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7.1 Projeto 1 Escritório A

7.1.1 A narrativa ilustrada

Ao iniciar a narrativa sobre o edifício de hospedagem, o arquiteto avançou logo para explicar a solução final, desconsiderando as opções que surgiram durante o processo de projeto e que por algum motivo acabaram sendo descartadas. Ou seja, não foram observadas movimentações laterais (GOEL, 1995) nessa entrevista.

O Arquiteto A afirmou que a definição do partido do projeto deveu-se muito mais aos elementos naturais do entorno e às condições ambientais, insolação e ventilação natural, do que às restrições do programa que, segundo ele, não era muito complexo. O primeiro desenho realizado foi uma planta do pavimento tipo de hospedagem (Figura 23) que preencheu uma porção considerável da folha. Entretanto, apesar da sua dimensão possibilitar a representação dos ambientes internos, o arquiteto representou a planta como uma espécie de diagrama de zoneamento, onde foram indicados grandes grupos de funções identificados por hachuras diferentes.

Figura 23. Planta do pavimento tipo situado no terreno (D12 – Escala: 1/4003)

Fonte: Arquiteto A.

O desenho dessa planta começou com a indicação dos limites do terreno e com a caracterização do seu entorno imediato, que possui um calçadão público e um lago logo à frente. Esse elemento natural, juntamente com a orientação predominante dos ventos, foi o que definiu a orientação dos dormitórios, que eram os principais espaços do programa e foram distribuídos em três pavimentos acima do térreo. O posicionamento paralelo ao lago também evitou a insolação direta durante o período da tarde.

Em seguida o arquiteto acrescentou as áreas que abrigam as atividades que dão suporte para a zona de descanso dos enfermos, como um posto médico, banheiros coletivos, áreas de convívio e circulações verticais.

A ligação entre todos os pavimentos foi estabelecida a partir de duas escadas em extremidades opostas, um elevador de caráter emergencial e uma rampa. A utilização dessa rampa foi justificada pela necessidade de reduzir o número de elevadores e acabou configurando-se como um importante elemento na composição do edifício,

2 Nomenclatura utilizada para ordenar os desenhos na sequência em que apareceram na narrativa do arquiteto.

3 A escala gráfica indicada corresponde à relação dimensional, aproximada, entre os desenhos originais do projeto e os desenhos feitos pelo arquiteto durante a entrevista. Os desenhos dispostos ao longo do texto apresentam escalas gráficas distintas, uma vez que foram redimensionados para se adequar ao tamanho da folha A4.

uma vez que a opacidade do seu volume se contrapõe à transparência do bloco de hospedagem.

Um único corredor central foi orientado no sentido longitudinal da planta para conectar todos os ambientes do pavimento tipo e dividir a zona dos quartos do setor de apoio médico. Essa grande circulação linear também conectou o conjunto de circulação vertical principal, conformado por um elevador e uma escada situados junto ao acesso, à rampa situada na outra extremidade da planta.

Junto à rampa posicionou-se uma outra escada que liga os pavimentos de hospedagem diretamente à área de recreação externa situada no térreo. Ao contrário da escada principal, que possui um fechamento opaco, essa circulação alternativa é totalmente aberta, apresentando apenas guarda-corpos. Outra característica sua é o pilar central que confere um elemento de verticalidade ao edifício e que gera contraste com as linhas horizontais das varandas dos dormitórios que dominam a linguagem da fachada.

Assim, essa mesma planta foi utilizada para tratar tanto de aspectos relacionados ao terreno e ao entorno imediato, como sobre a distribuição espacial, fluxos, circulações do pavimento tipo, além de características estéticas da edificação.

Em seguida, o arquiteto utilizou um corte transversal (Figura 24) para apresentar mais claramente a estruturação do edifício em níveis. Da mesma maneira que no desenho da planta do pavimento, primeiramente foram abordados e representados aspectos ligados ao entorno, como a lagoa e o passeio que a circunda. Ressaltou-se o fechamento do terreno com um gradil de modo a manter a permeabilidade visual entre o interior do lote e esse espaço público que está logo à frente.

Figura 24. Corte transversal da edificação e do entorno imediato (D2 – Escala: 1/150)

À representação do terreno foram adicionados o pavimento térreo, três andares de hospedagem com vista permanente para a lagoa e um terraço na última laje, todos conectados pela rampa. Esse último pavimento configurou-se como mais uma opção de espaço de convivência para os usuários do edifício. Como estratégia para amenizar os efeitos da insolação direta sobre essa laje descoberta, foi proposta uma marquise de sombreamento que também tinha a finalidade de integrar os diferentes volumes da fachada.

Para ilustrar as questões que foram abordadas anteriormente, o arquiteto passou para o desenho da fachada principal (Figura 25) onde foram identificados os três pavimentos de hospedagem, o térreo e o terraço. O entrevistado chamou atenção para o volume cego da rampa e da escada principal, assim como para a verticalidade do pilar que estrutura a escada secundária, à esquerda, e que atua como um contraponto para a horizontalidade das varandas das hospedagens.

Figura 25. Fachada principal do edifício (D3 – Escala: 1/250)

Fonte: Arquiteto A.

O bloco dos banheiros comuns, expresso externamente por uma série de pequenas janelas altas, foi apresentado como um volume semitransparente que faz a transição entre a opacidade da alvenaria da rampa e a transparência das janelas de vidro do bloco de hospedagem.

Mais uma vez o arquiteto pontuou a importância da marquise do terraço como um elemento que procurou integrar os diferentes volumes da composição e proporcionar o sombreamento que torna a utilização desse espaço mais confortável durante o dia. Essa sombra foi representada com muita ênfase no desenho, o que destacou a linha horizontal da marquise e a sua função de proteção solar.

Na sequência, o arquiteto passou para outro desenho em planta (Figura 26), desta vez em escala bem reduzida, para falar da relação do edifício com o entorno. Ressaltou-se a possibilidade de observar o projeto de diversos pontos do passeio que margeia a lagoa.

Figura 26. Planta com a situação do edifício em relação à lagoa (D4 – Escala: 1/3.000)

Fonte: Arquiteto A.

Após esse desenho o Arquiteto A voltou a desenhos já realizados para reforçar pontos tratados anteriormente e acrescentou questões relacionadas aos usos dos espaços. Também foi colocado que a intenção de diferenciar os volumes com diferentes níveis de opacidade teve como objetivo diferenciar os diversos usos do edifício.

O arquiteto finalizou a narrativa afirmando que algumas soluções formais do edifício não foram consequência de demandas específicas do projeto, mas fazem parte de seu repertório pessoal de soluções que ele utiliza quando oportuno e que se somam às demandas específicas do projeto. Essa prática já havia sido relatada por ele na primeira entrevista sobre os aspectos gerais do processo de projeto de seu escritório e foi relacionada com o conceito de “princípios condutores” (LAWSON, 1993, 2011).