vista do objeto. Essas diversas camadas de informações alimentam uns aos outros, geram críticas, ajustes e revelam soluções.

Essas várias visões parciais de um mesmo objeto vão ao encontro da ideia defendida por Mahfuz (1995) em seu “Ensaio Sobre a Razão Compositiva”, de que os processos de composição arquitetônicos são frutos da organização de partes que preexistem ao todo, onde

(...) um todo arquitetônico passa a existir através de suas partes; de fato, ele é suas partes em suas relações estruturais. Isso significa dizer que um todo arquitetônico é criado por meio de um processo no qual a parte é a unidade básica de produção (MAHFUZ, 1995, p.28).

No entanto, essas partes, que são organizadas de acordo com ideias estruturantes do projeto, apresentam uma questão que diz respeito à sua relatividade. Durante o processo de projeto, as partes de um edifício podem adquirir diferentes configurações dependendo do que é explicitado pela representação gráfica. A mudança da escala gráfica é um artifício que possibilita a visualização de novas relações entre os elementos do edifício, ou seja, a cada nova aproximação ao objeto arquitetônico as partes são redefinidas.

Em sua abordagem sobre a estrutura subjacente ao pensamento criativo em arquitetura, Rowe (1987) apresenta uma estrutura do processo criativo caracterizada por episódios que, de acordo com a intenção do projetista, apresentam um enquadramento diferente do problema (ROWE, 1987). Esses episódios variam não só em relação aos aspectos que abordam do edifício, mas também quanto ao grau de precisão e dimensionamento do desenho, ou seja, percebe-se uma mudança de escala gráfica na abordagem ao problema, em movimentos que vão do geral para o particular e vice-versa.

Outra visão sobre o processo de projeto que remete à questão da escala é proposta por Schön (1988). Ao colocar o projeto de arquitetura como uma representação gráfica do real sob condições de complexidade e incerteza, o autor afirma que:

A fim de formular um problema de projeto a ser resolvido, o projetista deve enquadrar uma situação problemática de projeto: definir seus limites, selecionar coisas particulares e relações para atentar-se, e impor à situação

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uma coerência que orienta os movimentos subsequentes. (SCHÖN, 1988, p.182)

Entende-se que a materialização em desenho desses enquadramentos dá-se pela escolha da escala gráfica que melhor expressa o conteúdo necessário para a resolução de uma determinada situação de projeto.

Assim, o projeto arquitetônico é caracterizado pela interação entre as partes e o todo, e por partes cujos conteúdos e limites estão constantemente sendo redefinidos. Além disso, a escala gráfica configura-se como um instrumento de controle e estímulo desse processo, uma vez que proporciona a visualização gráfica dos diversos enquadramentos do projeto.

Além de atuar como um instrumento fundamental para a visualização e avaliação do projeto, as decisões em diferentes escalas gráficas têm implicações diretas no resultado arquitetônico final e, consequentemente, na sua apreensão pelos espectadores. O conceito de escala de percepção (QUARONI, 1987) relaciona a capacidade de apreensão do edifício à determinada distância, com as escalas gráficas que possuem a mesma correspondência semântica. Dessa maneira, cada escala de percepção (Tabela 1) corresponde a um intervalo de distâncias de observação do edifício e a um conjunto de escalas gráficas que possibilitam observar o mesmo tipo de informação.

Tabela 1. Relação entre escalas de percepção e escalas gráficas Escalas de

Percepção Distâncias de observação (m) Conteúdo observado Escalas gráficas

1ª 0,30 – 0,40

Pequenos elementos como maçanetas,

detalhes decorativos. 2:1, 1:1, 1:2 2ª 2 – 3 – 5 Elementos independentes do edifício como janelas,

escadas, colunas. 1:5, 1:10, 1:20 3ª 5 – 20 – 30 Partes de uma parede interna ou fachada. 1:20, 1:50

4ª 50 – 70 Edifícios inteiros. 1:50, 1:100, 1:200

5ª 100 – 150 Relação do edifício com o entorno ou edifícios extremamente grandes

1:100, 1:200, 1:500 Fonte: Quaroni (1987).

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Portanto, o conteúdo expresso por um edifício, que é composto por elementos de várias dimensões, deve ser projetado para ser apreendido a partir das várias distâncias. Na medida em que as informações percebidas são alteradas dependendo da posição do observador, o projeto deve primar pelo desenvolvimento de todas as suas partes com o mesmo grau de atenção, independente do seu tamanho (ORR, 1985).

Isso reforça a importância da escala gráfica no processo de projeto, uma vez que ela é o atributo que relaciona o objeto real com sua representação. Independentemente do tamanho real das partes analisadas, a escala deve contribuir para uma representação legível e oportuna do edifício em seus diversos níveis de detalhe.

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5 METODOLOGIA DA PESQUISA

5.1 Investigação sobre o processo de projeto

Desde os primeiros encontros para o debate sobre métodos de projeto na década de 1960 (Conference on Design Methods), vêm-se procurando investigar o ato de projetar de uma maneira mais sistemática (KOWALTOWSKI; MOREIRA, 2016). Diversos métodos de investigação vêm sendo utilizados para tentar entender e melhorar o processo de criação em arquitetura. Antes desse movimento, a tentativa de compreender o ato de projetar era baseado na reflexão introspectiva de alguns projetistas sobre o seu trabalho (LAWSON, 2011 [2006]).

Os procedimentos metodológicos para pesquisar o processo de projeto estão divididos em cinco grandes grupos: relato dos projetistas, observações e estudos de caso, análise de protocolo, reflexão e teorização, e simulações baseadas em inteligência artificial (CROSS, 1999; ANDRADE, 2015).

O relato dos projetistas através de entrevistas, ou de escritos, permite a obtenção de informações sobre o seu trabalho em condições habituais, apesar de recair na incompletude do que é contado, seja por problemas de memória ou por sua natureza resumida. As entrevistas, que podem se referir tanto a um projeto especifico ou a aspectos gerais da prática projetual, abrem espaço para estudos com arquitetos reconhecidos e sobre projetos já construídos, possibilitando obter informações sobre a sua visão acerca dos processos e procedimentos que utilizam (DARKE, 1979; CROSS, 1999; LAWSON, 2011 [2006]).

Os estudos de caso que coletam dados no ambiente de projeto, seja através de gravações ou pela observação direta do processo, pecam por não conseguir acessar o que se passa nas cabeças dos projetistas. Também deve ser considerada a influência da presença dos pesquisadores nesse momento (CROSS, 1999; LAWSON, 2011 [2006]).

Outra estratégia utilizada em estudos de caso é a análise retrospectiva de produtos gráficos dos projetos, geralmente desenhos (ANDRADE, 2015). A análise gráfica é viável, devido a facilidade de acesso aos dados e da pouca mobilização de recursos

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humanos. Apesar de muitos detalhes e aspectos relativos à cognição se perderem nesse tipo de estudo, muita informação pode ser apreendida já que o desenho ainda é a principal linguagem de expressão e de comunicação do arquiteto com os outros atores envolvidos no processo de projeto.

As análises de protocolo são realizadas a partir de sessões controladas em laboratório, onde é pedido que o projetista resolva um problema artificial dado, ao mesmo tempo em que verbaliza seus pensamentos. Se por um lado o rigor desse procedimento permite uma observação mais objetiva do processo de projeto, por outro ele acaba se distanciando das situações reais (CROSS, 1999; CROSS, 2011; LAWSON, 2011 [2006]).

O registro sistemático de desenhos e notas, juntamente com a gravação da verbalização do projetista, em áudio ou vídeo, compõem o conjunto de dados mínimo para a análise de protocolos de projeto (AKIN; LIN, 1995). Para a análise de um protocolo é importante segmentar os dados coletados, isto é, identificar unidades básicas de forma a codificar o registro gráfico e a transcrição dos vídeos. Essa segmentação deve estar diretamente relacionada ao problema central da pesquisa. Em seu estudo sobre a relação entre o processamento de dados gráfico-visuais e as decisões originais de projeto, Akin e Lin (1995) identificam que os desenhos produzidos durante o protocolo de análise podem ser agrupados de acordo com a escala gráfica e o propósito a que se destinam ao longo do processo de projeto. A segmentação do protocolo mostra que a fase de projeto que trata da concepção apresenta desenhos em escalas menores, sem muitos detalhes, enquanto a fase de desenvolvimento e representação das ideias começa a detalhar o objeto em escalas maiores.

Goldschmidt (1991), por exemplo, propõe a divisão do processo de concepção em movimentos de projeto e argumentos, onde os movimentos correspondem ao “ato de raciocínio que apresenta uma proposição coerente que diz respeito a uma entidade que está sendo concebida” (GOLDSCHMIDT, 1991, p.125), já os argumentos são declarações ligadas a algum aspecto de um movimento.

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Outra divisão é proposta por Suwa e Tversky (1997) em segmentos de mudança de foco e continuidade. O primeiro indica que o projetista mudou o tópico de atenção dentro do projeto, já no segundo continua-se a explorar os tópicos anteriores possibilitando reflexões mais detalhadas.

A segmentação adotada por Goel (1995) é baseada em episódios que correspondem às diferentes soluções geradas pelo projetista e que foram relacionados com os desenhos produzidos durante a sessão. Ao tratar da maneira como esses episódios surgem, é colocado que as soluções sofrem transformações laterais e verticais à medida que o grau de definição e detalhamento do objeto em concepção vai aumentando. Transformações laterais acontecem quando se movimenta de uma ideia para outra diferente, assim o tema do desenho é alterado para outros, apesar de tratar do mesmo objeto. Os movimentos verticais transformam uma ideia em outra mais detalhada, onde os novos desenhos enfatizam a ideia anterior, seja explicando ou detalhando. Dessa maneira, a representação gráfica vai progressivamente reduzindo a natureza indefinida do processo de projeto (GOEL, 1995).

Investigações baseadas em reflexões teóricas ou que simulam a mente humana através de técnicas de inteligência artificial situam-se mais distantes da prática do projeto arquitetônico. Esses métodos podem revelar aspectos mais abstratos do projeto, ao mesmo tempo que exigem uma maior bagagem teórica e conhecimento técnico específico dos pesquisadores.

Diante das limitações de cada método, deve-se observar quais características pode-se abrir mão e quais são indispensáveis para o estudo proposto. A escolha do método a ser utilizado deve considerar a questão que se quer investigar, as limitações de recursos dos pesquisados (tempo, equipamentos, etc) e a disponibilidade do projetista em ser investigado.

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5.2 Método

Uma vez que a presente pesquisa tem como objeto de estudo o processo de projeto de situações reais, em escritórios de arquitetura atuantes e com edifícios já construídos, adotou-se a entrevista como o método de investigação a ser utilizado. Essas entrevistas foram realizadas em três escritórios radicados na cidade de Fortaleza, Ceará, e aconteceram em duas fases: a primeira voltada para aspectos mais gerais do processo de projeto e a segunda voltada para um projeto especifico já construído e localizado no Estado do Ceará.

As sessões foram realizadas nos próprios escritórios dos arquitetos e em datas indicadas por eles, em uma tentativa de deixá-los mais à vontade. Apresenta-se nos Anexos A a I os termos de cessão de direitos do depoimento de cada arquiteto participante.

A seleção dos escritórios aconteceu juntamente com a escolha dos respectivos edifícios a serem estudados. Os escritórios deveriam possuir estruturas organizacionais – atribuições e divisões de tarefas – distintas umas das outras e os projetos deveriam ter usos diferentes e não mais que dez anos de conclusão. Essa diversidade procurou evitar observações parciais tanto nas entrevistas sobre a dinâmica geral de projeto dos escritórios, como nos relatos sobre projetos específicos. Já o limite temporal procurou evitar um distanciamento tal que enfraquecesse o conteúdo das entrevistas, assim como aumentasse as possibilidades de acesso a informações gráficas e textuais sobre os projetos.

A Tabela 2 apresenta a nomenclatura utilizada para se referir aos escritórios e aos edifícios, assim como o programa básico e o ano de cada projeto.

Tabela 2. Nomenclatura utilizada para os escritórios e edifícios a serem estudados

Escritório Projeto Ano do projeto

A Hospedagem de pacientes em tratamento médico 1 2009

B Bloco educacional de uma instituição de ensino superior 2 2013

C Edifício administrativo de um campus universitário 3 2012

Fonte: O autor.

Os arquitetos também receberam uma codificação conformada pela letra do seu respectivo escritório seguida de um numeral, recurso utilizado nos casos onde foi necessário diferenciar os projetistas de uma mesma organização (Tabela 3). Foram

Referências

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