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Desde os primeiros encontros para o debate sobre métodos de projeto na década de 1960 (Conference on Design Methods), vêm-se procurando investigar o ato de projetar de uma maneira mais sistemática (KOWALTOWSKI; MOREIRA, 2016). Diversos métodos de investigação vêm sendo utilizados para tentar entender e melhorar o processo de criação em arquitetura. Antes desse movimento, a tentativa de compreender o ato de projetar era baseado na reflexão introspectiva de alguns projetistas sobre o seu trabalho (LAWSON, 2011 [2006]).

Os procedimentos metodológicos para pesquisar o processo de projeto estão divididos em cinco grandes grupos: relato dos projetistas, observações e estudos de caso, análise de protocolo, reflexão e teorização, e simulações baseadas em inteligência artificial (CROSS, 1999; ANDRADE, 2015).

O relato dos projetistas através de entrevistas, ou de escritos, permite a obtenção de informações sobre o seu trabalho em condições habituais, apesar de recair na incompletude do que é contado, seja por problemas de memória ou por sua natureza resumida. As entrevistas, que podem se referir tanto a um projeto especifico ou a aspectos gerais da prática projetual, abrem espaço para estudos com arquitetos reconhecidos e sobre projetos já construídos, possibilitando obter informações sobre a sua visão acerca dos processos e procedimentos que utilizam (DARKE, 1979; CROSS, 1999; LAWSON, 2011 [2006]).

Os estudos de caso que coletam dados no ambiente de projeto, seja através de gravações ou pela observação direta do processo, pecam por não conseguir acessar o que se passa nas cabeças dos projetistas. Também deve ser considerada a influência da presença dos pesquisadores nesse momento (CROSS, 1999; LAWSON, 2011 [2006]).

Outra estratégia utilizada em estudos de caso é a análise retrospectiva de produtos gráficos dos projetos, geralmente desenhos (ANDRADE, 2015). A análise gráfica é viável, devido a facilidade de acesso aos dados e da pouca mobilização de recursos

humanos. Apesar de muitos detalhes e aspectos relativos à cognição se perderem nesse tipo de estudo, muita informação pode ser apreendida já que o desenho ainda é a principal linguagem de expressão e de comunicação do arquiteto com os outros atores envolvidos no processo de projeto.

As análises de protocolo são realizadas a partir de sessões controladas em laboratório, onde é pedido que o projetista resolva um problema artificial dado, ao mesmo tempo em que verbaliza seus pensamentos. Se por um lado o rigor desse procedimento permite uma observação mais objetiva do processo de projeto, por outro ele acaba se distanciando das situações reais (CROSS, 1999; CROSS, 2011; LAWSON, 2011 [2006]).

O registro sistemático de desenhos e notas, juntamente com a gravação da verbalização do projetista, em áudio ou vídeo, compõem o conjunto de dados mínimo para a análise de protocolos de projeto (AKIN; LIN, 1995). Para a análise de um protocolo é importante segmentar os dados coletados, isto é, identificar unidades básicas de forma a codificar o registro gráfico e a transcrição dos vídeos. Essa segmentação deve estar diretamente relacionada ao problema central da pesquisa. Em seu estudo sobre a relação entre o processamento de dados gráfico-visuais e as decisões originais de projeto, Akin e Lin (1995) identificam que os desenhos produzidos durante o protocolo de análise podem ser agrupados de acordo com a escala gráfica e o propósito a que se destinam ao longo do processo de projeto. A segmentação do protocolo mostra que a fase de projeto que trata da concepção apresenta desenhos em escalas menores, sem muitos detalhes, enquanto a fase de desenvolvimento e representação das ideias começa a detalhar o objeto em escalas maiores.

Goldschmidt (1991), por exemplo, propõe a divisão do processo de concepção em movimentos de projeto e argumentos, onde os movimentos correspondem ao “ato de raciocínio que apresenta uma proposição coerente que diz respeito a uma entidade que está sendo concebida” (GOLDSCHMIDT, 1991, p.125), já os argumentos são declarações ligadas a algum aspecto de um movimento.

Outra divisão é proposta por Suwa e Tversky (1997) em segmentos de mudança de foco e continuidade. O primeiro indica que o projetista mudou o tópico de atenção dentro do projeto, já no segundo continua-se a explorar os tópicos anteriores possibilitando reflexões mais detalhadas.

A segmentação adotada por Goel (1995) é baseada em episódios que correspondem às diferentes soluções geradas pelo projetista e que foram relacionados com os desenhos produzidos durante a sessão. Ao tratar da maneira como esses episódios surgem, é colocado que as soluções sofrem transformações laterais e verticais à medida que o grau de definição e detalhamento do objeto em concepção vai aumentando. Transformações laterais acontecem quando se movimenta de uma ideia para outra diferente, assim o tema do desenho é alterado para outros, apesar de tratar do mesmo objeto. Os movimentos verticais transformam uma ideia em outra mais detalhada, onde os novos desenhos enfatizam a ideia anterior, seja explicando ou detalhando. Dessa maneira, a representação gráfica vai progressivamente reduzindo a natureza indefinida do processo de projeto (GOEL, 1995).

Investigações baseadas em reflexões teóricas ou que simulam a mente humana através de técnicas de inteligência artificial situam-se mais distantes da prática do projeto arquitetônico. Esses métodos podem revelar aspectos mais abstratos do projeto, ao mesmo tempo que exigem uma maior bagagem teórica e conhecimento técnico específico dos pesquisadores.

Diante das limitações de cada método, deve-se observar quais características pode- se abrir mão e quais são indispensáveis para o estudo proposto. A escolha do método a ser utilizado deve considerar a questão que se quer investigar, as limitações de recursos dos pesquisados (tempo, equipamentos, etc) e a disponibilidade do projetista em ser investigado.