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O instituto da extradição

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA AMÁLIA PRADE DOMINGUES

O INSTITUTO DA EXTRADIÇÃO: UMA REFLEXÃO DOS

PROCEDIMENTOS E DA SUA IMPORTÂNCIA PARA O ESTADO BRASILEIRO

Florianópolis 2011

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AMÁLIA PRADE DOMINGUES

O INSTITUTO DA EXTRADIÇÃO: UMA REFLEXÃO DOS

PROCEDIMENTOS E DA SUA IMPORTÂNCIA PARA O ESTADO BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Relações Internacionais, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do titulo de Bacharel em Relações Internacionais.

Orientador: Prof. Denis de Souza Luiz, Esp.

Florianópolis 2011

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AMÁLIA PRADE DOMINGUES

O INSTITUTO DA EXTRADIÇÃO: UMA REFLEXÃO DOS

PROCEDIMENTOS E DA SUA IMPORTÂNCIA PARA O ESTADO BRASILEIRO

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais e aprovado em sua forma final pelo Curso de Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Florianópolis, _______ de junho de 2011.

_______________________________________________ Prof. e orientador Denis de Souza Luiz, Esp.

_______________________________________________ Prof.

_______________________________________________ Prof.

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Dedico este trabalho a minha mãe Glacir Prade, que sempre me apóia e incentiva em todas as decisões tomadas por mim, além de servir de alicerce em minha vida.

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer a todas as pessoas que direta ou indiretamente tornaram possível a realização deste trabalho de conclusão de curso. Suas contribuições, quaisquer que fossem, determinaram o rumo e nortearam a busca que resultou nesta pesquisa.

Obrigada ao meu orientador, e muitas vezes professor, Denis de Souza Luiz, que não só forneceu elementos e conhecimentos necessários para dar forma a este trabalho, como também inspirou a construção e o desenvolvimento do mesmo, bem como sempre esteve presente para ajudar a resolver dúvidas e pequenos problemas na elaboração da pesquisa.

Obrigada a minha mãe e advogada, Glacir Medeiros Prade, que sempre esteve presente para dar qualquer apoio, fosse este apenas moral, fosse com o empréstimo ou o financiamento de livros (e do próprio curso de Relações Internacionais) que serviram como base para esta pesquisa.

Obrigada aos advogados e funcionários do escritório Prade & Prade Advogados, que não só me emprestaram livros, como também me ajudaram a buscar em seus conteúdos quais seriam os mais adequados para esta pesquisa. Um obrigada em especial ao meu tio Péricles Prade, não só por ter me emprestado seu material, mas também por sempre ter acreditado em mim e depositado confiança na carreira em que escolhi seguir.

Obrigada aos familiares e amigos que deram suporte e apoio moral, além de terem sido extremamente compreensivos com a minha “agenda apertada” escrevendo o trabalho.

Obrigada também aos professores, funcionários e coordenação do curso de Relações Internacionais, pois de alguma forma vocês moldaram, apoiaram, inspiraram e direcionaram a construção do conhecimento necessário para a conclusão desta jornada.

Cada um de vocês me ajudou a desenvolver competências e habilidades necessárias não só para a conclusão do curso ou deste trabalho, mas também para a vida. Sem vocês, nada disto seria possível.

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RESUMO

O presente estudo tem como objetivo identificar quais são os procedimentos do processo de extradição e avaliar a sua importância para o Estado brasileiro. O crime globalizado, ou seja, decorrente da globalização, é um fator que torna as medidas compulsórias (expulsão, deportação, repatriamento e extradição) necessárias à segurança dos Estados. Para definir a situação jurídica do estrangeiro no Brasil e regular a utilização das medidas supramencionadas, aplica-se a Lei nº 6.815 de 19 de agosto de 1980, mais conhecida por Estatuto do Estrangeiro. A fim de que a matéria possa ser melhor compreendida, examina-se, ainda que brevemente, os conceitos de Estado e nacionalidade, estando o primeiro ligado em especial à sua organização política e administrativa e a segunda aos direitos dos cidadãos, conforme a Constituição Federal de 1988. No que se refere ao instituto da extradição propriamente dito, pode ser definido como o ato pelo qual um Estado entrega um indivíduo acusado de fato delituoso (ou já condenado) à justiça de outro para julgá-lo e/ou puni-lo. Existem desafios ao Poder Judiciário quanto à extradição nos dias atuais, sendo muitos, inclusive, porém analisados cada qual, no Brasil, com base no Estatuto acima referido, nos Tratados Internacionais, nas promessas de reciprocidade, enfim, com o objetivo sempre de tornar possível a medida em benefício ao Estado requerente e com proteção ao extraditando. É, enfim, um procedimento de cooperação internacional que visa a paz e o bem estar social.

Palavras-chave: Estado. Nacionalidade. Estatuto do Estrangeiro. Medidas Compulsórias. Extradição. Procedimentos.

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ABSTRACT

The present study aims to identify which are the procedures of the extradition process, and to evaluate its importance to the Brazilian State. Globalized crime, in other words, crime due to globalization, is a factor that makes the compulsory measures (expulsion, deportation, repatriation and extradition) necessary to the States’ security. To define the legal situation of a foreigner in Brazil, and to regulate the utilization of the measures aforementioned, it is applied the Law No. 6.815 of August 19th, 1980, also known as Foreigner’s Regulations. In order that the theme can be best understood, it is examined, though briefly, the concepts of State and nationality, being the first connected especially to its political and administrative organization, and the second to the citizens’ rights, according to the Constitution of 1988. With regard to the extradition’s institute itself, it can be defined as the act whereby a State surrenders an individual accused of criminal fact (or convicted already) to the justice of other to judge or to punish him. There are many challenges to the judiciary on extradition nowadays, but each one analyzed, in Brazil, based on the Regulations above-mentioned, on the International Treaties, on the reciprocity promises, at last, always with the objective of making possible the measure in benefit to the requesting State, and with protection to the person that is being extradited. Extradition is, finally, a process of international cooperation that seeks peace and social welfare.

Key words: State. Nationality. Foreigner’s Regulations. Compulsory Measures. Extradition. Procedures.

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SUMÁRIO

1INTRODUÇÃO ... 11

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA ... 12

1.2 OBJETIVOS ... 13 1.2.1 Objetivo geral ... 13 1.2.2 Objetivos específicos ... 13 1.3 JUSTIFICATIVA ... 14 1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 14 1.4.1 Caracterização da Pesquisa ... 15 1.5 ESTRUTURA DA PESQUISA ... 15 2REVISÃOBIBLIOGRÁFICA ... 17 2.1 O ESTADO ... 17 2.1.1 A ORIGEM DO ESTADO ... 17 2.1.2 CONCEITO DE ESTADO ... 18

2.1.3 O PODER POLÍTICO DO ESTADO ... 19

2.1.4 OS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO ESTADO ... 21

2.2 A NACIONALIDADE... 23

2.2.1 CONCEITO DE NACIONALIDADE ... 23

2.2.2 NACIONALIDADE ORIGINÁRIA ... 25

2.2.3 NACIONALIDADE DERIVADA ... 25

2.2.4 APATRÍDIA E POLIPATRÍDIA ... 26

2.3 A CONDIÇÃO DE ENTRADA E PERMANÊNCIA DO ESTRANGEIRO NO BRASIL ... 27

2.3.1 O ESTATUTO DO ESTRANGEIRO ... 28

2.3.2 OS TIPOS DE VISTOS CONCEDIDOS PELO BRASIL ... 29

2.4 AS MEDIDAS COMPULSÓRIAS ... 30

2.4.1 O REPATRIAMENTO ... 30

2.4.2 A DEPORTAÇÃO ... 31

2.4.3 A EXPULSÃO ... 32

2.4.4 A EXTRADIÇÃO ... 33

2.5 O INSTITUTO DA EXTRADIÇÃO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO ... 37

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2.5.1 UM ESCORÇO HISTÓRICO DA EXTRADIÇÃO NO BRASIL ... 37

2.5.2 A CONCESSÃO DA EXTRADIÇÃO NO DIREITO BRASILEIRO ... 38

2.5.3 O PROCEDIMENTO ... 41

2.5.4 A COMPETÊNCIA E O PAPEL DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF) ... 44

2.5.5 A EXTRADIÇÃO DOS NACIONAIS ... 48

2.6 ASPECTOS DESTACADOS DOS DESAFIOS ATUAIS DA EXTRADIÇÃO .... 49

2.7 A IMPORTÂNCIA DO INSTITUTO DA EXTRADIÇÃO PARA AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL ... 60

3CONSIDERAÇÕESFINAIS ... 62

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1 INTRODUÇÃO

O aumento acelerado das relações entre os Estados e nações, sejam as relações comerciais, financeiras, econômicas, políticas, intelectuais ou sociais; a expansão dos meios de transporte e comunicação; as desigualdades e aumento da criminalidade; a globalização como um todo, alimentam a importância à integração entre eles, não só no âmbito das fronteiras territoriais, mas até mesmo ultrapassando-as.

Cria-se, com isso, uma necessidade de se desenvolver e de se aplicar mecanismos para evitar conflitos, sejam eles físicos, como uma guerra propriamente dita, ou diplomáticos, como realizar ações consideradas inamistosas a outros países (dificultar a obtenção de um visto, por exemplo).

Devido ao grande número de migrações facilitadas pela maior integração entre os Estados, possibilita-se, também, o desenvolvimento de políticas e leis que controlem a movimentação das gentes.

Pelo fato de o Direito Internacional objetivar a paz entre os Estados, bem como a harmonia entre eles, não resta dúvida de que é preciso estabelecer regras de convivência e de cooperação a fim de descartar arbitrariedades no campo dos direitos humanos.

Por isso, é preciso que os migrantes obedeçam a regras e normas internas dos países para onde estão se dirigindo, a fim de legalizar suas estadas, sejam elas temporárias ou permanentes.

Os países, a respeito da matéria, tem legislado de modo que aos migrantes ilegais, ou até mesmo legais, mas que desobedeçam a alguma norma em um período futuro ao momento da entrada no país em que se encontram, ou que tenham cometido algum crime fora, anteriormente à entrada, cabe à aplicação de medidas de punição, dentre as mais conhecidas, destaca-se a expulsão, a deportação, e o principal objeto deste estudo, a extradição.

No Brasil, o instituto da extradição é previsto no artigo 5º da Constituição Federal de 1988, e regulado pelo Estatuto do Estrangeiro por intermédio da Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980.

Ressalta-se desde já, no tocante à extradição de nacionais, que após o amadurecimento de entendimentos a respeito, os legisladores optaram por não expor os brasileiros a países que, muitas vezes, realizam julgamentos não imparciais, colocando em risco a sua integridade física e psicológica.

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Para provocar uma melhor compreensão desse instituto, sobre quais são os seus principais procedimentos e sua importância, o presente trabalho pretende apresentar as informações relevantes não só da extradição propriamente dita, mas também de conceitos de Estado e nacionalidade.

Quanto ao Estado, será abordada a sua origem, seu poder político, e seus principais elementos constitutivos.

Sobre a nacionalidade, além de seu conceito geral, serão apresentadas as formas de sua obtenção, como a de direito de sangue e a de direito de solo, os casos de polipatrídia (mais de uma nacionalidade) e apatrídia (sem nacionalidade alguma), permitindo-se, desta forma, melhor facilidade na compreensão da matéria.

Após os estudos sobre o Estado e a questão da nacionalidade, abordar-se-ão as medidas compulsórias: a expulsão, a deportação, o repatriamento, e, finalmente, a extradição.

Far-se-á, no que e refere à última, um escorço histórico dela no Brasil, em especial no que toca a sua concessão, seus procedimentos, competências, ao papel do Supremo Tribunal Federal (STF) nessa esfera, e, ainda, à extradição de nacionais que, repete-se, é constitucionalmente inadmissível.

Antes ainda de se avaliar a importância do instituto para o Estado brasileiro, analisar-se-á os desafios atuais que enfrenta, pois é por causa de obstáculos decorrentes de tecnologia avançada e, notadamente da globalização, que favorecem, muitas vezes, a delinquência, tornando a extradição importante ou não.

Portanto, serão discutidos itens relacionados ao tema e problema de pesquisa, objetivos geral e específicos, tudo devidamente justificado na fase própria, conforme verifica-se a verifica-seguir.

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA

O seguinte estudo tem como tema de pesquisa o instituto da extradição, sendo que suas delimitações são: os procedimentos e sua importância. Conceitua-se, também, Estado e nacionalidade.

O problema de pesquisa refere-se aos procedimentos e à importância do instituto da para o Estado brasileiro.

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A pergunta do problema de pesquisa é o seguinte questionamento: Quais são os principais procedimentos e a importância do instituto da extradição para o Estado brasileiro?

1.2 OBJETIVOS

A seguir, definir-se-á o objetivo geral e os específicos, a fim de determinar o propósito do trabalho e seus delineamentos.

1.2.1 Objetivo geral

Identificar quais são os procedimentos do processo de extradição e avaliar a sua importância para o Estado brasileiro.

1.2.2 Objetivos específicos

Os objetivos específicos da seguinte pesquisa são:

a) Vislumbrar o termo “Estado” e explicar sua origem, seu poder político e discorrer sobre seus elementos constitutivos;

b) Analisar o termo “nacionalidade” e explicar as diferenças entre a nacionalidade originária e a nacionalidade derivada;

c) Compreender as condições de entrada e permanência do estrangeiro no Brasil, apresentando o Estatuto do Estrangeiro e diferenciando os tipos de visto concedidos pelo Brasil;

d) Demonstrar as medidas compulsórias: o repatriamento, a deportação, a expulsão, e a extradição;

e) Refletir acerca dos procedimentos do processo de extradição, os desafios os quais ela enfrenta, e sua importância para o Estado brasileiro.

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1.3 JUSTIFICATIVA

Castro (1978 apud MATTAR, 2005, p. 61) demonstra os critérios que devem ser atendidos para que se justifique uma pesquisa e, dentre eles, cita a importância, cuja definição, segundo ele, é “quando [o tema] está, de alguma forma, ligado a uma questão crucial que polariza ou afeta um segmento substancial da sociedade”, e se apresenta nesta pesquisa em duas formas: a importância acadêmica, que objetiva levar o conteúdo adquirido em sala de aula para o dia-a-dia; e a importância para a Universidade, que permite a integração do acadêmico com o ambiente, promovendo a construção do conhecimento e do desenvolvimento intelectual.

É de muito valor, tanto para o internacionalista, quanto para qualquer outro cidadão, compreender a questão do instituto de extradição no ordenamento jurídico brasileiro, uma vez que o tema vem sendo bastante abordado nos últimos anos, inclusive pela mídia, devido ao número crescente de casos.

Logo, a importância da presente pesquisa se justifica, para o internacionalista, na compreensão do instituto da extradição no ordenamento jurídico brasileiro, porque o faz conhecer os seus procedimentos e ter noções de Estado e nacionalidade.

Este trabalho também é pertinente para acadêmicos e profissionais de outras áreas, mas que tenham interesse em melhor compreender o cenário político internacional e os motivos pelos quais os casos de extradição são julgados (positiva ou negativamente), inclusive pela mídia, que vem mostrando ao cidadão diariamente fatos dessa natureza, podendo associar tais notícias aos procedimentos do instituto da extradição, suas causas, etc.

Finda a justificativa, segue-se para os procedimentos metodológicos.

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A seguir, a caracterização da pesquisa e a teoria utilizada para a obtenção e análise de dados.

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1.4.1 Caracterização da Pesquisa

Segundo Cruz e Ribeiro (2003, p. 11), “pesquisa é o mesmo que busca ou procura. [...] a finalidade da pesquisa não é a acumulação de fatos (dados), mas sua compreensão [...]”.

A presente pesquisa tem, sobretudo, caráter qualitativo, tentando alcançar uma compreensão detalhada do que será aqui apresentado. É, também, descritiva e exploratória, uma vez que pode levar a novos conhecimentos e percepções, além de apoiar ou maturar o modo como se entende os fatos.

As pesquisas descritivas tem como objetivo primordial, de acordo com Gil (1996, p. 46), descrever características de determinada população ou fenômeno, como no caso do instituto da extradição brasileiro e seus procedimentos, ou de estabelecer relações entre variáveis.

As pesquisas exploratórias tem como objetivo, de acordo com Gil (1996, p. 45), proporcionar maior familiaridade com o problema, a fim a torná-lo mais explícito. O autor diz ainda que estas pesquisas tem como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições.

Para a produção do trabalho, foi utilizada também a pesquisa bibliográfica e endereços eletrônicos.

No próximo item será abordada a estrutura da pesquisa.

1.5 ESTRUTURA DA PESQUISA

A estrutura do presente trabalho divide-se em capítulos cujos sub-itens serão devidamente detalhados à frente.

O primeiro capítulo é reservado para a introdução, o tema da pesquisa e sua delimitação, a problemática, os objetivos geral e específicos, bem como a justificativa e os procedimentos metodológicos.

O segundo capítulo apresenta a base teórica e respectiva revisão bibliográfica, a qual sustenta o trabalho, além de trazer a apresentação e a análise dos dados.

O terceiro capítulo é reservado para as considerações finais. Por fim, são apresentadas as referências e bibliografia utilizadas para o desenvolvimento da pesquisa.

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A partir deste momento passar-se-á a delinear os contornos que darão forma a esta pesquisa, com a apresentação da revisão bibliográfica dos temas e suas relevâncias para a problemática apresentada e suas respectivas abordagens teóricas, conceituais e práticas. Será feita também a apreciação crítica à luz dos objetivos dessa pesquisa.

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2REVISÃOBIBLIOGRÁFICA

A partir deste momento passa-se a delinear os contornos que darão forma a essa pesquisa, com a apresentação da revisão bibliográfica dos temas e suas relevâncias para a problemática apresentada e suas respectivas abordagens teóricas, conceituais e práticas.

2.1 O Estado

O Estado é um dos principais atores internacionais, pois o bem estar da população mundial, como todo, depende de sua organização político-administrativa e bom relacionamento com os demais atores.

Versando a pesquisa o instituto da extradição, o qual exige a cooperação internacional, torna-se importante estudar o Estado, cujas características, tais como a sua origem, o seu conceito, o seu poder político, e os aspectos de seus elementos constitutivos serão abordadas nos itens a seguir transcritos.

2.1.1 A origem do Estado

Verifica-se que o Estado, na realidade, já existe há muito tempo, pois desde o surgimento do homem no planeta Terra, reuniam-se em grupos a fim de facilitar a sobrevivência, e é muito provável que já nessa época elegiam um líder para “governar”, guiá-los em suas jornadas. Após o período nômade, essas pequenas sociedades (povo) “governadas” por alguns (governo) passaram a se fixar em lugares específicos (território).

Após tal reflexão, parte-se para os delineamentos de alguns autores quanto à origem do Estado.

Segundo Zimmermann (2002, p. 17), confunde-se com a formação do Estado, a formação das sociedades políticas; a polis grega e a civitas romana são chamadas de Estado para fins didáticos ou simplificativos, tanto quanto outras organizações políticas precedentes à Idade Moderna.

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Ceneviva (2003, p. 41) afirma que a criação estatal que conhecemos tem menos de cinco séculos.

De acordo com Mazzuoli (2008, p. 383), a entidade conhecida por Estado, com seus contornos modernos, aparece entre os séculos XV e XVI, e a partir do século XVIII, o “Estado moderno e a Nação moderna fundem-se para formar o chamado Estado-nação, que tem mostrado sua superioridade em relação tanto às cidades-Estado (ou às suas federações) quanto aos herdeiros modernos dos antigos impérios”. (MAZZUOLI, 2008, p. 384).

Castro e Falcão (2004, p. 143) depreendem:

Duas hipóteses vêm-se mantendo na explicação da origem do Estado: uma de natureza interna e outra de natureza externa. A primeira baseia-se no critério da evolução: a organização passou da tribo para a confederação de tribos e finalmente para o Estado. A segunda considera o surgimento do Estado como resultado da conquista de um grupo sobre outro: pela dominação emergiu o controle do vencedor sobre o vencido.

Os autores denotam, ainda, que o desenvolvimento desde a família até a nação apresenta dimensões políticas, sociais e geopolíticas; a primeira compreendendo a evolução das civitas para o império, para o Estado-nação, e tendendo ao superestado; a segunda definindo a sucessão da família ao clã, à tribo, à confederação de tribos, à nação e à confederação de nações; a terceira partindo da caverna para a tenda, ao conjunto de tendas, ao conjunto de casas, à organização do conjunto de casas e do território. Essas três dimensões, juntas, oferecem a visão evolutiva que descreve o aparecimento do Estado. Há quem diga também, segundo Castro e Falcão (2004, p. 143), que a origem do Estado está associada a conflitos, a guerras, à escravização, à luta econômica, à cooperação, à conquista, ao comércio, à liderança, à simpatia, ou à simples federação voluntária de tribos.

2.1.2 Conceito de Estado

O Estado é uma entidade jurídico-social, basicamente constituída pelos elementos: povo, território (espaço delimitado) e governo (soberano), porém, é necessário comentar também a necessidade de um quarto elemento: o reconhecimento internacional. Povo e espaço delimitado, sem um governo, não constituem Estado, pois lhes falta soberania. É o caso, por

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exemplo, dos palestinos, bem como territórios sem povo, como a região polar da Antártida, que também não constituem Estado. (CENEVIVA, 2003, p. 31).

Os três elementos serão vislumbrados no item 2.1.4, porém antes será pontuado o poder político do Estado.

2.1.3 O poder político do Estado

Visando principalmente evitar o desrespeito aos direitos fundamentais do homem, a Constituição Federal de 1988 prevê a existência dos Poderes do Estado e da Instituição do Ministério Público (independentes e harmônicos entre si), dividindo entre eles as funções estatais e “prevendo prerrogativas e imunidades para que bem pudessem exercê-las, bem como criando mecanismos de controle recíprocos, sempre como garantia da perpetuidade do Estado democrático de Direito”. (MORAES, 2000, p. 356).

A separação dos poderes consiste em distinguir três funções estatais: legislação, administração e jurisdição, “que devem ser atribuídas a três órgãos autônomos entre si, que as exercerão com exclusividade”. (MORAES, 2000, p. 356).

Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, e a Instituição do Ministério Público se assemelham em virtude da independência e autonomia e finalidades constitucionais, além de exercerem funções únicas do Estado, com a finalidade de proteger a liberdade individual contra a vontade de governantes onipotentes, respeitando os direitos fundamentais.

A Instituição do Ministério Público, dentre suas várias funções, zela pelo equilíbrio entre os três Poderes, fiscalizando-os. Cada um desses órgãos tem uma parcela da autoridade soberana do Estado. (MORAES, 2000, p. 360).

Cada um dos três Poderes “possui uma função predominante, que o caracteriza como detentor de parcela da soberania estatal, além de outras funções previstas no texto constitucional. São as chamadas funções típicas e atípicas”. (MORAES, 2000, p. 362).

O Poder Legislativo tem como funções típicas legislar e fiscalizar, ambas tendo o mesmo grau de importância. Desse modo, se por um lado a Constituição Federal de 1988 prevê “regras de processo legislativo, para que o Congresso Nacional elabore as normas jurídicas, de outro, determina que a ele compete a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial do Poder Executivo”. (MORAES, 2000, p. 362).

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As funções atípicas do Poder Legislativo são administrar e julgar. A primeira ocorre, por exemplo, quando o Legislativo dispõe sobre sua organização e operacionalidade interna, “provimento de cargos, promoções de seus servidores; enquanto a segunda ocorrerá, por exemplo, no processo e julgamento do Presidente da República por crime de responsabilidade”. (MORAES, 2000, p. 262).

O Poder Executivo “constitui órgão constitucional cuja função precípua é a prática dos atos de chefia de Estado, de governo e de administração”. (MORAES, 2000, p. 406).

A Constituição Federal de 1988 confiou à chefia do Poder Executivo ao Presidente da República, “a quem compete seu exercício, auxiliado pelos Ministros de Estado, compreendendo, ainda, o braço civil da administração (burocracia) e o militar (Forças Armadas)” (MORAES, 2000, p. 406). A função típica do Poder Executivo, portanto, é administrar a coisa pública. Adicionalmente, tem como funções atípicas legislar e julgar. (MORAES, 2000, p. 406).

O Poder Judiciário não tem como função apenas administrar a Justiça, seu mister é “ser o verdadeiro guardião da constituição, com a finalidade de preservar, basicamente, os princípios da legalidade e igualdade, sem os quais os demais tornariam-se vazios” (MORAES, 2000, p. 432). São órgãos desse Poder: o Supremo Tribunal Federal (STF), o Superior Tribunal de Justiça, os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais, os Tribunais e Juízes do Trabalho, os Tribunais e Juízes Eleitorais, os Tribunais e Juízes Militares e os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios. (MORAES, 2000, p. 432).

A função típica do Poder Judiciário é julgar (função jurisdicional), que consiste “na imposição da validade do ordenamento jurídico, de forma coativa, toda vez que houver necessidade” (MORAES, 2000, p. 433). Suas funções atípicas são legislar e administrar. É de natureza administrativa, por exemplo, conceder férias a seus membros, enquanto que é de natureza legislativa editar as normas regimentais. (MORAES, 2000, p. 434).

Não existe Estado democrático de direito sem que haja a repartição dos poderes do Estado e instituições, independentes e harmônicas entre si. É essencial também a garantia dos direitos fundamentais e a existência de instrumentos que possibilitem a fiscalização e a perpetuidade desses requisitos. Todos estes temas “são de tal modo ligados que a derrocada de um, fatalmente, acarretará a supressão dos demais, com o retorno do arbítrio e da ditadura”. (MORAES, 2000, p. 361).

Com tal delineamento a respeito do poder político do Estado finalizado, parte-se para o item que aborda os elementos constitutivos do mesmo.

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2.1.4 Os elementos constitutivos do Estado

Como apontado no item 2.1.2, os três principais elementos constitutivos do Estado são o território, o povo, e um governo.

O território, enquanto elemento essencial do Estado, “é a base física do povo, sobre a qual incide o ordenamento jurídico; e os três Poderes exercem suas funções” (CENEVIVA, 2003, p. 32). O território não diz respeito apenas à superfície, mas também ao subsolo, ao espaço aéreo, ao mar territorial, a superfícies fisicamente situadas fora da sede principal do Estado (como por exemplo, o Alaska, em relação aos Estados Unidos da América), ou então dentro do território de outros Estados, às representações diplomáticas; explica Ceneviva (2003, p. 32-33). Mazzuoli (2008, p. 387) conclui:

Portanto, é imprescindível para a existência do Estado a existência de uma porção de terra (território) delimitada por faixas de fronteiras estendidas às linhas (retas ou curvas) formadoras dos limites, onde viva o seu povo e onde este desenvolva as suas atividades. É sobre esse território que o Estado irá exercer a sua soberania, em duplo aspecto: com imperium (exercendo jurisdição sobre a grande massa daqueles que nele se encontram) e com dominium (regendo-o, segundo sua própria e exclusiva vontade). Sob a ótica do Direito Internacional, o direito que o Estado tem sobre o seu território exclui que outros entes ali exerçam qualquer tipo de poder (jus

escludendi alios) e, de outro lado, lhe atribui amplíssimo direito de uso, gozo e

disposição (jus utendi, fruendi atque abutendi) desse espaço físico onde exerce o seu poder soberano.

O povo é o conjunto de pessoas, ainda que pequeno, “subordinadas ao mesmo ordenamento jurídico, providas de capacidade para exercerem os direitos deste decorrentes” (CENEVIVA, 2003, p. 34). Refere-se, também, ao conjunto de habitantes, como coletividade,

sociedade, todos, dentre outros; “só a designação povo caracteriza a titularidade dos direitos

inerentes ao pleno exercício do poder constituído” (CENEVIVA, 2003, p. 34). O termo

população tem funções estatísticas. Segundo Mazzuoli (2008, p. 385), a comunidade de

indivíduos que compõe o Estado é a verdadeira responsável pela sua continuidade enquanto pessoa jurídica de direito externo; no caso de falta de continuidade, o Estado deixa de ser uma ordem jurídica válida e eficaz, o que é raro de se acontecer. De acordo com Mazzuoli (2008, p. 385), o povo compreende não apenas os nacionais, mas também os natos e naturalizados, enquanto que a população é formada pelo povo mais os estrangeiros e apátridas radicados no território nacional, não havendo qualquer relação ética, política ou jurídica entre eles.

Os representantes do povo são os deputados, mas, conforme explana Ceneviva (2003, p. 34), os interesses comuns ou coletivos também podem ser defendidos por

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associações ou pelo Ministério Público. O Presidente da República se compromete a promover o bem geral do povo brasileiro.

O governo é o “aparelho administrativo do Estado, em todos os níveis, provido de autoridade, à qual se subordinam as pessoas e as entidades menores, integradas ao mesmo ordenamento” (CENEVIVA, 2003, p.36). Não há governo sem autoridade, porém, é necessário que essa autoridade seja criada e utilizada na forma de lei, por escolha do povo e em seu benefício, seguindo os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, e eficiência, presentes no artigo 37 da Constituição Federal de 1988.

Para Mazzuoli (2008, p. 389), o governo autônomo e independente trata-se do elemento político do conceito de Estado, frisando:

[O Estado] representado pela sua capacidade de eleger a forma de governo que pretende adotar, sem a ingerência ou a intromissão de terceiros Estados (ou quaisquer outras entidades exteriores) nos seus respectivos assuntos internos. Da mesma forma, é necessária a liberdade de condução de suas políticas interna e externa sem que haja qualquer tipo de subordinação jurídica vis-à-vis [cara-à-cara] de um poder externo. É indiferente a forma de governo que ali se adote, desde que a

ordem política do Estado esteja regularmente constituída, podendo ele impor a sua

autoridade à sociedade. Portanto, falar em “governo independente” significa, numa acepção moderna de sua característica primordial, falar no exercício de um poder jurisdicional do Estado sobre a sua população e nos limites de seu território lato

sensu [em amplo sentido]. Tal exercício de poder deve ser, ademais, efetivo

(concreto) e legítimo (ou seja, aceito pela sociedade internacional como um governo que não chegou ao poder em violação dos princípios básicos do Direito Internacional [reconhecimento internacional: o quarto elemento constitutivo do Estado]), requisitos sem os quais não se pode falar em verdadeira independência.

Outro ponto que cabe ser analisado antes de se partir para o item relativo à nacionalidade, é a diferenciação que há entre Estado e Nação, a fim de esclarecer a grande confusão existente a respeito dos dois termos, por parte de muitas pessoas. Os dois conceitos se relacionam, de fato, porém não significam as mesmas coisas. Enquanto que Estado é o conjunto de território, povo e governo, Nação é o resultado da associação de indivíduos de mesma origem étnica, que falem o mesmo idioma, que se vinculem aos mesmos precedentes históricos, que cultuem e preservem os usos, costumes, peculiaridades, tradições e sentimentos comuns, religiosos e ideológicos. Nação não tem significação jurídica, não indica a existência de um vínculo jurídico entre seus membros. (KLUGE, 2007).

Findas as explicações quanto ao conceito geral de Estado e seus elementos constitutivos, sua origem e seu poder executivo, além da nota relativa às diferenças entre Estado e Nação, prossegue-se para o tema da nacionalidade.

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2.2 A Nacionalidade

Esta pesquisa, pelo fato de envolver questão relativa à comunidade internacional, exige a análise da nacionalidade, tendo em vista que esta é um fator importante no momento da apreciação pelo órgão competente, no âmbito do direito brasileiro, no que se refere à entrega ou não do extraditando.

Os aspectos que serão demonstrados neste item são: os conceitos de nacionalidade, nacionalidade originária, nacionalidade derivada, apatrídia e polipatrídia.

2.2.1 Conceito de nacionalidade

A nacionalidade é “o laço jurídico pelo qual a pessoa física ou moral se vincula a uma nação determinada, o que implica num conjunto de direito e deveres, públicos e privados, que atribuem a um indivíduo a qualidade de cidadão dum Estado”. (SOARES, 2002, p. 233). É “um direito fundamental da pessoa humana” (MAZZUOLI, 2008, p. 608), e também “o vínculo jurídico-político que une permanentemente determinado Estado e os indivíduos que o compõem”. (MAZZUOLI, 2008, p. 606).

O objeto do direito da nacionalidade, segundo Mazzuoli (2008, p. 606), é a determinação dos indivíduos pertencentes ao Estado e submetidos à sua autoridade. Zimmermann (2002, p. 333) aduz que, com a nacionalidade:

O indivíduo faz parte do povo do Estado, obtendo direitos e vantagens decorrentes deste fato, passando também a assumir as obrigações exclusivas da condição de nacional. Desse modo, se o nacional goza de direitos políticos e acesso exclusivo à determinadas funções públicas, igualmente poderá ser compelido à prestação de serviço militar obrigatório. As legislações de cada Estado definem os direitos e deveres dos nacionais.

A nacionalidade “deve ser considerada como mantenedora de um vínculo de efetividade entre o indivíduo e o Estado” (ZIMMERMANN, 2003, p. 333). O autor ressalta ainda que, assim como o nacional adquire direitos e deveres perante determinado Estado, o mesmo se passa “com relação às normas internacionais, que podem ou não ser aplicadas sobre indivíduo, a depender fundamentalmente da sua nacionalidade”.

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Do ponto de vista jurídico, a “questão de nacionalidade não se associa ao sentido sociológico de nação, que significa um grupo de indivíduos identificados com uma mesma língua, traço cultural ou valores socialmente compartilhados” (ZIMMERMANN, 2002, p. 333). É importante, também, não confundir nacionalidade com cidadania, que é “a possibilidade do exercício dos direitos civis” (CENEVIVA, 2003, p. 35); um preso, por exemplo, pode ser um nacional, porém não goza de direito à cidadania, não podendo votar. A nacionalidade “é o conceito mais ligado aos aspectos internacionais do vínculo que liga o indivíduo a um Estado [...] enquanto que a cidadania tem características mais ligadas à participação do indivíduo no cenário nacional” (MAZZUOLI, 2008, p. 613). A nacionalidade também não deve ser confundida com o conceito de naturalidade, que “é apenas o local onde a pessoa efetivamente nasce”. (MAZZUOLI, 2008, p. 609).

Ao nacional, contrapõe-se o estrangeiro. A nacionalidade “nada mais é do que o estado de dependência em que se encontram os indivíduos perante o Estado a que pertencem”. (MAZZUOLI, 2008, p. 607).

Segundo Mazzuoli (2008, p. 607), trata-se de uma questão de soberania do Estado em três aspectos:

a) somente o Estado soberano pode atribuir ao indivíduo, pelo simples fato do nascimento, a sua nacionalidade; b) somente o Estado pode conceder a condição de

nacional aos estrangeiros, por meio de naturalização; e c) também, só ele pode

estabelecer os casos em relação aos quais seu nacional (seja nato ou naturalizado)

perde a sua nacionalidade. Essas são atribuições do Estado soberano. Nenhum

Estado federado tem competência para atribuir aos seus súditos nacionalidade (ainda que em alguns países isso seja costume, como na Suíça), uma vez que falta a estes personalidade jurídica internacional. Se o fazem, é tão-somente para uso interno, não podendo fazer valer, no plano internacional, uma pretensa prerrogativa de proteção de seu súdito. Somente o Estado Federal (não o federado...) é que pode atribuir nacionalidade aos seus cidadãos.

Cada país “é livre para legislar sobre a nacionalidade de seus indivíduos, sem que haja qualquer relevância a vontade pessoal ou os interesses privados destes, o que não significa que lhes sejam retirados o direito à escolha e ao exercício dessa nacionalidade”. (MAZZUOLI, 2008, p. 608).

Por fim, cabe ressaltar que existem dois tipos de nacionalidade: a originária (primária ou atribuída) e a adquirida (secundária, derivada ou de eleição). O indivíduo poderá obter o direito à determinada nacionalidade no momento do seu nascimento (nacionalidade originária) ou mediante situação posterior (nacionalidade adquirida), salienta Zimmermann (2003, p. 334). Os dois tipos de nacionalidade serão melhor esclarecidos nos itens que seguem, 3.2 e 3.3.

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2.2.2 Nacionalidade originária

Como verificado no item anterior, a nacionalidade originária (primária ou atribuída) dá-se no momento do nascimento do indivíduo.

São três os principais sistemas atributivos da nacionalidade originária: o jus soli (direito do solo), o jus sanguinis (direito do sangue), e o misto. O jus soli, de acordo com Zimmermann (2003, p. 335), é o sistema conferente da nacionalidade do território em que o indivíduo nasceu, e serve para incorporar os filhos dos imigrantes trazidos para o Estado, transformando-os em nacionais, visando o povoamento; a nacionalidade dos pais não tem qualquer relevância neste caso, sustenta Mazzuoli (2008, p. 620).

Contrário ao jus soli, o jus sanguinis, segundo Zimmermann (2003, p. 335), é o sistema que assegura ao indivíduo a nacionalidade dos ascendentes, e é importante para preservar a ligação dos filhos dos emigrantes ao Estado; neste caso, acentua Mazzuoli (2008, p. 619), que não importa o local onde nasceu o indivíduo, nem se os pais mudarem posteriormente de nacionalidade, uma vez que o jus sanguinis se baseia na nacionalidade que os genitores tinham na época de seu nascimento.

Quando o pai e a mãe tem nacionalidades diferentes, aplica-se um dos seguintes critérios: adota-se exclusivamente a nacionalidade do pai, ou a do pai com direito de opção pela da mãe, ou as duas, acrescenta Mazzuoli (2008, p. 620).

O sistema misto de obtenção de nacionalidade seria a combinação dos dois sistemas anteriores, buscando “evitar os choques de nacionalidade decorrentes do emprego exclusivo de um ou outro sistema, dando aplicação mais ou menos equânime aos critérios da filiação e territorial”. (MAZZUOLI, 2008, p. 620).

Findas as explanações quanto à nacionalidade originária, parte-se para a derivada no item que segue.

2.2.3 Nacionalidade derivada

Após registrar os três principais tipos de nacionalidade originária, prossegue-se a análise abordando a derivada. Como notado no item 2.2.1, a nacionalidade derivada

(26)

(adquirida, secundária ou de eleição) se dá em um momento posterior ao nascimento, mediante determinada situação.

Nacionalidade derivada é aquela que se processa depois do nascimento, e que precisa de posterior manifestação de vontade do indivíduo, salienta Zimmermann (2003, p. 336). As maneiras de se adquiri-la são: por casamento, por naturalização, por vontade ou permissão legal, por jus laboris, e em virtude de mutações territoriais.

A nacionalidade adquirida por casamento existe nos países em que a legislação permite que um cônjuge (normalmente a mulher) adquira a do outro, ratifica Zimmermann (2003, p. 336).

No caso de nacionalidade obtida por naturalização, o indivíduo que reside em um país estrangeiro e que deseja a nacionalidade dele, deve requerer a naturalização para o mesmo, mas, “por ser a sua concessão um ato de soberania, o êxito do pedido de naturalização é dependente do disposto na legislação interna de cada Estado” (ZIMMERMANN, 2003, p. 337). Quando for por vontade legal, o Estado “confere a nacionalidade independentemente de prévia manifestação de vontade do indivíduo”. (ZIMMERMANN, 2003, p. 336).

Tratando-se de nacionalidade adquirida por permissão legal, tem-se “o caso em que a lei exige a manifestação de vontade do indivíduo” (ZIMMERMANN, 2003, p. 336).

A nacionalidade adquirida por jus laboris é aquela que, “em virtude do exercício de atividade [...] alguns Estados permitem ao estrangeiro a aquisição de nacionalidade”. (ZIMMERMANN, 2003, p. 337).

Por fim, a nacionalidade adquirida em função de mutações territoriais, é concedida em casos de cessão ou anexação de territórios por Estado estrangeiro, conferindo aos habitantes “o direito de escolha entre ambas as nacionalidades; isto é a nacionalidade do antigo Estado ou a nacionalidade do novo Estado”. (ZIMMERMANN, 2003, p. 338).

Antes de se partir para o item 2.3 desta pesquisa, convém ressaltar, ainda, a existência dos apátridas e dos polipátridas, revelados no item que segue.

2.2.4 Apatrídia e polipatrídia

Cumpre ratificar a existência dos apátridas e dos polipátridas. O primeiro ocorre “quando o indivíduo, em função dos critérios de nacionalidade dos Estados, acaba por ficar desprovido de nacionalidade” (ZIMMERMANN, 2003, p. 338). Um exemplo de apátrida

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seria uma pessoa que nasceu em um país que adota o sistema jus sanguinis, não podendo ter como nacionalidade originária a deste país, e que o Estado da nacionalidade dos pais adote o sistema jus solis, não adquirindo, também, a nacionalidade dos pais. Uma pessoa pode ser apátrida, também, mediante a “retirada da nacionalidade adquirida, quando já se havia perdido a nacionalidade originária. Outro caso de apatrídia, enfim, surge com a retirada da nacionalidade de refugiados dos regimes totalitários comunistas” (ZIMMERMANN, 2003, p. 339). Zimmermann (2003, p. 339) assinala, ainda, que o apátrida está submetido à lei do seu domicílio e, na falta do mesmo, à lei da sua residência.

Os polipátridas, por sua vez, derivam da pluralidade de legislações, tornando-se indivíduos “nacional de dois ou mais países” (ZIMMERMANN, 2003, p. 339). Zimmermann (2003, p. 339) observa, ainda, que:

Inúmeras causas geram a polipatrídia (vide os diferentes modos de aquisição de nacionalidade), assim como surgem vários problemas advindos desta situação, tais como os casos de serviço militar e proteção diplomática. O ideal, portanto, é que o indivíduo tenha apenas uma, e não mais do que uma, nacionalidade.

Depreendidos os conceitos de nacionalidade, cidadania, naturalidade, e os tipos de nacionalidade (originária e adquirida), apatrídia e polipatrídia, parte-se, então, para as condições de entrada e permanência do estrangeiro no Brasil.

2.3 A condição de entrada e permanência do estrangeiro no Brasil

No Brasil, a condição jurídica do estrangeiro é regulada pela Lei nº 6.815 de 19 de agosto de 1980, mais conhecida por Estatuto do Estrangeiro. De acordo com Mazzuoli (2008, p. 649):

[...] Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980, alterada pela Lei nº 6.964/8, mais conhecida como Estatuto do Estrangeiro. A lei define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil e cria o Conselho Nacional de Imigração, além de tomar outras providências. Sua regulamentação vem expressa no Decreto nº 86.715, de 10 de dezembro de 1981.

Não se pode perder de vista o Estatuto do Estrangeiro (BRASIL, 1980), o qual será melhor abordado no item a seguir.

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2.3.1 O Estatuto do Estrangeiro

O Estatuto do Estrangeiro é a lei vigente que define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil e regula a utilização das medidas compulsórias para a sua retirada nas hipóteses de descumprimento das normas a ele pertinentes.

Antes de se explicar quais as condições de entrada e permanência do estrangeiro no Brasil, convém notar, outrossim, que, ao escolher quem são seus nacionais, o Estado “automaticamente classifica como estrangeiros todos os demais indivíduos que estejam em seu território, quer a título provisório ou definitivo, os quais poderão ter a nacionalidade de outro Estado ou não ter nenhuma nacionalidade” (MAZZUOLI, 2008, p. 648) , os apátridas. Estrangeiro é quem nasceu fora do território de um Estado, que não tem jus sanguinis em relação a ele, e que não tenha adquirido a sua nacionalidade do mesmo.

Para adquirir a condição de estrangeiro, “basta que a pessoa se locomova da jurisdição do Estado a que pertence e passe a jurisdição de outro, sem integrar a massa dos nacionais deste Estado”. (MAZZUOLI, 2008, p. 648).

Cabe ressaltar que há tanto estrangeiros residentes em um país, quanto estrangeiros que se encontram em trânsito, os estrangeiros não residentes. Os residentes, como o nome já diz, vivem em um país que não é seu de origem, ali estudam, trabalham, ou seguem suas vidas. Os estrangeiros não residentes, por sua vez, são aqueles que se encontram em trânsito, que estão viajando de um pais para outro e passam, rapidamente, por um terceiro país. (MAZZUOLI, 2008, p. 649).

Roborando o assunto, é princípio recorrente aceito no Direito Internacional, que “um Estado não é obrigado a aceitar, em seu território, o ingresso de estrangeiros, quer a título provisório ou permanente”. (MAZZUOLI, 2008, p. 649). O Estado, segundo o autor:

Também é livre para aceitá-los somente em determinados casos e em condições que lhe pareçam adequadas. A admissão de estrangeiros no Estado é, portanto, ato discricionário deste. Não se conhece, entretanto, Estado que se utilize dessa prerrogativa teórica para fechar definitivamente suas portas aos estrangeiros, notadamente na época contemporânea. Normalmente os Estados admitem estrangeiros em seus territórios, momento a partir do qual esses mesmos Estados passam a ter deveres em relação a tais pessoas, variando em maior ou menor grau, dependendo da natureza do ingresso.

Os estrangeiros no Brasil podem receber diferentes títulos. O estrangeiro que ingressa no país “com ânimo definitivo” (MAZZUOLI, 2008, p. 649), é denominado

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imigrante, enquanto que o estrangeiro que aqui permanece temporariamente é denominado forasteiro.

2.3.2 Os tipos de vistos concedidos pelo Brasil

Nos termos do Estatuto do Estrangeiro (BRASIL, 1980), ao estrangeiro que pretenda ingressar no Brasil, pode ser concedido visto: de trânsito, de turista, temporário, permanente, de cortesia, oficial, e/ou diplomático (concedido a representantes de potências estrangeiras). O visto é individual, porém pode se estender a dependentes legais. O Estatuto (BRASIL, 1980) também “faculta a dispensa de visto de turista ao nacional de país que também dispense idêntico visto aos brasileiros, devendo tal reciprocidade ser estabelecida por meio de tratado internacional”. (MAZZUOLI, 2008, p. 650).

De acordo com o Estatuto do Estrangeiro (BRASIL, 1980), o visto de trânsito pode ser concedido ao estrangeiro que tenha que passar pelo território brasileiro para atingir um outro país de destino (válido por até 10 dias).

O visto de turista pode ser concedido ao estrangeiro que venha em caráter recreativo ou de visita, sem fins imigratórios, nem intuito de exercer atividade remunerada, com prazo de até cinco anos, proporcionando mais de uma entrada no país, com estadas não excedentes a noventa dias (prorrogáveis a igual período, totalizando um máximo de 180 dias por ano).

O visto temporário pode ser concedido ao estrangeiro que pretende vir ao Brasil em viagem cultural, de estudos, de negócios, na condição de artista ou desportista, estudante, cientista, professor, técnico, correspondente de jornal, revista, rádio, televisão, ou agência noticiosa estrangeira, ministro de confissão religiosa ou membro de instituto de vida consagrada e de congregação ou ordem religiosa, sendo de até noventa dias, um ano ou correspondente à duração da missão, contrato ou prestação de serviços.

O visto permanente pode ser concedido ao estrangeiro que pretende se fixar definitivamente no Brasil.

Os estrangeiros que ingressam no Brasil sem a necessidade de visto, devido à reciprocidade em relação a outros Estados, não tem a presença no nosso território presumida como definitiva, pelo contrário, “será sempre temporária”. (MAZZUOLI, 2008, p. 652).

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Assim sendo, no próximo item, serão assinaladas as medidas compulsórias e institutos que possibilitam a retirada à força do estrangeiro do país.

2.4 As medidas compulsórias

Insta acentuar que são três as mais conhecidas medidas compulsórias e institutos que possibilitam a retirada forçada do estrangeiro do país: a deportação, a expulsão, e a extradição, sendo as duas primeiras sempre de iniciativa das autoridades locais, e a terceira sempre requerida ao Estado onde se encontra o extraditando por alguma outra potência estrangeira. A deportação e a extradição são “sanções administrativas aplicadas ao estrangeiro em decorrência de sua entrada ou estada irregular no território nacional, ou em virtude de ter sido ele considerado nocivo à ordem pública ou aos interesses nacionais”. (MAZZUOLI, 2008, p. 654).

As três medidas supramencionadas serão abordadas nos itens que seguem, porém, antes, faz-se uma síntese do repatriamento, uma quarta medida compulsória, menos conhecida pelo cidadão comum.

2.4.1 O repatriamento

O repatriamento é uma espécie de deportação e ocorre quando até seis meses, o estrangeiro apresentar sintomas de doenças epidêmicas, devido à preocupação com a saúde dos brasileiros. Segundo Viegas (2011):

B – REPATRIAMENTO: é uma espécie de deportação. Está na lei n. 6.815/80, estatuto do cidadão. Lei n. 6.964/81, alterações. Decreto 86.715 de 10/12/81, regulamenta o Estatuto – no título 7O , trata da deportação.

Quando o estrangeiro, até seis meses, apresentar sintomas de doenças epidêmicas, será repatriamento. Há preocupação com saúde dos brasileiros. Decreto 697/62. São atos unilaterais do Estado.

O repatriamento é, nada mais nada menos, que uma forma de proteger a saúde dos brasileiros, tentando-se evitar que uma epidemia tome conta do país.

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Como dito anteriormente, a referida medida compulsória é uma espécie de deportação, a matéria será melhor abordada e conceituada no item que segue.

2.4.2 A deportação

A deportação baseia-se “na saída compulsória do estrangeiro do território nacional, fundamentada no fato de sua irregular entrada (geralmente clandestina) ou

permanência no país” (MAZZUOLI, 2008, p. 654), e só vale depois que o estrangeiro já

entrou nele. A permanência irregular “quase sempre se dá por excesso de prazo, ou pelo exercício de trabalho remunerado, no caso dos turistas”. (MAZZUOLI, 2008, p. 654). Segundo o autor, a causa da deportação é:

O não cumprimento dos requisitos necessários para o ingresso regular ou para a sua permanência no país. Trata-se, portanto, de causa estranha à prática de crime. A prática de delito pode ser motivo para a expulsão ou para a extradição de estrangeiros, mas nunca para sua deportação. O que existe, em caso de deportação, é a não observância das regras que o Estado tem relativamente ao ingresso de estrangeiros no território nacional, em nada se assemelhando à prática de conduta ilícita.

A deportação tem efeitos automáticos, uma vez que for verificada a causa que a legitimou, mas conforme o Estatuto do Estrangeiro (BRASIL, 1980), só será promovida a deportação se o estrangeiro não se retirar voluntariamente do território nacional dentro do prazo que lhe foi concedido. Ele poderá ser deportado tanto para o seu país patrial, de sua nacionalidade, quanto para o de sua procedência, de onde ele veio. Regularizando a sua documentação, pode retornar ao Brasil, porque essa medida é administrativa, e não punitiva. Deve ser individual, e não coletiva. (MAZZUOLI, 2008, p. 655).

Parecida com a deportação no sentido de ser sempre causada por iniciativa das autoridades locais, é a expulsão, a qual será ressaltada no item seguinte.

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2.4.3 A expulsão

A expulsão é “a medida repressiva por meio da qual um Estado retira de seu território o estrangeiro que, de alguma forma, ofendeu e violou as regras de conduta ou as leis locais, praticando atos contrários à segurança e a tranqüilidade do país” (MAZZUOLI, 2008, p. 655), ainda que tenha ingressado nele de forma regular. De acordo com o autor, a expulsão tem o interesse de preservar a segurança e a ordem pública e social do Estado, procurando garantir a sua conservação:

A medida é endereçada àqueles que, de qualquer forma, atentarem contra a segurança nacional, a ordem política ou social, a tranqüilidade ou moralidade públicas e a economia popular, ou cujo procedimento os tornem noviços à conveniência e aos interesses nacionais. Ficam, também, passíveis de expulsão, nos termos do art. 65, parágrafo único, da Lei nº 6.815/80, os estrangeiros que praticarem fraude a fim de obter a permissão de ingresso ou permanência no Brasil; o que havendo entrado no território nacional com infração à lei, dele não se retirar no prazo que lhe for determinado para fazê-lo, não sendo aconselhável a deportação; ou os que se entregarem à vadiagem ou à mendicância, ou ainda, que desrespeitarem proibição especialmente prevista em lei para estrangeiro. (MAZZUOLI, 2008, p. 655).

A expulsão não é uma pena no sentido criminal, pois não está incluída no elenco de medidas jurídico-penais; é medida político-administrativa repressiva e discricionária. A discricionariedade “é permissiva da medida, não estando o governo obrigado a procedê-la, mesmo nos casos em que todos os requisitos necessários à sua realização se façam presentes” (MAZZUOLI, 2008, p. 656). O estrangeiro expulso é encaminhado para qualquer país que o aceite, enquanto que o seu país patrial tem a obrigação de recebê-lo quando ele não for aceito onde for enviado; o apátrida deve ser encaminhado para o país da nacionalidade perdida, ou para o país de onde veio antes de entrar no Estado expulsor. Quando não se retira voluntariamente após a notificação de expulsão, pode sofrer uma sanção, e depois de terminado o prazo dela, pode ser encaminhado à fronteira. O que o Estado não pode fazer é “enviá-lo pra terceiro Estado onde esteja esse estrangeiro sendo procurado pela prática de algum crime, como forma de vingança do mesmo, o que se configuraria em flagrante arbitrariedade estatal”. (MAZZUOLI, 2008, p. 656).

A expulsão não tem efeitos automáticos, e o estrangeiro não pode retornar ao país que o expulsou. Esse só poderá promover a expulsão se realmente for constatado que existem sérios motivos e suficientes para que se justifique a sua retirada.

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No caso do Brasil, não poderá ser expulso o estrangeiro que tiver cônjuge brasileiro com casamento celebrado há mais de cinco anos, ou filho brasileiro que esteja sob sua guarda e que dependa dele economicamente. (MAZZUOLI, 2008, p. 657).

Um país também não pode deportar nem expulsar nacionais de seu próprio Estado. (MAZZUOLI, 2008, p. 659).

Findas as explanações quanto à deportação e à expulsão, parte-se, finalmente, à extradição, que se verá no próximo item.

2.4.4 A extradição

O termo “extradição” vem do grego e do latim, sendo “ex” grego e significando “fora de”, e “traditio” latim que significa “levar, entregar, transportar”. (CASTRO, 2006, p. 21).

Um dos primeiros documentos históricos a assinalar a possibilidade da extradição foi um acordo de paz no Egito, em 1921 a.C., e é considerado o mais antigo documento da humanidade, contendo “cláusulas expressas sobre a extradição de criminosos políticos” (CASTRO, 2006, p. 21). Na realidade, esse tratado não trazia as características atuais apresentadas no instituto da extradição, mas sim a sua essência. (CASTRO, 2006, p. 21).

A extradição pode ser definida como “o ato pelo qual um Estado entrega um indivíduo acusado de fato delituoso ou já condenado como criminoso, à justiça de outro Estado competente para julgá-lo e puni-lo” (ACCIOLY, 1986 apud CASTRO, 2006, p. 19) e, seu objetivo, como ensina Marques (1964 apud CASTRO, 2006, p. 19), é “tanto o de possibilitar o processo e julgamento do autor do crime, através das formas prescritas em lei, como o de executar a pena já imposta em sentença condenatória”.

Para o instituto da extradição ser caracterizado, é fundamental o Estado interessado solicitar a extradição de um indivíduo, agindo pela chamada “provocação”, diferenciando-se da deportação e da expulsão, que obrigam o estrangeiro a abandonar seu território. (CASTRO, 2006, p. 20).

O Estado tem a obrigação de entregar os criminosos refugiados em seu território quando solicitado, salienta Castro (2006, p. 21):

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É obrigação de um Estado entregar os criminosos que em seu território se refugiem. Tal obrigação advém de um dever moral na repressão à criminalidade, mas, acima de tudo, está calcada na cooperação internacional, cujo objetivo primordial é a recondução do delinqüente ao Estado onde a lei penal foi infringida, para ali ser processado e julgado. O dever moral transforma-se no dever jurídico de extraditar, quando há entre os Estados um tratado de extradição.

A extradição pode ser classificada de várias formas: ativa ou passiva, de fato ou de direito, instrutória, executória e reextradição.

É “dita ativa com relação ao Estado que está reclamando a presença do indivíduo em seu território. Aquele que requer a extradição deve ter competência para processar e julgar o extraditado”. (CASTRO, 2006, p. 22).

Considera-se passiva a extradição para o Estado que a concede: a competência é, “predominantemente, de cunho jurisdicional, e é por isso que a maioria dos problemas extradicionais se encontra na extradição passiva”. (CASTRO, 2006, p. 23).

A extradição de fato consiste “na entrega da pessoa reclamada, sem que haja qualquer procedimento jurídico. Portanto, é a entrega informal da pessoa foragida, fato muito comum entre as polícias das zonas de fronteira e realizado sem custas processuais” (CASTRO, 2006, p. 23); não pode ser considerada uma medida legal.

A extradição de direito, por sua vez, se processa “de acordo com as normas internas e internacionais”. (CASTRO, 2006, p. 23).

A instrutória se diferencia da executória porque, na primeira, o pedido “é formulado para que o extraditando seja processado no Estado requerente, enquanto que na segunda, o pedido de extradição é feito para que ele cumpra uma pena proferida através de sentença transitada em julgado”. (CASTRO, 2006, p. 24).

Na reextradição, ainda segundo Castro (2006, p. 24), um indivíduo que é extraditado para um Estado pode ser reextraditado para um terceiro, desde que o Estado que primeiro atendeu ao pedido autorize.

As fontes da extradição, de acordo com Mercier (1930 apud DEL’OLMO, 2007, p. 49), são: os tratados internacionais de extradição, as declarações de reciprocidade, as leis de extradição, a jurisprudência, e os usos internacionais. Entende-se que “as fontes principais são os tratados internacionais, as leis internas dos países e as promessas de reciprocidade. A jurisprudência e os costumes são eventualmente empregados”. (DEL’OLMO, 2007, p. 49).

O tratado tem o privilégio de demarcar as condições sob as quais os Estados vão realizar o processo de extradição quando solicitado. É uma maneira de fazer da extradição uma medida obrigatória, embora seja necessário que exista uma lei interna que regule os

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requisitos de admissibilidade e o rito em seara nacional, podendo a lei “obstar a entrega por fato não incluído em suas nomenclaturas”. (FARIA, 1930 apud CASTRO, 2006, p. 21).

Convém notar, outrossim, que “para a maior parte dos autores e para algumas legislações nacionais o tratado internacional é a única fonte do direito da extradição”. (VIEIRA, 1984 apud DEL’OLMO, 2007, p. 49).

Vale ressaltar, ainda, que a extradição também é orientada por princípios “que objetivam dar maior proteção ao extraditando, bem como ao estado requerido” (CASTRO, 2006, p. 25). São eles: da especialidade, da identidade (ou da incriminação recíproca), do non

bis in idem (não duas vezes pelo mesmo fato) e o da reciprocidade. O princípio da

especialidade é apresentado nos seguintes termos no artigo 14 do Tratado Modelo de Extradição, aprovado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, a seguir transcrito:

1 – um indivíduo extraditado em razão do presente Tratado não poderá, no território do Estado requerente, ser processado, condenado, detido ou reextraditado para um terceiro Estado, nem ser submetido a outras restrições em sua liberdade pessoal, por uma infração cometida antes da entrega, salvo:

a. se se tratar de uma infração pela qual a extradição tenha sido concedida; ou b. se o Estado requerido manifestar a sua concordância.

2 – a demanda tendente a obter o consentimento do Estado requerido para fins do presente artigo será acompanhada dos documentos referidos no § 2º do art. 5º e de um termo judicial das declarações feitas pelo extraditado relativamente à infração. 3 – o § 1º deste artigo não será aplicável se o indivíduo extraditado, tendo a possibilidade de deixar o território do Estado requerente, não o fizer dentro do prazo de (30/45) dias da data de sua libertação definitiva em razão da infração pelo qual foi extraditado, ou, se houver deixado o território, a ele retornar por espontânea vontade. (ONU, 1991).

Em virtude dessas considerações, o princípio da especialidade pode ser caracterizado “pelo compromisso assumido pelo Estado requerente de não processar o extraditando por crime diverso daquele que fundamentou o seu pedido” (CASTRO, 2006, p. 26), e está presente na maioria dos tratados internacionais, bem como em leis internas (no Brasil, está previsto no art. 91 da Lei nº 6.815/80).

O princípio da especialidade possui cunho misto porque, além de propiciar uma “maior confiança nas relações entre os Estados no combate à criminalidade, garante ao extraditando o direito de ser informado sobre o motivo e a causa da acusação, funcionando como efeito limitativo da extradição”. (CASTRO, 2006, p. 27).

Quanto ao princípio da identidade (ou da incriminação recíproca), cumpre examinar que “não se dará a extradição quando no Estado requerido não se considerarem crimes os fatos que fundamentam o pedido de extradição” (CASTRO, 2006, p. 27), ou seja, só pode ser extraditado aquele indivíduo que tenha seu crime reconhecido como tal em ambos os

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países, tanto no requerente, quanto no requerido. A autora Goraieb (1999 apud CASTRO, 2006, p. 27), observa que o princípio da dupla incriminação é uma garantia fundamental ao direito de liberdade, pois impede a violação do princípio nulla poena sine lege (não há crime nem pena sem lei), mas o que não significa que os crimes devam estar previstos em ambas legislações com as mesmas palavras. É um princípio criticado, sob o argumento de que um Estado deve respeitar a legislação do outro.

O princípio do non bis in idem determina que a extradição será negada sempre que já existir uma sentença definitiva no país requerido contra a pessoa reclamada pelo mesmo delito que estabelece o pedido de entrega.

No Brasil, essa norma encontra-se no artigo 77 do Estatuto do Estrangeiro do Brasil.

Trata-se de princípio universal que reflete um sentimento de justiça, pois evita que alguém possa ser condenado duas vezes pelo mesmo fato. Atende dois propósitos: a soberania do pais requerido, e a garantia dos direitos fundamentais do indivíduo. (CASTRO, 2006, p. 28).

Na falta de um tratado ou uma convenção com o Estado requerente, pode ser feita uma declaração de reciprocidade: se o governo requerente prometer, de acordo com a sua lei e em condições iguais, entregar delinqüente que venha a ser solicitado no futuro pelo governo requerido, a extradição pode ser concedida. Tal declaração tem a mesma natureza jurídica dos tratados, porém difere quanto ao seu campo de aplicação, que é muito mais restrito, e pode ser, a qualquer momento, denunciada por um dos governos interessados. (CASTRO, 2006, p. 29).

O Estatuto do Estrangeiro do Brasil (BRASIL, 1980) assinala em seu artigo 76 que “a extradição poderá ser concedida quando o governo requerente se fundamentar em tratado, ou quando prometer ao Brasil a reciprocidade”.

Sendo assim, para facilitar a melhor compreensão da extradição apresentada no Estatuto, o seu instituto no ordenamento jurídico brasileiro será observado no item que segue.

Referências

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