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A presente entrevista trata do projeto do Edifício 3, que foi concebido pelo Escritório C para abrigar as funções administrativas de um novo campus universitário, que também estava sendo projetado pela equipe.

Uma vez que nesse escritório todos os arquitetos se revezam na concepção e desenvolvimento dos projetos e que, no caso específico desse edifício, houve a participação de um escritório parceiro, foi pedido a indicação daquele profissional que esteve mais envolvido com o processo de projeto e, consequentemente, estaria mais apto para falar sobre esse edifício.

A entrevista foi realizada com o Arquiteto C1 e teve duração de 31’37’’. O tempo disponibilizado para a sessão, de aproximadamente 30 minutos, mostrou-se suficiente para que diversos aspectos do edifício fossem contemplados. O arquiteto entrevistado relatou que se sentiu confortável com a tarefa de narrar e desenhar, simultaneamente, importantes decisões tomadas durante o processo de projeto.

Em apenas duas situações o Arquiteto C1 recorreu a material externo para relembrar características específicas do projeto. A primeira consulta buscou verificar o exato posicionamento da escada na recepção do edifício, já a segunda focou no posicionamento de pilares que sofreram deslocamento de um pavimento para o outro. Ou seja, apesar da distância temporal entre a narrativa e o projeto foi possível obter uma descrição significativa do projeto.

Antes de começar a falar sobre o projeto do Bloco Administrativo, o entrevistado ressaltou que as decisões projetuais a serem expostas por ele foram resultado de discussões em equipe. Apesar da entrevista ter sido individual e inevitavelmente existirem reflexões pessoais durante o processo de projeto, as decisões apresentadas que caracterizam o edifício foram coletivas.

7.3.1 A narrativa ilustrada

A narrativa sobre o projeto do Bloco Administrativo começou com aspectos gerais ligados à forma do terreno, à via de acesso e à disposição dos edifícios no campus, uma vez que o escritório também foi responsável pelo plano geral de implantação.

Consequentemente, o primeiro desenho executado foi a planta do terreno (Figura 64) com poucas definições e em uma escala gráfica muito pequena. O Arquiteto C1 ressaltou a intenção de reservar a parte frontal do terreno para uma praça pública e das edificações desenvolverem-se ao longo do grande lote em formato de “L”.

É importante pontuar que todos os desenhos em planta foram realizados com o Norte para cima e perpendicular ao eixo horizontal. Essa orientação das plantas foi uma iniciativa particular do arquiteto, mas facilitou bastante o entendimento dos desenhos.

Figura 64: Planta do terreno do campus (D1 – Escala: 1/9.000)

Fonte: Arquiteto C1.

Em seguida, o arquiteto utilizou dois fluxogramas para apresentar alternativas distintas sobre a implantação dos edifícios no campus. A primeira proposta (Figura 65) sugeriu uma distribuição do conjunto de edificações a partir de um pórtico de entrada, de onde sai uma circulação coberta que conecta seus blocos administrativos, educacionais e culturais, e que pode acompanhar uma futura expansão do campus. A segunda proposta (Figura 66) apresentou uma disposição mais adensada, em detrimento da implantação anterior mais dispersa. Assim, o pórtico de entrada foi integrado ao edifício administrativo, com a intenção de tornar o conjunto mais relevante e os usos educacionais dispostos de uma maneira mais compacta, com a circulação que os conecta contida dentro dos próprios edifícios.

Figura 65: Fluxograma com a primeira proposta de implantação com os blocos

separados (D2 – Escala: S/E)

Figura 66: Fluxograma com a implantação com a fusão de blocos (D3 – Escala: S/E)

Fonte: Arquiteto C1. Fonte: Arquiteto C1.

Essa segunda opção, que se consolidou como a diretriz de implantação adotada para o projeto do campus, foi representada em outra planta-baixa (Figura 67) também em escala bem reduzida. Nesse desenho foi indicado, logo após a área destinada para a praça pública e seguindo o alinhamento do terreno, um primeiro bloco linear que abriga o setor administrativo e o pórtico de entrada. Após esse bloco, as outras instalações do campus desenvolvem-se de maneira mais orgânica.

Figura 67: Planta com o conceito de implantação proposto para o campus (D4 – Escala: 1/10.000)

A partir desse momento a atenção do arquiteto voltou-se exclusivamente para o projeto do Bloco Administrativo e com isso observou-se um aumento nas escalas de aproximação ao objeto arquitetônico. O edifício-pórtico, como foi caracterizado o bloco, procurou ressaltar sua condição de entrada da instituição e, ao mesmo tempo, abrigar as funções de administração e coordenação.

Para iniciar o relato da série de transformações sofridas pela disposição linear inicial do projeto até o seu resultado final, o Arquiteto C1 recorreu a uma implantação mais aproximada (Figura 68) que relacionou o Edifício 3 com as condições naturais do terreno, apesar de ainda conter poucos detalhes. Para o projetista, o posicionamento inicial do bloco alinhado com os limites do terreno sugeriu adaptações na sua forma para melhor adequação à orientação solar, uma vez que o terreno possui uma inclinação Nordeste, e a melhor orientação para os ambientes de trabalho seria voltada para o Norte e para o Sul. Outro fator que contribuiu para a mudança na forma do bloco foi a distribuição das curvas de nível do terreno no eixo Leste-Oeste.

Figura 68: Implantação do Bloco Administrativo (D6 – Escala: 1/5.200)

Fonte: Arquiteto C1.

Em seguida, pela primeira vez o edifício foi representado isoladamente e em uma escala gráfica que permitiu expressar os limites e a largura do bloco, apesar de não apresentar qualquer indicação da divisão interna dos espaços. Essa planta-baixa (Figura 69) foi utilizada para apresentar a diferença entre a área do pórtico de acesso ao campus, situada à esquerda e caracterizada por ser aberta e pública, e o setor administrativo, localizado à direita e com uma natureza privativa.

Figura 69: Planta com a diferença de permeabilidade entre o pórtico e o setor administrativo (D8 – Escala: 1/600)

Fonte: Arquiteto C1.

Na sequência, o entrevistado mudou o tipo de desenho e representou o edifício através de um corte longitudinal (Figura 70) em uma escala semelhante ao desenho anterior. Ressaltou-se a distribuição da parte administrativa em dois pavimentos, assim como a relação entre o pé-direito duplo do pórtico de entrada e o usuário, com a intenção de enfatizar a função de acesso ao campus desse espaço.

Figura 70: Corte longitudinal (D9 – Escala: 1/600)

Fonte: Arquiteto C1.

A alteração na forma linear do bloco, que já havia sido sugerida verbalmente durante a realização da implantação anterior (Figura 68), foi ilustrada em uma planta esquemática com o contorno inicial da edificação juntamente com a projeção da inflexão proposta (Figura 71). Em seguida, outra planta apenas com o perímetro do edifício foi apresentada com a forma consolidada do edifício (Figura 72).

Figura 71: Planta com a forma original e

projeção da inflexão (D10 – Escala: 1/850) Figura 72: Planta com a forma definitiva do bloco administrativo (D11 – Escala: 1/850)

Para apresentar a relação dessa forma definitiva do Bloco Administrativo com os limites do lote e a topografia, o arquiteto voltou a utilizar uma implantação com escala gráfica reduzida (Figura 73). A configuração final foi colocada como resultado da manutenção do pórtico de entrada alinhado com o eixo Noroeste-Sudeste do terreno, e da rotação da parte administrava para o eixo Leste-Oeste, de maneira a adequá-la tanto ao sentido das curvas de nível quanto à orientação solar ótima pretendida para os ambientes de trabalho. A inflexão sofrida pelo bloco também foi utilizada para ressaltar a diferença de usos entre a área do pórtico e o setor administrativo.

Figura 73: Implantação e forma final do Bloco Administrativo (D12 – Escala: 1/3.500)

Fonte: Arquiteto C1.

Essa mudança na forma do edifício ainda foi expressa em duas perspectivas (Figura 74) que reforçam a transformação da implantação linear inicial para a sua conformação definitiva. Assim, a proposta final contemplou não só as adequações às questões do local (terreno e orientação solar), como a intenção de diferenciar os dois usos do edifício.

Figura 74: Rotação do Bloco Administrativo (D13 – Escala: S/E)

Fonte: Arquiteto C1.

Se por um lado a parte administrativa possuía um programa bem definido e sua resolução passava principalmente pela organização dos ambientes, o pórtico de entrada precisava de algum elemento que o caracterizasse enquanto espaço arquitetônico. A estratégia para dar identidade a esse vazio foi inicialmente expressa através de uma planta (Figura 75), onde foi indicado o posicionamento de um conjunto de pérgolas sobre um jardim no limite oeste do pórtico. Em seguida, esse elemento foi detalhado através de uma perspectiva (Figura 76) que ilustra o efeito de luz e sombra sobre a parede que apoia o pergolado. Também foi lembrado que a iluminação sobre essa superfície vertical nunca é igual, uma vez que as sombras se movimentam ao longo do dia.

Figura 75: Planta-baixa com os limites do edifício e a projeção do pergolado (D14 –

Escala: 1/1.100)

Fonte: Arquiteto C1.

Figura 76: Perspectiva do pergolado sobre o jardim (D15 – Escala: S/E)

Após a caracterização do espaço que marca a chegada ao campus, o arquiteto passou a detalhar a organização interna dos edifícios através de desenhos em escalas gráficas maiores e que permitiram a representação de mais informação.

Ao representar a planta-baixa do pavimento térreo (Figura 77), o arquiteto ressaltou a divisão do setor administrativo em módulos estruturais regulares, com exceção do vão da recepção que possui uma distância maior entre pilares e é marcado por um pé- direito duplo. A partir desse saguão de entrada, desenvolve-se uma circulação horizontal junto à fachada sul que conecta as salas de administração, diretoria e almoxarifado. Ao fim do corredor encontram-se um conjunto de banheiros e um acesso de serviço.

Figura 77: Planta-baixa do pavimento térreo (D16 – Escala: 1/500)

Fonte: Arquiteto C1.

O pavimento superior (Figura 78) é caracterizado por uma circulação horizontal, também situada na fachada sul, com largura mais generosa que a do pavimento térreo e que integra as salas das coordenações. Alinhados com as áreas molhadas do pavimento inferior, estão um conjunto de banheiros e uma copa.

Figura 78: Planta-baixa do pavimento superior (D17 – Escala: 1/500)

Foi colocado que o setor administrativo se fecha para o exterior tanto para contrapor o vazio do pórtico, como para resguardar os ambientes de trabalho dos ventos quentes da região. Para explicar melhor essa natureza introspectiva, o entrevistado recorreu a uma representação em corte (Figura 79), onde foi observada a diferença de largura entre as circulações dos dois pavimentos e a opacidade das superfícies externas. Ressaltou-se que a parede da circulação superior não possui aberturas e a iluminação natural acontece através de domos de iluminação zenital; já a fachada das salas é protegida por uma parede de elementos vazados (cobogó).

Figura 79: Corte do setor administrativo (D19 – Escala: 1/380)

Fonte: Arquiteto C1.

Nesse momento, o arquiteto sentiu necessidade de aumentar a escala do desenho para que ficasse mais evidente a distância entre o corpo do edifício e a parede de cobogó. Ao realizar esse novo corte mais ampliado (Figura 80), pontuou-se a utilização desse espaço como área técnica para os condensadores. Essa superfície vazada, além de proteger as aberturas do sol, também permite alterações na localização das aberturas em função de mudanças no layout interno, sem que isso cause interferência na aparência externa da edificação.

Figura 80: Corte do setor administrativo em uma escala maior (D20 – Escala: 1/160)

Nesse corte também foi indicado a iluminação da circulação inferior através de janelas altas que ficam protegidas do sol pelo avanço da circulação superior, que também tem o objetivo de criar um espaço mais generoso e que possa funcionar como um lugar de encontro e estar para os usuários.

Em seguida, as decisões relativas à fachada sul, até então apresentadas em planta e corte, foram representadas em elevação (Figura 81). Observou-se a circulação superior, em balanço, com um revestimento claro e a superfície inferior recuada e escura. Esse revestimento escuro do corredor do térreo, juntamente com a sombra proporcionada pelo pavimento acima, tinha como objetivo ocultar as janelas altas da circulação e contribuir para o caráter introspectivo do setor administrativo.

Figura 81: Fachada sul do setor administrativo (D21 – Escala: 1/250)

Fonte: Arquiteto C1.

Mais uma vez na narrativa alterou-se o tipo de desenho e voltou-se a utilizar perspectivas para reforçar as decisões de projeto apresentadas em desenhos bidimensionais. A perspectiva da fachada Sul (Figura 82) foi utilizada para ilustrar a entrada principal, os pergolados do pórtico e as pequenas janelas da circulação inferior. Ao representar a perspectiva da fachada Norte (Figura 83), ressaltou-se a função da parede de cobogó de preservar a estética do edifício de eventuais mudanças na localização das esquadrias e proporcionar mais liberdade para o layout interno.

Figura 82: Perspectiva da fachada Sul (D22 – Escala: S/E)

Fonte: Arquiteto C1.

Figura 83: Perspectiva da fachada Norte (D23 – Escala: S/E)

Para tratar de aspectos mais específicos da recepção do Bloco Administrativo, o Arquiteto C1 recorreu a um recorte ampliado em planta (Figura 84), onde ele destacou o fechamento em cortina de vidro dessa área de chegada. Entretanto, uma vez que esse desenho abrange apenas uma parte do edifício, algumas características e relações não puderam ser completamente visualizadas.

Figura 84: Planta-baixa setorial da recepção (D24 – Escala: 1/340)

Fonte: Arquiteto C1.

A partir dessa planta setorial, o arquiteto voltou para vários desenhos – plantas, fachadas e perspectivas - executados anteriormente. Assim, a perspectiva da fachada Sul (Figura 82) e a planta do pavimento superior (Figura 78) foram utilizadas para apresentar um aspecto pontual e concreto do projeto: a janela situada no início do corredor superior, voltada para o poente, e que possui uma bonita vista para o pôr-do- sol. A fachada Sul (Figura 81), a perspectiva da fachada Norte (Figura 85) e as plantas dos dois pavimentos (Figura 77 e Figura 78) foram utilizadas para expor uma característica mais abstrata que é a diferença na expressão do edifício entre o dia e a noite em virtude da iluminação. Durante o dia o vidro reflexivo da cortina de vidro não permite a visualização do interior da recepção, já à noite a iluminação interna torna essa superfície transparente. O efeito da luz também foi observado nas pequenas aberturas da circulação do pavimento inferior e na parede de cobogó.

A planta-baixa da recepção (Figura 84) também foi utilizada para apresentar a escada como um elemento marcante do espaço de entrada. Em parte, esse destaque foi dado pela sua inclinação em relação ao edifício, de maneira a referenciar a rotação do setor administrativo em relação ao pórtico. Na sequência, uma perspectiva interna (Figura 85) foi utilizada para ilustrar a presença da escada na recepção com pé-direito duplo.

Figura 85: Perspectiva interna da recepção (D25 – Escala: S/E)

Fonte: Arquiteto C1.

Ao final, os cortes que passam pelo setor administrativo (Figura 79 e Figura 80) voltaram a ser utilizados nos comentários sobre aspectos construtivos. Segundo o Arquiteto C1, o maior arrojo estrutural do projeto foi a transferência do conjunto de pilares, que no pavimento inferior estão situados junto à parede externa da circulação horizontal, para o alinhamento da fachada superior que se encontra em balanço. Esse deslocamento evitou que os pilares ficassem no meio da circulação do pavimento superior. Na fachada Norte, os pilares dos dois andares foram posicionados regularmente alinhados e a parede de cobogó estruturada de maneira independente. Durante o relato, a identidade final do edifício foi apresentada como resultado do processo de projeto, ao invés de ser fruto de uma imposição formal. Para o arquiteto, o edifício, ao mesmo tempo em que procura uma adequação às restrições do lugar, de orçamento e do programa de necessidades, explora volumes, luz e sombra de maneira simples e austera. Assim, buscou-se uma síntese da forma na qual os elementos da arquitetura tenham expressividade ao mesmo tempo que respondem às questões pragmáticas.

7.3.2 A alteração da escala

Assim como na narrativa anterior sobre o edifício de salas de aula (Projeto 2), o relato sobre o projeto do bloco administrativo teve um número considerável de desenhos, vinte e cinco no total, apesar do arquiteto ter utilizado aproximadamente metade do tempo. A representação do projeto através de pequenos desenhos, em escalas gráficas reduzidas, possibilitou a disposição dessas ilustrações em apenas três folhas tamanho A3.

O gráfico que apresenta a alteração da escala ao longo da narrativa (Figura 86) aponta que a grande quantidade de desenhos utilizada pelo arquiteto também se reflete em uma intensa alteração nas escalas gráficas adotadas na representação do projeto. Em geral, os desenhos evoluíram de escalas menores para maiores, apesar de existirem mudanças intermediárias no sentido contrário. Também fica evidente o curto período de tempo utilizado para cada desenho, ou seja, a frequência com que essas mudanças aconteceram foi alta.

Figura 86: Gráfico com a alteração da escala gráfica ao longo da narrativa – Projeto 3

Fonte: O autor.

Observa-se que as definições do projeto relacionadas ao conceito inicial, assim como as que tratam do terreno e do meio-ambiente, foram apresentadas em desenhos com escalas menores e, consequentemente, mais esquemáticos.

À medida que o arquiteto aumentou a escala de representação, foram apresentadas questões relacionadas ao interior do Bloco Administrativo, como a organização dos ambientes, circulações horizontais e verticais, estrutura de sustentação. Percebe-se

que as escalas maiores permitem uma maior distinção entre as dimensões do desenho e uma melhor percepção dos espaços internos do projeto.

Além da alteração da escala gráfica, a mudança no tipo de desenho também foi fundamental para expressar as diversas decisões projetuais que constituíram a narrativa sobre o edifício do Bloco Administrativo. O gráfico a seguir (Figura 87), que identifica os desenhos ortogonais utilizados ao longo das alterações de escala, aponta um predomínio das plantas e cortes na explicação do projeto. Entretanto, o registro gráfico também foi composto por vistas, perspectivas e diagramas.

Apesar de não ter existido uma distribuição homogênea e segmentada dos tipos de desenhos utilizados, observam-se períodos que são caracterizados pela utilização do desenho em planta e outros que são dominados pelo uso do corte. Se os desenhos iniciais, que estão nas menores escalas, foram expressos principalmente por plantas, os desenhos que estão nas maiores escalas, e situados na segunda metade da narrativa, valeram-se de cortes, vistas e plantas.

Figura 87: Gráfico com os tipos de desenho bidimensionais executados ao longo das mudanças de escala – Projeto 3

Fonte: O autor.

O gráfico com as atividades do projetista (Figura 88) mostra que, em diversos momentos da segunda metade da narrativa, o arquiteto não estava propriamente desenhando, mas apenas referenciando um desenho anterior. Apesar disso, a escala gráfica das representações utilizadas para ilustrar o relato continuaram a ser alteradas.

Figura 88: Gráfico com os momentos onde o arquiteto estava desenhando ou apenas referenciando um desenho prévio – Projeto 3

Fonte: O autor.

Esses gráficos também apresentam muitos intervalos sem o registro de escala gráfica, tipo de desenho ou atividade. Esses vazios representam os momentos onde o arquiteto se referiu apenas a questões gerais do projeto sem utilizar nenhum desenho especifico, ou onde utilizou desenhos aos quais não se pode atribuir escala gráfica. Nessa entrevista não foi possível atribuir escala a nove desenhos por se tratarem de perspectivas e diagramas.

Foram identificadas apenas duas movimentações laterais durante a narrativa. A primeira, logo no início, quando o arquiteto utilizou dois fluxogramas (Figura 65 e 66) para indicar duas opções distintas para a implantação dos edifícios no campus. A segunda, quando foi indicada a mudança da implantação linear inicial para a configuração final inflexionada (Figura 71).

A partir desse momento, a opção de implantação escolhida foi desenvolvida em uma série de desenhos que sintetizaram a evolução da proposta final. Ou seja, foram apresentadas várias soluções de projeto equivalentes aos movimentos verticais, uma vez que detalham ou explicam uma mesma ideia principal.

7.3.3 Os níveis de abstração

A identificação dos níveis de abstração dos desenhos da entrevista (Figura 89) mostra uma priorização das temáticas mais gerais do projeto. A narrativa concentrou-se nos níveis de abstração mais altos, principalmente no nível N4 que apresenta o enquadramento do edifício como um todo. Observa-se que o relato começou pelo nível de abstração mais alto, N5, e avançou para a utilização dos níveis N4 e N3. Não foram identificados os níveis N2 e N1, que tratam respectivamente dos elementos da edificação e de detalhes específicos do projeto.

Figura 89: Níveis de abstração dos desenhos na ordem da narrativa – Projeto 3

Fonte: O autor.

Verifica-se que o desenho D3 apresenta simultaneamente os níveis de abstração N4 e N5. Isso acontece por que esse diagrama abordou, em um primeiro momento, questões relacionadas ao entorno e depois concentrou-se apenas em características intrínsecas à edificação, sem considerar seu exterior.

Também é notória a flexibilidade dos desenhos que não possuem escala, tanto por poderem enquadrar diversos recortes do edifício, como por poderem agregar mais de um nível de abstração em um mesmo desenho.

O ordenamento dos desenhos por ordem crescente de escala (Figura 90) demonstra que os níveis de abstração maiores se utilizam das escalas menores. Os quatro desenhos que apresentam o nível de abstração N5, são os que apresentam as